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RESUMO LINGUA PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO II - aulas de 1 a 30

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RESUMO LINGUA PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO II - APs - AULAS 1 a 30 
RESUMO ELABORADO A PARTIR DOS TEXTOS DE CLAUDIA CAPELLO E MARISTELA 
BOTELHO FRANÇA. 
 
Resumo de Língua Portuguesa 2 – Aulas 1,2,3,4,5 e 6/7 
 
 
Aula 1 - Retomando a formação do aluno leitor 
 
Nas salas de aula do Brasil, prossegue o autor, as atividades de leitura, geralmente, são 
fragmentadas da seguinte forma: 
 
1) o texto é distribuído; os alunos esperam o próximo passo(alguns já o lêem, mas também 
esperam); 
 
2) o professor pede que leiam; os alunos lêem e esperam (alguns não lêem, apenas esperam o 
próximo movimento); 
 
3) o professor pede que alguns digam sobre o que foi lido; alguns o atendem e todos esperam o 
próximo passo; 
 
4) o professor pede que produzam um texto; os alunos passam a escrever um genérico texto e 
esperam o próximo passo (alguns se recusam a escrever; preferem apenas esperar) (PIVOVAR, 
2002, p. 100). 
 
 
 
LEITURA DIALÓGICA: ALUNO LEITOR = ALUNO AUTOR 
 
Todo aluno-leitor é, ao mesmo tempo, autor. Ao interpenetrar um texto, ele o faz articulando o dito 
com ditos anteriores armazenados em seu conhecimento de mundo, lingüístico, e de gêneros do 
discurso, atribuindo-lhe novo significado na instância da leitura. 
 
O ato de compreender é um ato de inserção, isto é, de inclusão de um sujeito em uma cadeia 
dialógica mais ampla. Analisando esse ponto de vista, verificamos, novamente, que a palavra é a 
ponte entre o aluno e a cidadania. 
 
Como você estabelece a relação entre a idéia de compreensão responsiva e a construção de 
cidadania? 
 
Em debate alguns autores: 
 
O primeiro, é MIKHAIL BAKHTIN, nos mostra que compreender textos é um processo em que 
estão presentes, tanto as palavras desse texto, quanto o nível de entendimento sobre elas, 
articuladas naquele contexto (significando ali, naquela produção textual) e levando em 
consideração, ainda, a visão social de mundo (valores, representações, costumes) e a visão que 
o outro (o autor do texto ou o seu enunciador) constrói sobre o modo de compreender e ver as 
coisas. 
 
O leitor toma atitudes diante do que lê, no sentido de explorar a complexidade de seu conteúdo 
(no plano do dito e do não-dito) e de responder às questões que daí surgem. 
 
 
 
UMA VISÃO AMPLIADA DE TEXTO 
 
As práticas de leitura que se baseiam na diversidade de linguagens, de autores e de suportes são 
aquelas que mais contribuem para a autonomia do leitor, na medida em que essas práticas o 
ajudam, diante da pluralidade de suportes, construções de enunciados e de sentidos possíveis, a 
fazer escolhas e a tomar posição a partir de critérios que se sustentam não apenas no plano 
lingüístico, mas também no plano das correlações não-verbais, imagéticas e sensoriais. 
 
 
 
Aula 2 - Linguagem e língua: cada coisa no seu lugar 
 
 
 
A LINGUAGEM COMO FACULDADE MENTAL 
 
Linguagem é uma faculdade mental, ou seja, é uma habilidade que se desenvolve no ser 
humano. Antes de aprendermos a usar as palavras, nos expressamos a partir de outros códigos, 
que nos permitem estabelecer uma comunicação com o mundo. Mais tarde, aprendemos a utilizar 
a linguagem verbal. Essa linguagem permite ao homem estabelecer uma forma refinada de 
comunicação, que só é possível graças à sua capacidade de desenvolver e dominar sistemas de 
signos. 
 
O domínio de um código verbal – que é o nosso sistema de signos lingüísticos – é fruto de um 
funcionamento intelectual que nos leva a uma importante conclusão: o desenvolvimento da 
linguagem está estreitamente ligado ao desenvolvimento intelectual e à estruturação do próprio 
pensamento. 
 
Vigotsky nos mostra que o ser humano, nos primeiros anos de vida, utiliza a fala para se 
relacionar com o mundo que o cerca. Com o passar do tempo, vai ampliando as estruturas 
lingüísticas, tanto na fala quanto no pensamento, mas a função social da fala já existe naquele 
primeiro momento, que podemos considerar como sendo a base pré-intelectual do seu 
desenvolvimento. 
 
 
 
LINGUAGEM E LÍNGUA 
 
Nos processos de comunicação, utiliza-se um veículo comum para estabelecer, de fato, a 
comunicação. Esse veículo comum é o que estamos chamando de código. 
 
Os códigos podem ser verbais e não verbais. 
 
O código verbal são normas que permitem a comunicação entre os usuários dessa língua. Os 
códigos não verbais, por sua vez, são aqueles que não estão associados a signos lingüísticos. 
Eles podem ser imagens, desenhos, fotos, símbolos, gestos, enfim, tudo quanto possibilite uma 
leitura de mundo. Assim, podemos dizer que linguagem é uma manifestação que se desenvolve 
no sentido de estabelecer a comunicação, enquanto a língua é uma forma de linguagem. 
 
A língua constitui-se de um sistema de signos, comum a um determinado grupo social, que pela 
prática da fala e da escrita passa a existir. Assim, a língua é, ao mesmo tempo, um fato social e 
um ato individual. 
 
A língua possui uma natureza mutável, já que evolui com o passar do tempo, em função do seu 
uso por diferentes comunidades lingüísticas. Essa característica faz da língua a principal 
manifestação da faculdade da linguagem. 
 
 
 
LÍNGUA ORAL E LÍNGUA ESCRITA 
 
A função social da língua se concretiza a partir da fala, que é a manifestação lingüística que supre 
as necessidades mais imediatas da comunicação. 
 
Os gestos, a expressão facial, a entonação formam um conjunto de apoio para a efetivação da 
compreensão, que vai desaparecer no uso da escrita. 
 
A língua escrita não é uma mera transcrição do que se fala. Podemos mesmo considerar a língua 
escrita como um instrumento fundamental na estruturação do pensamento reflexivo, em função 
do nível de organização e elaboração intelectual que exige, já que é uma manifestação somente 
pensada da linguagem e que trabalha no nível das representações mentais. 
 
Se a língua oral possibilita um contato imediato, a língua escrita concorre de forma determinante 
para a manutenção de uma forma de manifestação da identidade cultural de um povo. 
 
 
 
Aula 3 - Pensando a língua em termos de estrutura I 
 
 
 
SIGNIFICADOS DA PALAVRA ESTRUTURA 
 
Dicionário Aurélio: ESTRUTURA é... 
 
1. Disposição e ordem das partes de um todo. 
 
2. Disposição e ordem de uma obra literária; composição. 
 
3. O conjunto das partes de uma construção que se destinam a resistir a cargas; armação, 
esqueleto, arcabouço. 
 
4. Sistema que compreende elementos ordenados e relacionados entre si de forma dinâmica. 
 
A Lingüística é uma ciência da linguagem e o modo de relacionar língua e estrutura é resultante 
de um posicionamento epistemológico em face dessa ciência; ou seja, é fruto de um 
posicionamento sobre como se constrói o conhecimento sobre a natureza, o funcionamento e o 
uso da linguagem. 
 
 
 
LÍNGUA COMO SISTEMA DE SIGNOS OU “UNIDADES ABSTRATAS” 
 
O signo, é definido como a associação entre significante (imagem acústica) e significado 
(conceito). Nesse aspecto, é fundamental observar que a imagem acústica não se confunde com 
o som. Isso porque, assim como o conceito, ela é psíquica e não física. 
 
Se você comparar a imagem que reproduziu em forma de desenho com a que fez essa outra 
pessoa, notará diferenças. De acordo com a teoria de Saussure, porém, essas diferenças – assim 
como aquelas que poderão ser observadas no modo de pronunciar a palavra – não importam, 
pois será sempre o mesmo significado de “casa” ou “árvore” que virá à mente, quando se 
pronuncia ou se ouve essas palavras. O laço que une o significante ao significado é arbitrário, 
convencional e imotivado. Não existe motivo para que “carro” se chame “carro”. Mas uma vez que 
se atribua esse nome, ele passa a ter um valor na língua e a ser associado, no nosso cérebro, 
com idéia de carro, e não se pode chamar “carro” de “barco”. Na teoria de Saussure, esse 
sistema de signos, que é a língua, é formado de unidades abstratas e convencionais. 
 
As relações são estabelecidas entre as intenções e o querer dizer das pessoas expresso pelo 
modo como elas se apropriam das palavras da língua. 
 
Saussurefaz distinção entre língua e fala. Para o lingüista, a língua é um sistema abstrato, um 
fato social; a fala, ao contrário, é a realização concreta da língua pelo sujeito, sendo, por isso, 
circunstancial e variável. 
 
 
 
SISTEMA, ESTRUTURA E ESTRUTURALISMO: UM POUCO 
 
DE HISTÓRIA 
 
Segundo a tendência Positivista, para que um estudo ganhe o estatuto de ciência, é preciso que 
seu objeto seja passível de uma observação objetiva e sistemática a fim de, posteriormente, ser 
substituído por uma visão racional que constitui o principal caráter do espírito positivo. 
 
Com Saussure, a Lingüística ganha um objeto específico – a língua (separada de seu uso, ou 
seja, da fala) – cuja organização interna, reconhecida como um sistema de relações, atende a 
esse requisito de objetividade. Essa organização interna – sistema fonológico, morfológico e de 
signos – será aquilo que seus sucessores chamarão de estrutura, com a finalidade de enfatizar a 
idéia de que cada elemento da língua só adquire um valor quando se relaciona com o todo de que 
faz parte. 
 
Os métodos em que estruturas são exploradas através de exercícios de vocabulário, de 
gramática, de compreensão oral e escrita, em que a língua, explícita ou implicitamente, é vista 
apenas como um código; ou seja, é entendida como um conjunto de signos que se combinam 
segundo regras, para que se possa transmitir uma mensagem, isto é, informações de um emissor 
a um receptor. 
 
