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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ESCOLA NORMAL SUPERIOR CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA HOMICÍDIOS E DISPUTAS POR TERRITÓRIO NA ÁREA DE POLICIAMENTO DA DÉCIMA QUARTA COMPANHIA INTERATIVA COMUNITÁRIA (14ªCICOM) - MANAUS REGINALDO GOMES DE FRANÇA MANAUS 2015 1 REGINALDO GOMES DE FRANÇA HOMICÍDIOS E DISPUTAS POR TERRITÓRIO NA ÁREA DE POLICIAMENTO DA DÉCIMA QUARTA COMPANHIA INTERATIVA COMUNITÁRIA (14ªCICOM) - MANAUS Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade do Estado do Amazonas para a obtenção do título de Licenciado em geografia. Orientadora: Ana Paulina Aguiar Soares MANAUS 2015 2 REGINALDO GOMES DE FRANÇA Homicídios e disputas por território na área de policiamento da décima quarta companhia interativa comunitária (14ªcicom) - Manaus Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade do Estado do Amazonas para a obtenção do título de licenciado em Geografia. BANCA EXAMINADORA Presidente: Profª. Drª. Ana Paulina Aguiar Soares 1º avaliador: Prof. Dr. Ricardo José Batista Nogueira _______________________________________________________________ 2º avaliador: Prof. Dr. Isaque dos Santos Sousa Manaus, 16 de dezembro de 2015. 3 Dedico este a todas as pessoas que acreditaram no meu sucesso, em especial ao meu pai Geraldo Rodrigues de França, minha mãe Senhorinha Gomes de Amorim e minha tia Narzira Mar do Nascimento. 4 AGRADECIMENTOS Ao senhor Deus, agradeço por todas as bênçãos e dádivas em minha vida, pela graça que alcancei em passar na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), pelas oportunidades concedidas durante este período de estudo, por conceder-me saúde, força e capacidade para vencer as dificuldades que surgiram nestes anos. Aos meus pais, Senhorinha Gomes de Amorim e Geraldo Rodrigues de França, pela educação fornecida por eles, pela confiança, pelos incentivos, por todos os ensinamentos de vida e apoio incondicional. Especialmente a tia Narzira Mar do Nascimento, que é meu orgulho, exemplo profissional, pela paciência, pois nas horas difíceis e improváveis esteve ao meu lado, por mais distante que estivesse. Agradeço por ser minha mãe muitas vezes, orientando sempre que necessário. A minha orientadora Dr. Ana Paulina Aguiar Soares, a quem eu tenho muito orgulho e honra de tê-la como a minha grande mestra, pelo exemplo de profissional brilhante e dedicada que és. Todas as palavras de agradecimentos serão poucas para agradecê-la, o meu muito obrigado professora. A professora MSc. Marcela Vieira Pereira Mafra, pela coragem, paciência, confiança, dedicação ao ensino, por me dar suporte e direções necessárias para o desenvolvimento do meu relatório de estágio, suas opiniões foram importantíssimas e sua ajuda foi fundamental para engrandecer o meu conhecimento. Ao professor Dr. Isaque dos Santos Sousa, por me apresentar o livro Fobópole: O medo generalizado e a militarização da questão urbana. Do geógrafo Marcelo José Lopes de Souza, o que fez eu como acadêmico de Geografia e agente de segurança pública do estado do Amazonas me aprofundar no assunto e que fortaleceu a ideia desse trabalho. A Jessica Sousa de Oliveira, pelos incentivos, pelo carinho e ajuda nas correções dos meus trabalhos acadêmicos. 5 A Keitty Hellen Oliveira dos Santos, pela ajuda e amizade, pelas conversas, pelo exemplo de profissional dedicada que é. A Amélia Moura de Sousa, pela ajuda e experiência de vida como professora da rede pública de ensino. Ao meu comandante, Tenente Coronel da Policia Militar do Amazonas, Hermes Silva de Macedo, pela convivência, incentivo incondicional, pela descontração com suas brincadeiras e carinho, apoio nas horas difíceis, palavras de consolo, exemplo de dedicação nos estudos e compromissos com trabalho, por ter me protegido toda vez que alguém tentou complicar a minha caminhada acadêmica. Ao meu comandante imediato, Capitão da Policia Militar do Amazonas, Daniel da Silva Segadilha, comandante da 14ªCICOM, pelo apoio e por ter entendido que o conhecimento liberta e transformará bons profissionais em melhores, a toda equipe da 14ª CICOM em especial a equipe administrativa. A Polícia Militar do Amazonas, a qual eu tenho orgulho de fazer parte do seu quadro de profissionais desde 2008, por ter fornecidos todos os dados necessários para construção deste estudo. Ao Tenente da Polícia Militar do Amazonas Manuel dos Santos Oliveira, do CICC pelas orientações em relação à dinâmica da segurança pública no Amazonas. Ao Tenente da Polícia Militar do Amazonas Mario Artur Lopes de Oliveira pela confecção de mapas e orientações. Ao Tenente da Polícia Militar do Amazonas Eduardo Pereira da Silva, pelas orientações e confecção de mapas. Aos camaradas de aula e estudos, Rafael Henrique dos Santos, Acácio Justino Frota, Raquel de Souza Santana, Emanuel Cruz Butel e Ítalo Roberto Oliveira da Silva, pela contribuição em meu aprendizado, ajuda mútua concedida, incentivos que foram fundamentais para meu crescimento e apoio em momentos da vida. Ao Cabo da Polícia Militar do Amazonas Alexandre de Oliveira Santo, pelo apoio. 6 A todos os meus professores de todas as fazes de minha vida, que contribuíram no meu aprendizado, pelos conhecimentos transmitidos, e incentivos para chegar ao ensino superior, e na caminhada pela busca do saber. Aos mestres e doutores que deixaram seus ensinamentos e marcaram minha trajetória até aqui. 7 Não podemos ser livres ou felizes até que estejamos a salvo e seguros – a salvo da violência alheia e seguros de nossa capacidade de lidar de forma não violenta com nossos relacionamentos. Alan Page Fiske (Época, 2015) 8 RESUMO O crescente índice nos números de mortes por causas externas violentas (homicídios), desde a década de 1980, quando o país começou a fazer contagem dos óbitos, foi registrado no primeiro ano 13.910 homicídios, e no ano de 2011 registrou 52.198 homicídios, um aumento de 275,3% do primeiro ano de contagem para 2011. O aumento de vítimas desse fenômeno se transformou no principal assunto em discussão dos meios de informações do país, e das famílias que na mesa do café da manhã é o assunto em debate, a busca da sociedade em ter uma explicação do fenômeno violência urbana. Fez a temática violência urbana nos últimos 30 (trintas) anos no Brasil, receber um aporte bastante interessante por parte das academias de ciências no país, essa preocupação, por parte de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento científico em dar uma resposta a sociedade, resultou em muitas publicações de estudos sobre a temática segurança pública. Este estudo tem por objetivo geral geografizar a disputa interna e externa de território por facções criminosas, a venda de drogas no varejo, e os homicídios com uso de arma de fogo na área da Décima Quarta Companhia de Polícia Comunitária (14ºCICOM). Desse modo buscamos: identificar os pontos no território que geram as disputas internas e externas pelas “facções criminosas” do ramo varejista da venda de drogas ilícitas, na área da 14ºCICOM; e analisar a dinâmica do tráfico de drogas e as ações que geram crimes de homicídios na área de estudo. Dos 779 homicídios que foram registrados na cidade de Manaus no ano de 2014, 51 aconteceram na área da 14ªCICOM. O presente estudo mostra que os crimes de homicídios na área de policiamento da 14ªCICOM, estão relacionados à disputa interna e externa por membrosde facções criminosas do ramo do tráfico de drogas ilícitas do varejo, e ao acerto de contas. PALAVRAS CHAVES: Facção Criminosa. Crime de Homicídio. Violência Urbana. Territorialidade em Rede. 9 ABSTRACT The increasing rate of deaths from violent causes (homicide), since the 1980s, when the country started to count deaths, was recorded in the first year 13,910 homicides, and in 2011 recorded 52,198 homicides, an increase of 275.3% from the first year to for 2011. The increase of victims of this phenomenon became the main topic of discussion on the country's information media and families had been debate the subject, trying to understand the urban violence. The urban violence theme, in the last 30 years in Brazil, has received a very interesting contribution from the academies of science in the country, this is a concern from part of researchers of several fields of scientific knowledge to give an answer to society, resulted in many publications about Public Safety. This study has the objective of mapping internal and external territory dispute by criminal gangs, drug sales in retail, and homicides with firearm use in the area of the Fourteenth Community Police Company (14ºCICOM). Thus we seek to: identify the points in the territory which generate internal and external disputes by "gangs", retail the sale of illicit drugs in the area of 14ºCICOM; and analyze the dynamics of drug traffic and the actions that generates homicides in the studied area. From the 779 homicides that were recorded in the city of Manaus in 2014, 51 occurred in the area of 14ªCICOM. This study shows that homicide in the 14ªCICOM area are related to internal and external competition of members from gangs and illicit drugs traffic, retail industry, and the reckoning. KEYWORDS: Criminal Faction. Crime of murder. Urban violence. Territoriality Network. 10 LISTAS DE FIGURAS FIGURA 1 ─ IMAGEM DE DELIMITAÇÃO DOS SETORES DA ÁREA DE POLICIAMENTO DA 14ªCICOM ............................................................................... 