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PEREIRA_Imagens da Cultura Armênia

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IMAGENS DA CULTURA ARMÊNIA NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA DA DIÁSPORA: WILLIAM SAROYAN E SARKIS J. EMINIAN
Deize Crespim Pereira[footnoteRef:1] [1: Professora Doutora de Língua e Literatura Armênia do DLO/FFLCH/USP.] 
RESUMO: O objetivo deste trabalho é identificar e analisar quais imagens e representações da cultura armênia se fazem presentes na obra de dois autores armênio-americanos da diáspora: William Saroyan e Sarkis J. Eminian. Para embasar esta análise utilizamos os pressupostos teóricos sobre identidade cultural e representação da cultura de Stuart Hall. Como documentado na obra dos dois autores mencionados, pertencentes à literatura armênia contemporânea diaspórica, a cultura armênia se manifesta principalmente através de: práticas culturais, relações interpessoais, discursos e narrativas, e símbolos. 
PALAVRAS-CHAVE: diáspora armênia nos Estados Unidos, representações da cultura armênia, identidade cultural, William Saroyan, Sarkis J. Eminian.
ABSTRACT: This paper aims to identify and analyze the representations of Armenian culture in texts of two Armenian Americans authors that belong to Armenian Diaspora: William Saroyan and Sarkis J. Eminian. We use the theoretical tools of Stuart Hall regarding cultural identity and cultural representation. As documented in the texts of the two authors, representative of Armenian contemporary literature of Diaspora, Armenian culture is represented mainly as: cultural practices, interpersonal relations, discourses and narratives, and symbols. 
KEYWORDS: Armenian Diaspora in United States, Armenian cultural representations, cultural identity, William Saroyan, Sarkis J. Eminian.
1. Introdução
O objetivo deste trabalho é analisar as formas de representação da cultura armênia na obra de dois autores pertencentes à literatura armênia contemporânea da diáspora: William Saroyan e Sarkis J. Eminian. 
Para embasar a análise dos textos destes autores, utilizamos os pressupostos teóricos de Stuart Hall acerca de identidade cultural e representação da cultura (Hall, 2006; 2008; Hall et al., 2013). Identidade cultural se define como “aqueles aspectos de nossa identidade que surgem de nosso ‘pertencimento’ a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e acima de tudo nacionais” (Hall, 2006, p. 8). As culturas e as identidades nacionais são construídas através de símbolos e representações, de discursos e narrativas. 
No caso dos armênios, a questão da identidade cultural é mais complexa, porque transcende os limites de uma identidade nacional. O genocídio perpetrado pelos turcos otomanos no início do século XX deu origem à diáspora armênia, formada por sobreviventes e seus descendentes, a qual se espalhou por vários países. 
William Saroyan e Sarkis J. Eminian têm em comum o fato de pertencerem à primeira geração de armênio-americanos, isto é, descendentes de armênios nascidos nos Estados Unidos, e suas obras são importantes por retratarem a época de formação da diáspora armênia na América. Interessa-nos, sobretudo, observar quais representações da cultura armênia, quais significados e práticas culturais e simbólicas emergem em suas obras. 
Como se verá, não se trata de mera reprodução da cultura armênia nas condições da diáspora – até porque houve uma ruptura na transmissão das tradições ocasionada pelo genocídio armênio e pela emigração forçada do território natal –, mas de um processo de tradução cultural, através do qual esses habitantes da diáspora reinterpretam a Armênia e sua cultura. 
2. Pressupostos teóricos
Neste trabalho, junto com Hall et al. (2013), concebemos cultura como um conjunto de significados compartilhados. A cultura está relacionada à produção e partilha de significados entre os membros de uma sociedade. “Dizer que duas pessoas pertencem a mesma cultura é dizer que elas interpretam o mundo mais ou menos do mesmo modo e podem se expressar, seus pensamentos e sentimentos sobre o mundo, de maneira que serão compreendidas uma pela outra” (Hall et al., 2013, pp. xviii-xix). Os sentidos de uma cultura não estão só na mente, mas organizam e regulam as práticas sociais, influenciando nossa conduta.
