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HOMICIDIOS E DISPUTAS POR TERRITORIO NA ÁREA DE POLICIAMENTO DA DECIMA QUARTA COMPANHIA INTERATIVA COMUNITARIA (14 CICOM) . MANAUS

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS 
ESCOLA NORMAL SUPERIOR 
CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HOMICÍDIOS E DISPUTAS POR TERRITÓRIO NA ÁREA DE 
POLICIAMENTO DA DÉCIMA QUARTA COMPANHIA INTERATIVA 
COMUNITÁRIA (14ªCICOM) - MANAUS 
 
 
 
 
 
 
REGINALDO GOMES DE FRANÇA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS 
 2015
1 
 
REGINALDO GOMES DE FRANÇA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HOMICÍDIOS E DISPUTAS POR TERRITÓRIO NA ÁREA DE 
POLICIAMENTO DA DÉCIMA QUARTA COMPANHIA INTERATIVA 
COMUNITÁRIA (14ªCICOM) - MANAUS 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à 
Universidade do Estado do Amazonas para a 
obtenção do título de Licenciado em geografia. 
 
 
 
 
Orientadora: Ana Paulina Aguiar Soares 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS 
2015 
2 
 
REGINALDO GOMES DE FRANÇA 
 
 
 
 
 
 
Homicídios e disputas por território na área de policiamento da décima 
quarta companhia interativa comunitária (14ªcicom) - Manaus 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade do Estado do 
Amazonas para a obtenção do título de licenciado em Geografia. 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
Presidente: Profª. Drª. Ana Paulina Aguiar Soares 
 
1º avaliador: Prof. Dr. Ricardo José Batista Nogueira 
 
_______________________________________________________________ 
2º avaliador: Prof. Dr. Isaque dos Santos Sousa 
 
 
 
 
Manaus, 16 de dezembro de 2015. 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este a todas as pessoas que acreditaram no 
meu sucesso, em especial ao meu pai Geraldo 
Rodrigues de França, minha mãe Senhorinha 
Gomes de Amorim e minha tia Narzira Mar do 
Nascimento. 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao senhor Deus, agradeço por todas as bênçãos e dádivas em minha vida, pela 
graça que alcancei em passar na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), 
pelas oportunidades concedidas durante este período de estudo, por conceder-me 
saúde, força e capacidade para vencer as dificuldades que surgiram nestes anos. 
Aos meus pais, Senhorinha Gomes de Amorim e Geraldo Rodrigues de França, pela 
educação fornecida por eles, pela confiança, pelos incentivos, por todos os 
ensinamentos de vida e apoio incondicional. 
Especialmente a tia Narzira Mar do Nascimento, que é meu orgulho, exemplo 
profissional, pela paciência, pois nas horas difíceis e improváveis esteve ao meu 
lado, por mais distante que estivesse. Agradeço por ser minha mãe muitas vezes, 
orientando sempre que necessário. 
A minha orientadora Dr. Ana Paulina Aguiar Soares, a quem eu tenho muito orgulho 
e honra de tê-la como a minha grande mestra, pelo exemplo de profissional brilhante 
e dedicada que és. Todas as palavras de agradecimentos serão poucas para 
agradecê-la, o meu muito obrigado professora. 
A professora MSc. Marcela Vieira Pereira Mafra, pela coragem, paciência, confiança, 
dedicação ao ensino, por me dar suporte e direções necessárias para o 
desenvolvimento do meu relatório de estágio, suas opiniões foram importantíssimas 
e sua ajuda foi fundamental para engrandecer o meu conhecimento. 
Ao professor Dr. Isaque dos Santos Sousa, por me apresentar o livro Fobópole: O 
medo generalizado e a militarização da questão urbana. Do geógrafo Marcelo José 
Lopes de Souza, o que fez eu como acadêmico de Geografia e agente de segurança 
pública do estado do Amazonas me aprofundar no assunto e que fortaleceu a ideia 
desse trabalho. 
A Jessica Sousa de Oliveira, pelos incentivos, pelo carinho e ajuda nas correções 
dos meus trabalhos acadêmicos. 
5 
 
A Keitty Hellen Oliveira dos Santos, pela ajuda e amizade, pelas conversas, pelo 
exemplo de profissional dedicada que é. 
A Amélia Moura de Sousa, pela ajuda e experiência de vida como professora da 
rede pública de ensino. 
Ao meu comandante, Tenente Coronel da Policia Militar do Amazonas, Hermes Silva 
de Macedo, pela convivência, incentivo incondicional, pela descontração com suas 
brincadeiras e carinho, apoio nas horas difíceis, palavras de consolo, exemplo de 
dedicação nos estudos e compromissos com trabalho, por ter me protegido toda vez 
que alguém tentou complicar a minha caminhada acadêmica. 
Ao meu comandante imediato, Capitão da Policia Militar do Amazonas, Daniel da 
Silva Segadilha, comandante da 14ªCICOM, pelo apoio e por ter entendido que o 
conhecimento liberta e transformará bons profissionais em melhores, a toda equipe 
da 14ª CICOM em especial a equipe administrativa. 
A Polícia Militar do Amazonas, a qual eu tenho orgulho de fazer parte do seu quadro 
de profissionais desde 2008, por ter fornecidos todos os dados necessários para 
construção deste estudo. 
Ao Tenente da Polícia Militar do Amazonas Manuel dos Santos Oliveira, do CICC 
pelas orientações em relação à dinâmica da segurança pública no Amazonas. 
Ao Tenente da Polícia Militar do Amazonas Mario Artur Lopes de Oliveira pela 
confecção de mapas e orientações. 
Ao Tenente da Polícia Militar do Amazonas Eduardo Pereira da Silva, pelas 
orientações e confecção de mapas. 
Aos camaradas de aula e estudos, Rafael Henrique dos Santos, Acácio Justino 
Frota, Raquel de Souza Santana, Emanuel Cruz Butel e Ítalo Roberto Oliveira da 
Silva, pela contribuição em meu aprendizado, ajuda mútua concedida, incentivos 
que foram fundamentais para meu crescimento e apoio em momentos da vida. 
Ao Cabo da Polícia Militar do Amazonas Alexandre de Oliveira Santo, pelo apoio. 
6 
 
A todos os meus professores de todas as fazes de minha vida, que contribuíram no 
meu aprendizado, pelos conhecimentos transmitidos, e incentivos para chegar ao 
ensino superior, e na caminhada pela busca do saber. Aos mestres e doutores que 
deixaram seus ensinamentos e marcaram minha trajetória até aqui. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Não podemos ser livres ou felizes até que 
estejamos a salvo e seguros – a salvo da violência 
alheia e seguros de nossa capacidade de lidar de 
forma não violenta com nossos relacionamentos. 
Alan Page Fiske (Época, 2015) 
8 
 
RESUMO 
 
 
O crescente índice nos números de mortes por causas externas violentas 
(homicídios), desde a década de 1980, quando o país começou a fazer contagem 
dos óbitos, foi registrado no primeiro ano 13.910 homicídios, e no ano de 2011 
registrou 52.198 homicídios, um aumento de 275,3% do primeiro ano de contagem 
para 2011. O aumento de vítimas desse fenômeno se transformou no principal 
assunto em discussão dos meios de informações do país, e das famílias que na 
mesa do café da manhã é o assunto em debate, a busca da sociedade em ter uma 
explicação do fenômeno violência urbana. Fez a temática violência urbana nos 
últimos 30 (trintas) anos no Brasil, receber um aporte bastante interessante por parte 
das academias de ciências no país, essa preocupação, por parte de pesquisadores 
de diversas áreas do conhecimento científico em dar uma resposta a sociedade, 
resultou em muitas publicações de estudos sobre a temática segurança pública. 
Este estudo tem por objetivo geral geografizar a disputa interna e externa de 
território por facções criminosas, a venda de drogas no varejo, e os homicídios com 
uso de arma de fogo na área da Décima Quarta Companhia de Polícia Comunitária 
(14ºCICOM). Desse modo buscamos: identificar os pontos no território que geram as 
disputas internas e externas pelas “facções criminosas” do ramo varejista da venda 
de drogas ilícitas, na área da 14ºCICOM; e analisar a dinâmica do tráfico de drogas 
e as ações que geram crimes de homicídios na área de estudo. Dos 779 homicídios 
que foram registrados na cidade de Manaus no ano de 2014, 51 aconteceram na 
área da 14ªCICOM. O presente estudo mostra que os crimes de homicídios na área 
de policiamento da 14ªCICOM, estão relacionados à disputa interna e externa por 
membrosde facções criminosas do ramo do tráfico de drogas ilícitas do varejo, e ao 
acerto de contas. 
 
PALAVRAS CHAVES: Facção Criminosa. Crime de Homicídio. Violência Urbana. 
Territorialidade em Rede. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
ABSTRACT 
 
The increasing rate of deaths from violent causes (homicide), since the 1980s, when 
the country started to count deaths, was recorded in the first year 13,910 homicides, 
and in 2011 recorded 52,198 homicides, an increase of 275.3% from the first year to 
for 2011. The increase of victims of this phenomenon became the main topic of 
discussion on the country's information media and families had been debate the 
subject, trying to understand the urban violence. The urban violence theme, in the 
last 30 years in Brazil, has received a very interesting contribution from the 
academies of science in the country, this is a concern from part of researchers of 
several fields of scientific knowledge to give an answer to society, resulted in many 
publications about Public Safety. This study has the objective of mapping internal 
and external territory dispute by criminal gangs, drug sales in retail, and homicides 
with firearm use in the area of the Fourteenth Community Police Company 
(14ºCICOM). Thus we seek to: identify the points in the territory which generate 
internal and external disputes by "gangs", retail the sale of illicit drugs in the area of 
14ºCICOM; and analyze the dynamics of drug traffic and the actions that generates 
homicides in the studied area. From the 779 homicides that were recorded in the city 
of Manaus in 2014, 51 occurred in the area of 14ªCICOM. This study shows that 
homicide in the 14ªCICOM area are related to internal and external competition of 
members from gangs and illicit drugs traffic, retail industry, and the reckoning. 
 
