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TCC Rosilene

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Prévia do material em texto

1 
 
 
UNIVERSIDADE NORTE DO PARANÁ 
 
SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
MARIA ROSILENE SILVA BATISTA ALENCAR 
 
 
 
 
 
 
 
SOBRIEDADE E MUDANÇA: 
Papel do assistente social junto aos alcoolistas e seus familiares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Araripina 
2014 
2 
 
 
MARIA ROSILENE SILVA BATISTA ALENCAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOBRIEDADE E MUDANÇA: 
Papel do assistente social junto aos alcoolistas e seus familiares. 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
UNOPAR – Universidade Norte do Paraná, como 
requisito parcial para obtenção do título de Bacharel 
em Serviço Social. 
Orientador: Clarice da Luz Kernkamp 
Professor Supervisor: professores do 8º Semestre 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Araripina 
2014 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Meta a gente busca, caminho a 
gente acha, desafio a gente 
enfrenta, vida a gente inventa, 
saudade a gente mata, SONHO a 
gente realiza.” 
(Autor Desconhecido) 
 
4 
 
AGRADECIMENTO 
 
 
Enfim chegou o momento de agradecer aqueles que estiveram junto 
comigo nesta trajetória, alguns estavam desde o início, poucos passaram pela 
minha vida e deixaram saudades, e outros que conheci no percurso desta 
caminhada. 
Agradeço primeiramente a Deus, meu Senhor por ter permitido que eu 
chegasse até aqui e por ser minha luz, meu guia, minha fortaleza nas horas de 
angústia. 
Agradeço também ao meu esposo Allan Jackson, que de forma especial e 
carinhosa me deu força e coragem, me apoiando nos momentos de dificuldades, 
quero agradecer também a meu filho Jackson Gabriel, que embora não tivessem 
conhecimento disto, iluminou de maneira especial os meus pensamentos me 
levando a buscar mais conhecimentos. 
Aos meus pais, deixo meus sinceros agradecimentos, a quem eu rogo 
todas as noites a minha existência. 
Agradeço aos professores, Poliana Siqueira, Ana Lúcia Rodrigues através 
dos quais pude entender o que é o Serviço Social de verdade. 
Enfim obrigada a todos, inclusive os que não citei aqui, mas que de alguma 
forma estiveram mesmo de longe torcendo por mim, obrigada por tudo, palavras, 
orações vocês também me ajudaram a vencer esta etapa tão importante da minha 
vida! 
 
 
 
 
5 
 
ALENCAR, Maria Rosilene Silva Batista. Sobriedade e Mudança: papel do 
assistente social junto aos alcoolistas e seus familiares. 2014. 53 f. Monografia 
(Graduação em Serviço Social) – Universidade Norte do Paraná, Araripina, 2014. 
 
RESUMO 
 
A bebida alcoólica é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo 
admitido e até incentivado pela sociedade brasileira. Além dos inúmeros 
acidentes de trânsito e da violência associada a episódios de embriaguez, o 
consumo crônico de álcool, a depender da dose, frequência e circunstâncias, 
pode provocar um quadro de dependência conhecido como alcoolismo. O objetivo 
principal desta pesquisa consiste no conhecimento dos principais danos causados 
pelo consumo em excesso de álcool, assim como na atuação do Assistente Social 
no atendimento de pessoas acometidas pelo alcoolismo e de seus familiares. A 
construção deste trabalho se insere na perspectiva de pesquisa exploratória, 
estando dividido em três seções: a) Alcoolismo: história, fases, causas e 
problemas relacionados ao seu consumo em excesso e em longo prazo; b) 
Políticas Públicas relacionadas ao álcool; c) Atuação do Serviço Social junto aos 
usuários de álcool e seus familiares. O assistente social apresenta como funções 
no atendimento às pessoas dependentes de bebidas alcoólicas: Acolhimento e 
triagem dos pacientes; Atendimento familiar; Encaminhamentos para os serviços 
adequados para este caso; Acompanhamento nas internações hospitalares; e, 
Visitas domiciliares. Já o atendimento aos familiares é uma das formas para que 
as famílias participem ativamente no processo terapêutico, assim a família ganha 
visibilidade como protagonista parceira dos serviços e corresponsável no 
provimento de cuidados ao portador de dependência química. O alcoolismo afeta 
não só o doente alcoólico, mas também os seus familiares mais próximos de uma 
forma afetiva, econômica e social. A Política Nacional sobre o Álcool surge com o 
objetivo de reduzir e prevenir os danos relacionados ao consumo abusivo de 
álcool e sejam desenvolvidas ações e estratégias a fim de reduzir os danos 
relacionados ao consumo de álcool. Já a Política do Ministério da Saúde para a 
Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas, assume de modo integral 
e articulado o desafio de prevenir, tratar e reabilitar os usuários de álcool e outras 
drogas como um problema de saúde pública. Com isso, observou-se a 
necessidade da contínua pesquisa a cerca de pessoas com dependência ao 
álcool e as políticas que buscam o tratamento de do alcoolismo como doença, a 
redução dos danos causados pelo consumo em excesso e em longo prazo e a 
participação da família no período de reabilitação e no período de ressocialização 
destes usuários, de forma que não ocorram recaídas. 
 
Palavras–chave: Álcool. Alcoolismo. Políticas Públicas. Serviço Social. 
 
 
6 
 
ALENCAR, Maria Rosilene Silva Batista. T Sobriety and Change: the role of social 
worker together with alcoholics and their families. 2014. 45 f. Monograph (Degree 
in Social Work) – University of Northern Parana, Araripina, 2014. 
 
ABSTRACT 
 
The alcoholic beverage is one of the few psychotropic drugs that have admitted 
their consumption and even encouraged by the Brazilian society. Besides the 
numerous traffic accidents and associated with episodes of drunken violence, 
chronic alcohol consumption, depending on the dose, frequency and 
circumstances can cause a condition of dependence known as alcoholism. The 
main objective of this research is the knowledge of the major damage caused by 
excessive consumption of alcohol, as well as the role of the social worker in caring 
for people affected by alcoholism and their families. The construction of this work 
fits in the context of exploratory research and is divided into three sections: a) 
Alcoholism: history, stages, causes and issues related to its overconsumption and 
the long term; b) Public policies related to alcohol; c) Practice of Social Work with 
users of alcohol and their families. The social worker provides functions as the 
care for people dependent on alcohol: Reception and screening patients; Family 
care; Referrals to appropriate services for this case; Monitoring in hospital 
admissions; and home visits. Longer care for family members is a way for families 
to actively participate in the therapeutic process, so the family gains visibility as 
the protagonist, partner services and co responsible in providing care for 
individuals with chemical dependency. Alcoholism affects not only the alcoholic 
patient, but also their families from an effective way, economic and social. The 
National Policy on Alcohol appears with the aim of reducing and preventing harm 
related to alcohol abuse and actions and strategies are developed to reduce the 
harm related to alcohol consumption. Already Policy of the Ministry of Health for 
the Integral Attention Users of Alcohol and Other Drugs, assumes full mode and 
articulated the challenge of preventing, treating and rehabilitating users of alcohol 
and other drugs as a public health problem. With that, there was the need for 
continued research about people with alcohol dependence and policies that seek 
to treat alcoholism as a disease, reducing the damage caused by excessive 
consumption and long-term family involvement during the period of rehabilitation 
and socialization of these users so that there are no relapses. 
 
Keywords: Alcohol. Alcoholism. Public Policy. Social Service. 
 
 
 
7 
 
LISTA DE SIGLAS 
ABDTRAN - Associação Brasileira de Detrans 
CAPSad - Centros de Atenção Psicossocial álcool/drogas 
CAPS - Centros deAtenção Psicossocial 
CETAD - Centro de Estudos e Tratamento sobre Drogas 
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
OMS - Organização Mundial de Saúde 
ONG - Organizações não governamentais 
PIB - Produto Interno Bruto 
SUS - Sistema Único de Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10 
 
1 ALCOOLISMO: UMA VISÃO GERAL............................................................... 12 
1.1 A evolução histórica do conceito de alcoolismo.............................................. 12 
1.2 O Alcoolismo: fases e causas com suas determinações............................... 15 
1.2.1 Fases do Alcoolismo................................................................................... 19 
1.2.2 As causas do Alcoolismo e suas determinações ........................................ 20 
1.3 Problemas relacionados ao uso do álcool...................................................... 22 
1.3.1 Repercussões Sociais do Alcoolismo ......................................................... 24 
1.3.1.1 Repercussões do Alcoolismo na Saúde .................................................. 25 
1.3.1.2 Repercussões do Alcoolismo no Trabalho ............................................... 27 
1.3.1.3 Repercussões do Alcoolismo na Família ................................................. 29 
1.4 Problemas ocasionados após o consumo excessivo de álcool ..................... 31 
 
2 POLÍTICAS PÚBLICAS RELACIONADAS AO ALCOOL................................ 33 
2.1 Políticas Públicas Relacionadas Especificamente ao Álcool ......................... 33 
2.2 O panorama nacional das políticas destinadas ao álcool .............................. 36 
2.3 Política de Atenção Integral para Usuários de Álcool e Outras Drogas no Brasil 
.............................................................................................................................. 39 
9 
 