Nossa análise está centrada na ideia de cultura não tanto como um conjunto de objetos (romances, pinturas, programas de tv, etc.), mas como um processo, um conjunto de práticas culturais. As palavras que usamos, as histórias que contamos, as imagens que produzimos, as emoções associadas, a maneira como conceptualizamos tudo isto, os valores que atribuímos às coisas, etc.; são esses significados que dão sentido à nossa identidade, à cultura que pertencemos. É importante enfatizar que as significações são produzidas e trocadas na interação social, através de rituais, práticas cotidianas, narrativas, histórias, fantasias, etc. São estas práticas simbólicas que nos fazem sentir como membros de uma cultura nacional, ou permitem a identificação com a comunidade local.
Neste trabalho, nos interessa ver como a cultura armênia é representada. Adotamos uma perspectiva cognitivista de cultura (Talmy, 2003). Pensamentos, ideias e até sentimentos são sistemas de representação. Conceitos, imagens, emoções representam na nossa mente coisas do mundo. Os sentidos não estão lá objetivamente no mundo, mas são construídos. “São os participantes de uma cultura que dão sentido às pessoas, objetos e eventos” (Hall et al., 2013, p. xix). As significações são transmitidas e interpretadas pelos membros de determinada cultura. Estes compartilham um conjunto de códigos culturais; por exemplo, tendem a interpretar imagens visuais da mesma forma. Sem esses sistemas de representação, significados, não poderíamos assumir identidades culturais ou sustentar a vida comum a que chamamos de cultura.
As formações discursivas têm papel decisivo na representação de uma cultura. “Uma cultura nacional é um discurso – um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos (...). As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre ‘a nação’, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades. Esses sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com seu passado e imagens que dela são construídas” (Hall, 2006, pp. 50-1).
3. Breve informação sobre os autores
Há algumas diferenças importantes entre os dois autores cujas obras foram escolhidas como objeto de estudo, que devem ser mencionadas brevemente. William Saroyan é escritor consagrado da literatura armênia contemporânea da diáspora. No presente trabalho, foram analisados diversos de seus contos, os quais são obras de ficção, embora contenham muitas informações autobiográficas e descritivas da época e ambiente em que Saroyan viveu. Por tratar-se de textos de um literato, suas imagens da cultura armênia tendem a ser mais poéticas e por vezes carregadas de crítica e humor.
O autor Sarkis J. Eminian escreveu apenas uma autobiografia (West of Malatya - The boys of '26), a qual analisamos neste trabalho. Seu texto constitui, portanto, um relato pessoal de um armênio da diáspora[footnoteRef:2]. [2: Com exceção dos contos “Vinhedo do Big Valley” (Saroyan, 1934a), “Eu sobre a terra” (Saroyan, 1934b) e “Os vivos e os mortos” (Saroyan, 1939) cujos tradutores estão indicados na bibliografia, todas as demais traduções de Saroyan e de Eminian são de minha responsabilidade.] 
Não obstante estas divergências, Saroyan (1908-1981) e Eminian (1926-2010) têm em comum o fato de pertencerem à primeira geração de armênios nascidos nos Estados Unidos, ambos são filhos de sobreviventes do genocídio, e seus textos retratam o contexto desta comunidade armênia na época de sua formação. Saroyan nasceu e viveu em Fresno, Califórnia. Eminian nasceu em Cleveland, Ohio. Ambas as cidades abrigavam uma grande comunidade armênia.
4. Práticas culturais e simbólicas
Quando os armênios vieram para a América, trouxeram consigo seus costumes e tradições, e tentaram não somente conservá-los, mas transmiti-los aos seus filhosnascidos no novo território. Muitas são as práticas culturais que se mantiveram nesta época em que a comunidade armênia diaspórica nascia, sendo formada por sobreviventes do genocídio e seus filhos pertencentes à primeira geração de armênio-americanos. 
Falar armênio no ambiente doméstico é uma prática comum entre esta primeira geração. Sua primeira língua aprendida na infância não foi o inglês, mas sim o armênio, como relata Eminian: “Todos nós entendíamos armênio, já que era a língua falada em nossas casas, e alguns de nós sabíamos inglês muito pouco” (2004, p. 6); “(...) eu cresci numa casa em que só se falava armênio. Por causa disso, eu mal falava inglês quando entrei para o jardim de infância” (2004, p. 13). O autor relata ainda ter sido alfabetizado em armênio pela sua tia, que lhe ministrava aula uma vez por semana à mesa de sua cozinha.