29 FIGURA 2 ─ IMAGEM DOS TERRITÓRIOS EM DISPUTA PARA O TRÁFICO DE DROGAS ................................................................................................................... 43 FIGURA 3 ─ MAPAS DE KERNEL USADOS PARA MEDIR CVLI DE 2012/2015 ... 50 FIGURA 4 ─ IMAGEM DA ÁREA DA 14ªCICOM DENTRO DA ÁREA DO CPA- LESTE ....................................................................................................................... 52 FIGURA 5 ─ IMAGEM DE REPRESENTAÇÃO DOS HOMICÍDIOS POR SUBÁREAS DA 14ªCICOM-2014 .................................................................................................. 54 FIGURA 6 – IMAGEM DOS PRINCIPAIS TERRITÓRIOS EM DISPUTA DO SETOR 3 PELA FDN E PCC .................................................................................................. 57 FIGURA 7 – IMAGEM DAS RUAS ONDE FICAVA AS BASES DA FDN E PCC NO SETOR 3 ................................................................................................................... 59 11 LISTA DE TABELAS TABELA 1 ─ DENSIDADE DE HABITANTES POR ÁREA DA 14ªCICOM ............... 31 TABELA 2 ─ NÚMERO DE VÍTIMAS DE HOMICÍDIOS POR FAIXA ETÁRIA- MANAUS-2014 .......................................................................................................... 47 TABELA 3 ─ INCIDÊNCIA DE HOMICÍDIOS EM MANAUS, 2014 ........................... 48 TABELA 4 ─ LOGRADOUROS NA ZL COM MAIOR NÚMERO DE HOMICÍDIOS- 2014 .......................................................................................................................... 50 12 LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS 14ªCICOM - Companhia Interativa Comunitária 14ºDIP - Distrito Integrado de Polícia ASPB - Anuário de Segurança Pública do Brasil BOPE - Batalhão de Operações Especiais CECOPOM - Centro de Comunicações e Operações Policiais Militares COMPAJ - Complexo Penitenciário Anísio Jobim CPA-LESTE - Comando de Policiamento da área Leste CPM - Comando Policiamento Metropolitano CVLI - Crimes Violentos Letais Intencionais DEAAI - Delegacia Especializada em Apuração de Atos Infracionais DHS - Delegacia de Polícia Civil de Homicídios e Sequestros FDN - Família do Norte GPS - Global Positioning System IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INPAD - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas MS - Ministério da Saúde OMS - Organização Mundial de Saúde ONU - Organização das nações unidas PCAM - Polícia Civil do Amazonas PCC - Primeiro Comando da Capital PFB - Polícia Federal do Brasil PIM - Polo Industrial de Manaus PMAM - Polícia Militar do Amazonas SEAI - Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência 13 SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade SISP - Sistema Integrado de Segurança Pública SSP-AM - Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas SUS - Sistema Único de Saúde UFAM - Universidade Federal do Amazonas UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime ZCO - Zona Centro-Oeste ZL - Zona Leste ZN - Zona Norte 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 18 3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 27 3.1 Recorte espacial --------------------------------------------------------------------------- 28 3.2 O método empregado -------------------------------------------------------------------- 33 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 36 4.1 Dinâmicas do Trafico de Drogas Ilícitas no varejo na área de policiamento da 14ªCCICOM ---------------------------------------------------------------- 38 4.2 Divisão do território para o uso do trafico de drogas ilícitas na área de policiamento da 14ªCICOM ------------------------------------------------------------------ 41 4.3 Os Números de crimes de Homicídios na área da 14ªCICOM-2014 -------- 46 4.3.1 O comportamento dos homicídios segundo bairros e Zonas administrativas de Manaus ....................................................................... 47 4.3.2 – Homicídios segundo os logradouros na Zona Leste de Manaus .. 50 4.3.3 Os principais territórios em disputas na área de policiamento da 14ªCICOM ................................................................................................ 52 Setor 1 --------------------------------------------------------------------------------------------- 55 Setor 2 --------------------------------------------------------------------------------------------- 55 Setor 3 --------------------------------------------------------------------------------------------- 57 Setor 4 --------------------------------------------------------------------------------------------- 60 Setor 5 --------------------------------------------------------------------------------------------- 61 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 63 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65 15 1 INTRODUÇÃO Este estudo tem por finalidade demonstrar a disputa interna e externa por território por facções criminosas do ramo do tráfico de drogas ilícitas do varejo, os acertos de contas, com o aumento no número de homicídios na área policiada pela Décima Quarta CompanhiaInterativa Comunitária subordinada a Polícia Militar do Amazonas (PMAM), na Zona Leste da Cidade de Manaus, no período que corresponde de janeiro a dezembro de 2014. Tendo em vista esta área ser, como uma das mais problemáticas quando o assunto é segurança pública e pelos seus altos índices de homicídios na cidade de Manaus. A zona leste da cidade de Manaus, sempre foi vista como sinônimo de área muito violenta, e o bairro Jorge Teixeira tido como o mais perigoso dessa zona, onde a sensação de segurança é quase zero, tanto que o bairro é conhecido popularmente como Jorge Texas, fazendo uma alusão ao estado do Texas nos Estados Unidos da América, dos filmes de Far West. O tema violência urbana se tornou o grande produto do mercado do medo onde muitos acabam lucrando. Uma das grandes fomentadoras desse sistema é a imprensa como um todo, que acaba transformando uma área da cidade como um espaço violento no imaginário da população. Em Manaus, esse marketing negativo de uma determinada área da cidade tem afetado de maneira a causar preconceitos com os moradores desses locais. Um desses casos é o que vem acontecendo com os moradores da Zona Leste, de forma determinista que essas pessoas são violentas e perigosas. Este estudo tem por objetivo geral geografizar a disputa interna e externa de território por facções criminosas, a venda de drogas no varejo, e os homicídios com uso de arma de fogo na área da Décima Quarta Companhia Interativa Comunitária (14ºCICOM). Os objetivos específicos são: identificar os pontos no território que geram as disputas pelas “facções criminosas” do ramo varejista da venda de drogas ilícitas, na área da 14ºCICOM e analisar a dinâmica do tráfico de drogas e as ações que geram crimes de homicídios na área de estudo. 16 O recorte espacial foi no perímetro urbano da cidade de Manaus, na Zona Leste da cidade, que segundo dados estatísticos do Sistema Integrado Segurança Pública (SISP) disponibilizados para estudo pela Polícia Militar do Amazonas (PMAM) é a segunda zona da cidade onde, em 2014, mais foram registradas mortes por causas externas violentas, isto é, motivadas por violência - a maior parte com uso de arma de fogo. No capítulo referencial teórico o estudo expõe os crimes de homicídios saindo do nível global para o municipal, mostrando como esse crime está com números altos, com os estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS), Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz através do estudo do Mapa da Violência, respectivamente em nível internacional e em nível nacional. Na literatura sobre violência urbana, faz-se referências aos seguintes estudiosos da temática: Souza (2008) com “Fobópole” o medo nas cidades, Souza (2000) o território como relação de poder, Cano e Santos (2007) a pobreza e desigualdade no Brasil contribui para os crimes de homicídios, Spósito (1994) a complexidade do tema violência urbana, Queiroz (2002) a violência como problema urbano e o saber geográfico, Diógenes (1998) a transformação social que a violência faz nos indivíduos. Para conceituar o que é violência e crime entende-se o que afirma Houaiss (2001) a epistemologia das palavras violência e crime, e a tipificação de homicídio em Brasil (1940) crime de homicídio no Código Penal. O estudo faz referência metodológica ao território a partir do que propôs o geógrafo Marcelo José Lopes de Souza em seu artigo “O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento” publicado no livro “Geografia: Conceitos e Temas” onde ele afirma que o território é um “espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder”, e muda com o tempo, não importando se é uma rua ou um bloco de países em busca de um ideal comum. A “territorialidade em rede” tratando os territórios de ponto de venda de droga do varejo “bocas de fumo”, pelas facções criminosas do ramo do tráfico de drogas ilícitas como palco de disputa pelas facções criminosas. Do seu livro “FOBÓPOLE: O medo generalizado e a militarização da questão urbana” onde o referido autor aborda o medo nas cidades no Brasil e utiliza as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo como exemplos, e como 17 os meios de comunicação em massa contribui para essa insegurança que se instalou no país. Essa área da Zona Leste da cidade é considerada pelos órgãos estaduais de saúde e segurança pública do Estado do Amazonas, como sendo