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ENFERMAGEM EM EMERGÊNCIA ENFERMAGEM MÓDULO 4 107 6 ENFERMAGEM EM EMERGÊNCIA A enfermagem participa em todos os processos do atendimento, seja na urgência ou na emergência. A urgência diz respeito aos eventos graves, que devem ser resolvidos prontamente, mas não se caracterizam enquanto imediatistas. Embora deva haver empenho para que o paciente seja tratado e não corra risco de morte, as ações podem ser planejadas. A emergência é uma situação de extrema gravidade, que deve ser imediatamente tratada, correndo o risco, em caso contrário, de o paciente vir a óbito ou apresentar uma sequela irreversível. Esta disciplina abordará o papel da enfermagem diante de eventos considerados de emergência. 6.1 Triagem na Unidade de Primeiro Atendimento (UPA) ou Hospitais A triagem foi introduzida nos hospitais, particularmente em unidades de emergência, meados de 1950 e 1960. Em Hospitais americanos, esse processo é realizado por enfermeiros, que, além de selecionarem os pacientes por prioridade, têm autonomia para solicitar exames e administrar medicamentos previamente estabelecidos em protocolos institucionais. No Brasil, o enfermeiro é o profissional preparado para exercer a função de “triador”, reconhecida e respaldada pela Lei do Exercício Profissional, cabendo -lhe tanto a “consulta de enfermagem quanto a prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde” (BRASIL, 2001). Desta forma, a triagem envolve as duas funções, embora, em algumas unidades de atendimento, o enfermeiro realize somente a consulta de enfermagem, não havendo, até o momento, protocolos de medicamentos aprovados para serem administrados a partir dos sintomas/sinais identificados na triagem. A avaliação dos próprios pacientes e seus familiares está repleta de dados subjetivos, vinculados a temores, ansiedade ou medo da morte. Cabe o enfermeiro embasado em dados clínicos, dispor de informações objetivas e subjetivas e experiência, além de avaliar qual paciente necessita de atendimento imediato e qual pode esperar. É comum o profissional encontrar dualidades para fazer a sua avaliação e tomar a decisão mais correta ou pertinente. De forma a amenizar dúvidas e incertezas, o serviço de triagem dos hospitais desenvolveu protocolos de atendimento multiprofissional, que permitem auxiliar o enfermeiro na tomada de decisão e, assim, aumentar a precisão da triagem. É importante observar que, em uma emergência, a triagem segue algumas MÓDULO 4 ENFERMAGEM 108 premissas importantes, as quais serão descritas a seguir. ▪ Identificar os pacientes que necessitam de cuidados imediatos; ▪ Encaminhar adequadamente os pacientes ao médico, de acordo com a especialidade, observando-se os protocolos estabelecidos; ▪ Escolher o local adequado para que o paciente seja acomodado e avaliado pelo médico, em caso de o atendimento ser priorizado; ▪ Fornecer informações e orientações aos pacientes e seus familiares na tentativa de amenizar ansiedades decorrentes da procura por unidades de primeiro atendimento, muitas vezes associadas ao estresse. Perfil desejado para o enfermeiro de triagem: A competência exigida para o profissional que realiza a triagem pode variar de hospital para hospital. Dentre as competências exigidas, observam-se: ▪ Conhecimento técnico-científico; ▪ Desejável: Suporte Avançado de Vida em Cardiologia (da sigla em inglês ACLS), Suporte Avançado em Vida em Pediatria (da sigla em inglês PALS), Suporte Avançado de Vida em Trauma (da sigla em inglês ATLS); ▪ Experiência em unidade de emergência; ▪ Comunicação e relacionamento interpessoal adequados; ▪ Habilidades no uso do processo de enfermagem; ▪ Flexibilidade/adaptabilidade; ▪ Tomada de decisão/segurança; ▪ Raciocínio clínico. 6.2 Estrutura Disponível O local da triagem de pacientes que dão entrada em UPAS e Hospitais de emergência está localizado na entrada principal do Hospital, espaço no qual o paciente recebe uma senha de atendimento fornecida por um assistente administrativo que orienta quanto aos procedimentos de atendimento. Há três tipos de senhas de atendimento. Atendimento normal: É observado o atendimento normal para aqueles pacientes que chegam caminhando com dificuldade ou em cadeira de rodas, recebem a senha para atendimento normal e são posteriormente chamados pelo enfermeiro. O tempo médio de uma triagem é de 2 a 3 minutos para um adulto e 3 a 5 minutos para crianças e idosos. Senha preferencial: São as senhas entregues pelo assistente administrativo aos pacientes idosos, ENFERMAGEM MÓDULO 4 109 gestantes, deficientes físicos e mães com crianças de colo, de acordo com a Lei n. 10.048/2.000. Caso o paciente chegue à recepção com sinais de gravidade, ferimentos expostos ou ansiedade exacerbada, o assistente administrativo é orientado a fornecer uma senha preferencial e avisar ao enfermeiro. Neste caso, o enfermeiro, ao realizar a triagem, avalia se realmente é necessário priorizar o caso para ser atendido pelo médico ou se é possível acalmar o paciente e encaminhá-lo ao cadastro. Cadastro: Este tipo de senha é entregue ao paciente em situações de retorno ortopédico (até 15 dias da consulta); procedimentos com a equipe de enfermagem, tais como curativos e troca de sondas; ou medicações com receita médica anexada. Em casos assim, os pacientes não passam pelo processo de triagem. 6.2.1 Instalações e Estrutura Física A Triagem na UPA é realizada em duas salas separadas, permanecendo um enfermeiro 24 horas em cada uma delas. A chamada da senha é feita dentro de sala de triagem e o paciente se dirige ao enfermeiro, que se apresenta e inicia o processo de entrevista. A sala de triagem é composta por um balcão com impressos e material de apoio, duas cadeiras, uma balança, 1 aparelho de pressão manual (esfignomanômetro e estetoscópio), 1 aparelho de glicemia capilar, 1 aparelho multifunção automático com PA não invasiva e oxímetro (mensuração de saturação de O e FC), 1 termômetro individual do profissional, além de gases, luvas, máscaras e um telefone para solicitar a vaga do paciente ao local de destino. A triagem, também chamada de “avaliação inicial, é registrada em impresso próprio, servindo como guia para as perguntas que devem ser feitas e, assim, adquirir informações para o enfermeiro tomar as suas decisões e classificar o nível de atendimentos e especialidades mais adequados. O impresso consta de vinte questões iniciais. As principais, para se chegar a uma decisão, compreendem: queixa principal e duração; sinais vitais; antecedentes pessoais e familiares (quando pertinente); medicações de uso habitual e atual; cirurgias prévias e alegrias. Baseado nas questões do impresso, na inspeção e observação e num rápido exame físico, além do suporte dos protocolos, o enfermeiro é capaz de tomar a decisão e classificar o paciente de acordo com a gravidade e especialidade que deverá avaliá- lo. O processo para a tomada de decisão do enfermeiro deve seguir alguns critérios, conforme descrito a seguir. ▪ Durante a descrição da queixa do paciente, o enfermeiro deve utilizar o raciocínio clínico para registrar e tomar a decisão com segurança. Caso o paciente seja um mau informante, o enfermeiro deve tentar aprofundar a sua entrevista, em busca de uma história mais detalhada, considerando os dados subjetivos, a localização do problema, irradiação, intensidade, história pregressa dos sintomas e, também, dados objetivos, ou seja, MÓDULO 4 ENFERMAGEM 110 observação da aparência física (coloração da pele, como cianose ou palidez, sudorese, etc.). ▪ Avaliação de sinais vitais e conhecimento de suas alterações relacionadas com a queixa do paciente. ▪ Avaliação e associação com outros aspectos, como: uso de medicamentos, problemas de saúde pregressos, antecedentes cirúrgicos(destacando os mais recentes), alegrias, vacinação (destacando o tétano para adultos com ferimento e vacinas da infância para todas as crianças). Desta forma, a triagem da UPA-Hospitais é realizada com o principal objetivo de classificar o paciente quanto à urgência, à especialidade médica que irá atendê-lo e ao local apropriado para este atendimento. A maioria dos serviços utiliza três categorias de tomada de decisão nas triagens: emergência (vermelha), urgência (amarela e não urgência (verde), mais alguns serviços utilizam um sistema de classificação de cinco níveis, também empregado na Austrália, Canadá e Reino Unido, que permite uma avaliação mais confiável e uma classificação mais detalhada das diversas complexidades. A UPA-Hospital utiliza o sistema de três categorias de classificação de tomada de decisão, identificadas pelas cores vermelho, amarelo e verde, correspondentes aos níveis 1, 2 e 3, respectivamente. Em relação às especialidades médicas disponíveis na UPA-Hospital, o paciente poderá ser encaminhado para um clínico, cirurgião, pediatra, ortopedista, neurologista, cardiologista ou ginecologista. A classificação de urgência estabelecida pelo enfermeiro, assim como a especialidade médica indicada são determinadas de acordo com protocolos de atendimento multiprofissionais, médico e equipe de enfermagem, instituídos na UPA a partir de 2004. Estes protocolos auxiliam o enfermeiro na tomada de decisão, pois se apresentam em forma de fluxograma, divididos por queixas mais comuns (sinais e sintomas), destino do paciente (sala de emergência, consultório ou observação), especialidade médica indicada e intervenções de enfermagem imediata (eletrocardiograma, monitorização do paciente, oxigenoterapia, glicemia capilar). Além das especialidades médicas de plantão na UPA-Hospital, o enfermeiro também