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1 Disciplina Epidemiologia em Saúde 2 Epidemiologia em Saúde Autores: Mateus Medeiros Leite/ Hetty Nunes Cavalcante da Cunha Lobo E-mail do autor: mateusposead@gmail.com / hettylobo@yahoo.com.br Telefone do autor: (61) 998541966 / (61) 984151324 Revisor Técnico: Marcio Rabelo Mota mailto:mateusposead@gmail.com mailto:hettylobo@yahoo.com.br 3 Mateus Medeiros Leite Graduação em Educação Física- Licenciatura pelo Centro Universitário de Brasília- UniCEUB (2017) e Graduação em Educação Física- Bacharelado pelo Centro Universitário de Brasília- UniCEUB (2017), pós-graduando em Fisiologia do Exercício Aplicada ao Treinamento e a Nutrição esportiva pelo Centro Universitário de Brasília- UniCEUB (2017- em andamento). Atualmente professor temporário na Secretaria de Educação do Distrito Federal na disciplina Educação Física na modalidade (Educação de Jovens e Adultos – EJA). Hetty Nunes Cavalcante da Cunha Lobo Mestrado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília (2012), pós- graduação em atividade física para cardiopatas pela Universidade Veiga de Almeida (2003) e graduação em Educação Física pela Faculdade Alvorada de Educação Física e Desportos (2003). Atualmente é professora do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) atuando principalmente nas seguintes áreas: Pedagogia da Educação Física para Pessoas com Necessidades Especiais (PNE), Estágio Supervisionado I e Pedagogia dos esportes aquáticos, Educação Física na Infância e ética. 4 Sumário Apresentação do Curso ................................................................................................ 5 Legenda de ícones ....................................................................................................... 6 Mapa conceitual ............................................................................................................ Unidade I Capítulo 1.............................................................................................................. 7 Capítulo 2.............................................................................................................. 15 Capítulo 3.............................................................................................................. 23 Unidade II Capítulo 4.............................................................................................................. 31 Capítulo 5.............................................................................................................. 39 Capítulo 6.............................................................................................................. 47 Unidade III Capítulo 7.............................................................................................................. 55 Capítulo 8.............................................................................................................. 63 Capítulo 9.............................................................................................................. 71 Unidade IV Capítulo 10............................................................................................................ 79 Capítulo 11............................................................................................................ 87 Capítulo 12............................................................................................................ 95 Referências .................................................................................................................. 103 5 Legenda de ícones Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades semanais, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na Organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Estudo de caso Questões do cotidiano, inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Leitura complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais, quando for o caso. Fique atento! Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. 6 Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Exercitando o conhecimento Exercício com questões objetivas ou subjetivas, cujo intuito é fixar o conteúdo apresentado no tópico. Tem caráter formativo. Sintetizando o capítulo Resumo, em um parágrafo, das informações relevantes do conteúdo do capítulo. O que aprendi até aqui Lista as habilidades e competências que o aluno deve ter adquirido ao final da unidade. 7 Introdução à disciplina Buscamos ressaltar a natureza da disciplina científica, apresentando conceitos para a sua operacionalização, destacando a estrutura lógica do raciocínio epidemiológico. Desta forma, acolhemos o princípio geral de que a boa prática de ações de saúde resulta em uma boa aplicação da ciência e sua influência no processo saúde/doença individual e coletivo. O guia mestre do aluno são as aulas na plataforma. Nas aulas postadas na plataforma de ensino a distância, o aluno encontrará a explicação dos conceitos e o caminho formativo. Para cada conteúdo, o aluno terá acesso a explicações, auto estudos e exercícios propostos. Como apoio ao estudo, o aluno dispõe desta uma apostila com textos de estudo. Objetivos da disciplina Compreender em todas as nuances os principais fundamentos básicos da epidemiologia em saúde e saúde coletiva. Analisar a aplicação dos conceitos básicos da epidemiologia e sistemas de saúde. Conhecer os fundamentos para utilização de conceitos e técnicas epidemiológicas na investigação científica, visando à vigilância e controle de agravos. Adiquirir autonomia para pesquisar, sintetizar e compreender os principais determinantes sobre os serviços de saúde e epidemiologia no Brasil. 8 Mapa conceitual Unidade I – Fundamentos básicos da epidemiologia Introdução à Unidade Nesta unidade serão introduzidos os fundamentos básicos da epidemiologia e você irá aprender a conceituação dos estudos epidemiológicos bem como a base histórica por trás da construção da epidemiologia. Além disto você irá ver quais as principais debobertas de grande impostância para determinação do estado saúde-doença e a história natural das doenças, e como são estabelecidas as relações dos estudos epidemiologicos com a saúde pública. Objetivos da Unidade Apresentar os conceitos e bases históricas da epidemiologia. Listar as principais descobertas relacionadas as histórias naturais das doenças. Conceiturar termos e relações da epidemiologia com saúde pública. 910 Capítulo 1 – Conceitos e bases históricas da epidemiologia A base da epidemiologia está centrada na pesquisa científica que diz respeito ao estudo de fenômenos que ocorrem em uma população, ou ainda, segundo o dicionário aurélio, são estudos de epidemias em seus sintomas, causas e etc, neste sentido relacionados a questões de saúde em escala populacional. Geralmente, definições sobre o termo Epidemiologia, costumam fazer referências à saúde e/ou doença e estudos que buscam respostas para causas e controle de epidemias com vistas a promoção da saúde mas que anteriormente traziam sua base nas doenças transmissíveis. Porém, autores como Pereira (1995), destaca que um dos princípios básicos do estudo epidemiológico, é a observação dos agravos à saúde associadas não a um acaso na população, mas sim que as distribuições destes agravos podem ser desiguais a partir de um acúmulo de fatores que os tornam distribuídos desigualmente na população. Assim a epidemiologia tem o sentido de busca por explicações para os fatores determinantes que são responsáveis pela distribuição das doenças permitindo que se apliquem medidas de controle e prevenção destes. Conceitos e definições O termo epidemiologia foi descrito por autores como Last (2001) com o sentido de estudos sobre os determinantes que têm relação com o processo saúde-doença, no que diz respeito ao controle e prevenção dos problemas relacionados à saúde em populações específicas. Mais além, sabe-se da origem grega do termo com o significado literal de “estudo sobre a população”. As definições do termo epidemiologia são muito amplas e com vários autores citando-as, porém são muito parecidas. É consenso que a epidemiologia enquanto estudos, tem como alvo a população humana, sendo a ciência que estudo o coletivo, geralmente envolvendo grandes populações. Devido diferenças territoriais, geográficas e regionais, diferenças em momentos do ano, sexo, idade, etnia e outros aspectos, geralmente são formados critérios 11 de inclusão e exclusão na metodologia das pesquisas epidemiológicas, sendo a aplicação prática definida de acordo com os grupos definidos. De acordo com Brasil (2005 p. 34) o conceito de epidemiologia segundo a Associação Internacional de Epidemiologia (IEA, 1973) define-se na: “Ciência que estuda o processo saúde-doença na sociedade, analisando a distribuição e os fatores determinantes das doenças, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas especificas de prevenção, controle ou erradicação de doenças e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações de saúde” (Brasil, 2005, p. 34). Busato (2016) traz três elementos principais que estão diretamente associados aos conceitos e definições da epidemiologia: A Clínica, Medicina Social e a Estatística. A Clínica tem base na descrição, diagnóstico e tratamento das doenças, eventos e agravos que acometem determinadas populações. A Medicina