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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITÁRIA LUANA BÚRIGO VARGAS RAQUEL HOLTRUP WOLFF GEOQUÍMICA AMBIENTAL Seminário – Processo Industrial Curtume Lages – Santa Catarina 2020 LUANA BÚRIGO VARGAS RAQUEL HOLTRUP WOLFF GEOQUÍMICA AMBIENTAL Seminário – Processo Industrial Curtume Relatório, apresentado a Professora Raquel Valerio de Sousa, como parte do Seminário do Processo Industrial do Curtume. Lages, 23 de setembro de 2020. LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Ligação entre a Pecuária e o Curtume. Figura 02 – Locais de maior produção de curtume no Brasil. Figura 03 – Gráfico dos segmentos de Curtume no Brasil. Figura 04 – Valores de Exportações e Importações do Curtume no Piauí. Figura 05 – Fulões dentro de uma indústria. Figura 06 – Imagem de satélite da empresa. Figura 07 – Geologia da cidade de Parnaíba. Figura 08 – Esquema mostrando a intercalação de areia e argila. SUMÁRIO 1. Resumo.............................................................................................................4 2. Introdução..........................................................................................................5 3. Justificativas .....................................................................................................6 4. Objetivos............................................................................................................7 5. Curtume.............................................................................................................8 5.1. Curtume no Brasil...................................................................................9 5.2. Curtume no Piauí..................................................................................11 5.3. Descrição do Processo do Curtume......................................................12 5.3.1. Pele Bruta........................................................................................12 5.3.2. Ribeira.............................................................................................13 5.3.3. Tintura.............................................................................................15 5.3.4. Acabamento....................................................................................15 5.3.5. Expedição........................................................................................16 5.4. Diagnóstico da Área da Empresa..........................................................16 5.4.1. Localização Geográfica...................................................................16 5.4.2. Geologia da Região.........................................................................17 5.5. Possíveis Áreas de Contaminação........................................................18 5.6. Comportamento Geoquímico de Contaminantes..................................19 6. Conclusão........................................................................................................21 7. Referências Bibliográficas...............................................................................22 4 1. Resumo O curtimento de peles de animais é um processo milenar que com o passar dos anos passou por modernizações, sendo importante para que não haja desperdício de matéria prima dos animais abatidos. Para a transformação de pele em couro, são utilizados alguns elementos químicos, sendo um deles um metal pesado. Portanto, o presente trabalho tem com objetivo estudar as possíveis áreas de contaminação e de mobilização dos resíduos e elementos utilizados no processo. Então evidencia-se a necessidade de tratamento correto dos resíduos gerados, além do cuidado necessário em cada etapa do processo para que não haja degradação da matéria prima. 