3 A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO ATENDIMENTO DE ALCOOLISTAS 
E SEUS FAMILIARES ..........................................................................................40 
3.1 O Serviço Social e o Programa de Atendimento ao Alcoolista ...................... 40 
3.2 O assistente social na abordagem familiar de alcoolistas ............................. 44 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 48 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 Hoje em dia o primeiro convidado na maioria dos acontecimentos sociais, 
familiares e de comemorações em grupos é a bebida alcoólica. Ela é a primeira a 
chegar às mesas de honra, nas reuniões, nos clubes, em toda festa e cerimônia 
onde encontra apreciadores, é preferida e bem recebida por todas as classes 
sociais, desde os lugares mais humildes, até o palácio mais refinado. 
 A bebida alcoólica é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu 
consumo admitido e até incentivado pela sociedade brasileira. Por esses motivos 
ela é encarada de forma diferenciada pela sociedade, quando comparada com as 
demais drogas, sendo seu consumo uma condição frequente, atingindo cerca de 
10 a 12% da população adulta brasileira. 
 Além dos inúmeros acidentes de trânsito e da violência associada a 
episódios de embriaguez, o consumo crônico de álcool, a depender da dose, 
frequência e circunstâncias, pode provocar um quadro de dependência conhecido 
como alcoolismo. Esta doença possui multicausal idades, ou seja, há fatores de 
vulnerabilidade genética, biológica, psicológica e principalmente socioculturais, 
que interagem ao sujeito com maior ou menor permanência na determinação e na 
instalação do alcoolismo. 
 Assim sendo, o consumo inadequado do álcool é um importante problema 
de saúde pública que requer intervenção, acarretando altos custos para 
sociedade e envolvendo questões médicas, psicológicas, profissionais e 
familiares. Neste sentido, torna-se relevante compreender a importância da 
inserção da família nas ações desenvolvidas neste espaço sócio ocupacional. A 
justificativa de tal intervenção concentra-se no fato de que as famílias de 
dependentes químicos adoecem junto com os mesmos. 
 Diante do exposto, sentiu-se a necessidade de realizar um estudo 
exploratório, como requisito para conclusão do curso em bacharel em Serviço 
Social, que investigasse quais os principais danos associados ao consumo de 
11 
 
álcool na vida social das pessoas e as funções dos assistentes sociais no 
atendimento de pessoas com dependência ao álcool e de seus familiares. 
 Assim, o objetivo principal desta pesquisa consiste no conhecimento dos 
principais danos causados pelo consumo em excesso de álcool, assim como na 
atuação do Assistente Social no atendimento de pessoas acometidas pelo 
alcoolismo e de seus familiares, de forma que estes consigam tratamento 
espontaneamente e consigam se socializar. 
 Delimitamos ainda como objetivos específicos: 
 Conhecer os fatores relacionados ao alcoolismo; 
 Caracterizar os problemas relacionados ao consumo em excesso e ao 
consumo crônico do álcool; 
 Apontar as repercussões do alcoolismo nos diferentes setores de vida 
desses dependentes químicos; 
 Identificar as políticas públicas relacionadas ao álcool. 
 A construção deste trabalho se insere na perspectiva de pesquisa 
exploratória, estando dividido em três seções. A primeira está voltada para o 
alcoolismo, passando por sua evolução histórica, suas fases, suas causas e seus 
problemas devido o consumo em excesso e a longo prazo. Ainda abordaremos as 
repercussões sociais na saúde, no trabalho e na família desses dependentes de 
bebidas alcoólicas. 
 A segunda seção abordará as Políticas Públicas relacionadas ao álcool, 
destacando as políticas relacionadas exclusivamente ao álcool, o panorama 
nacional dessas políticas destinadas ao álcool, podendo citar a Política Nacional 
sobre o Álcool e a Política de Atenção Integral para usuários de álcool e outras 
drogas no Brasil. Já na terceira seção falaremos sobre a atuação do serviço social 
junto aos usuários de álcool e seus familiares. 
 
12 
 
1 ALCOOLISMO: UMA VISÃO GERAL 
1.1 A evolução histórica do conceito de alcoolismo 
 O consumo de álcool pela humanidade é uma prática extremamente antiga, 
sendo que os primeiros indícios sobre a ingestão do mesmo datam, 
aproximadamente, de 6000 A.C, conforme registros arqueológicos. O álcool era 
visto como uma substância divina pelos povos antigos, como exemplo podemos 
citar vários escritos da mitologia grega e da Bíblia Sagrada, sendo um dos fatores 
responsáveis pela manutenção do hábito de beber ao longo do tempo (VARGAS, 
1988). 
 Segundo Vargas (1988 p. 19), o termo álcool originou-se de uma palavra 
árabe (Kuhil, Kohil ou Kohol) e significa pó fino. O hábito da ingestão de bebida 
alcoólica pode ser observado na história como atrelado ao desenvolvimento 
agrícola, pela maneira de sua fabricação, pois as bebidas alcoólicas eram 
totalmente artesanais e seus elementos retirados da natureza. A cerveja, por 
exemplo, foi a primeira bebida alcoólica elaborada em grande escala pelo homem, 
proveniente da cultura do arroz na Índia e da cevada cultivada no Velho Egito. 
 A cerveja e o vinho foram às primeiras bebidas alcoólicas a serem 
consumidas, pois no século XI um perfumista árabe descobriu o processo de 
destilação do álcool, iniciando assim a industrialização da bebida destilada. Isso 
beneficiou o surgimento da cerveja e do vinho, pois as mesmas dependiam 
exclusivamente do processo de fermentação (VARGAS, 1988, p. 20). 
 Quando os portugueses chegaram ao Brasil, no início da colonização, 
descobriram o costume indígena de produzir e consumir uma bebida forte, 
fermentadaa partir da mandioca e suco de frutas, chamada de “cauim”. Seu 
consumo estava associado a rituais e festas, fazendo parte da cultura indígena 
(MASUR, 1988). Já os portugueses sempre traziam consigo vinhos, cervejas e 
destilados de alta graduação alcoólica, desconhecidos pelos índios e 
apresentados a eles aqui. 
13 
 
 Após a instalação dos engenhos de cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil, 
os portugueses descobriram um melaço que colocavam no cocho para animais e 
escravos mais conhecido na época como “cagaça”. Este melaço, mais tarde, 
passou a ser destilado em alambique de barro tornado-se a conhecida cachaça, a 
qual era oferecida aos escravos pelos fazendeiros para fins medicinais e para 
alegrá-los nos dias de festas religiosas (MASUR, 1988). 
 Como se observa, o álcool como bebida fermentada ou destilada, em uma 
grandíssima variedade de tipos e de marcas, tornou-se um dispositivo social 
inserido em pautas culturais, em hábitos e costumes, como um elemento 
simbólico (BERTOLOTE, 1997). 
 Durante o decorrer da história, segundo Jandira Masur (1988), o abuso do 
álcool estava relacionado á degradação moral, a falta de caráter e a fraqueza, 
sendo utilizado como medidas para o tratamento do alcoolista, castigos, prisão e 
internamento em hospitais psiquiátricos, esta última medida ainda é utilizada nos 
dias atuais em clínicas para a desintoxicação. 
 Masur (1984, p. 10), apresenta algumas hipóteses de que o álcool seja a 
droga mais consumida no Brasil. A disponibilidade do álcool sempre foi muito 
grande, uma vez que por ser produto da fermentação de açucares, é facilmente 
obtido em qualquer região do mundo, diferente de outras substâncias psicoativas, 
como opiáceos, maconha e cocaína, de origem vegetal e que necessitam de 
condições climáticas e/ou de solo adequadas para serem produzidas. Além disso, 
o álcool possui baixo custo de produção quando comparados a outras drogas. 
 Outro fator que faz com que as bebidas alcoólicas sejam a droga mais 
consumida pela humanidade é a sua peculiaridade de fornecer energia, uma vez 
que cada grama de álcool provem sete Kcal (calorias), mesmo que estas calorias 
não se relacionem a proteínas, sais minerais ou vitaminas, terminam por fornecer 
energia, fazendo do álcool uma droga aparentemente mais atraente que outras 
substâncias. 
14 
 
 Segundo Vargas (1988 p. 17), há três critérios que fundamentam as 
definições e conceitos do alcoolismo. O primeiro é baseado nas consequências 
da ingestão alcoólica para o indivíduo e para a sociedade; o segundo, o do 
padrão - consumo de álcool, e o terceiro critério, o do tipo de resposta 
(fisiopatológica) individual face ao álcool. 
 Nos anos 1950, o alcoolismo passa a ser considerada uma doença 
biológica, que não escolhe sexo, idade ou classe social, a qual é irreversível e 
incurável, mas que pode ser tratada. Em 1956, a Organização Mundial da Saúde 
(OMS) posiciona-se no sentido de considerar o alcoolismo como doença, no 
entanto, não inclui em seu manual a expressão alcoolismo, mas sim “Síndrome da 
Dependência do Álcool”: 
Estado psíquico e também geralmente físico, resultante da 
ingestão de álcool, caracterizado por reações de comportamento e 
outros que sempre incluem uma compulsão para ingerir álcool de 
modo contínuo ou periódico, a fim de experimentar seus efeitos 
psíquicos e por vezes evitar o desconforto de sua falta 
(BERTOLOTE, 1990 p. 17). 
 A OMS ainda define: 
O alcoolismo é toda forma de ingestão de álcool que excede ao 
consumo tradicional, aos hábitos sociais da comunidade 
considerada, quaisquer que sejam os fatores etiológicos 
responsáveis e qualquer que seja a origem desses fatores como: 
a hereditariedade, a constituição física ou as influências 
fisiopatológicas e metabólicas adquiridas (VARGAS apud OMS, 
1988 p. 18). 
 Muitas pessoas desconhecem, mas o álcool é uma droga psicotrópica, que 
atua no sistema nervoso central provocando mudança no comportamento de 
quem o consome, além de ter o grande potencial de causar dependência. Devido 
sua ampla aceitação, o consumo excessivo de álcool passa a ser uma 
problemática, podendo causar inúmeros acidentes de trânsito e violência 
associada a episódios de embriaguez, assim como ao alcoolismo, resultado do 
consumo de álcool em longo prazo (VARGAS, 1988). 
15 
 
