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𝓖𝓮𝓸𝓰𝓻𝓪𝓯𝓲𝓪 𝓭𝓪 𝓘𝓷𝓭𝓾𝓼𝓽𝓻𝓲𝓪 Aula 01 - Introdução aos estudos de Geografia da Indústria A origem da atividade industrial A nossa análise é historiográfica, ou seja, é uma abordagem que busca perceber as condições sociais contextualizadas no tempo e no espaço para entender um fenômeno. Sendo assim, começamos pela forma artesanal de produzir tendo como localização a Europa na Idade Média. O trabalho era manual, usavam-se ferramentas simples e todas as etapas da produção eram realizadas por uma pessoa, o artesão, profissional que até poderia ter auxiliares, mas conhecia todas as etapas para a confecção do produto. A produção era feita em sua casa ou em uma oficina na qual se reunia um grupo de artesãos, a quem pertenciam a matéria-prima e as ferramentas dos meios de produção. Era o artesão quem decidia quantas horas trabalharia por dia, isto é, era ele quem controlava o tempo e a intensidade do trabalho. O produto era para uso próprio e o excedente, destinado à venda, gerando uma renda. Até aquele momento não havia propriedade privada dos meios de produção, isto é, da matéria-prima e das ferra mentas. Além disso, não havia, nesse tipo de ofício, uma divisão interna social do trabalho No decorrer da história, houve o aumento da atividade comercial e o comerciante passou a desempenhar um papel cada vez mais determinante para as transformações que ocorreriam no modo de produzir e nas relações sociais de trabalho. Ele passou a adquirir matérias-primas, levá-las para o artesão em troca de seus produtos para, então, vendê-los em outra parte. Com o tempo, com o acúmulo do capital comercial e seu alcance de atuação em áreas cada vez mais longínquas, o comerciante passou a encomendar os produtos de acordo com características específicas, que facilitavam sua venda por um preço mais alto, realimentando, assim, sua acumulação de capital. Aos poucos, o comerciante foi reunindo alguns artesãos em um lugar na cidade, trabalhando para ele, ao mesmo tempo em que artesãos mais ricos montaram também oficinas em que contavam com o trabalho de outros mais pobres. Dessa maneira, a maior parte dos artesãos tornou-se trabalhadora assalariada. Modificam-se, assim, as relações de trabalho, sendo geradas duas classes: as dos possuidores dos meios de produção e as dos despossuídos, que precisam vender sua mão de obra. Com o aumento da demanda por produtos, os donos das oficinas perceberam que a divisão de tarefas entre os trabalhadores aumentava a produtividade e, consequentemente, o lucro. Ou seja, a divisão interna do trabalho em etapas propiciava aumento da produção e do capital acumulado. Dessa forma, surge a manufatura, que se caracteriza por: haver um proprietário dos meios de produção (matéria-prima e ferramentas); oferecer trabalho assalariado; promover a divisão das etapas do trabalho. Além disso, passou-se a utilizar máquinas simples, com as quais era possível aumentar a produtividade. No entanto, a produção, em termos de quantidade e qualidade, ainda dependia da habilidade e da capacidade do trabalhador. → Cabe destacar que, em paralelo com esse cenário, aconteciam mudanças na produção agrícola – que no sistema feudal era feita em terras comuns, tanto para a subsistência como para o pagamento do senhor feudal. Com a intensificação do comércio, essa terra, que antes era de uso comum, foi transformada em propriedade privada, originando uma classe de desprovidos, que não tinham terras onde trabalhar ou morar. Então, a essas pessoas restava a venda de sua força de trabalho e a submissão ao julgo daqueles que possuíam os meios de produção. Essa separação é o marco do início do capitalismo. Na fábrica, o tempo da máquina A manufatura e o acúmulo de capital do período medieval foram a base para a atividade industrial e para o surgimento de novas relações de trabalho. Na fábrica ou indústria, as ferramentas são substituídas por máquinas velozes, movidas por meio de novas fontes de energia que independem da capacidade do trabalhador. A partir de então, não era essa capacidade que ditava o ritmo do trabalho, mas o da máquina, que se impunha ao do trabalhador. A partir de então, houve aumento da capacidade e do volume de produção, assim como dos lucros. 