pode triar o paciente para otorrinolaringologista e oftalmologista, que ficam à distância (retaguarda) da Unidade de Primeiro Atendimento, seguindo um protocolo de tomada de decisão aprovado pelos representantes da equipe multiprofissional e coordenação da UPA-Hospital. Sala de atendimento de emergência: O serviço de emergência devido sua diversidade de situações exige alguns recursos materiais dispostos de forma ordenada e de fácil acesso. A estrutura da unidade de emergência deve ocupar o andar térreo. O planejamento físico da unidade tem alguns propósitos básicos que são: a criação de espaços para abrigar equipamentos e permitir livre circulação da equipe de trabalho; a eficácia nos ENFERMAGEM MÓDULO 4 111 atendimentos, através de recursos; a redução de ações improvisadas; a assistência será mais completa se aliada a recursos materiais e ambiente físico adequados; atendimento com segurança, eficácia no uso do pessoal e equipamento, que a unidade pode desenvolver. Todos os equipamentos devem estar em boas condições de uso e devem ser testados regularmente. Materiais necessários: ▪ Fontes de oxigênio e de ar comprimido; ▪ Fontes de vácuo para aspiração; ▪ Foco auxiliar; ▪ Drenos torácicos (diversos tamanhos); ▪ Prancha rígida longa; ▪ Colar cervical (diversos tamanhos); ▪ Materiais esterilizados para procedimentos cirúrgicos de urgência (luvas, campos e aventais); ▪ Esfignomanômetro e estetoscópio; ▪ Carro de emergência com monitor cardíaco, oxímetro de pulso, desfibrilador (cardiovesor), sondas de aspiração, sondas vesicais e gástricas de diversos tamanhos, jelcos e escalpes de diversos calibres, lâminas de bisturi e fios de sutura. Além de gavetas para medicações específicas de emergência; ▪ Cânula de Guedel e pinça de Magill; ▪ Reanimador (Ambul), lâminas curvas e retas de diversos tamanhos e laringoscópio para intubação traqueal; ▪ Materiais para proteção individual, como luvas gorros e máscaras descartáveis. 6.2.2 Considerações Finais O enfermeiro que realiza triagem deve conhecer as técnicas para entrevistar o paciente, ter conhecimento técnico-cientifico para fazer uma boa avaliação e, sobretudo, deve entender o seu papel profissional capacitado para exercer esta função. Embora as avaliações e tomada de decisão sejam guiadas por protocolos institucionais, o enfermeiro também deve levar em consideração sua instituição/experiência e não se limitar a processos que mecanizem o seu saber. Atualmente, a UPA-Hospital utiliza a triagem de pacientes de três níveis (vermelho, amarelo e verde). Entretanto, a equipe de enfermeiros, em parceria com a equipe médica, prevê a implantação de triagem de quatro ou cinco níveis, necessidade sentida em função do aumento da demanda de pacientes, sobretudo daqueles com queixas menos urgentes e que aguardam o mesmo tempo de atendimento daqueles com queixas mais agudas. MÓDULO 4 ENFERMAGEM 112 Outra perspectiva deste serviço é a criação de um indicador de qualidade da triagem, que possibilite avaliar qualitativamente a conduta tomada pelo enfermeiro e, assim, propor melhorias e treinamentos específicos para esta prática. É importante destacar que a UPA-Hospital pretende informatizar seus registros e, desta forma, transformar seu sistema de triagem convencional em um sistema eletrônico e de fácil acesso ao enfermeiro. 6.3 Apresentação sobre Enfermagem A enfermagem possui um papel primordial em situações de emergência, porém, para que o profissional exerça a sua função, é necessário conhecimentos técnico e prático, associados ao embasamento teórico, além de equilíbrio emocional para lidar com as diversas situações que lhe são propostas. A tomada de decisão de forma eficaz, implica na redução de riscos para o nosso cliente. Em emergência, muitas vidas são alvas com medidas práticas, rápidas e relativamente fáceis, se executadas de forma ordenada. O trabalho em equipe deve ser feito de uma forma sistemática, na qual cada membro conhece exatamente a sua função e interage com os outros em busca de um objetivo comum: salvar vidas. 6.3.1 Enfermagem em Emergência Há algum tempo, os profissionais que trabalhavam em emergências ou em intervenções pré-hospitalares na recebiam quase nenhum treinamento, ou seja, não possuíam especialização suficiente para lidar com determinadas situações. Somente com o passar dos anos, na década de 1980, essa realidade foi se modificando e se observou que era cada vez mais necessário que houvesse profissionais capacitados para atuar nesses serviços, com o objetivo de melhoria na qualidade do atendimento ao paciente. Alguns conceitos básicos devem ser observados em enfermagem em emergência, tais como os descritos a seguir. Emergência: Uma situação de emergência é aquela caracterizada como: de gravidade excepcional, que obriga a tomar providencias; acontecimento inesperado; incidente; ato de emergir; aparecimento; nascimento; surgimento; ocorrência perigosa; situação crítica ou necessidade imediata. Atendimento de emergência: Denomina-se atendimento de emergência o conjunto de ações empregadas para a recuperação de pacientes, cujos agravos à saúde necessitam de assistência imediata, por apresentarem risco de vida, uma vez que põem em risco determinadas ENFERMAGEM MÓDULO 4 113 funções vitais que, com o passar do tempo, diminuem sua chance de eventual recuperação. Urgência: A urgência se caracteriza enquanto pressa, rapidez, brevidade ou necessidade imediata. O atendimento de urgência são ações destinadas à recuperação dos pacientes em condições agudas, mas não há perigo iminente de falência de quaisquer de suas funções vitais. As condições urgentes são graves, mas geralmente não perigosas, se o suporte médico e o tratamento tiverem uma pequena demora. O tratamento deve ter início num período entre 20 minutos e 2 horas. Pronto atendimento: São os estabelecimentos de saúde que prestam assistência a doentes, com ou sem risco de vida, cujos agravos à saúde necessitam de atendimento imediato,mas que funciona durante 24h e dispõe de leitos de observação. Todos os pacientes que procuram atenção médica devem ser atendidos. No entanto, a função de pronto- socorro é priorizar o atendimento de urgência e emergência. A organização dos serviços de emergência é complexa e está ligada ao fato de que a assistência ao paciente deve ocorrer no menor tempo possível, ser organizada, que possa garantir a prestação de cuidados contínuos e coerentes com as suas necessidades. A recusa na prestação de socorro é crime e o profissional pode sofrer as sanções previstas em lei. Omissão de socorro: A prestação de socorro, além de um dever moral, é um dever legal, e a sua recusa constitui crime de omissão de socorro, previsto no artigo 135 do código penal brasileiro. Deixar de prestar assistência, quando possível, fazê-lo sem risco pessoal, a criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave ou eminente perigo; ou não pedir nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena – Detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Parágrafo único – A pena é aumentada da metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Abandono: O artigo 133 do código Penal Brasileiro diz que: Abandonar pessoa que está sob o seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono. Pena: Detenção, de seis meses a três MÓDULO 4 ENFERMAGEM 114 anos. § 1º. Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Reclusão, se um a cinco anos. §2º. Se resulta morte: Reclusão, de quatro a doze anos. 6.3.2 Bases Legais para o Exercício da Enfermagem O profissional técnico de enfermagem desenvolve suas atividades com competência, responsabilidade e qualidade, garantindo uma assistência livre de danos causados por imperícia, imprudência e negligência (RESOLUÇÃO 311/07, ART.12). Deverá prestar assistência a pacientes graves, porém, sempre com a supervisão do enfermeiro, o qual deverá garantir uma prática segura, aliada ao conhecimento científico do qual é portador. Com o crescimento do polo hospitalar em nosso país, é perceptível a formação de profissionais cada vez mais habilitado para exercer a sua função de forma compatível com a demanda hospitalar. Para tal, o profissional de enfermagem, baseado em sua legislação específica, tem como direito: Art. 1º - Exercer a enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos. Art. 2º - Aprimorar os seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais que dão sustentação a sua prática profissional. Diante desse sacerdócio que é a profissão de técnico de enfermagem, temos como responsabilidade e deveres: Art. 5º - Exercer a profissão com justiça, compromisso, equidade, resolutividade, dignidade, competência, responsabilidade, honestidade e lealdade. Art.12 - Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência. Art. 21 - Proteger a pessoa, família e coletividade contra danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da equipe de saúde. Art. 41- Prestar informações, escritas e verbais, completas e fidedignas necessárias para assegurar a continuidade da assistência. A legislação para urgência e emergência é ilustrada no Quadro 1 a seguir. Quadro 1 - Legislação para urgência e emergência (continua) Portaria Assunto GM/MS 2923 Cria o Programa de Apoio à Implantação dos Sistemas Estaduais de Referência Hospitalar para atendimento de urgência e emergência. GM/MS 479 Estabelece os critérios para o credenciamento dos hospitais em ENFERMAGEM MÓDULO 4 115 Portaria Assunto urgência e emergência nos níveis I, II e III. GM/MS 905 Estabelece a criacao da Comissão Intra-hospitalar de Transplante. GM/MS 2048 Aprova o regulamento técnico dos sistemas estaduais de urgência e emergência. GM/MS 1839 Exclui o recebimento do Índice de Valorização Hospitalar de Emergência IVH-E para os hospitais que não cumprirem os critérios. Fonte: Elaborado pelos autores (2017) 6.3.3 O Atendimento Pré-hospitalar: Portaria no 2.048 de 2002 prevê a estruturação dos Sistemas Estaduais de Urgências e Emergências envolvendo toda a rede assistencial de forma regionalizada e hierarquizada, desde a rede pré-hospitalar fixa (unidades da atenção primária da saúde e unidades não hospitalares de atendimento às urgências e emergências), Serviço de Atendimento Pré-hospitalar (SvAPH) móvel, até a rede hospitalar de alta complexidade, mediados pelo mecanismo de Regulação Médica. O Sistema de Atenção Integral às Urgências compreende: 1) Pré-hospitalar Fixo: Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Saúde da Família e Agentes Comunitários, Ambulatórios Especializados Serviço de Diagnóstico e Terapia, Serviços de Atendimento às Urgências não hospitalares (PS, Pronto Atendimento). 