Saroyan (1958) também menciona o bilinguismo, característico da primeira geração, prática que a aproximava mais da cultura armênia. Repetidamente, ele se refere ao armênio como sua própria língua, antes do inglês: “Como eu digo, de tempos em tempos, ano vai ano vem, eu topo com um ou outro dos armênios que escrevem em inglês, e como compatriotas e companheiros escritores, nós conversamos em nossa língua, assim como em inglês (...)” (1958, p. 452). No conto “The Armenian Writers”, os personagens, que são escritores armênio-americanos da diáspora, conversam em ambas as línguas, na festa armênia patrocinada pelo mecenas da comunidade.
Mas Aspadour Chuchulingirian não é o único escritor armênio que eu posso encontrar no salão armênio, e com o qual eu troco palavras rotineiras em nossa encantadora língua, começando é claro com a questão dita em armênio, “você fala armênio?”.
Agora, se acontece que fui eu que fiz a pergunta, ele geralmente responde, em armênio, é claro, “um pouco”, e depois em inglês, com sotaque, “apesar de tudo, eu sou americano. Meu trabalho é com americanos. Tenho poucas oportunidades de falar armênio. Eu posso, é claro, se precisar”.
Um momento depois, contudo, ele fala por quinze minutos em armênio, e muito bem, usando um número de palavras que eu nunca ouvi antes, mas que, mesmo assim, soam autênticas, e, pelo que eu sei, querem dizer alguma coisa.
Mas se acontece de ele me perguntar se eu falo armênio, eu digo sem a menor hesitação: “Sim”, ou como dizemos, “Ayo”.
E depois, para demonstrar como eu falo, eu digo “intch ga, tchi-ga? ”, ou, “O que há, o que não há?”, ou “O que está fazendo?”, ou “sem conversa extravagante aqui, por favor”.
Então, o velho Chuchulingirian diz, “Votch-inch”, ou talvez, “Haytch”, que é claro sabemos que é somente uma resposta cortês e rotineira para um pergunta surpreendente ou sem sentido, e não aquilo que essas palavras realmente significam, que em ambos os casos é “nada” – mas este “nada” particular também significa que não tiveram um tempo ruim ultimamente, e consequentemente que tudo está bem, obrigado. (Saroyan, 1958, pp. 451-2)
Outra prática cultural que se manteve – e que notadamente é a forma de manifestação cultural que mais tende a se preservar na diáspora (Pimenta, 2012) – é cozinhar pratos armênios. 
Minha mãe sempre fazia pães armênios frescos, tanto o lavash quanto o beleeg e outras comidas tradicionais armênias. (Eminian, 2004, p. 97) 
Uma vez por semana, yahrpragh [yaprak sarma: charuto recheado de folha de uva] aparecia na nossa mesa, geralmente num grande pote. Imagino que isso se repetia em centenas de lares armênios da nossa comunidade. (Eminian, 2004, p. 29) 
Eminian conta como nos piqueniques em praças públicas se preparava o shish kebab (churrasco). Os transeuntes ficavam curiosos por causa do cheiro peculiar. Ocasionalmente, os armênios davam a um estranho a oportunidade de provar a iguaria, mas quando contavam que era carne de carneiro, as pessoas faziam careta e iam embora. 
Eminian estabelece uma relação entre a prática de cozinhar, a identidade de gênero e o papel social de mãe. Para ele, todas as mães armênias são excelentes cozinheiras. O autor é contraditório em suas explicações sobre a origem desse dom. Embora ele corretamente reconheça que se trata de um saber cultural socialmente transmitido de geração em geração, ao mesmo tempo ele o descreve como uma habilidade inata das mulheres armênias, como se fosse parte de sua natureza. 
