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Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 1 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 2020 Carlos da Fonseca Nadais 01/08/2020 Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 2 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Introdução ao Direito Falimentar (Unidade 01) 1. Brevíssima História do Direito Falimentar no Brasil Como já vimos, em Direito Processual Civil e História do Direito, na evolução histórica das execuções de dívidas, pelo Código de Hamurábi, o devedor respondia com o seu corpo; pela lei das XII Tábuas, depois do terceiro dia de feira, se o credor não conseguisse “vender” o devedor (escravo), dividia-se o corpo do devedor em tantos pedaços quanto fossem os credores. Com a Lex Poetelia Papiria deixou-se de executar a cobrança pelo “corpo do devedor” e passou-se a executar a cobrança sob o “patrimônio do devedor”. Com a evolução desse processo, os credores obtinham o direito de dispor dos bens do devedor para obter seu crédito. Como também já vimos, em Direito Empresarial I, passamos, no Direito Comercial, da Teoria dos Atos do Comércio para a Teoria da Empresa. Por fim, já vimos também em Direito Constitucional, a função social da empresa, os fundamentos da República Federativa do Brasil, pelos os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; A empresa então é um fator relevante para a vida social e econômica de um país, logo sua proteção é de extrema relevância para o Estado. No Brasil, surge em 1850 o Código Comercial, que não vê a falência como um crime. O DL 7.661/45 assume que se a empresa estava em crise, o melhor era decretar logo sua falência, juntar o patrimônio que ainda restava e pagar os credores. Essa norma foi revogada pela L 11.101/05 – LRF. A L 11.101/05 tem outra visão: se a sociedade está em crise, o melhor é dá-la uma chance de recuperação, por seu importante papel social. A ideia é manter a empresa funcionando, mantendo os empregos e pagando os credores. Derrubou-se a ideia do falliti sunt fraudatores (os falidos são fraudadores, enganadores, velhacos). A lei sofreu uma série de influências, com preponderância do sistema bancário. Diversos artigos favorecem o capital financeiro e prejudicam os demais setores. As crises econômicas são obstáculos naturais à atividade empresarial e o Estado deve intervir, pois uma empresa em dificuldades pode ser mais benéfica que a sua pura e simples extinção. Portanto, o direito falimentar não tem a preocupação preponderante de punir o devedor insolvente, excluindo-o do mercado, mas sim de preservar a empresa, por isso a legislação tenta fornecer a esse devedor os meios necessários à sua recuperação, tendo então a falência como procedimento para os devedores realmente irrecuperáveis. 2. Crise nas Empresas A crise empresarial pode ser analisada por diversos aspectos, dentre eles: a) Crise Econômica: retração considerável nos negócios desenvolvidos pela sociedade empresária. As vendas dos produtos não atingem a quantidade necessária para manutenção do negócio. Essa situação deve ser analisada possivelmente por alto preço do produto, retração generalizada da economia, atraso tecnológico dos produtos, dentre diversos outros fatores. b) Crise Patrimonial: caracterizada pela insolvência, é a insuficiência de bens no ativo para atender a situação do passivo. c) Crise Financeira: revela-se quando a empresa não tem caixa para honrar seus compromissos. É a crise de liquidez e sua exteriorização jurídica é a impontualidade. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 3 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor A crise, por qualquer viés que seja, acarreta prejuízos a diversos players [stake holders], como investidores, fornecedores, trabalhadores e o Estado (tributos), que podem desencadear diversas outras crises, com consequências ainda piores. Desse modo, o direito se ocupa em também analisar essas situações de fato. Dentre os instrumentos jurídicos temos a falência e a recuperação da empresa. Nem toda falência é um mal. Algumas empresas são tecnologicamente atrasadas, estão altamente descapitalizadas ou ainda tem administrações precárias, sendo assim devem mesmo ser afastadas do mercado. O intuito é concentrar os recursos materiais, econômicos e humanos em empresas que possam gerar riqueza e prosperidade. Logo, saneia-se o mercado de ‘más empresas’. 3. Princípios do Direito Falimentar 3.1. Princípio da Preservação da Empresa Numa economia de mercado, a empresa é um elemento fundamental, cumprindo sua função social, pois exercendo atividade econômica organizada, gera empregos, paga tributos, movimenta a economia, e, por consequência, desenvolve a comunidade. Art. 47 LFR A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Art. 170 CF. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos, existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: III - função social da propriedade; 3.2. Princípio da Preservação do Mercado pela retirada de empresas inviáveis Por outro lado, apesar do Princípio da Preservação da Empresa nos direcionar a “salvar as empresas em dificuldade”, nem toda empresa merece ser preservada, em específico as empresas inviáveis, pois são um risco ao próprio mercado. Art. 75 LFR A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa. Art. 53 LFR O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em falência, e deverá conter: I – discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, conforme o art. 50 desta Lei, e seu resumo; II – demonstração de sua viabilidade econômica; e III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 4 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor 3.3. Princípio da Participação Ativa dos Credores Na antiga lei de falência (DL 7.661/45) a recuperação judicial estava atrelada tão somente ao cumprimento de requisitos legais, colocando os credores numa posição submissa ao devedor. O “lobby positivo” das instituições financeiras promoveu mudança significativa na lei atual (Lei 11.101/05) reservando um papel de destaque aos credores. Art. 35 LFR. A assembleia-geral de credores terá por atribuições deliberar sobre: I– na recuperação judicial: a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor; b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição; c) (vetado) d) o pedido de desistência do devedor, nos termos do §4º do art. 52 desta Lei; e) o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor; f) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores; II– na falência: a) (vetado) b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição; c) a adoção de outras modalidades de realização do ativo, na formado art. 145 desta Lei; d) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores. Art. 56 LFR Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz convocará a assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperação. §1º A data designada para a realização da assembleia-geral não excederá 150 dias contados do deferimento do processamento da recuperação judicial. §2º A assembleia-geral que aprovar o plano de recuperação judicial poderá indicar os membros do Comitê de Credores, na forma do art. 26 desta Lei, se já não estiver constituído. §3º O plano de recuperação judicial poderá sofrer alterações na assembleia- geral, desde que haja expressa concordância do devedor e em termos que não impliquem diminuição dos direitos exclusivamente dos credores ausentes. §4º Rejeitado o plano de recuperação pela assembleia-geral de credores, o juiz decretará a falência do devedor. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/Msg/Vep/VEP-0059-05.htm#art35ic http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/Msg/Vep/VEP-0059-05.htm#art35iia Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 5 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor 3.4. Princípio da Separação dos Conceitos de “Empresa” e “Empresário” Como vimos nas disciplinas anteriores (Empresarial I e II) empresa e empresário são entidades distintas. A empresa é uma ação ou atividade e empresário é o sujeito que executa a ação ou atividade. A Lei 11.101/05 foca na “empresa” e não no “empresário”, podendo até mesmo alienar a empresa a outro empresário ou sociedade que continue sua atividade em bases eficientes Art. 966 CC. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Art. 50 LFR Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros: III- alteração do controle societário; IV- substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos administrativos; VII- trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios empregados; XIII- usufruto da empresa; 3.5. Princípio da Maximização dos Ativos da Empresa O objetivo de preservar e maximizar os ativos do falido aponta para dois objetivos: a) na falência, atender maior número de credores e b) na recuperação, aumentar as chances da empresa superar a crise financeira, como, por exemplo, permitir: b.1) a aquisição ou adjudicação pelos credores dos bens arrecadados, pelo valor da avaliação; b.2) a venda antecipada dos bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à considerável desvalorização ou que sejam de conservação arriscada ou dispendiosa; b.3) celebrar contratos para gerar renda a partir dos bens da massa, dentre outros. Art. 111 LFR O juiz poderá autorizar os credores, de forma individual ou coletiva, em razão dos custos e no interesse da massa falida, a adquirir ou adjudicar, de imediato, os bens arrecadados, pelo valor da avaliação, atendida a regra de classificação e preferência entre eles, ouvido o Comitê. Art. 113 LFR Os bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à considerável desvalorização ou que sejam de conservação arriscada ou dispendiosa, poderão ser vendidos antecipadamente, após a arrecadação e a avaliação, mediante autorização judicial, ouvidos o Comitê e o falido no prazo de 48 horas. Art. 114 LFR O administrador judicial poderá alugar ou celebrar outro contrato referente aos bens da massa falida, com o objetivo de produzir renda para a massa falida, mediante autorização do Comitê. 3.6. O Princípio da Celeridade, da Eficiência e da Economia Processual As normas processuais devem ser aplicadas e interpretadas de modo a privilegiar uma condução ágil, adequada e econômica da falência e recuperação. Por outro lado, deve objetivar a eficiência na tramitação do provimento judicial, já que o magistrado deve afastar-se do formalismo exagerado em prol da efetividade, em respeito aos princípios da preservação e maximização dos ativos do falido (item 3.5) e da empresa (item 3.1). Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 6 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Art. 75 LFR A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa. Parágrafo único. O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual. 3.7. Princípio da Proteção ao Trabalhador O trabalhador é parte hipossuficiente na relação de trabalho, portanto a legislação também prevê sua proteção, como por exemplo, na falência, prioridade no recebimento no quadro de credores concursais, pertinente ao caráter alimentar das verbas e qualidade (art. 83, inciso I, LFR) de crédito extraconcursal dos serviços prestados depois da decretação da falência da empresa (art. 84, inciso I, LFR); e na recuperação, prazo máximo de um ano dentro do plano de recuperação para o pagamento dos créditos trabalhistas já vencidos e um prazo de 30 dias para o pagamento dos créditos de natureza estritamente salarial, vencidos até três meses antes do pedido de recuperação, no limite de até cinco salários-mínimos por trabalhador (art. 54 LFR). Art. 83 LFR A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: [créditos concursais] I– os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 salários- mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho [sem limite de valor]; Art. 84 LFR Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a: I– remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência; Art. 54 LFR O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial. Parágrafo único. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial. 3.8. Princípio da Desburocratização da Recuperação de ME e EPP A recuperação das micro e pequenas empresas não pode ser inviabilizada pela excessiva onerosidade do procedimento. A lei prevê mecanismos mais simples e menos onerosos para possibilitar ao máximo o acesso das micro e pequenas empresas à recuperação, como, por exemplo, a dispensa de convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano (art. 35, inciso I, LFR), desde que preenchidos os requisitos legais exigidos (LC 123/2006 – Estatuto da ME EPP) Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 7 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Art. 35 LFR. A assembleia-geral de credores terá por atribuições deliberar: I – na recuperação judicial: a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor; Art. 70 LFR. As pessoas de que trata o art. 1º desta Lei e que se incluam nos conceitos de microempresa ou empresa de pequeno porte, nos termos da legislação vigente, sujeitam-se às normas deste Capítulo. §1º As microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas em lei, poderão apresentar plano especialde recuperação judicial, desde que afirmem sua intenção de fazê-lo na petição inicial de que trata o art. 51 desta Lei. Art. 72 LFR. Caso o devedor de que trata o art. 70 desta Lei opte pelo pedido de recuperação judicial com base no plano especial disciplinado nesta Seção, não será convocada assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano, e o juiz concederá a recuperação judicial se atendidas as demais exigências desta Lei. 3.9. Princípio do Juízo Universal da Falência Há divergências se, efetivamente, trata-se de um princípio, portanto será apresentado quando do estudo da Competência e Universalidade do juízo falimentar (item 4) Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 8 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Falência (Unidade II) 1. Introdução à Falência Especificidades da Execução do empresário devedor insolvente a) Execução singular de devedor inadimplente Assumindo obrigação creditícia o devedor se compromete a cumpri-la, pelo pagamento, na época do vencimento. Ocorrendo a impontualidade o devedor fica sujeito ao constrangimento de cumprir a obrigação por intermédio de ação judicial promovida pelo o credor singular. b) Execução concursal de devedor inadimplente Pode ocorrer, todavia, que haja vários credores insatisfeitos pelo inadimplemento desse devedor, ou então que este não tenha condições de atender a todos esses credores. A inadimplência pode ser, por exemplo, decorrente da ruína do devedor. Nessa situação o direito pode exigir que todos os credores sejam tratados nas mesmas condições de igualdade, tendo em vista a categoria de seus créditos. Visto isso, podemos então alcançar a definição de falência como “um processo de execução concursal do devedor insolvente, através do qual se arrecadam judicialmente os bens do falido, a fim de satisfazerem seus credores” 1, ou, nas palavras de Fábio Ulhoa Coelho, simplesmente “é a execução concursal do devedor empresário” 2. A própria lei de falência art. 75 LFR traz em seu bojo uma boa definição de falência: Art. 75 LFR A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa. 2. Legitimidade na Falência → Pressuposto Subjetivo 2.1. Legitimidade Passiva - Devedores sujeito à falência a) Empresário ou Sociedade Empresária Em princípio estão sujeitos incluídos à falência os devedores que exercem atividade econômica de forma empresarial, ou seja, empresários, ainda que irregulares, isto é, sem registro na Junta Comercial dos seus atos constitutivos. Art. 1o LFR Esta lei disciplina a recuperação judicial, recuperação extrajudicial e falência do empresário¹ e da sociedade empresária², doravante referidos simplesmente como devedores. O Código Civil define empresário¹ (art. 966 CC) e sociedade empresária² (art. 982 CC) Art. 966 CC. Considera-se empresário¹ quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para produção ou circulação de bens ou serviços. 1 PIMENTEL, Carlos Barbosa. Direito Comercial: teoria e questões comentadas. 2006. 2 COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial – Direito de Empresa. São Paulo: Saraiva. 2013, p. 354 Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 9 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Art. 982 CC. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade² que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. Para a perfeita caracterização da figura do empresário, não basta apenas a prática da atividade; faz-se necessário que seja realizada de forma profissional, ou seja, de maneira habitual e constante, com organização (decorrente da articulação dos fatores de produção) e visando a obtenção de lucro Desse modo temos que de plano, não estão incluídos pela falência os ‘não empresários’ (associações, sociedade simples, cooperativas...). A sociedade em conta de participação, não tendo personalidade jurídica própria, limitando-se a sociedade a produzir efeitos na órbita interna, não estará sujeita à falência. b) Excluídos do processo falimentar Art. 2º LFR Esta lei não se aplica a: I- empresa pública [ECT] e sociedade de economia mista [Petrobras]; II- instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. b.1) Devedores excluídos absolutamente: Δ Empresa pública: pessoa jurídica de direito privado, constituída de capital exclusivamente público e poderá ser constituída em qualquer uma das modalidades empresariais; ex Δ Sociedade de economia mista: pessoa jurídica de direito privado, constituída por capital público e privado, sendo que a parte do capital público deve ser majoritária e somente poderá ser constituída na forma de S/A; ex Δ Entidades fechadas previdência complementar (Fundos de Pensão): formadas com a finalidade de instituir planos de pecúlios ou de rendas, mediante contribuição de seus participantes, em um regime de capitalização acoplado ao regime geral de previdência social. Criadas sem finalidades lucrativas, no âmbito de empresas, voltadas aos seus trabalhadores, e organizadas sob a forma de sociedades civis ou fundações, as quais seriam subordinadas ao Ministério da Economia (PREVIC). Não poderão ser objeto de falência ou recuperação, somente liquidação extrajudicial (art. 47 LC 109/2001). Δ Câmaras prestadoras serviços compensação e liquidação financeira (clearing): realizam compensação multilateral das obrigações entre os participantes, que apuram resultados bilaterais devedores e credores de cada participante em relação aos demais (cheques, ações, câmbio etc.); Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 10 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor b.2) Devedores excluídos relativamente: Δ Operadoras de seguro: essas estão sujeitas a liquidação extrajudicial promovida pela SUSEP, mas pode ser requerida a falência da instituição se decretada a liquidação extrajudicial, o ativo não for suficiente para cobrir pelo menos 50% créditos quirografários OU se surgirem indícios de crime falimentar (art. 26 DL 73/66). Mesma situação para entidades abertas previdência complementar (art. 73 LC 109/01) e sociedade de capitalização (art. 4° DL 261/67); Δ Operadoras de planos privados de assistência à saúde: estas estão sujeitas à liquidação extrajudicial decretada pela ANS – Agência Nacional de Saúde Complementar, mas pode ser requerida a falência da instituição nos moldes do primeiro item (art. 23 L 9.656/98); Δ Instituições financeiras: estão sujeitas a liquidação extrajudicial pelo Banco Central (art. 1° L 6.024/74), mas pode ser requerida a falência da instituição nos moldes do primeiro item (art. 21 “b” L 6.024/74), bem como os consórcios de bens (art. 7° e 10 L 5.768/71) Ex. Banco Santos e Banco Cruzeiro do Sul. Δ Arrendadoras (art. 7° L 6.099/74 → L 4.595/64) sujeitas a liquidação extrajudicial pelo Banco Central (art. 21 “b” L 6.024/74), mas pode ser requerida falência nos moldes do primeiro item). 2.2. Legitimidade Ativa - Sujeitos Ativos na Falência Art. 97 LFR Podem requerer a falência do devedor: I- próprio devedor, na forma do disposto arts. 105 a 107 desta lei (*) (**); II- cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou inventariante (*); III-o cotista ou acionista do devedor na forma da lei ou ato constitutivo da sociedade (**); IV- qualquer credor. §1o o credor empresário apresentará certidão do registro público de empresas que comprove a regularidade de suas atividades. §2o o credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta lei. Art. 101 LFR. Quem por dolo requerer a falência de outrem será condenado, na sentença que julgar improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando-se as perdas e danos em liquidação de sentença. §1o havendo mais de um autor do pedido de falência, serão solidariamente responsáveis aqueles que se conduziram na forma prevista no ‘caput’ artigo. §2o por ação própria, o terceiro prejudicado também pode reclamar indenização dos responsáveis. As partes ativas legítimas para requerer a falência são: a) próprio devedor [empresário individual (*) ou sociedade empresária (**)]; e b) qualquer credor Regra geral, o credor é o maior interessado na instauração do processo de falência, estimulado pela “possibilidade” de receber seu crédito (não é objetivo principal...). Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 11 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Se credor deverá comprovar a regularidade de sua situação (art. 97 §1º LFR) e se credor não for domiciliado no Brasil deverá prestar caução destinada a cobrir custas (art. 97 §2º e 101 LFR) Há a controvérsia sobre a possibilidade de falência na ocorrência de um só credor, entretanto cabe ressaltar que a pluralidade de credores não é um pressuposto da falência, mesmo porque credores podem surgir após sentença da falência. Por outro viés, temos que o processo de falência é importante para averiguar a ocorrência de crime falimentar. 2.2.1. Créditos (credores) excluídos da falência Δ obrigação à título gratuito (art. 5º, inciso I, LFR); ex Δ despesas para habilitação do crédito ou declaração do crédito (art. 5º, inciso II, LFR); e Δ crédito relacionado a multa contratual ou pena pecuniária, constituído justamente da decretação da quebra do devedor (excepcionalidade disposto no art. 83, inciso VII, LFR). Art. 5o LFR Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência: I- as obrigações a título gratuito; II- as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor. A Fazenda Pública não pode requerer falência do devedor de tributos, posto que o crédito fiscal não está sujeito à falência e a execução fiscal não fica suspensa com a sentença de falência. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 12 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor 3. Insolvência jurídica → Pressuposto Objetivo 3.1. Impontualidade injustificada Art. 94. LFR Será decretada a falência do devedor que: I– sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos a b protestados c, cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos d na data do pedido de falência. Como visto a insolvência econômica caracteriza-se pelo passivo maior que o ativo, entretanto o pressuposto legal para requer a falência do devedor é a insolvência jurídica, dita como a impontualidade injustificada (art. 94, inciso I, LFR). O critério formal da lei para impontualidade se refere a obrigação líquida documentada em título executivo judicial (art. 515 CPC) ou extrajudicial (art. 784 CPC), devidamente protestado (art. 1º L 9.492/97). Desse modo, para efeito de falência, a prova da impontualidade é sempre o protesto do título por falta de pagamento, não cabendo prova documental ou testemunhal. a) Títulos executivos judiciais: Art. 515 CPC. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: I- as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; II- a decisão homologatória de autocomposição judicial; III- a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza; IV- o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; V- o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial; VI- a sentença penal condenatória transitada em julgado; VII- a sentença arbitral; VIII- a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; IX- a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça; b) Títulos executivos extrajudiciais Art. 784 CPC. São títulos executivos extrajudiciais: I- a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II- a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III- o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; IV- o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal; Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 13 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor V- o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução; VI- o contrato de seguro de vida em caso de morte; VII- o crédito decorrente de foro e laudêmio; VIII- o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; IX- a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; X- o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas; XI- a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei; XII- todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. c) Protesto Art. 1º L 9.492/97 [Lei de Protestos]. Protesto é um ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação em títulos de crédito e outros documentos de dívida. Art. 12 L 9.492/97. O protesto será registrado dentro de três dias úteis contados da protocolização do título ou documento de dívida. §1º Na contagem do prazo a que se refere o caput exclui-se o dia da protocolização e inclui-se o do vencimento [prazo comum]. Art. 23 L 9.492/97. Os termos dos protestos lavrados, inclusive para fins especiais, por falta de pagamento, de aceite ou de devolução serão registrados em um único livro e conterão as anotações do tipo e do motivo do protesto, além dos requisitos previstos no artigo anterior [inexistência de “livro especial para protestos”]. d) valor superior a 40 salários mínimos na data da propositura. O outro requisito pertinente a impontualidade, diz respeito a seu valor do débito, posto que somente ser requeria a falência do devedor que tiver deixado de cumprir pontualmente obrigação superior a 40 salários mínimos, montante pode ser alcançado também mediante litisconsórcio de credores. 