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A Escravidão no Piauí: Uma Discussão Historiográfica

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CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ- UFPI 
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 
COORDENAÇÃO DO CURSO DE HISTÓRIA 
DISCIPLINAS: HISTÓRIA DO PIAUÌ I 
PROFESSORA CLEIDE CARVALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ESCRAVIDÃO NO PIAUÍ: uma breve discurssão historiográfica 
 
 
 
 
 
 FRANCISCA ODENIZA PERES DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CASTELO DO PIAUÍ, 2020. 
A ESCRAVIDÃO NO PIAUÍ: uma breve discussão historiográfica 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O sistema escravocrata moldou a estrutura da sociedade colonial brasileiro, a 
escravidão foi um fenômeno complexo que marcou presença em todo o território explorado, 
foram três séculos, da colônia ao império, de violência de ordem física, psicológica e 
cultural, e em território piauiense não foi muito diferente. 
No entanto, no que diz respeito a escravidão em território piauiense existe uma 
dircurssão entre os historiadores, pesquisadores e escritores que estudam o processo de 
escravidão no Piauí. Desta maneira este trabalho pretende analisar a discurssão 
historiográfica existente a cerca desse tema. 
Essa temática referente a escravidão foi escolhida em virtude de ser um elemento 
fundamental na construção da complexa sociedade brasileira de maneira geral. A herança 
da escravidão esta presente nas relações sociais do dia a dia, por tanto é preciso expandir 
olhares a fim de não reproduzir os estereótipos e julgamentos do passado. 
A história do Piauí é riquíssima e com várias lacunas a serem preenchidas. O 
propósito da pesquisa é compreender o processo de escravidão ocorrido no Piauí colonial, 
salientando algumas características, diferenças e semelhanças existentes nos dois tipos de 
escravidão que predominaram no Piauí, a escravidão indigena e a escravidão do negro 
africano. 
A metodologia usada na pesquisa foi bibliográfica do tipo exploratória com a técnica 
de coleta de dados destacando a busca de artigos, periódicos, dissertações, teses e livros em 
sites acadêmicos confiáveis com o SciELO e o Google Acadêmico. 
A análise historiográfica foi feita através do estudo de autores renomados á respeito 
dessa temática: Mott, Brandão, Nunes, Chaves, Dias, autores estes que relatam de forma 
sucinta as características do sistema escravocrata no sertão piauiense desde o período 
colonial ao tempo do império. Sendo que as palavras chaves utilizadas foram escravidão no 
Piauí, História do Piauí, Piauí colonial e Piauí Imperial. 
 
 
 
2 A ESCRAVIDÃO NO PIAUÍ: UMA BREVE DISCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA 
 
2.1 O processo de “povoamento” do Piauí 
 
Conforme Abreu (1969) a ocupação das terras do Piauí, as quais correspondiam a uma 
parte da área do “Sertão de Dentro”, ocorreu na segunda metade do século XVII, e iniciou-se 
pela costa leste e sul do território, pelas margens dos rios Piauí, Canindé, Paraim e Gurguéia. 
A data precisa da “descoberta” do Piauí oficialmente, conforme o pesquisador Luiz 
Mott, ocorreu no ano de 1674, mesmo período em que Domingos Afonso Mafrense e 
Francisco Dias Dávila, da casa da Torre da Bahia, instalam suas primeiras fazendas de gado 
nas imediações da Ribeira do Canindé (MOTT, 1985, p.72). 
 Durante muito tempo, a região que atualmente corresponde ao Estado do Piauí, foi 
considerado pelo dominante pensamento historiográfico como a “terra de ninguém”. No 
entanto, de acordo com as pesquisas arqueológicas da fundação Museu do Homem Americano 
(FUMDHAM) o Sertão Sudeste do Piauí é a região de povoamento mais antigo das Américas. 
Desta forma, antes da chegada dos colonizadores ao território piauiense estas terras já eram 
povoadas por indígenas de várias etnias. De acordo com Claudete Dias: 
 
Havia no Piauí, quatro etnias - JÊ, CARAIBA, CARIRI, E TUPI entre 
diversas e numerosas tribos ou nações como os Tremembés, Jenipapos, 
Anapurus, Cupinharós, Amanajás, Precatis, Aramis, Alongás, Aroás, 
Amoipiras, Guegês, Jaicós, Pimenteiras, Gilbués, Tapecuás, Timbiras. Essa 
população desenvolvia uma agricultura rudimentar, plantava mandioca, 
milho e batata doce para se alimentar, além da caça e da pesca, viviam nus e 
tinham cabelos cumpridos (DIAS,2010, p.423). 
 