Desse modo, muitas vezes, no ensino da Língua Portuguesa, o trabalho com as estruturas 
lingüísticas separa a língua das pessoas e de um contexto social, afastando da prática 
pedagógica a possibilidade de contribuir para a formação do aluno cidadão. 
 
 
 
Aula 4 - Pensando a língua em termos de estrutura II 
 
 
 
CONCEITUANDO “IDEOLOGIA” 
 
A palavra ideologia pode ser definida como sinônimo de “falsa consciência”, isto é, como idéia ou 
idéias que, pertencendo a apenas uma classe, a dos donos do poder, visam a controlar os 
governos e as instituições. Ideologia como idéias, cujo efeito é de “mascaramento do real”. 
 
A busca por uma forma de racionalização, isto é, por uma forma convincente de justificar o 
domínio exercido por uma classe ou grupo dominante representa um dos significados com o qual 
o termo ideologia pode ser associado. Nesse sentido, ideologia se opõe à ciência e ao 
pensamento crítico. 
 
Léo Lince pode nos levar a ampliar a visão sobre o significado de ideologia: 
 
A ideologia dominante nestes tempos de eclipse do processo civilizatório é a ideologia da 
“desideologização”, ou seja, a ideologia que rejeita qualquer corpo de idéias que aspire, pela via 
do convencimento democrático, ordenar a vida social de uma maneira distinta daquela que serve 
aos desígnios e domínios de uma elite. 
 
Essa possibilidade de a palavra ideologia poder ser compreendida em sentido restrito ou 
negativo. 
 
 
 
SIGNO IDEOLÓGICO, ENUNCIADO, TEXTO 
 
E INTERAÇÃO VERBAL 
 
Na acepção que define ideologia como um conjunto de idéias, princípios e valores que refletem 
uma visão de mundo, orientando uma forma de ação. 
 
A linguagem é vista como um sistema de signos ideológicos de caráter dialógico. A teoria 
dialógica, já nas primeiras décadas do século XX, o estudo de Bakhtin problematiza a relação 
linguagem e sociedade. 
 
Para Bakhtin, o signo se constitui como uma atitude de uma pessoa em relação a algo e, para ser 
compreendido, exige também uma atitude-resposta (dialógica) de um outro indivíduo. Assim 
sendo, segundo essa concepção, o signo não se limita a encontrar seu sentido na relação que o 
opõe a um outro no interior do sistema lingüístico. A noção de signo configura-se 
ideologicamente, isto é, todo signo apresenta valor de cunho social e está fundado no ato 
humano. 
 
Essa constituição do signo (ideológico), sob a base de princípios e valores pessoais e sociais, 
desencadeia possibilidades que refletem e refratam visões de mundo, diferentes modos de agir, 
diferentes relações humanas empreendidas. A constituição parcial e a compreensão dos signos 
acontecem no processo de interação verbal, em que as pessoas realizam um exercício de 
aproximação entre o signo em observação e outros já conhecidos. 
 
Enquanto em certas abordagens estruturalistas, a língua é tomada como único objeto cuja 
gramática (em geral, normativa) deve ser ensinada, na abordagem de linguagem de orientação 
bakhtiniana, o foco recai sobre o enunciado, visto como unidade real da comunicação (não como 
uma convenção) que pode se constituir tanto sob a forma de trocas verbais como não-verbais. 
 
A linguagem deve ser entendida, como uma atividade dialógica que se funda na interação verbal. 
Nela, um locutor, a partir de um sistema de signos ideológicos, vai dialogar com os signos de um 
outro locutor por meio de um processo dinâmico que envolve aspectos verbais (modos de 
apropriação da língua) e não-verbais. 
 
 
 
GÊNEROS DE DISCURSO: AS ESTRUTURAS NOS USOS DA LÍNGUA 
 
De acordo com a perspectiva bakhtiniana que escolhemos apresentar, a linguagem não prevê a 
autonomia nem da estrutura nem do falante. A linguagem é uma construção dialógica dinâmica 
em que sempre atua uma memória histórica (a partir de experiências de mundo e de 
conhecimentos prévios, compartilhados entre as pessoas no plano lingüístico e textual). A 
observação dos usos da língua permite que apreendamos uma certa estruturação no movimento 
de construção dessa historicidade, decorrente das particularidades do processo interacional e das 
especificidades das condições concretas em que os enunciados se realizam (bula de remédios, 
revista em quadrinhos, propaganda, letra de música etc.). 
 
É preciso que se conheçam e que se explorem, em sala de aula, a dinâmica existente entre 
significado e tema, bem como entre gênero do discurso e estilo. Na relação dinâmica que se 
 
estabelece entre essas noções reside, na teoria de linguagem que acabamos de apresentar, a 
relação entre o nível do sistema de normas que regem os gênero de enunciados humanos e o 
nível das atualizações que ocorrem nas situações de uso, daquilo que pertence à história do 
desenvolvimento dos ditos. 
 
 
 
Aula 5 - Uso da língua1 – quando o sentido é... Sentidos 
 
 
 
A teoria dialógica da linguagem, por exemplo, propõe uma distinção entre significado e tema. A 
significação, corresponde aos elementos que são repetidos no ato enunciativo. Já o tema 
constitui-se no próprio ato, é único, não-reiterável e construído a partir de correlações que 
possuem uma história. 
 
A idéia de significação e tema são instâncias que vivem interdependentemente no ato enunciativo 
ou na enunciação. O tema depende da significação e vice-versa. 
 
O aspecto lingüístico do enunciado somente é considerado na relação com o tema. O que seriam 
as “mesmas palavras” tem significado diverso, ganhando vida a partir de diferentes orientações 
sociais, criadas no processo enunciativo, que apontam para diferentes aspectos como diferentes 
interlocutores, diferentes intenções, situações etc. 
 
“Somente a enunciação tomada em toda a sua amplitude concreta, como fenômeno histórico, 
possui um tema. (...) O tema é um sistema de signos dinâmico e complexo (...) A significação é 
um aparato técnico para a realização do tema.” (BAKHTIN, 1929/1988, p. 129) 
 
O tema, é importante que o aluno vise ao sentido contextual e histórico de uma dada palavra, nas 
condições de uma enunciação concreta. O estudo de significação, deve recorrer à pesquisa do 
sentido da palavra no sistema da língua. Encontrar um sentido possível é identificar esses dois 
níveis e estabelecer relação entre eles em uma situação concreta, formulando a questão sobre 
como se está construindo esse sentido no enunciado. Essas considerações parecem explicar por 
que razão, mesmo falando uma mesma língua, em uma mesma região, às vezes, acontece não 
sermos entendidos do modo como queríamos. 
 
No processo de construção de sentido, nosso interlocutor, com base em elementos histórico-
sociais, aciona uma “memória discursiva” quepode levá-lo a construções temáticas diferentes 
daquelas que imaginamos alcançar. 
 
Uma prática comum no ofício de professor: a elaboração de enunciados de prova e as correções 
efetuadas. Devemos ter cuidado na elaboração de questões. O significado das palavras em si 
não são garantia para orientar o aluno na direção da resposta certa. Por essa razão, a correção 
deve ser dialógica, no sentido de levar o aluno a rever a construção que fez no plano do tema. 
Essa conduta, além de tirar o desconforto vivido pelos alunos com respeito à incoerência do 
professor de português, poderá levá-lo a testar hipóteses sobre o sentido que está construindo, 
revendo suas escolhas no plano do significado das palavras. 
 
 
 
Aula 6/7 - Uso da língua 2 – quando a estrutura ganha focos diferenciados – funções da 
linguagem 
 
 
 
ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 
 
É importante termos sempre claro que a efetivação da comunicação só ocorre na medida em que 
há entendimento do que se diz. Esse entendimento, é o resultado do processo de comunicação. 
Esse processo, por sua vez, precisa de alguns elementos para acontecer. São os já conhecidos 
elementos da comunicação. 
 
A comunicação se processa a partir da existência de um emissor – aquele de quem parte a 
intenção comunicante – , que destina sua mensagem – a própria essência do que será 
comunicado – a um destinatário – aquele que recebe a mensagem. Essa mensagem chega ao 
destinatário através de um canal – que é o meio utilizado para enviar a mensagem: o telefone, a 
internet, a carta – , registrada num determinado código – um sistema organizado, como o verbal, 
no caso da língua – e gerada num determinado contexto (referente) – que é a referência da 
mensagem. 
 
 
 
FUNÇÕES DA LINGUAGEM 
 
Karl Bühler, apontava três funções da linguagem: a representativa, em que a informação objetiva 
predomina; a expressiva, que dá ênfase ao emissor da mensagem; e a apelativa, que centra seu 
foco no destinatário.Mais tarde, o esquema desenvolvido por Bühler foi ampliado pelo lingüista 
Roman Jakobson, que manteve as funções apontadas por aquele, mas deu-lhes nomes 
diferentes, e acrescentou mais três. 
 
A referencial, que enfatiza o contexto, ou referente; a emotiva, centrada no emissor; a conativa, 
focada no destinatário; a fática, que dá relevo ao canal; a poética, que privilegia a mensagem; e a 
metalingüística, que dá prevalência ao código. 
 
As funções não ocorrem exclusivamente em cada discurso, isto é, várias ou todas podem estar 
presentes em determinado enunciado. O que geralmente acontece é a predominância de uma 
delas. Isso vai ser observado mais especificamente de acordo com a intenção do discurso 
emitido. 
 
Gillian Brown e George Yule, chegaram a duas funções da linguagem. A divisão por eles feita 
mostra uma preocupação com o fato lingüístico, sob a perspectiva de sua ocorrência e de sua 
propriedade dinâmica. Essa preocupação resultou numa divisão que separa as funções da 
linguagem de maneira mais abrangente: 
 
1- Transacional 
 
2- Interacional aquela que expressa relações sociais e atitudes pessoais. 
 
Podemos dizer que a função transacional é centrada numa perspectiva cognitiva, enquanto a 
interacional tem um caráter pragmático. Esse caráter pragmático é o que leva em conta a atuação 
da língua sobre o destinatário, dentro de um determinado contexto. Vários são os elementos 
lingüísticos capazes de atuar no receptor da mensagem: o léxico, ou seja, a seleção vocabular; a 
construção sintática; os recursos estilísticos; as estratégias semântico-pragmáticas. Cada um 
desses elementos tem uma atuação específica, com um objetivo determinado. 
 