5 2. Introdução Processos industriais se tornaram cada vez mais procurados em meados do século XVIII e XIX, devido a Revolução Industrial que visava o aumento da produção. Atualmente inúmeras áreas se encaixam dentro do processo industrial e todas geram algum tipo de resíduo durante o procedimento. Materiais que possuem caráter contaminante, dependendo da região em que se encontram, necessitam ser constantemente avaliados para fins ambientais. No aspecto geoquímico, contaminantes são avaliados acompanhados das perspectivas geológicas da extensão, buscando a interferência no solo e em meios hídricos. No setor de abate de animais, existem resíduos que possuem outra finalidade, é o caso da pele bruta e de ossos, por exemplo. A pele bruta de bovinos, suínos, caprinos ou até outros animais passam por processos de tratamento, o chamado curtume, para poder ser utilizado na convecção de diversas coisas como: poltronas, bancos de carros, sapatos, bolsas, roupas e peças decorativas. O procedimento do curtume é milenar, já que era usado por homens primitivos, o couro leva um procedimento físico-químico, o qual transforma a pele bruta em um material impecável. É basicamente dividido em três etapas principais que ao longo do tempo foram sofrendo modificações para melhoria da produção. O primeiro estágio prepara as peles para o curtimento, o segundo seria o curtume em si que torna a peça imputrescível, já o último passo da produção é o acabamento do couro que torna possível a aplicação em outros objetos. É uma maneira de diminuir a quantidade de peles que seriam descartadas caso não existisse alguma forma de aproveitamento do material, além de criar um novo ramo de indústria. 6 3. Justificativas A investigação de áreas prováveis a contaminação do meio ambiente deve tornar-se cada vez mais recorrente. Em razão do Brasil ser um grande produtor mundial de couros, segundo dados do CICB (Centro das Indústrias de Curtume do Brasil), é de suma importância o conhecimento do impacto dessa produção. Porquanto, maior parte de empresas de curtume pertencem à categoria de pequeno porte, sendo em alguns casos operando aliadas aos frigoríficos, condição qual é especial, em virtude de se tratar de dois tipos de indústrias distintas. Considerar os contaminantes e consequências que uma empresa acarreta, é inteiramente importante à saúde e bem- estar do meio ambiente e aos seres que nele habitam. 7 4. Objetivos Caracterizar o que é o curtume, além de detalhar as fases necessárias para o feitio do mesmo. Identificar possíveis áreas de contaminação do solo e da água no processo industrial do curtume, relacionando com a geologia da região onde a indústria se localiza. Avaliar o comportamento geoquímico dos contaminantes gerados fazendo um breve diagnóstico preliminar. 8 5. Curtume O couro é caracterizado como um subproduto de origem animal que passa por processos que impossibilitam sua decomposição. Também pode ser classificado como um produto sustentável, pois após o abate do animal para o consumo de sua carne, sua pele pode ser utilizada em vários outros seguimentos para fabricação de roupas, mobiliários, acessórios e em partes internas de carros. Esse processo de curtimento da pele de animais deu-se início a 2,5 milhões de anos atrás, no Período Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, em que os humanos da época tornavam essa matéria prima útil às suas necessidades, além de ser um ótimo isolante para as intempéries do tempo. Também há indícios de sua utilização no Egito Antigo, na China (antes da Era Cristã), pelos babilônios, hebreus e antigos gregos. Sua relevância era tão grande que em algumas civilizações antigas,o couro era utilizado como uma moeda de troca entre produtos. Portanto, a expansão do ramo de curtume foi concomitante com a evolução das civilizações e com o crescimento da pecuária de corte, pois com o aumento das civilizações houve uma elevação na criação de animais destinados ao abate, essa ligação entre ramos está evidenciada na Figura 01. Figura 01 – Ligação entre a Pecuária e o Curtume. Contudo, esse processo tão simples que já era praticado a 2,5 milhões de anos é um potencial problema ambiental, tendo em vista que em suas etapas são utilizados produtos químicos como o cromo, por exemplo. Além de produtos químicos, há uma grande demanda por água e energia para que a pele seja limpa para as posteriores fases do processo, sendo de suma importância sua regularização. 