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RESUMO: O Brasil é o país com a maior carga tributária do mundo, possui mais de 60 tipos de tributos vigentes, e neste contexto o contador tributário desempenha importante papel no que diz respeito a adequada análise e consequente redução dos custos com os impostos. O planejamento tributário nas organizações, forma lícita de economia de impostos, pode ser significativo no que diz respeito a continuidade das organizações. Este artigo é resultado de um trabalho de pesquisa bibliográfica quanto a profissão contábil, sua valorização em relação a demanda por entendimento, interpretação, cálculos e exploração da melhor forma de tributação para as entidades. Como estudo de caso, aborda-se o cálculo hipotético de uma organização em relação aos tributos Federais: Imposto de Renda Pessoa Jurídica, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, PIS (Programa de Integração Social), e COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social). Com os resultados obtidos constata-se essa necessidade do contador tributário em atuar gerencialmente, contribuindo assim para o crescimento empresarial. ABSTRACT: Brazil is the country with the highest tax burden in the world, has more than 60 types of taxes in force, and in this context the counter tax plays an important role with regard to proper analysis and reduces costs with taxes. Tax planning in organizations of lawful tax savings can be significant with regard to continuity of organizations. This article is the result of a work of literature as the accounting profession, its appreciation against the demand for understanding, interpretation, calculations and exploration of the best form of taxation for entities. As a case study, discusses the calculation of a hypothetical organization in relation to taxes Federal Corporate Income Tax, Social Contribution on Net Income, PIS (Social Integration Program) and COFINS (Contribution to Social Security Financing) . With these results it is clear that the need to counter tax act managerially, thus contributing to business growth. O PAPEL E A ATUAÇÃO DO CONTADOR TRIBUTÁRIO Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE rc.ipade@anhanguera.com v.17 • n.26 • 2013 • p. 131-143 Eliane Cristina Pires Prado – Faculdade Anhanguera de Sumaré REVISTA DE CIÊNCIAS GERENCIAIS Palavras-chave: Contador, Tributos, Planejamento. Keywords: Accountant, Tax, Planning. Informe Técnico Recebido em: 01/06/2013 Avaliado em: 17/06/2013 Publicado em: 23/06/2014 132 Revista de Ciências Gerenciais O papel e a atuação do contador tributário 1. INTRODUÇÃO Necessariamente as empresas buscam reduzir seus custos para manter-se no mercado competitivo em que estão inseridas. Com a possibilidade de um estudo da melhor forma de tributação, ou seja, o Planejamento Tributário, o contador ganha espaço e valor perante a sociedade. Enquadrando-se em mais de uma opção de tributação, a aplicabilidade dessa análise se faz pontual para continuidade da organização. O profissional da área contábil se vê cercado diariamente pelo numeroso volume de alterações legislativas, a atualização constante faz parte da rotina dos que escolheram atuar na área melhor remunerada, e digamos mais intrigante e desafiadora. Cumprir com todas as obrigações tributárias, sendo elas, desde a apuração até a entrega de obrigações acessórias se faz um desafio em um país como o Brasil. O número de vagas disponíveis para área tributária e fiscal demonstra a dificuldade enfrentada pelas empresas em contratar profissionais capacitados, com vivência e sede de conhecimento. O profissinal capaz de desenvolver um adequado planejamento tributário pode beneficiar significativamente a organização onde atua, efetivando melhorias no cálculo dos tributos, encontrando formas lícitas de apuração de impostos, assim como melhorias na área de custos, intensificando a aquisição de mercadorias com ou sem