3.1.1. Impontualidade Justificada Temos a possibilidadede que impontualidade seja justificada (art. 96 LFR): Art. 96 LFR A falência requerida com base no art. 94, inciso I, do caput desta lei, não será decretada se o requerido provar: I– falsidade de título; Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 14 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor II– prescrição; III– nulidade de obrigação ou de título; IV– pagamento da dívida; V– qualquer fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime cobrança título; VI– vício em protesto ou no instrumento [de protesto]; VII- apresentação pedido de recuperação judicial no prazo da contestação, observados os requisitos do art. 51 desta lei; VIII- cessação das atividades empresariais mais de 2 anos antes do pedido de falência, comprovada documento hábil do registro público de empresas, que não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado. §1º Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu ativo nem do espólio após 1 ano da morte do devedor. §2º As defesas previstas nos incisos I a VI do caput deste artigo não obstam a decretação de falência se, ao final, restarem obrigações não atingidas pelas defesas em montante que supere o limite previsto naquele dispositivo. 3.2. Execução Frustrada Art. 94 LFR será decretada a falência do devedor que: II– executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal; Trata-se da segunda hipótese mais usual do pedido de falência. Se há uma execução contra o devedor, significa que não pagou, no vencimento, obrigação líquida, certa e exigível (art. 783 CPC). Por outro lado, se não nomeou bens à penhora, indica que o devedor não dispõe de meios sequer de garantir a execução, portanto se o devedor que não paga, não deposita e não nomeia bens à penhora, frustra a execução, que denuncia a insolvabilidade do executado e possibilita a decretação da falência. A ação de falência deve ser aparelhada com a certidão extraída dos autos da execução, para atestar tríplice omissão, não necessitando o protesto dos títulos e não necessitando que o valor do débito seja superior a 40 salários mínimos (requisitos essenciais ao inciso I do art. 94 LFR). 3.3. Atos de falência (→ rol taxativo e, predominantemente, definido por critérios subjetivos ) Art. 94 LFR Será decretada a falência do devedor que: III- pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial: a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos; b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não; c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo; Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 15 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor; e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo; f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento; g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial. a) Liquidação Antecipada É a hipótese em que a sociedade empresária liquida seu negócio de forma abrupta, vende os bens ativos (não circulante) indispensáveis à exploração da atividade, sem reposição. Doutra maneira a sociedade empresária emprega meios ruinosos e fraudulentos para realizar pagamentos, como contratar novos empréstimos para quitar anteriores ou aceita juros exorbitantes. b) Negócio Simulado É a hipótese em que a sociedade empresária retarda pagamentos ou frauda credores por meio de negócios simulados, ou ainda, aliena, parcial ou totalmente, seu ativo circulante. Ressalta-se que o ato deve ser praticado “com objetivo de...”. O critério subjetivo é a intenção do devedor de lesar os credores. c) Alienação Irregular do Estabelecimento Art. 1.142 CC. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. Art. 1.145 CC. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação. Trespasse é o contrato de compra e venda do estabelecimento empresarial através do qual ocorre a transferência de sua titularidade. Assim o estabelecimento deixa de integrar o patrimônio de um empresário e passa a ser objeto de direito de propriedade de outro. Caso sociedade empresária venda seu estabelecimento comercial (art. 1.142 CC), sem conservar bens suficientes para responder pelo seu passivo (art. 1.145 CC), estará sujeita a falência. Nesse caso o critério é objetivo, isto é, é irrelevante a intenção do devedor, entretanto devem estar presentes ambos os pressupostos: a) não concordância dos credores, e b) não restar bens suficientes para saldar as dívidas existentes. d) Transferência Simulada do principal estabelecimento Semelhante ao caso anterior, entretanto o termo ‘simulação’ assume relevância no dispositivo legal. Se motivo da mudança do estabelecimento principal visa a racionalidade empresarial, não configura ato de falência, posto não visar prejuízos aos credores. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 16 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Nessa situação exige-se a demonstração do elemento subjetivo: intenção de burlar a lei, a fiscalização ou prejudicar os credores. e) Garantias reais Nesse caso o devedor institui garantia real (hipoteca, penhor...) visando favorecer um dos credores em detrimentos dos demais. A garantia deve ter ocorrido após a constituição do crédito, visando ferir par conditio creditorum ou princípio da igualdade entre os credores. Nesse caso critério objetivo, constituídos em a) criação ou reforço da garantia credor por dívida contraída anteriormente e b) ficar sem recursos suficientes para saldar o passivo remanescente. f) Abandono estabelecimento empresarial Nessa hipótese o devedor ‘fugitivo’ abandona seu estabelecimento (ou se oculta) sem deixar representante com recursos suficientes. Estas duas situações devem se apresentar cumulativamente. g) Descumprimento obrigações assumidas no plano de recuperação judicial Se a sociedade empresária é beneficiada pela recuperação judicial, ela não pode deixar de cumprir, sem justificativa qualquer, as obrigações assumidas no plano de reorganização financeira. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 17 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor 4. Competência e Universalidade do juízo falimentar A competência para apreciação do juízo falimentar é da comarca do principal estabelecimento do devedor, junto à justiça estadual. Entende-se como principal estabelecimento aquele onde se concentra o maior volume de negócios da empresa, trata-se, portanto, de conceito econômico. O juízo da falência é unitário, pois atrai para si todos ospedidos de falência posteriores (art. 78 LFR). Assim o juízo para o qual for distribuído o primeiro pedido torna-se prevento (sem sentença). O juízo da falência é universal (com sentença), pois atrai para si todas as ações movidas contra a massa falida, cabe ressaltar que há exceções, dentre elas (art. 76 caput LFR): a) ações em que a massa falida figura como autora ou litisconsorte ativo; b) ações que versam sobre quantias ilíquidas, iniciadas antes da sentença de falência (art. 6° §1° LFR), até que seja liquidada; c) reclamatórias trabalhistas, até liquidação (art. 6° §2° LFR); d) execuções fiscais (art. 118 CTN); e) ações em que a união é parte - justiça federal e não a estadual (art. 109, I CF); f) execuções cuja hasta pública já está designada antes da sentença de falência (celeridade); Obs: não há juízo universal da recuperação judicial Art. 76 LFR O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas c, fiscais d e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo a. Art. 78 LFR Os pedidos de falência estão sujeitos a distribuição obrigatória, respeitada a ordem de apresentação. Parágrafo único. As ações que devam ser propostas no juízo da falência estão sujeitas a distribuição por dependência. 