9 5.1 Curtume no Brasil Países da Ásia e da América Latina são grandes produtores de couro no mundo, isso está fortemente ligado a grande produção de rebanho bovino nesses locais. Estima- se que no ano de 2006, o rebanho bovino no país foi de 213,3 milhões de cabeças e que em 2008 seu valor bruto de produção atingiu a marca de R$ 5,9 bilhões. A crescente participação do Brasil no processo de curtimento ficou evidente quando este ultrapassou a Coreia do Sul no ranking de maiores produtores do mundo, assumindo assim a 4ª colocação. Os estados em que se concentra maior parte dessa produção são Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Minas Gerais (Figura 02). Figura 02 – Locais de maior produção de curtume no Brasil. Um estudo realizado no ano de 2013 indicou que o número de indústrias que realizam o processo de curtume no país era de 310 ao total, sendo subdividido em seguimentos distintos (Figura 03). A produção total é de 44,5 milhões de couros e peles, tendo um valor de produção de R$ 6,1 bilhões. 10 Figura 03 – Gráfico dos segmentos de Curtume no Brasil. No ano de 2012, o Brasil exportou US$ 2,1 bilhões de sua produção, tendo um acréscimo de 23% quando comparado ao ano de 2010, indicando que esse é um setor com possibilidade de crescimento no país. O produto com maior índice de exportação foi o couro bovino, chegando a 99% das exportações do setor. Os maiores importadores de produtos do país no referido ano foram os países asiáticos, sendo eles China, Hong Kong, Tailândia, Taiwan e Coreia do Sul. Somados eles representam 46,1% dos valores exportados pelo Brasil. Voltando-se à circulação do produto internamente no país, desconsiderando-se as importações e exportações, pode ser observado um declínio de 9% no ano de 2012 em relação ao ano de 2011, chegando então a uma circulação de 12,8 milhões de couros e peles. Entretanto, com o crescimento das indústrias tende-se a uma maior preocupação com quesitos ambientais, sendo importante ressaltar que 70% das indústrias possuem um profissional ou um departamento exclusivo para tratar de assuntos ambientais. Quando o foco são os curtumes de grande porte, acima de 250 funcionários, essa porcentagem tem um salto para 96,2% das empresas. Couro Acabado 69% Couro Semiacabado 18% Couro Curtido 13% Indústria de Curtumes no Brasil Couro Acabado Couro Semiacabado Couro Curtido 11 5.2 Curtume no Piauí O curtume brasileiro se concentra principalmente em estados do Sul, porém em outras regiões também ocorre a presença desta atividade. No caso da região Nordeste, a ocorrência da maior concentração de caprinos do país fez-se que indústrias de curtume se instalassem para tratar o couro desses animais. No estado do Piauí a pecuária foi a primeira atividade econômica que surgiu, devido a isto a indústria de curtume criou forças e começou a crescer. Dados relatam que o rebanho de caprinos piauiense, o qual insere cabras, bodes e ovelhas está entre o segundo e terceiro maior do Nordeste. Muitas das peles que chegam aos curtumes pertencem aos chamados “mestiços” na região, os quais são carneiros ou cabras. Em dada situação, as empresas de curtume recebem em maior quantidade as peles desse tipo de animal. Atualmente maior parte das empresas continuam sendo de pequeno porte, entretanto está a cargo de duas grandes empresas a importância econômica do mercado de couro no Piauí, elas estão entre as principais exportadoras. As duas empresas do ramo que estão atuando ficam localizadas: uma na capital, Teresina, e outra em Parnaíba, na parte litoral do estado. No ano de 2010 uma grande crise na exportação do couro piauiense gerou um grande decaimento no mercado, onde somente as grandes empresas conseguiram se manter. Como mostra na Figura 04, onde o valor das exportações caiu mais do que a metade, gerando um declínio do curtume no Piauí. Figura 04 – Valores de Exportações e Importações do Curtume no Piauí. 12 Ressaltando a união de frigoríficos e indústrias de curtume, tem-se no estado quatro abatedouros de renome, que funcionam como salgadeiras de couro. Nesses locais a pele dos animais abatidos já começa a ser tratada, considerando a utilização do cloreto de sódio para a conservação, após são redirecionadas para os curtumes. 