a segunda área com maior índice de casos de crimes de homicídios. E a área da Décima Quarta Companhia Interativa Comunitária (14ºCICOM), a segunda área em que mais houve homicídios no ano de 2014, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), grande parte motivado pela disputa interna e externa de território por facções criminosas do tráfico de drogas ilícitas do varejo, e acerto de contas. Sendo a segunda maior zona populacional da cidade, segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) é uma área de baixa renda familiar, baixa escolaridade e desigualdade social elevada, mão de obra barata. Esses aspectos contribuem para que os filhos mais velhos venham a ficar responsáveis pelos mais novos. Essa falta de acompanhamento familiar pode estar contribuindo para que os vendedores de entorpecentes das áreas onde essas crianças e adolescentes vivem, sejam recrutados como possíveis usuários de entorpecentes e posteriormente “aviõezinhos”, como são conhecidos os pequenos vendedores de drogas ilícitas. O capítulo sobre resultados e discussões expõe os dados obtidos com o estudo. Onde fica em evidência que a disputa interna e externa por território por membros de facções criminosas, e o acerto de contas. São grandes vetores de crimes de homicídios na área de policiamento da 14ªCICOM, onde as maiores vítimas são homens na faixa etária de 15 a 29 anos, envolvidos com o tráfico de drogas ilícitas, e por ser membro de uma facção criminosa, a maioria das vítimas é usuários de entorpecentes. Finalmente são apresentadas as considerações finais deste trabalho. 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO O Brasil é tido como um país muito violento, segundo a Organização das Nações Unida (ONU, 2014), que faz essa comparação utilizando a contagem pelo número de mortes por causas externas violentas, frente até á países que vivem em zonas de conflitos armados por vários motivos que vão desde ideologia religiosa à disputa por territórios. Segundo o Anuário de Segurança Pública do Brasil (ASPB), publicado em novembro de 2014, a cada dez minuto uma pessoa é vitima de homicídio no país. Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, 2014), no ano de 2012 no mundo aconteceram 437.000 (quatrocentos e trinta e sete mil) homicídios, no Brasil no ano de 2013, foram contabilizados 53.646 homicídios, configurando a taxa de 26,6 homicídios para cada 100 mil habitantes. Comparativamente, vale observar que a taxa de homicídios de 10 para cada grupo de 100 mil habitantes é considerado de nível epidêmico. Esse estudo afirma que no Brasil morrem mais pessoas vitimas de violência com uso de arma de fogo que muitos países que estão em guerra civil. O estudo não mostra perspectivas de redução de crimes de homicídios para o futuro. A Organização Mundial de Saúde (OMS) apresenta dados mais agravantes. Em dezembro de 2014 a (OMS) divulgou um relatório em que o Brasil figura como o país onde mais morrem pessoas vitima de homicídios com mais de 64 mil pessoas por ano, segundo a OMS (2014) esses dados são referentes ao ano de 2012, no qual morreram 475.000 (quatrocentos e setenta e cinco mil) pessoas vítimas de homicídios no mundo. A organização afirma que a cada 100 (cem) pessoas que morrem por homicídios no mundo, 13 (treze) são brasileiras. Por este motivo, começaram a cobrar do governo brasileiro uma política nacional de combatee enfrentamento ao grande número de homicídios no país. Em decorrência, foram criados vários grupos de estudos sobre violência urbana. O que se levantou é que mais da metade dessas mortes estão relacionadas a disputa interna e externa por membros de facções criminosas do ramo do tráfico de drogas ilícitas, ou acerto de contas. E que a maioria das vítimas são jovens entre 15 e 29 anos, de baixo grau de instrução, que moram em áreas com infraestrutura 19 inadequada, e sem os aparelhos coletivo sociais, de família desestruturadas, criados de pouco acompanhamento parental. Geralmente o jovem ou vive só com a mãe, os avós ou com algum parente que sai para o trabalho às quatro horas da manhã e só volta à noite, o que afeta diretamente na educação de muitos jovens que pelo fato de o tráfico de drogas proporcionar “dinheiro fácil”, acaba sendo um atrativo para esses jovens que não tem expectativa de vida, que acabam vendo nas “facções criminosas” uma boa saída para os seu conflitos mentais e pessoais, contribuindo para um encurtamento de sua vida (WAISELFISZ, 2014). Estudo divulgado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD, 2013) afirma que o Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo ficando atrás somente dos Estados Unidos da América, e o maior consumidor de crack do planeta, mostrando a complexidade do enfrentamento do uso e do comercio do tráfico de drogas ilícitas para o país. No Brasil, no ano de 1980, quando o Ministério da Saúde (MS) começou a catalogar as mortes por violência com uso de alguma arma de fogo, pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SIM/SUS), houve 8.710 homicídios, tendo passado a 38.892 em 2010, um crescimento de 346,5%. Vale considerar que, nesse intervalo, a população do país cresceu 60,3%. Demonstrando, um crescimento da mortalidade por arma de fogo no país, segundo Julio Jacobo Waiselfisz (2013), sociólogo, afirma que “descontando o aumento populacional, ainda impressiona”. [...] “Entre os jovens de 15 a 29 anos esse crescimento foi ainda maior: passou de 4.415 óbitos totais em 1980 para 22.694 em 2010 um aumento de 414% nos últimos 31 anos entre essas datas”. (p.11). No Estado do Amazonas no ano de 2000 foram computados 263 óbitos, com uso de arma de fogo, uma média de 9,4 por 100 mil habitantes e estava na vigésima posição, no ano de 2010 passou para 660 óbitos, média de 18,9 por 100 mil habitantes e foi para decima sexta posição (WAISELFISZ, 2013). Manaus, no ano 2000, contabilizou 223 óbitos, com uso de arma de fogo, uma média de 15,9 por 100 mil habitantes, em 2010 contabilizou 567 óbitos, com uma média de 31,5 por 100 mil habitantes. (WAISELFISZ, 2013). E nos últimos anos, 20 segundo (SSP-AM) a zona leste da cidade de Manaus foi a área da cidade em que mais houve homicídios com uso de arma de fogo. Queiroz (2002), afirma que: Ao eleger a violência urbana como alvo de reflexão e debate assume-se de início não apenas um, exercício, mas, sobretudo um desafio, qual seja: o de produzir respostas urgentes e satisfatórias ao clamor da sociedade por compreensão e superação de um problema que se tornou se não o mais agudo, um dos principais problemas sociais da atualidade. Esse tema já ocupa lugar de destaque em pesquisas das ciências sociais, jurídicas e médicas. Está cada vez mais presente na mídia e na vida real: nas ruas, em casa, no trabalho e na escola. Nesta última, seja como tema de reflexão, seja como fenômeno que vitima alunos, professores, funcionários e o patrimônio público (2002, p.41). Violência do latim, violabilis, é ação de coação, agressão com emprego de força física, constrangimento físico ou moral contra alguém. Assim como criminalidade também vem do latim, criminalis, que corresponde a crime, o pensador do direito afirma: “caracterização ou estilo de que ou do que é criminal, criminoso, criminativo; caracterização ou qualificação de um crime; [...] Circunstância que envolve um ilícito penal distinguindo-o como transgressão, ato imputável e punível [...]” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 869). Com base nessas informações evidencia-se a importância de se ter estudo sobre esse fenômeno social que contribui no comportamento e modo de vida das pessoas na cidade. A contribuição a ser deixada para a ciência geográfica é, conforme Diógenes (1998, p.41): Nesse momento, a perspectiva de Gertz novamente mobilizou-me a entender que o eixo básico de investigação não deveria se limitar a identificar como a violência acontece, mas essencialmente anotar a sua rede de significados que se produz na dimensão territorial como construção cultural’. Para a geógrafa, importa muito mais a dinâmica da produção do espaço urbano em face da situação de violência notificada nas cidades. Pensar nisso remete a refletir o modo como se (re)elaboram hábitos, práticas e relações sociais na cidade, diante de novos conteúdos sociopolíticos e territoriais, em particular a criminalidade, especialmente em suas modalidades mais violentas. Com essas interrogações acerca da temática “violência urbana” acendeu a luz amarela da comunidade acadêmica das ciências humana pela temática em questão, que para Souza: 21 E necessário investigar como, concretamente, a violência e a insegurança se manifestaram em cada momento. Em que circunstâncias a violência e a insegurança chegaram ao ponto de influenciar decisivamente a vida diária, os padrões de circulação no espaço e mesmo o habitat e as formas espaciais? Quando se coloca a questão desse modo, basta examinar o material histórico disponível para se verificar que nem sempre violência e insegurança foram fatores assim tão decisivos, ainda que nunca tenham estado ausentes das preocupações dos governantes e das coletividades em geral (2008 p.08). O tema segurança pública sempre foi uma questão de debate entre os homens e, no presente com alcance instantâneo das informações, o assunto tornou- se o tema principal das discussões nas mesas de bares, na mesa do café da manhã, o que despertou o interesse de vários estudiosos a publicar sobre a temática violência urbana. O que se percebe