2) Pré-hospitalar Móvel, Sistema de Atenção Integral às Urgências. 3) Hospitalar: Prontos Socorros das unidades hospitalares, Leitos de internação: gerais terapia intensiva especializados longa permanência. 4) Pós-hospitalar: Atenção domiciliar (assistência e internação domiciliar) Reabilitação. Atendimento pré-hospitalar (APH) é o atendimento emergencial em ambiente extra-hospitalar (fora do hospital). É um dos elos da cadeia de atendimento a vítimas. Caracteriza-se por ser realizado fora do ambiente tradicional da atenção à saúde. No Brasil, o Atendimento Pré-hospitalar tem suas diretrizes fixadas pela Portaria ministerial 814/GM de 1° de junho de 2001, que, entre outras coisas, Normatiza os Serviços de Atendimento Pré-hospitalar Móvel de Urgências. Nesta portaria também estão contidos todos os equipamento e profissionais necessários para o bom funcionamento do serviço de atendimento pré-hospitalar. Ainda de acordo com essa portaria, o Ministério da Saúde considera como nível pré-hospitalar móvel na área de urgência o atendimento que procura chegar precocemente à vítima, após ter ocorrido um agravo à sua saúde (de natureza traumática ou não, ou, ainda, psiquiátrica), que possa levar ao sofrimento, sequelas ou mesmo à morte, sendo necessário, portanto, prestar-lhe atendimento e/ou transporte MÓDULO 4 ENFERMAGEM 116 adequado a um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao Sistema Único de Saúde. Os profissionais necessários são: médico, enfermeiros, técnicos de enfermagem, telefonistas, condutores, radio-operador, bombeiros militares e profissionais responsáveis pela segurança. Técnico em enfermagem em emergência médica: Profissional titular do certificado ou diploma de Técnico de Enfermagem, devidamente registrado no Conselho Regional de Enfermagem de sua jurisdição. Exerce atividades auxiliares, de nível técnico, sendo habilitado para o Atendimento Pré-hospitalar Móvel, integrando sua equipe, conforme os termos desta Portaria. Além da intervenção conservadora no atendimento do paciente, é habilitado a realizar procedimentos a ele delegados, sob supervisão do profissional Enfermeiro, dentro do âmbito de sua qualificação profissional (PORTARIA GM 814/01). O perfil desejado para este profissional é observado a seguir. ▪ Maior de dezoito anos; ▪ Disposição pessoal para a atividade; ▪ Capacidade física e mental para a atividade; ▪ Equilíbrio emocional e autocontrole; ▪ Disposição para cumprir ações orientadas; ▪ Disponibilidade para (re)certificação periódica; ▪ Experiência profissional prévia em serviço de saúde voltado ao atendimento de urgências e emergências; ▪ Capacidade de trabalhar em equipe; e, ▪ Escolaridade: Ensino Médio Completo e curso regular de técnico de enfermagem. Os tipos veículos: As ambulâncias são classificadas por tipo, conformedescrito a seguir. ▪ Tipo A – ambulância de transporte: veículo destinado ao transporte em decúbito horizontal de pacientes que não apresentam risco de vida, para remoções simples, de caráter eletivo. ▪ Tipo B – ambulância de suporte básico: veículo destinado ao transporte inter-hospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento pré-hospitalar de pacientes com risco de vida desconhecido, não classificado com potencial de necessitar de intervenção médica no local e/ou durante transporte até o serviço se destino. Quando utilizado no atendimento pré-hospitalar de vítimas e acidentes, deverá conter todos os materiais e equipamentos necessários à imobilização de pacientes. ▪ Tipo C – Ambulância de resgate: veículo de atendimento de emergências pré-hospitalares de pacientes vítimas de acidentes ou pacientes em locais de difícil acesso, com equipamentos específicos de imobilização e suporte básico, além de equipamentos de salvamento (terrestre, aquático e em ENFERMAGEM MÓDULO 4 117 alturas). Essas ambulâncias mistas deverão ter uma configuração que garanta um salão de atendimento às vítimas de, no mínimo, 8m, além do compartimento isolado para a guarda de equipamentos de salvamento. ▪ Tipo D – Ambulância de suporte avançado: veículo destinado ao atendimento e transporte de pacientes de alto risco em emergência pré- hospitalares e/ou de transporte inter-hospitalar, que necessitam de cuidados médicos intensivos. Deve contar com os equipamentos médicos necessários para esta função. ▪ Tipo E – Aeronave de transporte médico: aeronave de asa fixa ou rotativa, utilizada para transporte inter-hospitalar de pacientes e aeronave de asa rotativa para ações de resgate, dotada de equipamentos médicos homologados pelo Departamento de Aviação Civil (DAC). ▪ Tipo F – Nave de transporte médico: veículo motorizado hidroviário, destinado ao transporte por via marítima ou fluvial. Deve possuir os equipamentos médicos necessários ao atendimento de pacientes, conforme a sua gravidade. ▪ Veículos de intervenção rápida: apoio rápido. Também chamados de veículos leves, veículos rápidos ou veículos de ligação médica. São indicados para transporte de médicos com equipamentos que possibilitam oferecer suporte avançado de vida nas ambulâncias do Tipo A, B, C. As Figuras 1 a 4 a seguir ilustram os tipos de veículos de intervenção rápida, utilizados em enfermagem em emergência. Figura 1 - Ambulância Fonte: Google imagens MÓDULO 4 ENFERMAGEM 118 Figura 2 - Ambulancha Fonte: Google imagens Figura 3 - Motolância Fonte: Google imagens ENFERMAGEM MÓDULO 4 119 Figura 4- Aeronave de transporte médico Fonte: Google imagens 6.3.4 Sistema de Atenção Integral às Urgências O Sistema de Atenção Integral às Urgências compreende o pré-hospitalar fixo e o pré-hospitalar móvel. O primeiro diz respeito às Unidades Básicas de Saúde, Unidade da Família e Agentes Comunitários, ambulatórios especializados, serviços de diagnóstico e terapia, serviços de atendimento às urgências não hospitalares (OS, Pronto Atendimento), enquanto que o segundo se refere aos prontos socorros das unidades hospitalares, leitos de internação: terapia intensiva especializada de longa permanência, no que diz respeito ao atendimento hospitalar, e atenção domiciliar (assistência e internação domiciliar) e reabilitação, no que diz respeito ao atendimento pré-hospitalar. 6.4 Os Principais Casos de Atendimento em Enfermagem em Emergência Serão observados a seguir os principais casos de entrada de pacientes em unidades de atendimento de emergência. Em primeiro lugar, é importante que o profissional de enfermagem conheça a anatomia do corpo humano, a qual será observada a seguir, com breve descrição e ilustrações. Breve revisão anatômica: A enfermagem deve conhecer minuciosamente a anatomia do corpo humano, bem como as alterações funcionais que este pode apresentar, para que se possa descrever, ou seja, registrar, de forma clara e precisa, qualquer tipo de anormalidade envolvendo o corpo. Sem um bom domínio da estrutura dos ossos e dos músculos, por MÓDULO 4 ENFERMAGEM 120 exemplo, não será possível relacionar o mecanismo do trauma com as lesões que o paciente poderá apresentar, sejam elas aparentes ou internas. As Figuras 5 a 8 a seguir ilustrarão a anatomia corpo. Figura 5 - Esquema esqueletico* Fonte: Google imagens *O corpo humano tem um total de 206 ossos ENFERMAGEM MÓDULO 4 121 Figura 6 - Sistema muscular Fonte: Google imagens Os músculos, além de contribuírem para a forma externa, representam a parte ativa do aparelho locomotor, fazendo a ligação do sistema nervoso com os ossos. Figura 7 - Quadrante abdominal Fonte: Google imagens MÓDULO 4 ENFERMAGEM 122 Figura 8- A pele Fonte: Google imagens A pele é o maior órgão do corpo. É formada por três camadas: epiderme, derme e hipoderme, da mais externa para a mais profunda, respectivamente. 