KEYWORDS: Criminal Faction. Crime of murder. Urban violence. Territoriality 
Network. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
LISTAS DE FIGURAS 
 
 
FIGURA 1 ─ IMAGEM DE DELIMITAÇÃO DOS SETORES DA ÁREA DE 
POLICIAMENTO DA 14ªCICOM ............................................................................... 29 
 
FIGURA 2 ─ IMAGEM DOS TERRITÓRIOS EM DISPUTA PARA O TRÁFICO DE 
DROGAS ................................................................................................................... 43 
 
FIGURA 3 ─ MAPAS DE KERNEL USADOS PARA MEDIR CVLI DE 2012/2015 ... 50 
 
FIGURA 4 ─ IMAGEM DA ÁREA DA 14ªCICOM DENTRO DA ÁREA DO CPA-
LESTE ....................................................................................................................... 52 
 
FIGURA 5 ─ IMAGEM DE REPRESENTAÇÃO DOS HOMICÍDIOS POR SUBÁREAS 
DA 14ªCICOM-2014 .................................................................................................. 54 
 
FIGURA 6 – IMAGEM DOS PRINCIPAIS TERRITÓRIOS EM DISPUTA DO SETOR 
3 PELA FDN E PCC .................................................................................................. 57 
 
FIGURA 7 – IMAGEM DAS RUAS ONDE FICAVA AS BASES DA FDN E PCC NO 
SETOR 3 ................................................................................................................... 59 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
LISTA DE TABELAS 
 
TABELA 1 ─ DENSIDADE DE HABITANTES POR ÁREA DA 14ªCICOM ............... 31 
 
TABELA 2 ─ NÚMERO DE VÍTIMAS DE HOMICÍDIOS POR FAIXA ETÁRIA-
MANAUS-2014 .......................................................................................................... 47 
 
TABELA 3 ─ INCIDÊNCIA DE HOMICÍDIOS EM MANAUS, 2014 ........................... 48 
 
TABELA 4 ─ LOGRADOUROS NA ZL COM MAIOR NÚMERO DE HOMICÍDIOS- 
2014 .......................................................................................................................... 50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS 
 
14ªCICOM - Companhia Interativa Comunitária 
14ºDIP - Distrito Integrado de Polícia 
ASPB - Anuário de Segurança Pública do Brasil 
BOPE - Batalhão de Operações Especiais 
CECOPOM - Centro de Comunicações e Operações Policiais Militares 
COMPAJ - Complexo Penitenciário Anísio Jobim 
CPA-LESTE - Comando de Policiamento da área Leste 
CPM - Comando Policiamento Metropolitano 
CVLI - Crimes Violentos Letais Intencionais 
DEAAI - Delegacia Especializada em Apuração de Atos Infracionais 
DHS - Delegacia de Polícia Civil de Homicídios e Sequestros 
FDN - Família do Norte 
GPS - Global Positioning System 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
INPAD - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool 
e Outras Drogas 
MS - Ministério da Saúde 
OMS - Organização Mundial de Saúde 
ONU - Organização das nações unidas 
PCAM - Polícia Civil do Amazonas 
PCC - Primeiro Comando da Capital 
PFB - Polícia Federal do Brasil 
PIM - Polo Industrial de Manaus 
PMAM - Polícia Militar do Amazonas 
SEAI - Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência 
13 
 
SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade 
SISP - Sistema Integrado de Segurança Pública 
SSP-AM - Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas 
SUS - Sistema Único de Saúde 
UFAM - Universidade Federal do Amazonas 
UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime 
ZCO - Zona Centro-Oeste 
ZL - Zona Leste 
ZN - Zona Norte 
14 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 18 
 
3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 27 
3.1 Recorte espacial --------------------------------------------------------------------------- 28 
3.2 O método empregado -------------------------------------------------------------------- 33 
 
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 36 
4.1 Dinâmicas do Trafico de Drogas Ilícitas no varejo na área de 
policiamento da 14ªCCICOM ---------------------------------------------------------------- 38 
4.2 Divisão do território para o uso do trafico de drogas ilícitas na área de 
policiamento da 14ªCICOM ------------------------------------------------------------------ 41 
4.3 Os Números de crimes de Homicídios na área da 14ªCICOM-2014 -------- 46 
4.3.1 O comportamento dos homicídios segundo bairros e Zonas 
administrativas de Manaus ....................................................................... 47 
4.3.2 – Homicídios segundo os logradouros na Zona Leste de Manaus .. 50 
4.3.3 Os principais territórios em disputas na área de policiamento da 
14ªCICOM ................................................................................................ 52 
Setor 1 --------------------------------------------------------------------------------------------- 55 
Setor 2 --------------------------------------------------------------------------------------------- 55 
Setor 3 --------------------------------------------------------------------------------------------- 57 
Setor 4 --------------------------------------------------------------------------------------------- 60 
Setor 5 --------------------------------------------------------------------------------------------- 61 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 63 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65 
 
 
 
 
 
 
15 
 
1 INTRODUÇÃO 
 Este estudo tem por finalidade demonstrar a disputa interna e externa por 
território por facções criminosas do ramo do tráfico de drogas ilícitas do varejo, os 
acertos de contas, com o aumento no número de homicídios na área policiada pela 
Décima Quarta CompanhiaInterativa Comunitária subordinada a Polícia Militar do 
Amazonas (PMAM), na Zona Leste da Cidade de Manaus, no período que 
corresponde de janeiro a dezembro de 2014. Tendo em vista esta área ser, como 
uma das mais problemáticas quando o assunto é segurança pública e pelos seus 
altos índices de homicídios na cidade de Manaus. 
 A zona leste da cidade de Manaus, sempre foi vista como sinônimo de área 
muito violenta, e o bairro Jorge Teixeira tido como o mais perigoso dessa zona, onde 
a sensação de segurança é quase zero, tanto que o bairro é conhecido 
popularmente como Jorge Texas, fazendo uma alusão ao estado do Texas nos 
Estados Unidos da América, dos filmes de Far West. 
O tema violência urbana se tornou o grande produto do mercado do medo 
onde muitos acabam lucrando. Uma das grandes fomentadoras desse sistema é a 
imprensa como um todo, que acaba transformando uma área da cidade como um 
espaço violento no imaginário da população. Em Manaus, esse marketing negativo 
de uma determinada área da cidade tem afetado de maneira a causar preconceitos 
com os moradores desses locais. Um desses casos é o que vem acontecendo com 
os moradores da Zona Leste, de forma determinista que essas pessoas são 
violentas e perigosas. 
Este estudo tem por objetivo geral geografizar a disputa interna e externa de 
território por facções criminosas, a venda de drogas no varejo, e os homicídios com 
uso de arma de fogo na área da Décima Quarta Companhia Interativa Comunitária 
(14ºCICOM). 
Os objetivos específicos são: identificar os pontos no território que geram as 
disputas pelas “facções criminosas” do ramo varejista da venda de drogas ilícitas, na 
área da 14ºCICOM e analisar a dinâmica do tráfico de drogas e as ações que geram 
crimes de homicídios na área de estudo. 
16 
 
O recorte espacial foi no perímetro urbano da cidade de Manaus, na Zona 
Leste da cidade, que segundo dados estatísticos do Sistema Integrado Segurança 
Pública (SISP) disponibilizados para estudo pela Polícia Militar do Amazonas 
(PMAM) é a segunda zona da cidade onde, em 2014, mais foram registradas mortes 
por causas externas violentas, isto é, motivadas por violência - a maior parte com 
uso de arma de fogo. 
No capítulo referencial teórico o estudo expõe os crimes de homicídios saindo 
do nível global para o municipal, mostrando como esse crime está com números 
altos, com os estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS), Escritório das 
Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e do sociólogo Julio Jacobo 
Waiselfisz através do estudo do Mapa da Violência, respectivamente em nível 
internacional e em nível nacional. 
Na literatura sobre violência urbana, faz-se referências aos seguintes 
estudiosos da temática: Souza (2008) com “Fobópole” o medo nas cidades, Souza 
(2000) o território como relação de poder, Cano e Santos (2007) a pobreza e 
desigualdade no Brasil contribui para os crimes de homicídios, Spósito (1994) a 
complexidade do tema violência urbana, Queiroz (2002) a violência como problema 
urbano e o saber geográfico, Diógenes (1998) a transformação social que a violência 
faz nos indivíduos. Para conceituar o que é violência e crime entende-se o que 
afirma Houaiss (2001) a epistemologia das palavras violência e crime, e a tipificação 
de homicídio em Brasil (1940) crime de homicídio no Código Penal. 
O estudo faz referência metodológica ao território a partir do que propôs o 
geógrafo Marcelo José Lopes de Souza em seu artigo “O território: sobre espaço e 
poder, autonomia e desenvolvimento” publicado no livro “Geografia: Conceitos e 
Temas” onde ele afirma que o território é um “espaço definido e delimitado por e a 
partir de relações de poder”, e muda com o tempo, não importando se é uma rua ou 
um bloco de países em busca de um ideal comum. A “territorialidade em rede” 
tratando os territórios de ponto de venda de droga do varejo “bocas de fumo”, pelas 
facções criminosas do ramo do tráfico de drogas ilícitas como palco de disputa pelas 
facções criminosas. Do seu livro “FOBÓPOLE: O medo generalizado e a 
militarização da questão urbana” onde o referido autor aborda o medo nas cidades 
no Brasil e utiliza as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo como exemplos, e como 
17 
 
os meios de comunicação em massa contribui para essa insegurança que se 
instalou no país. 
Essa área da Zona Leste da cidade é considerada pelos órgãos estaduais de 
saúde e segurança pública do Estado do Amazonas, como sendo a segunda área 
com maior índice de casos de crimes de homicídios. E a área da Décima Quarta 
Companhia Interativa Comunitária (14ºCICOM), a segunda área em que mais houve 
homicídios no ano de 2014, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública 
do Amazonas (SSP-AM), grande parte motivado pela disputa interna e externa de 
território por facções criminosas do tráfico de drogas ilícitas do varejo, e acerto de 
contas. 
Sendo a segunda maior zona populacional da cidade, segundo censo do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) é uma área de baixa 
renda familiar, baixa escolaridade e desigualdade social elevada, mão de obra 
barata. 
Esses aspectos contribuem para que os filhos mais velhos venham a ficar 
responsáveis pelos mais novos. Essa falta de acompanhamento familiar pode estar 
contribuindo para que os vendedores de entorpecentes das áreas onde essas 
crianças e adolescentes vivem, sejam recrutados como possíveis usuários de 
entorpecentes e posteriormente “aviõezinhos”, como são conhecidos os pequenos 
vendedores de drogas ilícitas. 
O capítulo sobre resultados e discussões expõe os dados obtidos com o 
estudo. Onde fica em evidência que a disputa interna e externa por território por 
membros de facções criminosas, e o acerto de contas. São grandes vetores de 
crimes de homicídios na área de policiamento da 14ªCICOM, onde as maiores 
vítimas são homens na faixa etária de 15 a 29 anos, envolvidos com o tráfico de 
drogas ilícitas, e por ser membro de uma facção criminosa, a maioria das vítimas é 
usuários de entorpecentes. 
Finalmente são apresentadas as considerações finais deste trabalho. 
 