recuperação de impostos de acordo com a opção de tributação. O objetivo deste artigo, portanto, é demonstrar a importância de um profissional capacitado na área tributária, expondo também as formas de tributação e o entendimento da Legislação que trata dos principais impostos, ou seja, os que afetam mais os resultados. O presente artigo traz a possibilidade de associar a vivência prática na apuração de tributos com a explanação e informações teóricas trazidas por conceituados autores a respeito da interpretação de leis brasileiras aplicadas aos tributos. Para que se alcancem os objetivos propostos, será utilizado ainda um estudo de caso com a apresentação dos cálculos dos Impostos Federais, IRPJ, CSLL, PIS e COFINS. O desenvolvimento se dará com o levantamento bibliográfico e pesquisa de campo da carga tributária brasileira na Seção 2, passando assim para o papel do Contador Tributário na Seção 3 ao estudar e interpretar todos os tributos e ainda alcançar para a empresa o menor custo possível. Na Seção 4 trataremos de maneira sucinta das duas formas de tributação das médias e grandes empresas: Lucro Real e Lucro Presumido. Na seção 5 passaremos já a análise prática da apuração, utilizando dados de uma empresa da Região Metropolitana de Campinas, iniciando-se as conclusões a respeito do levantamento realizado, e apresentando as considerações finais na Seção 6 com a evidência de uma significativa economia de impostos para empresa em análise. 133 Eliane Cristina Pires Prado v.17 • n.26 • 2013 • p. 131-143 2. A CARGA TRIBUTÁRIA BRASILEIRA O sistema tributário vigente hoje no Brasil encontra sua pedra angular nos artigos 145 a 162 da Constituição Federal. Sendo que nos artigos 145 a 149 ficam definidos os princípios gerais da tributação nacional, do artigo 150 ao 152 as limitações ao poder de tributar, do artigo 153 ao 156 os impostos dos entes federativos e dos artigos 157 a 162 a repartição das receitas tributárias arrecadadas. Na constituição Federal Brasileira e no Código Tributário Nacional é que os entes federativos: Municípios, Estados, Distrito Federal e Federação se apoiam para criar tributos e alterar as regras pertinentes a cada esfera. Esses artigos também limitam a possibilidade de criarem tributos em duas esferas sobre o mesmo fato gerador. As Leis que instituem os tributos criados pelos entes da federação de acordo com a CF e o CTN são inúmeras, e complexas. Segundo Oliveira (2009), o Sistema Tributário Brasileiro, a complexidade de seus mandamentos, sujeita a diversas interpretações e sua grande instabilidade torna árdua a tarefa de entendê-las e acompanha-las. Como consequência poucas empresas conseguem cumprir corretamente com suas obrigações tributárias. Os conhecimentos necessários para atuar na área tributária em um país como o Brasil, onde existem legislações específicas sobre tudo e para cada caso, excedem a possibilidade de se dizer capaz de realizar o mesmo trabalho desenvolvido á um ano atrás apenas. O número de portarias, instruções normativas, atos declaratórios, etc., e a inclusão de mais e mais impostos torna o Brasil o país com o maior número de impostos da América Latina. Segundo OLIVEIRA (2011) em seu prefácio à 10ª Edição, de acordo com a pesquisa de alguns tributaristas a carga tributária que se mantinha estável em 25% da renda nacional por mais de duas décadas saltou para 36% em 2009. Ainda segundo OLIVEIRA (2011), são mais de 60 tipos de tributos vigentes, o que implica em altos custos para o controle e gestão dos mesmos. Para FABRETTI (2009), as organizações necessitam cada vez mais de assessorias jurídica e contábil, o que exige dos profissionais atualizações constante. As leis e suas alterações muitas vezes elaboradas por juristas que não conhecem todas as fases do processo de gestão acabam por serem falhas ou de difícil interpretação, o que leva a maioria dos profissionais ao erro, a sonegação inconsciente. “Os que militamna área tributária – advogados, contadores, auditores, consultores e professores – enfrentam o problema de manter-se atualizados com essa legislação volátil e móbile, qual pluma al vento.” (FABRETTI, 2009, p. 1) Hoje no Brasil os profissionais das áreas de auditoria e consultoria são essenciais para respaldar as organizações na prática realizada por seus colaboradores. Portanto, justifica- se o investimento alto para a gestão de impostos: a apuração, o pagamento e a entrega das obrigações acessórias que se referem a determinados impostos, e que são também, confissões de dívida. 