Do ponto de vista do uso lexical, a escolha de uma determinada palavra pode alterar a recepção 
da mensagem. 
 
Quando se trata da ótica sintático-estilística, a arrumação das palavras numa frase revela a 
intenção do falante, que busca dar mais ênfase em determinada informação. 
 
As estratégias semântico-pragmáticas estão diretamente relacionadas à necessidade de 
persuasão. Tem uma forte ligação com a capacidade de argumentação do emissor. Há várias 
maneiras de se obter o efeito persuasivo num determinado enunciado. Nesse sentido, os atos 
discursivos nem sempre são diretos. Eles podem lançar mão de vários recursos para enunciar 
uma mensagem. 
 
Resumo de Língua Portuguesa 2 – aulas 8,9/10,11,12 e 13 
 
 
Aula 8 - Uso da língua 3 – a oralidade e o texto: vícios de linguagem? 
 
 
 
Barbarismo é o nome que a gramática dá a um determinado vício de linguagem, como o cometido 
na situação ilustrada. A definição de barbarismo é todo desvio da norma que ocorre em alguns 
níveis do uso da língua: o da grafia, o da pronúncia, o da morfologia e o da semântica. 
 
 
 
Dependendo do nível em que o desvio ocorre, a mensagem pode ou não ficar prejudicada. 
 
Com relação ao desvio morfológico, pode acontecer de o destinatário não identificar com clareza 
sua intenção comunicante – ou porque você utilizou uma forma absolutamente incompreensível, 
ou porque, ainda que compreensível, ela se confunde com outra. Nesse caso, pode haver o 
comprometimento do processo de comunicação. Esse comprometimento fica ainda mais sério 
quando o desvio ocorre no nível semântico. Nesse caso, estamos diante do que chamamos de 
“paronímia”, ou seja, palavras muito parecidas, mas com significados diferentes, que podem ser 
usadas inadequadamente. 
 
Expressões antigas, chamamos “arcaísmo”. O arcaísmo é outro “vício de linguagem” identificado 
pela gramática, e podemos considerá-lo um dos candidatos ao prejuízo do processo 
comunicativo. Não se trata de desqualificar o falante, mas de impedir que o interlocutor receba a 
mensagem, pois não se pode exigir que as pessoas conheçam vocábulos que a língua já 
abandonou. 
 
Freqüentemente colocamos o sujeito depois do verbo. Esse desvio não compromete a 
comunicação. Por outro lado, ela pode funcionar como um fator de desqualificação do falante. 
 
Tudo depende, também, da adequação a um determinado contexto daquilo que se fala. Numa 
conversa informal, esse deslize pode passar despercebido. Entretanto, num texto formal, ou 
mesmo numa situação de oralidade em que a formalidade deve ser levada em conta, ele depõe 
contra o emissor... 
 
O “solecismo” inclui desvios na sintaxe, como concordância, regência e colocação de pronomes. 
Em nenhuma das três situações há comprometimento da mensagem. 
 
O “cacófato” ocorre sempre que juntamos duas ou mais palavras da frase, produzindo um som 
desagradável. Deve-se evitar o cacófato, mas ele não compromete o processo de comunicação. 
É uma ocorrência eminentemente fonética, ou seja, da ordem do som das palavras. 
 
“Eco”, um vício de linguagem resultante da dissonância que o uso de terminações iguais ou 
semelhantes pode causar. 
 
“redundância”, caracterizada pela repetição desnecessária de uma informação. É aquela 
construção que, sem perceber, utilizamos, mas identificamos imediatamente quando ouvimos. 
 
Há utilizações mais complexas, em que a redundância fica mais sutil, e, por isso mesmo, causa a 
impressão de que o emissor está querendo “enrolar”... Contudo, não há prejuízo para a 
mensagem. 
 
Quando o que se diz gera confusão e admite mais de uma interpretação, dizemos que temos um 
enunciado com ambigüidade. Esse vício de linguagem pode ser um impedimento à compreensão 
de uma mensagem. A ambigüidade, portanto, é um dos vícios de linguagem cuja ocorrência é 
fatal no processo de comunicação. 
 
Obscuridade acontece quando a mensagem fica difícil de ser entendida por problemas em sua 
construção. 
 
Assim como a ambigüidade, a obscuridade é um empecilho ao processo comunicativo. 
 
 
 
 
 
Aula 9/10 - Uso da língua 4 – quando o estilo entra no discurso – algumas estratégias 
 
 
 
Há um sem-número de estratégias estilísticas, ligadas, sobretudo, aos textos literários. 
 
São procedimentos discursivos capazes de diferenciar a fala de quem os utiliza e, principalmente, 
de dar mais ou menos relevo a determinadas informações, o que faz com que seusenunciados 
obtenham um resultado especial, de acordo com objetivos preestabelecidos. 
 
Assim como os chamados “vícios de linguagem”, as estratégias são também “desvios” em relação 
à língua considerada padrão – a já tão falada norma-padrão. Só que, agora, esses “desvios” são 
provocados pelo usuário, ou seja, ele até conhece a norma-padrão, mas quer criar um discurso 
mais expressivo, diferente, novo, e o faz através desses desvios, que se convencionou chamar 
“figuras de linguagem”. 
 
Metáfora É uma forma de criar uma identificação entre dois elementos, partindo do significado de 
um deles para emprestá-lo ao outro. Pode acontecer de nos depararmos com metáforas que nem 
sempre somos capazes de compreender, uma vez que a relação de similaridade não nos fica 
clara. Isso pode, inclusive, ser parte de uma estratégia discursiva. Muitas vezes, falando por 
metáforas, garantimos que apenas alguns vão captar o que estamos querendo dizer. 
 
A metáfora, muito presente em textos literários, faz parte, também, de nosso cotidiano. Podemos 
usar metáforas tanto em textos formais como em situações informais. É uma estratégia estilística 
que se estende à fala, não estando restrita à escrita. 
 
Uma forma muito conhecida de metonímia é transformar a marca de um produto em seu nome, 
fazendo com que esse produto passe a ser conhecido pelo nome da marca, que vira, nesse 
momento, um substantivo comum. Há, ainda, uma outra forma de utilizar essa estratégia 
estilística. Pode-se dizer que é uma maneira mais lírica, bastante ligada aos textos literários. É 
quando usamos uma palavra com o significado de outra em razão de uma relação de proximidade 
entre aquilo que elas significam. 
 
A música de Oswaldo Montenegro “Canta uma canção bonita, falando da vida em ré maior/ canta 
uma canção daquela de filosofia e um mundo bem melhor”... Como música que é, parte de uma 
letra lírica, que, por si só, já tem uma série de implicações significativas. O efeito obtido com a 
repetição da idéia expressa pelo verbo cantar e pelo substantivo canção é o de ênfase na ação 
que o poeta quer passar. Ao dizer canta uma canção, ele emprega duas palavras do mesmo 
campo semântico, cujos significados são repetidos. Não é uma redundância, mas um pleonasmo. 
 
O eufemismo, tem como objetivo atenuar, suavizar uma informação ou uma expressão chocante, 
desagradável, impactante. 
 
Hipérbole, uma figura que consiste em se expressar, por meio do exagero, uma determinada 
idéia. O exagero da expressão enfatiza a sensação que a falante quer transmitir. Essa estratégia 
é largamente utilizada em todo tipo de situação comunicacional, desde o texto literário até as 
conversas mais informais. Fica claro que a opção por uma fala que lance 
 
mão da hipérbole identifica o falante como alguém muito expressivo, que gosta de enfatizar o que 
diz. Na literatura, ocorre algo semelhante. A opção por uma expressão hiperbólica tem o objetivo 
da ênfase, e estará vinculada à intenção significativa que o texto traz consigo. 
 
A antítese tem como efeito um impacto sobre o ouvinte/leitor, na medida em que explicita a 
relação de oposição que as idéias confrontadas carregam. Esse procedimento não é uma 
exclusividade da literatura – embora seja largamente utilizado nesse âmbito – mas uma 
possibilidade a qualquer ato de fala. O que se mantém é o objetivo de impactar, que tanto existe 
no texto literário quanto na fala ou na escrita informal. A antítese, contudo, é muito confundida 
com uma outra figura de linguagem – o paradoxo. 
 
Antítese é o confronto de idéias opostas. 
 
Paradoxo é a utilização de idéias opostas como se fossem equivalentes. 
 
Paradoxo é fruto de um objetivo diferente: o de criar um estranhamento, de modo a permitir um 
alargamento de sentido que a antítese não exige. 
 
A ironia é uma figura de linguagem em que uma palavra ou expressão ganha significado oposto 
ao que normalmente se atribui a ela. Também consideramos ironia não apenas a utilização de 
palavra ou expressão que tenha o objetivo do deboche, mas qualquer situação em que a intenção 
é de sátira. 
 
Na fala, a ironia ganha um relevo diferenciado, pois, geralmente, vem acompanhada de 
expressões faciais e de recursos gestuais que denunciam a intenção comunicante do usuário. 
 
Na literatura, a ironia tem um efeito corrosivo, isto é, ao suscitar o riso como resultado de seu 
emprego, ela desestrutura verdades até então tidas como inquestionáveis. 
 
Quando fazemos concordâncias, que na verdade se efetuam com palavras ou idéias 
pressupostas, mas não explícitas, no enunciado, estamos lançando mão da silepse. A silepse, 
portanto, consiste em concordâncias com termos que deduzimos existir na frase, deixando de 
lado os que de fato estão ali. A silepse não se restringe ao uso literário. 
 
 
 
Aula 11 - Uso da língua 5 – quando a leitura faz o discurso –o texto publicitário 
 
 
 
O texto publicitário é, na verdade, a conjugação de tipos diferentes de texto, e a leitura dessa 
congeminação textual é que vai gerar sentidos. Portanto, o leitor, ou receptor da mensagem, será 
o construtor daquilo que estará sendo dito. Isso permite dizer que há vários níveis de 
entendimento num texto publicitário – como, aliás, acontece com os textos, de um modo geral. 
 
A instrumentalização dos recursos que vimos nas aulas anteriores permite que se chegue a 
diferentes objetivos, ou, no mínimo, que se obtenha efeitos diversos. 
 