 A dependência do álcool caracteriza-se pela perda da liberdade de 
consumir o álcool, o qual se faz independente de algum compromisso, data, 
horário e outros motivos. O dia é planejado em função do beber. Existe a vontade 
compulsiva, contínua ou episódica de ingerir bebidas alcoólicas, sem pensar na 
família, amigos, vida profissional e sem preocupar-se com a própria saúde, assim 
caracteriza-se a dependência do álcool. 
 Tal dependência inclui a subordinação física, a saliência, a prevalência do 
beber, em detrimento dos outros aspectos da vida. Este processo de transição, do 
beber sem ser dependente ao alcoolismo, é longo, sinalizado por várias formas, 
como o beber mais que o normal, a ponto das outras pessoas perceberem, beber 
sozinho frequentemente, apresentar manifestações orgânicas do consumo do 
álcool, e beber pela manhã são alguns dos sintomas. Do beber socialmente ao 
alcoolismo é uma lenta passagem que pode levar anos. O alcoolismo deve ser 
reconhecido como doença, já que seu consumo esta relacionado a padrões 
culturais. 
1.2 O Alcoolismo: fases e causas com suas determinações. 
 No Brasil, o estudo do alcoolismo constitui-se numa constante busca de 
novas formas para se intervir no problema e estabelecer uma visão preventiva e 
curativa. O alcoolismo não se constitui numa preocupação de saúde somente 
para o Brasil, é um problema com as mesmas dimensões para toda a 
humanidade. Portanto, independentemente da cultura, regime político ou da 
religião, o alcoolismo tem sido um dos mais graves problemas de saúde física, 
mental e social, que exige estratégias educativas e formas eficazes e humanas de 
tratamento. 
 Com o uso do álcool vêm inúmeros problemas, dentre eles o alcoolismo, 
que se relaciona com um consumo crônico de álcool. Apresenta como primeiro 
sintoma a embriaguez, quando a pessoa se excede na ingestão de bebidas 
alcoólicas sendo efetivada quando a quantidade de álcool ingerida é bem maior 
que a velocidade da sua metabolização. (MASUR, 1984) 
16 
 
O álcool é oxidado, ou seja, metabolizado no organismo numa 
velocidade em torno de 0,2g/I por quilo de peso por hora. Isto 
implica que o álcool contido em uma garrafa grande de cerveja 
(cerca de 24g) vai levar perto de duas horas para ser 
metabolizado por uma pessoa de setenta quilos. (MASUR, 1984, 
p.16) 
 Assim sendo, podemos citar alguns sinais da embriaguez: fala pastosa, 
coordenação motora diminuída, reações retardadas, visão e audição com 
prejuízos progressivos levando a um menor desempenho de atividades que 
requerem eficiência física e diminuição das inibições comportamentais. (MASUR, 
1984) 
 A Organização Mundial da Saúde define alcoolismo como sendo: 
Um estado psíquico e também físico resultante da ingestão do 
álcool, caracterizado por reações de comportamento e outras , 
que sempre incluem uma compulsão por ingerir álcool, de modo 
continuo ou periódico, a fim de experimentar seus efeitos 
psíquicos e por vezes evitar o desconforto da sua falta, sendo que 
a tolerância ao mesmo poderá ou não estar presente. (FORTES, 
1975, p.3) 
 A tolerância ao álcool é entendida como a perda ou a diminuição da 
sensibilidade aos efeitos iniciais do álcool. Assim, os pacientes aumentam a 
quantidade de álcool ingerida para compensar a tolerância que se estabelece aos 
efeitos agradáveis do álcool (KRAEMER, 2001). 
 Vieira ainda completa: 
O alcoolismo, da mesma forma que as demais dependências 
químicas, é uma doença que se inicia por fenômenos de 
suscetibilidade psicológica e completa-se por um quadro 
fisiológico de dependência organo-psíquica. (VIEIRA, 1996, p. 16) 
 Segundo Masur(1994), o alcoolismo é uma doença que implica em uma 
situação de dependência tão intensa que leva a um visível prejuízo físico e/ou das 
relações interpessoais. Logo, a dependência é a consequência de um desejo sem 
medida, onde o indivíduo dependente vive uma relação totalitária com a droga, 
prejudicando assim todas as outras relações, inclusive na esfera social. 
17 
 
 Enfim, Assunção (1998), ressalta que o alcoolismo é uma doença 
progressiva, crônica e fatal, como explica: 
Progressiva: porque os sintomas vão se intensificando, à medida 
que o alcoolista continua a usar bebidas alcoólicas, com aumento 
das doses e diminuição do intervalo de tempo entre as mesmas; 
Crônica: porque uma vez que o indivíduo tornou-se dependente 
do álcool, só se manterá sem beber se evitar qualquer aporte 
desta substância no seu organismo, seja vinagre, ou xarope, ou 
qualquer bebida ou alimento que contenha álcool; Fatal: porque 
causa severos danos em todos os planos da vida do indivíduo 
alcoolista. (ASSUNÇÃO, 1998, p.12) 
 Vale ressaltar que muitas pessoas conseguem consumir bebidas alcoólicas 
sem o mínimo transtorno, enquanto outras tornam-se dependentes. De acordo 
com França (1996), é importante diferenciar a pessoa que depende do álcool e a 
pessoa que abusa do mesmo: 
Dependência: condição em que a substância é ingerida em 
quantidades maiores ou por um período de tempo mais longo do 
que o desejado. Há um desejo persistente de consumir a 
substância, associado a esforços para interromper ou controlar a 
utilização do álcool. O indivíduo frequentemente apresenta 
sintomas de abstinência (quando não está intoxicado), deixando 
de cumprir obrigações importantes de seu papel no trabalho, em 
casa e na sociedade em geral (por exemplo, não trabalhar por 
estar de ressaca ou render menos que o esperado). Outro ponto 
importante no desenvolvimento da dependência é que ele passa a 
apresentar uma acentuada tolerância para o álcool, ou seja, 
consome a mais até 50% do que consumia antes para obter os 
mesmos efeitos. Abuso: condição em que uma pessoa, sem 
qualquer outro diagnóstico, necessita de algum tipo de ajuda por 
utilização de bebida alcoólica de forma continuada, interferindo no 
desempenho social, profissional ou familiar, psicológico ou físico, 
persistente ou recorrente, causado ou exacerbado pela utilização 
da substância. Essa condição implica que alguns indícios da 
perturbação persistem por pelo menos um mês, ou ocorrem 
repetidamente por um curto período, inclusive em situações em 
que este é fisicamente arriscado como, por exemplo, dirigir 
intoxicado pelo álcool. (FRANÇA, 1996, p. 9 e 10) 
 Vieira (1996) coloca que o alcoolista é um doente caracterizado pela 
compulsão para o consumo do álcool, o qual não tem condições de escolher 
livremente entre ingerir bebida alcoólica ou abster-se. Os alcoolistas são pessoas 
que necessitam abster-se do álcool numa sociedade que estimula seu consumo, 
seja por propagandas em TV, rádio, jornais e revistas, seja em festas, cerimônias, 
18 
 
comemorações familiares ou qualquer forma de entretenimento parece. O 
consumo de bebidas alcoólicas no Brasil é frequentemente associado a eventos 
esportivos e a vários símbolos de saúde e sucesso, uma vez que a indústria de 
bebidas alcoólicas patrocina praticamente todos os grandes eventos veiculados 
através de fortes meios de comunicação de massa, como a televisão. 
 A quantidade e a frequência da ingestão do álcool demarcam o alcoolismo, 
no qual os problemas orgânicos causados pelo uso do álcool aparecem quando 
essas pessoas o ingerem frequentemente e em grande quantidade 
esporadicamente (finais de semana). Porém, este critério não é suficiente, pois 
beber muito é uma condição necessária, mas não suficiente para definir 
alcoolismo. Ou seja, todos os alcoolistas bebem muito, mas o contrário não é 
verdadeiro (MASUR, 1984) 
Entre as várias formas propostas que procuram demarcar entre o 
beber normal e o alcoolismo está a que destaca a quantidade e a 
frequência de álcool ingerido, ou seja, o alcoólatra seria aquele 
que bebe frequentemente acima de determinado volume de 
álcool. As pessoas que não bebem diariamente, mas que 
esporadicamente ingerem grandes quantidades de bebidas 
alcoólicas também seriam classificadas como alcoólatras. 
(MASUR, 1984, P.23) 
 Masur (1984) diz que beber pela manhã pode ser um indicador para 
diagnosticar o alcoolismo, já que eles o fazem para controlar o mal estar e o 
tremor das mãos que pode se manifestar pessoas com sintoma da dependência 
física. Assim que o álcool é ingerido, desaparecem estes sintomas. 
Dependência física é o que ocorre com o uso continuo de várias 
drogas, inclusive o álcool. O organismo nesse caso, passa a 
precisar da droga para poder funcionar normalmente. No 
momento que a pessoa para de usar a droga, ocorre o que se 
chama de síndrome de abstinência, ou seja, a pessoa sofre sérios 
problemas físicos por alguns dias até que o organismo se 
acostume novamente a funcionar sem a droga. (MASUR, 1984, 
p.24) 
 Ainda segundo a autora, é importante que não se confunda o conceito de 
dependência do álcool com o conceito de dependência física, pois àquele envolve 
além da dependência física, a prevalência do comportamento de beber em 
19 
 
detrimento de quaisquer outros aspectos da vida. É preciso ter consciência de 
que o álcool é a substância mais difundida e mais consumida, sendo que o 
homem o busca para fugir da sua realidade. 
 Faz-se importante observar a relevância do assunto alcoolismo para toda a 
sociedade. Na área social vemos os altos custos para a saúde pública, em um 
pais onde já temos doenças demais e sem atendimento; a perda do sentimento 
cívico, o maior valor para os dependentes usuários é o álcool; a queda acentuada 
na produtividade profissional, acidentes de trabalho, entre outros. 
1.2.1 Fases do Alcoolismo 
 Conforme estudo realizado por Paula (2001), os dependentes e seus 
familiares passam por quatro fases distintas do alcoolismo, que não ocorrem 
necessariamente nessa ordem: negação, ira ou revolta, barganha e aceitação. 
NEGAÇÃO: É uma fase que nem o doente nem a família reconhecem a presença 
de um membro alcoolista na família, acham que apenas coisa de adolescente ou 
que eventualmente a pessoa se excede na bebida. 
IRA OU REVOLTA: Nesta fase ocorre geralmente o primeiro contato da família ou 
do doente com algum serviço de tratamento, consultório médico, clínica, grupo de 
ajuda e/ou ambulatórios, no qual o dependente começa a vivenciar sentimentos 
de depressão, de baixo-estima e ter atitudes agressivas consigo mesmo. Já a 
família vive o momento de vergonha e decepção, atribuindo a dependência do 
familiar a alguma coisa ou pessoa. 
BARGANHA: O dependente faz promessas que não vai cumprir, manipula a 
família e a si mesmo, sobretudo na base da chantagem; a própria família faz 
promessas e ou ameaças para o dependente para que ele pare de usar. Esse é o 
momento onde os dependentes e familiares estão mais fragilizados 
psicologicamente, aceitam tudo o que ouvirem falar para ajudar o dependente, 
qualquer forma de ajuda é bem vinda, não interessando os custos, econômicos ou 
sócios culturais. 
20 
 