Social tem relação ao conhecimento sobre os determinantes do processo saúde-doença expondo as diferenças sociais. A Estatística tem como papel, trazer a confiabilidade nas pesquisas, possibilitando a relação entre causa-efeito. Sendo assim, torna-se perceptível que a epidemiologia tem a preocupação com a saúde pública, e estes três elementos básicos irão permitir sua evolução. Podemos ainda destacar que a busca por causas e efeitos dentro da epidemiologia, torna estes como os objetivos principais para a resolução de problemas relacionados a saúde, não podendo esquecer dos elementos de influência direta sobre o processo-saúde doença que são os fatores ambientais e genéticos. Assim a epidemiologia é cada vez mais utilizada para buscar respostas concretas sobre a influência e a possibilidade de intervenção preventiva através da promoção da saúde. Resumidamente, podemos adotar o termo epidemiologia como “a ciência que estuda a sociedade quanto ao processo saúde-doença” e também podemos associar aos pesquisadores em epidemiologia a missão de promover estudos que se preocupam com medidas para prevenção, controle e erradicação de doenças e/ou fatores que as influenciam, com vistas a melhoria 12 da na saúde e promoção da saúde. Na Figura 1, adaptamos a ideia de Pereira (2000) formando um esquema com os 10 usos da epidemiologia. Figura 1. Dez usos da epidemiologia Fonte: Os autores, adaptado de Pereira, 2000. Formação Histórica da Epidemiologia A origem do estudo epidemiológico pode ser descrita há mais de 2000 anos através de observações de Hipócrates acerca da influência de fatores ambientais sobre o aparecimento de doenças. Porém a partir do século XIX estudos em seres humanos especificamente em alguns grupos, passaram a monitorar em larga escala o surgimento e distribuição de doenças. Neste período surge a epidemiologia e descobertas incríveis sobre saúde e doenças (BEAGLEHOLE e BONITA ,2004). Outros casos de descobertas epidemiológicas de grande importância para humanidade podem ser demonstrados através dos estudos de John Snow (1848-49 e 1855-54), considerado o pai da epidemiologia, relacionando o consumo de água de uma determinada companhia de abastecimento no centro de Londres em 1954 com maior risco de contrair cólera. Além disto, JOHANSEN et al.; (2003) ressalta que Snow produziu uma série de projetos de pesquisa com exames físicos, químicos, biológicos, sociológicos e políticos. A prática de estudos epidemiológicos tornou-se comum no final do século XIX e início do século XX, com vistas a observação das taxas de desenvolvimento de doenças em certos grupos populacionais. Inicialmente as 13 doenças transmissíveis eram o alvo das investigações, posteriormente foram se estabelecendo conexões entre as condições ou agentes ambientais e agregando doenças mais específicas. No século XX, mais precisamente na segunda metade deste e em países industrializados, doenças não transmissíveis tiveram atenção, sobretudo doenças cardíacas e cânceres. Alguns fatos históricos são importantes para a formação e concretização dos estudos epidemiológicos, dentre eles, em 1950 Richard Doll e Andrew Hill associaram o hábito de fumar com a ocorrência de câncer de pulmão, estudo estes realizado com médicos britânicos. Este trabalho foi um dos “ponta-pés” iniciais para mais estudos acerca do poder carcinogênico do tabaco relacionados ao hábito de fumar e os possíveis fatores de desenvolvimento do câncer de pulmão. Estas hipóteses foram confirmadas e até os dias atuais fazem parte da saúde coletiva, mostrando os riscos e processos oriundos do fumo. Posteriormente (DOLL e BOREHAM,2004) demonstraram que indivíduos não fumantes vivem cerca de 10 anos a mais o que indivíduos fumantes, sendo assim um estudo epidemiologia clássico de associação de fatores desencadeadores de doenças e mortalidade associada. [Leitura Complementar] Você pode assimilar melhor ainda o conteúdo deste capítulo fazendo a leitura do Capítulo 1 do Livro “Epidemiologia e processo saúde doença” disponível na biblioteca virtual. BUSATO, IS. Epidemiologia e processo saúde-doença. Editora Intersaberes, 2016. [Fim, Leitura Complementar] [Exercitando o conhecimento] 1- De acordo com a leitura complementar sugerida, existem três elementos fundamentais da epidemiologia. Escolha a opção correta que complete a frase: “A articulação entre a clínica, ______________ e a ______________ resulta na evolução da epidemiologia, ressaltando a sua vocação de ________________ no diagnóstico e na ___________ de problemas de saúde”: a) ( ) Medicina Social; Estatística; Ciência aplicada; Solução. 14 b) ( ) Estatística; Distribuição; Medicina aplicada; Resolução. c) ( ) Prática; Estatística; Solução; Ciência aplicada. d) ( ) Medicina social; Estatística; Estudos epidemiológicos; Identificação.2- (BUSATO, 2016) A epidemiologia é o estudo da distribuição e dos determinantes de doenças, agravos ou eventos relacionados à saúde em populações específicas. Utiliza a observação e o registro de pessoas e de populações para realizar a análise da situação de saúde ou doença (agravo ou evento). Com base nisso, assinale a alternativa correta: a) ( ) As variáveis socioeconômicas, isoladas ou combinadas em indicadores, são usadas para determinar a posição socioeconômica de pessoas ou grupos populacionais. b) ( ) O gênero e o sexo são variáveis desinteressantes na epidemiologia. c) ( ) A distribuição das doenças no tempo nunca fornece informações para compreensão, previsão, busca etiológica, prevençãode doenças e avaliação do impacto de intervenções em saúde. d) ( ) A idade é um dos principais determinantes da migração. [Fim Exercitando o conhecimento] Exercício 1 - Aletrnativa correta: (A)- Segundo a leitura complementar sugerida, a autora indica que existem três elementos fundamentais que definem o conceito da epidemiologia. A Clínica tem base na descrição, diagnóstico e tratamento das doenças, eventos e agravos que acometem determinadas populações. A Medicina Social tem relação ao conhecimento sobre os determinantes do processo saúde-doença expondo as diferenças sociais. A Estatística tem como papel, trazer a confiabilidade nas pesquisas, possibilitando a relação entre causa-efeito. Exercício 2 – Alternativa correta: (A)- As variáveis socioeconômicas, isoladas ou combinadas em indicadores, são usadas para determinar a posição socioeconômica de pessoas ou grupos populacionais. [Sintetizando o capítulo] 15 Neste capítulo vimos a base do estudo epidemiológico, os conceitos aplicados ao termo e o processo histórico básico. Vimos que historicamente a preocupação com o processo saúde-doença possibilitou o desenvolvimento da epidemiologia. A transição demográfica, mudanças ambientais e descoberta de cura para diversas doenças, fazem parte do desafio e das conquistas obtidas através dos estudos ao longo da história, além disto, descobertas tecnológicas aplicadas as pesquisas, tornam cada vez mais importante e confiáveis os estudos que visam a saúde coletiva. [Fim Sintetizando o capítulo] Capítulo 2 – História natural das doenças A descobetas de doenças com um olhar científico, faz parte dos principíos básicos da epidemiologia. Você pode estar se perguntando: “mas como assim história natural das doenças?”. A história natural das doenças diz respeito ao período que compreende entre os primeiros sinais e a evidência da doença, também podemos descrever como os estágios. Na Tabela 1 estão demonstrados os itens que compõe a história natural das doenças de acordo com Bonita, Beaglehole e Kjellström (2006) em obra publicada pela Organização Mundial de Saúde. Tabela 1. História natural Estágios Definição 1 Instalação do processo patológico 2 Estágio pré-sintomático desde o início de mudanças patológicas até o aparecimento 16 dos primeiros sinais e sintomas 3 Estágio em que a doença é clinicamente óbvia e pode sofrer remissão e recaídas, regredir espontaneamente ou progredir para a morte Fonte: Os autores, adaptado de Bonita, Beaglehole e Kjellström, 2006. [Provocação] Para entendermos o processo saúde-doença e a história natural das deonças, devemos chamar atenção para os conceitos de saúde e doença. Muitos descrevem saúde como ausência de doenças, ou ainda como um conjunto de bem estar físico e psicossocial. E doença em uma visão óbvia, como ausência dos fatores que configuram saúde... neste momento queremos que faça uma reflexão a respeito dos conceitos de saúde e doença que tens assimilido ao longo de sua vida, seja por conhecimento científico, popular, religioso, filosófico, etc. Após listar as explicações para os termos, continue a leitura deste capítulo. [Fim Provocação] [Leitura complementar] Para te auxiliar a relembrar conceitos relacionados a saúde, recomendamos a leitura do capítulo 2 do livro “Epidemiologia e processo saúde doença” disponível na biblioteca virtual. BUSATO, IS. Epidemiologia e processo saúde- doença. Editora intersaberes, 2016. [Fim Leitura Complementar] Modelos explicativos 17 Para uma melhor compreensão da história natural das doenças, é necessário admitir que a doença sempre fez parte da vida humana. Mais uma vez você deve estra se questionando..., “mas o tópico história não era no capítulo anterior? ” Sim!! Porém durante a história, são vistos modelos que buscam explicar o processo saúde-doença dentro da história natural das doenças. Modelo Mágico-religioso