5.3 Descrição do Processo do Curtume O procedimento do curtume é feito para que não ocorra a decomposição das peles animais, mas mantendo as propriedades originais como resistência à tração, viscoelasticidade e abrasão. Por ser visado o uso deste material em outras áreas, existe um valor agregado ao produto final, que é o couro. Para atingir esse resultado a pele deve passar por etapas químicas e mecânicas, as quais são chamadas de: ribeira, tintura e acabamento. Cada um desses passos que ocorrem em uma indústria de curtume será descrito. 5.3.1 Pele Bruta Após o abate e esfolagem, as peles necessitam ser conservadas já que são altamente perecíveis, dentro de um período de até quatro horas os procedimentos da conservação devem iniciar. Existem duas situações que decorrem dos frigoríficos até os curtumes, as chamadas peles “verdes” são aquelas que logo após o abate demoram no máximo 12 horas até o processamento e não necessitam de pré- tratamento. A segunda situação desse caso seria o qual as peles passam por um pré- tratamento denominado “cura”, onde a pele bruta é intercalada com sal (cloreto de sódio) que age como bactericida. Em alguns casos fornecedores utilizam inseticidas para afastar insetos e biocidas para auxiliar na conservação. Devido ao cloreto de sódio, as peles que sofreram o processo de “cura” apresentam um peso menor do que as peles “verdes”. A desidratação da pele faz com que seu tamanho varie, por isso as peças são separadas por tamanhos. A primeira operação feita sobre as peles é a aparagem de patas, rabo, pescoço e do ubre ou escroto, que não servem para a curtimenta. Após esse processo, todo o lote é encaminhado para a ribeira. 13 5.3.2 Ribeira Nessa etapa acontece a retirada de sustâncias e partes que não serão utilizadas para o couro, preparando a pele para o curtimento. Dentro dessa etapa existem operações para chegar ao material desejado, são elas: remolho, depilação (segundo remolho), descarne, desencalagem, purga e piquelagem. No procedimento a epiderme e a hipoderme devem ser removidas enquanto a derme, parte mais importante e que será transformada em couro continua para o próximo processo que é o curtimento. No remolho o teor de água natural das peles é reposto e ocorre a retirada do sal e de impurezas, a preparação das fibras de colágeno é essencial para que as reações químicas das próximas etapas sejam bem-sucedidas. Para este e outros processos da ribeira são utilizados “fulões”, tanques de madeira de formato circular com sistema de rotação (Figura 05). Para facilitar o manuseio desses tanques existem portas laterais para a colocação e retirada das peles, porém está etapa de remolho pode durar até dois dias. Figura 05 – Fulões dentro de uma indústria. Após,na etapa de depilação, também chamada de segundo remolho, ocorre a primeira adição química de sulfeto de sódio, hidróxido de cálcio e de aminas, que auxiliam na remoção dos pelos. Verifica-se o inchamento e a abertura fibrosa das peles, porém o principal intuito é a retirada de pelos e do sistema epidérmico. No caso da empresa analisada, existe uma fase a mais no processo qual é chamada Rotopelo, 14 sua intenção é separar as partes sólidas da água com sulfeto para que o efluente siga para a Estação de Tratamento de Esgoto sem os pelos retirados. Para os processos mais mecânicos da Ribeira utiliza-se o trabalho manual ou maquinas específicas. O descarne é realizado em cilindros com navalhas, faz-se a remoção de gorduras e da carcaça, facilitando a penetração de outros componentes químicos posteriormente. Dentro do descarne também pode suceder-se a divisão das peles em: “flor” e “raspa”. Sendo a primeira a parte com maior valor comercial (lado externo da pele) e a segunda como a parte inferior e mais interna da pele, podendo seguir no processo como um couro de menor qualidade. Quanto a desencalagem tem- se uma etapa química onde é adicionado sais orgânicos responsáveis por diminuir a alcalinidade, retirando o hidróxido de cálcio. A técnica de limpeza profunda das peles é feita na etapa de Purga, os produtos usados são enzimas que retiram substâncias queratinosas degradadas, gorduras e fibroplastos gerando uma “flor” mais sedosa e fina. Geralmente esta etapa é unida com a anterior. Ainda antes do curtimento em si existe a piquelagem que prepara toda a estrutura das peles para o principal processo do curtume. Um banho salino-ácido composto por ácidos orgânicos e cloreto de sódio regula