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Prévia do material em texto

Disciplina 
Didática I 
 
 
Coordenador da Disciplina 
Prof.ª Nidia Barone 
 
 
7ª Edição
 
 
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, 
transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. 
 
Créditos desta disciplina 
 
Realização 
 
 
Autor 
 
Prof. Paulo Meireles Barguil 
Colaborador (es) 
 
 
Prof.ª Silvany Bastos Santiago 
Prof.ª Nidia Barone 
 
 
 
Sumário 
 
Aula 01: Escola, Sociedade, Trabalho docente e Didática .................................................................... 01 
 Tópico 01: Introdução à disciplina ......................................................................................................... 01 
 Tópico 02: Função Social da Escola: Manutenção ou Transformação da Realidade? ........................... 05 
 Tópico 03: Trabalho Docente: Características, Especificidades e Exigências do Cenário 
Contemporâneo ........................................................................................................................................... 12 
 Tópico 04: Didática: aspectos históricos, perspectivas atuais e contribuição para o trabalho docente . 17 
 
Aula 02: Educação: crise de paradigmas ................................................................................................ 23 
 Tópico 01: Contextualizando a crise educacional .................................................................................. 23 
 Tópico 02: (Des)Encontros na Escola e Na Sala de Aula: Ética, Diálogo e Violência - I..................... 34 
 Tópico 03: (Des)encontros na escola e na sala de aula: ética, diálogo e violência - II.......................... 42 
 Tópico 04: As teorias educacionais e contribuições para o trabalho docente ........................................ 52 
 Tópico 05: Relação entre as teorias de aprendizagem e as práticas educacionais ................................. 67 
 
Aula 03: Organização do Trabalho Docente .......................................................................................... 79 
 Tópico 01: Interdisciplinaridade e Transposição Didática..................................................................... 79 
 Tópico 02: Inovações Pedagógicas ........................................................................................................ 87 
 Tópico 03: Planejamento Educacional................................................................................................... 90 
 Tópico 04: Elementos de um Plano de Ensino....................................................................................... 94 
 
 
 
 
 