Este modelo explicativo considerava o processo de adoecer como um castigo ou resultado dos pecados/transgressões por partes individual ou coletivas. De procedência e predominância na antiguidade, este modelo utilizava a explicação de necessidade de rituais em oferta as divindades para que houvesse a cura, rituais estes realizados pelos “médicos” ou curandeiros, que eram os sacerdotes, feiticeiros, xamãs, pajés e benzedeiras. Em algumas regiões ou culturas, esta visão sobre saúde-doença ainda é utilizada (BARROS, 2002; SCLIAR, 2002). Modelo holístico Neste modelo o processo saúde-doença era proveniente da ideia equilíbrio/desequilíbrio entre os elementos que compõe o organismo humano. Oriundo de medicina chinesa e hindu, relaciona a causa das doenças com o ambiente físico, astros, clima e etc. ou seja, acreditavam que as modificações ocorridas no corpo eram causadas por alterações no ambiente, neste sentido o homem era capaz de influenciar estas mudanças (GONDIM, 2009). Modelo empírico-racional Este modelo baseava-se nas ideias de Hipócrates demonstrando a relação do ambiente com o processo saúde-doença. Em suas observações, comparava as funções do organismo com o meio natural, sobretudo os elementos e humores, terra, água, fogo e ar, trazia também a premissa de equilíbrio e desequilíbrio, onde o desequilíbrio dos quatro elementos e humores correspondiam com o aparecimento de doenças, como a exemplo a origem da palavra malária “maus ares”, relacionada a emanação do ar em locais insalubres (FONSECA, 2007). 18 Modelo biomédico Um modelo mais técnico/científico, com origens baseadas em estudos com auxílio do avanço tecnológico, descobrimento de microrganismos, desenvolvimento de antibióticos, divisão por partes do sistema, mais comum divisão entre corpo e mente. Destaca-se que este método é o utilizado na formação do profissional médico, ressaltando que as explicações dos fenômenos no processo saúde-doença, são baseados em causalidades, na biologia e com uma visão mecanicista na qual o fenômeno de adoecer tem explicações direcionadas a serem universais. Isto trouxe a necessidade da adaptação para um modelo que explicasse, ou melhor se adequassem a definição de saúde, contemplando o bem estra físico, psicossocial e mental (MARCO, 2006; ARAÚJO et al., 2014; LUZ, 1988). Modelo sistêmico Esta ideia do conceito de saúde como um conjunto, trouxe a necessidade da criação de um modelo que contemplasse um Sistema. Com isso, o modelo sistêmico faz referência ao nome. Os diversos elementos que agem em um sistema assim como os elementos presentes no ecossistema, contribuem de alguma forma no processo saúde-doença, visão diferente daquela que será apresentada pelo modelo biomédico, forma fragmentada e unidimensional (GONDIM, 2009). Processo saúde-doença: História Natural das Doenças O processo saúde-doença apresentado por modelos explicativos buscava a definição para estudos que relacionavam os agentes etiológicos com os demais componentes do ecossistema, estes constituídos por um processo epidêmico que por uma série de eventos, ocasionariam em uma enfermidade. Além dos modelos já citados, autores como Rouquayrol e AlmeidaFilho (2003), Franco e Passos (2011) e Fonseca e Corbo (2007) citavam Leavell e Clark (1965) como os responsáveis pela base conceitual do movimento denominado medicina preventiva, os quais propunham a tríade ecológica, 19 modelo este que ressaltava a causalidade das doenças a partir da relação entre três fatores: agente, hospedeiro e meio-ambiente. Neste sentido as doenças surgiam, ou descobriam-se as doenças, fatores e causalidades a partir das interrrelações destes três fatores, e o processo de história natural das doenças está sujeito a dois estágios, Pré-Patogênese e Patogênese, que vão desde os estímulos patológico (pré-patogênese), resposta do organismo ao estímulo e desde alterações no organismo que desencadeariam como defeitos, invalidez, recuperação ou morte (patogênese). Figura 2. Divisão dos fatores no processo saúde-doença. Fonte: Os autores, adaptado de Fonseca e Corbo, 2007. Na figura 2 foram apresentadas as divisões propostas por nas obras de Leavell e Clark (1965), os três tipos dos fatores de causalidade no processo saúde-doença: Relacionados aos agentes causadores – microrganismos ou fatos causadores (relacionados a nutrição, fatores físicos e químicos, condições biológicas, etc); Relacionados ao hospedeiro – características do homem (estilo de vida, idade, sexo, raça, etc); Relacionados ao meio ambiente – fatores externos (fatores socioeconômicos, clima, etc). 20 [Leitura Complementar] Você pode assimilar melhor ainda o conteúdo deste capítulo fazendo a leitura da Unidade 1 do Livro “Epidemiologia” disponível na biblioteca virtual. (TIETZMANN, D. Epidemiologia. Editora Pearson, 2014). [Fim, Leitura Complementar] [Exercitando o conhecimento] Acerca dos modelos explicativos no processo saúde-doença, é correto afirmar: a- ( ) O modelo de determionação social da doença é unicausal, pois considera apenas a classe social. b- ( ) A história natural das doenças considera fatores externos que atuam e contribuem para o adoecimento (agente, hospedeiro e meio ambiente). c- ( ) No modelo biomédico, o conceito de saúde ganha estruturação explicativa proporcionada pelo esquema de tríade ecológica (agente, hospedeiro e meio ambiente). d- ( ) A classe social é uma categoria representativa de uma condição a ser utilizada na exploração epidemiológica no modelo da história natural das doenças. [Fim Exercitando o conhecimento] Aletrnativa correta: (B) - No processo saúde-doença os modelos explicativos tinham como objetivo explicitar a evolução e o desfecho (início e fim/ história natural) das doenças nos indivíduos. Diferentes modelos traziam assim os conceitos de saúde e de doença, e tinham suas correntes de pensamento acerca deste processo. Então foi percepetível com o tempo que a história natural das doenças se dava pela interrelação entre agente, hospedeiro e meio ambiente. [Sintetizando o capítulo] Neste capítulo, fazendo ligação com o capítulo anterior, vimos que no processo saúde-doença, durante a história surgiram modelos que buscavam explicar a 21 história natural das doenças (Mágico-religioso, holístico, empírico- racional (hipocrático), sistêmico, biomédico e o modelo multicausal: tríade ecológica. Com isso podemos inferir que a epidemiologia preocupasse com a evolução e o desfecho (início e fim/ história natural) das doenças nos indivíduos em uma escala populacional. Estas descobertas serão de grande importância para descrever o estado de saúde de grupos populacionais sendo essencial para as autoridades em saúde com objetivos de para aplicação dos princípios e métodos epidemiológicos para prevenção, controle e tratamento, permitindo melhor utilização dos recursos. Estas questões estão relacionadas diretamente a saúde pública, conteúdo do próximo capítulo [Fim Sintetizando o capítulo] Capítulo 3 – Epidemiologia e saúde pública A saúde pública na maioria dos países é baseada em pesquisas epidemiológicas. Os governos, reinos, administrações dos países, senhores de escravos, donos de industrias, ao longo da história, preocupados com as doenças que poderiam se propagar, afetando assim economia e consequentemente a gestão, começaram a buscar estratégias para controle e prevenção das epidemias. Nos capítulos anteriores foi demonstrado o processo histórico do surgimento da epidemiologia e os modelos explicativos para o proesso saúde-doença. Neste sentido o processo saúde-doença era e ainda é um aspecto de grande estudo através de pesquisas epidemiológicas que servem de controle para os gestores, preocupados com a saúde pública e quais benefícios e consequências para a gestão em saúde. Um dos acontecimentos com grande impacto para a saúde pública foi ocasionado pela Revolução Industrial, a necessidade de cuidados com a saúde fazia relação com maior rendimento no trabalho e maior produção para riquezas. Sociologia da saúde Pensando a saúde como fator determinante para o desempenho de várias tarefas e papéis na sociedade, as preocupações com as doenças 22 começam a surgir. Historicamente, desde a antiguidade até os dias atuais há a monitorização do processo saúde-doença está presente de forma coletiva, com inúmeros acontecimentos marcantes que tornaram indispensáveis ações para com a saúde pública. [Fique Atento!] Zanchi e Zugno, (2012) destacam diversos acontecimentos históricos, divididos por Antiguidade, Século XX e Contemporâneos citando autores como Mazzáfero (1999). Iremos destacar alguns destes no Quadro 1, porém na leitura complementar deste capítulo você pode conferir os muitos outros fatos históricos na sociedade que foram importantes para a construção da ideia de saúde pública. A atenção para estes os acontecimentos de impacto para saúde pública trará um melhor entendimento de como se estabeleceram as primeiras pesquisas epidemiológicas. Lembre-se dos conteúdos abordados nos capítulos anteriores. [Fim Fique Atento!] Quadro 1. Eventos e acontecimentos de impacto a saúde pública Acontecimentos/ Medidas/ Eventos Antiguidade Três mil anos a.C. os Cretenses já teriam aquedutos e serviços de eliminação de excretas na cidade; Em 1490, são proibidas reuniões públicas e privadas durante epidemias em Genebra; Em 1820 é efetuada a primeira vacinação nos EUA; Em 