6.4.1 Febre A febre é definida pela elevação da temperatura corporal acima da variação fisiológica circadiana. A temperatura oral varia de 37,2 oC (±0,4 oC) pela manhã a 37,7 oC (±0,4 oC) à tarde. A temperatura axilar, em geral, é 0,5 oC inferior aos valores acima. Portanto, uma elevação da temperatura axilar acima de 37,7 oC pode ser considerada patológica. Febre é um sintoma muito comum na unidade de primeiro atendimento, que deve ser avaliado dentro de um leque de diagnósticos diferenciais. A doença decorrente de febre pode ser autolimitada ou incutir risco à vida ou morbidade incluindo a internação em unidade de terapia intensiva ou internação prolongada. A maioria das causas está relacionada às infecções e destas, a maior parte é representada pelas infecções virais. Fatores de risco na investigação da febre são: retorno de viagem para zona endêmica de malária ou de doenças infecciosas; infecção prévia pelo vírus HIV; transplante de órgão; quimioterapia ou radioterapia prévia nas últimas 6 semanas; esplenectomia; uso de corticosteroides, drogas imunossupressoras, alcoolismo ou uso de drogas ilícitas intravenosas; neoplasia, cardiopatia ou pneumopatia com comprometimento funcional, insuficiência renal e diabetes mellitus; uso recente de antibióticos; tremores, icterícia, vômitos, rash cutâneo, alteração do estado mental e sinais neurológicos focais novos. ENFERMAGEM MÓDULO 4 123 O controle de temperatura é regulado pelo hipotálamo. A vasoconstrição produz sensação de frio nas mãos e nos pés, há desvio do fluxo sanguíneo para os órgãos internos que elevam a temperatura em 1 a 2 oC. Uma vez que a temperatura alvo é atingida, o hipotálamo a mantém no estado febril, e quando o limiar térmico volta ao normal, há perda de calor por vasodilatação, sudorese e transpiração. Do ponto de vista bioquímico, a febre é resultado da secreção de citocinas pirogênicas (TNF-alfa, Interleucinas -1 e -6). Outras condições em que há ativação da resposta inflamatória, como trauma e doenças inflamatórias, também induzem a secreção de citocinas, que induzem o hipotálamo a elevar o “set point” da temperatura. As citocinas estimulam e síntese de prostaglandina E2 (PGE2) pelas células endoteliais, macrófagos e nos neurônios. 6.4.2 Hematúria Apesar de muitas doenças graves do trato geniturinário apresentarem hematúria como sintoma, a presença de sangue na urina não ocorre em mais do que 40% de cada uma delas. A hematúria é também parte do quadro clínico de diversas afecções benignas. Hematúria é a eliminação de hemácias na urina. Pode ser macroscópica quando vista a olho nu ou microscópica quando só é percebida ao exame microscópico do sedimento urinário (urina tipo I). Nas diferentes faixas etárias, as etiologias de hematúria variam em natureza e prevalência. As hematúrias podem ser divididas em alta e baixa. Hematúriaalta ou glomerular é lesão da arquitetura dos capilares glomerulares, que leva à hiperfiltração de hemácias que se deformam ao passar pela parede dos vasos, dando origem a um sedimento urinário com dimorfismo eritrocitário e cilindros hemáticos. Hematúria baixa ou não glomerular é observada quando as hemácias do sedimento urinário provêm de via urinária, não havendo distorção da sua forma. Não há dimorfismo nem cilindros hemáticos. 6.4.3 Dor Lombar A dor lombar promove morbidade e incapacidade, estando entre os distúrbios dolorosos que acometem o homem, com incidência apenas menor que a cefaleia. Para o diagnóstico da dor lombar, a história tem um caráter fundamental, e os seguintes itens da anamnese devem ser questionados. ▪ Na hérnia discal e nas lombalgias inflamatórias: a dor pode ocorrer pela manhã; ▪ Na estenose degenerativa do canal vertebral: a dor piora no decorrer do dia; ▪ No osteoma osteoide: a dor piora no final da tarde, após a jornada de trabalho; MÓDULO 4 ENFERMAGEM 124 ▪ Na lombalgia mecânico-degenerativa: a dor piora no final da tarde, após a jornada de trabalho; ▪ Nas espondiloartropatias: a dor é material, melhorando ao longo do dia. Exame físico: Durante o exame físico, são observados: ▪ Flexão e extensão da coluna lombar; ▪ Manobra de Valsava; ▪ Manobra de Lasègue; ▪ Manobra de Romberg; ▪ Sinal das Pontas; ▪ Pesquisa de Reflexos; ▪ Pesquisa de força muscular nos membros inferiores; ▪ Sinais relacionados à dor lombar de causa psicossomática. Diagnóstico diferencial (sinais de alerta de afecções graves): O diagnóstico diferenciado, observando-se os sinais de alerta de afecções graves, ocorre diante dos seguintes casos: Tumor maligno ou infecção; Fratura; Síndrome da cauda equina; Úlcera péptica perfurada; Pancreatite; Colite e Proctite; Distúrbio Gênito-urinário; Problemas na aorta. Exames complementares: Devem ser observados os seguintes exames complementares. Radiologia simples; Tomografia computadorizada; Ressonância magnética; Mielografia dinâmica; Mielotomografia computadorizada; Discografia; Cintilografia óssea; Eletroneuromiografia. ENFERMAGEM MÓDULO 4 125 Tratamento da dor lombar e mecanismo postural: No tratamento da dor lombar, é contraindicado, porém, o repouso relativo de 2 a 4 dias, com orientação postural, melhora o conforto do paciente. O mesmo deve ser posicionado em decúbito dorsal, com os joelhos fletidos em 90 graus, bem como os quadris. Alguns pacientes preferem o decúbito lateral, com um travesseiro entre as coxas. A extensão dos quadris e das pernas (reproduzindo a manobra de Lasègue) agrava os sintomas, principalmente nas lombociatalgias. Nos casos com sinais clínicos evidentes de compressão radicular, o repouso pode se estender até 10 dias. Os pacientes devem ser orientados a não carregar peso e evitar subir e descer escadas. O retorno gradual às atividades cotidianas deve ser estimulado. Medicamentos: Alguns medicamentos podem ser úteis para o tratamento da lombalgia e lombociatalgia, podendo ser ministrados analgésicos comuns, anti-inflamatórios não- hormonais, relaxantes musculares e antidepressivos tricíclicos. As drogas devem ser prescritas por médico e utilizadas por curto período de tempo, com monitoração dos efeitos colaterais. Recomendam-se: ▪ Analgésicos comuns (não narcóticos); ▪ Anti-inflamatórios não hormonais (AINH); ▪ Relaxantes musculares; ▪ Analgésicos narcóticos; ▪ Corticosteroides; ▪ Infiltração de corticosteroide no espaço peridural; ▪ Infiltração de corticosteroide perirradicular (foraminal). Cirurgia: O tratamento cirúrgico é realizado com base no diagnóstico clínico e nos exames por imagens. Cada vez mais, tal procedimento é indicado com menor frequência, e a única indicação emergencial corresponde à Síndrome da Compressão da cauda equina. 6.4.4 Dor Abdominal A dor abdominal aguda é comumente definida como dor com menos de uma semana de duração. Já o termo “abdome agudo” se refere a um distúrbio agudo, súbito, espontâneo, cuja principal manifestação é a dor abdominal e que frequentemente necessita de uma cirurgia de urgência. Devemos ter em mente que, nesses casos, mais importante que um diagnóstico apurado é a conduta correta, que deve ser rapidamente estabelecida com MÓDULO 4 ENFERMAGEM 126 o tratamento dos desequilíbrios hemodinâmicos e hidroeletrolíticos e a cirurgia imediata. Na maioria das vezes, existe tempo para se estabelecer uma história, um exame físico e organizar as investigações que irão ajudar no diagnóstico e planejamento terapêutico. Epidemiologia: A dor abdominal é uma das principais causas de admissões nos Departamentos de Emergências. A taxa de admissão por dor abdominal varia de 18 a 42%, sendo de até 63% e pacientes com mais de 65 anos. Em até 40% dos casos, não se consegue chegar ao diagnóstico etiológico. Fisiopatologia: A dor abdominal é classicamente dividida em três categorias: visceral, parietal é referida. Em geral, a dor visceral (autonômica) e parietal (somática) são consideradas as duas causas básicas de dor abdominal. A dor referida pode ser considerada separadamente como má interpretação cortical de um estímulo aferente visceral ou parietal. Dor visceral: É geralmente causada por estiramento de fibras aferentes C, que inervam a parede das vísceras e as cápsulas que envolvem os órgãos parenquimatosos. Ocorre por distensão, inflamação ou isquemia, que estimula os neurônios receptores, ou por envolvimento direto da inervação sensorial. Por exemplo, o estímulo das fibras viscerais na parede do apêndice entra na medula ao nível de T10. Quando ocorre a distensão do apêndice, na fase inicial, a dor é percebida na cicatriz umbilical, que corresponde ao dermátomo cutâneo de T10. Dor parietal: A dor parietalÉ medida pelas fibras nervosas Delta C e A, senso esta última a responsável pela transmissão da dor mais aguda, intensa e localizada. A dor é causada por irritação (pus, bile, urina e outras secreções) das fibras que inervam o peritônio parietal, que cobre a porção anterior da parede abdominal. Sua distribuição cutânea corresponde às fibras de T6 -L1. A dor parietal é localizada porque as fibras aferentes somáticas são dirigidas a apenas um dos sistema nervoso. A dor abdominal parietal costuma ser descrita em um dos quadrantes ou na região epigástrica ou central. Dor referida: A dor referida é aquela sentida num local distante do órgãos primariamente acometidos. Caracterizada por produzir sintomas, e não sinais, a dor referida costuma ser ipsilateral ao órgão envolvido. Assim como na dor visceral, o padrão de dor referida também se baseia no desenvolvimento embriológico. O ureter e os testículos, por ENFERMAGEM MÓDULO 4 127 exemplo, são anatomicamente contíguos e, desta maneira, dividem a mesma inervação segmentar. Assim, a obstrução uretral aguda é frequentemente associada com a dor testicular. A localização da dor serve como guia ao diagnóstico, porém devemos lembrar que o quadro clássico ocorre com apenas 2/2 dos casos. A grande variabilidade é dada pelos padrões de dor atípica, evolução da patologia e o estado imunológico do paciente. 