Didática I 
Aula 01: Escola, Sociedade, Trabalho Docente e Didática 
Tópico 01: Introdução à disciplina
Palavra da Coordenadora da Disciplina de Didática I
VERSÃO TEXTUAL 
Sou prof.ª Nidia Barone, pedagoga, psicopedagoga, especialista em educação, mestranda 
em Tecnologia da Informação e Comunicação em formação para a EaD, gerente do Centro de 
Produção do Instituto UFC Virtual, professora universitária ...
Estou também como professora conteudista de Didática I onde abordaremos o que vem a 
ser "Ensinar". Ensinar não é apenas transmitir conteúdos, executar tarefas, avaliar e aprovar ou 
reprovar. Ensinar antes de tudo é dialogar com as infinitas possibilidades do conhecimento; é 
abrir mentes, é combater a cegueira da escuridão mental; é dar razão ao sentido da vida, do ser e 
do mundo. É repassar firmeza, autoestima, capacidade, controle, atenção; é conduzir o ser ao 
caminho certo da reflexão, da exatidão, da inexatidão, enfim, das certezas e incertezas que nos 
conduzem na busca pelo saber. 
Queremos também refletir sobre o seu papel enquanto educador. 
Ser professor, não é apenas ser um diplomado, o dono do conhecimento. Ser professor é 
mais que isso. É ser um mestre da sabedoria e do transmitir a sabedoria. É dialogar com as 
múltiplas possibilidades e dificuldades do ensinar; é ser compreensível, atencioso e não ter medo 
de errar ou acertar; é ser um ser humano que busca entender e ensinar o outro.
Portanto, nossa disciplina de didática, trará algumas questões importantes sobre ensino, 
escola, sociedade, conhecimento, aprendizagem, professor, aluno e planejamento. Indagações 
que diariamente acompanham o dia a dia daqueles que se envolvem com a educação.
Nossa disciplina de Didática será dividida em três aulas que têm por objetivo:
• Destacar a função social da escola na sociedade;
• Compreender o andamento do professor em sala de aula, bem como saberes e competências;
• Analisar as concepções de ensino e aprendizagem diante das dificuldades da atual educação 
brasileira;
• Verificar o papel do professor e do alunado mediante as concepções de educação no Brasil;
• Compreender a importância do planejamento e da avaliação escolar durante o processo de ensino 
e aprendizagem do aluno;
• Investigar os encontros e desencontros entre aluno, professor, sociedade e violência escolar.
Na primeira aula focaremos a escola, a sociedade, o trabalho docente e a didática. Nessa 
unidade, traçaremos definições importantes sobre a Didática e de sua importância para a prática 
docente em sala de aula: a didática como ferramenta do processo de ensino aprendizagem do 
professor. Iremos trabalhar a relação aluno - professor; o processo do ensinar e do aprender; e 
verificar a função social da escola. Nosso objetivo é compreender o papel da escola na 
sociedade; do professor e sua prática de ensino; da arte de ensinar e de aprender.
Num segundo momento de nossa disciplina, discutiremos a crise educacional no Brasil, 
traçando um olhar sobre a sala de aula, a estrutura escolar, a realidade social e sua influência na 
educação, a violência no ambiente escolar e a relação aluno - professor - conhecimento - 
1
aprendizagem. O objetivo dessa unidade 2 é compreender o processo de educação no Brasil, bem 
como verificar os paradigmas educacionais que estão inseridos no processo de ensino e 
aprendizagem do aluno.
Na terceira e última aula, discutiremos a organização do trabalho docente, as inovações 
pedagógicas e o processo de planejamento das aulas, o currículo, a interdisciplinaridade e as 
renovações do saber. Nosso objetivo é entender o seguinte: o que ensinar? Como ensinar? Por 
que ensinar? Com que ensinar? 
Devemos pensar no saber e na forma de repassá-lo. E é por isso que devemos traçar uma 
maneira criativa, amistosa e saudável de educar. Dar aula não é uma tarefa fácil, pois exige muito 
de nós. Contudo, só podemos afirmar uma coisa: existe enumeras maneiras de ensinar invente a 
sua... ! 
Sejam todos bem-vindos à disciplina de didática!
Forte abraço a todos,
Prof.ª Nidia Barone
Nesta disciplina, estudaremos sobre a Didática, a qual se constitui 
num importante aspecto do trabalho docente, que precisa ser entendido 
na complexa relação escola – sociedade.
Para compreender a Didática de forma crítica, convém que o professor, constantemente, se indague:
VERSÃO TEXTUAL 
• Qual é a função social da escola na atualidade?
• Que saberes e competências eu preciso ter para ser um bom profissional na sociedade 
contemporânea, caracterizada pela crescente competitividade?
• O que é Didática?
• Quais são as concepções de ensino e de aprendizagem em que acredito?
• Que papéis o professor e o estudante desempenham na relação pedagógica?
• Qual é a importância do planejamento e da avaliação na minha atividade profissional?
• Quais são e como se articulam os elementos constantes de um plano de trabalho?
As respostas para tais questionamentos são variadas e expressam, dentre outros, valores éticos, 
cognitivos e políticos.
O exercício da docência pressupõe coragem tanto para formular tais perguntas (e outras!) quanto 
para procurar respostas, as quais são sempre parciais, tendo em vista o caráter dinâmico da vida.
Duranteestas aulas, as temáticas acima serão discutidas, permitindo que vocês, num processo 
individual e coletivo, (re)construam as crenças que orientarão a sua prática profisssional.
2
Didática
Fonte [1]
Quantas vezes já ouvimos (e falamos): “Fulano não tem didática!” para expressar a dificuldade 
desse(a) docente em socializar os conhecimentos aos seus estudantes? Mas, o que é a Didática? É 
possível aprender a ter Didática? Se sim, o que é necessário?
Didática, conforme o dicionário Aurélio, é: “[Fem. substantivado de didático.] 
S. f. 1. A técnica de dirigir e orientar a aprendizagem; técnica de ensino. 2. O 
estudo desta técnica.” (FERREIRA, 1993, p. 587).
De acordo com a definição supra, a Didática é uma técnica (que dirige e orienta a aprendizagem e de 
ensino) que pode ser estudada. Não é de estranhar, portanto, que, muitas vezes, os estudantes, no início 
desta disciplina, tenham a expectativa de apreender tal técnica, que equivaleria a receitas.
Desde o século passado, a Educação tem vivido uma crise, a qual demanda do professor uma 
compreensão quanto à sua natureza, de modo que a sua atitude diante dela seja satisfatória. 
Postulo que um dos fatores que contribui para este quadro educacional é de natureza epistemológica, 
em virtude de o ensino, numa perspectiva tradicional, ter primazia sobre a aprendizagem. Acredito que, de 
modo geral, a preocupação do professor é muito mais com o ensino do que com a aprendizagem. 
As descobertas da neurociência na década recente ratificaram, de forma incisiva, as teorias de 
aprendizagem que enfatizam a importância da atividade do sujeito, da valorização das suas experiências e 
conhecimentos prévios, os quais são ponto de partida para os conceitos que se deseja que ele aprenda.
Tendo em vista que, conforme a definição supra, Didática é um substantivo originado de Didático, 
convém conhecer, também, a definição deste:
Didático, conforme o dicionário Aurélio, é: “[Do gr. Didaktikós.] Adj. 1. 
Relativo ao ensino ou à instrução, ou próprio deles: problemas didáticos. 2. 
Próprio para instruir; destinado a instruir: livro didático. 3. Que torna o ensino 
eficiente: Bom professor, recorre em suas aulas a todos os expedientes 
didáticos. 4. Típico de quem ensina, de professor, de didata: Tem um modo 
didático de se exprimir.” (FERREIRA, 1993, p. 587).
Os problemas de aprendizagem revelam, na grande maioria das vezes, problemas de ensino (de 
didática), em virtude de o professor acreditar que o domínio de conteúdos e de certas técnicas é suficiente 
para garantir a aprendizagem dos estudantes.
REFLEXÃO
3
Para reflexão, sugerimos a leitura do texto A volta de um personagem do século XVI ao Brasil. 
(clique aqui para abrir (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)) 
Como entender que a educação escolar ainda utilize, a despeito das inúmeras transformações 
sociais, muitas vezes, práticas pedagógicas que se revelam, cada vez mais, inadequadas? Quais são 
as consequências da continuidade dessas rotinas?
DICA
O que é Educação? (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
No próximo tópico, será analisada a relação escola e sociedade.
4
Didática I 
Aula 01: Escola, Sociedade, Trabalho Docente e Didática 
Tópico 02: Função Social da Escola: Manutenção ou Transformação da Realidade?
REFLEXÃO
A sociedade brasileira se caracteriza, dentre outras coisas, por profundas e históricas 
desigualdades, frutos de um processo de exclusão e segregação social.
- Será que a educação pública tem algo a ver com isso? 
- Será a educação mais uma expressão do descaso do Estado com as demandas da grande maioria 
da população? 
- Poderá a educação contribuir de alguma forma para a transformação desta situação?
A relação entre Educação e Sociedade pode ser entendida, numa perspectiva filosófica, de três 
formas distintas:
Redenção
A educação é capaz de salvar a sociedade dos desvios individuais e grupais que 
a ameaçam (redenção).
Reprodução
A educação reproduz a sociedade, uma vez que os determinantes econômicos, 
sociais e políticos impedem que práticas pedagógicas contrárias ao sistema se 
desenvolvam (reprodução).
Transformação
A educação viabiliza um projeto social, que pode ser conservador ou 
transformador, tendo em vista o caráter histórico da sociedade (transformação).
As tendências redentora e transformadora expressam-se, respectivamente,  nas concepções 
pedagógicas liberal e progressista. Essas tendências, segundo Libâneo (1996), se diferenciam quanto:
LIBERAL
(tradicional, renovada progressivista, renovada não diretiva e tecnicista)
PROGRESSISTA
(libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos)
5
- ao papel da escola
- os conteúdos de ensino
- os métodos
- o relacionamento professor-estudante
- os pressupostos de aprendizagem
- as manifestações na prática escolar 
PARADA OBRIGATÓRIA
As Tendências Pedagógicas e a prática escolar. (Visite a aula online para realizar download deste 
arquivo.)
Paulo Freire
Fonte [2]
Descrição 
da 
imagem:
Foto 
do 
educador 
Paulo 
Freire. 
Paulo Reglus Neves Freire (1921-
1997) - foi um educador, escritor e 
filósofo pernambucano. Considerado um 
dos pensadores mais notáveis na história 
da pedagogia mundial, tendo 
influenciado o movimento chamado 
pedagogia crítica. É também o Patrono 
da Educação Brasileira.
6
Cabelos 
brancos 
que vão até 
abaixo dos 
ombros, e 
barba 
comprida, 
também, 
branca. 
Usa óculos 
de 
armações 
finas e 
veste 
paletó 
preto e 
camisa 
lilás, com 
gravata. 
Acredito que a escola pública é um espaço importante que as classes trabalhadoras têm para 
compreender a História do Brasil. Para tanto, elas precisam ter acesso às informações e saber interpretá-
las. Paulo Freire [3] formulou, nos anos 60, um método de alfabetização [4], que sintetiza seu 