Acho que qualquer um dos meus melhores amigos do nosso clã ou qualquer outra criança armênia pode atestar os maravilhosos dotes culinários das mães armênias. (Eminian, 2004, p. 139) 
Acho que qualquer um da minha geração pode se gabar de ter uma mãe que era cozinheira excepcional. É uma arte e aptidão que desapareceu quando elas morreram. Algumas ensinaram suas filhas a preparar alguns dos tradicionais pratos armênios, mas não dá para ensinar gênio e habilidade inata (...). Talvez isto se deva ao fato de aquela geração ter vindo de uma tradição e herança de séculos, com mães ensinado as filhas, geração a geração, transmitindo receitas antigas que não eram escritas, mas eram guardadas de memória. (...) 
[A habilidade de cozinhar] era natural para elas como um talentoso artista criando sua pintura na tela. (Eminian, 2004, p. 137)
Por outro lado, a preparação do arak ou raki (bebida alcoólica) requer o trabalho de um homem. Eminian e Saroyan contam que era muito comum que os armênios tivessem sua própria destilaria, que normalmente ficava escondida no porão da casa, e fabricassem raki para consumo próprio. 
Mas agora estávamos de volta à sala onde a festa estava acontecendo. Gaspar estava segurando um pequeno copo cheio da água ardente branca do nosso povo, feita pelo próprio Apkar a partir das suas uvas moscatel, na sua própria destilaria, cem ou mais galões por ano, o bastante para todos, de raki, sem licença, não tributado, 100% de gradação alcoólica (...). (Saroyan, 1988a, p. 37)
Cada família armênia tinha sempre uma garrafa de raki para celebrar as ocasiões especiais. O anfitrião servia as doses da bebida que tinham que ser consumidas de um gole só. Os brindes eram feitos à família, aos amigos e à boa fortuna. Como a bebida é muito forte, tinha que ser acompanhada do mezzeh, isto é, os aperitivos armênios, como por exemplo, basturma (carne seca), lavash (pão), além de queijos, e tomates e pimentas recheados. Como nota Eminian, os jovens não sabiam por que este ritual era feito desta maneira, nem por que era feito, talvez fosse um antigo costume trazido do velho país. Mas se você visitasse os Eminians, Bajaksouzians, Dadaians, Pilibosians, Mesrobians, Keshishians e Gazarians, ou qualquer outra casa armênia, você sabia que iria encontrar um forno especial para assar o lavash (pão) e para destilar o arak.
A colheita da folha de uva, para a preparação dos charutos recheados com arroz e carne, era uma atividade que reunia toda a família. 
Mais uma vez as folhas das parreiras estavam verdes e os armênios iam em seus automóveis para os vinhedos apanhar as folhas mais tenras para a festa da primavera. As crianças, nascidas na Califórnia, ficavam embaixo das parreiras colhendo folhinhas e falando armênio entre si. Devemos comer a folha da uva, seu gosto não será esquecido, inclusive para quem não for armênio. Para os armênios o gosto da folha de uva é o verdadeiro gosto de seu país. Ao comer a folha da uva em todas as primaveras, os armênios, onde quer que estejam, estão declarando sua lealdade a Deus e à Armênia. Colher as folhas das parreiras é coisa muito importante e não se trata apenas de uma questão de culinária. (...) O que é que vocês armênios comem? Disse-lhe que comíamos folhas de parreira. (Saroyan, 1934a, pp. 106, 108)
Como diz o próprio autor, não se trata de mera questão de culinária, mas sim de um ritual. Os rituais são parte essencial de uma cultura (Lakoff; Johnson, 1980). Com a chegada de outra primavera, é hora de colher a folha de uva novamente. Não somente na Califórnia, mas também em Cleveland, Ohio, em cada primavera, as folhas de uva eram colhidas de vinhas selvagens ou de fazendas nas regiões em torno. Uma curiosidadeé que em Cleveland houve uma tradução desta prática cultural. A tradição da colheita das folhas de uva foi adaptada para uma espécie de competição da qual participavam os vários clãs, isto é, os vários agrupamentos de famílias armênias. Cada um escolhia uma região onde se supunha estavam as melhores folhas de uva. O local era mantido em absoluto segredo, até o dia da colheita, quando toda a família se dirigia bem cedo para a região de modo a ajudar nesta atividade. Era uma festa familiar, quando todos se juntavam e se sentiam felizes. Segundo Eminian, com o passar do tempo este ritual se perdeu entre as novas gerações: “Nós não apanhamos mais folhas de uva. Nossos pais já se foram. O clã do modo como o conhecemos já não existe mais. Ele morreu com eles e junto morreram coisas como a colheita das folhas de uva. Há algo triste nisso” (Eminian, 2004, p. 33). 