é que as cidades brasileiras estão paulatinamente se transformando em “fobópoles”. Conforme afirma Souza (2008 p.09), esse termo “é o resultado da combinação de dois elementos de composição, derivados das palavras gregas phóbos, que significa ‘medo’, e pólis, que significa ‘cidade’”. Souza comenta também que: O que o material histórico disponível mostra é que preocupações com a segurança pública acompanham o fenômeno urbano ao longo da sua história. Considerando-se que o senso comum de cada época julga a gravidade dos problemas à luz de comparações de fôlego curto, é lícito inferir que, para os padrões de um dado momento, não necessariamente a imprensa e o público em geral estariam exagerando ao se dizerem “preocupados”, “impressionados”, “horrorizados” etc. com a criminalidade violenta e a insegurança (2008, p.08). Os homicídios na disputa por território entre facções criminosas são vistos como de natureza econômica haja vista que a finalidade é a obtenção de lucro, utilizando-se da violência para se obter um resultado (CANO E SANTOS, 2007). A violência veiculada e enfatizada pela mídia através de jornal impresso, portal de notícias, telejornais, acaba gerando medo que consigo traz temor e ansiedade fazendo com que o cidadão mude alguns comportamento e lugares e cria preconceitos com moradores de determinada área da cidade. Cada bairro tem um estilo de “vida local”, pois quem mora nos bairros mais antigos da cidade tem no seu dia-a-dia rotina diferente dos que moram na periferia, afirma Spósito (1994) mostrando quanto é complexo o tema violência urbana. Muitos estudos tentam relacionar o aumento da violência ao nível de pobreza e a má distribuição de rendados cidadãos de um determinado local da cidade, Cano e Santos (2007) e a violência letal é a que mais causa medo nos citadinos. 22 Nos últimos anos o comportamento dos habitantes das cidades brasileiras vem sofrendo mudanças motivadas pela falta da sensação de segurança, para Queiroz (2008): A violência que atinge cidades brasileiras deixou de ser um fenômeno localizado e ganhou status de problema nacional. Essa situação tem desencadeado na sociedade urbana um sentimento desmesurado de medo, colocando-a em permanente estado de alerta. Em resposta, ocorrem mudanças significativas no cotidiano das cidades, pela redefinição de atividades, fluxos e comportamentos, portanto, no modo de vida urbano. (2008, p.98) A influência da violência urbana na mudança de comportamento dos citadinos, dos condomínios fechados, o mercado do medo, a arquitetura da cidade, e a questão da violência urbana se transforma em uma questão essencialmente geográfica. “Isso significa considerar não apenas os aspectos de localização e extensão do problema, mas os seus reflexos nos modos de produzir e consumir (n) a cidade”, segundo Queiroz: Tendo como referencia a cidade de São Paulo, fica evidente, pelas estatísticas criminais o fato de a periferia ser a maior vítima da violência. No ano de 1996, enquanto a taxa de homicídios em bairros prósperos, como Perdizes, era de três homicídios por cem mil habitantes, nos bairros pobres era quase quarenta vezes maior, a exemplo do Jardim Ângela que registrava 111 assassinatos por cem mil habitantes (Folha de S. Paulo, 22\09\1996 apud Queiroz (2002, P.99). Um dos autores que se dedicam a discussão da temática violência urbana no país é o geógrafo Marcelo Lopes de Souza, para quem: [...] por razões óbvias, está bastante em voga no Brasil (e em muitos outros países), e sobre ele se tem publicado bastante – eu mesmo já publiquei outros livros e capítulos de livros e artigos sobre o assunto. Por que, então, escrever mais um? Explicar “a razão e as razoes”- pequena sutileza que logo ficará clara – de publicar mais um livro sobre o tema oferece o pretexto para, logo de cara, neste prefácio, mencionar duas lacunas da literatura especializada publicada no Brasil – duas lacunas importantes e persistentes, apesar da multiplicação de títulos dedicados à temática da ‘violência urbana’. (2008, p.09) Diferente de outros países o Brasil só veio dar importância à área de segurança pública, dez anos após a promulgação da “Constituição Cidadã” de 1988. Observa-se que nessa época não tem muito trabalho voltado para área segurança pública por parte da academia, mas isso não é uma particularidade do Brasil. O assunto foi por muito tempo negligenciado tanto por historiadores como sociólogos. 23 A esse respeito, Bayley (2002 p.16) que “A Polícia só é percebida durante eventos dramáticos de repressão política, como o Terceiro Reich, a Comuna de Paris em 1872, as contra-revoluções na Europa de 1848-1849 e a confirmação do governo Meiji no Japão por volta de 1870.” Mas que após a Segunda Guerra Mundial o assunto polícia ganha notoriedade e interesse por parte de pesquisadores de varias áreas do conhecimento abrindo a porta dos centros acadêmicos para o tema segurança pública. Se no Brasil a questão violência urbana só começa a ser monitorada com a quantificação de óbitos com implantação do sistema SIM/SUS do Ministério da Saúde no ano de 1980, nas regiões Norte e Nordestes segundo Nascimento (2006), até o ano de 2006 não havia estudos relevantes para tal assunto: A maioria das grandes cidades do Norte e do Nordeste, como as capitais estaduais, não dispõe, a nosso conhecimento, de estudos e pesquisas de relevo a respeito da candente temática dos homicídios. Na Região Norte são incipientes os estudos nesse sentido, sejam eles voltados para as áreas urbanas ou as rurais dos municípios. Em relação a Manaus, dispõe-se de uma importante e relativamente recente contribuição para o conhecimento desse tipo de causa de óbito na cidade (COHEN, 1999 apud NASCIMENTO, 2006). Segundo Nascimento, Nesse estudo, a autora busca, a partir de uma pesquisa de campo, qualitativa, desvendar o perfil das vítimas dos homicídios e relacionar os óbitos por homicídio às condições espaciais e sociais vigentes na cidade à época do levantamento (2006, p.17). Isso mostra a importância do estudo aqui apresentado, para a contribuição de mais trabalhos acadêmicos voltados para a área de segurança pública no Estado do Amazonas. Nos dias atuais é a grande preocupação e reclame da sociedade amazonense, onde os índices de mortes por ações violentas causam pânico e medo à população de modo geral, que não tem sensação de segurança. Grande parte dessas mortes externas é motivada pela disputa de território por facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas ilícitas ou acerto de conta que é quando um usuário de drogas está devendo na “boca de fumo” lugar conhecido popularmente onde vende droga no varejo, a sentença é a morte. Daí a importância desse estudo aonde vai procurar mostra os locais na área de policiamento da 14ªCICOm, onde mais houve essa disputa. 24 O medo é um fator que gera transformação no cotidiano de uma cidade tanto no comportamento de seus habitantes como na sua arquitetura urbanística, e contribui para o grande crescimento do “mercado do medo e da violência” que segundo os órgãos responsáveis de segurança pública cresce mais que os índices de violência. A esse respeito, Felix (2002) afirma que: o medo contribui para duas situações: o acomodamento ou o combate de forma estratégica na comunidade que vai desde as utilizações de cães e altos muros com cerca elétrica, câmeras de monitoramento, a construção de bairros cercados. A exploração desse medo faz com que os moradores da cidade acabem dando mais valor a quesito segurança do que mesmo o conforto do local. Essa sensação de medo e insegurança muda o comportamento dos habitantes de outra área da cidade, por exemplo, um bairro da cidade está tendo um grande número de homicídios, mas os telejornais e jornais impressos vendem a noticia de que a cidade está um caos. Principalmente após um final de semana ou feriado prologado as manchetes sensacionalistas estampam as capas dos jornais impressos nos dias atuais a sensação de segurança está atrelada aos números de morte com o uso de arma de fogo, ao quê os meios de comunicação de massa noticia. O homicídio é tratado nos Artigos 121 ao 128 do Código Penal Brasileiro- Decreto Lei Nº2.848 de 07 de dezembro de 1940 e está no capitulo dos crimes contra a pessoa e contra a vida. O Código Penal prevê como crime de homicídio o ato de suprimir a vida humana, não definindo o modo operante para tal evento. Com isso, toda ação voltada para tirar a vida de outrem será caracterizado como crime, para maioria dos autores do direito a definição de crime é um fato típico, antijurídico e culpável. O aumento nos índices de crimes de homicídios nos últimos anos no Brasil chamou atenção dos órgãos internacionais, por exemplo, a Organização das Nações Unidas (ONU), a cobrar do governo brasileiro políticas públicas voltadas ao combate e enfrentamento do crescente número de mortes por causas externas violentas no país. 25 A disputa por território pelo crime organizado gera não só opressão a uma população de determinado território que tem importância para exploração para a venda de drogas ilícitas no varejo o que de certa forma acaba gerando uma disputa pelas facções criminosas. Segundo Souza (2012): O território não deve ser entendido, como ainda hoje muitas vezes o é, como sinônimo de “espaço geográfico” em geral. Um território é um espaço social qualificado, em primeiro lugar e acima de tudo, pela dimensão do poder. Ele constitui uma espécie de “campo de força”, que corresponde às relações de poder (exercício do poder: estatalou não, duradouro ou efêmero, heterônomo ou autônomo) referidas a um espaço material (e a identidades e ideologias sócio-espaciais) específico (p.124), Nesse estudo, a noção de território foi trabalhada a partir do que conceitua Souza (2000, p.111): “Todo espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder é um território, do quarteirão aterrorizado por uma gangue de jovens até o bloco constituído pelos países-membros da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN).” Como sugere Souza (2000, p.81) “territórios existem e são construídos (e desconstruídos) nas mais diversas escalas,”. Trabalhando o território a partir do que Souza conceitua e que esse trabalho tem pretensões de mostrar, é que a disputa do território pelas facções criminosas do ramo do tráfico de drogas ilícitas na área de policiamento da 14ªCICOM constitui-se como vetor de homicídios, nessa área urbana de Manaus. O autor diz que no caso do tráfico de drogas a “territorialidade em Rede” é: A territorialidade de cada facção ou organização do tráfico de drogas é, assim, uma rede complexa, unindo nós irmanados pelo pertencimento a um mesmo comando, sendo que, no espaço concreto, esses nós de uma rede se intercalam com nós de outras redes, todas elas superpostas ao mesmo espaço e disputando a mesma área de influência econômica (mercado consumidor), formando uma malha significativamente complexa. (SOUZA, 2000, p.92). Trabalhando o território a partir das facções criminosas do ramo do tráfico de drogas ilícitas no varejo, adotou-se aqui a interpretação que Souza emprega em seu artigo O Território: Sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento (2000), no qual ele considera como “território descontínuo”, ao que seria o “território-rede” ou “território em rede”: 26 Trata-se, essa ponte conceitual, ao mesmo tempo de uma ponte entre escalas ou níveis de análise: o território descontínuo associa-se a um nível de tratamento onde, aparecendo os nós como pontos adimensionais, não se coloca evidentemente a questão de investigar a estrutura interna desses nós, ao passo que, à escala do território contínuo, que é uma superfície e não um ponto, a estrutura espacial interna precisa ser considerada. Ocorre que, como cada nó de um território descontínuo é, concretamente e à luz de outra escala de análise, uma figura bidimensional, um espaço, ele mesmo um território (uma favela territorializada por uma organização criminosa), temos que cada território descontinuo é, na realidade, uma rede a articular dois ou mais territórios contínuos (SOUZA, 2000, p.93-94). Partindo dessas referências e, principalmente de Marcelo José Lopes de Souza, o autor deste trabalho busca demonstrar como a disputa interna e externa por território por membros de facções criminosas do ramo do tráfico de drogas ilícitas foi vetor de homicídios no ano de 2014, na área policiada pela 14ªCICOM. O antropólogo Norte Americano Alan Page Fiske, em entrevista ao Portal da Revista Época, em março de 2015, afirma que “Precisamos entender a violência para eliminá-la”. O autor desse estudo entende que só se pode combater algo quando se tem conhecimento prévio, pois se não será apenas um “alvo móvel em um estande de tiro em dia de instrução”. Souza (2008, p.176) afirma que para tentar entender a violência urbana não basta uma análise simplista das abordagens “institucionalismo” o “culturalismo” e o “redistributivismo” para o autor: Os estudos criminológicos, enquanto campo de estudos essencialmente interdisciplinar, possuem uma longa história, e ênfases muito diferentes emanaram de disciplinas e abordagens (ou teorias) distintas a propósito da questão das causas da criminalidade. Já se pôs o acento em explicações de cunho biológico (enfoques antropométricos, biotipológicos, neurofisiológicos, endocrinológicos etc.), de natureza psicológica (enfoques de psicopatologia criminal, modelos pscodinâmicos e outros) e inspiradas nas diversas ciências sócias (da Escola de Chicago às abordagens inspiradas no pensamento marxista)- e até mesmo nos trabalhos de arquitetos (como os defensible speces e seu desdobramento igualmente capitaneado por arquitetos, o enfoque denominado Crime Prevention Through Environmental Design [CPTED]) (SOUZA, 2008, P.176-177) . Como bem avaliado por Souza (2008) a análise da Geografia da Violência é bem complexa e precisa-se fazer uma passeio em outras áreas do conhecimentos para se buscar uma explicação mais plausível com a dinâmica da violência urbana, e dos crimes violentos nos dias atuais. 27 3 METODOLOGIA A Zona Leste da Cidade de Manaus é tida como um território violento, isso se pode creditar ao grande número de crimes violentos e às mortes externas que aconteceram no seu processo de formação e consolidação. As causas externas remetem a fatores independentes do organismo humano, fatores que provocam lesões ou agravamentos à saúde levando à morte do indivíduo. A esse fenômeno colaboram várias ações (acidente de transito, acidente de trabalho e os óbitos por violência, dentre outros)1. A Zona Leste da cidade de Manaus seu deu por ocupações irregulares, como a primeira dessa área o hoje Bairro do Coroado que em 1968 era utilizado como ponto de varias caieiras (lugar de se fazer carvão vegetal) com a vinda de muitas pessoas do interior do estado em busca de qualidade vida na capital amazonense com a propaganda de empregos do Polo Industrial de Manaus (PIM) e em 1971 em busca de moradias essas pessoas resolveram ocupa uma área que pertencia a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e com a proibição dos flutuantes (casa feitas em cimas de toras de madeiras que flutuam na água) na frente da cidade no Rio Negro, juntam-se a essa parcela de moradores que faziam carvão no lugar, as casas nessa época eram feitas de palha e chão batido, e papelão. Começaram a ocupação irregular da área, transformando o lugar em uma zona de batalha com as forças policias da época, pois os oficias da justiça diziam que o lugar era federal por pertence à UFAM, o Brasil nessa época era governado pelo regime militar. O bairro recebeu o nome Coroado inspirado na novela da Rede Globo de Televisão, Irmãos Coragem de Janete Clair, que o enredo se passava na fictícia cidade do Coroado, pois a novela contava a historia de pessoas que lutava pela liberdade e contra a opressão. Uma luta que se leva mais de dez anos para que se tivesse paz, e que até os dias atuais continua, tendo em vista que muitos moradores do bairro ainda não 1 Cf. DATASUS: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/ext10am.def. Acessado em 26/11/2015 às 18h14. 2 Cf.Bairro Coroado:http://www.portalamazonia.com.br/secao/amazoniadeaz/interna.php?id=497. Acessado em 26/11/2015 às 18h30. 28 tenham recebido o titulo definitivo de suas terras. O Bairro do Coroado é conhecido hoje como “Portal da Zona Leste”. Por essa forma de ocupação do espaço urbano dessa zona da cidade de Manaus, permeada por conflitos territoriais, ela, desde o seu início foi vista como violenta, e de forma determinista as pessoas que nela moram sejam vistas com preconceito por moradores de outras partes da cidade. Tendo sido palco de disputa de terra nas quais muitas pessoas tiveram as vidas ceifadas, tendo como motivação o que se diz popularmente “quero um pedaço de terra pra fazer o meu barraco”, o estereótipo foi disseminado de certa forma com apoio da imprensa local, que é importante formadora de opinião. Ao transmitir a informação, apresentando manchetes sensacionalistas como, por exemplo, a do Portal do Jornal Em Tempo: Na Zona Leste, envolvida com o tráfico de drogas morre após ser atingido com vários tiros. Como essa, muitas outras são publicadas. Os governos também contribuem para fomentar esse preconceito, quando vai inaugurar ou lançar um projeto na área,o discurso é de que o lugar é extremamente violento, de certa forma territorializando a violência. Discursos do tipo: Nessa área desassistida pelo poder público que antes não era olhada, tida como vermelha, como violenta, mas que neste governo está recebendo uma atenção especial, trazendo a tão sonhada sensação se segurança. Inaugura-se a esperança de dias melhores com a construção de um prédio maravilhoso do Projeto Ronda no Bairro, com a polícia comunitária que terá contato direto com os moradores, dotada de equipamentos tal qual no Estados Unidos [...] (FRANÇA, R. Reprodução livre do discurso realizado na inauguração de uma Delegacia Interativa de Polícia). Geralmente quando o Governador ou o prefeito vão a bairros dessa zona, o policiamento é aumentado. Há até situações em que até operações são deflagradas antes para intimidar os moradores dessas áreas. 