compromisso com a transformação do mundo, a qual só é possível quando as pessoas se percebem 
como sujeitos e não como objetos da História (Pedagogia da Libertação). 
Neste sentido, ele diferenciou a educação bancária  da educação libertadora/problematizadora.
Educação bancária
O conhecimento é decorado, fruto da transmissão acrítica dos conteúdos “guardado” em gavetas.
Educação libertadora/problematizadora
O conhecimento é entendido na sua dimensão histórica, seja no que se refere à sua construção, 
seja na sua relevância na realidade dos discentes (que sempre nos perguntam: “Professor, para que 
eu vou estudar isto?”), possibilitando que esses elaborem significado/sentido dos saberes 
socializados.
Compartilho, portanto, da opinião de Freire :
Uma das tarefas essenciais da escola, como centro de produção sistemática 
de conhecimento, é trabalhar criticamente a inteligibilidade das coisas e dos fatos 
e a sua comunicabilidade. É imprescindível, portanto, que a escola instigue 
constantemente a curiosidade do educando em vez de ‘amaciá-la’ ou ‘domesticá-
la’. (FREIRE, 2009, p. 122-123)
7
MULTIMÍDIA
Filosofia de Paulo Freire I [5].
Filosofia de Paulo Freire II [6].
O professor é um profissional cujo trabalho é ajudar estudantes (crianças, adolescentes e adultos) no seu 
processo de crescimento pessoal, o qual contempla múltiplas dimensões: cognitiva, afetiva, física, social.
Considerando que os estudantes brasileiros vivem num país de seculares injustiças, é fundamental que o 
cotidiano escolar (conteúdos, práticas...) favoreça a compreensão discente quanto aos fatores que perpetuam 
tal dinâmica, bem como na instauração de renovadas relações, pautadas em valores éticos.
Fonte [7]
Descrição da imagem:
Imagem ilustrativa com os seguintes dizeres:
Pretérito: eu não estudei. Tu não se responsabilizaste. Eles não 
investiram em educação.
Presente: eu depredo, me drogo, agrido. Tu choras. Eles não 
investem em educação.
Futuro: Eu sofrerei. Tu sofrerás. Eles se elegerão.
REFLEXÃO
Que profissional/cidadão a escola pública brasileira, que atende 85% das nossas crianças e 
adolescentes, deveajudar a formar? Entender a sociedade como resultado da ação humana e não de 
fenômenos naturais pode aumentar a intensidade do compromisso na transformação daquela? É possível 
aprender a ser cidadão na escola? 
Edgar Morin
8
Fonte [8]
Descrição 
da 
imagem:
Foto do 
educador 
Edgar Morin. 
Cabelos 
brancos, 
boné preto. 
Usa uma 
blusa cinza 
por fora e um 
cachecol 
xadrez 
(vermelho, 
preto e 
branco). 
Edgar Morin - cujo verdadeiro nome é 
Edgar Nahoum, nasceu em 8 de julho 
de 1921. Formado em Direito, Geografia 
e História, ele também realizou estudos 
em filosofia, sociologia e epistemologia. 
Edgar Morin é considerado um dos 
principais pensadores ainda vivo. 
Edgar Morin acredita que a Educação, em todos os níveis, precisa contemplar sete aspectos para atender 
às demandas do futuro, o que implica na redefinição de objetivos e práticas dos cotidianos escolares. 
A seguir, um breve resumo de “Os sete saberes necessários à Educação do futuro”, na concepção de 
Morin:
AS CEGUEIRAS DO CONHECIMENTO: ERRO E ILUSÃO 
Conhecer é interpretar, construir significado, a partir das nossas experiências. Desta forma, 
devem-se considerar o erro e a ilusão, uma vez que a realidade se modifica a todo momento: 
objetivamente (os acontecimentos) e subjetivamente (as nossas leituras).
9
OS PRINCÍPIOS DO CONHECIMENTO PERTINENTE 
Conhecer é integrar dimensões variadas (partes) para entender a (complexidade da) realidade 
(todo). 
IDENTIDADE HUMANA 
Resgatar a identidade humana, compreendendo-a como uma espécie organizada em sociedade 
que habita a Terra, a qual participa de um cosmos repleto de mistérios (indivíduo-espécie-sociedade). 
Ao mesmo tempo, somos homo sapiens, ludens, economicus, mitologicus ...
A COMPREENSÃO HUMANA 
Compreender o outro e a si mesmo como indivíduos complexos. O individualismo é uma ameaça 
à espécie humana, pois afasta a pessoa dos seus semelhantes e de si, gerando sérios problemas de 
natureza emocional, que se revelam na qualidade dos relacionamentos. 
A INCERTEZA 
A incerteza e o inesperado fazem parte da vida, da ciência. A história da humanidade é uma 
possibilidade e não uma determinação da natureza. 
A CONDIÇÃO PLANETÁRIA 
A Terra precisa ser cuidada para que possamos nela continuar. A ecologia, os conflitos 
religiosos e políticos, as demandas (crises) econômicas e a escassez de alimento e de água revelam 
que precisamos zelar pela perpetuação da nossa espécie. 
A ANTROPOÉTICA 
A antropoética enfatiza que o Homem tem três aspectos: individual, social e genético. Ela só 
pode se manifestar na democracia, ao permitir que os indivíduos assumam, na medida do possível, a 
sua responsabilidade social. As ONG, que funcionam sem se prender à religião e à política, permitem 
que a humanidade desenvolva uma ética atenta aos imensos desafios contemporâneos.
10
MULTIMÍDIA
Os sete saberes – Edgar Morin [9].
Defendo, com vigor, que a escola tem um importante papel na difusão e na vivência de novos valores 
humanos. Ela é, portanto, um espaço de formação, entendida não como um local que adapta, modela as 
pessoas, de acordo com interesses estranhos a elas, mas que possibilita que cada artesão-sujeito descubra a 
configuração que deseja.
Finalizo este tópico com mais uma contribuição do maior educador brasileiro:
(...) se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental a 
educação pode. Se a educação não é a chave das transformações sociais, 
não é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante. O que 
quero dizer é que a educação nem é uma força imbatível a serviço da 
transformação da sociedade, porque assim eu queira, nem tampouco é a 
perpetuação do status quo porque o dominante o decrete. (FREIRE, 2009, p. 
112)
O compromisso político demanda uma satisfatória formação técnica, o que nos remete à seguinte 
indagação: “Quais são as competências que o professor precisa ter?”. É o que será abordado na próxima 
seção.
LEITURA COMPLEMENTAR
Função Social da Escola (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.).
OLHANDO DE PERTO
Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra (Visite a aula online para realizar download 
deste arquivo.).
Os sete saberes necessários à Educação do futuro (Visite a aula online para realizar download deste 
arquivo.).
11
Didática I 
Aula 01: Escola, Sociedade, Trabalho Docente e Didática 
Tópico 03: Trabalho Docente: Características, Especificidades e Exigências do Cenário 
Contemporâneo
VERSÃO TEXTUAL 
• O que significa ser professor(a)? 
• Quais são as características desta profissão? 
• Considerando as novas tecnologias de informação e comunicação, que facilitam o acesso à 
informação, o professor ainda é necessário no processo de aprendizagem dos estudantes? 
• Será que os cursos de formação têm atendido aos novos desafios? 
• Os professores podem atender satisfatoriamente tais crescentes mudanças? 
Não existe professor sem estudante e conhecimento. O trabalho docente, portanto, demanda a 
presença destes dois componentes (esta temática será abordada, sob diversos aspectos, reiteradas vezes 
durante estas aulas). 
O ensino é “[...] uma prática social concreta, dinâmica, multidimensional, 
interativa, sempre inédita e imprevisível. É um processo que sofre influências de 
aspectos econômicos, psicológicos, técnicos, culturais, éticos, políticos, 
institucionais, afetivos, estéticos.” (PASSOS, 2006b, p. 01).
LEITURA COMPLEMENTAR
Características do trabalho docente. (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
Quais são os saberes que o professor precisa para desempenhar de forma satisfatória seu labor? 
Diversos pesquisadores têm investigado sobre este assunto e enfatizando a sua relevância “[...] para a 
formação, atuação e desenvolvimento dos professores.” (CUNHA, 2009). 
Na sua prática profissional (planejamento, implementação e avaliação), o professor precisa 
gerir/administrar a matéria e a sala de aula, ou seja, ele mobiliza diferentes saberes. 
O quadro abaixo apresenta uma síntese das categorias dos saberes docentes formuladas por alguns 
dos estudiosos mais conceituados sobre esse tema: 
Categorização dos “saberes docentes ou dos professores”
12
Tardif, 
Lessard 
e Lahaye 
(1991)
Pimenta
(1999)
Gauthier et al
(1998)
Saviani
(1996)
Das disciplinas 
e currículos
Do 
conhecimento
Disciplinares e 
curriculares
Específico e 
didático-
curricular
Da formação 
profissional
Pedagógicos
Das Ciências da 
Educação, da 
tradição pedagógica 
e da ação 
pedagógica
Pedagógico, 
crítico-
contextual e
atitudinal
Da experiência
Da 
experiência
Da experiência
Descrição da Tabela:
Tardif, Lessard e Lahaye (1991): Das disciplinas e curriculares - Da 
formação profissional - Da experiência.
Pimenta (1999): Do conhecimento - Pedagógicos - Da experiência.
Gauthier et AL (1998): Disciplinares e curriculares - Das Ciências da 
Educação, da tradição pedagógica e da ação pedagógica - Da experiência. 
Saviani (1996): Específico e didático-curricular - Pedagógico, crítico-
contextual e atitudinal
A formulação de Pimenta (1999) congrega em três amplas categorias os saberes docentes. São elas:
Do conhecimento
Contempla o saber disciplinar (conteúdo a ser ensinado) e o saber 
curricular (seleção e organização do conteúdo).
Pedagógicos
Refere-se às teorias da Educação, que permitem o entendimento dos 
processos de ensino e de aprendizagem.
Da experiência
Contempla as representações que orientam (princípios, crenças ...) a 
prática docente, as quais estão em permanente transformação, pois que se 
alimentam da realidade, enquanto inspiração e espaço de validação.
13
Por entender que o saber da experiência refere-se, muitas vezes, aos saberes do conhecimento e 
pedagógico, e que a dimensão subjetiva do pesquisador é ignorada, proponho a substituição do saber da 
experiência pelo saber existencial, que se refere aos sentimentos, valores, crenças e ideais docentes, osquais o (i)mobilizam na melhoria dos demais saberes.
PARADA OBRIGATÓRIA
Saberes Necessários à Prática do Professor (Visite a aula online para realizar download deste 
arquivo.)
A transformação da sociedade na contemporaneidade implica na redefinição da Educação, da escola 
e do trabalho docente.
Libâneo (1998) defende a importância do professor para auxiliar o estudante a aprofundar o seu 
significado da cultura e da ciência. Considerando este contexto, ele apresenta as seguintes novas atitudes 
docentes: 
1) Assumir o ensino como mediação: aprendizagem ativa o aluno com a ajuda pedagógica do 
professor;
2) Modificar a ideia de uma escola e de uma prática pluridisciplinares para uma escola e uma 
prática interdisciplinares;
3) Conhecer estratégias do ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender;
4) Persistir no empenho de auxiliar os alunos a buscarem uma perspectiva crítica dos 