Muitas dessas comidas e bebidas não eram tipicamente armênias, mas habituais entre os armênios residentes no Império Otomano. O raki é consumido em muitas outras regiões do Oriente, além da Armênia. O charuto de folha de uva é mais conhecido entre nós como parte da cozinha árabe, mas os armênios viam esses pratos como caracteristicamente armênios. Isto fica claro pela observação de Eminian de que não gostava absolutamente de “comida armênia”, tendo sido punido diversas vezes pela sua mãe, por se recusar a comer pratos armênios. Quando acompanhado de seus amigos à mesa, sua mãe se desculpava pela sua falta de respeito diante da comida armênia, enquanto os outros olhavam para ele pasmados por ele não conseguir perceber que “coisa maravilhosa” era o charutinho recheado. 
Algumas dessas práticas culturais armênias ficaram cravadas como memória afetiva, principalmente da infância. Eminian se lembra com detalhes da primeira vez em que sua mãe o levou a uma casa de banho público em Cleveland. “Nós assistimos nossas mães nuas, seus longos cabelos como uma cascata em suas costas, e elas riram e brincaram. Deveria ser assim no velho país, quando uma mãe armênia amorosamente abraçava seu filho junto a seu peito e o banhava numa casa de banho público” (Eminian, 2004, p. 6).
O autor relata uma outra prática comum entre os armênios: cultivar um jardim. Sabemos que pessoas de diferentes e inúmeras culturas apreciam tal atividade. O que ocorre aqui é que Eminian atribui um sentido cultural particular a esta prática, interpretando-a como uma atividade típica dos armênios e relacionada ao seu amor pela terra. 
Em Cleveland, todo armênio tinha um jardim. Quando visitávamos uma casa armênia, eu sabia que ia sempre encontrar um jardim no quintal dos fundos (...). Eu ficava me perguntando por que aqueles homens iam trabalhar no jardim depois de um dia inteiro de trabalho duro. No que se refere aos Malatyatsis[footnoteRef:3], acho que foi provavelmente o amor e respeito que eles tinham com a terra. Isto foi possivelmente algo que eles herdaram de seus pais e parentes. (Eminian, 2004, p. 141) [3: Malatyatsis, isto é, os armênios procedentes de Malatya, sendo -tsi um sufixo que indica origem geográfica, na língua armênia.] 
Uma última prática mencionada são os jogos armênios. Saroyan (1988b) cita o nome de um jogo em armênio, Mytks (“Minha Mente”), transplantado da comunidade armênia de Bitlis para a América. Até hoje, são comuns as competições entre jovens armênios da diáspora (Eminian, 2004). Embora não se trate mais de jogos armênios (hoje se joga basquete, vôlei, futebol, basebol, etc.), esta ainda se mantém como uma prática cultural que congrega jovens do mundo todo, que têm em comum a origem étnica armênia. 
 
Quando nossa família vivia na Armênia, os longos invernos com neve de Bitlis nos impeliram a inventar um jogo chamado Minha Mente, que frequentemente começava em outubro e ia até abril. Quando viemos para a América, trouxemos o hábito deste jogo conosco. (Saroyan, 1988b, p. 83)
5. Relações interpessoais
A identidade cultural armênia também se manifesta no plano das relações interpessoais.
Esta identidade não se origina apenas a partir da autoidentificação, mas também é socialmente atribuída, tanto pelas pessoas que integram a comunidade como pelas pessoas externas a ela. Como relata Eminian, apesar de ser frequente que confundissem os armênios com outra etnia de imigrantes, como italianos, por exemplo, algumas vezes as pessoas os reconheciam como armênios: “Meu amigo Paddy sempre me chamava de armênio” (Eminian, 2004, p. 72).
Para denominar o agrupamento dos armênios de Cleveland o autor adota o termo “clã”, explicando seu significado e relacionando este fenômeno social a uma estratégia de sobrevivência. 