ACEITAÇÃO: Ocorre quando o paciente e/ou familiares reconhecem a doença e 
admitem a impotência perante o álcool. 
1.2.2 As causas do Alcoolismo e suas determinações 
 Como citado acima às pessoas que consomem bebidas alcoólicas de 
forma excessiva, com o tempo podem desenvolver a dependência, condição 
conhecida como alcoolismo. Os fatores que podem levar ao alcoolismo são 
variados, envolvendo aspectos de origem biológica, psicológica e sócio cultural 
Masur (1984, p. 27). 
 Na determinação biológica, o pressuposto teórico básico é que o 
alcoolismo vai se desenvolver, ou não, dependendo das características biológicas 
inatas. Logo, existirão pessoas que podem beber e não se tornar alcoolistas, 
enquanto que outras desenvolverão a dicçãoao álcool (MASUR, 1984). Esta 
hipótese baseia-se no fato de que o alcoolista, quando inicia a ingestão do álcool, 
não consegue se restringir a uma ou duas doses, bebendo até a embriaguez. 
 Esse fenômeno é conhecido como a perda de controle, que ocorre em 
decorrência de uma reação fisiológica em cadeia, desencadeada por uma 
quantidade inicial de álcool, que levará à ingestão de quantidades cada vez 
maiores. O alcoolista deve ser considerado vitima de uma doença, cujo sinal 
característico é a perda de controle, entendida como: 
Assim qualquer quantidade de álcool que penetra no organismo 
dá inicio a uma compulsão que faz com que o alcoolista continue 
bebendo até que ele esteja tão intoxicado ou se sinta tão doente a 
ponto de não mais beber (MASUR, 1980, p.73). 
 Psicologicamente falando, a autora afirma que o alcoolismo está baseado 
em duas hipóteses que estão situadas em duas teorias: a teoria da personalidade 
e a teoria da aprendizagem. A primeira teoria divulga a ideia que alcoolistas se 
caracterizam por traços de personalidade, como dependência, insegurança, 
passividade e introversão. Porém, essas características são observadas entre 
alcoolistas, e não sua causa. 
21 
 
 A outra teoria procura explicar a etiologia do alcoolismo na concepção 
psicológica, supõe que os alcoolistas são aqueles que aprenderam a lidar com os 
problemas existenciais através dos efeitos do álcool. Neste enfoque, o fenômeno 
da dependência, em si mesmo, torna-se fator prioritário na vida do usuário, já não 
havendo mais espaço para suas atividades laborais, sua convivência familiar e 
social em geral. 
 Todas as pessoas estabelecem relações de dependência com pessoas, 
objetos ou situações, sendo umas funcionais, desempenhando papel importante 
para o bem estar individual, e outras que acarretam em problemas, gerando a 
dependência. No caso dos dependentes do álcool, estes são vitimas de 
consequências extremamente destrutivas em nível social e pessoal. O alcoolista 
cria sua própria visão de mundo, não percebendo sua situação dentro do contexto 
familiar e social. 
 Os sintomas da dependência psíquica são percebidos através do agir do 
alcoolista, consumindo-o em várias ocasiões. O ato do consumo do álcool deixa 
de ser voluntário, e nos momentos de sobriedade, o alcoolista vê tudo destruído a 
sua volta, e precisa reagir, mas não tem forças, então volta a beber (MASUR, 
1984). 
 Na determinação sociocultural o alcoolismo atinge todas as classes sociais, 
não discriminando pobres ou ricos, homens ou mulheres, grau de escolaridade, 
atingindo igualmente países com organizações políticas diferentes, variando do 
capitalismo ao socialismo (MASUR, 1984). De um modo geral, o álcool é uma 
droga aceita culturalmente pela sociedade e permeia as relações sociais, 
aparecendo como uma problemática de saúde em todo o mundo. A mídia induz o 
consumo desta droga lícita, não levando em conta os riscos e consequências, e o 
álcool é livremente comercializado. Há no imaginário popular que a crença do 
consumo de bebidas alcoólicas estimula a diversão, pois se trata de um 
mecanismo cultural que o identifica como um prazer. 
 É bem claro que dentre alguns dos fatores sociais que levam o indivíduo ao 
alcoolismo, destacam-se a pobreza, a competição do mercado de trabalho, o 
22 
 
aprendizado, muitas vezes em família, como tradições antigas, e o uso ritualístico 
(FORTES 1991). 
 Conforme o exposto acima, conclui-se que não há uma explicação 
universal, seja ela psicológica social ou biológica, sobre as causas do alcoolismo, 
pois estão explícitos diferentes fatores de vulnerabilidade. Todas as pessoas que 
ingerem álcool podem ou não se tornarem alcoolistas, porém, a maior ou menor 
probabilidade, vai depender da integração entre os diferentes fatores de 
vulnerabilidade. 
1.3 Problemas relacionados ao uso do álcool 
 A atual Política de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e outras Drogas 
do Ministério da Saúde apresenta o álcool e o tabaco como as substâncias 
psicoativas mais consumidas em todo o mundo e de uso historicamente lícito, e 
são as que trazem consequências mais graves para a saúde pública mundial. Os 
problemas decorrentes do consumo indevido dessas substâncias são evidentes, 
assim como a crescente elevação dos custos relacionados direta ou indiretamente 
a tal uso. 
 Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), 50% dos danos 
ocasionados pelo consumo de álcool são atribuídos ao uso crônico e os outros 
50% ao uso abusivo. Este último atinge pessoas que não são classificados como 
alcoolistas ou consumidores prejudiciais, mas que causaram algum dano após a 
embriaguez, o qual é responsável, segundo Gorgulho (2004), a 3,2% de todas as 
mortes e 4,0% de todos os anos perdidos de vida útil. 
Depois do tabaco, o álcool é a segunda maior causa de mortes 
relacionadas a drogas. Na maioria dos países, o álcool tem um 
impacto ainda maior em termos de mortes, ferimentos e custos 
econômicos se comparado com as drogas ilícitas. O álcool tem 
impacto em qualquer estágio da doença, em todos os grupos 
etários, de maneira direta e indireta (STRONACH, 2004:29). 
 O número de internações e gastos decorrentes do uso indevido de álcool 
tem se mantido bastante elevado, sendo que estes gastos estão relacionados a 
23 
 
transtornos físicos, como a cirrose hepática, e lesões decorrentes de acidentes, 
como automobilísticos (BRASIL, 2003). Fernandez (1998) afirma que as 
enfermidades cardíacas e vasculares são as principais responsáveis pela 
mortalidade alcoólica na idade média e avançada da vida, enquanto que nos 
jovens, são os acidentes as principais causas de mortes relacionadas ao uso do 
álcool. 
 O comprometimento global consequente do uso de álcool e outras drogas 
envolvem muito estigma, exclusão, preconceito e discriminação, que ao mesmo 
tempo se constituem como agravantes e resultantes das implicações decorrentes 
do consumo dessas substâncias. Além disso, provoca a perda ou restrição das 
habilidades de um individuo para exercer uma atividade, função ou papel social, 
em qualquer um dos domínios da sua vida. 
 Apesar de ser conveniente pensar em três dimensões de problemas, 
físicos, mentais e/ou sociais relacionados ao consumo de álcool, elas não podem 
ser separadas na análise da vida real dos usuários, uma vez que as dificuldades 
em uma das áreas provocam e são ampliadas por limitações nas outras. 
Normalmente, quanto mais grave a dependência, maior a probabilidade de 
prejuízos relacionados ao álcool nessas três áreas. 
 Segundo Stronach (2004), os danos imediatos causados após a 
embriaguez são: envolvimento em acidentes, violências, agressões, atividade 
sexual não planejada ou não desejada e mortes acidentais. Por outro lado, os 
danos causados em longo prazo pelo consumo excessivo de álcool podem 
desencadear implicações clínicas, sociais e psicológicas: 
 Problemas clínicos: surgimento ou agravamento de doenças (do aparelho 
digestivo e cardiovascular, psiquiátricas, neurológicas, cânceres, entre 
outras) e maior incidência de traumatismos e ferimentos. 
 Problemas Psicológicos: depressão, transtornos de comportamento e 
crises psicóticas. 
 Problemas Sociais e Interpessoais: conflitos familiares, perda de 
relacionamentos pessoais, problemas no ambiente de trabalho, problemas 
24 
 
financeiros, situações de conflito com a justiça, violência doméstica e 
negligência familiar. 
 Como essas três dimensões estão interligadas, o efeito prolongado da 
embriaguez no cérebro pode estimular mudanças na personalidade, desgaste na 
vida emocional, falta de interesses no desenvolvimento de atividades da vida 
diária, diminuição da motivação para a participação social, perda da capacidade 
de planejamento e organização, entre outros. Certamente, essas mudanças irão 
afetar a qualidade das relações interpessoais e o estilo de vida, podendo 
comprometer de forma significativa aconvivência na família e no ambiente de 
trabalho. 
 O consumo frequente e abusivo do álcool também pode acarretar em 
prejuízos financeiros, principalmente nas pessoas que possuem um nível salarial 
mais baixo. Tais dificuldades ocorrem geralmente na vida daquelas pessoas que 
consomem frequentemente grandes quantidades de bebida alcoólica e por 
consequência tem maiores gastos e até mesmo o endividamento. 
 As situações de vulnerabilidades relacionadas ao álcool podem ser em 
maior ou menor nível, dependendo inclusive do momento em que o individuo se 
encontra em seu ciclo vital e das condições sociais que apresenta. Todos esses 
problemas apresentados podem levar o dependente a um processo gradativo de 
fragilização da sua autoestima e dos vínculos sociais. 
1.3.1 Repercussões Sociais do Alcoolismo 
 Como já citado, o álcool é uma droga psicotrópica muito poderosa que, 
além de causar sérios problemas de saúde em seus dependentes, também afeta 
sua família e o meio social onde vivem. Segundo Vieira (1996), apesar de o álcool 
ser uma droga pesada pela forte dependência física e psicológica que causa, ele 
é culturalmente aceito, pois faz parte das sociedades. Embora o uso de drogas 
remonte aos primórdios da humanidade, foi nas últimas décadas do século XX 
que seu uso e abuso aumentaram assustadoramente, transformando-se na 
doença médico-social mais crônica da atualidade. 
25 
 
 Segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE), no Brasil os dados são insuficientes para se prever a cifra de consumo 
per capita, produção e venda de bebidas. Conforme Vargas (1991): 
A produção de bebidas alcoólicas no Brasil constitui cerca de 10% 
de todo imposto recolhido pelo governo sobre produtos 
industrializados, só perdendo para a arrecadação com cigarros. 
No entanto, o alcoolismo utiliza, de forma direta, 5,4% do Produto 
Interno Bruto (PIB) por comprometimento da produção de nove 
milhões de alcoolistas adultos, além dos inestimáveis gastos na 
assistência médica as consequências do uso de bebidas 
alcoólicas. Cumpre ressaltar que, além do grande contingente de 
indivíduos assistidos por alcoolismo, encontra-se em nossos 
serviços de saúde ponderável parcela da população, 
principalmente masculina (de 27 a 58 %), com consumo de álcool 
de forma potencialmente comprometedora a nível orgânico, sem 
que esse consumo fosse à razão declarada do atendimento. 
Desta forma, fica claro que a marginalização social do alcoolista, 
responde a necessidade que a sociedade tem de manter ocultas 
suas contradições. Se considerarmos o denominado hábito social, 
levando em conta a disponibilidade de bebidas alcoólicas e os 
interesses econômicos presentes através da propaganda, 
estaremos provavelmente abarcando grande parte da questão no 
Brasil (VARGAS, 1991 p. 171). 
 A doença do alcoolismo é, hoje, ponto pacífico de existência, tão 
lamentada quanto aceita. Mas é certo que a negação caracteriza o alcoolista 
como igualmente seus familiares e entes próximos. Todos negam a doença, por 
isso faz-se necessário conhecer as repercussões do alcoolismo na saúde, na 
família e no trabalho para melhor compreendermos esta problemática. 
1.3.1.1 Repercussões do Alcoolismo na Saúde 
 As consequências do alcoolismo são inúmeras, dependendo da 
porcentagem de álcool etílico e do estado físico da pessoa. Conforme citado 
anteriormente, as bebidas podem ser fermentadas, com teor de álcool em torno 
de 9 a 12%, ou destiladas, que possuem teor de álcool acima de 35%. 
 A intoxicação pelo álcool pode ser aguda ou crônica. A aguda é 
consequência da ingestão excessiva de bebida alcoólica em curto espaço de 
tempo, produzindo uma sensação de bem-estar como euforia, diminuição do 
senso crítico e diminuição das capacidades motoras. Já a crônica corresponde à 
26 
 
toxicomania e provém do uso excessivo, periódico, ou contínuo de bebidas 
alcoólicas (MASUR, 1988). 
 O álcool, quando ingerido em altas dosagens, pode causar intoxicação, 
agressividade, juízo destorcido e dificuldades de caminhar. Se estas doses forem 
muito maiores, podem levar ao estado de coma e até a morte por depressão 
respiratória e baixa temperatura, respiração lenta e ofegante, ritmo cardíaco 
acelerado e pupilas dilatadas (VARGAS, 1991). 
 Os sintomas mais característicos e frequentes desenvolvidos no alcoolismo 
estão relacionados com os comprometimentos do Sistema Nervoso, Sistema 
Digestivo e Aparelho Cardiocirculatório. A característica que mais marca no 
sistema nervoso é o tremor apresentado por muitos alcoolistas. No sistema 
digestivo, é comum a falta de apetite que constitui queixa constante, a gastrite 
com vômitos matinais e a cirrose hepática, além do álcool favorecer a 
predisposição ao câncer esofágico e gástrico. Já no sistema cardiovascular, 
aparece uma degeneração adiposa, curada com a abstinência e piorada com o 
excesso de álcool, assim como a insônia, o que favorece uma maior necessidade 
de beber a noite. 
 Além destes sintomas, podemos citar a diminuição da potência sexual, a 
atrofia dos testículos e a diminuição da excreção hormonal nos homens; e, a 
ausência de menstruação nas mulheres. Caso a mulher alcoolista engravide e 
continue a beber, poderá ter um bebê com lesões cerebrais. 
 Segundo Soibelman (1996), uma pessoa que se torna dependente do 
álcool transforma-se por completo, pois a substância afeta as estruturas cerebrais 
e consequentemente causam transtornos psicoativos. O indivíduo perde o 
domínio de suas emoções. Sua personalidade sofre profundas alterações, que 
vão desde a irritabilidade incontrolável, ao mau humor crônico. Muitos chegam a 
desenvolver ideias delirantes de perseguição, ciúme e desconfiança, sem a 
menor base real. 
27 
 
 Com o exposto acima, podemos notar que a grande e crescente incidência 
de alcoolismo na atualidade, é mais um risco sério para a saúde do homem, e que 
por repercutir em seu organismo afeta diretamente suas atividades em geral, 
inclusive sua vida laboral como veremos adiante. 
1.3.1.2 Repercussões do Alcoolismo no Trabalho 
 O alcoolismo vem se difundindo de forma lenta e gradual no âmbito da 
sociedade, vinculado a fatores socioeconômicos e culturais que interferem 
diretamente no patamar das relações de trabalho, ou seja, em instituições 
públicas e privadas (CAPANAMA, 1997). 
 O alcoolista sofre as repercussões de seu vicio também no seu ambiente 
de trabalho, os seus efeitos, conforme Ramos e Bertolote (1997) constituem-se 
em atividade grave e extremamente perigosa e representa custo para o 
empregador e para a sociedade, resultando em perda de produtividade, e 
confiabilidade pública da empresa. 
 Os autores baseados em dados da OMS mencionam que um empregado 
alcoolista falto cerca de cinco vezes mais ao trabalho que os demais acarretando 
perda significativa de produtividade. Os reflexos causados pelo alcoolismo no 
ambiente de trabalho são visíveis, dentre eles podemos citar: 
 Dificuldade de relacionamento com chefias e colegas; 
 Instabilidade emocional e profissional; 
 Estagnação ou diminuição da carreira profissional; 
 Atrasos e faltas; 
 Baixo rendimento; 
 Três a quatro vezes mais acidentes de trabalho; 
 Falsas justificativas para o mau desempenho; 
 Discussões frequentes com os colegas de trabalho, dentre outras 
consequências. 
28 
 
 O álcool altera, de forma progressiva, o sistema nervoso e a resistência do 
trabalhador, afetando na sua conduta social, profissional e capacidade mental. 
Logo, fica claro que o alcoolismo influência diretamente as relações de trabalho, 
alterando o desempenho profissional e a produção do trabalho. 
O indivíduo pode comparecer ao trabalho, mas rende menos, ou 
deixa serviços para os outros, ele pode representar um perigo real 
para si ou para os outros pela maneira inadequada de lidar com 
máquinas; a bebida pode impedir sua promoção ou levar a um 
relaxamento, pode ter que ser rebaixadopara função que não 
exija tanta habilidade, e finalmente pode estar desempregado ou 
prestes a perder o emprego (RAMOS e BERTOLOTTE p.134). 
 Além do exposto acima, devemos levar em consideração que devido as 
constantes mudanças vivenciadas no mundo do trabalho resultantes do ideal 
neoliberal, como automação, terceirização e globalização, utilização da 
microeletrônica e robótica, há um enfraquecimento da organização dos 
trabalhadores. Logo, o individuo com problemas relacionados ao álcool e outra 
droga encontra-se em maior situação de vulnerabilidade, uma vez que a 
competitividade e a redução do vínculo empregatício aumentam ainda mais a 
distância e a probabilidade de investimentos por parte do empregador no 
tratamento e prevenção as drogas (ANTUNES, 1991 p. 41). 
 Todavia, alguns fenômenos ocorridos dentro do ambiente de trabalho 
podem contribuir para que o uso do álcool e outras drogas aumentem dentro do 
ambiente de trabalho, tais como preocupação da dispensa iminente, exigência de 
qualidade e aumento de produção, estresse e baixos salários. Por isso a temática 
do alcoolismo merece destaque, no sentido de ser abordada tanto na prevenção 
quanto reabilitação, no interior de organizações e instituições privadas e públicas, 
e pelos profissionais destas, fazendo com que o reconhecimento e entendimento 
deste fenômeno se deem no âmbito biológico, físico, social e psicológico, seja um 
passo importante para a tentativa de amenizar a problemática, contribuindo para a 
melhoria e qualidade de vida destes trabalhadores (CAPANAMA, 1997). 
 