3.1 Recorte espacial A área de policiamento da Décima Quarta Companhia Interativa Comunitária (14ºCICOM), da Policia Militar do Amazonas, é compreendida por nove Comunidades dentro do perímetro de três Bairros na Zona Leste da cidade de Manaus, conforme Quadro 1, Jorge Teixeira, Gilberto Mestrinho, Tancredo Neves: Jorge Teixeira I e II, Novo Reino I, Tancredo Neves, Nova Floresta, Nova Conquista, 29 Comunidade São Lucas, Comunidade de Deus, Gilberto Mestrinho, ficam na zona leste da cidade de Manaus. A 14ªCICom está atualmente localizada no Complexo do Décimo Quarto Distrito Interativo Comunitário (14º DIP), situado à Avenida Autaz Mirim, nº 7891, bairro Tancredo Neves, CEP: 69088-000. Com superfície de 490,12 hectares, visto figura 01, 1) começa no Igarapé do Aleixo com o Igarapé do Mindú; 2) segue até a Rua Itaetê; 3) segue até a Avenida Autaz Mirim; 4) segue até a Rotatória do Produtor; contornando esta exclusive até a Avenida Itaúba; segue até a Rua Jutaí; 6) desta até a Rua Mariana; desta contornando o Conjunto Santa Inês até o ponto norte da Invasão Nova Vitória; deste ponto contornando a referida invasão até a Rua Pedras Coradas; 7) deste até o limite nordeste da Invasão Nova Conquista; 8) contornando esta até a Rua Fortaleza; 9) segue até o Igarapé do Aleixo; 10) deste até o Igarapé do Mindú. Figura 1 ─ Imagem de delimitação dos setores da área de policiamento da 14ªCICOM Fonte: 14ªCICOM/PMAM Organização: Ten. PM OLIVEIRA, Mario Artur Lopes de. 2015 30 Os bairros e comunidades que são de responsabilidade do policiamento da 14ªCICom, após a redistribuição das áreas de policiamento com a implantação do Programa Ronda do Bairro pela Secretaria de Estado de Segurança Pública no ano de 2012, são Jorge Teixeira, Tancredo Neves e Gilberto Mestrinho, conforme o Quadro 01. Quadro 01 ─ Bairros policiados pela 14ªCICOM Fonte:14ªCICOM/PMAM Organização: CB PM- Santos, Alexandre de Oliveira. 2015. Essas áreas estão divididas em cinco setores com a cobertura de uma viatura quatro rodas e dois policiais e duas viaturas duas rodas (motocicletas) com dois policiais, mais duas viaturas quatro rodas de reforço. Uma fica com o supervisor do serviço que tem à frente um oficial subalterno, um tenente e a outra fica ao comando de um sargento ou um cabo mais antigo que auxiliam o supervisor. Os policiais sempre trabalham no mesmo setor, seguindo a filosofia do policiamento comunitário, que desde implantação do programa Ronda do Bairro no ano 2012 passou a fazer parte da filosofia de policiamento da Policia Militar do Amazonas (PMAM), substituindo o modelo anterior que operava com a Estratégia Tradicional de Policiamento. Nessa divisão em setores, cada um tem uma viatura, o tempo de resposta é de três a cinco minutos, entre o chamado do despachante do Centro de Comunicações e Operações Policiais Militares (CECOPOM) e a chegada ao local da ocorrência, pois o comunicado é feito diretamente aos responsáveis que conhecem empiricamente toda a área de atuação. Cada viatura é equipada com seis câmeras que gravam áudio e vídeo, um tablet, rádio de comunicação, um telefone celular que tem o número na viatura e um encarte que é distribuído às residências de cada setor 31 mostrando o perímetro e a viatura responsável pela área, levando os moradores tomarem conhecimento dos policiais e a viatura responsável pelo policiamento de sua rua. A 14ªCICom está subordinada ao Comando de Área Leste (CPA-Leste) que está subordinado ao Comando Policiamento Metropolitano (CPM) que é de onde todas as ordens operacionais saem, orientadas pelo Comando Geral da Polícia Militar do Amazonas (PMAM) que reporta diretamente ao governador do Estado que é o comandante chefe da PMAM. Essa nova divisão ao retirar o nome de “quartel” e “batalhão” das instalações da polícia, de certa forma é uma tentativa de tirar o militarismo da filosofia da polícia do Amazonas. Essa estrutura centralizada é uma forma de comando das polícias como descreve Bayley (2002, p.67) visto que as ordens operacionais partem basicamente de um comando que é o governo do Estado, que repassa para a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), que repassa para as Polícias Civil e Militar, apesar de duas forças o comando é centralizado (Tabela 1). Tabela 01 ─ Densidade de Habitantes por área da 14ªCICOM DADOS DEMOGRÁFICOS NA ÁREA DE JURISTIÇÃO DA 14ªCICOM SETORES POPULAÇÃO RESIDENTE DOMICÍLIOS RESIDENTES POR DOMICÍLIO ÁREA (m²) 14.1 7.581 2.015 3,76 548.400 14.2 16.038 4.245 3,78 1.056,200 14.3 20.347 5.224 3,89 1.506,600 14.4 13.993 3.651 3,83 1.051,200 14.5 12.112 3.162 3,83 748.800 TOTAL 70.071 18.297 3,83 4.911,200 Fonte: 14ªCICOM/PMAM Organização: CB PM- Santos, Alexandre de Oliveira. 2015. (2013) A área de policiamento da 14ªCICOM compreende um perímetro de 4,9 milhões de metros quadrados (m²), ocupada por uma população de 70.071 setenta mil e setenta e uma, pessoas, com dezoito mil duzentos e noventa e sete 18.297 32 moradias, uma média de 3,83 pessoas por residência. Dividida em cinco setores de policiamento. O setor 14.1 compreende parte do Bairro Tancredo Neves, tem uma população de 7.581 (sete mil quinhentos e oitenta e uma) pessoas, que residem em 2.015 (duas mil e quinze) residências uma média de 3,76 moradores por domicilio, em uma área de 548.400 m², (quinhentos e quarenta e oito mil e quatrocentos) metros quadrados, esse setor é o menor em extensão territorial. O setor 14.2 tem uma área de 1.556.200 m², (um milhão quinhentos e cinquenta e seis mil e duzentos) metros quadrados, é o segundo maior em extensão territorial, com 4.245 (quatro mil duzentos e quarenta e cinco) domicílios, com uma população de 16.038 (dezesseis mil e trinta e oito) pessoas, uma média de 3,78 por residência. Localiza-se no Bairro Tancredo Neves. O setor 14.3 tem uma população de vinte mil trezentos e quarenta e sete pessoas, ocupando uma área de 1.506,600 m² (um milhão quinhentos e seis mil e seiscentos metros quadrados), distribuído para 5.224 (cinco mil duzentos e vinte e quatro) residências, com uma média de 3,89 pessoas por habitação. É o maior em extensão territorial. Localiza-se nos Bairros Jorge Teixeira I e II. O setor 14.4 tem uma área territorial de 1.051,200 m² (um milhão cinquenta e um mil e duzentos) metros quadrados, com uma população de 13.993 (treze mil novecentos e noventa e três) pessoas, residindo em 3.651 (três mil seiscentos e cinquenta e uma) moradias, com média de 3,83 moradores por residências. É terceiro maior setor de policiamento da 14ªCICOM. Fica nos Bairros Nova Floresta e em um parte do Gilberto Mestrinho . O setor 14.5 é o segundo menor setor de policiamento com uma área territorial de 748.800 m² (setecentos e quarenta e oito mil e oitocentos) metros quadrados, habitado por 12.112 (doze mil cento e doze) pessoas, residindoem 3.162 (três mil cento e sessenta e duas) pessoas, com média de 3,83 habitantes por moradia. Esse setor fica nos Bairros Nova Conquista e Comunidade São Lucas, Comunidade de Deus. 33 3.2 O método empregado Os dados catalogados para este estudo correspondem ao período de janeiro a dezembro de 2014, pelo SISP/PMAM. Procurou-se, inicialmente, verificar a mortalidade por homicídios na área de policiamento da Décima Quarta Companhia Interativa Comunitária (14ªCICOM), na Zona Leste da cidade de Manaus. Deteve-se na análise das disputas interna e externa por territórios, realizadas membros de facções criminosas para uso de tráfico de drogas ilícitas do varejo, tendo o acerto de contas como vetor de crimes de homicídios na referida área. Em seu livro Metodologia do Trabalho Científico, Severino (2007) aborda sobre tipos de pesquisa e se refere às fontes com quatro diretrizes: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa experimental e pesquisa de campo. A conceituação de Severino para pesquisa bibliográfica mostra a importância desta para o trabalho acadêmico: A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos. (2007, p.122) Outro autor que foi estudado para esta pesquisa foi Gil (2002), no que trata da abordagem teórico descritiva: Tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudo que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática. (2002, p.42). Este trabalho caracterizou-se também por ser exploratório porque é flexível no seu planejamento, e pela familiaridade do pesquisador com o material estudado gerando um conhecimento mais consistente. Quanto à natureza é aplicada, pois segundo Barros e Lehfeld (2000, p.78), pode “(...) contribuir para fins práticos, visando à solução mais ou menos imediata do problema encontrado na realidade”, por estar mostrando uma realidade local, pois já foram feitos estudos anteriores por pesquisadores da temática de estudo, que orientaram o campo. Os dados estão abordados de forma qualitativa tendo em vista que se buscou compreender as 34 causas e as contradições que possam estar presentes apenas nos dados estatísticos, o viés quantitativo da pesquisa. Quanto aos procedimentos foi documental e participante, coadunando com que Gil diz: A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes: Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale- se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa (2002, p.45). Para Gil (2002, p.56), “A pesquisa participante, por sua vez, envolve a distinção entre ciência popular e ciência dominante. Esta última tende a ser vista como o próprio conhecimento derivado do senso comum, que permitiu ao homem criar, trabalhar e interpretar a realidade, sobretudo a partir dos recursos que a natureza lhe oferece.” O fato de o pesquisador ser um policial lotado nessa Companhia de Policia Militar, que é responsável pelo policiamento da área compreendida, a pesquisa é eminentemente participativa. Quanto aos procedimentos, foi realizado uma pesquisa documental, pois se fundamentou em dados secundários que foram disponibilizados pela Polícia Militar do Amazonas (PMAM), através de dados catalogados pelo Sistema Integrado de Segurança Pública (SISP) - Décima Quarta Companhia Interativa Comunitária (14ºCICOM). Construção de mapas da área de estudo, levantamento de campo visto que o autor e pesquisador participante. Tendo como objetivo de estudo uma temática contemporânea inserta nos estudos que fazem a relação entre Geografia e Violência Urbana (RODRIGUES, 2002 p. 77), destacou-se, nesse campo de estudo, tanto a literatura técnica e teórica, quanto as legislação e normas nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal. O tema motiva intensos debates, cujas implicações se acentuam conforme o avanço de crimes contra a pessoa na disputa por território para o uso de venda de drogas ilícitas do varejo por facções criminosas. Esse é, segundo órgãos governamentais, um dos principais agentes da violência urbana na atualidade no Brasil. 