18 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
O Brasil é tido como um país muito violento, segundo a Organização das 
Nações Unida (ONU, 2014), que faz essa comparação utilizando a contagem pelo 
número de mortes por causas externas violentas, frente até á países que vivem em 
zonas de conflitos armados por vários motivos que vão desde ideologia religiosa à 
disputa por territórios. Segundo o Anuário de Segurança Pública do Brasil (ASPB), 
publicado em novembro de 2014, a cada dez minuto uma pessoa é vitima de 
homicídio no país. 
Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, 
2014), no ano de 2012 no mundo aconteceram 437.000 (quatrocentos e trinta e sete 
mil) homicídios, no Brasil no ano de 2013, foram contabilizados 53.646 homicídios, 
configurando a taxa de 26,6 homicídios para cada 100 mil habitantes. 
Comparativamente, vale observar que a taxa de homicídios de 10 para cada grupo 
de 100 mil habitantes é considerado de nível epidêmico. Esse estudo afirma que no 
Brasil morrem mais pessoas vitimas de violência com uso de arma de fogo que 
muitos países que estão em guerra civil. O estudo não mostra perspectivas de 
redução de crimes de homicídios para o futuro. 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) apresenta dados mais agravantes. 
Em dezembro de 2014 a (OMS) divulgou um relatório em que o Brasil figura como o 
país onde mais morrem pessoas vitima de homicídios com mais de 64 mil pessoas 
por ano, segundo a OMS (2014) esses dados são referentes ao ano de 2012, no 
qual morreram 475.000 (quatrocentos e setenta e cinco mil) pessoas vítimas de 
homicídios no mundo. A organização afirma que a cada 100 (cem) pessoas que 
morrem por homicídios no mundo, 13 (treze) são brasileiras. Por este motivo, 
começaram a cobrar do governo brasileiro uma política nacional de combatee 
enfrentamento ao grande número de homicídios no país. Em decorrência, foram 
criados vários grupos de estudos sobre violência urbana. 
 O que se levantou é que mais da metade dessas mortes estão relacionadas 
a disputa interna e externa por membros de facções criminosas do ramo do tráfico 
de drogas ilícitas, ou acerto de contas. E que a maioria das vítimas são jovens entre 
15 e 29 anos, de baixo grau de instrução, que moram em áreas com infraestrutura 
19 
 
inadequada, e sem os aparelhos coletivo sociais, de família desestruturadas, criados 
de pouco acompanhamento parental. Geralmente o jovem ou vive só com a mãe, os 
avós ou com algum parente que sai para o trabalho às quatro horas da manhã e só 
volta à noite, o que afeta diretamente na educação de muitos jovens que pelo fato de 
o tráfico de drogas proporcionar “dinheiro fácil”, acaba sendo um atrativo para esses 
jovens que não tem expectativa de vida, que acabam vendo nas “facções 
criminosas” uma boa saída para os seu conflitos mentais e pessoais, contribuindo 
para um encurtamento de sua vida (WAISELFISZ, 2014). 
Estudo divulgado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para 
Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD, 2013) afirma que o Brasil é o 
segundo maior consumidor de cocaína do mundo ficando atrás somente dos 
Estados Unidos da América, e o maior consumidor de crack do planeta, mostrando a 
complexidade do enfrentamento do uso e do comercio do tráfico de drogas ilícitas 
para o país. 
No Brasil, no ano de 1980, quando o Ministério da Saúde (MS) começou a 
catalogar as mortes por violência com uso de alguma arma de fogo, pelo Sistema de 
Informação sobre Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SIM/SUS), houve 8.710 
homicídios, tendo passado a 38.892 em 2010, um crescimento de 346,5%. Vale 
considerar que, nesse intervalo, a população do país cresceu 60,3%. Demonstrando, 
um crescimento da mortalidade por arma de fogo no país, segundo Julio Jacobo 
Waiselfisz (2013), sociólogo, afirma que “descontando o aumento populacional, 
ainda impressiona”. [...] “Entre os jovens de 15 a 29 anos esse crescimento foi ainda 
maior: passou de 4.415 óbitos totais em 1980 para 22.694 em 2010 um aumento de 
414% nos últimos 31 anos entre essas datas”. (p.11). 
No Estado do Amazonas no ano de 2000 foram computados 263 óbitos, com 
uso de arma de fogo, uma média de 9,4 por 100 mil habitantes e estava na vigésima 
posição, no ano de 2010 passou para 660 óbitos, média de 18,9 por 100 mil 
habitantes e foi para decima sexta posição (WAISELFISZ, 2013). 
Manaus, no ano 2000, contabilizou 223 óbitos, com uso de arma de fogo, uma 
média de 15,9 por 100 mil habitantes, em 2010 contabilizou 567 óbitos, com uma 
média de 31,5 por 100 mil habitantes. (WAISELFISZ, 2013). E nos últimos anos, 
20 
 
segundo (SSP-AM) a zona leste da cidade de Manaus foi a área da cidade em que 
mais houve homicídios com uso de arma de fogo. Queiroz (2002), afirma que: 
Ao eleger a violência urbana como alvo de reflexão e debate assume-se 
de início não apenas um, exercício, mas, sobretudo um desafio, qual seja: 
o de produzir respostas urgentes e satisfatórias ao clamor da sociedade 
por compreensão e superação de um problema que se tornou se não o 
mais agudo, um dos principais problemas sociais da atualidade. Esse 
tema já ocupa lugar de destaque em pesquisas das ciências sociais, 
jurídicas e médicas. Está cada vez mais presente na mídia e na vida real: 
nas ruas, em casa, no trabalho e na escola. Nesta última, seja como tema 
de reflexão, seja como fenômeno que vitima alunos, professores, 
funcionários e o patrimônio público (2002, p.41). 
 
Violência do latim, violabilis, é ação de coação, agressão com emprego de 
força física, constrangimento físico ou moral contra alguém. Assim como 
criminalidade também vem do latim, criminalis, que corresponde a crime, o pensador 
do direito afirma: “caracterização ou estilo de que ou do que é criminal, criminoso, 
criminativo; caracterização ou qualificação de um crime; [...] Circunstância que 
envolve um ilícito penal distinguindo-o como transgressão, ato imputável e punível 
[...]” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 869). 
Com base nessas informações evidencia-se a importância de se ter estudo 
sobre esse fenômeno social que contribui no comportamento e modo de vida das 
pessoas na cidade. A contribuição a ser deixada para a ciência geográfica é, 
conforme Diógenes (1998, p.41): 
Nesse momento, a perspectiva de Gertz novamente mobilizou-me a 
entender que o eixo básico de investigação não deveria se limitar a 
identificar como a violência acontece, mas essencialmente anotar a sua 
rede de significados que se produz na dimensão territorial como 
construção cultural’. 
 
Para a geógrafa, importa muito mais a dinâmica da produção do espaço 
urbano em face da situação de violência notificada nas cidades. Pensar nisso 
remete a refletir o modo como se (re)elaboram hábitos, práticas e relações sociais 
na cidade, diante de novos conteúdos sociopolíticos e territoriais, em particular a 
criminalidade, especialmente em suas modalidades mais violentas. 
Com essas interrogações acerca da temática “violência urbana” acendeu a luz 
amarela da comunidade acadêmica das ciências humana pela temática em questão, 
que para Souza: 
21 
 
E necessário investigar como, concretamente, a violência e a insegurança 
se manifestaram em cada momento. Em que circunstâncias a violência e a 
insegurança chegaram ao ponto de influenciar decisivamente a vida diária, 
os padrões de circulação no espaço e mesmo o habitat e as formas 
espaciais? Quando se coloca a questão desse modo, basta examinar o 
material histórico disponível para se verificar que nem sempre violência e 
insegurança foram fatores assim tão decisivos, ainda que nunca tenham 
estado ausentes das preocupações dos governantes e das coletividades 
em geral (2008 p.08). 
 
O tema segurança pública sempre foi uma questão de debate entre os 
homens e, no presente com alcance instantâneo das informações, o assunto tornou-
se o tema principal das discussões nas mesas de bares, na mesa do café da manhã, 
o que despertou o interesse de vários estudiosos a publicar sobre a temática 
violência urbana. O que se percebe é que as cidades brasileiras estão 
paulatinamente se transformando em “fobópoles”. Conforme afirma Souza (2008 
p.09), esse termo “é o resultado da combinação de dois elementos de composição, 
derivados das palavras gregas phóbos, que significa ‘medo’, e pólis, que significa 
‘cidade’”. Souza comenta também que: 
O que o material histórico disponível mostra é que preocupações com a 
segurança pública acompanham o fenômeno urbano ao longo da sua 
história. Considerando-se que o senso comum de cada época julga a 
gravidade dos problemas à luz de comparações de fôlego curto, é lícito 
inferir que, para os padrões de um dado momento, não necessariamente a 
imprensa e o público em geral estariam exagerando ao se dizerem 
“preocupados”, “impressionados”, “horrorizados” etc. com a criminalidade 
violenta e a insegurança (2008, p.08). 
 
