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Prova de Argumentação Jurídica A3

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FOLHA DE RESPOSTAS
	
COORDENAÇÃO:
	CURSO: DIREITO
	DISCIPLINA: Argumentação Jurídica
	
	NOME: 
	PROFESSORA ANNE MORAIS
	DATA: 
	NOTA:
	PROVA: A3
	TURMA 
	MATRÍCULA: 
	
Instruções:
As questões abaixo estão divididas em objetivas e discursivas. 
As questões objetivas devem ser justificadas. Marque a opção certa e depois justifique sua escolha. 
Insira a resposta após cada questão.
Todas as questões valem 2,0. O questionário vale 10,0.
 Vida e o Direito: breve manual de instruções
I. Introdução
	Eu poderia gastar um longo tempo descrevendo todos os sentimentos bons que vieram ao meu espírito ao ser escolhido patrono de uma turma extraordinária como a de vocês. Mas nós somos – vocês e eu – militantes da revolução da brevidade. Acreditamos na utopia de que em algum lugar do futuro juristas falarão menos, escreverão menos e não serão tão apaixonados pela própria voz.
	Por isso, em lugar de muitas palavras, basta que vejam o brilho dos meus olhos e sintam a emoção genuína da minha voz. E ninguém terá dúvida da felicidade imensa que me proporcionaram. Celebramos esta noite, nessa despedida provisória, o pacto que unirá nossas vidas para sempre, selado pelos valores que compartilhamos.
	É lugar comum dizer-se que a vida vem sem manual de instruções. Porém, não resisti à tentação – mais que isso, à ilimitada pretensão – de sanar essa omissão. Relevem a insensatez. Ela é fruto do meu afeto. Por certo, ninguém vive a vida dos outros. Cada um descobre, ao longo do caminho, as suas próprias verdades. Vai aqui, ainda assim, no curto espaço de tempo que me impus, um guia breve com ideias essenciais ligadas à vida e ao Direito.
II. A regra nº 1
	No nosso primeiro dia de aula eu lhes narrei o multicitado "caso do arremesso de anão". Como se lembrarão, em uma localidade próxima a Paris, uma casa noturna realizava um evento, um torneio no qual os participantes procuravam atirar um anão, um deficiente físico de baixa altura, à maior distância possível. O vencedor levava o grande prêmio da noite. Compreensivelmente horrorizado com a prática, o Prefeito Municipal interditou a atividade.
	Após recursos, idas e vindas, o Conselho de Estado francês confirmou a proibição. Na ocasião, dizia-lhes eu, o Conselho afirmou que se aquele pobre homem abria mão de sua dignidade humana, deixando-se arremessar como se fora um objeto e não um sujeito de direitos, cabia ao Estado intervir para restabelecer a sua dignidade perdida. Em meio ao assentimento geral, eu observava que a história não havia terminado ainda.
	E em seguida, contava que o anão recorrera em todas as instâncias possíveis, chegando até mesmo à Comissão de Direitos Humanos da ONU, procurando reverter a proibição. Sustentava ele que não se sentia – o trocadilho é inevitável – diminuído com aquela prática. Pelo contrário.
Pela primeira vez em toda a sua vida ele se sentia realizado. Tinha um emprego, amigos, ganhava salário e gorjetas, e nunca fora tão feliz. A decisão do Conselho o obrigava a voltar para o mundo onde vivia esquecido e invisível.
	Após eu narrar a segunda parte da história, todos nos sentíamos divididos em relação a qual seria a solução correta. E ali, naquele primeiro encontro, nós estabelecemos que para quem escolhia viver no mundo do Direito esta era a regra nº 1: nunca forme uma opinião sem antes ouvir os dois lados.