6.4.5 Traumas No que diz respeito à avaliação e ao atendimento inicial ao politraumatizado, o grande objetivo em emergência é identificar aquelas situações que representam risco imediato à vida. O atendimento é multidisciplinar, visando salvar vidas, não agravar lesões e do restabelecimento das funções comprometidas. O protocolo de atendimento a vítimas neste caso foi estabelecido pelo Colégio Americano de Cirurgiões, e tem como objetivo atender de forma sistemática e com identificação e acesso rápido as lesões e tratamento adequado ao paciente politraumatizado. O politraumatismo é um termo utilizado quando há mais de uma lesão no corpo. É oresultado de grandes acidentes, casos nos quais a vítima poderá apresentar lesões de diversos tipos, como: óssea, musculares dérmica, viscerais, vasculares e lesões em órgãos internos. A avaliação inicial compreende: a) avaliação das vias aéreas + imobilização da região cervical; b) avaliação respiratória; c) avaliação circulatória; d) avaliação neurológica (AVDI); e e) exposição, as quais serão descritas e ilustradas a seguir. Avaliação das vias aéreas com controle da região cervical: A avaliação deve proceder, em primeiro lugar, com a permeabilidade de vias aéreas, seus sinais de obstrução por corpos estranhos, sangue, secreções, dentes, próteses, ossos, etc., fraturas faciais e fraturas mandibulares. Realizam-se manobras para estabelecer a permeabilidade das vias aéreas, tais como proteção da coluna cervical. MÓDULO 4 ENFERMAGEM 128 Figura 9 - Manobra Jaw Thrust Fonte: Google imagens Nesta manobra, é importante procurar não hiperestender, hiperfletir ou rodar a cabeça. Deve-se suspeitar de trauma cervical em todos os pacientes que demonstrem rebaixamento do nível de consciência e traumas acima da clavícula. Utiliza-se a manobra de deslocamento anterior da mandíbula (Jaw Thrust), apoiando- se a mandíbula de cada lado no ângulo. A mesma é deslocada para a frente, desobstruindo a hipofaringe, conforme ilustra a Figura 9. Avaliação respiratória: Assim como em qualquer atendimento de emergência, a prioridade é garantir oxigenação para os tecidos do corpo e, principalmente, para o cérebro. É muito importante avaliar o quadro respiratório do paciente, pois as vias aéreas pérvias somente não garantem ventilação adequada. Deve-se observar: funcionamento adequado dos pulmões, expansão da parede torácica, e qualidade (frequência, superficialidade, ritmo e ruídos), atentar para sinais de parada respiratória e, se necessário, iniciar a administração de oxigênio sob máscara facial bem ajustada, ou ainda, se necessário, utilizar o ambu + mascara, até que o paciente melhore ou que o médico chegue para realizar a intubação. De forma prática, utiliza-se a sigla VOS, que diz respeito a ver, ouvir e sentir, conforme descrito a seguir. ENFERMAGEM MÓDULO 4 129 ▪ Ver: ▪ Agitação, torpor; ▪ Cianose, tiragem intercostal; ▪ Uso da musculatura acessória. ▪ Ouvir: ▪ Ruídos aéreos anormais; ▪ Respiração ruidosa (significa obstrução). ▪ Sentir: ▪ Movimento do ar durante o esforço respiratório. Avaliação circulatória – sangramento e perfusão: As grandes perdas sanguíneos são umas das causas mais frequentes de morte em pacientes politraumatizados, pois evoluem com choque hipovolêmico. As hemorragias externas devem ser tratadas com curativos compressivos, cujo controle deve ser realizado nesta etapa, porque se o sangramento não for controlado, o potencial de morte aumenta muito. A reposição volêmica deve ser realizada com acesso venoso de grosso calibre e soluções de cristaloides de 1500 – 2000 ml. Os pacientes com hipovolemia podem apresentar alterações de nível de consciência e alterações de pulso. Avaliação neurológica (AVDI): Corrigindo-se todos os problemas elencados nos tópicos anteriores, segue-se para a avaliação neurológica, no qual se avalia o nível de consciência. A avaliação rápida neurológica compreende a sigla AVDI, que inclui: ▪ A – alerta. ▪ V – resposta ao estímulo verbal. ▪ D – só responde à dor. ▪ I – inconsciente. É importante que seja utilizada a escala de coma de Glasgow quando há rebaixamento de nível de consciência e se o paciente apresentar TCE2. Exposição: Neste item, se observam a exposição e avaliação cefalocaudal da vítima. A roupa da vítima deve ser removida à procura de lesões. Não se deve se esquecer do 2 Este tema será mais bem tratado em seções subsequentes. MÓDULO 4 ENFERMAGEM 130 dorso, tomando cuidado com a coluna cervical. A vítima deve ser protegida com cobertores para o controle de hipotermia. A regra geral é remover o tanto de roupa necessária para determinar a ausência ou presença de lesões. 6.4.5.1 Traumatismo Crânio-encefálico (TCE) Trata-se de uma ferida ou lesão, intencional ou não, infligida ao crânio por um mecanismo contra o qual este não pode se proteger. É também denominado Traumatismo craniano. É a principal causa de morte entre jovens, sendo as mais frequentes: acidentes automobilísticos, quedas e agressões. Os grupos em mais alto risco de lesão cerebral traumática são as pessoas com idade entre 15 e 24 anos e os indivíduos de sexo masculino. No Brasil, O TCE representa um importante problema de saúde pública, pelos altos custos e por atingir uma parcela economicamente ativa da nossa sociedade. Ocorre 1 TCE a cada 15 segundos, 1 óbito a cada 5 minutos e 1 sequela a cada 5 minutos. O TCE pode se limitar a lesões evidentes (couro cabeludo) ou lesões em estruturas mais profundas (cérebro). Os tipos mais comuns de traumas cranianos serão observados a seguir. Lesões de couro cabeludo: As lesões de couro cabeludo são observadas em casos de arranhões, cortes, hematomas e escalpelamentos, como ilustra a Figura 10. Figura 10 - Escalpelamento Fonte: Revista Fórum ENFERMAGEM MÓDULO 4 131 Fraturas de crânio: As fraturas de crânio são comuns, mas nem sempre são associadas à lesão cerebral, ou seja, pode ocorrer a fratura do crânio sem que nenhuma estrutura cerebral seja lesionada. As fraturas podem ser classificadas como simples, cominutivas, deprimidas ou basilares. Uma fratura simples (linear) é uma solução na continuidade do osso. Uma fratura de crânio cominutiva designa uma linha de fratura múltipla ou com estilhaços. Quando há fragmentos ósseos incrustados do tecido cerebral, a fratura é deprimida. São sinônimos de TCE grave e exigem observação rigorosa. Um quadro muito preocupante é a fratura de base de crânio que não permite a visualização do dano ósseo. Deve se suspeitar deste tipo de fratura quando houver saída de líquor pelo nariz (rinoliquorreia – Figura 11) ou pelo ouvido (otoliquorreia), ou vítimas que apresenta equimose nas pálpebras (olhos de guaxinim – Figura 12) ou na região mastoidea (sinal de Batle – Figura 13). Figura 11 - Rinoliquorreia Fonte: Google Imagens Figura 12 - Olhos de guaxinim Fonte: Google Imagens MÓDULO 4 ENFERMAGEM 132 Figura 13- Sinal de Battle Fonte: Google Imagens Lesão cerebral: A lesão cerebral está dividida em concussão, contusão e hemorragias. Na concussão, não se associa qualquer lesão identificável ao exame. O paciente apresenta perda temporária da consciência ou da memória, cefaleia, náuseas e vômitos. O paciente deverá ficar em observação até cessar a sintomatologia. Na contusão, há ferimento do tecido nervoso e manifestam-se mais distúrbios da função cerebral do que na concussão, porque existe edema. Pode haver alteração prolongada do estado de consciência, irritabilidade, desorientação, vômitos, mudanças dos sinais vitais (bradicardia, bradipneia, hipertensão), que tendem a ser progressivos. Nas hemorragias, os hematomas são as lesões mais graves, podendo ser epidural (acima da dura), subdural (abaixo da dura-máter) ou intracerebral (dentro do cérebro). Os sintomas, muitas vezes, demoram a aparecer, até que o hematoma esteja grande o bastante para causar distorção do cérebro ou aumento da PIC (Pressão Intracraniana). ▪ Hematoma epidural: Coleção de sangue entre a dura-máter e o crânio. Sua causa mais comum é o trauma direto de baixa velocidade no osso temporal (pouco espesso) resultando na lesão de artéria meníngea média. Os sintomas são a perda da consciência, seguida de lucidez, seguindo novamente a perda progressiva da consciência e diminuição da força muscular do lado oposto. A medida que o hematoma expande, a pupila se torna dilatadae deixa de responder à luz. ▪ Hematoma subdural: Coleção de sangue entre a dura-máter e a aracnoide. Geralmente resulta de ENFERMAGEM MÓDULO 4 133 uma lesão venosa durante um impacto violento na cabeça, déficits neurológicos focais podem aparecer imediatamente após o trauma ou podem demorar dias ou até meses para se apresentar. Os sinais e sintomas mais comuns são: cefaleia, irritabilidade, vômitos, alterações do nível de consciência, assimetria de pupilas (anisocoria) e alterações sensitivas e motoras, como distúrbios visuais, alteração de personalidade e dificuldade de fala. ▪ Hematomas cerebrais: Podem ocorrer em qualquer localização, mas são mais frequentes nos lobos temporais e frontais. O déficit neurológico depende da área cerebral que foi afetada e do tamanho da hemorragia. A Figura 14 a seguir ilustra os hematomas cerebrais (subdural, epidural e intracerebral). Figura 14- Hematomas cerebrais Fonte: Google Imagens Lesão penetrante: A lesão penetrante é causado pela penetração do corpo estranho que não deve ser removido do local. A retirado do objeto somente poderá ser realizada por profissionais especializados, em centro cirúrgico. O corpo estranho deve ser fixado para que ele não produza lesões secundários ao transporte. Para a avaliação do TCE, deve-se observar: ▪ História; ▪ Avaliação inicial: permeabilidade das vias áreas, circulação; ▪ Avaliação neurológica (nível de consciência – escala de coma de Glasgow); ▪ Avaliação das pupilas. MÓDULO 4 ENFERMAGEM 134 Escala de coma de Glasgow: É um dos parâmetros mais importantes para se avaliar a evolução de um TCE. Por isso, esta avaliação deve ser feita em intervalos regulares. Esta escala é universal e permite uma visão do nível de resposta do paciente a partir de três reações diferentes, conforme ilustra o Quadro 2 e a Figura 15 a seguir. Quadro 2- Escala de coma de Glasgow Avaliação Pontuação 1- Abertura ocular Espontanea Por