134 Revista de Ciências Gerenciais O papel e a atuação do contador tributário Segundo alguns estudos o Brasil é um país onde o custo é extremamente elevado para as empresas, em decorrência de problemas estruturais e conjunturais, entre eles, a tributação. OLIVEIRA (2011) relata sua preocupação com a tão esperada reforma tributária no Brasil, já que esta deveria ser um álibi a modernidade e competitividade do nosso país em âmbito mundial. 3. O PAPEL DO CONTADOR TRIBUTÁRIO A Contabilidade Tributária é a junção das áreas: Contábil e Jurídica. Direito e Contabilidade são ciências que sempre caminham juntas e complementam-se. Exerce-se uma atividade, produzem-se serviços ou produtos, comercializa-se, e consequentemente, paga-se tributos. Portanto costuma-se dizer que o Governo sempre se torna o sócio majoritário. Na rotina diária de um contador, o Direito e a Contabilidade estão sempre caminhando juntos, sendo dever desse profissional não só obedecer às normas e aos Princípios Fundamentais de Contabilidade, visando a correta apuração da situação econômica, financeira e patrimonial de uma empresa, mas também obedecer às normas da legislação tributária para cumprir com as obrigações fiscais de maneira exata, mediante controles extra contábeis. (OLIVEIRA, 2009, p. 54) Para OLIVEIRA (2011) o gerenciamento das obrigações tributárias não pode ser considerado uma necessidade quotidiana apenas, mas sim algo estratégico dentro das organizações independentemente de seu setor de atividade. Para atender as necessidades legislativas, a área administrativa das organizações é estruturada sob um departamento denominado Controladoria, que acompanha a gestão de todos os processos, desde as requisições de compras e a exigência de fornecedores com certidão negativa de débito junto a Secretaria da Receita Federal, para que não impeça a recuperação dos impostos, até a elaboração dos demonstrativos contábeis que são alimentados por todos os fatos que alteram ou permutam o patrimônio da entidade. Subordinados a Controladoria existem três departamentos essenciais para controle a apuração dos tributos: Contabilidade, Contabilidade Fiscal e Auditoria Interna. A Contabilidade Fiscal se responsabiliza normalmente pelos impostos estaduais e municipais. A Contabilidade, além da elaboração de demonstrativos contábeis, sua consolidação e outras atribuições, se responsabiliza pela apuração do IRPJ e CSLL, que são impostos sobre o lucro e que demandam análise da Demonstração do Resultado do Exercício e do Balanço Patrimonial como um todo. Este artigo abordará adiante com maior ênfase, a importância de um adequado planejamento tributário, assim como o cálculo correto, de acordo com a legislação correspondente. Essa atividade possibilita o surgimento de outro departamento essencial nas grandes organizações: a Auditoria Interna, que fica responsável pela revisão dos cálculos e auxilia na interpretação das normas. 135 Eliane Cristina Pires Prado v.17 • n.26 • 2013 • p. 131-143 Atuar na área tributária se torna um desafio diário, devido ao volume de alterações fiscais, e sua mais honrosa responsabilidade de reduzir os custos tributários, ou seja, levar a organização a uma redução legal do ônus tributário: o planejamento tributário. Assim, segundo OLIVEIRA (2009), a Contabilidade Tributária tem como uma de suas funções o uso de regras e princípios para interpretar e aplicar as normas legais provenientes da Legislação Tributária e apurar os proventos que devem ser tributados pela empresa. 