conteúdos, a se habituarem a apreender as realidades enfocadas nos conteúdos escolares de 
forma crítico-reflexiva;
5) Assumir o trabalho de sala de aula como um processo comunicacional e desenvolver 
capacidade comunicativa;
6) Reconhecer o impacto das novas tecnologias da comunicação e informação na sala de aula
(televisão,vídeo games, computador, internet, CD-ROM, etc);
7) Atender à diversidade cultural e respeitar as diferenças no contexto da escola e da sala de 
aula;
8) Investir na atualização científica, técnica e cultural, como ingredientes do processo de 
formação continuada;
9) Integrar no exercício da docência a dimensão afetiva;
10) Desenvolver comportamento ético e saber orientar os alunos em valores e atitudes em 
relação à vida, ao ambiente, às relações humanas, a si próprios (LIBÂNEO, 1998, p.28-48).
14
Zabalza (2003) apresenta as seguintes competências docentes, as quais, no seu entendimento, são 
imprescindíveis para quem quer atuar na escola do futuro: empática, comunicativa, cognitiva, didático-
disciplinar, institucional, criativa e cidadã. É possível alguém atender a tudo isto?
Diante de tantas adversidades (salário baixo, excesso de trabalho, indisciplina e violência na sala, 
pressão dos superiores na hierarquia, desgate físico e falta de valorização) e exigências, o docente 
brasileiro está, cada vez mais, doente. Este drama tem recebido a atenção de profissionais da educação e 
da saúde, uma vez que interfere diretamente na qualidade do trabalho docente e da sua vida pessoal.
Descrição da imagem:
É importante compreender a natureza deste problema, o 
qual tem gerado um alto custo social, seja porque, muitas 
vezes, faltam profissionais habilitados na sala de aula, seja 
porque o investimento do poder público na formação docente é 
desperdiçado. As políticas públicas precisam, inspiradas nos 
diagnósticos emanados das pesquisas sobre essa temática, 
atuar de forma vigorosa na reversão do cenário acima relatado, 
sob pena de continuarmos a assistir a diminuição da qualidade 
de vida (pessoal e profissional) do professor.
PARADA OBRIGATÓRIA
Sob pressão (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) - O Estresse docente
REFLEXÃO
Qual é a contribuição da Didática na compreensão e superação dos desafios profissionais?
15
O papel da Didática na Educação (e no trabalho docente) tem se modificado ao longo da História, 
sendo assunto do próximo tópico.
LEITURA COMPLEMENTAR
Leia os seguintes artigos para saber mais sobre o trabalho docente: 
◦ Desafios e possibilidades ao trabalho docente e à sua relação com a saúde (Visite a aula online para realizar download 
deste arquivo.)
◦ Educação, cultura e desporto: concepção e desafios para o século XXI (Visite a aula online para realizar download deste 
arquivo.)
◦ Experiência e competência no ensino (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
◦ Formação docente como estratégia de superação do precarizado trabalho docente (Visite a aula online para realizar 
download deste arquivo.)
◦ Globalização e Educação: ideias para um debate (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
◦ Saberes docentes ou saberes dos professores? (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
◦ Perspectivas atuais na Educação (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
◦ Significado e sentido do trabalho docente (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
◦ Trabalho docente: características e especificidades (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
16
Didática I 
Aula 01: Escola, Sociedade, Trabalho Docente e Didática 
Tópico 04: Didática: aspectos históricos, perspectivas atuais e contribuição para o trabalho 
docente
A Didática, como área de conhecimento dos cursos de formação de 
professores, caracteriza-se pela mudança dos seus objetos e objetivos.
Fonte [10]
Descrição 
da 
imagem:
Retrato 
do 
Comênius, 
Cabelos 
castanhos 
que vão até 
os ombros, 
e barba 
comprida, 
também, 
castanha. 
Veste 
roupa 
eclesiástica 
preta, 
própria 
para bispo, 
e uma 
estola 
vermelha. 
[Jan Amos Komenský – Iohannes 
Amos Comenius] (1592-1670) - foi 
um bispo protestante da Igreja Morávia, 
educador, cientista e escritor checo. 
Como pedagogo, é considerado o 
fundador da didática moderna.
17
Em 1657, Iohannes Amos Comenius [11] – João Amos Comênio, em Português – publicou, em latim, 
Didactica Magna (Didática Magna – Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos), tida como a 
primeira obra no mundo ocidental voltada aos processos de ensinar e de aprender, motivo pelo qual é 
considerado como o pai da Didática Moderna.
A proposta educacional de Comênio – ensinar tudo a todos – afrontava a concepção escolástica 
católica, que era voltada à elite e com currículo restrito, permeado de conteúdos abstratos.
Comênio acreditava no poder da educação para aproximar o Homem de 
Deus, tornando-o bom cristão: sábio (erudição), crente (religião) e generoso 
(virtude).
No entendimento desse pensador, o cotidiano escolar deveria se inspirar no ritmo da natureza, 
contemplando todas as áreas do conhecimento e valorizando as situações do cotidiano, além de atender 
às necessidades e aos interesses de professor e estudantes.
Por acreditar que tudo o que se deveria saber necessitaria ser ensinado, Comênio defendia que o 
professor, durante o ensino, deveria: 
Gravura do próprio Comênio para um
de seus livros de texto: aprender brincando [12]
Descrição da Imagem:
Gravura feita pelo próprio Comênio para um de seus livros. A gravura 
traz várais crianças se divertindo num espaço ao ar livre e cercado. Elas 
são observadas por um adulto enquanto brincam.
i) ser claro e direto;
ii) utilizar aplicações práticas para facilitar o processo de aprendizagem;
iii) enfatizar as origens desse conteúdo;
iv) explicar, inicialmente, os princípios gerais;
18
v) respeitar o tempo adequado para fazê-lo.
A Didática Magna contém as características principais da escola moderna: 
o entendimento da infância como momento único; a influência da relação 
família-escola no desenvolvimento do estudante; a necessidade de uma 
metodologia de ensino (tendo ele proposto a instrução simultânea); e o 
educador como uma pessoa preparada para tal ofício.
Introdução da Didática Magna, de Comênio
TRATADO DA ARTE UNIVERSAL DE ENSINAR TUDO A TODOS 
Processo seguro e excelente de instituir, em todas as comunidades de qualquer Reino 
cristão, cidades e aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem excetuar 
ninguém em siveiarte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes, 
impregnada de piedade, e, desta maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo o 
que diz respeito à vida presente e à futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e 
com solidez.
Onde os fundamentos de todas as coisas que se aconselham são tirados da própria natureza 
das coisas; a sua verdade é demonstrada com exemplos paralelos das artes mecânicas; o cursodos estudos é distribuído por anos, meses, dias e horas; e, enfim, é indicado um caminho fácil e 
seguro de pôr estas coisas em prática com bom resultado.
A proa e a popa da nossa Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os 
professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais; nas escolas, haja menos barulho, 
menos enfado, menos trabalho inútil, e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atrativo e mais 
sólido progresso; na Cristandade, haja menos trevas, menos confusão, menos dissídios, e mais 
luz, mais ordem, mais paz e mais tranqüilidade.
Fonte: Comenius (2001)
A cronologia, a seguir apresentada, não é consenso entre os estudiosos, mas permite compreender a 
trajetória percorrida na estruturação da Didática no Brasil. Destacam-se, na versão escolhida, quatro 
momentos:
Primeiro Momento
Começa com a sua implantação em 1939, como curso e disciplina, e termina no 
começo dos anos 50. Ela se caracteriza, inicialmente, pela dificuldade de se definir e 
delimitar seu objeto e conteúdo e pela influência da Escola Nova, que enfatizou 
conteúdos técnicos e metodológicos. 
Segundo Momento
19
Da década de 1950 até meados dos anos 70, a Didática aprofunda a dimensão 
técnica-metodológica, priorizando o caráter normativo/prescritivo, sob o manto da 
neutralidade científica, e afastando-se da reflexão quanto aos determinantes e 
objetivos sociopolíticos da Educação. Oliveira e André (1997, p. 8) caracterizam este 
momento como “(...) o da construção da Didática na perspectiva do liberalismo”.
Terceiro Momento
Situado entre a segunda metade da década de 1970 e a primeira metade da 
década seguinte, que tem como marco fundante o I Seminário “A Didática em 
Questão” (1982), vê brotar críticas e denúncias à Didática Tecnicista – que 
mascarava o caráter reprodutivista da escola – redundando em movimentos 
antagônicos: negação e reconstrução da área. No que se refere à última perspectiva, 
diversos encontros nacionais propiciaram o aporte teórico e prático necessário para 
redefini-la, ao promover o intercâmbio de pesquisas e experiências pedagógicas de 
intelectuais e professores.
Quarto Momento
Inicia-se na segunda metade da década de 1980 e chega até a atualidade, 
expressa o esforço dos especialistas da área para articular o saber didático às 
questões metodológicas, epistemológicas e ideológicas, compreendendo o ensino 
como prática social concreta. Neste sentido, o ensino precisa ser analisado nas suas 
múltiplas dimensões, evitando os reducionismos das fases anteriores, o que significa 
dizer que a Educação deve ser contextualizada nos seus aspectos sociais, históricos, 
políticos e culturais, levando à compreensão dos pressupostos que inspiram as 
práticas pedagógicas e articulam teoria e prática.
Esse breve relato permite perceber os avanços que ocorreram na área no 
que se refere às críticas e aos esforços de superá-las, que se expressa na 
reconfiguração da área, atenta às exigências e aos desafios contemporâneos.
LEITURA COMPLEMENTA
Leia o trecho extraído de Passos (2006a).
A didática no contexto atual (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)
A Educação é um fenômeno social que pode ser vivenciado com graus diferentes de formalidade: 
formal, não formal e informal. 
Formal
Ministrada por instituições – colégios, escolas, faculdades, institutos, 
universidades públicas e privadas, destinadas à Educação Básica e à Educação 
Superior.
Não formal
20
Ministrada por instituições – empresas, escolas profissionalizantes, ONGs – 
com caráter complementar e suplementar em relação à educação formal.
Informal
Ministrada no cotidiano, num processo contínuo, assistemático e não 
organizado.
A Pedagogia é a Ciência que busca descrever e compreender a Educação, as teorias e as práticas 
educativas, com o intuito de melhorá-las.
A Didática, por sua vez, é uma disciplina pedagógica voltada ao processo de ensino, o que implica 
investigar, também, o processo de aprendizagem. A ação educativa contempla aspectos cognitivos, 