1912 é discutida a profilaxia da febre amarela, cólera e pesta, na Convenção Internacional de Paris; entre outros Século XX Migrações com urbanização inyensa- Revolução Industrial; 1905 Robert Koch, estudou a tuberculose- Promeio Nobel; Entre 1800 e 1815 desenvolvimento de hospitais especializados na Europa; Avanços na medicina: Raio-X, Insulina, Ultrassom, 23 Transplantes e células-troco; entre outros. Contemporâneas Relatório Lalonde (Canadá); Conferência de Alma – Ata (Casaquistão); Carta de Ottawa (Canadá); Relatório sobre desenvolvimento Mundial. Fonte: Os autores, adaptado de Zanchi e Zugno, 2012. Zanchi e Zugno, (2012), destacam ainda diversas instituições com funções fundamentais para elaboração de normas e políticas reguladoras da saúde em escala Mundial. Dentre elas podemos destacar a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da saúde (OMS), instituindo a saúde como um dos direitos inalienáveis do homem. Sociologicamente, a saúde pública trata de ações coordenadas pelo Estado, ONGs e programas com objetivo de melhoras na saúde de maneira coletiva. Como visto no capítulo 1 desta unidade, a epidemiologia é uma estratégia para, ou uma ferramenta para melhoria da saúde pública. Almeida Filho e Rouquayrol (2006), destacam que acontecimentos o século XIX com a prevalência de doenças contagiosas, fez com que a medicina centralizasse suas ações na cura dos indivíduos, isso graças a avanços nos estudos fisiológicos, patológicos e de bactérias. Porém a medicinasocial passa a desenvolver suas ações para um lado técnico, originando a saúde pública. Neste período há uma potencialização de uma reforma sanitária, e surgimento de alguns movimentos para fortalecer a medicina social (TIETZMANN, 2014). Relembrando dos modelos explicativos, a tríade ecológica deixou o legado da influência do ambiente, mais especificamente o contexto social no processo saúde-doença, o que em 1981 foi introduzido na “Primeira Conferência Nacional de Saúde” realizada no Canadá, como sendo um forte determinante na saúde, com influências nas ações individuais e determinando o estilo de vida de acordo com a classe social. Neste momento uma visão do 24 status socioeconômico exercia influência para ampliação da promoção da saúde, centrada então nos fatores sociais e ambientais, com vistas a prevenção e enfrentamento destas circunstâncias (BRASIL, 2002). Na Figura 3 estão presentes três esquemas segundo Brasil (2002) relativos à participação e a responsabilidade social para formulação de políticas que favoreçam a saúde e melhor qualidade de vida. Figura 3. Abordagem intersetorial, a participação e a responsabilidade da sociedade. Fonte: Brasil, 2002. O contexto da saúde pública, através de uma ideia de saúde coletiva, requer por parte das autoridades governamentais ações, ou políticas públicas de saúde, estas que vão desde a educação, sanitrismo, saneamento básico, instalação de hospitais, campanhas de prevenção, ações coletivas de saúde, etc. para isso, é necessário que haja a identificação e que se ultrapasse os obstáculos para adoção de políticas públicas eficazes nos setores da sociedade que estão diretamente ligados a saúde (BRASIL, 2002). Com isso, é possível perceber que a saúde tem atenção especial pelo fato de sofrer influências de outros setores na sociedade assim como exercer 25 influência sobre estes setores, a saber, economia, educação, trabalho, segurança, entre outros (ZANCHI; ZUGNO, 2012). A ideia de coletividade, perpassa assim nos aspectos de saúde desde o indivíduo saudável, família, casas, escolas, comunidades saudáveis. Na tríade ecológica, este aspecto centra-se na promoção da saúde aos indivíduos por meio de um contexto saudável, evitando assim a propagação dos agentes causadores, criando hábitos e um estilo de vida saudável aos indivíduos. No contexto, resumimos o conceito de saúde pública centrada nos seus objetivos, de promoção da saúde mental, física e social, com vistas ao bem-estar humano na sua coletividade, objetos estes de estudo da epidemiologia. Programas e Ações A sociologia da saúde, traz um aspecto de muita relevância para a saúde pública, que são os programas e ações desenvolvidos por entidades com medidas de promoção a saúde, seja por prevenção, controle e/ou tratamento. Neste sentido, no Brasil são adotadas algumas destas medidas pelo Ministério da Saúde. A abordagem multidisciplinar para o tratamento destas temáticas torna-se indispensável. Na Tabela 2 serão listados alguns destes programas do Governo. Tabela 2. Programas e ações Governamentais em Saúde. Programas/ Ações Definição Certificação de Entidades de Assistência Social (CEBAS) O CEBAS é o certificado concedido pelo Governo Federal para reconhecer entidades de assistência social que prestam serviços nas áreas de educação, assistência social ou saúde. Cooperação Tripartite Brasil- Cuba- Haiti Iniciativa busca apoiar a reconstrução e o fortalecimento do sistema de saúde e vigilância epidemiológica no Haiti, após o terremoto que devastou o país, em janeiro de 2010. Estratégia Saúde da Família (ESF) O projeto propõe a reorganização da atenção básica no País, de acordo com os preceitos do SUS, a partir da expansão, qualificação e consolidação do atendimento prestado. 26 Força Nacional do SUS A FN-SUS é um programa de cooperação atua na prevenção, assistência e repressão a situações epidemiológicas ou desastres ou de desassistência de estados ou municípios. HumanizaSUS A Política Nacional de Humanização (PNH) existe desde 2003 para efetivar os princípios do SUS nas práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil. Melhor em Casa – Serviço de Atenção Domiciliar Serviço presta atenção à saúde na moradia do paciente, oferecendo prevenção e tratamento de doenças e reabilitação, a fim de garantir a continuidade do cuidado pelo SUS. PMAQ-AB O PMAQ-AB incentiva a melhoria dos serviços de saúde oferecidos aos cidadãos, a partir de estratégias de qualificação e avaliação do trabalho das equipes de saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) A PNPIC inclui práticas integrativas e complementares para prevenção de agravos e recuperação da saúde de pacientes do SUS. Programa Academia da Saúde O programa Academia da Saúde é uma estratégia de promoção do cuidado com a saúde, a partir da implantação de espaços públicos com infraestrutura e profissionais qualificados. Programa de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde O PQA-VS define compromissos e responsabilidades para as três esferas de governo, para implementação de ações que garantam a melhoria da vigilância em saúde Programa Farmácia Popular do Brasil O Programa foi criado com o objetivo de oferecer o acesso da população aos medicamentos considerados essenciais, como parte da Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Programa Mais Médicos O projeto propõe a melhoria do atendimento aos usuários do SUS, levando médicos para regiões onde há escassez ou ausência desses profissionais. Programa Nacional de Controle do Tabagismo O Programa tem como objetivo reduzir a prevalência de fumantes e a consequente morbimortalidade relacionada ao consumo de derivados do tabaco. Programa da Doação Voluntária de Sangue A doação de sangue é um gesto de solidariedade, um ato voluntário e altruísta. O desafio é atrair novos doadores e fidelizar os voluntários regulares. 27 Programa Nacional de Imunizações (PNI) O PNI distribui 300 milhões de doses anuais distribuídas em vacinas, soros e imunoglobulinas, fatos que contribuíram, por exemplo, com a erradicação de doenças no país. Programa Saúde na Escola O PSE contribui para a formação integral de estudantes, a partir de ações de promoção da saúde e prevenção de doenças de crianças, adolescentes e jovens da rede pública de ensino. SAMU 192 – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência Serviço disponibiliza atendimento pré-hospitalar a vítimas em situação de urgência ou emergência, que possam levar a sofrimento, a sequelas ou mesmo à morte. UPA 24h – Unidade de Pronto Atendimento Serviço concentra atendimentos de saúde de complexidade intermediária, compondo uma rede organizada em conjunto com a Atenção Básica e a Atenção Hospitalar. Fonte: Os autores, adaptado de Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas> Acesso em 12 fev 2018. [Saiba Mais] Para melhor compreensão deste assunto e para ficar por dentro das políticas públicas para saúde coletiva/pública no Brasil, você pode estar assistindo a entrevista coletiva no Ministério da Saúde “Ministério divulga ações prioritárias para a saúde pública” disponível gratuitamente e abertamente no YouTube através do link: <https://www.youtube.com/watch?v=CxnXoQ6UnHU> Acesso em 31 jan. 2018. Confira também os principais programas e ações do Ministério da Saúde para políticas públicas em saúde, disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas> Acesso em 31 jan. 2018. [Fim Saiba Mais] [Leitura Complementar] http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas https://www.youtube.com/watch?v=CxnXoQ6UnHU http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas 28 Faça a leitura do capítulo 1 do livro “Sociologia da saúde” Especificamente as páginas18 – 41 disponível na biblioteca virtual, para compreensão dos acontecimentos e fatos históricos na sociedade que foram importantes para a construção da ideia de saúde pública. (ZANCHI, M. T.; ZUGNO, P. L. Sociologia da saúde. 