estímulo verbal Por estímulo a dor Sem respostas 4 pontos 3 pontos 2 pontos 1 ponto 2- Resposta verbal Orientação Confuso (mas ainda responde) Resposta inapropriada Sons incompreensiveis Sem resposta 5 pontos 4 pontos 3 pontos 2 ponto 1 ponto 3- Resposta motora Obedece comandos Localiza dor Movimento de retirada Flexão anormal Extensão anormal Nenhuma 6 pontos 5 pontos 4 pontos 3 pontos 2 ponto 1 ponto Total máximo Total mínimo Intubação 15 3 8 Fonte: Elaborada pelos autores (2017) ENFERMAGEM MÓDULO 4 135 Figura 15 - Escala de coma de Glasgow Fonte: Google Imagens ▪ TCE grave: escala de coma menor ou igual a 8; ▪ TCE moderado: escala de coma entre 9 e 12; ▪ TCE leve: escala de coma entre 13 e 15. A assistência de enfermagem em casos de TCE, o atendimento inicial deve ser direcionado à prevenção de hipóxia, manutenção do metabolismo cerebral e prevenção e controle da pressão intracraniana. Deve-se observar: ▪ Estabelecer via aérea e mantê-la pérvia (controle de coluna cervical); ▪ Administrar O2 sob cateter S/N; ▪ Monitorar Sinais vitais; MÓDULO 4 ENFERMAGEM 136 ▪ Avaliar nível de consciência; ▪ Puncionar acesso venoso; ▪ Avaliar tamanhos das pupilas e resposta a luz; ▪ Proteger ferimentos; ▪ Manter o paciente calmo e descrever todo o procedimento que irá fazer; ▪ Realizar sondagem nasogástrica; ▪ Realizar sondagem vesical monitorando o débito urinário; ▪ Encaminhar o paciente para exames radiológicos e eletroencefalográficos; ▪ Administrar medicações prescritas. 6.4.5.2 Traumatismo Raquemedular (TRM) Diz-se da lesão traumática da raqui (coluna) e medula espinal, resultando em algum grau de comprometimento temporário ou permanente das funções neurológicas. Pode ocorrer uma lesão total, ou seja, uma ruptura da medula (sintomas irreversíveis), ou compressão (sintomas regridem com o tratamento), ambas podendo levar ao choque neurogênico. A hiperextensão (Figura 16), movimentos bruscos como uma freada repentina de um carro ou pancadas muito fortes, como mergulho em águas rasas, perfurações por arma de fogo, podem causar uma lesão medular. As manifestações do TRM dependem do nível de sua localização, pois comprometem a inervação do corpo abaixo do nível de sua localização. Se a lesão na medula cervical for alta, o comprometimento motor pode levar à parada respiratória pela paralisia dos músculos. Figura 16- Hiperextensão Fonte: Plataforma Slideshare (2014) As vértebras mais frequentes envolvidas são a 5°, 6° e 7° do pescoço (C5-C7), a 12° vértebra torácica (T12) e a 1° lombar (L1). Essas vértebras são mais vulneráveis porque há maior mobilidade da coluna vertebral nessas áreas. Lesões cervicais altas: C3, C4 e C5 afetam o padrão respiratório por paralisia diafragmática; C2 e C3 causam apneia e morte; C5 paralisia dos músculos acessórios. Lesões ósseas vertebrais podem estar presentes sem que haja lesões de ENFERMAGEM MÓDULO 4 137 medula espinhal. Por isso, a vítima deve ser imobilizada de forma correta preservando sua coluna. A Figura 17 a seguir ilustra a coluna vertebral e os seus segmentos. Figura 17 - A coluna vertebral e os seus segmentos Fonte: Medicina – facilitando fontes (2013) Disponível em: http://medicinafontes.blogspot.com.br/2013/04/fisiopatologia-e-avaliacao- clinica-do.html Para o tratamento da TRM deve-se observar: imobilização da coluna cervical para prevenir lesões secundárias; cirurgia para redução de fraturas; realinhamento de coluna por meio de fixação externa e interna. A assistência de enfermagem deve proceder tal como listado a seguir. ▪ Realizar o protocolo para paciente vítima de trauma; ▪ Estabelecer via aérea e mantê-la pérvia (controle de coluna cervical); ▪ Administrar O2 sob cateter S/N; ▪ Monitorar sinais vitais; ▪ Puncionar acesso venoso; ▪ Manter o paciente calmo e descrever todo o procedimento que irá fazer; ▪ Examinar a coluna cuidadosamente com o paciente em posição neutra (deformidades, edemas, equimoses, etc.); ▪ Valorizar as queixas de perda de força ou dormência; ▪ Realizar sondagem vertical, monitorando o débito urinário S/N; ▪ Encaminhar o paciente para exames radiológicas; ▪ Mobilizar o paciente sempre em bloco; MÓDULO 4 ENFERMAGEM 138 ▪ Administrar medicações prescritas (manitol e corticoides). 6.4.6 Emergências Neurológicas As emergências neurológicas dizem respeito às crises convulsivas e epilépticas, as quais serão descritas a seguir. 6.4.6.1 Crise Convulsiva Crise convulsiva são contrações musculares múltiplas, involuntárias, descoordenadas, resultantes de um estímulo cerebral anormal, acompanhadas, na maioria dos casos, de perda da consciência. Principais causas: ▪ Epilepsia – causa mais comum; ▪ Trauma; ▪ Tumores cerebrais; ▪ Febre elevada (em crianças menores de 6 anos); ▪ Doença infecciosa como meningite e encefalites; ▪ Outras. O paciente em crise convulsiva não apresenta reflexo de deglutição e há um acúmulo de saliva, sendo esta liberada em forma de espuma, pelo estímulo excessivo dos músculos apresenta os dentes cerrados, a respiração se torna irregular e ruidosa, o paciente também pode apresentar a liberação dos esfíncteres. Sinais e sintomas: ▪ Perda da consciência; ▪ Agitação psicomotora; ▪ Pode ocorrer cianose ▪ Olhar ausente; ▪ Os olhos podem ficar fixos na parte superior ou lateral; ▪ Contrações e espasmos musculares, com movimentos de contração e flexão muscular, que podem ser suaves a muito fortes; ▪ Sialorreia; ▪ Encerramento da boca com muita força, podendo haver o perigo de morder a língua e lábios; ▪ Descontrole dos esfíncteres (urina e/ou fezes). Tipos de crise epiléptica: ▪ Crise tônico-clônica generalizada: (crise convulsiva) abalos crônicos movimentos violentos, rítmicos e involuntários; ▪ Crise de ausência: desorientação: olhos parados e éde curta duração; ▪ Crise parcial simples: consciência preservada, abalos nos lábios no lado ENFERMAGEM MÓDULO 4 139 afetado; ▪ Crise parcial complexa: olhos abertos, automatismo mastigatório, movimentos repetitivos, consciência prejudicada. Anota-se o tempo de duração da crise. Fala-se com o paciente calmamente, conduzindo-o para um local seguro. A crise tônico-clônica é ilustrada pela Figura 18 a seguir. Figura 18 - Crise tônico-clônica generalizada Fonte: Google Imagens Assistência de enfermagem: Nos causos de crise convulsiva, devem ser observados os seguintes procedimentos na assistência de enfermagem. ▪ Verificar se vias aéreas estão livres; ▪ Avaliar a respiração; ▪ Oferecer O2 a 100%; ▪ Se possível, lateralizar a cabeça do paciente e proteger contra trauma; ▪ Afrouxar roupas; ▪ Não conter o paciente; ▪ Certificar-se se há pulso arterial, bem como os outros parâmetros vitais (Pressão arterial, frequência respiratória, saturação de oxigênio, glicemia capilar); ▪ Puncionar acesso venoso ▪ Administrar medicações prescritas – anticonvulsivantes. ▪ Aspirar secreções se necessário; ▪ Realizar sondagem gástrica se necessário; ▪ Registrar em prontuário: frequência, duração e tipo de crise; ▪ Dar apoio psicológico a família e ao paciente; ▪ Proteger a integridade moral do paciente. MÓDULO 4 ENFERMAGEM 140 Sinais de gravidade da crise epiléptica: ▪ Crise convulsiva prolongada (maior ou igual a 5 minutos); ▪ Sem recuperação da consciência entre as crises; ▪ Gravidez; ▪ Ferimentos secundários à crise epiléptica; ▪ Primeira crise epiléptica (sem crises prévias). 6.4.7 Emergências Respiratórias As crises respiratórias são classificadas em asma brônquica, Insuficiência Respiratória Aguda (IRA), obstrução das vias aéreas, obstrução em vias aéreas por corpo estranho (Ovace) em vítimas conscientes, Edema Agudo do Pulmão (EAP), as quais serão descritas a seguir. 6.4.7.1 Asma Brônquica A asma brônquica constitui a 4° causa de hospitalização pelo SUS, com cerca de 350.000 internações por ano. Na asma, há uma diminuição do calibre das vias aéreas (broncoconstrição), dificultando a passagem do ar, como ilustra a Figura 19. Esta diminuição ocorre devido ao processo inflamatório que produz muco em excesso e também o edema. Este processo pode ser desencadeado por estímulos, como o contato inalatório com poeira, mofo, pólens, exercícios físicos exagerados e o frio. Figura 19 - Asma bronquica Fonte: Google Imagens Muito embora seja uma patologia crônica, a asma é reversível espontaneamente ou por intervenção terapêutica e os cuidados são realizados pela equipe de enfermagem. É importante observar que, se não for tratada, a asma poderá evoluir para o estado de mal asmático, insuficiência respiratória ou atelectasia. ENFERMAGEM MÓDULO 4 141 Observam-se a seguir os principais sinais e sintomas da asma brônquica, bem como os procedimentos realizados pela assistência de enfermagem. Sinais e sintomas: ▪ Três sinais frequentes: tosse, dispneia, sibilos (chiado ou chieira); ▪ Sudorese; ▪ Desidratação; ▪ Fala interrompida por dispneia; ▪ Uso da musculatura acessória; ▪ Esforço respiratório (retração dos espaços intercostais); ▪ Batimento de asa de nariz. Assistência de enfermagem: ▪ Manter VAS permeáveis; ▪ Administrar oxigênio por máscara ou cateter nasal; ▪ Reconhecer os sinais e sintomas da exacerbação da asma (aumento da dispneia, cianose de extremidade, ansiedade); ▪ Transmitir segurança e tranquilidade para o paciente; ▪ Manter paciente em repouso na fase crítica; ▪ Manter o paciente em posição de flower, mudança de decúbito; ▪ Deambular, quando possível; ▪ Observar e anotar sinais e sintomas; ▪ Estimular a alimentação e ingestão de líquidos; ▪ Orientar paciente quanto à coleta de material para exames; ▪ Orientar evitar: fumo, extremos de calor e frio, fumaça, poeira, uso de lã, convívio com animais domésticos e pessoas com infecções de trato respiratório; ▪ Ter cuidado com equipamentos de terapia respiratória; ▪ Administrar medicações conforme prescrição (corticosteroides, xantinas, agentes anticolinérgicos). 