o pH dos materiais, que podem ser estocados já que estão conservados. Atingindo a parte principal do processo industrial, tem-se o curtimento que estabiliza a estrutura de colágeno. Nesta etapa as peles iniciam a denominação de couro, um material que mantem a temperatura e é muito resistente. Para a estabilização é utilizado normalmente sulfato básico de cromo nos fulões, componente químico que gera mais agilidade e barateamento no processo. O couro curtido com cromo é chamado de Wet-Blue e está preparado para receber a tintura, acabamentos ou ser armazenado. No Brasil, 98% dos curtumes curtem couro com cromo, o restante utiliza algumas substâncias vegetais para o procedimento. É interessante destacar que a indústria analisada separa os couros por classificação de tamanho, espessura e defeitos (cicatrizes, fermentação – falta de NaCl na conservação) antes de encaminhá-los para a tintura. 15 5.3.3 Tintura Também conhecido como curtimento, a fase de tintura é a transformação das peles pré-tratadas na fase da ribeira em couro. Para a conclusão dessa etapa, o material deve passar pelos seguintes processos: rebaixe, recorte, tingimento e recurtimento e enxuga. O rebaixe tem como finalidade deixar o material na espessura que é demandada para cada aplicação do couro, para isso são utilizados cilindros com navalhas. Além de deixar o couro uniforme, as peças são classificadas. Como a uniformização da espessura, algumas peças podem ficar com o formato muito irregular. Então é feito o recorte das aparas de forma manual, melhorando o formato das peles. Agora as peças estão prontas para receber as características físico-mecânicas desejadas, como toque, maciez, resistência, flexibilidade e cor. Para isso, são utilizados produtos orgânicos ou inorgânicos, podendo ser utilizados individualmente ou como uma mistura. Essa etapa é realizada em meio aquoso e dentro de fulões, dentro desses fulões tem-se sustâncias como: resinas acrílicas, taninos sintéticos, graxas naturais e corantes aniônicos. Entretanto, como a fase anterior é toda realizada em meio aquoso, torna-se necessário fazer a enxuga das peças. Assim os couros são submetidos às operações de estiramento, onde serão abertos e alisados, e ao enxugamento, processo realizado de forma natural ou em estufas. Essa última parte dessa fase é de extrema importância, tendo em vista que as peças serão vendidas por superfície, sendo assim, elas devem ser abertas ao máximo para que não haja perca de produto. 5.3.4 Acabamento Última etapa do processamento, agora visando-se o tratamento da superfície das peças. Então, antes do acabamento do couro, ocorrerá o lixamento. Esse é um processo mecânico para a retirada das escarças do carnal e do couro. Portanto, após o lixamento, com o auxílio de pistolas tem-se a aplicação de anilinas, pigmentos e caseínas. Esses produtos terão como função dar um melhor aspecto ao 16 couro, além de servir como uma proteção a ele. Além de servir como um homogeneizador de cor, fixando-a e melhorando o aspecto brilhoso da peça. 5.3.5 Expedição Controle de qualidade dos produtos, tem como função impedir que o mercado receba um produto de má qualidade ou com coloração disforme. Então antes de embalados, os lotes serão conferidos, se necessário for, serão recortados novamente e por fim serão embalados e enviados ao mercado. 5.4 Diagnóstico da Área da Empresa 5.4.1 Localização Geográfica Empresa localizada no munícipio de Parnaíba, ao norte do Estado do Piauí com uma latitude de 2º55’04’’S e 41º47’00’’W de longitude. Como solicitado pela própria empresa, para a realização deste trabalho não se identifica a mesma. Figura 06 – Imagem de satélite da empresa. 17 Na Figura 06 pode ser observado que a empresa possui um aterro sanitário próprio para os excedentes de matéria orgânica que sejam resultantes das etapas do processo. Possui também uma ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), onde os efluentes irão passar por um tanque de homogeneização. 