Os homicídios na disputa por território entre facções criminosas são vistos 
como de natureza econômica haja vista que a finalidade é a obtenção de lucro, 
utilizando-se da violência para se obter um resultado (CANO E SANTOS, 2007). A 
violência veiculada e enfatizada pela mídia através de jornal impresso, portal de 
notícias, telejornais, acaba gerando medo que consigo traz temor e ansiedade 
fazendo com que o cidadão mude alguns comportamento e lugares e cria 
preconceitos com moradores de determinada área da cidade. Cada bairro tem um 
estilo de “vida local”, pois quem mora nos bairros mais antigos da cidade tem no seu 
dia-a-dia rotina diferente dos que moram na periferia, afirma Spósito (1994) 
mostrando quanto é complexo o tema violência urbana. Muitos estudos tentam 
relacionar o aumento da violência ao nível de pobreza e a má distribuição de rendados cidadãos de um determinado local da cidade, Cano e Santos (2007) e a 
violência letal é a que mais causa medo nos citadinos. 
22 
 
Nos últimos anos o comportamento dos habitantes das cidades brasileiras 
vem sofrendo mudanças motivadas pela falta da sensação de segurança, para 
Queiroz (2008): 
A violência que atinge cidades brasileiras deixou de ser um fenômeno 
localizado e ganhou status de problema nacional. Essa situação tem 
desencadeado na sociedade urbana um sentimento desmesurado de 
medo, colocando-a em permanente estado de alerta. Em resposta, 
ocorrem mudanças significativas no cotidiano das cidades, pela 
redefinição de atividades, fluxos e comportamentos, portanto, no modo de 
vida urbano. (2008, p.98) 
 
A influência da violência urbana na mudança de comportamento dos 
citadinos, dos condomínios fechados, o mercado do medo, a arquitetura da cidade, e 
a questão da violência urbana se transforma em uma questão essencialmente 
geográfica. “Isso significa considerar não apenas os aspectos de localização e 
extensão do problema, mas os seus reflexos nos modos de produzir e consumir (n) 
a cidade”, segundo Queiroz: 
 
Tendo como referencia a cidade de São Paulo, fica evidente, pelas 
estatísticas criminais o fato de a periferia ser a maior vítima da violência. 
No ano de 1996, enquanto a taxa de homicídios em bairros prósperos, 
como Perdizes, era de três homicídios por cem mil habitantes, nos bairros 
pobres era quase quarenta vezes maior, a exemplo do Jardim Ângela que 
registrava 111 assassinatos por cem mil habitantes (Folha de S. Paulo, 
22\09\1996 apud Queiroz (2002, P.99). 
 
Um dos autores que se dedicam a discussão da temática violência urbana no 
país é o geógrafo Marcelo Lopes de Souza, para quem: 
 [...] por razões óbvias, está bastante em voga no Brasil (e em muitos 
outros países), e sobre ele se tem publicado bastante – eu mesmo já 
publiquei outros livros e capítulos de livros e artigos sobre o assunto. Por 
que, então, escrever mais um? Explicar “a razão e as razoes”- pequena 
sutileza que logo ficará clara – de publicar mais um livro sobre o tema 
oferece o pretexto para, logo de cara, neste prefácio, mencionar duas 
lacunas da literatura especializada publicada no Brasil – duas lacunas 
importantes e persistentes, apesar da multiplicação de títulos dedicados à 
temática da ‘violência urbana’. (2008, p.09) 
 
Diferente de outros países o Brasil só veio dar importância à área de 
segurança pública, dez anos após a promulgação da “Constituição Cidadã” de 1988. 
Observa-se que nessa época não tem muito trabalho voltado para área segurança 
pública por parte da academia, mas isso não é uma particularidade do Brasil. O 
assunto foi por muito tempo negligenciado tanto por historiadores como sociólogos. 
23 
 
A esse respeito, Bayley (2002 p.16) que “A Polícia só é percebida durante eventos 
dramáticos de repressão política, como o Terceiro Reich, a Comuna de Paris em 
1872, as contra-revoluções na Europa de 1848-1849 e a confirmação do governo 
Meiji no Japão por volta de 1870.” Mas que após a Segunda Guerra Mundial o 
assunto polícia ganha notoriedade e interesse por parte de pesquisadores de varias 
áreas do conhecimento abrindo a porta dos centros acadêmicos para o tema 
segurança pública. 
Se no Brasil a questão violência urbana só começa a ser monitorada com a 
quantificação de óbitos com implantação do sistema SIM/SUS do Ministério da 
Saúde no ano de 1980, nas regiões Norte e Nordestes segundo Nascimento (2006), 
até o ano de 2006 não havia estudos relevantes para tal assunto: 
A maioria das grandes cidades do Norte e do Nordeste, como as capitais 
estaduais, não dispõe, a nosso conhecimento, de estudos e pesquisas de 
relevo a respeito da candente temática dos homicídios. Na Região Norte 
são incipientes os estudos nesse sentido, sejam eles voltados para as áreas 
urbanas ou as rurais dos municípios. Em relação a Manaus, dispõe-se de 
uma importante e relativamente recente contribuição para o conhecimento 
desse tipo de causa de óbito na cidade (COHEN, 1999 apud 
NASCIMENTO, 2006). 
 
Segundo Nascimento, 
 
Nesse estudo, a autora busca, a partir de uma pesquisa de campo, 
qualitativa, desvendar o perfil das vítimas dos homicídios e relacionar os 
óbitos por homicídio às condições espaciais e sociais vigentes na cidade à 
época do levantamento (2006, p.17). 
 
Isso mostra a importância do estudo aqui apresentado, para a contribuição de 
mais trabalhos acadêmicos voltados para a área de segurança pública no Estado do 
Amazonas. Nos dias atuais é a grande preocupação e reclame da sociedade 
amazonense, onde os índices de mortes por ações violentas causam pânico e medo 
à população de modo geral, que não tem sensação de segurança. Grande parte 
dessas mortes externas é motivada pela disputa de território por facções criminosas 
ligadas ao tráfico de drogas ilícitas ou acerto de conta que é quando um usuário de 
drogas está devendo na “boca de fumo” lugar conhecido popularmente onde vende 
droga no varejo, a sentença é a morte. Daí a importância desse estudo aonde vai 
procurar mostra os locais na área de policiamento da 14ªCICOm, onde mais houve 
essa disputa. 
24 
 
O medo é um fator que gera transformação no cotidiano de uma cidade tanto 
no comportamento de seus habitantes como na sua arquitetura urbanística, e 
contribui para o grande crescimento do “mercado do medo e da violência” que 
segundo os órgãos responsáveis de segurança pública cresce mais que os índices 
de violência. 
A esse respeito, Felix (2002) afirma que: o medo contribui para duas 
situações: o acomodamento ou o combate de forma estratégica na comunidade que 
vai desde as utilizações de cães e altos muros com cerca elétrica, câmeras de 
monitoramento, a construção de bairros cercados. A exploração desse medo faz 
com que os moradores da cidade acabem dando mais valor a quesito segurança do 
que mesmo o conforto do local. Essa sensação de medo e insegurança muda o 
comportamento dos habitantes de outra área da cidade, por exemplo, um bairro da 
cidade está tendo um grande número de homicídios, mas os telejornais e jornais 
impressos vendem a noticia de que a cidade está um caos. Principalmente após um 
final de semana ou feriado prologado as manchetes sensacionalistas estampam as 
capas dos jornais impressos nos dias atuais a sensação de segurança está atrelada 
aos números de morte com o uso de arma de fogo, ao quê os meios de 
comunicação de massa noticia. 
O homicídio é tratado nos Artigos 121 ao 128 do Código Penal Brasileiro- 
Decreto Lei Nº2.848 de 07 de dezembro de 1940 e está no capitulo dos crimes 
contra a pessoa e contra a vida. O Código Penal prevê como crime de homicídio o 
ato de suprimir a vida humana, não definindo o modo operante para tal evento. Com 
isso, toda ação voltada para tirar a vida de outrem será caracterizado como crime, 
para maioria dos autores do direito a definição de crime é um fato típico, antijurídico 
e culpável. 
O aumento nos índices de crimes de homicídios nos últimos anos no Brasil 
chamou atenção dos órgãos internacionais, por exemplo, a Organização das Nações 
Unidas (ONU), a cobrar do governo brasileiro políticas públicas voltadas ao combate 
e enfrentamento do crescente número de mortes por causas externas violentas no 
país. 
25 
 
A disputa por território pelo crime organizado gera não só opressão a uma 
população de determinado território que tem importância para exploração para a 
venda de drogas ilícitas no varejo o que de certa forma acaba gerando uma disputa 
pelas facções criminosas. Segundo Souza (2012): 
O território não deve ser entendido, como ainda hoje muitas vezes o é, 
como sinônimo de “espaço geográfico” em geral. Um território é um espaço 
social qualificado, em primeiro lugar e acima de tudo, pela dimensão do 
poder. Ele constitui uma espécie de “campo de força”, que corresponde às 
relações de poder (exercício do poder: estatalou não, duradouro ou 
efêmero, heterônomo ou autônomo) referidas a um espaço material (e a 
identidades e ideologias sócio-espaciais) específico (p.124), 
 
Nesse estudo, a noção de território foi trabalhada a partir do que conceitua 
Souza (2000, p.111): “Todo espaço definido e delimitado por e a partir de relações 
de poder é um território, do quarteirão aterrorizado por uma gangue de jovens até o 
bloco constituído pelos países-membros da Organização do Tratado Atlântico Norte 
(OTAN).” Como sugere Souza (2000, p.81) “territórios existem e são construídos (e 
desconstruídos) nas mais diversas escalas,”. 
Trabalhando o território a partir do que Souza conceitua e que esse trabalho 
tem pretensões de mostrar, é que a disputa do território pelas facções criminosas do 
ramo do tráfico de drogas ilícitas na área de policiamento da 14ªCICOM constitui-se 
como vetor de homicídios, nessa área urbana de Manaus. O autor diz que no caso 
do tráfico de drogas a “territorialidade em Rede” é: 
A territorialidade de cada facção ou organização do tráfico de drogas é, 
assim, uma rede complexa, unindo nós irmanados pelo pertencimento a um 
mesmo comando, sendo que, no espaço concreto, esses nós de uma rede 
se intercalam com nós de outras redes, todas elas superpostas ao mesmo 
espaço e disputando a mesma área de influência econômica (mercado 
consumidor), formando uma malha significativamente complexa. (SOUZA, 
2000, p.92). 
 