4. FORMAS DE TRIBUTAÇÃO 4.1. Lucro Real Segundo Oliveira (2009), Lucro Real é o conceito dado ao Resultado Contábil ajustado por Adições, Exclusões e Compensações prescritas e autorizadas pela Legislação do Imposto de Renda. O Art. 246 do Regulamento do Imposto de Renda define as pessoas jurídicas obrigadas à apuração do IRPJ com base no lucro real: a) Cujo faturamento (receita total), no ano-calendário anterior, seja superior ao limite de R$ 48.000.000,00 ou ao limite proporcional de R$ 4.000.000,00 multiplicado pelo número de meses de atividade do ano, quando inferior a 12 meses. Portanto, nota-se que essa forma de tributação pode ser escolhida por qualquer contribuinte, porém deve ser obrigatória para as empresas citadas nos itens a) a i) do referido artigo. Sendo a empresa optante pelo Lucro Real, será também inserida no sistema de tributação da não-cumulatividade (Art. 19 LC 87/96), isso significa que poderá tomar crédito de PIS e COFINS nas entradas de materiais que serão utilizados no processo de produção. De forma geral somente não poderá se creditar em situações em que o fornecedor não estiver com certidão negativa de débitos perante a Receita Federal, e o documento fiscal apresentar alguma irregularidade. O lucro real se torna interessante para empresas que possuem uma lucratividade baixa quando comparado ao seu montante faturado. Por ter como Base de Cálculo o Lucro Contábil, este mesmo sendo ajustado, é o que define o que seria mais interessante para empresa: optar pelo Lucro Real ou pelo Lucro Presumido, sendo que o segundo, apenas se a empresa se enquadrar. 4.2. Lucro Presumido A organização poderá ser optante pelo Lucro Presumido, caso o seu faturamento anual não tenha ultrapassado R$ 48 milhões no ano anterior ao do exercício corrente. Ou, R$ 4 milhões por mês. 136 Revista de Ciências Gerenciais O papel e a atuação do contador tributário O lucro presumido se torna interessante para empresas que possuem uma margem de lucratividade sobre o faturamento maior, ou seja, a apuração com Base no Lucro Real não seria vantajosa. Sendo a empresa optante pelo Lucro Presumido, será também inserida no sistema de tributação da cumulatividade, isso significa que não poderá tomar crédito de PIS e COFINS nas entradas de materiais que serão utilizados no processo de produção. Ou seja, diferentemente, da tributação com base no Lucro Real, este sistema, obriga as empresas apenas a recolher os tributos citados com base no seu faturamento, não sendo possível, portanto, recuperar os impostos, mesmo que estes venham destacados nos documentos fiscais de entrada de mercadorias. O que se torna vantajoso na opção pelo Lucro Presumido, é que a base de cálculo é encontrada de maneira simples, o que possibilita um menor índice de erro no recolhimento dos tributos, além de ter alíquota reduzida para impostos como PIS e COFINS. Vejamos abaixo uma tabela que detalha as alíquotas básicas desses impostos nas duas formas de tributação: Tabela 1. Formas de tributação e alíquotas. Lucro Real Lucro Presumido PIS 1,65% 0,65% COFINS 7,60% 3% Formas de Tributação (Alíquota) Impostos A apuração dos impostos PIS e COFINS pelo Lucro Presumido será essencialmente a alíquota apresentada sobre a Base de cálculo determinada pela Legislação: Receita Bruta de Vendas e Serviços de Qualquer Natureza + Receitas Financeiras (-) IPI (-) ICMS ST (-) Vendas canceladas e devoluções. Já na forma de tributação pelo Lucro Real, aplica-se a alíquota sobre a Base de Cálculo, e credita-se do valor apurado sobre as entradas de mercadorias. Sendo não cumulativo, gera- se a obrigatoriedade pela entrega do DACON (Demonstração de Apuração de Contribuições Sociais). Em relação ao ICMS, ele tem por natureza e essencialidade a não cumulatividade, ou