afetivos, éticos, políticos, dentre outros.
Na próxima aula, estudaremos sobre a crise educacional. 
LEITURA COMPLEMENTAR
Didactica Magna (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.).
OLHANDO DE PERTO
O habitus professoral: o objeto dos estudos sobre o ato de ensinar na sala de aula. (Visite a aula 
online para realizar download deste arquivo.)
A Trajetória Histórica da Didática (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.).
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Entreviste dois agentes pedagógicos: um docente e um discente, conforme orientações no 
roteiro. (Clique aqui para seguir roteiro da atividade) (Visite a aula online para realizar download deste 
arquivo.).
Após entrevistas e considerando as leituras e as reflexões realizadas na aula 01, redija o que você 
aprendeu com essa atividade. Coloque a sua produção no seu Portfólio. 
FÓRUM
Comente com seus colegas e com seu(sua) tutor(a) a relação entre Didática e o texto “Os sete 
saberes necessários à educação do futuro (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)", 
de Edgar Morin. Para o autor, esses saberes relacionam-se aos “setes buracos negros da educação”, 
que são completamente ignorados, subestimados ou fragmentados nos programas educativos.
Fontes das Imagens
21
1 - https://media.giphy.com/media/CH4ejLIpCfwly/giphy.gif
2 - http://www.ufrgs.br/ufrgs/noticias/jornadas-na-faced-debatem-o-pensamento-de-paulo-freire
3 - https://brasilescola.uol.com.br/biografia/paulo-freire.htm
4 - https://www.infoescola.com/pedagogia/metodo-paulo-freire/
5 - http://www.youtube.com/watch?v=c0qEP5cIp_o
6 - http://www.youtube.com/watch?v=qxnNKNPeWFM
7 - http://blogorlandeli.zip.net/images/charge24x11x07.jpg
8 - http://4.bp.blogspot.com/_NGfADw-06_Q/Rx_RtOhqcTI/AAAAAAAAAHc/f7lNjvtLrVY/s400/falamestre.jpg
9 - http://www.youtube.com/watch?v=C0RyOmLZ4aE
10 - http://comenius-projekte.eu/johann-amos-comenius-2/
11 - https://www.infoescola.com/biografias/jan-amos-comenius/
12 - http://3.bp.blogspot.com/-7LDxr4WioEk/T831QrVytdI/AAAAAAAAAXk/465lFPA8qyY/s1600/brincar.jpg
22
Didática I 
Aula 02: Educação: crise de paradigmas 
Tópico 01: Contextualizando a crise educacional
Neste esforço de compreender a crise educacional, é necessário que sejam investigadas as relações 
entre as pessoas, notadamente a relação professor-estudante. 
O Homem é um ser complexo, que tem várias dimensões – física, 
emocional, espiritual, cognitiva, ... – as quais precisam ser consideradas. 
Neste tópico, enfatizaremos a dimensão cognitiva, que é a mais facilmente percebida na Educação. 
No próximo, contemplaremos os aspectos emocionais e físicos, os quais, infelizmente, na grande maioria 
das vezes, não recebem a devida atenção.
INSTITUTO UNIVERSIDADE VIRTUAL
Descrição da Imagem:
Imagem ilustrativa de uma criança sentada de costas pra lousa, 
cabisbaixa, na lousa está escrito a palavra educação, no entanto a 
palavra está escrita ao contrário.
ESCOLA E SOFRIMENTO - DE RUBEM ALVES (1994) 
Estou com medo de que as crianças me chamem de mentiroso... 
Pois eu disse que o negócio dos professores é ensinar a felicidade. Acontece que eu não 
conheço nenhuma criança que concorde com isto. Se elas já tivessem aprendido as lições da 
política, me acusariam de porta voz da classe dominante. Pois, como todos sabem, mas ninguém 
tem coragem de dizer, toda escola tem uma classe dominante e uma classe dominada: a 
primeira, formada por professores e administradores, e que detém o monopólio do saber, e a 
segunda, formada pelos alunos, que detém o monopólio da ignorância, e que deve submeter o 
seu comportamento e o seu pensamento aos seus superiores, se desejam passar de ano.
Basta contemplar os olhos amedrontados das crianças e os seus rostos cheios de ansiedade 
para compreender que a escola lhes traz sofrimento. O meu palpite é que, se fizer uma pesquisa 
entre as crianças e os adolescentes sobre as suas experiênciasde alegria na escola, eles terão 
muito que falar sobre a amizade e o companheirismo entre eles, mas pouquíssimas serão as 
referências à alegria de estudar, compreender e aprender.
23
A classe dominante argumentará que o testemunho dos alunos não deve ser levado em 
consideração. Eles não sabem, ainda… Quem sabe são os professores e os administradores.
Acontece que as crianças não estão sozinhas neste julgamento. Eu mesmo só me lembro 
com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo, ginásio e científico. A primeira, uma 
gorda e maternal senhora, professora do curso de admissão, tratava-nos a todos como filhos. 
Com ela era como se todos fôssemos uma grande família. O outro, professor de Literatura, foi a 
primeira pessoa a me introduzir nas delícias da leitura. Ele falava sobre os grandes clássicos com 
tal amor que deles nunca pude me esquecer. Quanto aos outros, a minha impressão era a de que 
nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por um saber cujas 
finalidade e utilidade nunca se deram ao trabalho de nos explicar. Compreende-se, portanto, que 
entre as nossas maiores alegrias estava a notícia de que o professor estava doente e não poderia 
dar a aula. E até mesmo uma dor de barriga ou um resfriado era motivo de alegria, quando a 
doença nos dava uma desculpa aceitável para não ir à escola.
Não me espanto, portanto, que tenha aprendido tão pouco na escola. O que aprendi foi fora 
dela e contra ela. Jorge Luís Borges passou por experiência semelhante. Declarou que estudou a 
vida inteira, menos nos anos em que esteve na escola. Era, de fato, difícil amar as disciplinas 
representadas por rostos e vozes que não queriam ser amados.
Esta situação, ao que parece, tem sido a norma, tanto que e assim que aparece 
frequentemente relatada na literatura. Romain Rolland conta a experiência de um aluno:
… afinal de contas, não entender nada já é um hábito. Três quartas partes do que se diz e do que me 
fazem escrever na escola: a gramática, ciências, a moral e mais um terço das palavras que leio, que me 
ditam, que eu mesmo emprego – eu não sei o que elas querem dizer. Já observei que em minhas 
redações as que eu menos compreendo são as que levam mais chances de ser classificadas em primeiro 
lugar. 
Mas nem precisaríamos ler Romain Rolland: bastaria ler os textos que os nossos filhos têm 
de ler e aprender. Concordo com Paul Goodmann na sua afirmação de que a maioria dos 
estudantes nos colégios e universidades não desejam estar lá. Estão lá porque são obrigados.
Os métodos clássicos de tortura escolar como a palmatória e a vara já foram abolidos. Mas 
poderá haver sofrimento maior para uma criança ou um adolescente que ser forçado a mover-se 
numa floresta de informações que ele não consegue compreender, e que nenhuma relação 
parecem ter com sua vida?
Compreende-se que, com o passar do tempo a inteligência se encolha por medo e horror 
diante dos desafios intelectuais., e que o aluno passe a se considerar como um burro. Quando a 
verdade é outra: a sua inteligência foi intimidada pelos professores e, por isto, ficou paralisada.
Os técnicos em educação desenvolveram métodos de avaliar a aprendizagem e, a partir dos 
seus resultados, classificam os alunos. Mas ninguém jamais pensou em avaliar a alegria dos 
estudantes – mesmo porque não há métodos objetivos para tal. Porque a alegria é uma condição 
interior, uma experiência de riqueza e de liberdade de pensamentos e sentimentos. A educação, 
fascinada pelo conhecimento do mundo, esqueceu-se de que sua vocação é despertar o 
potencial único que jaz adormecido em cada estudante. Daí o paradoxo com que sempre nos 
defrontamos: quanto maior o conhecimento, menor a sabedoria. T. S. Eliot fazia esta terrível 
pergunta, que deveria ser motivo de meditação para todos os professores: “Onde está a 
sabedoria que perdemos no conhecimento?”
Vai aqui este pedido aos professores, pedido de alguém que sofre ao ver o rosto aflito das 
crianças, dos adolescentes: lembrem-se de que vocês são pastores da alegria, e que a sua 
24
responsabilidade primeira é definida por um rosto que lhes faz um pedido: “Por favor, me ajude a 
ser feliz…”.
Rubem Alves Blog não oficial [1] - Coletânea de textos desse grande Educador
Conforme foi visto na aula anterior, diversas concepções de aprendizagem têm desfilado nos 
palcos escolares nos últimos séculos. Nesta seção, é reafirmado o fato de que elas expressam uma 
compreensão de como o Homem produz e socializa o conhecimento, ou seja, de uma epistemologia. 
Essas teorias costumam discordar quanto ao papel que o sujeito e o objeto desempenham na 
produção de conhecimento, entendendo aquele como o que conhece e esse como o que se quer conhecer. 
Defendo a posição em que o saber é significativo para cada pessoa e não uma peça decorativa (no duplo 
sentido), descartável, uma vez que pode ser rapidamente substituída por outra que seja mais atraente.
Conforme Bruner (2001, p. 15/19), são duas as concepções sobre o funcionamento da mente: o 
"computacionalismo" e o culturalismo.
O “computacionalismo”
O “Computacionalismo” defende o argumento de que o Homem processa 
informações, como se fosse um computador, uma vez que elas estão dispostas num 
código linguístico compreensível para aquele. A missão do professor é fornecer aos 
alunos dados para que esses executem os comandos cerebrais pertinentes e 
possam aprender.
O culturalismo
O culturalismo evidencia a capacidade que o Homem tem de simbolizar e 
interpretar, uma vez que ele pertence a uma comunidade que produz cultura. Dessa 
forma, a aprendizagem e o pensamento não são processos mecânicos, idênticos 
para todas as pessoas, mas constituem atividades peculiares, diretamente 
vinculadas ao desenvolvimento de cada uma delas num contexto particular, motivo 
pelo qual os significados de um mesmo objeto/acontecimento podem (e costumam) 
ser diversos para vários indivíduos.
25
Descrição da imagem:
Enquanto o “computacionalismo” se baseia no 
processamento de informações, privilegiando a explicação, o 
culturalismo defende a produção de significado, destacando a 
interpretação.
A visão da mente humana como uma máquina não é nova na História da Humanidade. Capra (2001, p. 
66/68) relata que a ciência cognitiva, no seu início, defendeu a noção de que a inteligência humana 
poderia ser entendida como um processador de informações. Tal atitude, envolta num amplo entusiasmo 
de membros da academia e do público em geral, pode ser comparada com a ideia, lançada no século XVII 
por Descartes, de que o funcionamento do corpo humano se assemelhava ao do relógio.
A utilização de termos tipicamente humanos (memória, linguagem, ...) reforçou a concepção 
cartesiana de que o Homem é uma máquina, embora tal crença tenha se revelado recentemente uma 
falácia, pois a inteligência da máquina (a “artificial”) é totalmente diversa da humana, uma vez que o:
(...) sistema nervoso humano não processa nenhuma informação (no sentido de elementos 