 
 No entanto, a ideia de “povoamento” do território piauiense é tratada pela 
historiografia tradicional como um processo iniciado no momento de expansão territorial da 
Coroa Portuguesa, sendo assim desconsiderando as populações nativas que já ocupava esse 
território do sertão nordestino. Segundo Brandão (1999) o povoamento do território piauiense 
foi consequência da grande expansão da agricultura canavieira que ocupou toda a área da 
zona da Mata Nordestina, surgindo assim a necessidade de explorar novos territórios. 
Em contrapartida ao pensamento da historiografia tradicional dominante existem 
novas perspectivas que sugere uma discussão sobre o significado de conceitos como 
“conquista” “descobrimento” ou “invasão”. Nesse sentido as pesquisas da historiadora 
Claudete Dias (2010) apontam que ao mesmo tempo em que houve o povoamento do 
território piauiense pelos portugueses, ocorreu também o despovoamento da população nativa. 
Segundo a mesma: 
 
A historiografia piauiense incorporou e reproduz tradicionalmente a ideia de 
“conquista do território” descoberta, ocupação e povoamento para explicar a 
ocupação das terras dos nativos e em geral focaliza a implantação das 
fazendas de gado, o comércio, a organização do poder a partir das famílias 
latifundiárias, dando pouco destaque à existência de uma população 
dizimada pela guerra, sem se dar conta de que esses conceitos valorizam 
unilateralmente a perspectiva do colonizador, apagando e até mesmo 
menosprezando a existência de uma outra população no cenário onde se 
desenrolou a história da colonização (DIAS,2010 ,p.421). 
 
 
Dias (2010) ainda argumenta que com a chegada dos colonos portugueses em solo 
piauiense, os desbravadores da Casa Da Torre, dentre eles Domingos Afonso Mafrense 
considerado o “descobridor” dos Sertões de Dentro, não encontraram terras propícias para o 
cultivo de cana-de-açúcar, principais atividade econômica da época. No entanto as terras eram 
bastante apropriadas para a criação de gado, na qual foi implantadas várias fazendas de gado 
ao longo do processo de povoamento da região. 
Odilon Nunes (1983) descreve que no sertão piauiense existia grandes extensões de 
terra, distante do litoral e com excelentes pastos, condições ideias para o desenvolvimento da 
pecuária. Sobre a instalação das fazendas no Piauí, o mesmo autor, descreve os relatos dos 
primeiros viajantes no século XVIII: 
 
Não há neles aquele horroroso trabalho de deitar grossas matas abaixo, e 
romper as terras à força do braço! Neles pouco se muda na superfície da 
terra; tudo se conserva quase no seu primeiro estado. Levanta-se uma casa 
coberta pela maior parte de palha, feitos uns currais e introduzidos os gados, 
estão povoadas três léguas de terra, e estabelecida uma fazenda (NUNES, 
1983, p.06). 
 
 
Nunes (1983) relata que havia um “empecilho” na ótica dos desbravadores, a região 
conhecida como Sertões de Dentro possuía muitas populações nativas, e para os colonizadores 
os índios eram seus inimigos, então para construir os currais de gados, os colonizadores 
fizeram a "chamada limpeza da terra" que teve como resultado a expulsão e a escravização e o 
aldeamento dos povos nativos que habitavam essas terras. 
 
2.1.2 A escravidão no Piauí: um breve histórico 
 
A escravidão foi um fenômeno complexo que marcou presença em todo o território 
brasileiro, moldando a estrutura da sociedade colonial. O sistema escravocrata interligado 
ao comercio foi um sistema lucrativo. Na sociedade colonial tal sistema moldou laços e 
deixou heranças profundas, refletindo em problemas de ordem estrutual do nosso país. 
Quando se pensa em escravidão, quase sempre, lembramos-nos da escravidão do 
negro africano, no entanto temos ampliar nossosolhares para entender o processo de 
escravidão dos nativos que habitavam praticamente todo o território americano antes da 
chegada dos europeus, este foi o primeiro sistema escravocrata. 
Sendo assim é perceptivel que o Brasil, por apresentar, um território extenso e 
heterogêneo, possuiu múltiplas facetas da escravidão que variaram de região para região, 
foram mais de três séculos de sistema escravo, desde os índios ao negro africano. Fazendo 
um recorte para o Piauí, sendo observados alguns traços, ora de forma semelhante ora de 
forma diferente, do sistema escravocrata que predominou no Brasil. 
A formação do território piauiense é marcada pela a predominância da pecuária como 
a principal atividade econômica voltada para o abastecimento do mercado interno. Não 
havia necessidade de investimento por parte dos colonos em escravos, pois a mão de obra 
era pouca, além disso, havia os indígenas que eram investimentos mais baratos, quando 
comparado ao escravo negro. 
Com essas particularidades vários autores compartilham que a escravidão no Piauí 
ocorreu de forma inexpressiva e de maneira branda. De forma tradicional, estudiosos como 
Caio Prado Júnior, Odilon Nunes, defendem tal ponto de vista. 
 