 
29 
 
1.3.1.3 Repercussões do Alcoolismo na Família 
 Ao falarmos de família, remetemo-nos aos arranjos familiares existentes na 
sociedade brasileira, a qual se constitui, segundo Mioto (1997), como “um núcleo 
de pessoas que convivem em determinado lugar, durante um lapso de tempo 
mais ou menos longo e que se acham unidas (ou não) por laços consanguíneos”. 
 O alcoolismo é uma doença que afeta não apenas o dependente, o qual 
passa a ser apenas parte do problema, cujas consequências atingem diretamente 
a sua família. O impacto dessa doença nos membros da família manifesta-se 
principalmente através da ruptura e desorganização das relações interpessoais 
com consequente prejuízo para o desenvolvimento das pessoas e a qualidade de 
saúde daqueles que convivem com esta problemática. 
 O alcoolista vai, de maneira progressiva, sofrendo as influências do uso do 
álcool, assim como a sua família também será afetada em estágios 
previsivelmente progressivos (RAMOS E BETOLLOTE, 1997). No primeiro 
momento, a família começa a experimentar a ansiedade em decorrência do abuso 
do álcool pelo dependente. Apesar da constante negação pelos próprios membros 
da família, o relacionamento entre eles vai se tornando cada vez mais tenso, 
passando o surgir discussões e dificuldades. 
 No segundo momento, a preocupação da família está focada 
especificamente no uso do álcool. Ao mesmo tempo se ilude a respeito da 
doença, tenta controlar o uso e as consequências do abuso por parte do 
dependente e a vida familiar se desgoverna à medida que os membros 
desenvolvem sintomas físicos e emocionais, se afastando do convívio social. 
Assim a família faz um acordo de forma implícita ou explicita de não falar do 
assunto, tentando ignorar que o álcool é o causador dos problemas da família. 
 Já no terceiro momento, os membros da família assumem papéis rígidos e 
previsíveis, tornando-se facilitadores do problema e desenvolvendo sérias 
disfunções. Aqui é comum a negação do sofrimento emocional e outros 
sofrimentos (SILVA, 1996). 
30 
 
 No quarto momento, poderão ocorrer crises graves na família onde os 
membros cansados buscam maneiras de fugir da situação que se torna 
insustentáveis, podendo ocorrer um afastamento emocional completo ou divórcio 
ou, até mesmo, um suicídio ou homicídio. Ao mesmo tempo, a família continuará 
a ter sentimentos fortes, protetores do dependente. Este último momento se 
caracteriza pela exaustão emocional. 
 Com a progressão da doença, a família experimenta sentimentos como 
raiva, ressentimento, dor, vergonha, culpa solidão e perda do contato com o plano 
real. Conforme Segundo Ramos e Bertollote (1997), as famílias de alcoolistas 
sofrem muitos conflitos, desenvolvendo papeis rígidos para lidar com um estresse 
que nunca discutem abertamente. Vivem com medo do futuro e sofrem com a 
negação da realidade sentindo vergonha do dependente e de si mesmas, 
acostumando-se assim a falsear a verdade de maneira que nem sabem mais 
confrontar seus próprios sentimentos. 
 A falta de conhecimento sobre o alcoolismo como doença, desperta a ideia 
de que o alcoolista é um individuo irresponsável e que não se interessa pela 
família, chegando a ponto de perder o respeito e a confiança de sua família. O 
fato de o alcoolismo ser tratado como uma doença é pouco discutido nos meios 
de comunicação em massa, que pelo contrário, incentivam o uso de bebidas 
alcoólicas fazendo com que o processo de conscientização destas famílias e do 
próprio usuário seja mais lento e prejudique diretamente o tratamento e a 
recuperação deste, afinal o ato de “beber” é culturalmente aceito e legitimado pela 
sociedade. 
 Como relatado nesse item, vimos que o álcool domina a vida do alcoolista, 
e este acaba tornando-se totalmente dependente dele, levando-o a abrir mão de 
toda sua vida e a questão da dependência do álcool afeta as relações familiares, 
pois bem como já abordamos, o alcoolismo é uma doença de cunho 
biopsicossocial. 
 
31 
 
1.4 Problemas ocasionados após o consumo excessivo de álcool 
 Vários estudos indicam que o consumo de álcool pode provocar 
comportamentos violentos acima do que se considera acidental, enquanto outros 
sugerem que a relação de causalidade é perigosa apesar do uso de álcool 
parecer ser responsável frequentemente pela desinibição e liberação de 
comportamentos violentos ou sexualmente agressivos. 
 Franch (2004) relata que em relação às violências que tem como vítima 
principal as mulheres, o uso de bebidas alcoólicas é evidenciado como um 
importante fator de risco, pois quando ingerido pelo agressor, o álcool pode 
reduzir as inibições e afetar tanto a capacidade de emitir julgamentos quanto de 
interpretar sinais, ocasionando casos de violência sexual e outras violências 
cometidas por parceiros íntimos. O consumo do álcool pelas mulheres as torna 
mais vulneráveis a situações de risco, porque dificulta sua percepção dos sinais 
de perigo e reduz a sua capacidade de reagir. 
 Pesquisas realizadas comprovam que mais de 50% dos casos de 
espancamento de esposas tinham relação direta pelo consumo de álcool pelo 
agressor. Uma análise dos casos investigados de negligência ou abuso de 
crianças no Canadá revelou que o agressor havia consumido álcool em 87% dos 
casos. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Abuso de Álcool e 
Drogas nos EUA (1997) foi revelado que o uso excessivo de bebida alcoólica 
estava presente em 68% dos homicídios culposos, 62% dos assaltos, 54% dos 
assassinatos e 44% dos roubos ocorridos. 
 Os dados estatísticos costuma destacar os efeitos físicos mais comuns, no 
entanto, os problemas psicológicos e doenças pós-traumáticas não devem ser 
minimizados ou ignorados. As vítimas de um estilo de vida baseado na violência 
doméstica podem apresentar problemas de longo prazo ou até problemas de 
desenvolvimento, de natureza emocional (STRONACH, 2004). 
 Em diferentes países, análises realizadas a respeito de agressões entre 
homens jovens em bares trazem elementos significativos para esse debate. 
32 
 
Observa-se que muitas pessoas, quando estão sobre o efeito do álcool, 
superestimam seu poder, correm mais riscos e respondem com maior 
agressividade às provocações. Essas alterações comportamentais podem iniciar 
o conflito no contexto da socialização masculina e estimular brigas. Cabeesclarecer que a relação do álcool com violência se manifesta principalmente em 
estados de intoxicação etílica¹. 
 A cidade de Diadema, no estado de São Paulo, tornou-se um grande 
exemplo de como a restrição de horários para o fechamento de bares e outros 
estabelecimentos que vendiam bebidas alcoólicas podem auxiliar na redução do 
número de homicídios. A lei do fechamento de bares, que restringe a venda de 
bebidas alcoólicas das 23h às 6h todos os dias, conseguiu reduzir de 124 
ocorrências de homicídios no primeiro semestre para 29 ocorrências em 2009, 
uma redução de 76,67%. Isso mostrou que políticas que mudam a forma como o 
álcool é vendido podem ser altamente eficazes na prevenção dos problemas 
relacionados ao consumo. 
 O consumo de álcool pode acarretar também em vários tipos de acidentes 
traumáticos, causados por acidentes de trânsito, quedas, incêndios, afogamentos 
ou ferimentos, uma vez que o álcool diminui a concentração, percepção e 
avaliação da situação (STRONACH, 2004). 
 Um dos maiores problemas do consumo prejudicial de álcool é a grande 
incidência de acidentes de trânsito envolvendo os usuários. Foi confirmado 
cientificamente que o uso de bebidas alcoólicas aumenta a probabilidade de 
acidentes, na medida em que modifica a capacidade discriminatória visual e 
auditiva, reduz a coordenação motora e os reflexos, altera o comportamento e 
traz uma falsa sensação de segurança, tanto nos condutores quanto nos 
pedestres (Melcop; Oliveira, 1997 apud Melcop, 2004, 9. 92). 
 Em estudo multicêntrico feito em quatro capitais brasileiras, Recife, 
Brasília, Salvador e Curitiba, financiada pela Associação Brasileira de Detrans 
(ABDTRAN), Centro de Estudos e Tratamento sobre Drogas (CETAD) da 
Universidade Federal da Bahia e Instituto Raid, em 1997, sobre o consumo de 
33 
 
álcool em vítimas de acidente de trânsito revelou que 61% das pessoas 
envolvidas estavam com alcoolemia positiva. Quanto aos atropelamentos, 52% 
apresentavam algum nível de álcool no sangue. 
 Assim, os consumos de álcool se constituem em importante fator 
desencadeante de episódios acidentais e situações de violência, expondo as 
pessoas a comportamentos de risco e situações de vulnerabilidade, 
consequentemente evidenciando a diminuição dos anos potenciais de vida da 
população. 
 2. POLÍTICAS PÚBLICAS RELACIONADAS AO ALCOOL 
2.1 Políticas Públicas Relacionadas Especificamente ao Álcool 
 A reafirmação histórica do papel nocivo apresentado pelo álcool deu 
origem a uma extensa gama de respostas políticas para o enfrentamento dos 
problemas decorrentes do seu consumo, comprovando o fato concreto da grande 
magnitude da questão no contexto da saúde pública mundial (DELGADO; et AL, 
2004). 
 Conforme Babor e Caetano (apud, Laranjeira e Dualibi, 2007), são 
consideradas políticas do álcool aquelas que se referem a relação entre o álcool, 
segurança, saúde e bem-estar social. Definindo-as como qualquer esforço ou 
decisão de autoridades governamentais ou de organizações não governamentais 
(ONG) para minimizar ou prevenir os problemas relacionados ao consumo 
excessivo de álcool. 
 O álcool se constitui como importante fonte de danos para a saúde e 
segurança pública, não podendo ser tratado como mais um produto subordinado 
às leis do mercado. O mercado de venda do álcool precisa ser melhor regulado e 
estabelecer um controle social sobre essa substância. Existem evidências 
científicas que o estabelecimento de políticas regulatórias de controle do acesso e 
disponibilidade do álcool é efetivo para reduzir o consumo e os problemas 
relacionados, conforme expressam Laranjeira e DUALIBI: 
34 
 