seja, independentemente da forma de tributação escolhida, o créditoé direito do contribuinte, assim como o IPI para empresas industriais. A alíquota dos tributos federais IRPJ e CSLL com base no Lucro Presumido incidem sobre receitas com base em percentual de presunção variável 1,6% a 32% do faturamento, dependendo da atividade. A alíquota se mantem a mesma, 15% ou uma média de 25% de IRPJ e 9% de CSLL, assim como no Lucro Real. O que se altera, portanto entre uma forma de tributação e a outra é a base de cálculo. Fazer a opção por uma forma ou outra de tributação, dependerá primeiramente das 137 Eliane Cristina Pires Prado v.17 • n.26 • 2013 • p. 131-143 possibilidades de opção encontrada na legislação e posteriormente do cálculo pelo Lucro Real e Presumido de forma projetada para o ano em início, baseada no histórico do exercício anterior e no crescimento da organização. Neste momento se faz necessária a forte atuação do profissional no que diz respeito ao adequado Planejamento Tributário. 5. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO A principal função de um tributarista seja ele, um profissional do Direito ou da Ciência Contábil, é a de reduzir ao mínimo a carga tributária para o seu cliente. Podemos enfatizar “carga”, por se tratar realmente de um peso enorme aos custos das organizações. No Brasil, se manter em dia, cumprindo com todas as obrigações tributárias, desde a apuração até a entrega de todas as obrigações acessórias, se torna um carma na vida de muitas organizações. Atuar na área tributária é no mínimo instigante, visto que os desafios se apresentam diariamente com as mudanças na legislação, principalmente no que diz respeito aos tributos estaduais. O planejamento tributário se faz necessário e imprescindível, porém deve ser embasado na legislação, para evitar possíveis autuações. Uma forma lícita de reduzir a carga fiscal, o que exige alta dose de conhecimento técnico e bom-senso dos responsáveis pelas decisões estratégicas no ambiente corporativo. Trata-se do estudo prévio à concretização dos fatos administrativos, dos efeitos jurídicos, fiscais e econômicos de determinada decisão gerencial, com o objetivo de encontrar alternativa legal menos onerosa para o contribuinte. (OLIVEIRA, 2011, p. 38) A base para correta apuração dos tributos, são fundamentadas em uma adequada escrituração contábil, que segundo (OLIVEIRA, 2009), representa um dos pontos-chave da Contabilidade Tributária, pois seu processo consiste na coleta, classificação de forma padronizada e do lançamento dos documentos contábeis. A apuração sempre será realizada após o fechamento de todos os lançamentos contábeis, sejam eles permutativos ou não. Como exemplo podemos citar a entrada de mercadorias, ou lançamento do documento fiscal que se refere a essa entrada, para apuração do PIS e COFINS, sendo a empresa optante pelo Sistema Não Cumulativo, onde se pode creditar desses tributos na aquisição, a escrituração com clareza e exatidão será imprescindível para atender as exigências impostas pela Legislação Tributária. Com a adequada escrituração se faz o melhor momento para identificar o reflexo dos tributos no negócio, e encontrar a melhor opção de tributação. O planejamento tributário é chamado também de elisão fiscal ou economia legal, que é um conjunto de sistemas legais que visam diminuir o pagamento de tributos. Sendo a forma jurídica utilizada lícita, os entes federativos são obrigados a acatá-la. Segundo Zanluca (2012) a elisão fiscal se dá com base em duas espécies: a primeira 138 Revista de Ciências Gerenciais O papel e a atuação do contador tributário é aquela que decorre da própria lei e a segunda aquela que resulta de lacunas e brechas existentes na própria Lei. Portanto a economia de tributos se fundamenta no estudo da Legislação e atualização do profissional tributário. A Lei 6404/76 em seu artigo 153, revogada pela Lei 11.638/2007, prevê a obrigatoriedade