6.4.7.2 Insuficiência Respiratória Aguda (IRA) Diz-se da incapacidade do sistema respiratório de realizar suas funções básicas de ventilação e oxigenação e promover adequada oxigenação arterial para os tecidos e eliminação do gás carbônico, resultando em prejuízo das trocas gasosas, que leva à hipoxemia e/ou hipercapnia. É caracterizada por PaO2 ≤ 60 mmHg, saturação de O2 menor que 90% e a PaCO2 ≥ 45 mmHg. A IRA é a falência respiratória que surge nos pulmões, cujo funcionamento era normal antes do início da doença atual. Após a IRA, o pulmão volta ao seu estado original, diferente da insuficiência respiratória crônica, na qual a lesão é irreversível, observada em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica, enfisema pulmonar e bronquite crônica. A seguir, serão observadas as principais causas, os sinais e sintomas, bem MÓDULO 4 ENFERMAGEM 142 como os procedimentos em assistência de enfermagem. Causas: ▪ Depressão no SNC, condições que afetam os nervos e músculos que controlam a respiração; ▪ Trauma dos tecidos e costelas envolvendo os pulmões. ▪ Obstrução das vias aéreas; ▪ Overdose de drogas e/ou álcool. Isso afeta a área do cérebro que controla a respiração; ▪ Doenças pulmonares, como doença pulmonária obstrutiva crônica, pneumonia; ▪ Síndrome do desconforto respiratório agudo, embolia pulmonar, e fibrose cística. Essas doenças podem afetar o fluxo de ar e sangue para dentro e fora dos pulmões; ▪ Lesões pulmonares agudas (inalar gases danosos ou fumaça que podem lesionar os pulmões); ▪ Pacientes de pós-operatório, devido aos efeitos dos anestésicos, analgésicos e sedativos podem evoluir com IRA. Sinais e sintomas: ▪ Dispneia, taquipneia; ▪ Aumento do trabalho respiratório; ▪ Uso da musculatura acessória; ▪ Tiragem intercostal; ▪ Batimento de asa do nariz; ▪ Sudorese; ▪ Ansiedade; ▪ Agitação, confusão mental; ▪ Sonolência ou perda da consciência; ▪ Taquicardia, hipotensão; ▪ Choque. Assistência de enfermagem: O paciente com esta patologia deve ser avaliado criteriosamente, pois seu estado pode mudar repentinamente para estado grave com risco de vida. Os procedimentos de assistência de enfermagem recomendados são: ▪ Manter VAS permeáveis; ▪ Administrar oxigênio conforme prescrição; ▪ Monitorar oxigenação com oximetria de pulso e gasometria arterial; ▪ Transmitir segurança e tranquilidade para o paciente; ▪ Manter paciente em repouso na fase crítica; ▪ Posição de Fowler, mudança de decúbito; ENFERMAGEM MÓDULO 4 143 ▪ Observação e anotar sinais e sintomas da evolução clínica do paciente; ▪ Puncionar acesso venoso calibroso para medicação e hidratação; ▪ Manter medicamentos de emergência em local de fácil acesso; ▪ Estar sempre alerta com o bom funcionamento dos equipamentos; ▪ Monitorar resposta ventilatória do paciente. 6.4.7.3 Obstrução das Vias Aéreas O reconhecimento precoce da obstrução de vias aéreas é indispensável para o sucesso no atendimento. Pode ocorrer por obstrução mecânica, que pode ser pela queda da língua ocluindo a hipofaringe, ou simplesmente por corpos estranhos, como alimento, próteses dentárias dentes e etc. Assegurar uma via aérea pérvia é a primeira prioridade em qualquer situação de emergência. Manobras manuais: No paciente inconsciente, a língua fica flácida e cai, obstruindo a hipofaringe, impedindo a passagem do ar. Então, realiza-se a manobra de Chin lift (Figura 20), estendendo a cabeça e levantando o queixo, com o paciente em decúbito dorsal. Esta manobra não pode ser realizada em vítimas de trauma. Figura 20 - Manobra de Chin lift Fonte: Google Imagens A abertura das vias áreas inclui a inspeção da acidade oral, com retirada manualde qualquer corpo estranho, incluindo prótese dentária. A manobra Jaw Trust (Figura 21) é indicada no lugar da Chin lift, em casos de vítimas de trauma com risco de lesão cervical. Nesta manobra, a cabeça do paciente não é estendida e apenas tracionam-se anteriormente os ângulos mandibulares. MÓDULO 4 ENFERMAGEM 144 Figura 21 - Manobra Jaw Trust Fonte: Google Imagens Aspiração: Alguns pacientes podem não ser capazes de eliminar com eficiência algumas secreções, e estas podem obstruir a passagem do ar para os pulmões. A aspiração de secreções é muito importante para permitir a permeabilidade das vias aéreas. Acessórios básicos: São aqueles utilizados quando as técnicas manuais falham ou quando se faz necessária uma manutenção continua das vias aéreas. Dentre eles encontram-se as cânulas orofaríngea, cânulas nasofaríngeas e cânulas de duplo lúmen. ▪ Cânula orofaríngea: As cânulas orofaríngeas (Figura 22) recebem também o nome de cânula de Guedel, utilizadas em vítimas inconscientes para manter vias aéreas pérvias e impedir que os paciente intubados mordam o tubo. Se utilizadas em vítimas conscientes, podem provocar vômito e até laringoespasmos. É necessária a correta técnica de colocação, para que não ocorra o rebaixamento da língua. Figura 22 - Cânula orofaríngea Fonte: Google Imagens ENFERMAGEM MÓDULO 4 145 ▪ Cânula nasofaríngea: A cânula nasofaríngea também pode ser utilizada em pacientes que não são capazes de manter via aérea pérvia, é confeccionada em látex, é bem flexível. É introduzida delicadamente em uma das narinas até a orofaringe, pode provocar hemorragias por trauma na hora de sua colocação. Figura 23 - Cânula nasofaríngea Fonte: Google Imagens ▪ Intubação traqueal: É o método para se conseguir controle máximo sobre a via aérea de um paciente. É introduzido um tubo por via oral ou nasal, até a traqueia do paciente. Permite a ventilação com 100% de oxigênio. Elimina a necessidade de máscaras ajustadas, diminui os riscos de aspiração e permite uma via adicional para medicações. É um procedimento médico. MÓDULO 4 ENFERMAGEM 146 Figura 24 - Intubação traqueal Fonte: Google Imagens 6.4.7.4 Obstrução das Vias Aéreas por Corpo Estranho (Ovace) É uma situação emergencial, em que há uma obstrução do fluxo de ar pelas vias áreas. Esta obstrução pode ser parcial ou total. A restauração desta via tem que ser realizada de forma rápida e efetiva, para que o paciente não fique por muito tempo sem oxigenação. Pode ser causada por: alimentos, vômitos e por ingestão de objetos em geral. O Quadro 3 a seguir ilustra a classificação da obstrução. Quadro 3 - Classifcação da obstrução Total Parcial Não tosse Tosse Não respira Respira Movimentos paradoxais Ruíidos Fala Fonte: Elaborado pelo autor (2015) A seguir, observam-se os sinais e sintomas e a forma de desobstrução indicada. Sinais e sintomas: ▪ Tosse ou tentativa de tossir; ▪ Respiração ruidosa; ▪ Dificuldade respiratória; ▪ Movimentos respiratórios ineficazes; ▪ Aflição; ENFERMAGEM MÓDULO 4 147 ▪ Não conseguir falar; ▪ Engasgado – sinal clássico. Figura 25- Manobra de Heimlich Fonte: Google Imagens Na desobstrução, pode ser utilizada a manobra de Heimlich, que consiste na realização de uma série de compressões em nível da parte superior do abdômen, mais precisamente abaixo do esterno. Estas compressões devem ser rápidas, pressionando para dentro e para cima, na região acima da cicatriz umbilical. Devem ser realizadas manobras até a saída do objeto. Entretanto, em caso de perda de consciência, deve-se parar imediatamente de executar a manobra. É preciso estar atento, pois isso pode acontecer a qualquer momento, se o objeto não for removido. Devem-se chamar serviços de emergência e pedir ajuda imediata, ou que alguém faça isso, sempre que possível, para economizar tempo. 6.4.7.5 Edema Agudo do Pulmão (EAP) Insuficiência respiratória súbita e progressiva, correspondente ao extravasamento de líquido para o espaço intersticial e/ou alvéolos pulmonares, resultando em: hipoxemia, comprometimento das trocas gasosas (V/P) e diminuição da complacência pulmonar. O edema agudo de pulmão é uma condição clínica grave, frequentemente secundária à insuficiência cardíaca, em que há um acúmulo de sangue nas veias e capilares pulmonares, a tal ponto que acontece um extravasamento de fluidos para os espaços aéreos dos pulmões. Isso deixa o pulmão menos elástico e com menos superfície de contato entre os gases inspirados e o sangue. Observam-se a seguir as principais causas, sinais e sintomas, bem como tratamento e assistência de enfermagem. Causas: ▪ Infarto do miocárdio – é a causa mais comum; ▪ Disfunção do músculo cardíaco; MÓDULO 4 ENFERMAGEM 148 ▪ Doenças das válvulas aórtica ou pulmonar; ▪ Sobrecarga circulatória: administração exagerada de líquidos, comum em crianças ou pacientes que recebem líquidos (soros) em excesso pelas veias; ▪ Lesões pulmonares, inalação de fumaça. Sinais e sintomas: ▪ Dispneia rapidamente progressiva; ▪ Taquipneia; ▪ Tosse; ▪ Escarro espumoso e sanguinolento (róseo); ▪ Ansiedade, pânico, confusão mental; ▪ Cianose com sudorese intensa; ▪ Palidez; ▪ Taquicardia e pulso fino; ▪ PA aumentada; ▪ Respiração ruidosa – estertores bolhosos e roncos bilaterais; ▪ Ritmo de galope; ▪ Sopros cardíacos. Observação: o paciente se torna ansioso, agravando ainda mais o seu estado. Se não houver intervenção rápida, pode evoluir para óbito em pouco tempo. Tratamento/medicações administradas: O principal alvo do tratamento é reduzir o influxo de sangue sistêmico no átrio D- e reduzir o retorno venoso. ▪ O2 100% + monitor + oximetria + via venosa; ▪ Tratar a causa subjacente (HAS - ↓ PAD); ▪ Corrigir fatores contribuintes; ▪ Restrição de fluidos e de sódio; ▪ Morfina – diminui a ansiedade e melhora a circulação arteriolar e venular; ▪ Diuréticos – reduzem o volume de líquido, aumenta de forma intensa a excreção de urina e sódio pelo organismo; ▪ Nitroprussiado de sódio (reduz a pressão arterial e pulmonar); ▪ Aminofilina (atua como vasodilatador, diurético e broncodilatador); ▪ Digitálicos (aumentam a força contrátil do coração). Assistência de enfermagem: ▪ Posicionar o paciente em posição sentada – pés e pernas para fora do leito, para favorecer a retenção do sangue nos membros diminuindo o retorno para o coração; ▪ Oferecer O2 em grande concentração; ▪ Manter acesso venoso pérvio; ENFERMAGEM MÓDULO 4 149 ▪ Administrar medicações prescritas; ▪ Realizar sondagem vesical para controle de diurese e balanço hídrico; ▪ Atentar para depressão do quadro respiratório; ▪ Monitorar sinais vitais; ▪ Descrever sinais, sintomas e evolução clínica do paciente. É importante salientar que a morfina pode aumentar a hipotensão, por isso é necessário deixar sempre à disposição o antagonista da morfina – naloxone. 