3. ed. rev., e ampl. – Caxias do Sul, RS: Educs, 2012). [Fim, Leitura Complementar] [Exercitando o conhecimento] São programas e ações do Governo através do Ministério da Saúde para políticas públicas no Brasil : a) ( ) PIS/PASEP; SUS; Prgrama Saúde na Escola. b) ( ) Plano Diretor de Tecnologias da Informação e Comunicações – PDTIC; Programa de Volta pra Casa. c) ( ) Estratégia Saúde da Família (ESF); Programa Academia da Saúde; Programa Nacional de Imunizações (PNI). d) ( ) SAMU; PROGER. [Fim Exercitando o conhecimento] Aletrnativa correta: (C) - Estratégia Saúde da Família (ESF); Programa Academia da Saúde; Programa Nacional de Imunizações (PNI). [Sintetizando o capítulo] Neste capítulo vimos a relação da epidemiologia com a saúde pública, desde alguns processos e acontecimentos históricos até a citação de alguns programas e ações de políticas públicas no tratamento com a saúde coletiva. Neste sentido podemos perceber também que a saúde coletiva no âmbito de saúde pública está pautada nas bases epidemiológicas com um aspecto científico que é utilizado na prática para propostas inovadoras e consolidação das ações de saúde. Ressaltamos ainda a importância da interdisciplinaridade 29 de maneira dinâmica para enfrentamento de crises no que tange ao processo saúde-doença nas esferas social, econômica, política, etc. [Fim Sintetizando o capítulo] [O que aprendi até aqui] Nesta unidade foram apresentados os conceitos de epidemiologia, de saúde, doença e saúde coletiva e como estes se inter-relacionam. Descobrimos também que a epidemiologia tem como alvo estudos sobre a distribuição das doenças entre a população e suas causalidades. Percebemos também a importância de fatos históricos para a construção do pensamento da promoção da saúde. Agora que você estudou e fez os exercícios de fixação da Unidade I dessa disciplina, verifique se você é capaz de: Descrever os principais conceitos, definições e a base histórica da epidemiologia; Debater sobre a formação epidemiológica relacionada a saúde pública e os programas e ações para saúde coletiva; Desenvolver ideias acerca do processo saúde-doença a partir da história natural das doenças. [Fim O que aprendi até aqui] Unidade II – Aplicação dos conceitos básicos da epidemiologia Introdução à Unidade Na unidade anterior você viu os conceitos básicos para o entendimento e início dos estudos em epidemiologia relacionada a saúde. Nesta unidade serão apresentadas as principais aplicações destes conceitos, como a utilização de dados demográficos e a transição destes ao longo dos anos 30 relacionados a saúde, os meios de acompanhamento e vigilância para saúde pública e associar estes com as causalidades no processo saúde-doença. Objetivos da Unidade Apresentar a transição demográfica e agravo de doenças. Listar os principais sistemas de informação e vigilância em saúde. Identificar as principais causalidades das doenças vistas pelos estudos epidemiológicos. Capítulo 1 – Transição demográfica e agravo de doenças Os dados demográficos são utilizados para quantificação dos grupos populacionais. No início desta apostila vimos que a epidemiologia tem como objetivo estudos de saúde em escala populacional, assim podemos fazer a associação da utilização de dados demográficos para aplicação na epidemiologia. Dentre estes, podemos destacar número de habitantes assim como taxa de crescimento populacional - nascimentos e óbitos, distribuição por sexo, idade, nível socioeconômico, escolaridade, condição de domicílio, saneamento, distribuição geográfica e padrões de migração, etc. Para a caracterização populacional, os indicadores demográficos e também socioeconômicos são de grande importância para monitoramento das condições gerais de vida, estas podem vincular-se aos fatores condicionantes de doenças ou agravos destas. Além disto os dados referentes ao clima e aspectos ecológicos podem também ser necessários para a compreensão dos fenômenos estudados, exercendo também mudanças nos padrões econômicos e receita (BRASIL, 2009). Transição demográfica e a sua relação com saúde 31 A transição demográfica mostra íntima relação com as questões de saúde de uma determinada população. De acordo com Tietzmann (2014) esta transição pode ser identificada a partir do momento quando há a uma transição e mudanças nas taxas de mortalidade e natalidade na população, sobretudo quando estas apresentam valores reduzidos. Esta transição passa por 4 estágios (conferir Quadro 2): Quadro 2. Estágios para transição demográfica Estágios Definição dos Estágios Pré- Industrial Equilíbrio populacional; Alta taxa de natalidade e mortalidade- crescimento lento. Intermediário ou Insustrialização Diminuição na taxa de mortalidade – e – Manutenção da taxa de natalidade; Explosão populacional. Consolidação da Sociedade Industrial Diminuição da taxa de fecundidade – e – taxa de mortalidade constante; Rápido envelheciemnto da população. Modernidade ou Pós- Transição Nova fase de equilíbrio populacional – baixa taxa de natalidade e mortalidade; Aumento da expectativa e vida – predominância população feminina. Fonte: Os autores, adaptado de Tietzmann, 2014, p. 39 e 40. Os dados demográficos podem servir de indicadores e dados básicos para a saúde, a exemplo disto, há os indicadores e Dados Básicos para a Saúde – (IDB) que fazem parte de uma base do Ministério da Saúde que utiliza estes dados juntamente com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e Ministério da Previdência Social. Os dados do Censo demográfico do IBGE são exemplos de dados utilizados pelo IDB. 32 Neste sentido, dados demográficos relacionados como por exemplo a idade, ou a taxa de envelhecimento da população evidenciam mudanças demográficas que servem de possíveis explicações para fatores relacionados a saúde pública. O aumento na proporção de pessoas idosas, demonstram uma queda na taxa de mortalidade e aumento da expectativa de vida. Possíveis explicações para tal fato podem estar relacionadas a melhoras na condição de nutrição e saneamento, além de novas tecnologias aplicadas ao tratamento, controle e prevenção de doenças. Sobretudo, estas evidências constituem um acentuado fenômeno mundial, dentro destes dados demográficos e epidemiológicos, a população feminina se destaca com maior longevidade, com média de 7 anos a mais que a população masculina (BATISTA et al., 2008; VERAS, 2009). A organização mundial da Saúde (WHO, 2008) e autores como Kalache (2008) evidenciam que cerca de dois terços da população idosa vivem em países desenvolvidos, podendo haver um aumento da população idosa em até 75%. Esta expectativa reflete também que a população com 80 anos ou mais apresenta uma taxa de crescimento maior destes países. No Brasil este fenômeno também está presente como nos outros países, sendo observada uma transição demográfica com relação direta em uma transição epidemiológica - Batista et al., (2008). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011) através do Censo demográfico de 2010, houve um aumento da população brasileira com idade acima dos 65 anos com avanços de 5,9% em 2000 e 7,4% em 2010, observando assim uma transição no perfil demográfico Brasileiro, ultrapassando 20 milhões de pessoas na faixa etária cima de 65 anos. 33 Figura 4. - Estrutura etária da população brasileira referente ao censo realizado no ano de 2010. Fonte: IBGE, disponível em:https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/ Com estas modificações no perfil populacional e com projeções ainda maiores para o aumento da população idosa para mais de 26,2 milhões de indivíduos para 2020, torna-se necessário a promoção da saúde em meio aos problemas e dificuldades sanitárias e predominância de doenças crônicas não transmissíveis, violência e surtos de novas endemias (VERAS, 2009; CAVALCANTI et al., 2011). Transição epidemiológica Em escala mundial, essa transição demográfica juntamente com transformações socioeconômicas foram fatores de grande impacto para as mudanças nas taxas de morbimortalidade no mundo. É possível perceber uma complexidade no que diz respeito a transição epidemiológica. Ao mesmo momento que são relatadas melhorias no saneamento básico e tecnologias aplicadas as ciências da saúde e maior acesso populacional aos serviços de https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/ 34 saúde, são também visíveis os riscos físicos (poluição, nutrição, etc.) e socioambientais (desemprego, violência), todos estes ligados a transição demográfica, que requerem ampliação dos sistemas de saúde, serviços básicos de saúde e políticas públicas com um sistema de vigilância sem deixar de lado a qualidade na atenção à saúde da população (TIETZMANN, 2014). Podemos destacar aqui o conceito de duas palavras muito utilizadas no que diz respeito a transição epidemiológica: Incidência, Prevalência. A Incidência refere-se a expressão de novos casos de determinada doença por um período definido, que tenha o risco de desenvolver tal doença. A Prevalência diz respeito ao número de casos, ou a proporção de pessoas, eventos ou problemas em uma determinada população a partir de um tempo. Nesta transição epidemiológica, pode-se observar que a utilização de grandes bases de dados, o avanço das tecnologias e internet, cobertura e vigilância em saúde ampliados foram fatores determinantes para controle das doenças. Relacionados as doenças infecciosas, Waldman e Sato (2016) relatam a trajetória das doenças infecciosas no Brasil nos últimos 50 anos, destacando a importância da produção de conhecimento científico para a garantia de intervenções mais eficientes para o uso da epidemiologia. Existem assim dois fatores principais relacionados a essa mudança epidemiológica como cita Medronho et al., (2002) citados por Tietzmann, (2014, p. 41): 1. Modificações associadas à composição etáriada população que aconteceram no decorrer da transição demográfica; 2. Mudanças de longa duração no perfil de morbimortalidade, com substituição das doenças infecciosas e parasitárias e carências nutricionais por doenças crônicas não transmissíveis relacionadas a causas externas. Na tabela 3 são demonstrados os três estágios que abrangem a transição epidemiológica segundo Tietzmann, (2014, p. 41,42). Tabela 3. Estágios abrangentes para transição epidemiológica. 