 
O Piauí era relativamente diferenciado, um sertão extensivo e extrativista, 
de caráter frouxo, onde quase não havia escravismo, desenvolvia atividade 
econômicas de pouca expressão na economia colonial, diferenciando-se do 
nordeste litorâneo, açucareiro semiburguês, este diretamente ligado com o 
capital internacional, mas lhe era abastecedor e subordinado, uma 
subordinação do sertão ao capitalismo mercantil que se esboçava no 
nordeste açucareiro. No caso do Piauí haverá uma subordinação interna ao 
capital mercantil do litoral em Salvador e Recife na produção, circulação 
da mercadoria, o gado e, que somente após a guerra de secessão norte 
americana introduz o algodão no mercado Inglês e Norte americano, 
levando a mercadoria em escala mundial, e tardiamente com a borracha de 
maniçoba e a carnaúba (SOUSA;2012, p.13). 
 
 
Em contrapartida Brandão no livro o escravo na formação social do Piauí, fez um 
levantamento das singularidades do sistema escravocrata presente no Estado no período 
colonial. Segundo mesma autora: 
 
 
Estudar a sociedade piauiense nos primeiros séculos de sua formação 
implica em se verificar as principais características dos escravos que a 
constituíam, uma vez que, os contextos sociais foram sempre expressivos 
desde a primeira fase do povoamento (BRANDÃO, 1999, p.120). 
 
 
A partir do aumento de pesquisas específicas voltada para a historiografia local foi 
possível diminuir as lacunas e contestar a historiografia tradicional. Destacando os estudos 
de Brandão, Mott e Chaves, ambos concordam que a introdução do escravismo no Piauí não 
se ligou ao aspecto puramente econômico da produção, apesar da existência da pecuária, 
não ocorreu de forma aleatória sem padrões do Brasil escravocrata, como por exemplo, a 
formação de o latifúndio e a exploração de uma única atividade econômica, no sertão 
piauiense. Sendo assim, prevaleceram dois processos de escravidão o nativo e o negro. 
 
2.1.3 A escravidão indígena 
 
Com chegada dos colonizadores em terras piauienses, e a introdução das fazendas de 
gado os colonizadores travaram diversos conflitos com os índios que eram considerados como 
seus inimigos “selvagens”. 
 Os índios começam a perder seus territórios e cada vez mais tendo de embrenhar-se 
nas matas. Como forma de repressão os nativos atacavam as fazendas de gado e matavam 
animais para seu próprio consumo, gerando uma revolta ainda maior nos fazendeiros, isso 
acabou gerando grandes conflitos, que culminaria em uma grande guerra de extermínio dessas 
nações. Nessa perspectiva o autor Wilson Correa descreve: 
 
[...] a legislação portuguesa em relação ao nativo era por demais falha e a 
presença de colonos nessa região levou os nativos aos primeiros confrontos 
na proteção de suas terras. Esses primeiros confrontos serão patrocinados 
pelos fazendeiros criadores de gado, que visam apossar-se das aldeias, as 
quais geralmente localizavam- em regiões próximas a rios, para garantir as 
instalações dos currais em regiões bem servidas de água. Essas ações 
iniciais vão torna-se cada vez mais intensas e teremos com isso o início do 
processo espoliativo das nações nativas dos piauienses (CORREA, 2010, 
p.15). 
 