Trabalhando o território a partir das facções criminosas do ramo do tráfico de 
drogas ilícitas no varejo, adotou-se aqui a interpretação que Souza emprega em seu 
artigo O Território: Sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento (2000), no 
qual ele considera como “território descontínuo”, ao que seria o “território-rede” ou 
“território em rede”: 
 
26 
 
Trata-se, essa ponte conceitual, ao mesmo tempo de uma ponte entre 
escalas ou níveis de análise: o território descontínuo associa-se a um nível 
de tratamento onde, aparecendo os nós como pontos adimensionais, não se 
coloca evidentemente a questão de investigar a estrutura interna desses 
nós, ao passo que, à escala do território contínuo, que é uma superfície e 
não um ponto, a estrutura espacial interna precisa ser considerada. Ocorre 
que, como cada nó de um território descontínuo é, concretamente e à luz de 
outra escala de análise, uma figura bidimensional, um espaço, ele mesmo 
um território (uma favela territorializada por uma organização criminosa), 
temos que cada território descontinuo é, na realidade, uma rede a articular 
dois ou mais territórios contínuos (SOUZA, 2000, p.93-94). 
 
Partindo dessas referências e, principalmente de Marcelo José Lopes de 
Souza, o autor deste trabalho busca demonstrar como a disputa interna e externa 
por território por membros de facções criminosas do ramo do tráfico de drogas 
ilícitas foi vetor de homicídios no ano de 2014, na área policiada pela 14ªCICOM. 
O antropólogo Norte Americano Alan Page Fiske, em entrevista ao Portal da 
Revista Época, em março de 2015, afirma que “Precisamos entender a violência 
para eliminá-la”. O autor desse estudo entende que só se pode combater algo 
quando se tem conhecimento prévio, pois se não será apenas um “alvo móvel em 
um estande de tiro em dia de instrução”. Souza (2008, p.176) afirma que para tentar 
entender a violência urbana não basta uma análise simplista das abordagens 
“institucionalismo” o “culturalismo” e o “redistributivismo” para o autor: 
Os estudos criminológicos, enquanto campo de estudos essencialmente 
interdisciplinar, possuem uma longa história, e ênfases muito diferentes 
emanaram de disciplinas e abordagens (ou teorias) distintas a propósito da 
questão das causas da criminalidade. Já se pôs o acento em explicações de 
cunho biológico (enfoques antropométricos, biotipológicos, 
neurofisiológicos, endocrinológicos etc.), de natureza psicológica (enfoques 
de psicopatologia criminal, modelos pscodinâmicos e outros) e inspiradas 
nas diversas ciências sócias (da Escola de Chicago às abordagens 
inspiradas no pensamento marxista)- e até mesmo nos trabalhos de 
arquitetos (como os defensible speces e seu desdobramento igualmente 
capitaneado por arquitetos, o enfoque denominado Crime Prevention 
Through Environmental Design [CPTED]) (SOUZA, 2008, P.176-177) . 
Como bem avaliado por Souza (2008) a análise da Geografia da Violência é 
bem complexa e precisa-se fazer uma passeio em outras áreas do conhecimentos 
para se buscar uma explicação mais plausível com a dinâmica da violência urbana, 
e dos crimes violentos nos dias atuais. 
 
 
27 
 
3 METODOLOGIA 
 
 
A Zona Leste da Cidade de Manaus é tida como um território violento, isso se 
pode creditar ao grande número de crimes violentos e às mortes externas que 
aconteceram no seu processo de formação e consolidação. As causas externas 
remetem a fatores independentes do organismo humano, fatores que provocam 
lesões ou agravamentos à saúde levando à morte do indivíduo. A esse fenômeno 
colaboram várias ações (acidente de transito, acidente de trabalho e os óbitos por 
violência, dentre outros)1. 
A Zona Leste da cidade de Manaus seu deu por ocupações irregulares, como 
a primeira dessa área o hoje Bairro do Coroado que em 1968 era utilizado como 
ponto de varias caieiras (lugar de se fazer carvão vegetal) com a vinda de muitas 
pessoas do interior do estado em busca de qualidade vida na capital amazonense 
com a propaganda de empregos do Polo Industrial de Manaus (PIM) e em 1971 em 
busca de moradias essas pessoas resolveram ocupa uma área que pertencia a 
Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e com a proibição dos flutuantes (casa 
feitas em cimas de toras de madeiras que flutuam na água) na frente da cidade no 
Rio Negro, juntam-se a essa parcela de moradores que faziam carvão no lugar, as 
casas nessa época eram feitas de palha e chão batido, e papelão. Começaram a 
ocupação irregular da área, transformando o lugar em uma zona de batalha com as 
forças policias da época, pois os oficias da justiça diziam que o lugar era federal por 
pertence à UFAM, o Brasil nessa época era governado pelo regime militar. 
O bairro recebeu o nome Coroado inspirado na novela da Rede Globo de 
Televisão, Irmãos Coragem de Janete Clair, que o enredo se passava na fictícia 
cidade do Coroado, pois a novela contava a historia de pessoas que lutava pela 
liberdade e contra a opressão. 
Uma luta que se leva mais de dez anos para que se tivesse paz, e que até os 
dias atuais continua, tendo em vista que muitos moradores do bairro ainda não 
 
1
 Cf. DATASUS: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/ext10am.def. Acessado em 
26/11/2015 às 18h14. 
2
Cf.Bairro Coroado:http://www.portalamazonia.com.br/secao/amazoniadeaz/interna.php?id=497. 
Acessado em 26/11/2015 às 18h30. 
 
28 
 
tenham recebido o titulo definitivo de suas terras. O Bairro do Coroado é conhecido 
hoje como “Portal da Zona Leste”. 
Por essa forma de ocupação do espaço urbano dessa zona da cidade de 
Manaus, permeada por conflitos territoriais, ela, desde o seu início foi vista como 
violenta, e de forma determinista as pessoas que nela moram sejam vistas com 
preconceito por moradores de outras partes da cidade. Tendo sido palco de disputa 
de terra nas quais muitas pessoas tiveram as vidas ceifadas, tendo como motivação 
o que se diz popularmente “quero um pedaço de terra pra fazer o meu barraco”, o 
estereótipo foi disseminado de certa forma com apoio da imprensa local, que é 
importante formadora de opinião. 
Ao transmitir a informação, apresentando manchetes sensacionalistas como, 
por exemplo, a do Portal do Jornal Em Tempo: Na Zona Leste, envolvida com o 
tráfico de drogas morre após ser atingido com vários tiros. Como essa, muitas outras 
são publicadas. Os governos também contribuem para fomentar esse preconceito, 
quando vai inaugurar ou lançar um projeto na área,o discurso é de que o lugar é 
extremamente violento, de certa forma territorializando a violência. Discursos do tipo: 
Nessa área desassistida pelo poder público que antes não era olhada, tida 
como vermelha, como violenta, mas que neste governo está recebendo uma 
atenção especial, trazendo a tão sonhada sensação se segurança. 
Inaugura-se a esperança de dias melhores com a construção de um prédio 
maravilhoso do Projeto Ronda no Bairro, com a polícia comunitária que terá 
contato direto com os moradores, dotada de equipamentos tal qual no 
Estados Unidos [...] (FRANÇA, R. Reprodução livre do discurso realizado 
na inauguração de uma Delegacia Interativa de Polícia). 
Geralmente quando o Governador ou o prefeito vão a bairros dessa zona, o 
policiamento é aumentado. Há até situações em que até operações são deflagradas 
antes para intimidar os moradores dessas áreas. 
3.1 Recorte espacial 
 A área de policiamento da Décima Quarta Companhia Interativa Comunitária 
(14ºCICOM), da Policia Militar do Amazonas, é compreendida por nove 
Comunidades dentro do perímetro de três Bairros na Zona Leste da cidade de 
Manaus, conforme Quadro 1, Jorge Teixeira, Gilberto Mestrinho, Tancredo Neves: 
Jorge Teixeira I e II, Novo Reino I, Tancredo Neves, Nova Floresta, Nova Conquista, 
29 
 
Comunidade São Lucas, Comunidade de Deus, Gilberto Mestrinho, ficam na zona 
leste da cidade de Manaus. 
A 14ªCICom está atualmente localizada no Complexo do Décimo Quarto 
Distrito Interativo Comunitário (14º DIP), situado à Avenida Autaz Mirim, nº 7891, 
bairro Tancredo Neves, CEP: 69088-000. Com superfície de 490,12 hectares, visto 
figura 01, 1) começa no Igarapé do Aleixo com o Igarapé do Mindú; 2) segue até a 
Rua Itaetê; 3) segue até a Avenida Autaz Mirim; 4) segue até a Rotatória do 
Produtor; contornando esta exclusive até a Avenida Itaúba; segue até a Rua Jutaí; 6) 
desta até a Rua Mariana; desta contornando o Conjunto Santa Inês até o ponto 
norte da Invasão Nova Vitória; deste ponto contornando a referida invasão até a Rua 
Pedras Coradas; 7) deste até o limite nordeste da Invasão Nova Conquista; 8) 
contornando esta até a Rua Fortaleza; 9) segue até o Igarapé do Aleixo; 10) deste 
até o Igarapé do Mindú. 
Figura 1 ─ Imagem de delimitação dos setores da área de policiamento da 14ªCICOM 
 
Fonte: 14ªCICOM/PMAM 
Organização: Ten. PM OLIVEIRA, Mario Artur Lopes de. 2015 
30 
 
Os bairros e comunidades que são de responsabilidade do policiamento da 
14ªCICom, após a redistribuição das áreas de policiamento com a implantação do 
Programa Ronda do Bairro pela Secretaria de Estado de Segurança Pública no ano 
de 2012, são Jorge Teixeira, Tancredo Neves e Gilberto Mestrinho, conforme o 
Quadro 01. 
Quadro 01 ─ Bairros policiados pela 14ªCICOM 
 