III. A regra nº 2
	
	Nós vivemos em um mundo complexo e plural. Como bem ilustra o nosso exemplo anterior, cada um é feliz à sua maneira. A vida pode ser vista de múltiplos pontos de observação. Narro-lhes uma história que li recentemente e que considero uma boa alegoria. Dois amigos estão sentados em um bar no Alaska, tomando uma cerveja. Começam, como previsível, conversando sobre mulheres. Depois falam de esportes diversos. E na medida em que a cerveja acumulava, passam a falar sobre religião. Um deles é ateu. O outro é um homem religioso. Passam a discutir sobre a existência de Deus. O ateu fala: "Não é que eu nunca tenha tentado acreditar, não. Eu tentei. Ainda recentemente. Eu havia me perdido em uma tempestade de neve em um lugar ermo, comecei a congelar, percebi que ia morrer ali. Aí, me ajoelhei no chão e disse, bem alto: Deus, se você existe, me tire dessa situação, salve a minha vida". Diante de tal depoimento, o religioso disse: “Bom, mas você foi salvo, você está aqui, deveria ter passado a acreditar". E o ateu responde: "Nada disso! Deus não deu nem sinal. A sorte que eu tive é que vinha passando um casal de esquimós. Eles me resgataram, me aqueceram e me mostraram o caminho de volta. É a eles que eu devo a minha vida". Note-se que não há aqui qualquer dúvida quanto aos fatos, apenas sobre como interpretá-los.
	Quem está certo? Onde está a verdade? Na frase feliz da escritora Anais Nin, “nós não vemos as coisas como elas são, nós as vemos como nós somos”. Para viver uma vida boa, uma vida completa, cada um deve procurar o bem, o correto e o justo. Mas sem presunção ou arrogância. Sem desconsiderar o outro. 
	Aqui a nossa regra nº 2: a verdade não tem dono.
IV. A regra nº 3
	Uma vez, um sultão poderoso sonhou que havia perdido todos os dentes. Intrigado, mandou chamar um sábio que o ajudasse a interpretar o sonho. O sábio fez um ar sombrio e exclamou: "Uma desgraça, Majestade. Os dentes perdidos significam que Vossa Alteza irá assistir a morte de todos os seus parentes". Extremamente contrariado, o Sultão mandou aplicar cem chibatadas no sábio agourento. Em seguida, mandou chamar outro sábio. Este, ao ouvir o sonho, falou com voz excitada: "Vejo uma grande felicidade, Majestade. Vossa Alteza irá viver mais do que todos os seus parentes". Exultante com a revelação, o Sultão mandou pagar ao sábio cem moedas de ouro. Um cortesão que assistira a ambas as cenas vira-se para o segundo sábio e lhe diz: "Não consigo entender. Sua resposta foi exatamente igual à do primeiro sábio. O outro foi castigado e você foi premiado". Ao que o segundo sábio respondeu: "a diferença não está no que eu falei, mas em como falei".
	Pois assim é. Na vida, não basta ter razão: é preciso saber levar. É possível embrulhar os nossos pontos de vista em papel áspero e com espinhos, revelando indiferença aos sentimentos alheios. Mas, sem qualquer sacrifício do seu conteúdo, é possível, também, embalá-los em papel suave, que revele consideração pelo outro. 
	Esta a nossa regra nº 3: o modo como se fala faz toda a diferença.
V. A regra nº 4
	Nós vivemos tempos difíceis. É impossível esconder a sensação de que há espaços na vida brasileira em que o mal venceu. Domínios em que não parecem fazer sentido noções como patriotismo, idealismo ou respeito ao próximo. Mas a história da humanidade demonstra o contrário. O processo civilizatório segue o seu curso como um rio subterrâneo, impulsionado pela energia positiva que vem desde o início dos tempos. Uma história que nos trouxe de um mundo primitivo de aspereza e brutalidade à era dos direitos humanos. É o bem que vence no final. Se não acabou bem, é porque não chegou ao fim. O fato de acontecerem tantas coisas tristes e erradas não nos dispensa de procurarmos agir com integridade e correção. Estes não são valores instrumentais, mas fins em si mesmos. São requisitos para uma vida boa. Portanto, independentemente do que estiver acontecendo à sua volta, faça o melhor papel que puder. A virtude não precisa de plateia, de aplauso ou de reconhecimento. A virtude é a sua própria recompensa. 
	Eis a nossa regra nº 4: seja bom e correto mesmo quando ninguém estiver olhando.