Todos níveis de leitura dependem de informações prévias que o leitor pode ou não ter. 
 
Quanto mais profunda a leitura, maior o nível de domínio da informação. 
 
Em muitos casos, a leitura faz o discurso, o texto publicitário é um exemplo. 
 
Uma vez que se dirige ao leitor, instiga-o, provoca-o, e quer convencê-lo da qualidade e da 
veracidade daquilo que veicula, e, para tanto, lança mão de diversos recursos. Esses recursos 
criam níveis possíveis de leitura, e, para cada leitor, uma possibilidade nova se concretiza. Por 
isso dizemos que o discurso será construído pela geração de sentidos que a leitura empreenderá. 
 
 
 
Aula 12 - Uso da língua 6 – quando a leitura canta e encanta – o texto de letras de música 
 
 
 
A música – considerada também uma manifestação da linguagem – pode servir a determinados 
objetivos da comunicação e está estreitamente ligada ao processo de aquisição da cidadania e da 
construção de uma identidade cultural. É importante lembrar que a linguagem, como faculdade 
mental, tem várias manifestações possíveis. O mesmo se pode dizer a respeito da música. 
 
Ao escutar uma canção em outra língua que não seja a nossa, e que você não compreenda, a 
música passa a determinar, de certa forma, o significado intuído do que você está ouvindo. Desse 
modo, se o ritmo é de rock and roll no estilo heavy metal, a tendência é imaginar que a letra não 
tem relação com uma canção romântica, por exemplo. Do mesmo modo, se a música é lenta, 
com um instrumental clássico, imediatamente associa-se a canção com uma história de amor. 
 
Isso ocorre porque relacionamos a manifestação representada pela música com uma forma de 
expressão de sentimentos, o que, de fato, é verdade. A letra de uma canção é uma mensagem e 
faz parte de um processo de comunicação, com objetivos que podem estar claros ou não. Tudo 
vai depender da intenção que permeia esse processo e do contexto em que ele se desenvolve. 
 
O momento histórico, assim como a experiência pessoal, o contexto, o ambiente, o corte social, 
todos esses fatores estão relacionados à composição. 
 
Também é relevante observar quem consome qual tipo de canção. Esse tipo de observação pode 
nos ajudar a compreender melhor o processo de construção da identidade cultural a partir da 
música. 
 
O processo de comunicação, no caso das letras de música, está também associado ao ritmo, e 
os recursos lingüísticos de que dispomos podem fazer uma grande diferença na transmissão da 
mensagem. 
 
 
 
Aula 13 - Uso da língua 7– a leitura para além dos bancos escolares 
 
 
 
A vida prática, o nosso dia-a-dia,pressupõe a capacidade de decodificar uma série de textos que 
nos cercam e que fazem parte da realidade social em que estamos inseridos. Não se trata de ler 
um livro ou de ouvir uma música como forma de entretenimento ou alargamento do universo 
cultural. Trata-se de vivenciar o cotidiano de maneira independente, sem que seja necessário um 
mediador para possibilitar atividades básicas, como locomoção, alimentação, tratamento de 
saúde. 
 
Nesse sentido, podemos considerar que desenvolver as habilidades de leitura é uma questão de 
sobrevivência. 
 
Menos crítica, embora também grave, é a situação dos cidadãos considerados alfabetizados – 
porque são capazes de juntar letras – , mas inaptos a realizar uma leitura plena de um texto, 
qualquer que seja ele. Essa ausência do letramento – que não pode ser confundido com a 
simples alfabetização – acaba por transformar esse cidadão em uma espécie de estrangeiro em 
sua própria terra. 
 
Sabendo que letramento é a capacidade de estabelecer a comunicação a partir do domínio de 
diferentes códigos, podemos afirmar, sem susto, que o cidadão não letrado corre o risco de ficar à 
margem do processo sociocultural. Assim, a aquisição das estruturas lingüísticas, que é uma das 
manifestações da linguagem, passa a ser uma questão com implicações para além dos bancos 
escolares. Mais do que ler plenamente um texto literário, é necessário que o usuário da língua 
possa decodificá-la de forma proficiente em todas as situações que fazem parte de sua vida. 
 
Há palavras que não são compreendidas porque simplesmente não fazem parte da realidade de 
muitos dos usuários da nossa língua, seja do ponto de vista do uso, seja do ponto de vista da 
vivência. 
 
Há palavras que não são entendidas porque, embora nomeiem objetos conhecidos dos usuários, 
são substituídas por sinônimos, e há outras que não são conhecidas porque nomeiam coisas com 
as quais esse usuário jamais teve contato. Assim, temos dificuldades diferentes: uma, de ordem 
estritamente lingüística, que diz respeito ao desconhecimento da palavra; outra, de ordem 
socioeconômica, que está relacionada às questões sociais que explicam o fato de um cidadão 
não conhecer, por exemplo, o prato da culinária italiana. 
 
Ao percebermos que uma receita culinária ou uma bula de remédio, por exemplo, podem se 
tornar um desafio para alguém, estamos reiterando a idéia de que a leitura de mundo não pode 
ser confundida com o simples “juntar letras.” Enquanto aceitarmos, como professores, um ensino 
descritivo da língua portuguesa como informação suficiente para o domínio dessa mesma língua, 
estaremos insistindo num equívoco – quando não num engodo – que só entrava a conquista da 
plena cidadania. 
 
Resumo de Língua Portuguesa 2 – aulas 8,9/10,11,12 e 13 
Aula 8 - Uso da língua 3 – a oralidade e o texto: vícios de linguagem? 
 
Barbarismo é o nome que a gramática dá a um determinado vício de linguagem, como o cometido 
na situação ilustrada. A definição de barbarismo é todo desvio da norma que ocorre em alguns 
níveis do uso da língua: o da grafia, o da pronúncia, o da morfologia e o da semântica. 
Dependendo do nível em que o desvio ocorre, a mensagem pode ou não ficar prejudicada. 
Com relação ao desvio morfológico, pode acontecer de o destinatário não identificar com clareza 
sua intenção comunicante – ou porque você utilizou uma forma absolutamente incompreensível, 
ou porque, ainda que compreensível, ela se confunde com outra. Nesse caso, pode haver o 
comprometimento do processo de comunicação. Esse comprometimento fica ainda mais sério 
quando o desvio ocorre no nível semântico. Nesse caso, estamos diante do que chamamos de 
“paronímia”, ou seja, palavras muito parecidas, mas com significados diferentes, que podem ser 
usadas inadequadamente. 
Expressões antigas, chamamos “arcaísmo”. O arcaísmo é outro “vício de linguagem” identificado 
pela gramática, e podemos considerá-lo um dos candidatos ao prejuízo do processo 
comunicativo. Não se trata de desqualificar o falante, mas de impedir que o interlocutor receba a 
mensagem, pois não se pode exigir que as pessoas conheçam vocábulos que a língua já 
abandonou. 
Freqüentemente colocamos o sujeito depois do verbo. Esse desvio não compromete a 
comunicação. Por outro lado, ela pode funcionar como um fator de desqualificação do falante. 
Tudo depende, também, da adequação a um determinado contexto daquilo que se fala. Numa 
conversa informal, esse deslize pode passar despercebido. Entretanto, num texto formal, ou 
mesmo numa situação de oralidade em que a formalidade deve ser levada em conta, ele depõe 
contra o emissor... 
O “solecismo” inclui desvios na sintaxe, como concordância, regência e colocação de pronomes. 
Em nenhuma das três situações há comprometimento da mensagem. 
O “cacófato” ocorre sempre que juntamos duas ou mais palavras da frase, produzindo um som 
desagradável. Deve-se evitar o cacófato, mas ele não compromete o processo de comunicação. 
É uma ocorrência eminentemente fonética, ou seja, da ordem do som das palavras. 
“Eco”, um vício de linguagem resultante da dissonância que o uso de terminações iguais ou 
semelhantes pode causar. 
“redundância”, caracterizada pela repetição desnecessária de uma informação. É aquela 
construção que, sem perceber, utilizamos, mas identificamos imediatamente quando ouvimos. 
Há utilizações mais complexas, em que a redundância fica mais sutil, e, por isso mesmo, causa a 
impressão de que o emissor está querendo “enrolar”... Contudo, não há prejuízo para a 
mensagem. 
Quando o que se diz gera confusão e admite mais de uma interpretação, dizemos que temos um 
enunciado com ambigüidade. Esse vício de linguagem pode ser um impedimento à compreensão 
de uma mensagem. A ambigüidade, portanto, é um dos vícios de linguagem cuja ocorrência é 
fatal no processo de comunicação. 
Obscuridade acontece quando a mensagem fica difícil de ser entendida por problemas em sua 
construção. 
Assim como a ambigüidade, a obscuridade é um empecilho ao processo comunicativo. 
 