A comunidade armênia de Cleveland era formada de pequenos clãs como o nosso. Por toda parte, havia pequenos agrupamentos de famílias armênias que viviam unidas como se fossem parentes. Este era um fenômeno social do tempo em que os imigrantes criaram os clãs para que pudessem sobreviver em um país novo e estranho. (Eminian, 2004, p. 30) 
Os espaços de socialização dos armênios eram principalmente os piqueniques de domingo, casamentos, funerais e eventos sociais no centro comunitário armênio. Era comum que eles se afiliassem a instituições e partidos políticos armênios.
Para os adultos, o equivalente da Federação da Juventude Armênia é a Federação Revolucionária Armênia, cujos membros são Dashnaks. A primeira nos ofereceu a oportunidade de conhecer e socializar com outros jovens armênios e aprender sobre a história da Armênia. Acho que foi aí que eu me tornei um armênio, porque pela primeira vez eu conheci outros armênios do meio oeste e leste e adquiri uma etnicidade crescente conforme me envolvi mais nas atividades como membro desta federação. (Eminian, 2004, p. 83)
Os armênios da diáspora tendiam a ver a si próprios como uma grande família ou uma família ampliada (Hall, 2008). Isto é ilustrado no conto “The Armenian Writers” (Saroyan, 1958), em que os personagens, que são escritores de origem armênia nascidos na América, participam de uma festa armênia patrocinada por um mecenas da comunidade, onde desfrutam da comida armênia e do raki. Saroyan mostra como eles compartilham um sentimento de companheirismo, irmandade, primeiramente por terem em comum o fato de serem armênios da diáspora e, em segundo lugar, por terem a mesma profissão. Contudo, não há mais nada que os aproxime, como escritores eles diferem em estilo, e um não gosta dos textos do outro. Com humor e ironia, Saroyan questiona esse sentimento de irmandade. Ora, sua procedência não faz deles irmãos, e embora os aproxime casualmente e inspire uma relação amistosa, eles nunca serão sequer amigos apenas por terem uma origem étnica comum. 
Há muitos tipos de armênios que escrevem em inglês para sobreviver, ou como um modo de vida, como costumam dizer; e eu sou um admirador profundo de cada um deles de uma maneira fraterna e familiar, primeiro porque eles são armênios, segundo porque eles são escritores, apesar de serem geralmente maus escritores.
A verdade é que eu não me importo realmente com os escritores armênios, enquanto armênios, assim como eu não me importo com escritores americanos, enquanto americanos. É só que eu nunca fui capaz de superar o fato de ser eu mesmo um armênio, o que por sua vez me impele a maravilhar-me com qualquer um que eu conheça que também é armênio, apesar de frequentemente eu desejar que ele fosse um Uz ou Bek, ou qualquer um dos outros povos escondidos nas grandes, distantes montanhas do mundo.
Por que deveria eu conhecê-lo, com seu cabelo bem penteado e seu método sistemático de traduzir pensamento em linguagem, como quando ele diz: “olhe aqui, nós somos da mesma família, nós nos compreendemos um ao outro, isto não é verdade? ”.
E é claro que não é, mas o que posso eu dizer, sendo cortês a maior parte do tempo?
 (Saroyan, 1958, p. 451)
Os textos de Saroyan e de Eminian mostram que a rede social dos armênios da diáspora tendia a ser composta de pessoas de origem armênia. Esses laços sociais não se limitavam às relações de amizade. Mesmo quandose tratava de contratar os serviços de qualquer profissional, procurava-se uma pessoa de ascendência armênia. Entre os dois se estabelecia uma relação mútua de confiança, justamente por sua origem étnica idêntica. Mais uma vez, é como se a procedência comum fizesse deles uma grande família. Saroyan (1988c) ilustra este costume com humor e ironia no conto “A Fresno Fable”, em que o padeiro Kerop Antoyan topa na rua com o advogado Aram Bashmanian. Embora o padeiro tome o encontro como um sinal de Deus, já que naquele momento estava em apuros e precisava de um advogado, ele simplesmente não consegue se abrir e revelar seu problema ao compatriota, falando por meio de provérbios e ditados populares. Neste texto, Saroyan brinca com a questão do sentimento de confiança que, em tese, deveria se estabelecer automaticamente entre as pessoas de origem armênia. 