VI. A regra nº 5
	Em uma de suas fábulas, Esopo conta a história de um galo que após intensa disputa derrotou o oponente, tornando-se o rei do galinheiro. O galo vencido, dignamente, preparou-se para deixar o terreiro. O vencedor, vaidoso, subiu ao ponto mais alto do telhado e pôs-se a cantar aos ventos a sua vitória. Chamou a atenção de uma águia, que arrebatou-o em vôo rasante, pondo fim ao seu triunfo e à sua vida. E, assim, o galo aparentemente vencido reinou discretamente, por muito tempo. A moral dessa história, como próprio
das fábulas, é bem simples: devemos ser altivos na derrota e humildes na vitória. Humildade não significa pedir licença para viver a própria vida, mas tão-somente abster-se de se exibir e de ostentar. Ao lado da humildade, há outra virtude que eleva o espírito e traz felicidade: é a gratidão. Mas atenção, a gratidão é presa fácil do tempo: tem memória curta (Benjamin Constant) e envelhece depressa (Aristóteles). Portanto, nessa matéria, sejam rápidos no gatilho. Agradecer, de coração, enriquece quem oferece e quem recebe.
	Em quase todos os meus discursos de formatura, desde que a vida começou a me oferecer este presente, eu incluo a passagem que se segue, e que é pertinente aqui. "As coisas não caem do céu. É preciso ir buscá-las. Correr atrás, mergulhar fundo, voar alto. Muitas vezes, será necessário voltar ao ponto de partida e começar tudo de novo. As coisas, eu repito, não caem do céu. Mas quando, após haverem empenhado cérebro, nervos e coração, chegarem à vitória final, saboreiem o sucesso gota a gota. Sem medo, sem culpa e em paz. É uma delícia. Sem esquecer, no entanto, que ninguém é bom demais. Que ninguém é bom sozinho. E que, no fundo no fundo, por paradoxal que pareça, as coisas caem mesmo é do céu, e é preciso agradecer".
	Esta a nossa regra nº 5: ninguém é bom demais, ninguém é bom sozinho e é preciso agradecer. [...]
1. Retire do texto: (2x 0,5)
a) Um trecho marcado pelo ethos:
Resposta: “Por isso, em lugar de muitas palavras, basta que vejam o brilho dos meus olhos e sintam a emoção genuína da minha voz. E ninguém terá dúvida da felicidade imensa que me proporcionaram.”
b) Um trecho marcado pelo pathos:
 Resposta: “Eu poderia gastar um longo tempo descrevendo todos os sentimentos bons que vieram ao meu espírito ao ser escolhido patrono de uma turma extraordinária como a de vocês. Mas nós somos – vocês e eu – militantes da revolução da brevidade. Acreditamos na utopia de que em algum lugar do futuro juristas falarão menos, escreverão menos e não serão tão apaixonados pela própria voz.”
2. Na regra n.3, temos o uso predominante de um tipo de argumento. Assinale a alternativa que o explicita: (1,0)
a) comprovação
b) comparação
c) exemplificação
d) autoridade
e) evidência
Resposta: C - exemplificação
O autor conta um caso, dando um exemplo de como a forma de falar faz toda diferença no entendimento e aceitação.
3. Conforme o entendimento exposto na dissertação Discurso Jurídico: constituição do ethos e orientação argumentativa, de Daniela Miranda (2011, p.88), há três tipos de ethos, o pré-estabelecido, o discursivo e o projetivo representado. Comente a diferença entre eles.
Ethos discursivo: é a imagem que o orador faz de si próprio através do discurso, dependendo do público que queira atingir. Ele faz uma análise de si mesmo colocando em evidência geralmente suas qualidades, qualificações, mas podendo citar também os defeitos para garantir que fala com propriedade de tal assunto.
Ethos pré-estabelecido: é a imagem já construída anteriormente, ou seja, a que o auditório conhece antes mesmo que o discurso comece, como atitudes e sentimentos passados. 
Ethos projetivo representado: é a imagem de uma terceira pessoa por parte do orador. O discurso é controlado e manipulado para criar a imagem desejada sobre tal.
4. A Retórica é a arte de falar bem em público, de se articular e persuadir o auditório. Escreva um texto dissertativo para tratar sobre os seguintes pontos:
a) conceito, surgimento e visão clássica sobre Retórica; 
b) contribuições do Livro III de Aristóteles para o estilo do discurso;
c) a importância dos cinco cânones para o preparo e a execução do discurso.
