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Quando_um_liquen_e_como_um_canario

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Quando um líquen é como um canário? 
 
Os mineradores de carvão do século XIX levavam canários para as minas – não para 
apreciar seu canto, mas para aguardar o momento em que paravam de cantar. Era dessa 
forma que os mineradores percebiam a hora de sair da mina, porque o ar continha 
metano, que podia se inflamar e explodir. 
 
Hoje, utilizamos equipamentos sofisticados para monitorar a qualidade do ar, mas seres 
vivos, como os liquens, também podem indicar a má qualidade do ar. Os liquens 
consistem de um fungo e uma alga que vivem em conjunto, em uma parceria de 
benefício mútuo (mutualísticas). Provavelmente, você já viu liquens crescendo como 
crostas ou estruturas frondosas em pedras, paredes, lápides e troncos de árvores, ou 
pendurados em ramos ou galhos. 
 
Essas espécies pioneiras resistentes são ótimos indicadores biológicos da poluição do ar, 
porque o absorvem continuamente como uma fonte de nutrição. Uma área poluída perto 
de uma indústria pode não ter nenhum líquen ou ter somente liquens incrustados verde-
acinzentados. Uma área com poluição do ar moderada pode apresentar liquens 
alaranjados incrustados em paredes. Paredes e árvores em locais onde o ar é 
razoavelmente limpo podem ter liquens frondosos. 
 
Algumas espécies de liquens são sensíveis a poluentes de ar específicos. A barba-de-
velho (Usnea trichodea) e o líquen Evernia amarelo, por exemplo, adoecem ou morrem 
quando há dióxido de enxofre em excesso. 
 
Como são muito espalhados, os liquens possuem vida longa e fixam-se em um local. Eles 
podem ajudar a rastrear o poluente até sua origem. Isle Royale, no Lake Superior, é um 
local onde nunca houve carro ou chaminé. O cientista que descobriu dióxido de enxofre 
no local utilizou os liquens Evernia para apontar o norte, em direção a instalações que 
queimavam carvão em Thunder Bay, no Canadá. 
 
Em 1986, a usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu e liberou partículas 
radioativas na atmosfera. Algumas dessas partículas caíram no solo do norte da 
Escandinávia e foram absorvidas pelos liquens que cobriam o chão da Lapônia. O povo 
sami do local dependia da carne das renas como alimento, e esses animais alimentavam-
se dos liquens. Depois de Chernobyl, mais de 70 mil renas tiveram de ser sacrificadas e a 
carne, eliminada, porque continha muita radiação para ser ingerida. Os cientistas 
ajudaram os samis a identificarem quais das renas restantes deveriam ser eliminadas, 
analisando os liquens para detectar as áreas mais contaminadas. 
 
Todos respiramos uma atmosfera global comum, na qual as correntes de era e os ventos 
transportam poluentes por longas distâncias. Os liquens podem nos alertar do perigo, 
mas, no que diz respeito a qualquer forma de poluente, a melhor solução é a prevenção. 
 
Fonte: MILLLER JÚNIOR, G. T. Ciência ambiental. 11. ed. São Paulo: Cengage Learning, 
2007.

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