5.4.2 Geologia da Região A cidade em estudo pertence a Bacia do Parnaíba, em que sua deposição ocorreu em duas eras distintas, sendo uma delas a Era Paleozoica (formação da Pangeia) e na Era Mesozoica. A região em que fica localizada a indústria, afloram sedimentos mais recente, ou seja, mesozoicos. Dois eventos magmáticos importantes ocorreram na região, sendo um deles de idade Triássico-Jurássico e outro da parte superior da Era Mesozoica (Cretáceo). São respectivamente, diques e soleiras intrudindo na sequência Siluriana e Mesodevoniana-Eocarbonífera, e derrames de basalto que impedem o afloramento da sequência que se deposita no Cretáceo. A localização da empresa é considerada pertencente ao Grupo Barreiras, da Bacia do Parnaíba. Na Figura 07, estão representadas as Unidade Geológicas da cidade de Parnaíba, sendo elas: Depósitos de Mangues, Depósitos Litorâneos, Dunas Inativas, Grupo Barreiras, Grupo Serra Grande e Complexo de Granja. Figura 07 – Geologia da cidade de Parnaíba. 18 Esse grupo possui Formações Superficiais, característica dada a sedimentos mais recentes. O grupo Barreiras é constituído por camadas intercaladas de areia e argila (Figura 08), condição importante para a impermeabilização deste solo. Figura 08 – Esquema mostrando a intercalação de areia e argila. Portanto, considerando todas as feições geológicas acima citadas, a escolha do local de instalação da empresa foi acertada, pois a grande predominância de areia nas outras feições seria prejudicial aos corpos hídricos e meio ambiente. 5.5 Possíveis Áreas de Contaminação Todo processo industrial vai gerar algum tipo de resíduo, podendo ser na forma líquida, sólida ou até mesmo gasosa. Para que esse resíduo não gere grandes impactos ambientais, deve-se tomar algumas medidas preventivas tanto no processo em si, como no descarte ou armazenamento dos produtos utilizados. Focando no processo do curtume, as principais fases que são possíveis geradoras de contaminantes são no recebimento da pele bruta, na ribeira e na tintura. Abrangendo tanto os resíduos sólidos/líquidosou os produtos químicos utilizados. Vale ressaltar, que além dos produtos químicos o processo ainda é um poluidor atmosférico, tendo em vista o mau cheiro gerado por empresas que realizem esse processo. As aparas salgadas resultantes da pele bruta terão como destino o aterro sanitário da empresa, onde os resíduos de origem animal darão início ao seu processo de decomposição. Para que não ocorra a contaminação por chorume de águas 19 subterrâneas, o aterro sanitário deve ser devidamente impermeável e receber uma manutenção estrutural constante. Terão ainda o mesmo destino as aparas curtidas, aparas caleadas e os pelos, sendo esses provenientes dos processos, respectivamente, de curtimento (tintura) e da ribeira (depilação e descarne). Portanto, a fase de maior preocupação ambiental é a fase de Ribeira, pois nela são utilizados vários componentes químicos que geram resíduos líquidos. Sendo esses destinados a própria Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) da empresa, onde lá passaram por processos de homogeneização, neutralização e oxidação de produtos. A principal finalidade de uma ETE é tratar a água utilizada no processo, podendo essa ser reutilizada novamente, além de gerar um resíduo sólido com pouca umidade. Dentre os produtos mais contaminantes utilizados no processo são: sulfato básico de cromo, hidróxido de cálcio, sulfeto de sódio e ácidos orgânicos. Cada reagente mencionado é utilizado em um processo distinto da Ribeira, sendo o curtimento com a utilização de sulfato básico de cromo, segundo remolho (depilação) com utilização de sulfeto de sódio e hidróxido de cálcio e piquelagem com a utilização de ácidos orgânicos. Portanto, a destinação correta dos efluentes é de suma importância, tendo em vista que a má destinação dos mesmos pode acarretar em contaminação do solo e da água. Enfatiza-se que perto da localização da indústria, se encontra o Rio Igaraçu (PI) que é o correspondente delta do Parnaíba, tendo uma extensão de 20 km de sua nascente até desaguar no Oceano Atlântico 5.6 Comportamento Geoquímico de Contaminantes Conhecer o comportamento dos elementos químicos no espaço tem sua importância, pois sua distribuição e migração pode ser afetada por fatores pré-existentes, ou seja, de forma natural, ou por fatores antrópicos. Portanto a área da ciência que focará nesse tipo de estudo é a Geoquímica. Destacando os elementos com maior poder