	Retórica pode ser resumida à arte de falar bem, de convencer o próximo através do discurso. Tem por objetivo transmitir idéias com convicção, a persuasão e pode ser usada para o bem ou para o mal a partir de técnicas especificas e de três aspectos fundamentais para convencer o auditório: o ethos, o pathos e o logos. O ethos é a forma de convencer através da credibilidade do orador. O pathos já parte pro lado emocional, conquistando pela empatia ou utilizando técnicas de comoção. O logos utiliza de fatos, dados e números, utiliza a parte lógica do cérebro.
	Afirmar que a retórica nasceu na Grécia pode ser um equivoco, visto que a retórica não é oriunda de uma só cultura, mas utilizada aos longos do tempo, é vista como uma habilidade natural. Os gregos foram responsáveis pela definição e delimitação da retórica, especialmente Aristóteles. A retórica teria surgido na Sicília no século V a.c com Empedocle de Agrigento. Chega até a Grécia Antiga através do sofista Córax, que foi responsável pela criação de um manual de retórica. Sua filosofia baseava-se na idéia de que mais vale a aparência da verdade do que a própria verdade em si. Ele ensinava essas técnicas persuasivas com objetivo de lucro. 
	Com a democracia, surgiu a necessidade de usar a retórica nos discursos políticos. O discurso retórico era relacionado a vida na polis, o cidadão precisava exercer sua cidadania participando da vida pública. A sociedade passa a seguir as leis do Direito, proibindo assim o uso da justiça com as próprias mãos, logo surge também, a importância de convencer a um juiz do direito que se tem, usando a retórica no discurso jurídico e mesmo que ele possa ser contestado, é de fato, retórico, visto que sua função é provar que uma das partes está com a razão.
	A retórica de Córax foi enriquecida por Antiphon, que a levou para Atenas. Como na época faltavam advogados, ele lecionava a retórica, ou seja, as técnicas que eram cabíveis a todos os tipos de casos. Essas técnicas podem ser vistas nos cenários atuais nos discursos jurídicos e tribunais, como responsabilizar o adversário pelo processo; atribuir-lhe o ônus da prova, transformando o autor do processo em réu; elogiar a sabedoria e a imparcialidade dos juízes.
	 Para Aristóteles, o ethos é a parte mais importante do discurso. Ele ainda divide os gêneros de discurso, defende que cada gênero retórico deve ser baseado numa demonstração e diz que cada um possui um tempo, público e situação. Esses gêneros são divididos em Deliberativo, Judiciário e Epidítico. O Deliberativo ou político é próprio das assembleias, tem a função de persuadir ou dissuadir. O Judiciário vem dos tribunais, tem a função de acusar ou defender. O Epidítico é vindo de cerimônias solenes, alegra ou tristes e tem por função elogiar ou censurar.
	Ainda em Aristóteles a retórica é composta por cinco partes, são elas: heuresis, que é a invenção, taxis que é a disposição, lexis que é a elocução, a hypocrisis, que é a ação e a memória. As cinco partes funcionam como tarefas a serem cumpridas. Se alguma delas falta, o discurso se torna ruim. A Invenção (heuresis) é a fase de recolha, busca de argumentos diante de todos os procedimentos da retórica. A Disposição (taxis) é a organização, construção do discurso. A Elocução (lexis) é a redação do discurso, é o ponto em que a retórica encontra a literatura e é a mais própria do orador. Ela diz respeito a língua como tal, não permite erros, nessa fase o objetivo é redigir o discurso da melhor forma possível. A Ação (hypocrisis) é a apresentação do discurso, o arremate do trabalho retórico, é o que atinge o público, faz o orador parecer o que quer. A memória é a arte de memorizar o discurso, utilizando da estrutura, coerência, encadeamento lógico e ritmo das frases.
5. Construa um parágrafo argumentativo, utilizando o método indutivo, para defender a seguinte tese: "é preciso correr atrás, buscar, lutar para alcançar os objetivos pretendidos".

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