A consequência desse descontrole e da excessiva oferta e 
acessibilidade têm gerado consumo elevado a baixos preços e 
ampla disponibilidade de álcool nos ambientes, banalizando o seu 
consumo e levando a tolerância em relação às transgressões 
legais. Poucas restrições as propagandas nos meios de 
comunicação as tornam eficientes em seduzir o público, 
principalmente o jovem, para o consumo de bebidas alcoólicas 
(LARANJEIRA e DUALIBI, 2007:03). 
 Segundo Laranjeira e Dualibi (2007), a Organização Mundial de Saúde 
(OMS) considera importantes as políticas públicas relacionadas com o álcool para 
a saúde, a segurança e a economia internacional. Por isso, realizou um estudo 
com especialistas de nove países, cujo objetivo era avaliar as diferentes políticas 
relacionadas ao consumo excessivo de álcool. Dentre as dez melhores práticas, 
composta por tais especialistas, cinco são referentes às políticas de controle do 
álcool, quatro estão relacionadas com o controle de beber e dirigir e uma 
consistem na instituição de processos terapêuticos do tipo intervenções breves 
para pessoas que consomem álcool de maneira abusiva. São elas: 
 Estabelecimento (e fiscalização) de idade mínima legal para compra de 
bebidas alcoólicas; 
 Monopólio governamental das venda de bebidas no varejo; 
 Restrição dos horários ou dias de venda; 
 Restrições de densidade dos pontos de venda de álcool; 
 Criação de impostos para o álcool; 
 Redução do limite de concentração sanguínea do álcool permitida para 
dirigir; 
 Suspensão administrativa da licença de motoristas que dirigem 
alcoolizados; 
 Estabelecimento de postos de fiscalização de sobriedade; 
 Política de “tolerância zero” quanto ao dirigir alcoolizado, por vários anos, 
no licenciamento para motoristas novatos. 
 
A bebida alcoólica tem sido apoiada por livres valores de mercado e têm 
seus interesses defendidos pelas suas indústrias de forma crescente, as quais 
entraram no debate político para defender seus interesses comerciais. Embora a 
35 
 
indústria do álcool tente fazer alguma propaganda educativa, como por exemplo: 
“se beber não dirija” ou “beba com moderação”, seus interesses comerciais 
acabam entrando em conflito com as medidas de saúde pública. Laranjeira e 
Dualibi (2007) não acreditam na efetividade dessa medida e defendem que a 
proibição da propaganda do álcool é mais eficaz: 
Embora possuam apelo popular, a propaganda educativa nunca é 
tão bem produzida, nem possui os mesmo recursos e frequência 
nos meios de comunicação do que a propaganda da indústria do 
álcool. Apresenta alguma efetividade quando parte integrante de 
um programa mais amplo de políticas. Proibir a publicidade do 
álcool custa bem menos e é bem mais eficaz que qualquer medida 
de contra propaganda (LARANJEIRA e DUALIBI, 2007:04). 
 
 As evidências de que as estratégias publicitárias de bebidas alcoólicas 
acarretam consequência à saúde pública são fortes o bastante para fazer com 
que o Estado regule a promoção do álcool, ao invés de aceitar que a indústria e a 
mídia façam sua “auto regulação”, levando a oferta excessiva, preços baixos e 
consumos elevados. 
 Um estudo comparou 17 países com proibição total, parcial e sem 
proibição de publicidade e propaganda de bebidas alcoólicas, chegando assim a 
tais resultados: os países que proíbem a publicidade de destilados têm níveis de 
consumo 16% mais baixos e 10% menos acidentes automobilísticos fatais do que 
os países sem proibição. Já os países que proíbem a propaganda de cervejas, 
vinhos e destilados, apresentam níveis de consumo 11% menores e 23% menos 
acidentes automobilísticos fatais do que os que proíbem apenas a propaganda de 
destilados (LARANJEIRA e DUALIBI, 2007). 
 Alguns autores defendem a tolerância zero em situações onde o uso de 
álcool pode trazer danos a terceiros, tais como: bebida alcoólica e direção; bebida 
alcoólica e manuseio de maquinário técnico e individual; consumo de álcool por 
gestantes ou lactantes; e, adolescentes e crianças, os quais não são capazes 
ainda de tomar decisões conscientes. 
 Os países que têm políticas específicas para o álcool recomendaram a 
necessidade da adoção de estratégias intersetoriais que levem em conta os 
seguintes objetivos principais: restringir o acessoe o consumo e regular a 
propaganda, a fim de reduzir os danos causados pelo consumo do álcool. 
Algumas iniciativas que privilegiam o aumento do preço e a taxação, a 
36 
 
fiscalização do cumprimento da legislação e difusão de informações realistas e 
isentas de julgamento foram citadas como ações eficazes e positivas (DELGADO; 
et al, 2004). 
 
2.2 O panorama nacional das políticas destinadas ao álcool 
 No Brasil, existem apenas algumas leis federais que propõem ações 
regulamenta tórias relacionadas ao uso do álcool: a Lei que proíbe a venda de 
bebidas alcoólicas para menores de 18 anos (art. 243 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, Lei 8.069/90 e Lei das Contravenções Penais, artigo 63) e a 
legislação do Código Brasileiro de Trânsito (artigo 165), que considera como 
infração gravíssima dirigir alcoolizado com níveis de álcool superiores a seis 
decigramas por litro de sangue. Nesse caso, o condutor fica sujeito à multa, 
suspensão do direito de dirigir, retenção do veículo e recolhimento da sua carteira 
de habilitação (LARANJEIRA e DUALIBI, 2007). 
 Mas observa-se que essas leis não são respeitadas devido à fiscalização 
ineficiente e a falta de punição adequada, como afirmam Laranjeira e Dualibi: 
Reconhecendo que nenhuma política é efetiva, a menos que seja 
fiscalizado permanentemente, estudo nacional mostra que 
menores de 13 a 17 anos conseguiram facilmente comprar 
bebidas alcoólicas em diferentes tipos de estabelecimentos. Sem 
multa e fiscalização adequada, dificilmente poderia haver 
condições de se promover uma melhora nesta situação. O que 
funciona realmente é a certeza de que uma determina infração 
será punida. Pesquisa realizada em Diadema (São Paulo) 
concluiu que quase 20% dos motoristas pesquisados com 
bafômetros estavam dirigindo com níveis de álcool iguais ou 
maiores que os permitidos pela lei (Laranjeira e Dualibi, 2007:07). 
 A questão da necessidade de adoção de políticas com ênfase no consumo 
de álcool passou a serem debatidos nos últimos cinco anos. Em novembro de 
2005, foi realizada a Primeira Conferência Pan-Americana de Políticas Públicas 
sobre o Álcool, realizada em Brasília, com apoio da Organização Pan-Americana 
de Saúde. Seu documento final enfatiza que as estratégias nacionais devem 
incorporar uma lista culturalmente apropriada de políticas baseadas em 
evidências, estudos científicos e sistemas de informação. 
 Atualmente existem boas perspectivas de avanços na legislação nacional, 
já que foi aprovada a Política Nacional sobre o Álcool através do Decreto n°6.117, 
37 
 
em 22 de maio de 2007. A função de implementar essa política será da Secretaria 
Nacional Antidrogas, que articulará e coordenará este processo, cujo inicio 
ocorrerá com implantação das medias para a redução do uso indevido de álcool e 
sua associação com a violência e criminalidade (BRASIL, 2007). 
 Logo, pela primeira vez no Brasil, o consumo de bebidas alcoólicas será 
tratado como um grave problema de saúde pública, objetivando adotar iniciativas 
voltadas a reduzir e prevenir os danos à saúde e à vida, bem como as situações 
de violência e acidentes associados ao uso abusivo do álcool pela população 
brasileira. A política é formada por 30 ações, divididas em quatro blocos: 
legislação, educação, restrição da propaganda e assistência para dependentes. 
Envolve ação de três ministérios: Cidades, Justiça, Saúde e do Gabinete de 
Segurança Institucional. 
 A política pretende se apoiar na lógica do conceito de redução de danos 
como referencial para as ações políticas, educativas, terapêuticas e preventivas 
relativas ao uso de álcool. Apresenta como objetivo principal: estratégias para o 
enfrentamento coletivo dos problemas relacionados ao consumo de álcool, 
contemplando a intersetor alidade e a integralidade de ações para a redução dos 
danos sociais, à saúde e à vida causada pelo consumo desta substância, bem 
como as situações de violência e criminalidade devido o consumo de bebidas 
alcoólicas (BRASIL, 2007). 
 Dentre as medidas desta política voltadas para os alcoolistas, podemos 
citar: ampliação das redes de tratamento, promoção de programas para os 
profissionais de saúde que atuam na rede de atenção integral a usuários de álcool 
do SUS; regulamentação, monitoramento e fiscalização da propagando e 
publicidade de bebidas alcoólicas; estimular e fomentar medidas que restrinjam os 
pontos de venda e consumo de bebidas alcoólicas; estimular a inclusão de ações 
de prevenção ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas nas instituições de ensino e 
nos ambientes de trabalho; fortalecer a fiscalização das medidas previstas em lei 
que visam coibir a associação entre o consumo de álcool e o ato de dirigir; proibir 
a venda de bebidas alcoólicas nas faixas de domínio nas rodovias federais. 
38 
 
 O resultado deste trabalho culminou na elaboração da Declaração de 
Brasília de Políticas Públicas sobre o Álcool, que fez as seguintes recomendações 
para as medidas a serem adotadas pelos países quando da elaboração de suas 
políticas públicas no combate ao álcool e outras drogas, dentre elas (BRASIL, 
2008): 
 Que a prevenção e redução dos danos relacionados ao consumo abusivo 
de álcool sejam consideradas uma prioridade de saúde publica; 
 Sejam desenvolvidas estratégias regionais e nacionais, a fim de reduzir os 
danos relacionados ao consumo de álcool; 
 A política deve contemplar áreas prioritárias de ação, o consumo geral da 
população, mulheres (inclusive mulheres grávidas), população indígena, 
jovem, outras populações vulneráveis, violência, lesões intencionais, 
consumo de álcool por menores de idade e transtornos relacionados ao 
uso de álcool; 
 As estratégias devem estar apoiadas em estudos científicos sobre o 
impacto do álcool e os efeitos. 
 Embora abrangente, a Política Nacional sobre o Álcool não faz referência 
como as ações serão conduzidas, não traz metas, prazos e recursos necessários 
para sua execução. Por isso, o grande desafio do governo será garantir os 
recursos necessários à implementação das ações previstas na política e definir as 
metas que serão alcançadas em longo prazo. 
 Uma medida provisória assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 
em 21 de janeiro de 2008, proibia a venda de bebidas alcoólicas nos 
estabelecimentos localizados às margens das rodovias federais, devendo pagar 
multa caso descumprisse a norma. Tal medida gerou uma série de protestos e 
liminares dos comerciantes, os quais alegavam que teriam prejuízo. Com isso, 
para que o projeto fosse aprovado na Câmara dos Deputados, foram realizadas 
alterações, dentre elas a liberação da venda de bebidas alcoólicas nos perímetros 
urbanos das rodovias federais. 
39 
 