do planejamento tributário, por parte dos administradores de qualquer organização. “O administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios.” (Lei 6.404/76, art. 153). Entende-se, portanto que cabe ao responsável pela área tributária, o cuidado com o patrimônio da organização tanto quanto o zelo que possui por seus próprios bens. 6. UM ESTUDO DE CASO O estudo de caso será baseado nos demonstrativos de uma indústria da região metropolitana de Campinas, atuante no mercado há mais de 30 anos. Após a análise das informações apresentadas, segue cálculo do IRPJ, CSLL, PIS E COFINS sob as duas formas de tributação abordadas neste artigo: Lucro Real e Lucro Presumido. Como informação complementar, saiba-se que a empresa é optante pelo Lucro Presumido no atual exercício, porém nota-se que a mesma possui uma lucratividade inferior a presumida. ATIVO PASSIVO Ativo Circulante 4.133.351,65 Passivo Circulante 3.737.174,65 Disponibilidades 1.182.547,59 Fornecedores 1.000.447,10 Duplicatas a Receber 1.370.076,12 Salários a pagar 685.443,52 Adiantamentos 721.978,36 Impostos a recolher 1.762.638,44 Impostos a Recuperar 216.385,57 Aluguel a pagar 16.869,12 Estoques 642.364,01 IRPJ e CSLL a Recolher 138.579,91 Adiantamento de Clientes 133.196,56 Ativo não Circulante 2.932.719,19 Passivo não Circulante 474.542,57 Realizável a Longo Prazo 321.793,42 Empréstimos e Financiamentos 474.542,57 Empréstimos a coligadas 321.793,42 Empréstimos 474.542,57 Permanente 2.610.925,77 Patrimônio Líquido 2.854.353,62 Imobilizado 7.384.845,12 Capital Social 2.000.000,00 Depreciação Acumulada (4.773.919,35) Reserva de Lucros 307.692,28 Lucros e Prejuízos Acumulados 546.661,34 ATIVO TOTAL 7.066.070,84 PASSIVO TOTAL 7.066.070,84 Balanço Patrimonial - 31 de Maio de 2012 139 Eliane Cristina Pires Prado v.17 • n.26 • 2013 • p. 131-143 O valor de IRPJ e CSLL demonstrado na DRE pela forma de tributação do ano atual: Lucro Presumido. Receita Bruta de Vendas 15.553.310,68 (-) Impostos e Abatimentos (1.875.974,85) Receita Operacional Líquida 13.677.335,83 (-) Custo dos Produtos Vendidos (8.767.600,79) Lucro Operacional Bruto 4.909.735,04 (-) Despesas Operacionais (4.304.481,02) Lucro Operacional Líquido 605.254,02 (+) Receitas não Operacionais 99.987,23 Lucro antes dos Impostos 705.241,25 (-) Imposto de Renda (263.546,72) (-) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (147.715,23) Lucro Líquido do Exercício 293.979,30 Demonstração do Resultado do Exercício 6.1. Apurações com base no Lucro Real – IRPJ e CSLL Abaixo algumas informações adicionais retiradas do Balancete e que se fazem necessárias para se chegar ao valor correto dos tributos apurados com base no Lucro Real e Presumido. Em despesas operacionais temos: • Doações não dedutíveis (R$ 20.000,00) • Amostra grátis (R$ 60.000,00) • Locação de Veículos (R$ 80.000,00) • Multas não dedutíveis (R$ 10.000,00) • Brindes (R$ 35.000,00) • Provisão para contingência trabalhista R$ 48.500,00 (inversão da conta de despesa, por estorno e não constituição de nova provisão para o mês seguinte) • Resultado positivo de equivalência patrimonial R$ 33.000,00 Análise das contas observadas no Balancete: • As despesas com amostra grátis, não ultrapassam o limite de 5% sobre as Receitas Líquidas estabelecidas pela Legislação do IR, portanto não precisam ser adicionadas. • As contas patrimoniais não apresentam provisões que tenham refletido na DRE. • A despesa de locação de veículos, se trata de: 8 carros para acionistas, 1 para o administrador e 1 para o presidente da empresa. Portanto despesa não dedutível, por ser liberalidade da organização, permanecendo os veículos com os respectivos por tempo integral.140 Revista de Ciências Gerenciais O papel e a atuação do contador tributário Vamos, portanto ao livro LALUR: RESUMO - LALUR Lalur parte B ADIÇÕES 05/2012 Doações não dedutíveis 20.000,00 Locação de Veículos 80.000,00 Multas não dedutíveis 10.000,00 