separados que existem já prontos no mundo exterior, a serem apreendidos pelo sistema 
cognitivo), mas interage com o meio ambiente modulando continuamente sua estrutura. Além 
disso, os neurocientistas descobriram fortes evidências de que a inteligência humana, a 
memória humana e as decisões humanas nunca são completamente racionais, mas sempre se 
manifestam coloridas por emoções, como todos sabemos a partir da experiência. Nosso 
pensamento é sempre acompanhando por sensações e por processos somáticos. Mesmo que, 
com frequência, tendamos a suprimir estes últimos, sempre pensamos também como o nosso 
corpo; e uma vez que os computadores não têm um tal corpo, problemas verdadeiramente 
humanos sempre serão estrangeiros à inteligência deles. (CAPRA, 2001, p. 68).
Piaget também pesquisou o desenvolvimento moral da criança e concluiu que o julgamento moral 
expressa a consciência que a criança tem do mundo social. Dessa forma, as experiênciaspor ela 
vivenciadas permitem avançar nos estádios descritos por ele: 
i. Pré-moral (desconhecimento de regras);
ii. Moralidade heterônoma (os deveres e os valores são seguidos fielmente);
iii. Semiautonomia (início da relativização de ordens e de regras); e
iv. Moralidade autônoma (baseada na reciprocidade).
A importância dessa concepção de moralidade infantil é a recusa de entendê-la como um processo 
maturacional, pois enaltece as interações que o sujeito estabelece com o meio ambiente. A excessiva 
valorização das consequências das ações é, progressivamente, substituída pelas intenções dos sujeitos, 
as quais passam a ser entendidas dentro de um sistema valorativo, possibilitando que as regras e as 
exigências sociais sejam relativizadas, hajam vistas as especificidades individuais, num interminável 
diálogo. 
26
A partir dessas contribuições piagetianas, os papéis do aluno e do professor transformam-se 
radicalmente: para elaborar o conhecimento, aquele deve confrontar os seus saberes com a realidade, 
considerar as informações dos colegas, de modo a formular explicações mais consistentes. Agindo assim, 
ele abandonará a enfadonha tarefa de guardar (por pouco tempo) conteúdos amorfos e assumirá, cada 
vez mais, a responsabilidade pela sua vida, que congrega bem mais do que a área cognitiva, num processo 
interminável de equilibração.
Nessa perspectiva, o professor tem grande influência na dinâmica da 
sala, nas interações, motivo pelo qual ele deve abandonar a atitude de 
conferencista, de divulgador de um conhecimento que só ele detém, e propor 
problemas e desafios aos seus pupilos.
Para que isso ocorra, ele precisa investigar o contexto social em que o alunado vive, permitindo que 
esse atinja níveis mais complexos de entendimento da dinâmica social, permeada que é, no caso do Brasil, 
por inúmeras contradições e injustiças, as quais não são acontecimentos naturais, mas acontecimentos 
históricos, sendo passíveis de transformação. 
De um modo geral, os estudos de Piaget permitiram melhor compreensão 
do universo infantil, das suas capacidades, limitações e necessidades. 
Pesquisas posteriores relevam que as suas ideias quanto à capacidade de 
realização das crianças pré-escolares e ao egocentrismo não são totalmente 
verdadeiras. Isso não tira o mérito do esforço empreendido por ele, mas 
mostram a transitoriedade do conhecimento, que se torna cada vez mais 
depurado, com a formulação de mais teorias (acomodação).
PARA DOLL JR. (1997, P. 80), OS ESTUDOS DE JEAN PIAGET SÃO 
A alternativa de explicação para o desenvolvimento humano em substituição à Física 
newtoniana, uma vez que o modelo aberto, por ele apresentado, privilegia as relações que os 
seres humanos estabelecem como o seu meio, enaltecendo a noção de que o valor que as partes 
têm só pode ser entendido no sistema como um todo, e não mediante o isolamento entre 
aquelas. 
Suas investigações, forjadas numa perspectiva da Biologia, objetivavam desvendar a 
interação das pressões que o meio ambiente situa sobre o organismo e a reação por este 
apresentada a essas pressões. Rejeitou a explicação lamarckiana (as respostas formuladas 
pelos indivíduos às pressões do meio ambiente são herdadas) e a darwiniana (que entendia as 
pressões ambientais como suscitando respostas aleatórias, com a sobrevivência do mais 
adaptado), pois, para ele, a primeira era mecanicista e a segunda não tinha objetivo.
Segundo Doll Jr. (1997, p. 96/97), a epistemologia proposta por Piaget é o “terceiro 
caminho”, que privilegia a “interação entre o organismo e seu meio ambiente” ressaltando “a 
maneira pela qual o organismo busca ativamente responder ao meio ambiente e ao mesmo 
tempo resiste a qualquer pressão para mudar seus próprios padrões”. O equilíbrio nunca é 
plenamente alcançado, haja vista que os estímulos do meio levam o organismo a reformular as 
suas estruturas. Porém, “o meio ambiente não molda o organismo; os organismos moldam a si 
mesmos”, não sendo, dessa forma, passivos, como se costumava pensar, mas dotados de uma 
capacidade de reagir positivamente às pressões ambientais. 
27
Antes de finalizar essa reflexão sobre as contribuições do 
construtivismo para a Educação, saliento a discussão que ele fomentou 
sobre o erro, notadamente no ambiente escolar, o qual só se revela como tal 
quando o sujeito é capaz de confrontar o seu conhecimento com o de outras 
pessoas, seja de forma verbal ou escrita. Assim, ele é uma etapa natural na 
elaboração do conhecimento, não devendo ser motivo de culpa, vergonha ou 
complexo de inferioridade.
Conforme o referencial piagetiano, o erro pode ser compreendido como construtivo e como não 
construtivo. Essa diferença na natureza do erro demanda atitudes distintas do professor, motivo pelo qual 
devem ser refutadas atitudes demasiadamente permissivas em relação aos erros cometidos pelos alunos, 
notadamente quando esses forem do tipo não construtivo.
CONSTRUTIVO
(indica uma complexificação nas estruturas mentais do sujeito).
NÃO CONSTRUTIVO
(revela que não houve mudança nas estruturas mentais do sujeito).
As novas gerações têm o direito de desfrutar momentos de aprendizagem inspirados numa nova 
lógica de saber, dando-lhes a oportunidade de experimentar, descobrir, errar, melhorar e aprender com os 
próprios equívocos, incrementando a autoimagem e a autoestima. A degustação de todas as formas de 
conhecimento permitirá que elas compreendam que o saber é histórico, pois que resulta da jornada da 
Humanidade na Terra, sendo, portanto, passível de transformação, de melhoria.
Os postulados sociointeracionistas ratificam o fato de que, para que a realidade educacional seja 
transformada, as práticas pedagógicas precisam considerar os processos intra e interpessoal que 
caracterizam a significação do saber, a qual nunca se encerra, haja vista que:
VERSÃO TEXTUAL 
“É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo 
permanente. Mulheres e homens se tornaram educáveis na medida que se reconheceram 
inacabados” (FREIRE, 1997, p. 64).
Os atos de aprender e ensinar, portanto, são atividades que caracterizam o existir humano, não sendo 
exclusividade do ambiente escolar, uma vez que ele é apenas um dos locais onde isso é possível de 
28
acontecer. O que deveria ser peculiar desse espaço é a possibilidade de que os sujeitos estabelecessem 
vínculos muito mais intensos, permitindo que aqueles, por meio de uma compreensão do mundo mais 
intensa (pois fruto de um processo deliberado), fossem preparados para participar mais ativamente do 
mundo.
A escola precisa, portanto, considerar o cotidiano, as experiências dos seus sujeitos, professor e 
alunos, de modo que o saber os ajude a decifrar as complexas ligações entre os acontecimentos. Esse 
desafio, embora seja coletivo, precisa ser vivenciado pelas pessoas, pois ela necessita decifrar, interpretar 
o mundo. 
A experiência implica a capacidade de aprender a partir da própria vivência. 
Experienciar é aprender; significa atuar sobre o dado e criar a partir dele. O dado 
não pode ser conhecido em sua essência. O que pode ser conhecido é uma 
realidade que é constructo da experiência, uma criação de sentimento e 
pensamento. (TUAN, 1983, p. 10).
Diante do exposto, é necessário que as relações entre os agentes pedagógicos sejam pautadas no 
respeito mútuo, condição indispensável para se estabelecer um diálogo, que substitua o monólogo que, 
acredito, impera na grande maioria das salas de aula. 
Nessa perspectiva, a oitiva é tão importante quanto a fala, devendo 
aquela preceder essa, sob pena de se produzir um monólogo estéril, inócuo.
O ato de ensinar anda de mãos dadas com o de aprender, aquele não está na frente desse, não o 
precede, mas se alimentam mutuamente. Essa também é a opinião de Freire (1997, p. 128): “Somente 
quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise de 
falar a ele. Oque jamais faz quem aprende a escutar para poder falar com é falar impositivamente”.
Reconheço que a ausência do diálogo não é privilégio da escola, mas nela os resultados são ainda 
mais catastróficos, considerando que a mensagem subliminarmente difundida é a de que o conhecimento 
é algo inútil e chato, que não tem nenhuma relação com a vida, com a realidade, seja a dos alunos, seja a 
dos professores; mas, será que é possível sonhar com algo distinto?
Vislumbro um cenário em que professor e alunos assumam os papéis de flor e abelha, onde o 
conhecimento é o mel, tal como imaginado por Gibran (1970, p. 69):
(...) o prazer da flor é entregar o mel à abelha. Pois, para a abelha, uma flor 
é uma fonte de vida. E para a flor, uma abelha é mensageira de amor. E para 
ambas, a abelha e a flor, dar e receber o prazer é uma necessidade e um êxtase.
Kenski (2000, p. 137) ressalta o fato de que, numa prática apoiada nos ideais de Vygotsky, “o poder da 
fala do professor é substituído pela interação, pela troca de conhecimentos e pela colaboração grupal a 
fim de se garantir a aprendizagem”, fortalecendo, dessa forma, o diálogo e as trocas de informações. 
Assim, na perspectiva do sociointeracionismo, “As aprendizagens, o desenvolvimento do pensamento 
lógico e científico, realizam-se através da interação comunicativa, o que possibilita a construção social do 
conhecimento”.
29
Descrição da imagem:
Para se compreender a natureza das críticas 
ordinariamente enunciadas sobre o construtivismo, é 
necessário esclarecer que ele não é uma teoria educacional, 
como muitos estão habituados a pensar e propagar, mas uma 
teoria do conhecimento.
Acredito que a grande dificuldade de se entender o potencial transformador do ideário construtivista 
reside no fato de que ele propõe uma forma radicalmente diferente de se explicar como o Homem 
aprende.
As pessoas que buscam receitas para ensinar, que podem ser seguidas por qualquer indivíduo e em 
qualquer contexto social, acreditam que a mente é um processador de informações, motivo pelo qual o 
conhecimento pode e deve ser transmitido, de forma clara e precisa, pelo professor aos alunos. 