 No entanto, em 20 de maio de 2008, essa MP foi votada no Senado, 
liberando o comércio de bebidas alcoólicas em todas as rodovias urbanas e 
rurais, justificando que o foco da lei deve ser o motorista, e a ordem anterior 
penalizava os comerciantes e não os motoristas. 
 Por isso, em 19 de junho de 2008, foi aprovada a Lei n° 11.705, que 
estabelece alcoolemia zero e impõe severas penalidades para aqueles que 
dirijam sob a influência do álcool, além de instituir restrições ao uso e propaganda 
de bebidas alcoólicas, dentre outras medidas. 
2.3 Políticas de Atenção Integral para Usuários de Álcool e Outras Drogas 
no Brasil 
 O Ministério da Saúde, em 2008, afirmou seu compromisso de enfrentar os 
problemas associados ao consumo de álcool e outras drogas, publicando assim o 
documento "A Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários 
de Álcool e outras Drogas", pelo qual "assume de modo integral e articulado o 
desafio de prevenir, tratar e reabilitar os usuários de álcool e outras drogas como 
um problema de saúde pública" (Brasil, Ministério da Saúde, 2004). 
 O órgão introduziu, dessa forma, a possibilidade do desenvolvimento de 
uma política menos centrada nocontrole e na repressão. Comprometeu-se a 
enfrentar os diferentes problemas associados ao consumo de drogas, buscando 
promover a melhoria das condições sanitárias dos usuários, dos dependentes e 
da população em geral (OLIVEIRA, 2006). 
 Segundo Oliveira (2006), no documento sobre a política nacional, foram 
definidos o marco teórico-político e as diretrizes para a área, em associação com 
os princípios e orientações do Sistema Único de Saúde - SUS, da reforma 
psiquiátrica e segundo uma lógica ampliada de redução de danos. Como 
diretrizes foi proposto a alocação do uso de álcool e outras drogas entre os 
problemas da saúde pública; a indicação do paradigma da redução de danos nas 
ações de prevenção e de tratamento; a desconstrução da concepção do senso 
comum de que todo usuário de drogas é doente e requer internação ou prisão; e a 
40 
 
mobilização da sociedade civil para práticas preventivas, terapêuticas e 
reabilitadoras. 
 O projeto propôs ainda a criação de uma rede de atenção integral do SUS, 
a construção de malhas assistenciais formadas por dispositivos especializados, 
como os Centros de Atenção Psicossocial álcool/drogas – Capsad, e não 
especializados, como unidades básicas, programas de saúde familiar e hospitais 
em geral, bem como o estabelecimento de ações intersetoriais (MACHADO e 
MIRANDA, 2007). 
 Essa política do Ministério da Saúde para a atenção integral aos usuários 
de álcool e outras drogas rompe com abordagens reducionistas e considera a 
presença das drogas nas sociedades contemporâneas como um fenômeno 
complexo, com implicações sociais, psicológicas, econômicas e políticas, não 
podendo ser objeto apenas das intervenções psiquiátricas e jurídicas nem 
tampouco de ações exclusivas da saúde pública (OLIVEIRA, 2006). 
 Assim cada vez mais é fundamental o conhecimento e ampla apresentação 
das políticas voltadas para usuários de álcool e outras drogas, mostrando a 
importância de ações de prevenção do uso, tratamento, recuperação e reinserção 
social. O tema do uso indevido de álcool e outras drogas afetam a todos sejam 
como familiares, profissionais, ou seja, cidadãos brasileiros. 
3 A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO ATENDIMENTO DE ALCOOLISTAS 
E SEUS FAMILIARES 
3.1 O Serviço Social e o Programa de Atendimento ao Alcoolista 
 O assistente social apresenta como funções no atendimento às pessoas 
dependentes de bebidas alcoólicas: Acolhimento e triagem dos pacientes; 
Atendimento familiar; Encaminhamentos para os serviços adequados para este 
caso; Acompanhamento nas internações hospitalares; e, Visitas domiciliares. 
41 
 
 O acolhimento e triagem tratam-se do primeiro contato do paciente com os 
profissionais, constituindo-se como um espaço de escuta que possibilita a 
vinculação com a instituição de saúde e permite ao paciente e seus familiares 
formularem o desejo de se tratar, repensar o estilo de vida e a relação com as 
substâncias psicoativas. O acolhimento proporciona ainda o estabelecimento do 
diagnóstico da situação; a identificação dos fatores de risco e dos fatores de 
proteção pessoal e familiar; a obtenção de informações sobre as características 
da instituição; o mapeamento da rede familiar e social; e a definição da 
elegibilidade e das condições para a concretização do projeto terapêutico 
(VARGAS, 2007). 
 Esta fase representa um grande desafio para o assistente social, que 
precisa muitas vezes motivar o paciente para realizar o tratamento, pois na 
maiorias dos casos, estes comparecem ao programa, pressionados pela família 
ou determinação judicial. 
 Segundo Mota e Queiroz (2006) o acolhimento é uma função institucional 
que nos permite escutar a subjetividade, elaborar a demanda, acolher os 
questionamentos e trabalhá-los da maneira mais clara possível. Visa proporcionar 
uma forma de organização ao universo caótico do paciente, para que este possa 
aos poucos, voltar o seu olhar para si e para os outros, e ir se conhecendo no 
caminho trilhado. De acordo com Duarte (2002) o profissional diante do caos 
aparente em que está a vida do paciente, deve fazer junto com ele uma leitura 
positiva de toda a situação, concluindo que o trabalho a ser feito é difícil, mas é 
possível. Este individua deve se sentir acolhido pelo profissional que ali 
representa uma alternativa real de mudança na sua vida, por isso o profissional 
deve assumir uma postura que transmita segurança e confiança ao paciente. 
 Esse processo também representa o primeiro passo para a reinserção 
social do paciente, pois levanta potencialidades, expectativas e interesses que 
poderão ser trabalhados e transformados em ações gradativas, a depender do 
estágio de recuperação em que se encontra (DUARTE, 2002). Assim, o 
acolhimento é realizado em quantas visitas forem necessárias para atingir os seus 
objetivos. 
42 
 
 Há casos em que não é indicado o encaminhamento imediato do usuário à 
psicoterapia, porque há necessidade de uma intervenção individual e/ou familiar 
prévia. Esta atividade é desenvolvida somente pelo Serviço Social ou em conjunto 
com a Psicologia. Uma segunda razão para o não encaminhamento à 
psicoterapia refere-se à situações em que o usuário apresenta um nível de 
comprometimento psiquiátrico que impede este tipo de intervenção. Nesta 
situação, o assistente social continua a atender o usuário e/ou familiar, em 
conjunto com o psiquiatra (VARGAS, 2007). 
 Quanto à participação familiar, considera-se fundamental no processo de 
tratamento do usuário de substâncias psicoativas, uma vez que procura-se 
estimular o familiar a manifestar o desejo de tratar as questões que dizem 
respeito à dinâmica das relações familiares e, principalmente, auxiliar a família a 
desenvolver a sua autonomia e encorajá-las nas suas competências (VARGAS, 
2007). 
 Segundo Vargas (2007), além do acompanhamento individual, esta 
participação pode acontecer em forma de grupos familiares, buscando assim a 
troca de experiências. Trata-se de um momento de escuta com a finalidade de 
atenuar as tensões por meio de apoio, orientações, esclarecimentos, expressão 
de sentimentos e discussão de estratégias de enfrentamento, objetivando 
resgatar a identidade, a competência e autonomia do familiar e/ou da família. Nos 
casos em que se encaixa a dinâmica familiar, devem ser realizadas a avaliação 
familiar e terapia familiar, em conjunto com a psicologia. 
 Na medida em que a família se envolve com o tratamento da dependência, 
ela é para o individuo uma fonte de recursos para o crescimento, uma rede de 
apoio para ele no momento da abstinência e da reinserção sócia, bem como a 
família se enriquece em seu conjunto, tendo se fortalecido e adquirido seus 
próprios recursos, propiciando que todos os seus membros sintam-se 
competentes para cuidar de si mesmos. 
 No caso de pacientes internados em hospitais, o atendimento é feito a 
familiares e pacientes durante esse período, cujo objetivo é levar a sensibilização 
43 
 
sobre sua problemática e mobilizá-los em relação aos cuidados com a saúde, 
assim como para a necessidade e possibilidade de tratamento ambulatorial. A 
solicitação de atendimento é feito pelos profissionais que o atendem mediante 
suspeita ou confirmação de abuso ou dependência de álcool ou de outras 
substâncias. Tal abordagem é feita antes da alta do paciente. 
 Outra forma de atuação do assistente social é a coordenação do trabalho 
comunitário, realizado com a participação de toda equipe, se constituindo em 
assessoria técnica a instituições e empresas públicas e privadas, visitas 
institucionais, cursos e treinamentos para equipes de saúde e chefias, e palestras 
e eventos em colaboração com outros serviços da comunidade. 
 São realizadas as visitas domiciliares para ampliar o conhecimento a cerca 
do contexto familiar e da rede de apoio do paciente, com o propósito de envolver 
outros atores sociais no processo de tratamento terapêutico. 
 Para responder

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