 
Os índios foram perseguidos, mortos, e os que sobreviviam eram aldeados e 
escravizados, eram obrigados a trabalhar nas fazendas de gados, além disso também houve a 
catequização dos indígenas, tidos como “selvagens”, pelos jesuítas mandados pela coroa 
portuguesa. Nesta perspectiva Claudete Dias (2010) afirma que as populações nativas 
permaneceram em segurança até a chegada do colonizador, que traz em si o germe da 
violência. A mesma autora descreve que: 
 
No Piauí, durante o período de meados de 1660 até final do século XVIII, 
numerosos expedições foram organizadas com a finalidade de expulsar os 
nativos de suas terras, aprisioná-los para torná-los escravos nas grandes 
fazendas de gado e de lavoura, para combater outras aldeias, como guias em 
penetrações nas matas ou para expulsá-los das terras férteis e ricas em 
minérios e madeira. Eram para “fazer guerra ao gentio bárbaro” com o apoio 
das autoridades portuguesas, como as lideradas Domingos Jorge Velho, pelo 
Ten.Cel. João do Rêgo Castelo Branco. ” e José Dias da Silva, designado 
para “conquistar” os pimenteiras dos vales dos rios Gurguéia e Piauí : são 
totalmente dizimados sob o comando destes militares, por meio de uma 
guerra, entre 1776 a 1784 (DIAS,2010 ,p.424). 
 
 
Brandão (1999) destaca que o trafico indígena, entre os séculos XVII e XVIII, foi um 
setor com altas taxas de lucros no território sertanejo, um investimento compensatório 
principalmente entre os colonos com menor renda. O Piauí era um ponto de trafico indígena 
para outras localidades no território brasileiro. 
 
 
Levando em conta que, ao findar, no século XVII, as bacias do 
Canindé.Itaim-açu, Itaueira,Maraotoã e Gurgéia achavam-se conquistados 
e povoado, conclui-se que grande quantidade de índios havia sido 
escravizados. Dos 438 habitantes das fazendas, naquela época, apenas 64 
eram nativos, fica claro que os demais apresados foram traficados 
(BRANDÃO, 1999, p.117). 
 
 
Vale ressaltar que a coroa portuguesa atuava de forma contraditória em relação à 
questão indígena, ora protegia com ações educadoras dos jesuítas e ora apoiava e aprovava 
o uso de violência dos colonos que escravizava os nativos, principalmente quando ocorria 
resistência de dominação. 
No Piauí no ano de 1763 o governador João Pereira Caldas promoveu campanha 
contra as tribos nativas sertanejas. Em 1777, João Rêgo de Castelo Branco, declarou guerra 
a tribo pimenteiras. As expedições eram oficias e contava, na maioria dos casos, com apoio 
dos próprios indígenas que eram conhecedores da região. 
 
 
A ação dos bandeirantes contra o gentio do sertão, inclusive no Piauí, foi à 
primeira etapa no processo de expansão dos currais. Isso porque promovia 
a expulsão e eliminação das tribos instaladas na região. Também foi 
instrumento de redução dos nativos sobreviventes dessa guerra ao 
cativeiro (BRANDÃO, 2014, p.111). 
 
 
A “guerra de colonização” no Piauí provocou o extermínio de várias etnias indígenas, 
e a formação de uma estrutura social, política e econômica nos moldes mercantil e 
escravista. Esse cenário de escravidão indígena só começa a mudar a partir do tráfico 
negreiro, que introduz a mão de obra escrava dos negros trazidos da África para a colônia 
brasileira. A partir de então troca-se a mão de obra indígena pela africana. 
 
 
2.2.1 A escravidão do Negro 
 
 
Nunes (1983) destaca que o aumento da produção açucareira nos engenhos brasileiros, 
tornou-se necessária uma mão-de-obra cada vez maisespecializada, como a dos africanos, 
que já lidavam com essa atividade nas propriedades dos portugueses, na Ilha da Madeira, 
litoral da África. A escravidão de negros e seus descendentes foi a forma de trabalho 
compulsório adotada, de uma maneira geral, no Brasil, desde o período colonial até o ano de 
1888, quando essa prática de trabalho escravo foi oficialmente abolida. 
Segundo Gorender, (2010) os homens escravizados eram considerados coisas, bens de 
seu senhor, que poderiam ser vendidos, trocados ou deixados de herança. Os estudos de 
Monsenhor Chaves afirmam que os escravos negros entraram no Piauí pela estrada que ligava 
a feira de gado de Capoame, na Bahia, a Vila da Mocha, no Piauí, não se sabe ao certo em que 
ano chegaram os primeiros escravos negros. 
A historiografia piauiense durante muito tempo tratou a escravidão como sendo algo 
incompatível ao sistema econômico do Piauí naquela época, alegando que a labuta com o 
gado não demandava muitos esforços, afirmando ainda que a mão de em geral, era livre, 
sendo desnecessário o uso de escravos. Um dos defensores dessa visão é o escritor Odilon 
Nunes, ele apresenta os cativos como parte do contexto familiar senhorial: 
 
[...] ordinariamente, tratava de modo paternal sua escravaria, e ainda melhor 
tratava, se era ele pobre, pois disporia apenas de escravos como serviçais, 
para pajem, ou trabalhos domésticos, e desde então ficavam integrados na 
vida familiar como criados (NUNES,1983, p.29). 
 