Aram, nós somos de Bitlis. Nós nos entendemos tão bem, que antes que um fale, o outro já pensou (...). Aram, todo olho tem sua sobrancelha; acima de todos os lábios tem um bigode; o pé quer o seu calçado; a mão, sua luva; o que seria de um alfaiate sem sua agulha?; até mesmo um cão perdido lembra que um dia teve um osso; até que se acenda a vela não se pode fazer a oração para um amigo; a ruína de um homem pode ser a recompensa de outro. (Saroyan, 1988c, pp. 53-4) 
Saroyan (1988a) fala ainda dos casamentos arranjados entre famílias armênias, que eram muito comuns na época de formação da diáspora. No conto “The inscribed copy of The Kreutzer Sonata”, o narrador lembra um episódio de sua infância, o noivado do seu tio, Gaspar Bashmanian, com uma moça armênia da família dos Apkarian. Curioso é que somente na festa de noivado o casal tem a chance de se conhecer pessoalmente.
Já os casamentos interétnicos, pouco frequentes nesses primeiros anos da diáspora armênia mas muito recorrentes hoje em dia, também são mencionados nos textos. Em “Cowards”, Saroyan (1988d) alude aos armênios que se casaram com garotas americanas, formando grandes famílias, com filhos que não falavam armênio, mas mantiveram seus nomes de origem armênia.
Em “How to choose a wife”, Saroyan (1988e) também discorre sobre a questão de casar ou não com uma pessoa de mesma origem étnica. Segundo o narrador, todas as qualidades da família armênia Bashmanian de nada valem, quando o assunto é mulheres. 
Minha família armênia, os Bashmanians, apesar de toda sua fama por sua sagacidade, rapidez, inteligência, mundanalidade, indústria, comércio, prática, humor e sabedoria, sempre me pareceu estúpida, especialmente no que se refere às mulheres. (Saroyan, 1988e, p.113)
Neste conto, o tio Hamazasp Bashmanian aconselha o sobrinho de onze anos em assuntos amorosos. Segundo ele, o inglês tem uma expressão que sua língua não tem (aludindo ao armênio), fall in love, que diz muito sobre os relacionamentos amorosos, os quais podem ser metaforicamente relacionados a um tombo. O tio previne o garoto de que não importa quantos anos um casal viva junto, quantos filhos tenha, a mulher sempre será uma estranha para o marido, que jamais conseguirá compreendê-la. Indo contra todas as expectativas, o personagem ironicamente sugere que ele não se case com uma pessoa da mesma origem étnica.
– Esperam de você que se case com uma garota armênia. Não faça isso.
– Por que não? 
– Já é ruim o suficiente conviver na mesma casa com uma estranha para o resto da sua vida. Pior ainda se a estranha for da sua própria família, por assim dizer, não devendo, por isso mesmo, ser uma estranha. Escolha uma garota de qualquer uma das outras famílias do mundo (...). Escolha uma entre as norueguesas. (...)
– Ok, mas eu imaginei que, entre todos da família, você é o que mais iria querer que todo Bashmanian se casasse com uma armênia.
– Eu me casei com uma armênia. Não faça isso.
– Ok. (Saroyan, 1988e, pp. 119-120)
Eminian atribui o amor à família a um sentimento cultural, típico dos armênios, especialmente dos armênios de Malatya. Pode se argumentar que o amor entre familiares seja um sentimento universal, mas o que nos interessa aqui é como o autor relaciona este sentimento à origem étnica (conferir também Verneuil, 1985). O maior apego e valorização da família entre os armênios se explicaria pelo trauma do genocídio, que destruiu lares e separou as pessoas. 