Fonte:14ªCICOM/PMAM 
Organização: CB PM- Santos, Alexandre de Oliveira. 2015. 
Essas áreas estão divididas em cinco setores com a cobertura de uma viatura 
quatro rodas e dois policiais e duas viaturas duas rodas (motocicletas) com dois 
policiais, mais duas viaturas quatro rodas de reforço. Uma fica com o supervisor do 
serviço que tem à frente um oficial subalterno, um tenente e a outra fica ao comando 
de um sargento ou um cabo mais antigo que auxiliam o supervisor. Os policiais 
sempre trabalham no mesmo setor, seguindo a filosofia do policiamento comunitário, 
que desde implantação do programa Ronda do Bairro no ano 2012 passou a fazer 
parte da filosofia de policiamento da Policia Militar do Amazonas (PMAM), 
substituindo o modelo anterior que operava com a Estratégia Tradicional de 
Policiamento. 
Nessa divisão em setores, cada um tem uma viatura, o tempo de resposta é 
de três a cinco minutos, entre o chamado do despachante do Centro de 
Comunicações e Operações Policiais Militares (CECOPOM) e a chegada ao local da 
ocorrência, pois o comunicado é feito diretamente aos responsáveis que conhecem 
empiricamente toda a área de atuação. Cada viatura é equipada com seis câmeras 
que gravam áudio e vídeo, um tablet, rádio de comunicação, um telefone celular que 
tem o número na viatura e um encarte que é distribuído às residências de cada setor 
31 
 
mostrando o perímetro e a viatura responsável pela área, levando os moradores 
tomarem conhecimento dos policiais e a viatura responsável pelo policiamento de 
sua rua. 
A 14ªCICom está subordinada ao Comando de Área Leste (CPA-Leste) que 
está subordinado ao Comando Policiamento Metropolitano (CPM) que é de onde 
todas as ordens operacionais saem, orientadas pelo Comando Geral da Polícia 
Militar do Amazonas (PMAM) que reporta diretamente ao governador do Estado que 
é o comandante chefe da PMAM. Essa nova divisão ao retirar o nome de “quartel” e 
“batalhão” das instalações da polícia, de certa forma é uma tentativa de tirar o 
militarismo da filosofia da polícia do Amazonas. Essa estrutura centralizada é uma 
forma de comando das polícias como descreve Bayley (2002, p.67) visto que as 
ordens operacionais partem basicamente de um comando que é o governo do 
Estado, que repassa para a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), que 
repassa para as Polícias Civil e Militar, apesar de duas forças o comando é 
centralizado (Tabela 1). 
Tabela 01 ─ Densidade de Habitantes por área da 14ªCICOM 
 
DADOS DEMOGRÁFICOS NA ÁREA DE JURISTIÇÃO DA 14ªCICOM 
 
 
SETORES 
 
POPULAÇÃO 
RESIDENTE 
 
DOMICÍLIOS 
 
RESIDENTES 
POR 
DOMICÍLIO 
 
ÁREA (m²) 
 
14.1 
 
7.581 
 
2.015 
 
3,76 
 
548.400 
 
14.2 
 
16.038 
 
4.245 
 
3,78 
 
1.056,200 
 
14.3 
 
20.347 
 
5.224 
 
3,89 
 
1.506,600 
 
14.4 
 
13.993 
 
3.651 
 
3,83 
 
1.051,200 
 
14.5 
 
12.112 
 
3.162 
 
3,83 
 
748.800 
 
TOTAL 
 
70.071 
 
18.297 
 
3,83 
 
4.911,200 
Fonte: 14ªCICOM/PMAM 
Organização: CB PM- Santos, Alexandre de Oliveira. 2015. (2013) 
 
 
A área de policiamento da 14ªCICOM compreende um perímetro de 4,9 
milhões de metros quadrados (m²), ocupada por uma população de 70.071 setenta 
mil e setenta e uma, pessoas, com dezoito mil duzentos e noventa e sete 18.297 
32 
 
moradias, uma média de 3,83 pessoas por residência. Dividida em cinco setores de 
policiamento. 
O setor 14.1 compreende parte do Bairro Tancredo Neves, tem uma 
população de 7.581 (sete mil quinhentos e oitenta e uma) pessoas, que residem em 
2.015 (duas mil e quinze) residências uma média de 3,76 moradores por domicilio, 
em uma área de 548.400 m², (quinhentos e quarenta e oito mil e quatrocentos) 
metros quadrados, esse setor é o menor em extensão territorial. 
O setor 14.2 tem uma área de 1.556.200 m², (um milhão quinhentos e 
cinquenta e seis mil e duzentos) metros quadrados, é o segundo maior em extensão 
territorial, com 4.245 (quatro mil duzentos e quarenta e cinco) domicílios, com uma 
população de 16.038 (dezesseis mil e trinta e oito) pessoas, uma média de 3,78 por 
residência. Localiza-se no Bairro Tancredo Neves. 
O setor 14.3 tem uma população de vinte mil trezentos e quarenta e sete 
pessoas, ocupando uma área de 1.506,600 m² (um milhão quinhentos e seis mil e 
seiscentos metros quadrados), distribuído para 5.224 (cinco mil duzentos e vinte e 
quatro) residências, com uma média de 3,89 pessoas por habitação. É o maior em 
extensão territorial. Localiza-se nos Bairros Jorge Teixeira I e II. 
O setor 14.4 tem uma área territorial de 1.051,200 m² (um milhão cinquenta e 
um mil e duzentos) metros quadrados, com uma população de 13.993 (treze mil 
novecentos e noventa e três) pessoas, residindo em 3.651 (três mil seiscentos e 
cinquenta e uma) moradias, com média de 3,83 moradores por residências. É 
terceiro maior setor de policiamento da 14ªCICOM. Fica nos Bairros Nova Floresta e 
em um parte do Gilberto Mestrinho . 
O setor 14.5 é o segundo menor setor de policiamento com uma área 
territorial de 748.800 m² (setecentos e quarenta e oito mil e oitocentos) metros 
quadrados, habitado por 12.112 (doze mil cento e doze) pessoas, residindoem 
3.162 (três mil cento e sessenta e duas) pessoas, com média de 3,83 habitantes por 
moradia. Esse setor fica nos Bairros Nova Conquista e Comunidade São Lucas, 
Comunidade de Deus. 
 
33 
 
 3.2 O método empregado 
Os dados catalogados para este estudo correspondem ao período de janeiro 
a dezembro de 2014, pelo SISP/PMAM. Procurou-se, inicialmente, verificar a 
mortalidade por homicídios na área de policiamento da Décima Quarta Companhia 
Interativa Comunitária (14ªCICOM), na Zona Leste da cidade de Manaus. Deteve-se 
na análise das disputas interna e externa por territórios, realizadas membros de 
facções criminosas para uso de tráfico de drogas ilícitas do varejo, tendo o acerto de 
contas como vetor de crimes de homicídios na referida área. 
 Em seu livro Metodologia do Trabalho Científico, Severino (2007) aborda 
sobre tipos de pesquisa e se refere às fontes com quatro diretrizes: pesquisa 
bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa experimental e pesquisa de campo. A 
conceituação de Severino para pesquisa bibliográfica mostra a importância desta 
para o trabalho acadêmico: 
A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro 
disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, 
como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas 
já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os 
textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador 
trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos 
constantes dos textos. (2007, p.122) 
 
Outro autor que foi estudado para esta pesquisa foi Gil (2002), no que trata da 
abordagem teórico descritiva: 
Tem como objetivo primordial a descrição das características de 
determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de 
relações entre variáveis. São inúmeros os estudo que podem ser 
classificados sob este título e uma de suas características mais 
significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de 
dados, tais como o questionário e a observação sistemática. (2002, p.42). 
 
Este trabalho caracterizou-se também por ser exploratório porque é flexível no 
seu planejamento, e pela familiaridade do pesquisador com o material estudado 
gerando um conhecimento mais consistente. Quanto à natureza é aplicada, pois 
segundo Barros e Lehfeld (2000, p.78), pode “(...) contribuir para fins práticos, 
visando à solução mais ou menos imediata do problema encontrado na realidade”, 
por estar mostrando uma realidade local, pois já foram feitos estudos anteriores por 
pesquisadores da temática de estudo, que orientaram o campo. Os dados estão 
abordados de forma qualitativa tendo em vista que se buscou compreender as 
34 
 
causas e as contradições que possam estar presentes apenas nos dados 
estatísticos, o viés quantitativo da pesquisa. 
Quanto aos procedimentos foi documental e participante, coadunando com 
que Gil diz: 
A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A 
diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes: Enquanto a 
pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos 
diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-
se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que 
ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa 
(2002, p.45). 
 