5. Processo Falimentar O processo falimentar desdobra-se em três etapas: fase pré-falimentar → pedido de falência; fase da falência → realização do ativo e pagamento dos credores; reabilitação do falido → verificação e satisfação do passivo; Vimos que o pedido de falência contencioso se fundamenta nas seguintes situações (art. 94 LFR). ∆ impontualidade injustificada, a inicial deverá estar aparelhada com o título e do respectivo instrumento de protesto (art. 94, §3° LFR – item 3.1); ∆ execução frustrada, a inicial deverá estar aparelhada com certidão expedida pelo juízo, em que se processa a referida execução (art. 94, §4° L F – item 3.2); ∆ atos de falência, a inicial, além da descrição detalhada dos referidos atos, deverá estar aparelhada com as provas pertinentes e requerer as que serão produzidas (art. 94, §5° LFR – item 3.3). Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 18 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor 5.1.1. Defesas pré-falimentares. O devedor terá prazo de 10 dias para defesa (art. 98 LFR), com as seguintes opções: ∆ Apresenta somente a defesa; ∆ Não apresenta defesa, mas faz o depósito elisivo (art. 98, pu LFR); ∆ Apresenta defesa e faz depósito elisivo (art. 98, pu LFR); ∆ Não apresenta defesa e não faz o depósito elisivo; Art. 98 LFR Citado, o devedor poderá apresentar contestação [defesa] no prazo de 10 dias. Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei, o devedor poderá, no prazo da contestação [defesa], depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios [depósito elisivo], hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor. O depósito elisivo consiste no depósito judicial em dinheiro do valor da dívida, acrescido de juros e correção monetária, honorários advocatícios (Súmula 29, STJ e art. 98, pu LFR). Súmula 29 STJ. No pagamento em juízo para elidir falência, são devidos correção monetária, juros e honorários de advogado. O depósito elisivo na prática inibe a decretação de falência, entretanto uma situação deve estar bem clara: no caso do pedido de falência seja fundada na impontualidade*, caso haja o pedido de suspensão do feito, obrigatoriamente haverá a extinção do feito: autor pede suspensão → extinção * (descaracteriza a impontualidade) autor pede desistência → antes citação: opção do autor → depois citação: anuência do réu → após sentença: impossível Incidentalmente, o devedor pode requerer a recuperação judicial, conforme prevê o art. 95 LF, assim, com a aceitação pelos credores, como causa impeditiva da falência (vale como “defesa”). Art. 95 LFR. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação judicial. É legítima a participação do Ministério Público, mas somente após concurso de credores, posto que antes disso só há uma discussão de direitos patrimoniais e disponíveis. Nesse sentido, havendo então o concurso de credores, a participação do Ministério Público é exigível, lembrando que nessa “disputa” integram os interesses dos trabalhadores, do fisco e, também, de partes vulneráveis. Na prática, o juiz, após o prazo de manifestação do requerido (devedor) remeter os autos para que o Ministério Público se familiarize com a lide. 5.1.2. Causas Impeditivas da Falência. São as hipóteses elencadas no art. 96 LRF (tratamos no item 3.1.1). Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 19 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor 5.2. Sentença de decretação de falência → Pressuposto Formal A sentença declaratória* de falência é o ato judicial que encerra a fase pré-falimentar e inicia a fase falimentar. * alguns autores destacam a natureza constitutiva, pois a partir desse ponto torna-se inafastável a instauração do processo de execução concursal contra o réu devedor, alterando assim a relação entre credores e o devedor, mas tem reflexo no nosso atual estudo. Além dos requisitos genéricos da sentença, como relatório, fundamento e dispositivo (art. 489 CPC), a sentença de falência deverá conter (art. 99 LFR): a) identificação do falido; b) determinar que o falido entregue o rol dos credores na secretaria; c) termo legal da falência**; d) prazo da habilitação dos credores; e) ordem de suspensão execuções e ações judiciais contra o falido; f) ordem de proibição alienação e oneração dos bens do falido, salvo mediante ordem judicial; g) determinação à junta comercial para anotar a falência, nos estados que o falido tiver estabelecimentos empresariais; h) nomeação do administrador judicial; i) ordem de lacração do estabelecimento empresarial, quando houver risco de comprometimento à arrecadação dos bens; j) autorização para continuidade da empresa pelo administrador judicial, se ver cabível; k) determinação da intimação do MP; l) determinação da expedição carta às fazendas federal, estadual e municipal, nos estados e municípios, que o falido tiver estabelecimentos empresariais; m) decretação da prisão preventiva, se for o caso, do representante legal da sociedade. termo legal da falência** é o lapso temporal anterior à decretação da falência, em que os atos praticados pelo devedor são considerados presumivelmente irregulares, ou seja, teoricamente são fraudulentos, ensejando uma investigação pelo administrador judicial, podendo ser declarados ineficazes em relação à massa falida. O lapso temporal (art. 99, inciso II, LFR) de até 90 dias (prazo máximo) a contar retroativamente: i.do primeiro protesto por falta de pagamento – (impontualidade ou execução frustrada); ii.da petição inicial da falência – (autofalência ou atos de falência), e iii. do requerimento de convolação em falência – (recuperação judicial/extrajudicial) Da sentença de decretação de falência cabe agravo de instrumento (15 dias - art. 1.015 CPC e art. 100, primeira parte LFR) e de improcedência cabe apelação (15 dias - art. 1.003 §3º CPC e art. 100, segunda parte LFR) e, sendo doloso o pedido de falência, gera indenização ao devedor (art. 101 LFR). Art. 100 LFR Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 20 proibida a reprodução ou distribuição- somente com autorização expressa do autor 5.3. Administração da falência Com a sentença declaratória de falência o falido é desapossado de seus bens e perde o direito de administrá-los. A falência é administrada ou presidida (a) pelo juiz, com auxílio do (b) representante do Ministério Público e colaboração de órgãos da falência, como (c) administrador judicial; (d) a assembleia de credores e (e) o comitê de credores. (a) Juiz O juiz é a autoridade que preside o processo de falência. Por sentença declara o estado de falência, submetendo o falido à sua disciplina (função jurisdicional). O juiz também atua em face dos fatos, autorizando a venda dos bens da massa falida (fácil deterioração); aprovando os contratos de serviços dos peritos, contadores, avaliadores e auxiliares; aprovação de contas do administrador judicial (função administrativa). b) Ministério Público O representante do Ministério Público intervém no concurso de credores como fiscal da lei (impugnação de créditos – art. 8° LFR – ou propor ação revocatória – art.132 LFR) ou parte (oferecimento de denúncia por crime falimentar). O parquet também tem funções administrativas, atuando como auxiliar do juiz, como manifestar sobre contas do administrador judicial. Sua participação é obrigatória somente nas situações previstas em lei, entretanto na prática se verifica ser mais abrangente, o que, entretanto, não se revela ilegal ou ilegítima, pois atua como custos legis. Art. 8º LFR. No prazo de dez dias, contado da publicação da relação referida no art. 7º, § 2º, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado. Art. 19 LFR. O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de credores. Art. 30 LFR. Não poderá integrar o Comitê ou exercer as funções de administrador judicial (...) § 2º O devedor, qualquer credor ou o Ministério Público poderá requerer ao juiz a substituição do administrador judicial ou dos membros do Comitê nomeados em desobediência aos preceitos desta Lei. Art. 132 LFR. A ação revocatória deverá ser proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 (três) anos contado da decretação da falência. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.htm Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 21 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Art. 142. O juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à orientação do Comitê, se houver, ordenará que se proceda à alienação do ativo em uma das seguintes modalidades: §7º Em qualquer modalidade de alienação, o Ministério Público será intimado pessoalmente, sob pena de nulidade c) Administrador Judicial O administrador judicial (PJ/PF) é o principal colaborador do juiz na condução do processo falimentar (lei antiga → síndico) e sua escolha é feita pelo juiz, devendo ser tecnicamente qualificado para tal encargo (art. 21 LFR) e nomeado, na sentença que decretar a falência (art. 99, inciso IX LFR) ou despacho que deferir o processamento da recuperação judicial (art. 52, I LFR), observando-se os impedimentos legais (art. 30 LFR e Provimento 797/2003 CSM), logo sua função é indelegável. Entretanto cabe ressaltar que este pode requer auxílio de profissionais contratados, desde que solicite prévia autorização do juiz. Não há falência ou recuperação judicial sem um administrador judicial. Se no meio do processo administrador falece, o juiz suspende o processo e faz nova nomeação. Art. 21 LFR O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador [pessoa física], ou pessoa jurídica especializada [pessoa jurídica]. Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz. Art. 30 LFR Não poderá integrar o Comitê [de credores] ou exercer as funções de administrador judicial quem, nos últimos cinco anos, no exercício do cargo de administrador judicial ou de membro do Comitê [de credores] em falência ou recuperação judicial anterior, foi destituído, deixou de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestação de contas desaprovada. §1o Ficará também impedido de integrar o Comitê [de credores] ou exercer a função de administrador judicial quem tiver relação de parentesco ou afinidade até o terceiro grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente. (...) Art. 2º Provimento 797/2003 CSM. Caberá ao profissional nomeado pela primeira vez a apresentação, ao respectivo Ofício de Justiça, no prazo de dez dias, de sua qualificação pessoal e dos seguintes documentos: 2. Declaração, sob as penas da lei, de que não tem vínculo de parentesco sanguíneo, por afinidade ou civil por linha ascendente, descendente ou colateral, até quarto grau, com os juízes e servidores da unidade judiciária em que há de atuar. Parágrafo único. Para os fins do disposto no item 2 acima e no artigo 13, compreendem-se no conceito de afinidade os vínculos decorrentes de união estável, com companheiro(a) e parentes. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 22 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor O administrador judicial tem a função de representante da comunhão dos interesses dos credores (propor ações, recebendo citações, etc.), desse modo não goza de autonomia absoluta, deve ter anuência de seus atos pelo juiz e pelos credores (como, por exemplo, transigir ou dar descontos em créditos, mesmo de difícil cobrança – art. 22, §3°, LFR). As atribuições do administrador judicial, tanto na falência quanto na recuperação judicial, estão basicamente dispostas no art. 22 LFR e seus incisos (I- RJ/FL; II- FL; III- RJ). O administrador judicial tem atuação diferente nos dois institutos (LF e RJ): na falência o administrador judicial assume a administração dos bens da massa falida; e na recuperação judicial a empresa se mantém com seus administradores próprios. O administrador judicial poderá exigir dos credores, do devedor, ou seus administradores, quaisquer informações que interprete necessárias, sem necessidade de requerê-las ao juiz. Destacamos cinco atos processuais de responsabilidade do administrador judicial: 1) relatório inicial: examine das causas e circunstâncias que acarretaram a falência, e análise do comportamento do falido com vistas e eventual caracterização de crime falimentar, por ele ou outra pessoa, antes ou depois da decretação da quebra (art. 22, III, “e” LFR); 2) verificação dos créditos: feita administrador judicial, cabendo ao juiz apenas as impugnações apresentadas pelos credores ou interessados (art. 7º LFR); 3) consolidar o quadro-geral de credores: (art. 18 e 22, inciso I, “f” LFR); 4) contas mensais: o administrador judicial deve até o 10° dia de cada mês apresentar ao juiz para juntar aos autos a prestação de contas relativa ao período mensal anterior, especificandocom clareza à receita e despesa da massa falida (art. 22, III, “p” LFR); 5) relatório final: deverá conter (art. 155 LFR): I- o valor do ativo e do produto de sua realização; II- o valor do passivo e dos pagamentos feitos; e, se não foram totalmente extintas as obrigações do falido, III- o saldo cabível a cada credor, especificando e justificando a responsabilidade com que continua o falido. Isso dentro do prazo de 10 dias, contados do término da liquidação e do julgamento de suas contas. O administrador judicial presta contas em duas oportunidades: i. ao término do processo (ordinária – art. 154 LFR); e ii. no caso de renúncia/destituído/substituído (extraordinária - art. 22, inciso III ‘r’ LFR). O administrador judicial tem direito a uma remuneração arbitrada pelo juiz, cujo valor não poderá exceder a 5% do montante obtido com a alienação dos bens da massa falida, recebendo esse montante em duas parcelas: a primeira de 60% da remuneração, quando do atendimento dos créditos extraconcursais (com preferência da sua remuneração), e a segunda, dos restantes 40%, ao final após a aprovação das contas (contas não aprovadas → sem remuneração). d) Assembleia de Credores Os credores reunidos convergem no interesse na realização dos ativos, e divergem na indicação de quem recebe primeiro seu crédito. A vontade da massa de credores é “interpretada” pelo juiz, mas em determinadas oportunidades reúnem-se em assembleia para deliberar. A assembleia é presidida pelo administrador judicial e convocada conforme previsão legal (art. 22, I, ‘g’; art. 36 §2º; art. 52 §2º e §4º; art. 56; art. 65; art. 72; art. 73, I; art. 99, XII; art. 145 LFR). Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 23 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Assim, a assembleia de credores é o órgão colegiado e deliberativo da falência, constituído pelos credores, presidida pelo administrador judicial, e que tem as seguintes atribuições (art. 35, II, LRF): ∆ deliberar sobre a constituição do comitê de credores, elegendo seus membros; ∆ aprovar, por 2/3 dos créditos, uma forma alternativa de realização dos ativos; ∆ deliberar sobre qualquer matéria de interesse dos credores. A assembleia de credores tem em sua composição: um representante efetivo de cada classe de credores, com cada voto proporcional ao crédito, também com dois suplentes: ∆ trabalhistas/acidente trabalho; ∆ com direitos reais de garantia; e ∆ quirografários e privilégios gerais (art.41 LFR). e) Comitê de Credores O comitê de credores é órgão facultativo(*) e não remunerado pela falência(**), exercendo funções precipuamente fiscalizadoras durante a tramitação de todo o processo falimentar. A instalação do comitê pode ser determinada pelo juiz, na sentença de falência, ou pela assembleia de credores, por deliberação. (*) Dependendo da complexidade e volume da massa falida. (**) Os membros do comitê de credores são custeados pelos credores (representados) Sua existência decorre do porte da devedora(*), posto que as despesas são suportadas pelos credores(**) e sua função precípua é de fiscalizar a administração da recuperação judicial, ou seja, fiscalizar tanto o administrador judicial (art. 22 caput LFR) quanto a sociedade em recuperação. Art. 22 LFR. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê [de credores], além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: Art. 29 LFR Os membros do Comitê [de credores] não terão sua remuneração(**) custeada pelo devedor [recuperação] ou pela massa falida [falência], mas as despesas realizadas para a realização de ato previsto nesta Lei, se devidamente comprovadas e com a autorização do juiz, serão ressarcidas atendendo às disponibilidades de caixa. Os membros do comitê de credores têm livre trânsito nas dependências da sociedade em recuperação, bem como a seus livros ou quaisquer outros documentos pertinentes. Assim, constatadas irregularidades, o comitê de credores, por maioria de votos, pode encaminhar diretamente ao juiz, para que sejam tomadas as devidas providências. Fora essa função principal de fiscalizar, tem prerrogativa na recuperação judicial de elaborar e apresentar um plano de recuperação alternativo ao já apresentado pelo devedor, e deliberar sobre as alienações de bens do ativo permanente e sobre o aumento de dívidas para a continuidade da atividade empresarial, quando o juiz determinar o afastamento dos administradores da empresa em crise. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 24 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor O comitê de credores tem em sua composição: um representante efetivo de cada classe de credores, também com dois suplentes (idem à assembleia de credores), com rol de impedidos no art. 30 LFR (item 5.3.“c”): ∆ trabalhistas/acidentes de trabalho; ∆ com direitos reais de garantia; e ∆ quirografários e privilégios gerais (art.41 LFR). O juiz só irá recusar a nomeação se houver relevante motivo, caso contrário, deverá acatar a escolha. Os credores indicam e o juiz nomeia (ou destitui). 5.4. Efeitos da sentença de decretação da Falência (Fase Falimentar) a) dissolução da pessoa jurídica do falido: é causa da extinção das sociedades...; b) paralisação da atividade econômica do falido: satisfação dos credores...; c) responsabilização dos sócios: houve crime falimentar? (art. 181 e 187 LFR); d) arrecadação dos bens: bens do falido em posse de terceiros; bens de terceiros em posso do falido - pedido de restituição*; penhora antes da sentença; execuções que não suspendem a falência; • art. 129 LF (critério objetivo) – ofício; • art. 130 LF (critério subjetivo) – ação revocatória ** (credor, administrador judicial, MP); e) ineficácia dos negócios jurídicos em andamento (obrigações): f) efeitos quanto a pessoa do falido; g) efeitos aos credores; e h) suspensão do prazo prescricional. a) Dissolução da pessoa jurídica do falido A falência é, por excelência, causa extintiva da sociedade empresária (art. 1.044 CC) desfazendo, assim, todos os vínculos entre os sócios. Com a decretação da quebra, extingue-se a pessoa jurídica da sociedade falida (Civil I – Pessoa Jurídica e Empresarial I – extinção das sociedades) Art. 1.087 CC. A sociedade dissolve-se, de pleno direito, por qualquer das causas previstas no art. 1.044. Art. 1.044 CC. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência. b) Paralisação da atividade econômica do falido; Nesse viés, é de se pensar que a dissolução da sociedade acarreta, automaticamente, a paralisação de suas atividades, mas pelo princípio da preservação da empresa pode-se buscar alternativas para garantir a continuidade da atividade econômica. Assim, admite-se que o juiz, na sentença que decrete a quebra da empresa, mas autorize que, provisoriamente, a continuidade da atividade econômica, quando se mostrar útil ao cumprimento das finalidades da execução concursal. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 25 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor c) responsabilização dos sócios: houve crime falimentar? (art. 181 e 187 LFR) A falência é da pessoa jurídica e não de seus membros, entretanto seus sócios sofrem com efeitos da sentença que declara a quebra e os expõem a diversas consequências, dependendo das funções exercidas na empresa e do tipo de sociedade. Os representantes legais da sociedade (administrador da limitada ou diretor da sociedade anônima) têm obrigações processuais na falência. Quando se trata da sociedade limitada ou anônima, o sócio ou acionista não está impedido de participar ou de continuar participando de outra sociedade empresária. A lei vedaapenas as pessoas condenadas por crime falimentar de participar da administração modalidade de sociedade empresária enquanto não obtiver a reabilitação penal (art. 1.011, §1° CC e art. 181, §1° LFR). Quando se trata de sociedade de responsabilidade ilimitada (em nome coletivo, comandita simples ou por ações) os sócios de responsabilidade ilimitada estão impedidos de subscrever ou adquirir quotas ou ações de sociedades, novas ou já existentes. Art. 181 LFR São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei: I– a inabilitação para o exercício de atividade empresarial [empresário individual]; II– o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei; III– a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio. §1º Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença, e perdurarão até cinco anos após a extinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar antes pela reabilitação penal. Art. 1.011 CC. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios. §1º Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados à pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar (...) enquanto perdurarem os efeitos da condenação. d) arrecadação dos bens Os bens arrecadados pertencentes à sociedade empresarial falida (mesmo os que não estão em sua posse) pelo administrador judicial, representante legal da massa falida, comporão o auto da arrecadação contemplando: a) termo de inventário detalhado desses bens e b) laudo que informará a avaliação de cada um deles. Os bens arrecadados que não pertencem à sociedade empresária falida (que estão somente em sua posse) serão apartados da massa falida e podem ser requisitados pelas partes interessadas por meio de pedido de restituição*. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 26 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Pedido de restituição * O administrador judicial tem o dever de arrecadar todos os bens que estejam em posse do falido, não lhe competindo decidir se um bem integra ou não o patrimônio, ou restituí-lo amigavelmente. Pedido de restituição é a ação incidental proposta pelo titular de bem indevidamente arrecadado (o autor não é credor da massa falida), que se encontre na posse do falido. São quatro as possibilidades de pedidos de restituição: Δ Titular direito real sobre bem (art. 85, caput, LFR), que deverá ser entregue ao proprietário em 48 horas (art. 88, caput, LFR) e caso a coisa não mais exista deverá ser pago em dinheiro (art. 86, inciso I, LFR); Δ Entrega do bem, sem receber preço, 15 dias antes pedido de falência## (art. 85, parágrafo único, LFR e Súmula 475 STJ), que deverá ser entregue ao proprietário em 48 horas (art. 88, caput, LFR) e caso a coisa não mais exista deverá ser pago em dinheiro (art. 86, inciso I, LFR); Δ Terceiro que fez adiantamento ao exportador que faliu. Caso venha a falir a vendedora no contrato de câmbio (exportadora), a instituição financeira terá direito a restituição do valor adiantado à falida (art. 86, II LF c/c art. 75, §2° §3° L 4.728/65), independente do prazo do adiantamento## (Súmula 133 STJ), que deverá ser pago em dinheiro (art. 86, inciso II, LFR) antes de qualquer crédito (Súmula 307 STJ); Δ Procedência ação revocatória**, com terceiro de boa-fé (art. 136, caput, LFR), que também deve ser pago em dinheiro (art. 86, inciso III, LFR) Art. 85 LFR O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir sua restituição *. Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada. Direito. Art. 136 LFR Reconhecida a ineficácia ou julgada procedente a ação revocatória **, as partes retornarão ao estado anterior, e o contratante de boa- fé terá direito à restituição* dos bens ou valores entregues ao devedor. Art. 86 LFR Proceder-se-á à restituição em dinheiro: I– se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em que o requerente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos os casos no valor atualizado; II– da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3° 4° L 4.728/65, desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente; III– dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese de revogação ou ineficácia do contrato, conforme art. 136 da Lei. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 27 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Art. 75 L 4.728/65. O contrato de câmbio, desde que protestado por oficial competente para o protesto de títulos, constitui instrumento bastante para requerer a ação executiva. §2º Pelo mesmo rito, serão processadas as ações para cobrança dos adiantamentos feitos pelas instituições financeiras aos exportadores, por conta do valor do contrato de câmbio, desde que as importâncias correspondentes estejam averbadas no contrato, com anuência do vendedor. §3º No caso de falência ou concordata, o credor poderá pedir a restituição* das importâncias adiantadas, a que se refere o parágrafo anterior. Súmula 36 STJ. A correção monetária integra o valor da restituição, em caso de adiantamento de câmbio, requerida em concordata ou falência. Súmula 133 STJ. A restituição da importância adiantada, a conta de contrato de câmbio, independe de ter sido a antecipação efetuada nos quinze dias anteriores ao requerimento da concordata. Súmula 307 STJ. A restituição de adiantamento de contrato de câmbio, na falência, deve ser atendida antes de qualquer crédito. Súmula 495 STF - Restituição em Dinheiro da Coisa Vendida a Crédito - Falência ou Concordata - Cabimento - Coisa Consumida ou Transformada - Prova de Alienação a Terceiro. A restituição em dinheiro da coisa vendida a crédito, entregue nos quinze dias anteriores ao pedido de falência ou de concordata, cabe, quando, ainda que consumida ou transformada, não faça o devedor prova de haver sido alienada a terceiro Art. 88 LFR. A sentença que reconhecer o direito do requerente determinará a entrega da coisa no prazo de quarenta e oito horas. Parágrafo único. Caso não haja contestação, a massa não será condenada ao pagamento de honorários advocatícios. Demais tratativas do andamento do pedido de restituição Art. 89 LFR. A sentença que negar a restituição, quando for o caso, incluirá o requerente no quadro-geral de credores, na classificação que lhe couber, na forma desta Lei. Art. 90 LFR. Da sentença que julgar [procedente ou improcedente] o pedido de restituição caberá apelação sem efeito suspensivo. Parágrafo único. O autor do pedido de restituição que pretender receber o bem ou a quantia reclamada antes do trânsito em julgado da sentença prestará caução. Art. 91 LFR. O pedido de restituição suspende a disponibilidade da coisa até o trânsito em julgado. Parágrafo único. Quando diversos requerentes houverem de ser satisfeitos em dinheiro e não existir saldo suficiente para o pagamento integral, far-se-á rateio proporcional entre eles. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 28 proibidaa reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor Ação revocatória ** O termo “revocatória” advém de “revocar”, que tem significado de “chamar para si, trazer de volta”, não se confunde, portanto, com “revogar” (o texto legal usa o termo “revogar” - art. 130 LFR). Ação revocatória é meio pelo qual se retira a eficácia de certos atos praticados pelo devedor, antes da declaração de falência, em relação à massa falida. Visa reintegrar bens ao patrimônio do falido, que foram transferidos a terceiro mediante a prática de ato com objetivo de prejudicar credores. Propugna o art. 132 LF que a ação revocatória deverá ser proposta no prazo de três anos contados da decretação da falência, sendo legitimados ativos: Administrador Judicial, Ministério Público e qualquer credor. Art. 132 LFR A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 (três) anos contado da decretação da falência. Podemos então classificar as ações revocatórias, por critérios objetivos ou subjetivos: A) critério objetivo: O art. 129 LFR trata das hipóteses em que caberá ação revocatória independentemente de ter o devedor agido com fraude, já que cuida de atos que, presumidamente, causam danos à massa falida. Desnecessidade de comprovação do elemento subjetivo consilium fraudeis, basta para sua admissibilidade que o fato tenha ocorrido no lapso temporal do termo legal de falência ou nos dois anos anteriores da quebra (sentença decretação de falência). Temos, então, um “procedimento interno”, pois a questão fica submetida ao juízo da falência, com presunção de fraude aos credores pela lei da falência, e a coisa está na posse da massa falida. Art. 129 LFR São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores. B) critério subjetivo: O art. 130 LFR utiliza o termo “revogáveis”, entretanto o resultado da ação revocatória também continua no plano da eficácia, pois o ato permanece íntegro e válido, mas não surtirá efeitos em relação à massa. Aqui há a necessidade de comprovação dos elementos subjetivos consilium fraudeis e eventus damni através da ação revocatória stritu sensu. Temos, então, uma ação judicial típica, pois a questão fica submetida ao juízo da falência, com necessidade de prova de fraude aos credores pela massa falida, e a coisa está na posse do autor. Art. 130. LFR São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida. e) ineficácia dos negócios jurídicos em andamento: A sentença declaratória de falência passa a disciplinar os contratos do falido por normas especiais. Os efeitos variam conforme a natureza do contrato: unilateral e bilateral (art. 117 e 118 LFR – CIVIL III), entretanto cabe ressaltar a importância da anuência concomitante de dois órgãos da falência: administrador judicial e comitê de credores para prosseguimento dos contratos, quaisquer que sejam as modalidades. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 29 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor e.1) unilaterais em que falido é o devedor: Δ vencimento antecipado na forma do art. 77 LFR (hipótese padrão); Δ administrador judicial, autorizado pelo comitê de credores, pode lhe dar cumprimento se for de interesse da massa (hipótese excepcional - art. 118, primeira parte, LFR). e.2) unilaterais em que o falido é o credor: Têm o seu prosseguimento normal (hipótese padrão - art. 118, segunda parte, LFR), pois há de interesse da massa Art. 118 LFR O administrador judicial, mediante autorização do Comitê [de credores], poderá dar cumprimento ao contrato unilateral se esse fato reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida [primeira parte] ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos, realizando o pagamento da prestação pela qual está obrigada [segunda parte]. e.3) bilaterais: Δ não se resolvem de plano pela falência, cabendo ao administrador judicial decidir pelo seu rompimento ou pelo prosseguimento se for de interesse da massa falida, mediante autorização do comitê de credores (art. 117 LFR); Δ em contrapartida, a rescisão dará ao terceiro inocente direito a indenização a ser apurada no juízo falimentar, cujo saldo constituirá crédito quirografário (art. 117 §2° LFR); e Δ existência de cláusula contratual expressa de resolução do contrato em caso de falência (vontade das partes, não por determinação legal). Art. 117 LFR Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê. §1º O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90 dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro de 10 dias, declare se cumpre ou não o contrato. §2º A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário, constituirá crédito quirografário. Além dos contratos do falido, teremos reflexos em outras obrigações do falido: Δ Cessação de mandato para a realização de negócios, conferido pelo devedor antes da falência, havendo a necessidade da prestação de contas (art.120 LFR). Art. 120 LFR O mandato conferido pelo devedor, antes da falência, para a realização de negócios, cessará seus efeitos com a decretação da falência, cabendo ao mandatário prestar contas de sua gestão. §1º O mandato conferido para representação judicial do devedor continua em vigor até que seja expressamente revogado pelo administrador judicial. Direito Empresarial III – Prof. Dr. Carlos da Fonseca Nadais 30 proibida a reprodução ou distribuição - somente com autorização expressa do autor §2º Para o falido, cessa o mandato ou comissão que houver recebido antes da falência, salvo os que versem sobre matéria estranha à atividade empresarial. Δ Encerramento de contas correntes com o falido, com verificação dos saldos (art.121 LFR). Art. 121 LFR As contas correntes com o devedor consideram-se encerradas no momento de decretação da falência, verificando-se o respectivo saldo. Δ Todos os credores só poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócio ilimitadamente na forma da LFR (art. 115 LFR). Art. 115 LFR A decretação da falência sujeita todos os credores, que somente poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócio ilimitadamente responsável na forma que esta Lei prescrever. Δ Suspensão do exercício do direito de retenção (Civil I - benfeitorias, II e IV – locação de imóveis) e do direito de retirada (Empresarial II - Apuração de haveres) ou recebimento do valor de ações/quotas (art. 116, inciso I e II, LFR). Art. 116 LFR. A decretação da falência suspende: I- o exercício do direito de retenção sobre os bens sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues ao administrador judicial; II- o exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas ou ações, por parte dos sócios da sociedade falida. f) efeitos quanto a ‘pessoa’ do falido (pessoa física) f.1) proibição de se ausentar do local da falência (art. 104, III e IV LFR) O falido só poderá ausentar-se da comarca com justo motivo, com autorização do juiz e deixando um bastante procurador posto que enquanto perdurar o processo de falência tem obrigação de comparecer a todos os atos da falência (não é de caráter punitivo - não
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