35 Este trabalho teve o amparo legal das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que foram utilizadas são: resumo; citações; referências; e apresentação de trabalhos acadêmicos. 36 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES A área de policiamento da 14ªCICOM abrange bairros de terrenos acidentados, áreas não propícias para construções, mas acabam sendo habitados por moradores de baixa renda, em parte trabalhadores do Pólo Industrial de Manaus (PIM), outros da construção civil. Muitas mulheres trabalham como empregadas domésticas, mão de obra barata pela falta de instrução. Essa população oriunda de cidades pequenas do interior do estado do Amazonas, muitos vindos de municípios do Pará, que chegam a capital amazonense em busca de uma qualidade de vida melhor, pois a que levavam em sua terra natal não era tão favorável. Essa área da zona leste, assim como a maioria dos bairros que tiveram sua fundação através de ocupações irregulares na cidade, possui má infraestrutura, têm deficiência no transporte público. Nessas localidades é preciso sair muito cedo de suas residências para pegar o coletivo e ir os seus trabalhos devido ao engarrafamento das principais vias, e a volta devido ao trânsito com grande engarrafamento devido a falta de infraestrutura viária da cidade. Com ruas cheias de carros motivados pelo péssimo serviço prestado pelas empresas de transporte coletivo urbano da cidade. Faz com que essas pessoas cheguem nas suas residências no período da noite, o que contribui para falta da relação pai filho e escola. Souza (2008, p.187) afirma que “O capitalismo - na qualidade de modo de produção e, mais amplamente, de modelo social que existe embebido em um imaginário específico - é “criminógeno”, ou seja, “produz” criminalidade, em diversos sentidos.” Como pode se observar essa criminalidade vai desde o estresse do trabalhador e o modo de relação que ele passa a ter com sua família, até a escolha por um de seus filhos a entrar no mundo do crime, isso demonstra que o combate a criminalidade é complexo. Durante a realização da pesquisa, dado ao caráter participante decorrente do exercício do trabalho como policial pôde-se observar que os trabalhadores saem no amanhecer do dia, para os seus trabalhos e voltam à noite para as suas casas. 37 Nesse contexto, um caso acompanhado se destacou, merecendo atenção: uma senhora durante uma ocorrência, em que seu filho foi apreendido com uma mochila carregando 150 (cento e cinquenta) “trouxinhas de pasta base de cocaína”, mais 80 (oitenta) de “pó de cocaína”, 85 (oitenta e cinco) de “maconha”. Ao ter sido preso, o adolescente de quinze 15 anos, afirmou ter recebido R$100,00 (cem reais) para transportar drogas, sob a ameaça de que se não o fizesse ele seria morto, ou algum de seus familiares. Essa porção de drogas estava avaliada em R$4.650,00(quatro mil seiscentos e cinquenta reais), uma “trouxinha de pó de cocaína” é vendida a R$20,00 (vinte reais) e a pasta base de cocaína e maconha é vendida a R$10,00 (dez reais). Quando a mãe, uma senhora de 46 anos, foi avisada ela estava dentro do ônibus voltando do trabalho, o que fez mudar a sua rota, pois o adolescente foi encaminhado para a Delegacia Especializada em Atos Infracionais (DEAI), localizada no Bairro da Alvorada, zona oeste da cidade. Quando a senhora chegou à delegacia e encontrou o filho, foi falando: “Óh Junior, meu filho! Eu saio de casa às quatro e trinta da manhã, chego em casa só às sete horas da noite, trabalho o dia todo pra te dar o que vestir, o que comer e você me apunha-la pelas costas com essa merda de droga”. Ele ficou detido na delegacia por quarenta e cinco dias, pois devido à quantidade de drogas e dinheiro que ele detinha no momento da prisão, a delegada entendeu que ele estava traficando. Após esse período ele foi liberado por ser menor de idade. Um mês após ele ter sido solto, foi apreendido novamente por outra equipe de policiais da 14ªCICOM, com um quilo de drogas em uma motocicleta roubada. Seis meses depois de ele ter sido solto pela segunda vez, ele foi assassinado nas proximidades da Rua Laço do Amor, com cinco tiros, a mando do gerente da “boca de fumo” dessa rua, por suspeita de que ele estava tramando para matá-lo e tomar a “boca de fumo”. Essa disputa por território entre membros de facções criminosas rivais e entre eles mesmos, como no caso do adolescente de quinze anos, é um dos principais 38 vetores de homicídios dolosos em Manaus, e a área de policiamento da 14ª CICOM não é exceção. O tráfico de drogas ilícitas gera uma luta bem complexa com muitas conspirações e tramas na conquista do território. 4.1 Dinâmicas do Trafico de Drogas Ilícitas no varejo na área de policiamento da 14ªCCICOM No Brasil nos seus 26 Estados e no Distrito Federal existem esses grupos criminosos e o mais conhecido até por alta divulgação da mídia nacional é o Primeiro Comando da Capital (PCC) que iniciou no Estado de São Paulo e hoje tem ramificações por todo o país. No Amazonas, a facção criminosa conhecida e também vendida pela mídia local é a autodenominada Família do Norte (FDN) que é comandada por um narcotraficante2 conhecido como “Zé Roberto da Compensa”. Essa facção é tida, pelas forças de segurança como a mais violenta da região norte. Nos últimos anos virou rotina de capas de jornais e portais de notícias no Amazonas, manchetes como a publicada no dia 20 de abril de 2014, no portal do Jornal Acrítica, que traz a seguinte manchete: Polícia prende quinteto do PCC autor de triplo homicídio contra integrantes da FDN. Três homens foram mortos na rua Laço do Amor, Jorge Teixeira 4, zona leste de Manaus. A polícia prendeu cinco suspeitos do assassinato e acredita em richa por ‘bocas de fumo’ entre facções criminosas. Essa matéria assinada pelo repórter Vinicius Leal, tem uma chamada na manchete e quando se lê a notícia percebe-se que são os integrantes da facção criminosa “Família do Norte” (FDN) quem tomam o território dos integrantes do “Primeiro Comando da Capital” (PCC) para o uso do tráfico de drogas ilícitas no varejo. Souza (2008 p.29) afirma que a imprensa é a grande fomentadora da “economia da violência” e aos “mercados da violência” onde a violência é usada para se ter lucro. Como toda organização, as facções criminosas funcionam com hierarquia, em forma de pirâmide. Com um conselho, onde cada conselheiro tem sua própria 2 Para os fins desta monografia, os nomes foram substituídos por pseudônimos. 39 pirâmide, que é formada pelo gerente, chefe da “boca", boqueiro, segurança ou “soldado”, aviãozinho ou “vendedor”, olheiro ou “vigia da ‘boca de fumo’” que avisa quando a polícia está chegando”. Cada conselheiro comanda uma área específica da cidade. Uma facção comanda um território da cidade, os traficantes varejistas dessa área só podem vender entorpecentes fornecidos por essa facção e, se o boqueiro pegar de outro fornecedor, ele tem que pedir autorização do chefe da “boca” que pode autorizar ou não a venda. Quando é concedida, o lucro deve ser dividido meio a meio. A droga é vendida à vista. Às vezes eles entregam para alguns viciados pagarem depois com serviços, que vão desde furtos ou até para mesmo servir de informante pra levantar o movimento das outras “bocas de fumo”, como são conhecidos os pontos de vendas de drogas no varejo. A utilização dos territórios na área urbana de Manaus, como ponto de venda de drogas ilícitas no varejo tem um histórico de locais de difícil acesso para a polícia, com excelente rota de fuga numa eventual entrada, com operações por parte da polícia ou numa possível tentativa de facções rivais tentarem tomar o ponto. A dinâmica do tráfico de drogas no varejo em Manaus no seu começo (1980) era mais descentralizada, pois em cada parte da cidade existia um explorador que estava mais ligado ao tráfego de família. Seus integrantes eram primos, sobrinhos, irmãos, sem uma “divisão interna do trabalho” pois todos tinham funções múltiplas, sem obedecer uma hierarquia rígida além da obediência ao chefe, que geralmente era o próprio chefe da família nuclear. O consumo era pequeno, como explica o delegado da Polícia Civil do Amazonas Divanilson Cavalcanti, em entrevista ao portal do Jornal ACrítica de notícias (27,maio,2014): durante a década de 1990 a 2000 o tráfico de drogas no Bairro Praça 14 de Janeiro, era comandado por Luís Alberto Coelho, o “Bebeto da 14” e, na década de 1980, na Panair, pela “Mariona”, que usavam membros das suas famílias como mão de obra para o tráfico de entorpecentes. 