Brindes 35.000,00 TOTAL - ADIÇÃO 145.000,00 EXCLUSÕES 05/2012 Resultado Positivo de participação 33.000,00 Estorno Provisão - Contingência Trabalhista 48.500,00 TOTAL - EXCLUSÃO 81.500,00 A empresa no ano de 2011 teve prejuízo fiscal, podendo no exercício de 2012 compensar, limitado a 30% do Lucro Real. Prejuízo Fiscal 350.000,00 Lalur parte B Lalur parte BBase de Cálculo Negativa 350.000,00 Demonstração do Ajuste no Período – Suposto Levantamento de Balancete de Redução ou Suspensão. APURAÇÃO IRPJ R$ APURAÇÃO CSLL R$ Lucro Contábil 705.241,25 Lucro Contábil 705.241,25 Adição 145.000,00 Adição 145.000,00 Exclusão 81.500,00- Exclusão 81.500,00- Lucro Real antes das compensações 768.741,25 Base de cálculo da CSLL 768.741,25 Compensação Prejuízo Fiscal 230.622,38- Compensação BC Negativa 230.622,38- Lucro Real após compensações 538.118,88 Base de cálculo da CSLL após compensações 538.118,88 IRPJ 80.717,83 CSLL 48.430,70 Adicional 43.811,89 CSLL a Recolher 48.430,70 Apuração IRPJ 124.529,72 IRRF a Compensar 50.379,00- IRPJ a Recolher 74.150,72 6.2. Apurações com base no Lucro Presumido – IRPJ e CSLL O percentual aplicado sobre a Receita para se encontrar a Base de Cálculo para o IRPJ segundo a Legislação do Imposto de Renda para empresas optantes pelo Lucro Presumido, é em geral de 8% para venda de mercadorias e 32% para prestação de serviços, ocorrendo ainda outras variações, já para CSLL é de 12%. Para efeito de identificação de qual a opção mais vantajosa para o recolhimento dos impostos será utilizado a Receita Líquida, por não conseguir por meio da DRE identificar quais seriam as possíveis deduções. 141 Eliane Cristina Pires Prado v.17 • n.26 • 2013 • p. 131-143 APURAÇÃO IRPJ Receita líquida para efeito da apuração da Base de Cálculo 13.677.335,83 Aplicação do percentual (Legislação) 8% Base de cálculo Lucro Presumido 1.094.186,87 Acréscimo dos Ganhos de Capital - Base de cálculo do Imposto Mensal 1.094.186,87 IRPJ Normal (15%) 164.128,03 IRPJ adicional (10%) 99.418,69 Imposto de renda a pagar 263.546,72 APURAÇÃO CSLL Receita líquida para efeito da apuração da Base de Cálculo 13.677.335,83 Aplicação do percentual (Legislação) 12% Base de cálculo Lucro Presumido 1.641.280,30 Acréscimo dos Ganhos de Capital - Base de cálculo do Imposto Mensal 1.641.280,30 CSLL (9%) 147.715,23 Contribuição Social a pagar 147.715,23 6.3. Apurações PIS e COFINS a) Lucro Real Para efeito de cálculo do PIS e COFINS no Lucro Real, se faz necessário o volume de compras das quais a empresa pode tomar o crédito. Sabe-se que a alíquota no Lucro Real é de 1,65% para o PIS e 7,6% para COFINS. Receita Bruta R$ 15.553.310,68 Valor das compras ou gastos ligados a produção R$ 8.767.600,79 Base de cálculo = 6.785.709,89 PIS = R$ 111.964,21 COFINS = R$ 515.713,95 Ressalta-se que, aqui os valores encontrados e a base de cálculo utilizada são encontrados de maneira hipotética, sem considerar as diversas particularidades da empresa em análise, assim como dos mais diversos ramos de atividade. O cálculo do PIS e COFINS para alguns estudiosos traz particularidades excessivas, o que pode causar erros nos recolhimentos. O objetivo deste artigo é apontar possibilidades de redução da carga tributária para as entidades, e explanar de forma sucinta, visto que a visualização das informações se torna dificultosa sem a apresentação detalhada da movimentação contábil. b) Lucro Presumido ou Regime Cumulativo Neste regime de apuração, considera-se a alíquota sobre a Receita Operacional, não sendo aceitável a recuperação do PIS e COFINS sobre as compras. Não serão aprofundadas as 142 Revista de Ciências Gerenciais O papel e a atuação do contador tributário situações que possam ocorrer na empresa, como exemplo receitas de aluguel, entre outras como importações ou mesmo produtos com alíquota zero. PIS Regime Cumulativo = 0,65% e COFINS = 3% Receita Bruta R$ 15.553.310,68 PIS = R$ 101.096,52 e COFINS = R$ 