Ora, não bastasse o fato de que o construtivismo não é uma pedagogia, pois afigura-se como uma 
epistemologia, ele fomenta o desenvolvimento de uma teoria da aprendizagem (e do ensino) que valoriza 
a interpretação, a produção de significados, o que só se efetiva quando o sujeito confronta a sua realidade 
(social, emocional, cognitiva, ...) com a produção cultural a que tem acesso por via das mais variadas 
formas.
O construtivismo, portanto, é um golpe no “computacionalismo”, que 
acredita no poder do professor de explicar, e uma aposta no culturalismo, 
que crê na capacidade do aluno de produzir sentido.
Não somente no Brasil, mas também no mundo, de um modo geral, a teoria do conhecimento que 
predomina nas salas de aula e dos professores, bem como nos gabinetes dos diretores e dos gestores, é o 
“computacionalismo”, expresso no intento de massificar, de produzir em série, de apresentar a solução 
para a maior quantidade de pessoas possível. É por isso que a crença de que o construtivismo seria a 
solução da Educação no contexto nacional se revelou um grande fiasco.
30
A culpa, todavia, não está na explicação apresentada pela teoria construtivista, mas no nefasto uso e 
na distorção que dela fizeram, objetivando atingir objetivos distintos, e até mesmo contraditórios, dos que 
ela formula. Da mesma forma, o responsável por esse fracasso não é o professor, que seria incapaz de 
compreender e pôr em prática os seus fundamentos, mas de uma proposta educacional que acredita que 
ele tem o poder de sozinho resolver todos os problemas, de naturezas diversas, que afligem os seus 
alunos.
O culturalismo demanda uma organização do trabalho escolar bastante diversa da que costuma 
caracterizar o cotidiano no Brasil. A autonomia do professor e do aluno não deve ser entendida como um 
isolamento do sujeito da sua realidade, mas exatamente o contrário. Somente um indivíduo que 
experimenta o prazer de descobrir(-se) pode contribuir e facilitar para que outras pessoas também tenham 
o privilégio de o desfrutarem. 
Individualidade não é sinônimo de individualismo, uma vez que a vocação ontológica do Homem é se 
encontrar (e perder-se) no e com o outro, numa perspectiva de união e não de isolamento. A relação do 
professor com o aluno é apenas uma das possibilidades de encontro que toda pessoa tem com seu 
ambiente (social/cultural e natural), o qual foi poeticamente descrita por Freire (1997, p. 151/152) assim: 
Estar disponível é estar sensível aos chamamentos que nos chegam, aos sinais mais diversos 
que nos apelam, ao canto do pássaro, à chuva que cai ou que se anuncia na nuvem escura, ao 
riso manso da inocência, à cara carrancuda da desaprovação, aos braços que se abrem para 
acolher ou ao corpo que se fecha na recusa. É na minha disponibilidade permanente à vida a 
que me entrego de corpo inteiro, pensar crítico, emoção, curiosidade, desejo, que vou 
aprendendo a ser eu mesmo em minha relação com o contrário de mim. E quanto mais me dou 
à experiência de lidar sem medo, sem preconceito, com as diferenças, tanto melhor me conheço 
e construo meu perfil.
O professor, portanto, deve viver a sua autonomia (entendida por mim como sempre inconclusa, 
merecedora, assim, de cuidado e dedicação ininterruptos) para que ele proponha atividades que 
contribuam e favoreçam o desenvolvimento da autonomia pelo corpo discente. Para tanto, é necessário 
que o ambiente e o material pedagógicos sejam ricos e diversos, possibilitando a exploração, pelos 
sujeitos, de opções, com incremento da respectiva flexibilidade, respeitando a diversidade que caracteriza 
o mundo, com a formulação de explicações que contemplem a complexidade da dinâmica da vida, e 
rejeitando aquelas que, deliberadamente ou não, a negam.
O construtivismo, como teoria do conhecimento, favorece o desabrochar de uma ética nas relações 
humanas pautada na igualdade e na diversidade, as quais não podem ser entendidas como antagônicas, 
mas complementares. Afinal, a igualdade reside no fato de que se trata de seres humanos, enquanto a 
diversidade de cada qual ressalta a peculiaridade do que cada um viveu, vive e viverá. 
Professor e alunos não são, portanto, oponentes, mas companheiros de 
uma mesma aventura, cada um procurando desempenhar seu papel da 
melhor forma possível, confiando e acreditando na lealdade de que está ao 
seu lado (ou na sua frente... ou, ainda, atrás!). O fato de a autoria da 
aprendizagem ser individual, em virtude de a constituição de signos ser feita 
por pessoa, não significa, de forma alguma, que ela é desligada das relações 
sociais.
Considerando a reflexão desenvolvida sobre o construtivismo, se é verdade que o professor não pode 
ensinar, em virtude da singularidade da forma com que o Homem aprende, isso não significa que ele não 
tem um papel de destaque na sala de aula. Muito pelo contrário! Sua importância é ainda mais enaltecida: 
31
ele é convidado a assumir a individualidade, a expor sua sensibilidade, a estabelecer vínculos afetivos com 
os seus alunos, sendo a cultura e o conhecimento pretextos para que isso ocorra.
O erro do aluno, nesse cenário, não é visto como catástrofe, uma vez que ele nos lembra haver 
sempre algo a ser aprendido, requerendo que o professor, com a sua gama de conhecimento e 
sensibilidade, o interprete e formule oportunidades e desafios para o estudante, continuamente, reelaborar 
a sua resposta. 
Acredito que tal atitude não deve ocorrer apenas quando acontecer um erro. Tendo em vista a 
crescente quantidade de saberes e a impossibilidade de dominá-la, mesmo que precariamente, como 
devem ser a Educação, o ensino-aprendizagem e a relação professor-aluno?
Diante de tantas informações, não há como se absorver, intuir um conhecimento geral, um 
saber daquilo que o ser humano supostamente deveriaestar ciente. Não me iludo mais com 
isso. A única forma de se criar um conhecimento geral, um conhecimento inteiro, é dentro de 
cada pessoa, e só essa pessoa sabe quais são as informações necessárias para que ela 
mesma seja inteira. Isso não significa isolamento. Continuaremos nos influenciando uns aos 
outros, permanecemos inspirando uns aos outros, porém não devemos querer o controle sobre 
o outro, mas apenas deixar disponíveis para o outro as informações que temos, e que o outro 
siga o próprio caminho. (LOUREIRO JR, 1996, p. 44).
À luz das reflexões apresentadas, destaca-se o fato de que o Homem é um ser que necessita do 
encontro para se realizar como tal, não significando isso que os desentendimentos, as contradições sejam 
uma negação do processo. Enquanto há vida, ele está aprendendo, ampliando a sua capacidade de 
interpretar, de criar significados do mundo. O ponto de chegada nunca é definitivo, constitui-se apenas 
numa temporária escala para outras viagens, descobertas e aventuras. O desconhecido está sempre à sua 
frente, instigando-o a prosseguir, a avançar, demandando que cada pessoa seja movida pela fé, pela 
esperança e não pela certeza, a qual se revela inócua e incompatível com a dinâmica da natureza. 
A excessiva valorização da Ciência fez com que se acreditasse que o conhecimento permite o 
controle do mundo. Essa pretensão é motivo de muito sofrimento e de empobrecimento para o Homem, 
pois grandes são as suas frustrações (quando ele percebe, na maioria das vezes, que algo não saiu como 
ele desejava e queria que acontecesse) e pequenas e efêmeras são as suas alegrias (porque ele não está 
apto a dançar ao ritmo da melodia do universo e de se deliciar com os seus mistérios).
A não permanência não é a exceção, ela é a regra da vida. Essa verdade requer que o Homem assuma 
o seu caráter finito e incompleto, o que não é nenhum demérito, nem motivo de sofrimento, mas a 
condição necessária para sempre crescer, aprender e usufruir das maravilhas que irrompem, a todo o 
momento, ao seu redor e no seu interior. Para desenvolver o seu Eu, cada indivíduo precisa do outro, do 
não eu, para formar um par e deslizar nos palcos do Planeta azul.
Postulo a ideia de que a escola possibilite às pessoas aprenderem a valorizar o outro, a se alegrarem 
com o encontro, que sempre permite aprender algo. Afinal, descobrir a cultura ou o outro é, de certa forma, 
desvendar a si mesmo.
Relação pessoal de homem para homem – no diálogo, no respeito e consideração, na confiança 
e no amor – não é mais, em sentido próprio, uma relação de sujeito e objeto, mas uma relação 
de sujeito para sujeito, de eu e tu. Daí que resultam estruturas e categorias completamente 
diferentes das que se encontram num esquema rígido de sujeito e objeto, dado que não se 
antepõe a mim uma coisa objetivamente apreensível e disponível, mas uma essência pessoal 
da mesma qualidade e mesmo valor que eu, que se abre ou se fecha livremente e que só posso 
‘compreender’ na aceitação cheia de fé e confiança de sua livre autoabertura. (CORETH, 1973, p. 
99).
32
Acredito que as ideias de Moreno e a concepção de conhecimento na Teoria de Santiago (Visite a 
aula online para realizar download deste arquivo.) enriqueçam e aprofundam os estudos sobre a 
construção do conhecimento, motivo pelo qual os professores devem conhecê-la. 
A escola, conforme as considerações aqui delineadas, constitui-se num 
espaço de encontros entre pessoas com valores, crenças, sonhos e 
experiências diferentes. É importante que professores e estudantes 
aprendam a conviver com a diversidade, uma vez que a sociedade é ainda 
mais plural. 
É sobre isto que estudaremos nos próximos dois tópicos.
DICA
“Ser” aluno: o segredo do “ser” professor (Visite a aula online para realizar download deste 
arquivo.).
PARADA OBRIGATÓRIA
O processo ensino-aprendizagem e o papel do professor como gestor do pensar (Visite a aula 
online para realizar download deste arquivo.).
33
Didática I 
Aula 02: Educação: crise de paradigmas 
Tópico 02: (Des)encontros na Escola e Na Sala de Aula: Ética, Diálogo e Violência - I
A crise educacional tem um componente afetivo, que se explicita nos crescentes conflitos entre os 
agentes pedagógicos, que têm como característica comum a falta de respeito. 
VERSÃO TEXTUAL 
• O que é necessário para se estabelecer o diálogo?
• Por que será que as pessoas se agridem cada vez mais?
• A escola pode fazer algo para diminuir a violência?
NA ESCOLA – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE 
Democrata é Dona Amarílis, professora na escola pública de uma rua que não vou contar, e 
mesmo nome de Dona Amarílis é inventado, mas o caso aconteceu.
Ela se virou para os alunos, no começo da aula, e falou assim:
― Hoje eu preciso que vocês resolvam uma coisa muito importante. Pode ser?
― Pode – a garotada respondeu em coro.
― Muito bem. Será uma espécie de plebiscito. A palavra é complicada, mas a coisa é 
simples. Cada um dá sua opinião, a gente soma as opiniões e a maioria é que decide. Na hora de 
dar opinião, não falem todos de uma vez só, porque senão vai ser muito difícil eu saber o que é 