6.4.8 Emergências do Trauma Nas seções que seguem, trataremos acerca da assistência de emergências em situações de traumas, de acordo com as suas especificidades. 6.4.8.1 Trauma Torácico Como ocorre com outras formas de lesões, o trauma torácico pode ser causado por mecanismos contusos ou penetrantes. Uma força exercida contra o tórax pode causar ruptura da anatomia e fisiologia normal dos órgãos torácicos. Os órgãos torácicos são intimamente envolvidos na manutenção da oxigenação, ventilação e oferta de oxigênio. As lesões de tórax são a principal causa de morte por trauma (uma em cada quatro) a cada ano, embora a grande maioria de todos os traumas torácicos (90% dos traumas fechados e 80% dos ferimentos penetrantes) seja tratada sem cirurgia. Vários mecanismos de trauma, incluindo colisões de veículos motorizados, quedas, lesões por prática de esportes, lesões por esmagamentoe ferimentos por arma branca ou por projétil de arma de fogo, podem causar trauma no tórax. As lesões de tórax podem ser penetrantes ou fechadas. As lesões penetrantes são causadas por forças distribuídas por uma área pequena que penetram dentro da cavidade torácica. Ex.: causadas por projétil de armas de fogo e armas brancas ou quedas sobre objetos afiados. Lesões contusas: as forças são distribuídas sobre uma área maior e as lesões ocorrem devido à compressão e às forças de cisalhamento. Ex.: pneumotórax, tamponamento cardíaco, tórax instável, contusão pulmonar e ruptura de aorta. Fraturas de costelas: Mesmo sendo protegidas pela musculatura subjacente, as fraturas de costelas são comuns no trauma torácico. A localização mais comum das fraturas de costelas é a face lateral da 4ª a 8ª costela, pois são finas e menos protegidas. As pontas das costelas podem ocasionar lesões no músculo, pulmões e vasos. MÓDULO 4 ENFERMAGEM 150 Figura 26 - Fraturas na costela Fonte: Google Imagens Os sinais e sintomas de fratura de costelas são dor à movimentação, à palpação do local, podendo ocorrer falta de ar e, eventualmente, crepitação óssea. O tratamento inicial dos doentes com fraturas simples de costelas é a redução da dor por meio de imobilização e diminuição do movimento das costelas. Isto pode ser realizado usando o braço do doente e uma tipoia. Vibrações anormais e tosse devem ser encorajadas, apesar da associada. Estes cuidados evitam atelectasias. Os sintomas associados às lesões de tórax são como em outras áreas do corpo: quando presentes, indicam lesão. Entretanto, a ausência de sinais e sintomas não indica que não exista lesão. Tórax instável: Diz-se tórax instável, quando duas ou mais costelas adjacentes são fraturadas em pelo menos dois lugares (Figura 27), ocasionando segmento de flutuação livre. A parede torácica perde a estabilidade e ocorre o comprometimento respiratório. O segmento da parede torácica que está instável perdeu o suporte ósseo e a fixação à caixa torácica. Este segmento “livre” irá se mover em direção oposta à do resto do tórax durante a inspiração e a expiração, O resultado destes dois movimentos paradoxais da parede do tórax é a diminuição da ventilação, levando à hipóxia e a hipercapnia. ENFERMAGEM MÓDULO 4 151 Figura 27- Tórax instável Fonte: Google Imagens ▪ Tratamento/assistência de enfermagem: O tratamento nestes casos é voltado para o alívio da dor, suporte ventilatório e monitoramento de uma possível piora do quadro. ▪ Administrar oxigênio; ▪ Puncionar acesso venoso calibroso; ▪ Administrar medicações prescritas, conforme prescrição (analgésicos e outros); ▪ Incentivar a respiração profunda; ▪ Monitorar oximetria de pulso e controle de sinais vitais – rigorosamente; ▪ Para casos graves, se faz necessário que o médico realize a intubação traqueal e o paciente receba ventilação mecânica. Contusão pulmonar: Uma contusão pulmonar ocorre quando o tecido pulmonar é lacerado ou rompido por mecanismos contusos ou penetrantes. A contusão pode resultar de trauma fechado, como no tórax instável, mas pode também ser resultado de ferimento penetrante. Entretanto, quer tenha como causa um trauma fechado ou um ferimento penetrante, a contusão pulmonar apresenta o mesmo problema clínico: áreas do pulmão sem ventilação. Mesmo sem a presença associada de um tórax instável, a contusão pulmonar é uma lesão torácica comum e potencialmente letal. Insuficiência respiratória grave pode se desenvolver rapidamente ao longo das primeiras 24 horas. MÓDULO 4 ENFERMAGEM 152 ▪ Tratamento e assistência de enfermagem: ▪ Administrar oxigênio suplementar; ▪ Deve-se avaliar repetidamente a avaliação da FR, oximetria de pulso, bem como os demais sinais vitais; ▪ Acesso venoso – manter via pérvia; ▪ Se o paciente não apresenta grande perda sanguínea, limitar a infusão de fluidos; ▪ Para casos graves, se faz necessário que o médico realize a intubação traqueal e o paciente receba ventilação mecânica. Pneumotórax: Envolve a entrada de ar para o espaço pleural, que normalmente apresenta 15ml de líquido, sendo este apenas para lubrificação e facilitar o deslizamento das pleuras. Os três tipos de pneumotórax representam níveis crescentes de gravidade, conforme descrito a seguir. ▪ Pneumotórax simples: É causado pela presença de ar no espaço pleural. À medida que o ar aumenta, o pulmão daquele lado sofre colabamento. ▪ Pneumotórax aberto: Ocorre devido a um defeito na parede torácica que permite que o ar que vem de fora entre e saia do espaço pleural com esforço ventilatório (Figura 28). O tratamento inicial envolve a realização do curativo de três pontos, o que evita a entrada de ar na inspiração ao mesmo tempo em que o ar escapa pelo lado aberto durante a expiração. Figura 28- Pneumotórax aberto Fonte: Google Imagens ENFERMAGEM MÓDULO 4 153 ▪ Pneumotórax hipertensivo: Ocorre quando o ar continua a entrar no espaço pleural, sem um trajeto por onde sair, causando o aumento da pressão dentro deste espaço, fazendo colabar ainda mais o pulmão no lado acometido e empurrando o mediastino (coração e vãos sanguíneos) para o lado oposto (contralateral) (Figura 29). O paciente apresenta fome de ar, agitação, hipotensão, taquicardia e cianose. Figura 29- Pneumotórax hipertensivo Fonte: Google Imagens O paciente deve receber imediatamente alta concentração de oxigênio e deve ser realizada a descompressão com uma agulha intravenosa de grosso calibre, para que haja um escape de ar. Esse procedimento torna o pneumotórax hipertensivo em pneumotórax aberto simples. Tratamento para pneumotórax: O tratamento de um doente com pneumotórax consiste em diminuir a pressão no espaço pleural, mediante descompressão com agulha (toracocentese) ou drenagem com dreno torácico sob selo d’água. Administração de O2 suplementar e acesso venoso calibroso. Hemotórax: É a presença de sangue no espaço pleural (Figura 30). O sangramento pode ter origem na parede da musculatura torácica, nos vasos intercostais ou no tecido pulmonar. O tratamento consiste em toracocentese ou instalação de um dreno ligado ao selo d’água. MÓDULO 4 ENFERMAGEM 154 Figura 30 - Hemotórax Fonte: Google Imagens ▪ Assistência de enfermagem na drenagem torácica: ▪ Preparar o doente, explicando todo o procedimento; ▪ Trocar diariamente o curativo (cuidados no local da inserção do dreno); ▪ Avaliar o funcionamento do tubo torácico diariamente; ▪ Observar nível de água; ▪ O frasco de selo d’água deve estar no mínimo a 50cm abaixo do tórax do paciente: ▪ Tubos devem ser fixados com látex que não impeçam a locomoção do paciente, cuidando para que não fiquem dobrados; ▪ Realizar ordenha s/n; ▪ Manter em fácil acesso duas pinças Kelly, em caso de quebra de frasco ou desconexão. É importante observar os casos em que o dreno deve ser retirado: quando a drenagem for inferior a 50ml nas 24 horas, após o paciente recuperar a sua função respiratória normal, se não existe oscilação na coluna de líquido ou borbulhar (após excluída hipótese de obstrução ou deslocamento do dreno), e após avaliação por RX. ENFERMAGEM MÓDULO 4 155 Contusão cardíaca: A causa mais comum da lesão cardíaca é a aplicação de força na região anterior do tórax. O coração ocupa uma grande parte do centro do tórax e está situado entre o esterno e a coluna torácica. No trauma torácico fechado grave, como ocorre em colisões frontais com veículos motorizados, primeiro o tórax atinge o painel ou a direção e, então, o coração é comprimido entre o esterno e a coluna. Pode haver vários tipos de lesão cardíaca, mas a mais comum é a contusão miocárdica. Esta contusão pode causar destruição das células da parede, ruptura da própria parede do coração ou danos as suas
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