Para Gil (2002, p.56), “A pesquisa participante, por sua vez, envolve a 
distinção entre ciência popular e ciência dominante. Esta última tende a ser vista 
como o próprio conhecimento derivado do senso comum, que permitiu ao homem 
criar, trabalhar e interpretar a realidade, sobretudo a partir dos recursos que a 
natureza lhe oferece.” O fato de o pesquisador ser um policial lotado nessa 
Companhia de Policia Militar, que é responsável pelo policiamento da área 
compreendida, a pesquisa é eminentemente participativa. 
Quanto aos procedimentos, foi realizado uma pesquisa documental, pois se 
fundamentou em dados secundários que foram disponibilizados pela Polícia Militar 
do Amazonas (PMAM), através de dados catalogados pelo Sistema Integrado de 
Segurança Pública (SISP) - Décima Quarta Companhia Interativa Comunitária 
(14ºCICOM). Construção de mapas da área de estudo, levantamento de campo visto 
que o autor e pesquisador participante. 
Tendo como objetivo de estudo uma temática contemporânea inserta nos 
estudos que fazem a relação entre Geografia e Violência Urbana (RODRIGUES, 
2002 p. 77), destacou-se, nesse campo de estudo, tanto a literatura técnica e 
teórica, quanto as legislação e normas nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal. O 
tema motiva intensos debates, cujas implicações se acentuam conforme o avanço 
de crimes contra a pessoa na disputa por território para o uso de venda de drogas 
ilícitas do varejo por facções criminosas. Esse é, segundo órgãos governamentais, 
um dos principais agentes da violência urbana na atualidade no Brasil. 
35 
 
Este trabalho teve o amparo legal das normas da Associação Brasileira de 
Normas Técnicas (ABNT) que foram utilizadas são: resumo; citações; referências; e 
apresentação de trabalhos acadêmicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 
A área de policiamento da 14ªCICOM abrange bairros de terrenos 
acidentados, áreas não propícias para construções, mas acabam sendo habitados 
por moradores de baixa renda, em parte trabalhadores do Pólo Industrial de Manaus 
(PIM), outros da construção civil. Muitas mulheres trabalham como empregadas 
domésticas, mão de obra barata pela falta de instrução. 
Essa população oriunda de cidades pequenas do interior do estado do 
Amazonas, muitos vindos de municípios do Pará, que chegam a capital amazonense 
em busca de uma qualidade de vida melhor, pois a que levavam em sua terra natal 
não era tão favorável. 
 Essa área da zona leste, assim como a maioria dos bairros que tiveram sua 
fundação através de ocupações irregulares na cidade, possui má infraestrutura, têm 
deficiência no transporte público. Nessas localidades é preciso sair muito cedo de 
suas residências para pegar o coletivo e ir os seus trabalhos devido ao 
engarrafamento das principais vias, e a volta devido ao trânsito com grande 
engarrafamento devido a falta de infraestrutura viária da cidade. Com ruas cheias de 
carros motivados pelo péssimo serviço prestado pelas empresas de transporte 
coletivo urbano da cidade. Faz com que essas pessoas cheguem nas suas 
residências no período da noite, o que contribui para falta da relação pai filho e 
escola. 
Souza (2008, p.187) afirma que “O capitalismo - na qualidade de modo de 
produção e, mais amplamente, de modelo social que existe embebido em um 
imaginário específico - é “criminógeno”, ou seja, “produz” criminalidade, em diversos 
sentidos.” Como pode se observar essa criminalidade vai desde o estresse do 
trabalhador e o modo de relação que ele passa a ter com sua família, até a escolha 
por um de seus filhos a entrar no mundo do crime, isso demonstra que o combate a 
criminalidade é complexo. 
Durante a realização da pesquisa, dado ao caráter participante decorrente do 
exercício do trabalho como policial pôde-se observar que os trabalhadores saem no 
amanhecer do dia, para os seus trabalhos e voltam à noite para as suas casas. 
37 
 
 Nesse contexto, um caso acompanhado se destacou, merecendo atenção: 
uma senhora durante uma ocorrência, em que seu filho foi apreendido com uma 
mochila carregando 150 (cento e cinquenta) “trouxinhas de pasta base de cocaína”, 
mais 80 (oitenta) de “pó de cocaína”, 85 (oitenta e cinco) de “maconha”. 
Ao ter sido preso, o adolescente de quinze 15 anos, afirmou ter recebido 
R$100,00 (cem reais) para transportar drogas, sob a ameaça de que se não o 
fizesse ele seria morto, ou algum de seus familiares. Essa porção de drogas estava 
avaliada em R$4.650,00(quatro mil seiscentos e cinquenta reais), uma “trouxinha de 
pó de cocaína” é vendida a R$20,00 (vinte reais) e a pasta base de cocaína e 
maconha é vendida a R$10,00 (dez reais). 
Quando a mãe, uma senhora de 46 anos, foi avisada ela estava dentro do 
ônibus voltando do trabalho, o que fez mudar a sua rota, pois o adolescente foi 
encaminhado para a Delegacia Especializada em Atos Infracionais (DEAI), 
localizada no Bairro da Alvorada, zona oeste da cidade. 
Quando a senhora chegou à delegacia e encontrou o filho, foi falando: “Óh 
Junior, meu filho! Eu saio de casa às quatro e trinta da manhã, chego em casa só às 
sete horas da noite, trabalho o dia todo pra te dar o que vestir, o que comer e você 
me apunha-la pelas costas com essa merda de droga”. 
Ele ficou detido na delegacia por quarenta e cinco dias, pois devido à 
quantidade de drogas e dinheiro que ele detinha no momento da prisão, a delegada 
entendeu que ele estava traficando. Após esse período ele foi liberado por ser 
menor de idade. Um mês após ele ter sido solto, foi apreendido novamente por outra 
equipe de policiais da 14ªCICOM, com um quilo de drogas em uma motocicleta 
roubada. 
Seis meses depois de ele ter sido solto pela segunda vez, ele foi assassinado 
nas proximidades da Rua Laço do Amor, com cinco tiros, a mando do gerente da 
“boca de fumo” dessa rua, por suspeita de que ele estava tramando para matá-lo e 
tomar a “boca de fumo”. 
Essa disputa por território entre membros de facções criminosas rivais e entre 
eles mesmos, como no caso do adolescente de quinze anos, é um dos principais 
38 
 
vetores de homicídios dolosos em Manaus, e a área de policiamento da 14ª CICOM 
não é exceção. O tráfico de drogas ilícitas gera uma luta bem complexa com muitas 
conspirações e tramas na conquista do território. 
4.1 Dinâmicas do Trafico de Drogas Ilícitas no varejo na área de 
policiamento da 14ªCCICOM 
No Brasil nos seus 26 Estados e no Distrito Federal existem esses grupos 
criminosos e o mais conhecido até por alta divulgação da mídia nacional é o 
Primeiro Comando da Capital (PCC) que iniciou no Estado de São Paulo e hoje tem 
ramificações por todo o país. 
No Amazonas, a facção criminosa conhecida e também vendida pela mídia 
local é a autodenominada Família do Norte (FDN) que é comandada por um 
narcotraficante2 conhecido como “Zé Roberto da Compensa”. Essa facção é tida, 
pelas forças de segurança como a mais violenta da região norte. 
Nos últimos anos virou rotina de capas de jornais e portais de notícias no 
Amazonas, manchetes como a publicada no dia 20 de abril de 2014, no portal do 
Jornal Acrítica, que traz a seguinte manchete: Polícia prende quinteto do PCC autor 
de triplo homicídio contra integrantes da FDN. Três homens foram mortos na rua 
Laço do Amor, Jorge Teixeira 4, zona leste de Manaus. A polícia prendeu cinco 
suspeitos do assassinato e acredita em richa por ‘bocas de fumo’ entre facções 
criminosas. 
Essa matéria assinada pelo repórter Vinicius Leal, tem uma chamada na 
manchete e quando se lê a notícia percebe-se que são os integrantes da facção 
criminosa “Família do Norte” (FDN) quem tomam o território dos integrantes do 
“Primeiro Comando da Capital” (PCC) para o uso do tráfico de drogas ilícitas no 
varejo. Souza (2008 p.29) afirma que a imprensa é a grande fomentadora da 
“economia da violência” e aos “mercados da violência” onde a violência é usada 
para se ter lucro. 
Como toda organização, as facções criminosas funcionam com hierarquia, em 
forma de pirâmide. Com um conselho, onde cada conselheiro tem sua própria 
 
2
 Para os fins desta monografia, os nomes foram substituídos por pseudônimos. 
39 
 
pirâmide, que é formada pelo gerente, chefe da “boca", boqueiro, segurança ou 
“soldado”, aviãozinho ou “vendedor”, olheiro ou “vigia da ‘boca de fumo’” que avisa 
quando a polícia está chegando”. Cada conselheiro comanda uma área específica 
da cidade. 
Uma facção comanda um território da cidade, os traficantes varejistas dessa 
área só podem vender entorpecentes fornecidos por essa facção e, se o boqueiro 
pegar de outro fornecedor, ele tem que pedir autorização do chefe da “boca” que 
pode autorizar ou não a venda. Quando é concedida, o lucro deve ser dividido meio 
a meio. 
A droga é vendida à vista. Às vezes eles entregam para alguns viciados 
pagarem depois com serviços, que vão desde furtos ou até para mesmo servir de 
informante pra levantar o movimento das outras “bocas de fumo”, como são 
conhecidos os pontos de vendas de drogas no varejo. 
A utilização dos territórios na área urbana de Manaus, como ponto de venda 
de drogas ilícitas no varejo tem um histórico de locais de difícil acesso para a polícia, 
com excelente rota de fuga numa eventual entrada, com operações por parte da 
polícia ou numa possível tentativa de facções rivais tentarem tomar o ponto. 
A dinâmica do tráfico de drogas no varejo em Manaus no seu começo (1980) 
era mais descentralizada, pois em cada parte da cidade existia um explorador que 
estava mais ligado ao tráfego de família. Seus integrantes eram primos, sobrinhos, 
irmãos, sem uma “divisão interna do trabalho” pois todos tinham funções múltiplas, 
sem obedecer uma hierarquia rígida além da obediência ao chefe, que geralmente 
era o próprio chefe da família nuclear. 
O consumo era pequeno, como explica o delegado da Polícia Civil do 
Amazonas Divanilson Cavalcanti, em entrevista ao portal do Jornal ACrítica de 
notícias (27,maio,2014): durante a década de 1990 a 2000 o tráfico de drogas no 
Bairro Praça 14 de Janeiro, era comandado por Luís Alberto Coelho, o “Bebeto da 
14” e, na década de 1980, na Panair, pela “Mariona”, que usavam membros das 
suas famílias como mão de obra para o tráfico de entorpecentes. 
40 
 
O “tráfico de drogas familiar”, como era conhecido, impera até o ano 2000 
quando os presos considerados de alta periculosidade do Amazonas são 
transferidos para presídios de segurança máxima federal, onde tiveram contato com 
membros das facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando 
Vermelho (CV) e se especializaram no mundo do crime. 
Por isso a Família do Norte (FDN) tem ligações com o CV do Rio de Janeiro, 
comando pelo narcotraficante Luís Fernando da Costa, o “Fernandinho Beira-Mar”. 
Antes de se chamar FDN a facção até o ano de 2009 era conhecida como Primeiro 
Comando do Norte (PCN). 
Segundo o delegado da Polícia Civil do Amazonas Divanilson Cavalcanti em 
entrevista ao (Portal Acrítica, 2014) os presos do Amazonas que ficaram no presídio 
de Campo Grande (MT) receberam instruções de “Fernandinho Beira-Mar” de como 
fazer frente à polícia e aos grupos rivais. Após a especialização no mundo do crime 
em presídio federal os traficantes se juntaram para formar o PCN e suas primeiras 
ações foram comprar armas de grosso calibre. 
Em Manaus, a partir do ano de 2008 começou uma disputa entre a FDN e 
PCC na cidade onde várias pessoas foram mortas e “desovadas” abandonadas na 
área do bairro Tarumã, zona oeste da cidade. Até o momento, a FDN é a maior 
facção criminosa no estado. Manaus é uma cidade dividida pelo crime organizado, 
mas as disputa pelo território continua. 
“Dos 722 homicídios que aconteceram em Manaus no ano de 2013, segundo 
afirma a delegada adjunta da Delegacia de Homicídios e Sequestro (DEHS), Débora 
Mafra, mais de 90% estão ligados ao tráfico de entorpecentes na cidade” (Portal 
ACrítica, 2014). Nesses casos, as mortes violentas é resultado da disputa interna e 
externa do território, e acerto de contas, onde o indivíduo é morto por estar devendo 
na “boca de fumo” ou não quis fazer negócios com a facção que comanda o 
território. 
 