 
Em contrapartida à visão paternalista do escritor Odilon Nunes, existe as 
argumentações do padre Monsenhor Chaves (1998). Para ele o sistema escravista brasileiro, e 
consequentemente o piauiense, pode ser muito bem definido por duas fases: 
 
Uma primeira em que imperou, com certa ênfase, o regime de ferro e fogo, 
como os castigos mais violentos e mais fortes, com o abandono dos doentes 
e dos velhos… A segunda fase, menos árdua e violenta, com tratamento mais 
cuidadoso aos escravos, é o que se segue ao ano de 1850, quando medidas 
muito sérias começam a ser tomadas para o cumprimento da Lei de 1831, 
que extinguiria o tráfico no Brasil. (CHAVES, 1998, p. 37). 
 
 
Assim como nas outras regiões do país, a mão de obra escrava do negro africano 
também foi utilizada no território piauiense durante muito tempo, embora acredita-se que 
pelas características da economia os escravos desta região tenham sido menos explorados que 
nas regiões agrícolas e de exploração mineral. Tania Brandão afirma: 
 
A escravidão de africanos e seus descendentes também vigorou no 
Piauí desde a instalação dos primeiros currais até 1888, quando o 
regime escravo foi abolido no Brasil. Esse fato é confirmado por um 
dos primeiros colonizadores dos sertões piauienses, Domingos Afonso 
Mafrense, em seu Testamento, datado de 1711 (BRANDÂO, 1999, 
p.151). 
 
Embora haja um debate historiográfico a respeito da escravidão negra no Piauí, existe 
um consenso que existiu sim esse sistema escravocrata no território piauiense, talvez com as 
algumas peculiaridades no que diz respeito as outras regiões brasileiras. Quanto ao tratamento 
com os escravos, Luiz Mott fala: 
 
o que existia era um tratamento menos opressivo do que em outras 
áreas produtivas, onde “parece que as condições e relações de 
trabalho, assim como as perspectivas de alforria eram muito melhores 
na zona pecuária do que nos engenhos de açúcar (MOTT,1985, p.85). 
 
 
Devido a economia piauiense ser baseada na pecuária, e ser voltada para o mercado 
interno o trabalho exercício pelos escravos não eram tão pesados se comparado a região de 
mineração e dos engenhos de açúcar, no entanto é importante ressaltar que é um sistema 
escravocrata e para manter esse sistema em ordem os meios utilizados pelos senhores donos 
de escravos eram cruéis, iam deste a violência física e psicológica até a morte dos escravos. 
Para firmar essa realidade Luiz Mott apresenta trechos de uma carta, escrita por uma escrava 
de nome Esperança Garcia, denunciando os maus tratos dispensando a ela, a suas 
companheiras e filhos e aos demais escravizados da fazenda: 
 
 [...] há grandes trovoadas de pancadas em um filho meu sendo uma 
criança que lhe fez extraio sangue pela boca, em mim não posso 
explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que cai uma vez do 
sobrado abaixo peiada. Por misericórdia de Deus escapei [...] (MOTT, 
1985, p. 141). 
 
 
Para Tanya Brandão (1999), no Piauí possuir escravos não estava diretamente ligado 
só a obtenção de mão de obra para os afazeres diários, essa prática estava relacionando 
também com a questão de status social. Portanto possuir escravaria não era um privilégio só 
dos grandes senhores. Tanya Brandão afirma que: 
 
 a presença do escravizado nesta região se deu com características 
distintas no resto do País, sendo absorvida muito mais como uma 
demonstração de social do que como força de trabalho atuante, apesar 
de, do ponto de vista da relação social, não fugir à regra do sistema 
escravista impregnado no Brasil (BRANDÃO, 1999, p. 154). 
 
 
A diminuição do tráfico negreiro no Atlântico, no século XIX provocou a 
fragmentação da escravidão no Brasil, a partir daí inicia-se uma nova fase do tráfico de 
pessoas escravas, o tráfico interno, ou seja, a compra e venda de escravos entre as próprias 
províncias brasileiras, para suprir as necessidades de mão de obra, nos lugares em maior 
desenvolvimento. 
 