contaminante inicia-se a discussão com o cromo, sendo esse um metal de transição e pesado, tendo como os principais estados de oxidação +2, +3 e +6. Além disso, esse metal é encontrado de forma 20 natural na crosta continental (126 mg/kg), nos solos (80 mg/kg) e em outros compartimentos terrestres, como nas rochas (granitos, granodioritos, xistos, argilitos, quartizitos e arenitos). O cromo possui baixa mobilidade em ambientes oxidantes, redutores, ácidos, neutros ou alcalinos. Sua forma mais móvel no solo é Cr6+ e também mais tóxica, a ingestão de até mesmo uma pequena quantidade desse elemento já pode desencadear problemas à saúde. Entretanto, a forma Cr3+ é a mais inofensiva e menos móvel, para que o elemento se reduza da forma 6+ para 3+ pode ocorrer de forma natural, demorando algumas semanas. Como um de seus estados de oxidação possui uma característica mais móvel, o mesmo pode ser absorvido pelas plantas e posteriormente ingeridos por animais ou seres humanos. Contudo, sua maior preocupação é quando o mesmo afeta a área hídrica, contaminado os lençóis freáticos, reservatórios e rios, quando possui alta concentração do metal nesse meio, o mesmo fica presente nos sedimentos de fundo. Por consequência, encontra-se dentro dos padrões de emissões de esgotos presentes na legislação e é um parâmetro de classificação de águas naturais. Nesse meio é encontrado na forma íons estáveis com ácidos húmicos e fúlvicos. Quanto ao hidróxido de cálcio, também conhecido como cal hidratado, tem ação direta no pH, pois o mesmo é uma base forte e sua solubilidade em água é considerada pequena. Sua manipulação deve ser de forma cuidadosa, pois o mesmo é tóxico e possui ação corrosiva. Ao alterar o pH do meio, altera a mobilidade geoquímica de outros elementos e interfere nos ecossistemas presentes. Os sulfetos possuem uma característica de baixa solubilidade, entretanto o sulfeto de sódio, junção entre sódio (Na) e enxofre (S), possui uma alta solubilidade devido a sua ligação iônica. Quando expostos ao ar atmosférico reagem com o dióxido de carbono (CO2), emitindo sulfeto de hidrogênio. Empresas que efetuam o processo de curtimento possuem um cheiro característico, podendo ser semelhante ao cheiro de “ovo podre”, isso é resultado da reação do sulfeto de sódio com o dióxido de carbono. E por último, referente aos ácidos orgânicos, os mesmos são encontrados no meio de forma natural. Contudo, qualquer elemento que esteja em concentração superior ao recomendado, pode alterar a qualidade do solo ou da água. 21 6. Conclusão Após todos os pontos abordados, infere-se que a localização da empresa analisada é adequada, considerando-se os aspectos geológicos da cidade de Parnaíba (PI). Quanto ao processo do curtume, esse se encontra em crescimento nos últimos 30 anos, passando por novas adequações na tecnologia para que não ocorra uma maior degradação ambiental. Entre todas as fases do processo, o poluente de maior preocupação é o cromo, tendo em vista que ele afeta tanto o meio ambiente quanto a saúde de organismos vivos. Para evitar consequências mais graves, é necessário adotar medidas de prevenção e de tratamento adequado dos efluentes. 22 7. Referências Bibliográficas ADRIANA MARQUES DA CUNHA. Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial - Abdi. Relatório de Acompanhamento Setorial: indústria de couro, 2011. 44 p. Disponível em: https://www3.eco.unicamp.br/neit/images/stories/arquivos/Relatorios_NEIT/Industr ia-de-Couro-marco-de-2011.pdf. Acesso em: 11 set. 2020. A História do Couro. Disponível em: https://www.cobrasil.com.br/pt/a-historia-do- couro#:~:text=O%20couro%20%C3%A9%20a%20pele%20curtida%20de%20orig em%20animal.&text=No%20s%C3%A9culo%20VIII. Acesso em: 10 set. 2020 BRASIL. ROBÉRIO BÔTO DE AGUIAR. (org.). PROJETO CADASTRO DE FONTES DE ABASTECIMENTO POR ÁGUA SUBTERRÂNEA ESTADO DO PIAUÍ: diagnóstico do município de Parnaíba. Fortaleza, 2004. Disponível em: http://rigeo. cprm.gov.br/xmlui/bitstream/handle/doc/16371/Rel_Parnaiba.pdf?sequence=1. Acesso em: 16 set. 2020. COLÓQUIO DE MODA, 9., 2013, Fortaleza. IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELOS CURTUME. Fortaleza, CE [2015]. 11 p. 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