Aula 9/10 - Uso da língua 4 – quando o estilo entra no discurso – algumas estratégias 
 
Há um sem-número de estratégias estilísticas, ligadas, sobretudo, aos textos literários. 
São procedimentos discursivos capazes de diferenciar a fala de quem os utiliza e, principalmente, 
de dar mais ou menos relevo a determinadas informações, o que faz com que seus enunciados 
obtenham um resultado especial, de acordo com objetivos preestabelecidos. 
Assim como os chamados “vícios de linguagem”, as estratégias são também “desvios” em relação 
à língua considerada padrão – a já tão falada norma-padrão. Só que, agora, esses “desvios” são 
provocados pelo usuário, ou seja, ele até conhece a norma-padrão, mas quer criar um discurso 
mais expressivo, diferente, novo, e o faz através desses desvios, que se convencionou chamar 
“figuras de linguagem”. 
Metáfora É uma forma de criar uma identificação entre dois elementos, partindo do significado de 
um deles para emprestá-lo ao outro. Pode acontecer de nos depararmos com metáforas que nem 
sempre somos capazes de compreender, uma vez que a relação de similaridade não nos fica 
clara. Isso pode, inclusive, ser parte de uma estratégia discursiva. Muitas vezes, falando por 
metáforas, garantimos que apenas alguns vão captar o que estamos querendo dizer. 
A metáfora, muito presente em textos literários, faz parte, também, de nosso cotidiano. Podemos 
usar metáforas tanto em textos formais como em situações informais. É uma estratégia estilística 
que se estende à fala, não estando restrita à escrita. 
Uma forma muito conhecida de metonímia é transformar a marca de um produto em seu nome, 
fazendo com que esse produto passe a ser conhecido pelo nome da marca, que vira, nesse 
momento, um substantivo comum. Há, ainda, uma outra forma de utilizar essa estratégia 
estilística. Pode-se dizer que é uma maneira mais lírica, bastante ligada aos textos literários. É 
quando usamos uma palavra com o significado de outra em razão de uma relaçãode proximidade 
entre aquilo que elas significam. 
A música de Oswaldo Montenegro “Canta uma canção bonita, falando da vida em ré maior/ canta 
uma canção daquela de filosofia e um mundo bem melhor”... Como música que é, parte de uma 
letra lírica, que, por si só, já tem uma série de implicações significativas. O efeito obtido com a 
repetição da idéia expressa pelo verbo cantar e pelo substantivo canção é o de ênfase na ação 
que o poeta quer passar. Ao dizer canta uma canção, ele emprega duas palavras do mesmo 
campo semântico, cujos significados são repetidos. Não é uma redundância, mas um pleonasmo. 
O eufemismo, tem como objetivo atenuar, suavizar uma informação ou uma expressão chocante, 
desagradável, impactante. 
Hipérbole, uma figura que consiste em se expressar, por meio do exagero, uma determinada 
idéia. O exagero da expressão enfatiza a sensação que a falante quer transmitir. Essa estratégia 
é largamente utilizada em todo tipo de situação comunicacional, desde o texto literário até as 
conversas mais informais. Fica claro que a opção por uma fala que lance 
mão da hipérbole identifica o falante como alguém muito expressivo, que gosta de enfatizar o que 
diz. Na literatura, ocorre algo semelhante. A opção por uma expressão hiperbólica tem o objetivo 
da ênfase, e estará vinculada à intenção significativa que o texto traz consigo. 
A antítese tem como efeito um impacto sobre o ouvinte/leitor, na medida em que explicita a 
relação de oposição que as idéias confrontadas carregam. Esse procedimento não é uma 
exclusividade da literatura – embora seja largamente utilizado nesse âmbito – mas uma 
possibilidade a qualquer ato de fala. O que se mantém é o objetivo de impactar, que tanto existe 
no texto literário quanto na fala ou na escrita informal. A antítese, contudo, é muito confundida 
com uma outra figura de linguagem – o paradoxo. 
→Antítese é o confronto de idéias opostas. 
→Paradoxo é a utilização de idéias opostas como se fossem equivalentes. 
Paradoxo é fruto de um objetivo diferente: o de criar um estranhamento, de modo a permitir um 
alargamento de sentido que a antítese não exige. 
A ironia é uma figura de linguagem em que uma palavra ou expressão ganha significado oposto 
ao que normalmente se atribui a ela. Também consideramos ironia não apenas a utilização de 
palavra ou expressão que tenha o objetivo do deboche, mas qualquer situação em que a intenção 
é de sátira. 
Na fala, a ironia ganha um relevo diferenciado, pois, geralmente, vem acompanhada de 
expressões faciais e de recursos gestuais que denunciam a intenção comunicante do usuário. 
Na literatura, a ironia tem um efeito corrosivo, isto é, ao suscitar o riso como resultado de seu 
emprego, ela desestrutura verdades até então tidas como inquestionáveis. 
Quando fazemos concordâncias, que na verdade se efetuam com palavras ou idéias 
pressupostas, mas não explícitas, no enunciado, estamos lançando mão da silepse. A silepse, 
portanto, consiste em concordâncias com termos que deduzimos existir na frase, deixando de 
lado os que de fato estão ali. A silepse não se restringe ao uso literário. 
 
Aula 11 - Uso da língua 5 – quando a leitura faz o discurso –o texto publicitário 
 
O texto publicitário é, na verdade, a conjugação de tipos diferentes de texto, e a leitura dessa 
congeminação textual é que vai gerar sentidos. Portanto, o leitor, ou receptor da mensagem, será 
o construtor daquilo que estará sendo dito. Isso permite dizer que há vários níveis de 
entendimento num texto publicitário – como, aliás, acontece com os textos, de um modo geral. 
A instrumentalização dos recursos que vimos nas aulas anteriores permite que se chegue a 
diferentes objetivos, ou, no mínimo, que se obtenha efeitos diversos. 
Todos níveis de leitura dependem de informações prévias que o leitor pode ou não ter. 
Quanto mais profunda a leitura, maior o nível de domínio da informação. 
Em muitos casos, a leitura faz o discurso, o texto publicitário é um exemplo. 
Uma vez que se dirige ao leitor, instiga-o, provoca-o, e quer convencê-lo da qualidade e da 
veracidade daquilo que veicula, e, para tanto, lança mão de diversos recursos. Esses recursos 
criam níveis possíveis de leitura, e, para cada leitor, uma possibilidade nova se concretiza. Por 
isso dizemos que o discurso será construído pela geração de sentidos que a leitura empreenderá. 
 
Aula 12 - Uso da língua 6 – quando a leitura canta e encanta – o texto de letras de música 
 
A música – considerada também uma manifestação da linguagem – pode servir a determinados 
objetivos da comunicação e está estreitamente ligada ao processo de aquisição da cidadania e da 
construção de uma identidade cultural. É importante lembrar que a linguagem, como faculdade 
mental, tem várias manifestações possíveis. O mesmo se pode dizer a respeito da música. 
Ao escutar uma canção em outra língua que não seja a nossa, e que você não compreenda, a 
música passa a determinar, de certa forma, o significado intuído do que você está ouvindo. Desse 
modo, se o ritmo é de rock and roll no estilo heavy metal, a tendência é imaginar que a letra não 
tem relação com uma canção romântica, por exemplo. Do mesmo modo, se a música é lenta, 
com um instrumental clássico, imediatamente associa-se a canção com uma história de amor. 
Isso ocorre porque relacionamos a manifestação representada pela música com uma forma de 
expressão de sentimentos, o que, de fato, é verdade. A letra de uma canção é uma mensagem e 
faz parte de um processo de comunicação, com objetivos que podem estar claros ou não. Tudo 
vai depender da intenção que permeia esse processo e do contexto em que ele se desenvolve. 
O momento histórico, assim como a experiência pessoal, o contexto, o ambiente, o corte social, 
todos esses fatores estão relacionados à composição. 
Também é relevante observar quem consome qual tipo de canção. Esse tipo de observação pode 
nos ajudar a compreender melhor o processo de construção da identidade cultural a partir da 
música. 
O processo de comunicação, no caso das letras de música, está também associado ao ritmo, e 
os recursos lingüísticos de que dispomos podem fazer uma grande diferença na transmissão da 
mensagem. 
 
Aula 13 - Uso da língua 7– a leitura para além dos bancos escolares 
 
A vida prática, o nosso dia-a-dia, pressupõe a capacidade de decodificar uma série de textos que 
nos cercam e que fazem parte da realidade social em que estamos inseridos. Não se trata de ler 
um livro ou de ouvir uma música como forma de entretenimento ou alargamento do universo 
cultural. Trata-se de vivenciar o cotidiano de maneira independente, sem que seja necessário um 
mediador para possibilitar atividades básicas, como locomoção, alimentação, tratamento de 
saúde. 
Nesse sentido, podemos considerar que desenvolver as habilidades de leitura é uma questão de 
sobrevivência. 
Menos crítica, embora também grave, é a situação dos cidadãos considerados alfabetizados – 
porque são capazes de juntar letras – , mas inaptos a realizar uma leitura plena de um texto, 
qualquer que seja ele. Essa ausência do letramento – que não pode ser confundido com a 
simples alfabetização – acaba por transformar esse cidadão em uma espécie de estrangeiro em 
sua própria terra. 
Sabendo que letramento é a capacidade de estabelecer a comunicação a partir do domínio de 
diferentes códigos, podemos afirmar, sem susto, que o cidadão não letrado corre o risco de ficar à 
margem do processo sociocultural. Assim, a aquisição das estruturas lingüísticas, que é uma das 
manifestações da linguagem, passa a ser uma questão com implicações para além dos bancos 
escolares. Mais do que ler plenamente um texto literário, é necessário que o usuário da língua 
possa decodificá-la de forma proficiente em todas as situações que fazem parte de sua vida. 
Há palavras que não são compreendidas porque simplesmente não fazem parte da realidade de 
muitos dos usuários da nossa língua, seja do ponto de vista do uso, seja do ponto de vista da 
vivência. 
Há palavrasque não são entendidas porque, embora nomeiem objetos conhecidos dos usuários, 
são substituídas por sinônimos, e há outras que não são conhecidas porque nomeiam coisas com 
as quais esse usuário jamais teve contato. Assim, temos dificuldades diferentes: uma, de ordem 
estritamente lingüística, que diz respeito ao desconhecimento da palavra; outra, de ordem 
socioeconômica, que está relacionada às questões sociais que explicam o fato de um cidadão 
não conhecer, por exemplo, o prato da culinária italiana. 
Ao percebermos que uma receita culinária ou uma bula de remédio, por exemplo, podem se 
tornar um desafio para alguém, estamos reiterando a idéia de que a leitura de mundo não pode 
ser confundida com o simples “juntar letras.” Enquanto aceitarmos, como professores, um ensino 
descritivo da língua portuguesa como informação suficiente para o domínio dessa mesma língua, 
estaremos insistindo num equívoco – quando não num engodo – que só entrava a conquista da 
plena cidadania. 
 
Resumo de LP2 – Aula 14/15,16,17,18,19,20,21,22e23 
Aula 14/15 - Pondo a mão na massa 1 
A utilização de recursos estilísticos, ainda que possível em qualquer tipo de texto, fica mais 
patente nos textos literários. 
Letras de músicas, essas letras são poemas, que recebem uma melodia. 
Ainda falando sobre as letras de canções, tem um tipo de composição que se caracteriza por 
empreender crítica explícita a uma série de mazelas sociais e políticas. Essas composições 
identificam as novas gerações e têm como marca o ritmo contínuo e a letra quase recitada. O rap 
é o exemplo. 
Há muitos outros tipos de texto com que lidamos diariamente e, como esses que vimos, nem 
sempre há garantias de que eles serão plenamente entendidos por todos. Por isso, refletir a 
respeito da aquisição das habilidades lingüísticas como forma de reivindicar a cidadania e 
conquistar um espaço na sociedade continua sendo objeto de nossas preocupações. 
 