 
41 
 
 4.2 Divisão do território para o uso do trafico de drogas ilícitas na área de 
policiamento da 14ªCICOM 
O território em rede, como propôs Souza (2000, p.95) tem dois sistemas.O 
primeiro é “território contínuo”. Nesse sistema a facção criminosa domina todo um 
território “área de influência (mercado consumidor) em disputa.” O segundo é o 
“território descontínuo” onde existe uma disputa pelo território para o uso do tráfico 
de drogas ilícitas do varejo pelas facções criminosas e grupos independentes. 
No entanto, neste trabalho assume-se que na realidade de Manaus inexistem 
grupos independentes, pois, todos narcotraficantes sempre estão ligados a uma 
facção criminosa organizada. Partindo desse ponto de vista, no mundo do tráfico de 
drogas não existe traficante varejista independente, pois ele compra a droga dessas 
organizações criminosas. 
Na área de policiamento da 14ªCICOM, podemos observar os dois processos 
“território descontínuo” e “território contínuo”, mas que a partir de abril de 2014 
depois de várias disputas entre as facções criminosas “Família do Norte” (FDN) e 
“Primeiro Comando da Capital” (PCC) essa área torna-se “território contínuo” devido 
aos integrantes do PCC que comandavam a área serem presos pela polícia. E após 
o assassinato do chefe da ‘boca’, foi assumida por integrantes da FDN. 
A disputa do território entre a FDN e PCC na área de policiamento da 
14ªCICOM se caracteriza pela disputa pelo domínio da rua Laço do Amor e seu 
entorno e a rua Samambaia, ambos no bairro Jorge Teixeira primeira etapa, que 
dentro do perímetro de policiamento da Companhia, fica dentro do setor 3. 
A primeira rua, Laço de Amor, era comanda pelo PCC e a segunda – 
Samambaia, pela FDN. E por causa dessa disputa muitas vidas foram ceifadas 
principalmente de jovens, como a que aconteceu no dia 18 de abril de 2014 quando 
três jovens de idades entre 17 a 24 anos foram assassinados. 
Esse acontecimento marca a passagem de “território descontínuo” para 
“território contínuo” como propôs Souza (2000), área de policiamento da 14ªCICOM 
passa a ser dominada pela FND, que após os homicídios de três integrantes do PCC 
na rua Laço do Amor toma o último território que lhe faltava. 
42 
 
Para entendermos como estava dividido o território para o uso do tráfico de 
drogas que mostra como as facções criminosas são organizadas, ver figura (02). 
43 
 
Figura 2 ─ Imagem dos territórios em disputa para o tráfico de drogas 
44 
 
Dentro que cada setor existe um gerente responsável pelas “bocas de fumo” 
(local onde vende droga ilícitas no varejo), no setor 14.1, o indivíduo conhecido 
como Todinho é responsável por esse território, recebe e distribui drogas nas “bocas 
de fumo” dessa parte. Ele é tido como “violento e sanguinário” , como relata um 
morador do local. E já foi preso várias vezes pela polícia por envolvimento com o 
tráfico de drogas, e é acusado de mandar matar seus desafetos e concorrentes. 
Os setor 3, parte do setor 4 e parte do setor 2, como visto na Figura 02, são 
gerenciados pelo “Vela”. Começou com o “Belo”, mas após a sua morte, o “Vela” 
assumiu o comando da “boca de Fumo”. Ele é muito difícil de ser visto na rua, e 
quando ele saia, geralmente está com seus seguranças, e tem sempre um olheiro 
(vigia que avisa quando a polícia ou integrantes de facções rivais estão chegando). 
Os setores 5 e parte do 2 são gerenciados pelo “Gerry”, que já foi preso pelos 
policias militares do Batalhão de Força Tática, que é uma tropa especializada da 
Polícia Militar no policiamento ostensivo. Ele é considerado como violento, por matar 
e mandar matar os devedores e os seus desafetos, “Gerry” também pouco é visto na 
rua e quando ele sai é seguido de um discreto, mas grande esquema bem montado 
de segurança. Ele fica mais nas “bocas de fumo” próximo a Rip e Rap, fronteira dos 
bairros Tancredo Neves com o São José. Segundo os viciados, preferem comprar 
drogas do “Gerry” por considerarem de boa qualidade. Isso porque muitas vezes 
são vendidas substâncias que não são entorpecentes, as mais comuns são pílulas 
de Dorflex, e toda substância que contenha cafeína, fermento em pó, cal, entre 
outros. 
O conselheiro da FDN que distribui e comanda o tráfico de droga do varejo na 
zona leste de Manaus, era o João Pinto Carioca, conhecido como “João Branco” até 
a morte do delegado de polícia civil Oscar Cardoso Filho, ocorrida no dia 9 de março 
de 2014, atingido com mais de vinte tiros. 
Segundo a Polícia Civil do Amazonas, esse crime foi motivado por vingança 
porque segundo se apurou a equipe chefiada por esse policial tinha estuprado e 
sequestrado a mulher do traficante “João Branco” e levado R$50 mil dela, motivo 
pelo qual o delegado e toda sua equipe em outubro de 2013 tenha sido presa pela 
Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência (SEAI) da SSP. 
45 
 
João Branco teve a sua base no bairro Mauazinho, zona leste de Manaus. A 
Geografia acidentada do lugar, o apoio de alguns moradores do local que contavam 
com uma ajuda assistencialista por parte do traficante, como: pagamento da conta 
de Luz, gás, remédios, entre outros. E o difícil acesso e a falta de viatura e efetivo da 
Polícia Militar na época para fazer o policiamento contribuíram para que “João 
Branco” imperasse no local. Ele é o segundo na cadeia de comando da FDN depois 
do José Roberto Fernandes o “Zé Roberto da Compensa” que é o líder da facção 
criminosa FDN no Amazonas. 
Visto como sanguinário, “João Branco” é acusado de mais de vinte homicídios 
segundo a Polícia Civil do Amazonas (PCAM). Em suas ações contra grupos rivais 
ele sempre buscava pessoalmente tomar as “bocas de fumos”. Uma de suas 
marcas, era disparar muitos tiros para mostrar o seu poder de fogo, mas após a 
morte do delegado Oscar Filho, “João Branco” fugiu e deixou no seu lugar Bruno 
Henrique Assis Bezerra, o “Parazinho”, que está preso e comanda o tráfico de 
dentro da prisão. Para a PCAM “João Branco” está em países vizinhos como a 
Venezuela, Colômbia ou Peru lugares de onde ele comprava drogas e armas. 
O tráfico de drogas é um comércio muito lucrativo para os seus agentes, pois 
segundo a PCAM “João Branco” fazia movimentações de milhões de reais por mês. 
Segundo um gerente de “boca de fumo”, um quilograma de droga como a pasta 
base de cocaína em Manaus não se compra por menos de R$20 mil, e que antes 
era mais barato, mas depois que a Polícia Federal do Brasil (PFB) montou a 
Operação Sentinela na Fronteira principalmente nos municípios de Tabatinga e 
Santo Antônio do Içá no Alto Rio Solimões, ficou muito complicado o transporte de 
droga ilícitas vindas de países como Colômbia e Peru. Isso vem deixando o produto 
mais caro no mercado. 
A FDN também vende drogas produzidas em laboratórios (drogas sintéticas), 
como o Ecstasy e o LSD. Essas drogas são trocadas por cocaína ou pasta base de 
cocaína com traficantes de outros países, que formam uma rede internacional de 
tráfico de drogas ilícitas. Para o Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e 
Crimes (UNODC, 2014) o crime organizado é um grande vetor de desequilíbrio na 
segurança pública e uma barreira pra o desenvolvimento econômico e social das 
46 
 
sociedades pelo mundo, não importando a natureza desses eventos que vão desde 
o tráfico de drogas ilícitas ao trafico de pessoas. 
4.3 Os Números de crimes de Homicídios na área da 14ªCICOM-2014 
As análises foram realizadas com os registros de janeiro de 2014 à dezembro 
de 2014, fornecidas pelo Sistema Integrado de Segurança Pública (SISP)3. 
Dos 779 homicídios no ano de 2014 na cidade de Manaus, 51 aconteceram 
na área de policiamento da 14ªCICOM. Desses homicídios um foi motivado por 
latrocínio (roubo seguido de morte), os demais são homicídios dolosos (quando há 
intenção de matar uma pessoa), oriundos das disputas por territórios por facções 
criminosas do tráfico de drogas ilícitas do varejo. Para entendermos a dinâmica da 
densidade dos homicídios no lapso temporal supramencionado, foram 
confeccionados mapas de densidade dos locais do ano e posteriormente foram 
calculadas

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