1. Na fábrica, as relações de trabalho observadas na manufatura tornam-se mais agudas. Há um grande número de operários, treinado e especializado para desenvolver uma pequena parte da produção, recebendo salários por determinada quantidade de horas. Desde então, observa-se cada vez mais o desenvolvimento técnico, propiciando, em muitas linhas de montagem, a automação, que necessita cada vez menos de trabalhadores. É importante perceber que houve a necessidade de um acúmulo de capital e dos meios de produção nas mãos de algumas pessoas: primeiro, os capitalistas comerciais, que não produziam, apenas vendiam e impulsionavam a produção e, depois, os capitalistas industriais, que eram os que, de fato, produziam. Também houve um acúmulo técnico que permitiu o surgimento da indústria moderna. A esses dois fatores relaciona-se um amplo processo de transformações, que conhecemos por Revolução Industrial. A Revolução Industrial e suas sucessivas fases de desenvolvimento técnico O termo Revolução Industrial se refere ao longo processo geral de modernização da sociedade que marca e consolida o capitalismo como modo de produção dominante. Esse processo abrange não somente mudanças técnicas, mas também transformações políticas, econômicas, sociais e culturais. Historicamente, o início da Revolução Industrial é marcado pela invenção de máquinas a vapor, o que possibilitou a produção em grande escala. Além disso, observa-se: o desenvolvimento da organização eficiente, a abertura de um mercado externo e interno para novos produtos e a ampliação da divisão do trabalho, bem como da supervisão hierárquica motivada pela busca por aceleração da produção. Cabe ressaltar que a primeira fase de industrialização concentrou-se basicamente na Inglaterra, estado que liderou esse processo inicial. Isso ocorreu devido a condicionantes socioespaciais anteriores, que promoveram esse desenvolvimento, mas só depois, em uma fase posterior da produção industrial capitalista, que essa forma de produzir se espalhou por toda a Europa, os Estados Unidos, o Japão, além de alguns países subdesenvolvidos. Elencamos a seguir itens que configuram antecedentes determinantes para esse desenvolvimento. • O aumento da produção alimentícia acarretado pelo uso de técnicas tais como rotação de cultura e inserção de cultivos vindos de outros países. Isso implicou no aumento do comércio e da exportação do excedente, bem como na disponibilidade de alimentos em nível interno. • A maior disponibilidade de mão de obra na produção agrícola, ao mesmo tempo que a manufatura também se desenvolvia. • A ação do Estado ao aprovar o decreto da Lei dos Cercamentos de terras, com o intuito de garantir aumento da produtividade. Logo, os pequenos proprietários tinham apenas duas escolhas a fazer: entregar suas terras aos grandes fazendeiros, sujeitando-se a trabalhar para eles, ou vender suas terras e ir para as cidades. Tal fato gerou um êxodo rural, engrossando a quantidade de mão de obra disponível. • A disponibilidade e o uso prévio do carvão mineral em vez do vegetal, que já estava esgotado. • O crescente mercado interno. • A adoção de ideias políticas de liberalismo econômico. As ideias econômicas liberais surgiram desde o século XVI e tornaram-se mais fortes no século XVIII, na Inglaterra. O liberalismo prevê distanciamento do Estado na economia para que o mercado possa, de forma natural, seguir seu curso. Revolução Industrial: primeira fase A primeira fase de industrialização, que ocorreu na segunda metade do século XVIII, foi marcada, como dito anteriormente, pelo advento da máquina a vapor. Conforme destacamos, o acúmulo de capital e a disponibilidade de matéria-prima,como o ferro e o carvão, possibilitaram o seu desenvolvimento. A indústria têxtil foi a que mais se desenvolveu nessa fase. Havia grande oferta de matéria-prima e abundância de mão de obra, o que barateava os custos, gerando lucros elevados que eram reaplicados ao desenvolvimento tecnológico, como, por exemplo, no setor metalúrgico. Com isso, a utilização de carvão mineral em altos fornos, capazes de gerar temperaturas elevadíssimas, inaugurou a siderurgia moderna. O uso da locomotiva, de navios e barcos a vapor promoveu um encurta mento nas distâncias, reduzindo o tempo e o custo dos deslocamentos e possibilitando a ampliação das trocas comerciais. Revolução Industrial: segunda fase A segunda fase da Revolução Industrial se desenvolveu no período entre 1860 e 1914 e, na verdade, se apresentou como um aperfeiçoamento das tecnologias daquele primeiro momento. Traz consigo novos avanços nas áreas tecnológicas, no final do século XIX e início do XX, e, entre suas características, podemos destacar: • a disseminação do modelo industrial para inúmeros países, como os Estados Unidos, Japão, França e Alemanha; • a utilização de novas tecnologias, como a energia elétrica, e, com ela, a lâmpada incandescente (inventada em 1879), que revolucionou os sistemas de iluminação dos grandes centros urbanos e industriais. Não podemos esquecer também que a energia elétrica possibilitou a disseminação dos bens de consumo duráveis, ou seja, uma grande quantidade de utilidades domésticas, que se transformaram, posteriormente, no sonho de consumo da sociedade capitalista industrial, como: máquinas de costura elétricas, máquinas de lavar roupas; batedeiras; geladeiras etc; • a invenção do motor a combustão e a ampliação da utilização do petróleo; • a utilização em larga escala do aço e da borracha; • a invenção, dentre outros, do telégrafo, do telefone e do cinema; • a formação de grandes empresas, por meio de fusões e incorporações Revolução Industrial: terceira fase A terceira fase da Revolução Industrial foi liderada