Aula 16 - O conhecimento prévio e os gêneros do discurso 
Quando lemos um texto, resgatamos os conhecimentos que adquirimos em outras 
leituras/vivências para contextualizá-lo e interpretá-lo adequadamente. É isso que chamamos de 
CONHECIMENTO PRÉVIO. 
No entanto, para garantir a eficácia da utilização desse conhecimento em diferentes situações, é 
necessário observar, reconhecer e nomear os elementos textuais e não textuais que orientam a 
escolha dos itens que melhor nos ajudam a compor um sentido para os textos. A observação 
desses itens deve instrumentalizar os alunos de modo que, depois, individualmente, possam 
lançar mão daqueles que funcionam como as ferramentas mais eficientes para os problemas de 
construção e produção de sentido a resolver. 
É importante verificarmos que essa orientação deve partir da observação dos vários níveis de 
conhecimento que os alunos já possuem acerca dos elementos culturais que os rodeiam, entre 
eles os gêneros de discurso ou de enunciado, explorando neles aquilo que permite distingui-los 
como pertencendo a um determinado gênero, diferenciá-los ou aproximá-los de outros. De acordo 
com a análise do conjunto de aspectos que os tornam singulares, bem como das semelhanças e 
diferenças entre os diversos gêneros, os alunos poderão perceber que essas particularidades 
estão a serviço do tipo de intenção, dos interlocutores envolvidos na situação, do tipo de atividade 
em que se está inserido, e assim por diante. 
É possível dividir o conhecimento prévio em grandes níveis. Há o que chamamos de 
conhecimento de mundo; há o que chamamos conhecimento enciclopédico; há um nível de 
conhecimento lingüístico do qual fazemos uso diariamente; e, por fim, há aquele nível de 
conhecimento que engloba tudo que sabemos sobre gêneros do discurso. Esses níveis se 
articulam, não são isolados. 
 
O CONHECIMENTO DE MUNDO 
O conhecimento de mundo pode ser definido como o conjunto de conhecimentos que os 
indivíduos de uma mesma cultura compartilham e que é adquirido informalmente, a partir de 
experiências pessoais. 
Nos ensina Lombardi é esse conhecimento que permite que se possa inferir, com segurança, que 
tipos de lacunas em seus textos serão preenchidas com facilidade pelo interlocutor. 
O enunciador não precisa explicitar detalhes, pois eles são facilmente inferidos pelos 
interlocutores, sobretudo se são membros de mesma cultura. 
Por outro lado, se o tema tratado diz respeito a uma situação nunca vivenciada pelo interlocutor, 
terá de ser mais detalhado e explicado. 
Para melhor organizar o estudo de seus alunos em função do nível de conhecimento de mundo, 
você, professor, precisa conhecê-los: saber onde moram, com quem moram, em que trabalham, 
que atividades desempenham como lazer etc. 
 
O CONHECIMENTO ENCICLOPÉDICO 
O saber enciclopédico diz respeito ao conjunto de conhecimentos que os indivíduos vão 
adquirindo por meio de aprendizado formal. Isso não significa que tais conhecimentos se 
restrinjam àqueles que a escola proporciona. São também os que a curiosidade e o interesse nos 
levam a adquirir por meio da leitura de diferentes textos. Esse nível de conhecimento é o que 
permite ao leitor fazer relações entre o que é dito ou mostrado em diferentes linguagens aqui e 
agora e outras imagens e outros ditos compartilhados em outros lugares e em outras 
situações. A qualidade e a extensão do saber enciclopédico permitem ao aluno sustentar sua 
atitude responsiva por meio de relações estabelecidas em um campo infinito de possibilidades 
intertextuais de compreensão dialógica. 
 
O CONHECIMENTO LINGÜÍSTICO 
O conhecimento lingüístico refere-se à competência do enunciador em relação à sua gramática 
interna; ou seja, diz respeito àquelas regras de linguagem que lhe permitem concretamente tecer 
textos, bem como perceber a maneira pela qual um texto foi tecido. 
Observa-se que o conhecimento lingüístico diz respeito ao conhecimento do significado das 
palavras, à maneira de organizá-las em seqüência, ou seja, a sua ligação interna; ao modo de 
lidar com o discurso relatado (discurso direto, indireto, indireto livre); à maneira de garantir a 
coesão textual etc. 
No processo de leitura, por exemplo, o conhecimento lingüístico permite ao leitor perceber as 
palavras, os grupos de palavras, as seqüências maiores, de modo a reconstruir os elos de coesão 
entre esses elementos, através das instruções lingüísticas fornecidas pelo autor do texto. 
 
O CONHECIMENTO TEXTUAL 
O conhecimento textual engloba tudo que sabemos sobre diferentes gêneros discursivos, pelo 
fato de fazermos uso da língua para nos comunicarmos em diferentes situações e contextos. 
Desde os gêneros mais primários, como a conversa cotidiana, até os gêneros mais complexos, 
que exigem aprendizagem formal. 
 
Aula 17 - Os gêneros do discurso: as teorias 
 
SIGNIFICADOS DE GÊNERO 
A palavra gênero está associada a muitas idéias que variam de acordo com a área do 
conhecimento e com o contexto em que é empregada. 
No século XX, tornou-se um conceito teórico importante no campo da Lingüística Textual, que faz 
referências a gêneros textuais, e, no campo que mais recentemente se conhece como de Análise 
Dialógica do Discurso, a partir dos estudos de Bakhtin, faz-se referência a gêneros do discurso. 
 
GÊNEROS NA LITERATURA 
Na Grécia Antiga, no campo da Literatura, o termo gênero literário foi usado para distinguir 
inicialmente três categorias de enunciado: o lírico, o dramático e o épico. Para essa categorização 
genérica, os gregos se basearam nas três faculdades da alma humana consideradas essenciais: 
sensibilidade, vontade e inteligência. Essas faculdades manifestas em obras literárias foram 
observadas nos três gêneros: 
1. No gênero lírico, a sensibilidade se manifesta pela expressividade; 
2. No gênero dramático, a vontade se manifesta pela apelação; 
3. E, por fim, no épico, a manifestação da inteligência é observada na coesão e na coerência 
exigidas nos processos lingüístico-discursivos de se fazer referência. 
É interessante verificar que a partir dessa categorização genérica do enunciado,ainda na Grécia, 
foram estabelecidas três funções da linguagem: a função emotiva ou expressiva; a função 
apelativa ou conativa e a função informativa ou referencial. 
 
O ÉPICO, O DRAMÁTICO E O LÍRICO 
1. O gênero épico, grosso modo, caracteriza-se pela narrativa em verso ou prosa que expressa o 
modo temporal ou sucessivo dos acontecimentos. Assim, o tempo é o fator estrutural mais 
importante do gênero épico, do qual fazem parte a epopéia, o mito, a lenda, a saga, a legenda, o 
romance, a novela, o conto, a parábola etc. 
2. O gênero dramático, grosso modo, caracteriza-se pelos diálogos. Embora apresente uma ação 
situada no passado, ela é reproduzida no presente pelo desempenho dos atores no palco, sob 
forma de tragédia, comédia, farsa, tragicomédia etc. 
3. O gênero lírico caracteriza-se pela predominância de uma voz central, um “eu” lírico (que não é 
um “eu” individual) que se funde com o mundo e exprime seus próprios estados de alma, 
emoções, disposições psíquicas, concepções, reflexões, visões, sentimentos; tais estados são 
intensamente vividos e experimentados através de um discurso breve, conciso , denso e 
extremamente expressivo, construído com ritmo, musicalidade e imagens como o canto, a ode e 
a elegia. 
 
GÊNEROS SOB A ÓTICA DA LINGUISTICA 
Por sua tradição no campo da Literatura, o termo gênero foi evitado nos estudos lingüísticos 
durante boa parte do século XX. Os lingüistas queriam delimitar bem uma fronteira entre a recém-
criada ciência e a Literatura. Além disso, ainda não se interessavam por nada próximo ao 
enunciado ou ao discurso; praticavam a Lingüística da frase e, por isso, julgavam pertencer o 
termo gênero a uma terminologia sem relevância para seus estudos. 
A primeira lingüística – a Lingüística da língua – inaugura o período que reuniu um grupo de 
autores que praticou o que se conhece como Lingüística da frase. 
É de se esperar que, em um estudo da frase, a questão do gênero não se coloque. Nos anos 60 e 
70, na transição de uma Lingüística da frase para uma Lingüística do texto, porém, o tema dos 
gêneros é abordado e se faz relevante. 
A Lingüística textual surge justamente de um movimento de lingüistas; eles começaram a estudar 
fenômenos que pareciam ultrapassar os limites da frase. Seu objetivo, porém, voltou-se para 
construir um mecanismo apto a engendrar textos, uma gramática de texto que deveria 
representar um modelo da competência do falante. Assim, apesar das intenções iniciais, o objeto 
de estudo na Lingüística Textual continuou a ser o componente lingüístico em si, sendo os dados 
contextuais e situacionais tratados como dados adicionais. 
 
GÊNEROS DO DISCURSO – A TEORIA DOS ENUNCIADOS HUMANOS 
Mikhail Bakhtin, em seu artigo Gêneros do discurso, observa que os gêneros, tanto na 
Antigüidade quanto na Pós-Modernidade, sempre foram estudados pelo ângulo artístico-literário 
de sua especificidade. Tomando o enunciado como unidade concreta da comunicação verbal, 
Bakhtin propõe, então, uma teoria geral do enunciado. Nela, a riqueza e a variedade dos 
enunciados humanos deixam de ser abordadas sob a ótica de modelos ideais de textos, para 
serem abordadas em sua natureza de atividade. Bakhtin propõe uma teoria em que os gêneros 
literários são vistos como tipos particulares de enunciados que existem ao lado de outros não 
literários. 
De acordo com essa concepção, todo enunciado tem em comum o fato de que remete a um 
sujeito, a uma fonte enunciativa; provém de um querer dizer orientado ao seu interlocutor; é 
regido por normas. 
Segundo o autor, cada domínio ou esfera de utilização da língua elabora tipos relativamente 
estáveis de enunciados orais e escritos. Os enunciados são marcados por uma especificidade do 
domínio de atividades de que fazem parte. 
Em nosso entendimento, para essa teoria, a noção de gênero abarca a idéia de um artefato 
técnico, de uma ferramenta para dizer e fazer em determinada situação. Em sala de aula, 
professor, é nosso papel organizar o estudo dos alunos, oferecendo-lhe essas ferramentas. 
Trazer variedade de enunciados (quadrinhos, cartazes, desenhos, filmes, textos literários e não 
literários etc), convidando os alunos a estabelecer correlação entre eles, torna-se, então, tarefa 
do professor. 
 