35 Estágios Definições Era da pestilência e da fome Durou até a Idade Média; Taxa de mortalidade alta e flutuante; Predomínio de desnutrição, problemas de saúde reprodutiva, doenças infecciosas e parasitárias; Expectativa de vida média de 30 anos. Era do declínio das pandemias Da Renascença à Revolução Industrial; Diminuição das pandemias e epidemias; Melhorias no padrão de vida, aumento da expectativa de vida, menor taxa de mortalidade; Urbanização e crescimento populacional; Pricipais problemas de saúde pública: predominância da fome e doenças infecciosas; Condições precárias de trabalho, saneamento e habitação; Mortes por doenças como: diarréia, varíola, cólera e tuberculose. Era das doenças degenerativas Inicio na Revolução Industrial aos dias atuais; Baixos níveis de mortalidade; Diminuição da ocorrência de doenças infecciosas e parasitárias; Aumento da ocorrência de doenças crônico- degenerativas e causas externas; Melhorias nas condições sociais; Revolução científica e novas descobertas de agentes causadores, antibióticos e vacinas; Aumento gradual na expectativa de vida. Fonte: Os autores, adaptado de Tietzmann, (2014, p. 41,42). No contexto brasileiro, Tietzmann (2014) ainda destaca haver 5 fatores de influência para a transição demográfica, a partir de indicadores com consequências diretas na transição epidemiológica: Taxa de Fecundidade; Taxa de Natalidade; Taxa de Mortalidade geral e infantil; Taxa de Crescimento e Envelhecimento da população brasileira. Sobretudo, o agravo de doenças relacionados a transição demográfica, está mais associado aos fatores de maiores influências sobre o padrão de vida 36 adotado após a Revolução Industrial e períodos de globalização. Dentre eles, podemos destacar as mudanças no padrão alimentar da população. Souza (2017) comenta acerca da diminuição da desnutrição com um aumento o excesso de peso, diminuição dos níveis de atividade física, chamando a atenção para a necessidade de políticas públicas com estratégias voltadas a saúde pública com vistas ao combate do excesso de peso e doenças crônicas não transmissíveis. Porém estas todas estas mudanças demográficas e epidemiológicas também afetam as doenças transmissíveis, destacadas pelo Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE). O Ministério da saúde então através da Portaria Nº 204, de 17 de fevereiro de 2016, define a lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo território nacional. [Fique Atento!] A verificação da Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, estabelecida pelo Ministério da Saúde, é de grande importância para compreensão de todas as doenças listadas para vigilância. Confira no Saiba Mais. [Fim Fique Atento!] [Leitura Complementar] Faça a leitura dos textos “Trajetória das doenças infecciosas no Brasil nos últimos 50 anos: um contínuo desafio” (WALDMAN, Eliseu Alves; SATO, Ana Paula Sayuri. Trajetória das doenças infecciosas no Brasil nos últimos 50 anos: um contínuo desafio. Revista de Saúde Pública, v. 50, p. 68, 2016). Disponível em: < http://www.periodicos.usp.br/rsp/article/view/126091> Acesso em: 09 fev. 2018. “Transição nutricional no Brasil: análise dos principais fatores” (SOUZA, Elton Bicalho. Transição nutricional no Brasil: análise dos principais fatores. Cadernos UniFOA, v. 5, n. 13, p. 49-53, 2017). Disponível em: http://www.periodicos.usp.br/rsp/article/view/126091 37 <http://revistas.unifoa.edu.br/index.php/cadernos/article/view/1025> Acesso em: 09 fev. 2018. [Fim, Leitura Complementar] [Saiba Mais] Para melhor compreensão deste assunto sobre a transição epidemiológica, você pode estar assistindo uma entrevista à coordenadora de Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde, Maria Cristina Hoffmann no programa NBR ENTREVISTA - 22.10.14: Como o Brasil deve se preparar para o envelhecimento da população? O que deve ser feito para que as pessoas cheguem cada vez mais saudáveis aos 60 anos e se mantenham ativas após a aposentadoria? “Desafio do envelhecimento da população brasileira é tema do NBR Entrevista” disponível gratuitamente e abertamente no YouTube através do link: <https://www.youtube.com/watch?v=M0IgGU0R0QE> Acesso em 08 fev. 2018. Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0204_17_02_201 6.html> Acesso em 09 fev. 2018. [Fim Saiba Mais] [Exercitando o conhecimento] 1- Cite e explique os estágios característicos da transição demográfica: ____________________________________________________________[Fim Exercitando o conhecimento] Segundo Tietzmann (2014) existem quatro estágios característicos da transição demográfica que estão diretamente ligados ao estabelecimento de uma sociedade industrial, são eles: Pré- Industrial (caracterizado por um equilíbrio populacional com alta taxa de mortalidade e natalidade); Intermediário ou Industrialização (caracterizado por uma explosão populacional http://revistas.unifoa.edu.br/index.php/cadernos/article/view/1025 https://www.youtube.com/watch?v=M0IgGU0R0QE http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0204_17_02_2016.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0204_17_02_2016.html 38 com diminuição na taxa de mortalidade); Consolidação da Sociedade Industrial (caracterizado por um rápido envelhecimento da população com baixa taxa de mortalidade mas também de fecundidade) e Modernidade ou Pós- Transição (caracterizado por um novo equilíbrio populacional com aumentos na expectativa de vida). [Sintetizando o capítulo] Neste capítulo vimos que os dados demográficos exprimem uma relação com as questões de saúde. Vimos a transição demográfica é acompanhada de uma transição epidemiológica, e como isso pode exercer influência no processo saúde-doença. Vimos também que os agravos de doenças podem estar relacionados a estas mudanças nos perfis demográficos e consequentemente no padrão de vida da sociedade e que a partir destes é possível estabelecer conexões com as possíveis causalidades de doenças, papel este dos sistemas de informação e vigilância em saúde, que veremos no próximo capítulo. [Fim Sintetizando o capítulo] Capítulo 2 – Sistemas de informação e vigilância em saúde Dento da epidemiologia e da aplicação dos conceitos básicos, podemos destacar os sistemas de informação em saúde e vigilância em saúde. Segundo Moraes (2014, p.44) define que a informação em saúde consiste: Na descrição ou representação limitada de um evento, agravo, atributo ou dimensão da situação de saúse-doença-cuidadode indivíduos ou população no tempo e espaço definidos, que foi (foram) tratado(s) e organizado(s) por profissionais ou gestores ou instituições, a partir de determinados interesses e objetivos. 39 Neste sentido, Medronho (2009), afirma que o Sistema de Informação em Saúde tem papel de agregar os fluxos de informação e registros descrevendo as dimensões do fato relacionados a saúde-doença-cuidado de acordo com o grau de conhecimento e tecnologia disponíveis pelos responsáveis e compromisso dos profissionais ou instituições que definem em escala de tempo e lugar o procedimento de definição desde a coleta até a disponibilização e uso dessas informações. [Provocação] Com estas definições básicas, demos refletir sobre os meios de comunicação e as tecnologias atuais que auxiliam nos sistemas de informação para saúde pública e sobre quais são esses sistemas disponíveis no país, podemos realizar pesquisas através do site do Datasus: < http://datasus.saude.gov.br/ >. [Fim Provocação] Sistemas de informação Como explorado, vemos que os sistemas de informação em saúde, são partes constituintes de atuam de forma integrada com mecanismos de coletas de dados, processamento, análise e transmissão desses para que o sistema de saúde possa através das informações obtidas programar e realizar ações. Assim, entregues os dados, os responsáveis pelo planejamento e financiamento, irão prover e avaliar os serviços de saúde, com suporte necessário para que desde o planejamento até a tomada de decisões e ações dos gestores em saúde, sejam baseadas em evidências. Dento deste contexto, inclui-se todos meios e métodos utilizados com o objetivo de fornecimento de informações de qualidade (MEDRONHO, 2009). A importância dos sistemas de informação está na sua definição de conjunto de dados organizados como um valor quantitativo que se atribui a determinado fato ou circunstância e a produção de conhecimento a