40 O “tráfico de drogas familiar”, como era conhecido, impera até o ano 2000 quando os presos considerados de alta periculosidade do Amazonas são transferidos para presídios de segurança máxima federal, onde tiveram contato com membros das facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) e se especializaram no mundo do crime. Por isso a Família do Norte (FDN) tem ligações com o CV do Rio de Janeiro, comando pelo narcotraficante Luís Fernando da Costa, o “Fernandinho Beira-Mar”. Antes de se chamar FDN a facção até o ano de 2009 era conhecida como Primeiro Comando do Norte (PCN). Segundo o delegado da Polícia Civil do Amazonas Divanilson Cavalcanti em entrevista ao (Portal Acrítica, 2014) os presos do Amazonas que ficaram no presídio de Campo Grande (MT) receberam instruções de “Fernandinho Beira-Mar” de como fazer frente à polícia e aos grupos rivais. Após a especialização no mundo do crime em presídio federal os traficantes se juntaram para formar o PCN e suas primeiras ações foram comprar armas de grosso calibre. Em Manaus, a partir do ano de 2008 começou uma disputa entre a FDN e PCC na cidade onde várias pessoas foram mortas e “desovadas” abandonadas na área do bairro Tarumã, zona oeste da cidade. Até o momento, a FDN é a maior facção criminosa no estado. Manaus é uma cidade dividida pelo crime organizado, mas as disputa pelo território continua. “Dos 722 homicídios que aconteceram em Manaus no ano de 2013, segundo afirma a delegada adjunta da Delegacia de Homicídios e Sequestro (DEHS), Débora Mafra, mais de 90% estão ligados ao tráfico de entorpecentes na cidade” (Portal ACrítica, 2014). Nesses casos, as mortes violentas é resultado da disputa interna e externa do território, e acerto de contas, onde o indivíduo é morto por estar devendo na “boca de fumo” ou não quis fazer negócios com a facção que comanda o território. 41 4.2 Divisão do território para o uso do trafico de drogas ilícitas na área de policiamento da 14ªCICOM O território em rede, como propôs Souza (2000, p.95) tem dois sistemas.O primeiro é “território contínuo”. Nesse sistema a facção criminosa domina todo um território “área de influência (mercado consumidor) em disputa.” O segundo é o “território descontínuo” onde existe uma disputa pelo território para o uso do tráfico de drogas ilícitas do varejo pelas facções criminosas e grupos independentes. No entanto, neste trabalho assume-se que na realidade de Manaus inexistem grupos independentes, pois, todos narcotraficantes sempre estão ligados a uma facção criminosa organizada. Partindo desse ponto de vista, no mundo do tráfico de drogas não existe traficante varejista independente, pois ele compra a droga dessas organizações criminosas. Na área de policiamento da 14ªCICOM, podemos observar os dois processos “território descontínuo” e “território contínuo”, mas que a partir de abril de 2014 depois de várias disputas entre as facções criminosas “Família do Norte” (FDN) e “Primeiro Comando da Capital” (PCC) essa área torna-se “território contínuo” devido aos integrantes do PCC que comandavam a área serem presos pela polícia. E após o assassinato do chefe da ‘boca’, foi assumida por integrantes da FDN. A disputa do território entre a FDN e PCC na área de policiamento da 14ªCICOM se caracteriza pela disputa pelo domínio da rua Laço do Amor e seu entorno e a rua Samambaia, ambos no bairro Jorge Teixeira primeira etapa, que dentro do perímetro de policiamento da Companhia, fica dentro do setor 3. A primeira rua, Laço de Amor, era comanda pelo PCC e a segunda – Samambaia, pela FDN. E por causa dessa disputa muitas vidas foram ceifadas principalmente de jovens, como a que aconteceu no dia 18 de abril de 2014 quando três jovens de idades entre 17 a 24 anos foram assassinados. Esse acontecimento marca a passagem de “território descontínuo” para “território contínuo” como propôs Souza (2000), área de policiamento da 14ªCICOM passa a ser dominada pela FND, que após os homicídios de três integrantes do PCC na rua Laço do Amor toma o último território que lhe faltava. 42 Para entendermos como estava dividido o território para o uso do tráfico de drogas que mostra como as facções criminosas são organizadas, ver figura (02). 43 Figura 2 ─ Imagem dos territórios em disputa para o tráfico de drogas 44 Dentro que cada setor existe um gerente responsável pelas “bocas de fumo” (local onde vende droga ilícitas no varejo), no setor 14.1, o indivíduo conhecido como Todinho é responsável por esse território, recebe e distribui drogas nas “bocas de fumo” dessa parte. Ele é tido como “violento e sanguinário” , como relata um morador do local. E já foi preso várias vezes pela polícia por envolvimento com o tráfico de drogas, e é acusado de mandar matar seus desafetos e concorrentes. Os setor 3, parte do setor 4 e parte do setor 2, como visto na Figura 02, são gerenciados pelo “Vela”. Começou com o “Belo”, mas após a sua morte, o “Vela” assumiu o comando da “boca de Fumo”. Ele é muito difícil de ser visto na rua, e quando ele saia, geralmente está com seus seguranças, e tem sempre um olheiro (vigia que avisa quando a polícia ou integrantes de facções rivais estão chegando). Os setores 5 e parte do 2 são gerenciados pelo “Gerry”, que já foi preso pelos policias militares do Batalhão de Força Tática, que é uma tropa especializada da Polícia Militar no policiamento ostensivo. Ele é considerado como violento, por matar e mandar matar os devedores e os seus desafetos, “Gerry” também pouco é visto na rua e quando ele sai é seguido de um discreto, mas grande esquema bem montado de segurança. Ele fica mais nas “bocas de fumo” próximo a Rip e Rap, fronteira dos bairros Tancredo Neves com o São José. Segundo os viciados, preferem comprar drogas do “Gerry” por considerarem de boa qualidade. Isso porque muitas vezes são vendidas substâncias que não são entorpecentes, as mais comuns são pílulas de Dorflex, e toda substância que contenha cafeína, fermento em pó, cal, entre outros. O conselheiro da FDN que distribui e comanda o tráfico de droga do varejo na zona leste de Manaus, era o João Pinto Carioca, conhecido como “João Branco” até a morte do delegado de polícia civil Oscar Cardoso Filho, ocorrida no dia 9 de março de 2014, atingido com mais de vinte tiros. Segundo a Polícia Civil do Amazonas, esse crime foi motivado por vingança porque segundo se apurou a equipe chefiada por esse policial tinha estuprado e sequestrado a mulher do traficante “João Branco” e levado R$50 mil dela, motivo pelo qual o delegado e toda sua equipe em outubro de 2013 tenha sido presa pela Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência (SEAI) da SSP. 45 João Branco teve a sua base no bairro Mauazinho, zona leste de Manaus. A Geografia acidentada do lugar, o apoio de alguns moradores do local que contavam com uma ajuda assistencialista por parte do traficante, como: pagamento da conta de Luz, gás, remédios, entre outros. E o difícil acesso e a falta de viatura e efetivo da Polícia Militar na época para fazer o policiamento contribuíram para que “João Branco” imperasse no local. Ele é o segundo na cadeia de comando da FDN depois do José Roberto Fernandes o “Zé Roberto da Compensa” que é o líder da facção criminosa FDN no Amazonas. Visto como sanguinário, “João Branco” é acusado de mais de vinte homicídios segundo a Polícia Civil do Amazonas (PCAM). Em suas ações contra grupos rivais ele sempre buscava pessoalmente tomar as “bocas de fumos”. Uma de suas marcas, era disparar muitos tiros para mostrar o seu poder de fogo, mas após a morte do delegado Oscar Filho, “João Branco” fugiu e deixou no seu lugar Bruno Henrique Assis Bezerra, o “Parazinho”, que está preso e comanda o tráfico de dentro da prisão. Para a PCAM “João Branco” está em países vizinhos como a Venezuela, Colômbia ou Peru lugares de onde ele comprava drogas e armas. O tráfico de drogas é um comércio muito lucrativo para os seus agentes, pois segundo a PCAM “João Branco” fazia movimentações de milhões de reais por mês. Segundo um gerente de “boca de fumo”, um quilograma de droga como a pasta base de cocaína em Manaus não se compra por menos de R$20 mil, e que antes era mais barato, mas depois que a Polícia Federal do Brasil (PFB) montou a Operação Sentinela na Fronteira principalmente nos municípios de Tabatinga e Santo Antônio do Içá no Alto Rio Solimões, ficou muito complicado o transporte de droga ilícitas vindas de países como Colômbia e Peru. Isso vem deixando o produto mais caro no mercado. A FDN também vende drogas produzidas em laboratórios (drogas sintéticas), como o Ecstasy e o LSD. Essas drogas são trocadas por cocaína ou pasta base de cocaína com traficantes de outros países, que formam uma rede internacional de tráfico de drogas ilícitas. Para o Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crimes (UNODC, 2014) o crime organizado é um grande vetor de desequilíbrio na segurança pública e uma barreira pra o desenvolvimento econômico e social das 46 sociedades pelo mundo, não importando a natureza desses eventos que vão desde o tráfico de drogas ilícitas ao trafico de pessoas. 4.3 Os Números de crimes de Homicídios na área da 14ªCICOM-2014 As análises foram realizadas com os registros de janeiro de 2014 à dezembro de 2014, fornecidas pelo Sistema Integrado de Segurança Pública (SISP)3. Dos 779 homicídios no ano de 2014 na cidade de Manaus, 51 aconteceram na área de policiamento da 14ªCICOM. Desses homicídios um foi motivado por latrocínio (roubo seguido de morte), os demais são homicídios dolosos (quando há intenção de matar uma pessoa), oriundos das disputas por territórios por facções criminosas do tráfico de drogas ilícitas do varejo. Para entendermos a dinâmica da densidade dos homicídios no lapso temporal supramencionado, foram confeccionados mapas de densidade dos locais do ano e posteriormente foram calculadas
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