O PLURILINGÜISMO 
Para apreender o conceito de plurilingüismo social, é preciso entender que, se a natureza do 
enunciado é social e singular ao mesmo tempo, é porque as pessoas se constituem como 
singulares e sociais. Leia a concepção de sujeito apresentada por Bakhtin e muito bem resumida 
por Faraco (2003): 
(...) nenhum sujeito absorve uma só voz social, mas sempre muitas vozes. Assim, ele não é 
entendido como um ente verbalmente uno, mas como um agitado balaio de vozes sociais e seus 
inúmeros encontros e entrechoques. O mundo interior é, então, uma espécie de microcosmo 
heteroglótico, constituído a partir da internalização dinâmica e ininterrupta da heteroglossia social. 
Em outros termos, o mundo interior é uma arena povoada de vozes em suas múltiplas relações 
de consonâncias e dissonâncias; e em permanente movimento, já que a interação socioideológica 
é um contínuo devir (p. 81). 
Dessa característica heterogênea do sujeito decorre ser o plurilingüismo uma característica 
fundamental do enunciado. 
Acreditamos que o estudo dos gêneros e a do plurilingüismo oferecem materiais de reflexão para 
elaboração da caixa de ferramentas a ser constituída pelo professor a fi m de auxiliá-lo na 
formação do aluno-leitor/aluno-autor plurilíngüe. Essa caixa deve ser constituída de textos de 
diferentes gêneros e linguagens nos quais também possam ser percebidas diferentes vozes e 
pontos de vista. 
 
Aula 18 - Os gêneros do discurso: a prática 
Cada domínio ou esfera de utilização da língua elabora tipos relativamente estáveis de 
enunciados orais e escritos que chamamos gêneros do discurso. Assim, os enunciados são 
marcados por uma especificidade do domínio de atividades de que fazem parte. A eles, podemos 
dizer, estão indissoluvelmente associadas três características: 
1) o tema; 
2) a forma composicional; 
3) o estilo. 
Nos gêneros, os temas podem instaurar um campo de estabilidades, mas vivem eles mesmos no 
ponto de tensão entre o que é esperado e o efeito que o autor deseja produzir. Em editoriais de 
revistas, por exemplo, vimos que o tema tratado, em geral, é uma informação prévia sobre os 
principais conteúdos abordados na revista. 
A forma composicional é o que se pode ver na composição dos enunciados no que diz respeito às 
especificidades de sua organização, como divisão em seções, introdução, desenvolvimento, 
conclusão. 
Quanto ao estilo, observamos a predominância do estilo dialógico. Lançando perguntas 
diretamente ao leitor, usando forma direta de tratamento (você, nós...), escolhendo um registro de 
linguagem que o deixe mais próximo ao leitor (no caso, informal), o editorial é um gênero de 
discurso que instaura um diálogo com o leitor, visando a torná-lo íntimo e parceiro da publicação. 
Nos ensina Lombardi (2004) que 
quando escrevemos um texto, precisamos saber em que gênero ele irá se constituir, partindo da 
preocupação com cada um dos aspectos levantados acima. “Para quem escrevo?”; “Com que 
objetivo?”; “Que papel assumo quando escrevo?”; “Como isso tudo deverá refletir no texto?” são 
perguntas que não podem deixar de ser feitas antes que comecemos. As marcas de cada um 
desses aspectos devem ficar claras no texto para que o leitor as recupere e possa reconstruí-lo 
da maneira mais adequada possível. Afinal, você nunca se perguntou se o trabalho que você iria 
entregar deveria ter capa ou não? Nunca se preocupou em dar mais ou menos destaque a uma 
ou a outra parte? A estabelecer uma hierarquia de titulagens e subtitulagens? Em escolher as 
expressões mais adequadas para o grau de formalidade que o seu interlocutor impõe?” 
Nessa direção, professor, é produtivo pensar em gênero do discurso como ferramenta a ser 
oferecida no trabalho de organização do estudo dos alunos. Éimportante que os 
alunos percebam que quando enunciamos, lançamos mão de formas de discurso constitutivas de 
gêneros previamente existentes, formas que estão disponíveis para uma determinada situação, 
segundo princípios de natureza social. Esses gêneros fixam, em um dado meio, o regime social 
de funcionamento da língua. Trata-se de um estoque de enunciados esperados protótipos de 
maneiras de dizer ou de não dizer em um espaço sociodiscursivo. 
A noção de gênero do discurso está associada à idéia de um sistema de normas a que os sujeitos 
precisam se submeter para se inscreverem na comunicação humana. É importante observar que 
esse sistema de normas se funda nas relações sociais, diferenciando-se, portanto, da idéia de 
sistema restrita a uma coerência interna de normas lingüísticas. 
Em Gêneros do discurso, Bakhtin afirma que 
os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira que organizam as formas 
gramaticais (sintáticas). Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a fala 
do outro, sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras, pressentir-lhe o gênero, adivinhar-
lhe o volume (a extensão aproximada do todo discursivo), a dada estrutura composicional, prever-
lhe o fi m, ou seja, desde o início, somos sensíveis ao todo discursivo que, em seguida, no 
processo da fala, evidenciará suas diferenciações (BAKHTIN, 1979/1997:302). 
 
Aula 19 - Uso da língua 8 – quando a distância diminui no tempo – os textos de correspondência 
Textos escritos, o que leva em conta é que o emissor escreva e o destinatário leia. No entanto, 
sabemos que nem sempre é assim. 
Fazendo uma rápida viagem no tempo, vamos partir da época em que apenas uns poucos 
privilegiados tinham a chance de aprender a ler e a escrever. O texto escrito ficava restrito a um 
pequeno grupo, cuja única forma de comunicação, a distância, era a carta. 
Na história do Brasil, temos na carta de Pero Vaz de Caminha o primeiro contato entre a colônia e 
a metrópole. 
Acredita que seria possível, com uma única leitura, resumir o que o escrivão da frota de Cabral 
estava relatando ao Rei? Dificilmente, e isso acontece porque a distância temporal entre a 
escritura da carta e a nossa leitura traz consigo uma série de obstáculos, como o vocabulário, a 
diferença sintática e até mesmo o contexto. Então, ainda que letrados, nem todos somos capazes 
de decifrar o que Caminha está dizendo a D. Manuel. 
No caso da carta que usamos como exemplo, a dificuldade se justifica pela distância temporal. 
Mas não podemos fingir que o mesmo não acontece com pessoas que vivem na mesma época e 
que, ainda assim, não são capazes de estabelecer uma comunicação plena por meio de uma 
carta. Novamente, estamos pisando no terreno do poder da língua, em que quanto mais 
qualificado um falante se torna tanto maior o domínio que ele tem da língua materna. 
Estamos falando dos textos de correspondência, estamos nos referindo, necessariamente, a 
textos escritos, o que, sem dúvida, expõe muito mais o usuário da língua. 
No Brasil mesmo na era da internet, mais da metade da população de nosso país ainda recorre 
aos correios para se corresponder com pessoas queridas que estão distantes, e muitas delas 
dependem de outras para que essa troca de notícias aconteça, de fato. 
A necessidade de escrever uma carta é diferente da urgência e da objetividade de um telegrama. 
Sabemos que se podem escrever cartas de todos os tipos: comerciais, jurídicas, de e para 
amigos, entre parentes, e as famosas e tão freqüentes cartas de amor. 
As sociedades, em geral, dotadas de uma cultura eminentemente gráfica, ou seja, voltada para a 
escrita como uma das mais importantes formas de manifestação cultural, reconhecem a carta – e, 
especialmente, a de amor – como veículo ímpar na veiculação e documentação das relações de 
amor. 
É a internet que vem se firmando como veículo de comunicação do terceiro milênio. Pela rede, é 
possível se comunicar por e-mail, pelos chats, pelos fóruns de discussão, e pelo famoso ICQ. 
Tais veículos vêm gerando uma série de discussões a respeito do uso da língua portuguesa, uma 
vez que muitos pais e educadores temem que o vernáculo perca espaço para o que seria um 
novo código, próprio da era digital. 
A comunicação pelo ICQ, por exemplo, pode ser comparada a uma conversa telefônica, só que 
por escrito. A velocidade exigida para que os interlocutores acompanhem o ritmo do pensamento 
leva à necessidade do uso de abreviações e encurtamentos, mas, como pudemos ler no artigo, o 
fato de estarem escrevendo é um exercício de organização de idéias e de argumentação. 
Esse sistema não deve ser confundido com uma nova linguagem, como ouvimos com freqüência. 
Afinal, já sabemos que a linguagem é uma faculdade mental, e que a língua é uma manifestação 
dessa faculdade. Por isso, o sistema de códigos usado no ICQ, por exemplo, é mais uma forma 
de manifestação da linguagem, uma nova maneira de usar a língua visando a um objetivo 
específico, que é o de instaurar um processo comunicacional ágil. 
Não é difícil identificar esse sistema com o telegrama, e mesmo com o bilhete, que, muitas vezes, 
é escrito de maneira rápida, cheio de abreviações. O importante é constatar que a escrita, em 
todos esses casos, é veículo de comunicação, e as variações criadas em cada caso buscam 
atender a um determinado fi m. Dessa forma, respeitando-se as devidas peculiaridades, 
podemos dizer que as formas de comunicação escrita mudaram, mas mantêm, como ponto 
comum, o uso da língua como meio de contato. 
Essa constatação nos leva, mais uma vez, a pensar a respeito do trabalho que a escola faz, 
quando o assunto é ensino da língua materna. É importante notar a preocupação que se tem em 
separar as situações de uso da língua escrita. ICQ é uma coisa, redação é outra... Na verdade, 
tudo é redigir. O que muda é a adequação a uma situação mais formal, diferentemente do ICQ, 
em que se instaura a total informalidade. 
Esse tipo de percepção tem relação estreita com a conquista de espaços sociais distintos, na 
medida em que tem o poder de inserir um indivíduo em contextos diversos, de acordo com sua 
habilidade de usar adequadamente as formas de expressão que a língua oferece. 
Assim, podemos concluir que a comunicação escrita, entre dois usuários da língua, é não apenas 
uma estratégia de diminuir as distâncias mas também uma forma de expressão que ganha 
contornos pessoais, independentemente do veículo eleito para estabelecer essa comunicação. 
 