partir destes dados obtidos. Poderíamos assim resumir como conhecimento (informação) a partir da organização de dados (sistema). Neste sentido Ferreira (1998) afirma que um sistema de informação em saúde deve ser organizado de http://datasus.saude.gov.br/ 40 modo a servir de instrumento de apoio à gestão, produzindo informações que possibilitem: 1. Avaliar determinada situação de saúde e as tomadas de decisões a serem implementadas (Ações); 2. Acompanhar e controlar a execução das ações propostas (Eficiência e Eficácia); 3. Avaliar o impacto obtido sobre a situação inicial (Efetividade). Sobre esses isso temos de acordo com Pereira (1995) a definição dos aspectos relacionados a Eficiência (Utilização efetiva dos recursos disponíveis; evitar desperdícios - menor tempo e custos possíveis); Eficácia (Através de ações propostas: alcançar resultados possíveis em relação à cobertura e concentração) e sobre Efetividade (Obtenção de informações concretas na situação de saúde; objetivos propostos pela gestão). O Autor ressalta ainda que através destes aspectos é necessário que se verifique os tipos de indicadores e análises que tem a possibilidade de realização. Pinho e Garcia (2017) descrevem neste sentido as principais funções dos sistemas de informação em saúde: Analisar a situação atual de saúde Realizar planejamento com vistas ao estabelecimento de prioridades; Fazer comparações de indicadores, metas e objetivos; Documentar a qualidade da assistência prestada; Avaliar mudanças ao longo do tempo; Subsidiar tomada de decisões; Demonstrar a confiabilidade e transparência dos serviços prestados, frente à sociedade. No Brasil, alguns sistemas de informação se mostram como fontes relevantes de dados para saúde, como: Sistemas Nacionais de Informação em Saúde (Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM, Sistema de 41 Internações Hospitalares do Sistema Único de Saúde SIH/SUS, Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan). Coeli et al., (2009) citado por Medronho (2009), demonstra a existência de alguns sistemas de informação em saúde no Brasil (verificar Quadro 3). Quadro 3. Sistemas Nacionais de Informação em Saúde. Sistema de Informação em Saúde (SIGLA) Ano de Início Documento Básico Sistema de informação sobre Mortalidade (SIM) 1975 Declaração de óbito Sistema De Informação Sobre Nascidos Vivos (SINASC) 1990 Declaração de nascidos vivos Sistema de Informação Hospitalar do SUS (SIH-SUS) 1991 Autorização de internação hospitalar Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) 1993 Ficha individual de notificação/ Ficha individual de investigação Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI) 1994 Vários Sistema de informações Ambulatoriais do SUS (SIA-SUS) 1994 Boletim de Produção Ambulatorial Autorização de Procedimentos de Alto Custo/Complexidade (SAI-APAC) 1996 Vários Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS) 1999 Vários Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) 2000 Vários Sistema de Informação da Saúde da Atenção Básica (SISAB) 2015 Ficha do e-sus Fonte: Os autores, adaptado de COELI, et al., 2009. Neste sentido, podemos perceber que a maioria das informações são registros de eventos relacionados à vida e a eventos do processo saúde- 42 doença. Basicamente, as informações oferecidas pelos sistemas de informação em saúde serão de caráter de Nascimento, Óbito, as Fontes de Dados Populacionais como: Censo demográfico; Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio; Dados Sobre Mortalidade; Doenças de Notificação Compulsória; Dados de Registros Hospitalares; Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (TIETZMANN, 2014). [Leitura Complementar] Você pode assimilar melhor ainda o conteúdo referente aos sistemas de informação em saúde fazendo a leitura daUnidade 2 (páginas 46 a 55) do Livro “Epidemiologia” disponível na biblioteca virtual. (TIETZMANN, D. Epidemiologia. Editora Pearson, 2014). FERREIRA, S. M.G. Sistema de informação em saúde conceitos fundamentais e organização: oficina de capacitação para docentes do curso de atualização em gestão municipal na área de Saúde, 1998. Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2249.pdf> Acesso em 10 fev 2018. Módulo II – “Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica” do Curso Básico em Vigilância Epidemiológica (CBVE). Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério da Saúde. 2005. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Curso_vigilancia_epidemio. pdf> Acesso em: 13 fev. 2018. [Fim Leitura Complementar] Vigilância epidemiológica Juntamente aos sistemas de informação em saúde, podemos destacar os sistemas de vigilância epidemiológica. Assim, a vigilância em saúde contempla o processo de coleta, análise e interpretação de dados, através dos sistemas de informação, com vistas a auxiliar os serviços de saúde pública. De acordo com Bonita, Beaglehole e Kjellström (2006, p. 127), os mecanismos de vigilância incluem: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2249.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Curso_vigilancia_epidemio.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Curso_vigilancia_epidemio.pdf 43 “A notificação compulsória de algumas doenças, registros de doenças específicas (base populacional ou hospitalar), pesquisas populacionais repetidos ou contínuos e a agregação de dados que mostram padrões de consumo e atividade econômica”. Neste sentido, podemos identificar os usos e objetivos da vigilância epidemiológica, como guia para os profissionais de saúde acerca do planejamento e execução de ações para controle, prevenção de doenças e possíveis agravos, seguindo os princípios dos sistemas de informação em saúde, Eficiência, Eficácia e Efetividade, para disponibilizar informações atualizadas sobre as doenças e agravos, assim como os fatores condicionantes, com as funções de: Coletar dados; Processar os dados; Analisar e interpretar; Recomendar medidas; Promover ações; Avaliar as medidas adotadas; Divulgar informações (BRASIL, 2009). Através da Lei nº 8.080/90 a vigilância epidemiológica é definida como: “Um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos” (Brasil, 2005, p. 34). [Fique Atento!] Note que os sistemas de informação e a vigilância epidemiológica são sistemas (relembrar o conceito de sistema) que atuam com processo de coleta, análise e interpretação de dados para manutenção e atualização de informações referentes ao processo saúde-doença. Assim Bonita, Beaglehole e Kjellström (2006) destacam os usos da vigilância epidemiiológica (Figura 5). [Fim, Fique Atento!] Figura 5. Usos da vigilância epidemiológica. 44 Fonte: Bonita, Beaglehole e Kjellström, 2006, p. 128. Os autores também destacam a inclusão de condições que a vigilância possa efetivamente como um dos princípios-chave da vigilância epidemiológica assim como refletir a carga da doença na comunidade. Estes princípios são seguidos de alguns critérios para seleção de uma doença, tais como descritos no esquema da Figura 6. Figura 6. Princípios da Vigilância Epidemiológica Fonte: Os autores, adaptado de Bonita, Beaglehole e Kjellström, 2006. 45 Através da identificação dos princípios de vigilância epidemiológica, podemos ressaltar a importância do monitoramento contínuo por meio de estudos que irão transmitir informações acerca dos principais indicadores de saúde enfatizando mais uma vez a relevância para um efetivo planejamento de ações em saúde. Essas medidas e ações após implementadas devem manter-se contínuas om objetivos de verificar sua efetividade e recebimento. Bonita, Beaglehole e Kjellström, (2006) trazem a ideia de que em epidemias de curta duração este processo pode parecer mais fácil que para epidemias com uma longa duração, desde o planejamento das ações até o controle com acompanhamento e avaliação a longo prazo. Como visto, a vigilância epidemiológica tem como ferramenta os sistemas de informação em saúde, e dentro deste podemos destacar o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) tido como o principal sistema de vigilância epidemiológica. A importância deste sistema está no registro das doenças de notificação compulsória no pais demonstrando seu objetivo em criar um padrão para as coletas e processamento de dados acerca dos agravos de notificação no Brasil para o fornecimento das informações mais relevantes sobre morbidade e acrescentando dados assim para planejamento das ações (verificar Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública nos Serviços de Saúde Públicos e Privados em Todo o Território Nacional, no capítulo anterior). Analisando esta lista, é possível perceber que as doenças que devem ser notificadas frequentemente, apresentam características como ser preveníveis por vacinação, ou notificações relacionadas a óbito materno, acidentes e doenças ocupacionais e ambientais. Assim mais uma vez podemos ressaltar como um dos principais objetivos da vigilância epidemiológica, a monitorização contínua dos aspectos relacionados com a ocorrência e agravo de doenças, os fatores de risco iminentes e comportamentais da doença, para que assim haja a determinação dos métodos (materiais, equipes, recursos financeiros, etc) e ações a serem tomadas por programas de saúde (BONITA, BEAGLEHOLE e KJELLSTRÖM, 2006). 