466.599,32 6.4. Lucratividade da Empresa – se optante pelo Lucro Real Receita Bruta de Vendas 15.553.310,68 (-) Impostos e Abatimentos (2.746.960,25) Receita Operacional Líquida 12.806.350,43 (-) Custo dos Produtos Vendidos (7.956.597,72) Lucro Operacional Bruto 4.849.752,71 (-) Despesas Operacionais (4.304.481,02) Lucro Operacional Líquido 545.271,69 (+) Receitas não Operacionais 99.987,23 Lucro antes dos Impostos 645.258,92 (-) Imposto de Renda (74.150,72) (-) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (48.430,70) Lucro Líquido do Exercício 522.677,50 Demonstração do Resultado do Exercício O lucro da empresa que no atual exercício é optante pelo Lucro Presumido se apresentava em R$ 293.979,30. Com a opção pelo Lucro Real a empresa poderá alcançar um Resultado Líquido de R$ 522.677,50 considerando a redução no IRPJ e na CSLL, porém um aumento de R$ 59.982,33 para recolhimento do PIS e COFINS no sistema não cumulativo, a economia será de aproximadamente R$ 228.698,20 que poderão ser aplicados em outros investimentos, favorecendo o crescimento e continuidade da organização. A análise dos itens que deverão se tributados pelo PIS e COFINS, assim como dos itens aos quais poderão ser tomados os créditos, podem ainda representar uma redução da carga tributária. É claro que poderá também ser evidenciado um aumento da carga em relação ao PIS e COFINS, mas o ônus que pode ser aplicado sobre um recolhimento a menor com a análise e a tentativa de se encontrar na Lei uma forma lícita de redução de tributos, pode favorecer o controle da organização. Poderíamos ainda apresentar outras formas de Planejamento Tributário, mas nos ateremos à apresentação realizada acima, que já é suficiente para entendermos o quão se faz imprescindível um profissional tributário atento e atualizado. 143 Eliane Cristina Pires Prado v.17 • n.26 • 2013 • p. 131-143 7. CONCLUSÃO O Planejamento Tributário traz à empresa dentro da licitude a possibilidade de reduzir sua carga tributária. Em um país como o Brasil, onde são aplicados mais de 60 tipos de tributos sob as mais diversas atividades e produtos, planejar e se enquadrar na forma menos custosa de tributação, se torna um diferencial competitivo, capaz de trazer a organização à frente das demais. O contador desempenha importante papel neste contexto: não somente apurar os impostos, mas oferecer um gerenciamento, sendo capaz de desonerar os custos da empresa com os tributos. Diante do exposto, com base nos cálculos realizados para empresa estudada verifica- se a possibilidade de se trabalhar dentro das aberturas da legislação, proporcionando a ela uma economia considerável de impostos. O planejamento tributário e o importante papel do contador na área melhor remunerada no país podem ser aprofundados nas diversas “brechas” existentes na legislação no país. O papel do contador nos dias atuais onde a competitividade acirrada confere as empresas todos os dias o desafio de se manter no mercado, se faz de uma importância tremenda, e sua atuação ativa e gerenciadora pode ser crucial para essa continuidade. “Nada é certo neste mundo, exceto a morte e os impostos.” Benjamim Franklin. REFERÊNCIAS FABRETTI, L. C. Contabilidade Tributária. 11ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2009. OLIVEIRA, L.M. [et al.]. Manual de Contabilidade Tributária. 10ª Edição. SãoPaulo: Editora Atlas, 2011. OLIVEIRA, G.P. Contabilidade Tributária. 3ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. SILVA, L.L. Contabilidade Avançada e Tributária. 2ª Edição. São Paulo: IOB, 2007. FILHO, E.O.A. Auditoria de Impostos e Contribuições. 3ª Edição. São Paulo: Atlas, 2009. ZANLUCA, J.C. Planejamento Tributário: pague Menos dentro da Lei. Disponível em: <http:// www.portaltributario.com.br/planejamento.htm>. Acesso: 20 de junho de 2012. Abreviações: CF – Constituição Federal CTN – Código Tributário Nacional
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