que cada um pensa. Está bem?
― Está – respondeu o coro, interessadíssimo.
― Ótimo. Então, vamos ao assunto. Surgiu um movimento para as professoras poderem 
usar calça comprida nas escolas. O governo disse que deixa, a diretora também, mas no meu 
caso eu não quero decidir por mim. O que se faz na sala deve ser de acordo com os alunos. Para 
todos ficarem satisfeitos e um não dizer que não gostou. Assim, não tem problema. Bem, vou 
começar pelo Renato Carlos. Renato Carlos, você acha que sua professora deve ou não usar 
calça comprida na escola?
― Acho que não deve – respondeu, baixando os olhos.
― Por quê?
― Porque é melhor não usar.
― E por que é melhor não usar?
― Porque minissaia é muito mais bacana.
34
― Perfeito. Um voto contra. Marilena, me faz um favor, anote aí no seu caderno os votos 
contra. E você, Leonardo, por obséquio, anote os votos a favor, se houver. Agora quem vai 
responder á Inesita.
― Claro que deve, professora. Lá fora a senhora usa, por que vai deixar de usar aqui dentro?
― Mas aqui dentro é outro lugar.
― É a mesma coisa. A senhora tem uma roxo-cardeal que eu vi outro dia na rua, aquela é 
barbara.
― Um a favor. E você, Aparecida?
― Posso ser sincera, professora.
― Pode, não. Deve
― Eu, se fosse a senhora, não usava.
― Por quê?
― O quadril, sabe? Fica meio saliente...
― Obrigada, Aparecida. Você anotou, Marilena? Agora você, Edmundo.
― Eu acho que Aparecida não tem razão, professora. A senhora fica muito bacana de calça 
comprida. O seu quadril é certinho.
― Meu quadril não está em votação, Edmundo. A calça, sim. Você é contra ou a favor da 
calça?
― A favor 100%.
― Você, Peter?
― Para mim, tanto faz.
― Não tem preferência?
― Sei lá. Negócio de mulher eu não me meto, professora. ― Uma abstenção. Mônica, você 
fica encarregada de tomar nota dos votos iguais ao do Peter: nem contra, nem a favor, antes pelo 
contrário.
Assim, iam todos votando, como se escolhessem o Presidente da República, tarefa que 
talvez – quem sabe? – no futuro sejam chamados a desempenhar. Com a maior circunspeção. A 
vez de Rinalda.
― Ah, cada uma na sua.
― Na sua, como?
― Eu na minha, a senhora na sua, cada um na dele, entende?
― Explique melhor.
― Negócio seguinte. Se a senhora quer vir de pantalona, venha. Eu quero vir de midi, de máxi, 
de short, venho. Uniforme é papo furado.
― Você foi além da pergunta, Rinalda. Então é a favor?
― Evidente. Cada um curtindo à vontade.
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― Legal! – exclamou Jorgito – Uniforme está superado, professora. A senhora vem de calça 
comprida, e a gente aparecemos de qualquer jeito. 
― Não pode – refutou Gilberto – vira bagunça. Lá em casa, ninguém, anda de pijama ou de 
camisa aberta na sala. A gente tem de respeitar o uniforme.
Respeita, não respeita, a discussão esquentou, Dona Amarílis pedia ordem, ordem, assim não 
é possível,mas os grupos haviam se extremado, falavam todos ao mesmo tempo, ninguém se 
fazia ouvir, pelo que, com quatro votos a favor da calça comprida, dois contra, e um tanto-faz, e 
antes que fosse decretada por maioria absoluta a abolição do uniforme escolar, a professora 
achou prudente declarar encerrado o plebiscito, e passou à lição de História do Brasil.
Fonte: (SABINO, 2002, p. 54-57)
Diariamente, ouvimos (e falamos) sobre a falta de ética, mas...
O que é ética? 
Como se aprende?
É possível ensiná-
la?
MULTIMÍDIA
Assista ao vídeo do filósofo Mario Sérgio Cortella no programa do Jô Soares sobre "O que é ética 
e moral?". 
Acesse a aula online para visualizar este conteúdo
Ética, conforme o Dicionário Aurélio, é:
[Fem. substantivado do adj. ético.] S. f. 1. Estudo dos juízos de apreciação 
referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do 
bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo 
absoluto. (FERREIRA, 1993, p. 733)
De acordo com a definição supra, a Ética contempla o julgamento do comportamento do Homem, à 
luz de determinados valores, dentre os quais se destaca o respeito (e o cuidado) pela vida. 
VERSÃO TEXTUAL 
• Por que é difícil (e necessário) dialogar, principalmente na seara educacional?
• O que revela este descaso por ela? 
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Socializo a seguinte reflexão de Barguil (2006, p. 166-167):
(...) a forma como me relaciono com o outro está em sintonia com a forma como me relaciono comigo. Todo educador 
precisa aprender a olhar para dentro de si, perceber o que se passa no seu interior, acolhendo, também, o não-eu, tanto aquilo 
que já vive como o que ainda não veio à tona. Essa abertura se exerce também quando ele abraça o aluno, com os seus 
saberes, peculiaridades e limitações. Cônscio das incompletudes que permeiam o seu viver, o educador desenvolverá atividades 
entremeadas de um sentimento de humildade diante do universo, que se apresenta como eterno desconhecido.
Ele, portanto, precisa ter uma relação com o saber compatível com aquela que deseja que seus alunos tenham consigo 
mesmos e com os outros: “Como professor não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero 
permanentemente a minha. Não posso ensinar o que não sei”. (FREIRE, 1997: 107). Viva o diálogo! (Itálico no original)
A despeito de objetivar a compreensão da realidade escolar, postulo o argumento de que essas 
considerações possam (e devam) ser ampliadas para um contexto mais amplo, que congregue a 
sociedade como um todo, pois em ambos é sintomática a negação do direito de individuação.
Pensar sobre o homem é difícil também, porque sendo o homem, ao 
mesmo tempo, sujeito e objeto da reflexão, essa tarefa significa um desvelar 
do nosso próprio ser, uma compreensão das nossas crenças e uma busca 
de desmistificação de ideologias que, ao longo de nossa vida, 
sedimentaram-se em nossa forma de ver e pensar o mundo. (GONÇALVES, 
1994, p. 74).
O Homem se caracteriza por um movimento ambíguo, do qual dificilmente ele se apercebe. Por um 
lado, ele intenta descobrir, ser diferente, inovar, aventurando-se no desconhecimento; de outra parte, ele 
quer sentir-se seguro, ter certezas, sem ameaças do inesperado.
A convivência do Homem com seus semelhantes possibilita tanto a identificação como a 
diferenciação, ou, pelo menos, deveria ser assim, uma vez que aquele não é mero reflexo da realidade, 
pois, constantemente, interpreta-a, valora-a e cria significados, ou seja, (re)elabora a sua subjetividade.
REFLEXÃO
Há, entretanto, uma tentativa incessante de festejar e privilegiar o ideal de homem-modelo. 
     • A quem interessa a padronização?
            • O que leva as pessoas a não se diferenciarem umas das outras e passarem a pensar, a 
almejar as mesmas coisas? 
            • Qual é o preço que elas pagam por essa negação de si mesmas?
Atualmente, é fácil perceber que a padronização é um dos pilares do capitalismo, que instituiu a 
produção em série, tomando o lugar da manufatura, do artesanato, que se baseavam na peculiaridade de 
cada peça produzida.
A escola, na maior parte das vezes, organiza as suas práticas baseadas num estudante-modelo, tanto 
como ponto de partida como de chegada, as quais requerem, também, um professor-padrão. Agindo 
assim, ela elimina qualquer possibilidade de os agentes pedagógicos (estudantes e professores) se 
perceberem como sujeitos singulares, particulares, distintos de todos os outros, de conceberem, 
continuamente, a autopercepção e a autoestima.
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Acredito que toda pessoa tem o direito inalienável de desenvolver a sua 
subjetividade, entendida não como algo estático, mas como um universo em 
movimento e expansão. 
Para tanto, ela precisará desenvolver uma intensa relação com o meio ambiente, a qual permitirá que 
ela descubra (conheça) o que aprecia e o que rejeita, vislumbrando novos horizontes e despertando 
porções interiores adormecidas.
Para que isso ocorra, o indivíduo deve estar em sintonia com os seus afetos, as suas emoções, sob 
pena de viver como um autômato, que executa, mas não sente, que faz, mas não avalia, sendo incapaz de 
identificar as situações que lhe são prazerosas ou não e, posteriormente, de escolher o que gostaria de 
viver.
Para reaver a subjetividade e favorecer o processo de individuação, a Educação deve ensejar 
situações em que o sujeito, superando a sua visão quantificadora, fragmentadora, valorize as suas 
emoções, o seu corpo, superando a oposição destes em relação à mente e à razão (FONTANELLA, 1995, 
p. 10), e desenvolvendo uma compreensão holística, que perceba as sutis relações entre as partes e o 
todo e se renda à impossibilidade de medir as belezas da vida, não capturáveis aos formalismos 
numéricos. 
Para Gonçalves (1994), a corporalidade, que contempla tudo aquilo que diz respeito ao indivíduo, 
costuma ser ignorada e reprimida na escola, o que enseja sua recuperação, de forma a contemplar tanto o 
educando como o educador.
Fonte [2]
Descrição da 
Imagem:
Foto em preto e 
branco do sociólogo 
Michel Foucault (1926-
1984) nasceu em Paris - 
FR. 
Foi filósofo, historiador 
das ideias, teórico 
social, filólogo, crítico 
literário e professor da 
cátedra História dos 
Sistemas do 
Pensamento.
38
Michel Foucault. A 
foto mostra apenas 
o rosto de Foucault. 
Careca, óculos de 
armações finas, 
sorriso largo.
Foucault (2002) analisou, com detalhes, como o corpo foi tratado na História. No início, o controle 
sobre ele era exercido com o uso da força. Posteriormente, entraram em cena a coerção e a disciplina, 
que objetivavam a fabricação de corpos submissos, dóceis.
Para atingir os objetivos estabelecidos, o espaço escolar foi projetado para possibilitar que o 
professor pudesse controlar os seus estudantes, verificando se eles estavam se comportando 
conforme o esperado. É por isso que, além de ensinar, a escola passou a ser uma máquina de “(...) 
vigiar, de hierarquizar, de recompensar”. (FOUCAULT, 2002, p. 126).
Desde os primórdios, o Homem, para conhecer o seu ambiente, 
movimenta-se com o seu corpo no espaço, fazendo indagações, 
vislumbrando possibilidades, avaliando resultados, buscando opções, 
alargando, continuamente, seus horizontes, numa graciosa dança existencial, 
ao som de uma música cuja melodia expressa a convicção de que há 
sempre algo novo (BARGUIL, 2000). Privá-lo disso é, sem dúvida, negar-lhe o 
direito de aprender, de transcender. A imposição de um espaço e de um 
tempo tem como finalidade a submissão do sujeito.
Ao longo da História, ele tem utilizado as suas habilidades físicas, cognitivas e emocionais de 
modo diverso. Nas sociedades pré-industriais, o corpo tinha grande importância na identidade pessoal 
bem como para o funcionamento da sociedade, uma vez que a força, destreza e agilidade eram 
importantes em torneios, em competições, na guerra e na política (GONÇALVES, 1994, p. 18).
Com a produção capitalista, o Homem inaugurou

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