pelos Estados Unidos, tendo sido iniciada com a Segunda Guerra Mundial (1938– 1945). Caracterizou-se por profundas evoluções no campo tecnológico, desencadeadas, principalmente, pela junção entre conhecimento cien tífico e produção industrial. A ênfase na pesquisa é notada pelo fato de que todos os conhecimentos gerados são repassados quase que ime diatamente para o desenvolvimento industrial, seja por meio de novos produtos comercializados, seja de equipamentos para dinamizar a produção industrial, seja ainda dos demais setores da economia, tais como transporte, comunicação, setor financeiro etc. Assim, as produções que mais se destacam são as de computadores, softwares, microeletrônica, chips, transistores, circuitos eletrônicos, robótica, telecomunicações, informática em geral. No campo das telecomunicações, temos a expansão das transmissões televisivas, das telefonia fixa e móvel, além da internet. Com a inserção de novas tecnologias e o seu aprimoramento constante, há uma dinamização da produção em termos de variedade e qualidade de produtos que alavanca a competitividade e a busca por diminuição de custos. Isso realimenta a acumulação de capitais investidos no desenvolvimento de novos produtos e na geração de inéditas tecnologias de ponta, sempre a serviço da indústria. Como principais consequências desse período, podemos destacar: • os rápidos avanços e desenvolvimento nos setores de Ciência e Tecnologia; • a consolidação do sistema capitalista financeiro • a formação e expansão das multinacionais ou empresas globais; • a relativa descentralização industrial; • a flexibilização do trabalho ou Toyotismo; • mecanização flexível, uma dinâmica oposta à rígida automação fordista decorrente da inexistência de escalas que viabilizassem a rigidez; • processo de multifuncionalização da mão de obra, uma vez que, por se basear na mecanização flexível e na produção para mercados muito segmentados, a mão de obra não pode ser especializada em funções únicas e restritas; • implantação de sistemas de controle de qualidade total, que se desenvolve por meio de todos os trabalhadores, em todos os pontos do processo produtivo; • sistema just in time, que se caracteriza pela minimização dos estoques necessários à produção de um extenso leque de produtos, com um planejamento de produção dinâmico. Terciarização é o fenômeno em que o setor terciário da economia se expande, aumentando sua participação no PIB (produto interno bruto: a soma em valores monetários de todos os bens e serviços produzidos) de um país, em comparação com os restantes setores econômicos. Revolução Industrial: quarta fase Para muitos, há uma quarta fase da Revolução Industrial em curso. Ela é representada pela nanotecnologia, entendida como a criação de dispositivos e materiais funcionais na escala de nanômetros, através do progressivo domínio da engenharia molecular pela tecnologia. No nosso cotidiano, esse desenvolvimento se traduz por objetos cada vez mais eficientes, menores e mais práticos, como, por exemplo, os celulares modernos. Principais classificações das indústrias As indústrias de bens de produção, também chamadas de indústrias de base ou pesadas, são responsáveis pela transformação de matérias-primas brutas em matérias-primas processadas, sendo a base para outros ramos industriais. Elas são divididas em duas vertentes: as indústrias extrativas e as de bens de capital. Indústrias extrativas – são as que extraem matéria-prima da natureza (vegetal, animal ou mineral) sem que ocorra alteração significativa nas suas propriedades elementares. Exemplos: indústria madeireira, produção mineral, extração de petróleo e carvão mineral. Indústrias de bens de capital – são responsáveis pela transformação de bens naturais ou semimanufaturados para a estruturação das indústrias de bens intermediários e de bens de consumo. Exemplos: indústria siderúrgica, petroquímica etc. As indústrias de bens intermediários - caracterizam-se pelo fornecimento de produtos beneficiados. Elas produzem máquinas e equipamentos que serão utilizados nos diversos segmentos das indústrias de bens de consumo. Exemplos: mecânica (máquinas industriais, tratores, motores automotivos etc.) e autopeças (rodas, pneus etc.). As indústrias de bens de consumo - têm sua produção direcionada imediatamente para o mercado consumidor, ou seja, para a população em geral. Esse tipo de indústria também se divide sua atuação no mercado: elas são ramificadas em indústrias de bens duráveis e de bens não duráveis. Indústrias de bens duráveis – são as que fabricam mercadorias não perecíveis. São exemplos desse tipo de indústria: automobilística, móveis comerciais, material elétrico, eletroeletrônicos etc. Indústrias de bens não duráveis – produzem mercadorias de primeira necessidade e de consumo generalizado, ou seja, produtos perecíveis. Exemplos: indústria alimentícia, têxtil, de vestuário, de remédios, de cosméticos etc.
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