Aula 20 - Uso da língua 9 – quando o objetivo é: informar e opinar 
Podemos classificar os textos, para fins didáticos, em duas categorias: texto de opinião e texto de 
informação. O texto de informação pode transmitir também uma posição do autor, mas essa 
posição não é central. Em contrapartida, o texto de opinião transmite uma informação, mas estão 
a serviço da opinião. 
 
Aula 21 - Uso da língua 10 – construindo a opinião: como o autor aparece nos textos 
Há modos de utilização da língua que servem à intenção de produzir um efeito de neutralidade ou 
de isenção. Há situações em que o autor visa a focalizar o objeto de discurso como se este 
pudesse falar por si só, sem deixar nenhum rastro de um possível enunciador/autor. Tais 
procedimentos são constitutivos dos textos que têm a pretensão de ser, ao máximo possível, 
genuínos exemplares de textos informativos. 
Os elementos indicadores de atitude ou estado psicológico 
com que, no texto de opinião, o autor se apresenta 
construindo sua posição sobre o objeto de discurso 
em questão. Eles expressam julgamentos, opiniões, apreciações. Veja os exemplos a seguir: 
1. O Corinthians, “derrotado” antes do início 
da peleja, enfrentando um adversário temível, obteve a 
mais notável vitória dos clubes nacionais fora de nossas fronteiras... 
2. O conjunto corinthiano teve uma atuação brilhante, e a goleada poderia ter atingido a casa dos 
seis, oito, que não seria injustiça ao melhor futebol do mundo. 
3.Brilhantemente, o trabalho do time confirmou a criatividade e a força do futebol brasileiro. 
As aspas que recaem sobre, no caso, o adjetivo “derrotado” são um recurso usado pelo 
enunciador para indicar que suas palavras não correspondem bem à realidade. Nesse tipo de uso 
específico das aspas, o enunciador delega ao leitor a tarefa de compreender o motivo pelo qual 
ele está assim chamando sua atenção. No exemplo 1, o leitor irá pressupor que “derrotado” vem 
entre aspas porque o enunciador está transferindo a responsabilidade de seu emprego a outra 
pessoa. Lembra-se? No texto em questão, eram os outros ou a conjuntura que antecipavam a 
derrota do Corinthians, não necessariamente o autor. Nesse sentido, as aspas representam uma 
atitude explícita do autor, dirigindo a leitura do leitor. 
Mais do que atribuir uma qualidade à atuação, ao adversário ou à vitória, esses adjetivos 
expressam o julgamento do autor diante das coisas que vê. E isso é feito de modo subjetivo. 
Não basta definir o adjetivo como sendo elemento que caracteriza o substantivo, atribuindo-
lhe qualidade, estado ou modo de ser. 
Nesse sentido, professor, achamos que o seguinte procedimento pode ser muito produtivo para o 
trabalho com as classes de palavras: 
1) Selecionar os textos a ser trabalhados com os alunos, segundo predomine a tendência à 
informação ou à opinião (sem, é claro, dizer isso aos alunos). 
2) Elaborar tarefas de leitura com vistas a perceber, na atitude dialógica, a opinião que o autor 
está construindo sobre as coisas, tanto no plano da percepção objetiva (descrição de objetos e de 
seres, por exemplo) quanto no plano da percepção subjetiva: o que o autor acha disso ou daquilo. 
Nesse processo, o aluno deverá perceber a função do adjetivo no próprio uso que faz da língua, 
reconhecendo-o como categoria de palavra diferente de outras, podendo, porém, com elas 
compartilhar a mesma função, tendo em vista a intenção principal do autor de mostrar a opinião 
que tem sobre as coisas. 
Nessa direção, eles poderão ser levados a perceber que a opinião, ou seja, as atitudes 
apreciativas se concretizam no discurso por meio de diferentes tipos de: 
Verbos 
A equipe surpreende pela qualidade técnica. 
Adjetivos e Substantivos 
A própria crítica foi unânime em afirmar: vitória espetacular. 
Advérbios 
Infelizmente, o time uruguaio não confirmou seu talento nesta partida. 
 
DISSERTAR E ARGUMENTAR 
Dissertar e argumentar são atividades de linguagem constitutivas de gêneros discursivos de 
orientação opinativa. 
A dissertação, entendida como exemplar de gênero, é o texto produzido por candidatos a mestre 
nos cursos de pós-graduação. Fora desse campo de atividade acadêmica de nível superior, a 
dissertação é vista como um gênero escolar cuja realização se justifica não em termos de 
finalidade comunicacional propriamente, mas, sobretudo, em termos de finalidade didática. 
No ato de dissertar, expressamos o que sabemos ou o que acreditamos saber sobre um 
determinado assunto; externamos nossa opinião sobre o que é ou o que nos parece ser. 
Na atividade de argumentar, visa-se, sobretudo, a convencer, 
persuadir ou influenciar o leitor ou ouvinte. Assim, por meio desse procedimento, 
procuramos principalmente formar a opinião do leitor ou ouvinte, tentando convencê-lo de que a 
razão está conosco, de que nós é que estamos de posse da verdade. Podemos, então, afirmar 
que argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer mediante apresentação de 
razões, em face da evidência das provas e à luz de um raciocínio coerente e consistente. 
Acreditamos ser uma prática importante, no sentido de alcançar o objetivo de formar o aluno 
leitor, promover situações em que se exige do aluno sustentar suas opiniões e posicionamentos, 
a partir de argumentos ou da contraposição de argumentos. 
 
PROCEDIMENTOS ARGUMENTATIVOS 
No campo do jogo, os uruguaios, maravilhados, assistiram a um verdadeiro “baile”. Não 
constava em seu programa. A própria crítica foi unânime em afirmar: vitória espetacular. 
Afirmou mais: o resultado não espelhou com fidelidade o que foi o andamento da partida. 
O conjunto corinthiano teve uma atuação brilhante, e a goleada poderia ter atingido a 
casa dos seis, oito, que não seria injustiça ao melhor futebol do mundo. 
Nesse parágrafo, em que Antoninho de Almeida avalia o desempenho do time brasileiro, 
você percebe claramente marcada a posição dele a respeito do jogo, que se apóia também 
naquela da crítica especializada. 
Se trata de pessoas “autorizadas” a comentar jogos de futebol. Essa é uma estratégia discursiva 
muito recorrente em textos de opinião que se valem de procedimentos argumentativos. É o que 
chamamos de argumento de autoridade. 
Ao recuperar outras vozes ou ditos de outras pessoas, o autor cria um espaço 
dialógico explícito no âmbito de seu texto. Esse tipo de estratégia é também muito comum 
em textos do tipo opinativo que se constrói com base em argumentos: o embate dialógico 
revelador de que o enunciador, 
em sua reflexão, considerou o pensamento dos outros e, assim, dialogicamente, construiu o 
seu. 
 
Aula 22 - Uso da língua 11 – quando a palavra é notícia: o jornalismo informativo 
 
METAMORFOSE DO FATO: AS VÁRIAS LEITURAS DE UM ACONTECIMENTO 
Há gêneros jornalísticos que se constituem mais em torno do propósito de mostrar uma 
preocupação real com os fatos, optando por “imprimir 
notícias como notícias, sem comentários, para se manter longe da polêmica” (OLSON, apud 
MELO, 1983, p. 31). 
 
JORNALISMO: CONCEITO E CATEGORIAS 
O jornalismo impresso caracteriza-se como um processo 
social de natureza política que surgiu da necessidade de informação de diferentes 
representantes sociais: o cidadão comum, o mercador, os súditos do rei e o próprio rei. 
Guardadas as diferenças entre a Idade Moderna e o mundo contemporâneo, ainda hoje, cada 
qual busca o jornal com uma intenção diferente. Isso explica a variedade de seções, ou melhor, 
de editorias, para usar o termo técnico, em que se divide um jornal. Além de contar, no caso dos 
jornais de grande circulação, com cadernos semanais que tratam especificamente de 
determinado assunto, como Informática, Carros, Turismo etc., em cada uma das editorias 
pode haver predominância de um certo gênero do discurso jornalístico. A escolha do gênero será 
determinada pela intenção do jornal ou do jornalista. Já o estilo do gênero sofrerá influência do 
tipo de público a que preferencialmente se destina. 
No jornalismo impresso circulam inúmeros gêneros de discurso. Cada um deles é publicado em 
um espaço específico do jornal ou da revista e tem objetivos definidos. Podem ou não possuir 
uma autoria identificada, mas, em geral, essa autoria é a empresa jornalística, 
o jornalista, o colaborador ou até mesmo o leitor. Certos gêneros identificam um autor (ou 
mais) que assume um papel de responsabilidade 
no texto de acordo com a sua posição de origem ao escrevê-lo. Em 
cada um desses gêneros, predomina a intenção de informar ou de opinar. A seguir, 
apresentamos um continuum ilustrativo da tendência predominante em cada um deles: 
Ressalta Lombardi (2004), existe também uma outra muito importante: o tipo de suporte que 
o texto terá. 
Se ele será veiculado em uma revista, ou em modo mimeografado, ou em jornais dirigidos a 
diferentes públicos. Isso deve ser sempre levado em conta porque, muitas vezes, há normas 
muito rígidas para a publicação de um trabalho, por exemplo, em uma revista. Essas normas 
devem ser seguidas e isso, sem dúvida, interfere no texto que será desenvolvido. 
 
O JORNALISMO INFORMATIVO 
A opção por um jornalismo informativo teve como motivação, no passado, a tentativa de burlar a 
vigilância do Estado. 
No século XIX, a imprensa norte-americana aumenta seu ritmo, adotando o modo de produção 
industrial. A informação de atualidade

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