46 Avaliação dos sistemas de vigilância epidemiológica A manutenção dos princípios dos sistemas de informação e vigilância em saúde, está inserida nas avaliações regulares que são realizadas com vistas a possíveis melhoras. Como em um ciclo, após a implementação de ações e tomadas de decisões a partir dos dados obtidos pelos sistemas de informação e vigilância, as avaliações destes dão o respaldo para que justifique estas ações ou para que recursos, metodologias adotas sejam ou não mudadas. A capacidade de demonstrar com eficiência, eficácia e efetividade as informações bem como o estabelecimento dos indicadores e a importância deste para a saúde pública, se dá através da avaliação dos sistemas somados as avaliações das ações na vigilância epidemiológica. Indicadores que fazem referências a benefícios sociais e econômicos, podem ser frutos dos resultados obtidos através das avaliações realizadas (BRASIL, 2009). Na Figura 7, estão demonstrados os aspectos a serem avaliados segundo o Ministério da Saúde, através do Guia de vigilância epidemiológica (Brasil, 2009), para manutenção dos sistemas avaliações. Figura 7. Aspectos a serem avaliados 47 Fonte: Os autores, adaptado de Brasil, 2009, p. 26. Além disto, são identificadas medidas quantitativas (Utilidade, Sensibilidade, Especificidade, Representatividade e Oportunidade) e qualitativas (Simplicidade, Flexibilidade e Aceitabilidade) de avaliação para um sistema de vigilância epidemiológica (BRASIL, 2009). [Exercitando o conhecimento] Complete as lacunas no texto que se segue e escolha a opção correta: A vigilância epidemiológica é um dos componentes da vigilância em saúde, e permite o conhecimento da __________ das pessoas e da população, que é importantepara o conhecimento, a detecção ou a prevenção de qualquer mudança nos fatores ________ de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de _________ das doenças ou dos agravos. a) ( ) Situação de doenças, ambientais, internamento.b) ( ) Situação de saúde, determinantes e condicionantes, prevenção e controle. c) ( ) Situação ambiental, determinantes e condicionantes, prevenção e detecção. 48 d) ( ) Situação ambiental, determinantes e condicionantes, prevenção e controle. [Fim Exercitando o conhecimento] Aletrnativa correta: (B) Situação de saúde, determinantes e condicionantes, prevenção e controle. A definição do conceito de vigilância epidemiológica está baseada em seus objetivos e em seus usos, com meios de identificar (Situação de saúde); entender (determinantes e condicionantes); estabelecer medidas (prevenção e controle). Além disso destacamos a definição: “Um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. [Sintetizando o capítulo] Neste capítulo aprendemos sobre os sistemas de vigilância em saúde e a sua importância. Vale ressaltar a necessidade de adaptação desses sistemas de informação e vigilância em saúde, de acordo com as inovações científicas e tecnológicas que podem auxiliar para melhorias quanto para um maior alcance e processamento de informações, refletindo princípios como da eficácia. Vimos também que a vigilância não envolve apenas a coleta de dados, também é importante que ocorra a análise, a disseminação e o uso dos dados para a prevenção e controle. Podemos ainda fazer conexões com os capítulos anteriores, criando um conjunto de ideias no estudo da Epidemiologia e Saúde. [Fim Sintetizando o capítulo] Capítulo 3 – Causalidades em epidemiologia Fazendo uma ligação com os capítulos da Unidade anterior, poderemos observar que este capítulo terá íntima relação com a História Natural das Doenças, acrescentando aqui conceitos mais específicos as causas das doenças. Neste sentido, podemos ver um exemplo da complexidade das causas ou do estudo das causalidades em epidemiologia. Para isto, é 49 importante ressaltarmos que cada doença apresenta sintomas que provocam mecanismos e respostas orgânicas distintas. A Secretaria de Vigilância em Saúde/ Ministério da Saúde, demonstra através das características gerais das doenças, uma série de fatores por trás destas. Podemos destacar os fatores que compõe a Tabela 4, utilizada como exemplo. [Provocação] Pesquise sobre as doenças mais estudadas e com maior influência na saúde pública atualmente e utilize o modelo da Tabela 4, preenchendo as lacunas conforme sua pesquisa. Aproveite para criar seu portfólio sobre as doenças. Este processo é importante para que melhor seja a compreensão da causalidade das doenças. [Fim Provocação] Tabela 4. Exemplo do estudo de causalidade em epidemiologia. Características gerais Nome da doença Influenza ou Gripe Descrição Infecção viral aguda do sistema respiratório; Elevada transmissibilidade e distribuição global; Pode-se contraí-la várias vezes ao longo da vida; Diversidade antigênica de seu agente etiológico. Tipos Sazonal; Pandêmica. Sinonímia Gripe, influenza humana sazonal, influenza humana pandêmica, influenza A(H1N1)2009 pandêmica, influenza aviária. Agente etiológico Causada pelos vírus Influenza, da família Ortomixiviridae. São vírus com RNA de hélice única, que se subdividem em três tipos antigenicamente distintos: A, B e C. Reservatório Seres humanos; Suínos; 50 Equinos; Focas; Aves. Modo de transmissão Influenza Sazonal: transmissão direta (pessoa a pessoa) – pequenas gotículas de aerossol expelidas pelo indivíduo infectado com o vírus influenza – ao falar, espirrar e tossir. Influenza Pandêmica: fezes, sangue e secreções respiratórias das aves infectadas - inalação dessas secreções – limpeza e a manutenção nos aviários ou criadouros – abate ou manuseio de aves infectadas Período de incubação Influenza sazonal – em geral de 1 a 4 dias. Influenza pandêmica – em geral de 2 a 8 dias. Período de transmissibilidade Influenza sazonal – desde 2 dias antes do início dos sintomas, até 5 dias após o início dos sintomas. Influenza pandêmica – para o adulto – de 1 dia antes até o 7° dia após o início dos sintomas; e para menores de 12 anos – 1 dia antes até o 14° dia após o início dos sintomas. Suscetibilidade e imunidade Adultos sadios – recuperação geralmente rápida; Extremos etários – possíveis complicações – morbimortalidade. Imunidade – infecção natural ou vacinação anterior com vírus homólogo. Aspectos clínicos Manifestações clínicas Influenza sazonal – febre alta, em geral acima de 38°C, seguida de mialgia, dor de garganta, prostração, cefaleia e tosse seca; Influenza pandêmica – febre alta (>38°C), tosse, dor de garganta e sintomas do trato respiratório inferior – presença de diarreia, vômitos, dor abdominal, dor pleurítica e sangramento do nariz e gengiva. Diagnóstico diferencial Dificuldade por apresentar características clínicas não específicas e muitas vezes similares àquelas causadas por outros vírus. Diagnóstico laboratorial Espécime preferencial para o diagnóstico laboratorial é a secreção da nasofaringe (SNF). 51 Tratamento Antivirais. Instrumentos disponíveis para controle Imunização Influenza sazonal – A vacina é a melhor estratégia disponível para a prevenção da influenza e suas consequências – medida para auxiliar no controle de surtos – administrada por via subcutânea ou intramuscular. Fonte: Os autores, adaptado de Ministério da Saúde, 2009. [Estudo de Caso] Em 2009 após um surto de Influenza A (H1N1)2009 pandêmica, um homem jovem de 25 anos de idade com sintomas de doença respiratória aguda identificada por febre superior a 38°C, tosse e dispneia, dá entrada no pronto socorro do Hospital Regional da Asa Norte (HRAM) em Brasília-DF às 9 horas da manhã de sábado. O paciente ainda relata manifestações gastrointestinais. Após triagem, foi observado o aumento da frequência respiratória (>25 IRPM – incursões respiratórias por minuto) e após questionado sobre os valores habituais de sua pressão arterial, identificaram uma hipotensão. O médico atendente pediu então a realização de exames para acompanhamento do quadro clínico para observar possíveis alterações laboratoriais e radiológicas identificando assim: leucocitose, e infiltrado intersticial localizado. Mediante estes exames, o paciente foi enviado para internação. [Fim Estudo de Caso] Estudo dos fatores causais No estudo dos fatores causais, destacamos aqui o conceito de três palavras que são muito utilizadas e exprimem grande relevância, de acordo com Tietzmann (2014), demonstrado na Figura 8. Figura 8. Alguns conceitos importantes para causalidades. 52 Fonte: Os autores, adaptado de Tietzmann, 2014, p. 36. O estudioso Brian MacMahon é citado por Tietzmann (2014) sobre seus estudos de 1960 acerca da causalidade contestando alguns modelos explicativos das doenças na durante a história. Destaca ainda que para que se determine uma causa para uma doença, é necessário que haja uma interação entre dois eventos e que estes sejam representados através de uma associação estatística. Assim que identificada esta associação cabendo em uma relação causal estatisticamente significativa, pode-se utilizar destas informações para prática clínica. Neste sentido, na iniciação a pesquisa epidemiológica, e de acordo com Aragão (2011), os estudos de causa e efeito, podem ser estudos Observacionais que sugerem hipóteses para que sejam medidas associações entre os fatores distintos, podendo ser estudos transversais, de coorte, caso- controle e ecológicos (ver Capítulo 2 da Unidade III). Relembrando o que vimos no capítulo da unidade anterior,
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