O tráfico interprovincial contribuiu para a diminuição da população escrava no Piauí. 
Acredita-se que o tráfico interno no Brasil tenha perdurado durante muito tempo, até a 
abolição da escravidão em 13 de maio de 1888, quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea. 
 
Em apenas 15 anos, espaço de tempo que corresponde o período entre 
os anos de 1872 e 1887, o número de escravos no Piauí teve uma 
redução de 14.825 cativos. Nesse espaço de tempo, verifica-se que a 
população de cativos diminuía cerca de 988,3 escravos por ano. O 
tráfico interprovincial foi importante no processo de diminuição dessa 
população (SILVA, 2018, p.02). 
 
 
A partir do ano de 1872, verificou-se que o número da população escrava diminuiu 
rapidamente no Piauí. Se naquele ano existia aproximadamente 23.638 escravos, em 1887, 
segundo o Resumo Geral dos Escravos Matriculados na Província do Piauí, existiam apenas 8. 
970 pessoas na condição de escravas (RESUMO GERAL DOS ESCRAVOS 
MATRICULADOS NO PIAUÍ, 1887 apud SILVA, 2018, p.01). 
 
 
3 CONSIDERAÇÔES FINAIS 
 
 
É inegável que houve escravidão no Piauí desde os primórdios da época colonial. 
Nenhuma escravidão é branda, a escravidão por si só já é uma forma de violência, de ordem 
física, psicológica e social. 
A escravidão no solo do sertão do Piauí teve uma formação específica tendo como 
pano de fundo a estrutura da pecuária, voltado ao mercado interno. Houve escravidão tanto 
do índio, quanto do negro. Os primeiros povoados e vilas foram fundados em torno da 
pecuária, houve guerras e resistência entre indígenas e colonos. A Coroa Portuguesa 
participava da administração nem sempre de forma ativa. 
A guerra de colonização do território piauiense culminou no exterminio de várias 
etnias indigenas que antes da chegada dos “colonizadores” , habitaram durante muito tempo 
o território que corresponde ao atual Estado do Piauí. 
A escravidão negra entre os séculos XVII e XIX aconteceu com o uso de violência 
tanto na zona rural ou urbana, as condições eram péssimas desde a saúde a questão de 
alimentação. 
Existem lacunas na história do Piauí, que ao longo do tempo espaço, foram sendo 
preenchidas, isso só foi possivel devido ao trabalho de vários pesquisadores, historiadores e 
escritores que buscam questionar a historiografia tradicional, afim de entender a história 
através da ótica das minorias e dos desprevilegiados pela história geral, tradicional. Sendo 
assim é preciso sempre novas perguntas e questionamentos.REFERÊNCIAS 
 
 
ABREU, J. Capristano de. Capítulos de História Colonial (1500- 1800). , 5a. ed. Rio de 
Janeiro: Livraria Briguet, 1969. 
 
BRANDÃO, Tanya Maria Pires. O escravo na formação social do Piauí: perspectiva 
histórica do século XVII e XVIII. Teresina: Editora da Universidade Federal do Piauí, 1999. 
 
BRANDÃO, Tanya Maria Pires. Para Além dos Engenhos: A Escravidão na Colonização do 
Piauí. IN.: EUGÊNIO, João Kennedy (org.). Escravidão Negra no Piauí e Temas Conexos. 
– Teresina: EDUFPI, 2014, p. 152-189. 
 
CHAVES, Monsenhor. O índio no solo piauiense IN: Obra completa. Teresina. Fundação 
Cultural Monsenhor Chaves, 1998. 
DIAS, Claudete Maria Miranda. História dos Índios do Piauí. Teresina, EDUFPI/GRAFICA 
DO POVO: 2010. 
GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. 3a .Ed São Paulo: Ática, 2010. 
MOTT, Luiz R.B. Piauí Colonial; População, Economia e Sociedade. Teresina: Projeto 
Petrônio Portela, 1985. 
NUNES, Odilon. Estudos de História do Piauí. 2ª ed. Teresina: COMEPI, 1983. 
SILVA, Rodrigo Caetano. A fragmentação da escravidão no Piauí: exportação de cativos e a 
entrada de flagelados da seca. Vozes, Pretérito & Devir Ano 2018, Vol. VIII, Nº I, artigos.

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