A geração de armênios que imigrou para a América no início do século XX era dedicada e leal à suas famílias e parentes. Mas os Malatyatsis tinham uma paixão maior pela devoção, lealdade e confiança entre a família e amigos. Eram tudo para eles. (Eminian, 2004, p. 61) 
As nossas mães eram especiais. (...) Seu mundo se concentrava no amor e na família. Elas sabiam o valor de ser mãe, tendo visto suas próprias famílias serem destruídas, então elas recomeçaram de novo renascendo das cinzas na América e nós nos enriquecemos com isso. (Eminian, 2004, p. 140) 
A mudança de costumes da família armênia no ambiente americano também é tema de reflexão. É de se esperar que haja uma tradução de comportamentos e papéis familiares no novo país. Saroyan (1988b) fala especificamente das relações entre as diferentes gerações no conto “Mystic Games”. Seu narrador tem um juízo crítico, ponderando que o novo ambiente, “o novo mundo”, pede um novo comportamento, diferente daquele que se esperava dos jovens no antigo país. As palavras do personagem ilustram que na diáspora os membros da família têm que renegociar e redefinir seus padrões de relacionamento, a partir de seus valores tradicionais e aqueles característicos do país adotado. 
“Que tipo de família é essa?” ele gritou. “Primeiro, o irmão menor, e depois o maior me interrompem. Mas então este é um Novo Mundo, não é? Todos são iguais neste mundo, não é isso? Bom, talvez seja melhor esquecer o velho país e suas regras de comportamento. Agora somos americanos, cada um de nós. Vamos nos comportar como americanos”. (Saroyan, 1988b, p. 85) 
Uma consequência direta do genocídio e da formação da diáspora, no domínio das relações interpessoais, é a difícil relação entre pais e filhos, devido não só ao próprio trauma causado pelo massacre, mas até mesmo à distância cultural que se criou entre eles. Esta questão aparece com frequência na literatura armênia contemporânea da diáspora (conferir também Arlen, 1978 e Hamalian, 1978). 
O que teus olhos viram, meu pai, que te silenciaram para sempre? Quando eu era um garoto, eu podia ver o ódio neles, mas eu nunca soube o porquê. Eu cresci pensando que era eu que você odiava. (Eminian, 2004, p. 69)
De certa maneira, você era uma criança do século XVIII vivendo em um novo país que era a antítese da sua religião e sociedade. (Eminian, 2004, p. 69)
Você era criança quando isto aconteceu com você e com sua família. O assalto do Sultão Hamid. Curdos itinerantes, criminosos turcos e exércitos irregulares formavam uma mistura homogênea e atacaram os armênios nos vilayets [províncias], vilarejos e cidades como Malatya, Akhisar, Sassun, Trebizonda. Seus olhos de criança viram as pessoas sendo assassinadas com machados, sabres, facas e armas de fogo. As pessoas morriam em sua volta, em dor e agonia. As garotas armênias foram atacadas e raptadas como escravas para nunca mais serem vistas por suas famílias. Você tinha apenas três anos, mas nunca se esqueceria. (...) Você atravessou o período dos massacres e perseguições da década de 1890' até que escapou para a América em 1909 levando seu ódio consigo, o qual permaneceu incomodando você até o dia de sua morte. (Eminian, 2004, p. 70)
Outra consequência notória do genocídio é a difícil relação entre armênios e turcos, principalmente porque estes até hoje se negam a reconhecer formalmente os massacres. Eminian reproduz em seu discurso um lugar comum, que é o planejamento da vingança por parte dos armênios e a retomada do antigo território, o que, no seu caso, se dá ainda na época da inocência de sua infância.
 
Lembro quando Mike e eu, apenas dois garotos, sentamos à mesa olhando para o mapa da Turquia e prometemos um dia, quando crescermos, liderarexércitos e invadir a Turquia. Um atacaria do norte e o outro do sul. (Eminian, 2004, p. 133)
Saroyan (1988f) também aborda este tema, mas uma vez mais com muito humor. Em “The duel”, o protagonista Bashmanian tem seu primeiro nome armênio, Artarash, americanizado e corrompido para Trash (“lixo”, em inglês). O nome próprio é uma questão relevante entre os armênios da diáspora. O nome também identifica uma pessoa como de origem étnica armênia, mas muitos optam por mudar de nome, em geral simplesmente para não serem discriminados.
Ele nunca viu seu nome como um insulto (...).“Trash” era só uma forma ignorante, americanizada de seu nome armênio perfeitamente apropriado, Artarash. A primeira professora que ele teve na escola Emerson não conseguiu pronunciar seu nome, então Artarash se tornou Trash, e quando Trash já tinha uns oito ou nove anos, ele já tinha quase se esquecido de Artarash. (Saroyan, 1988f, p. 132)
Trash Bashmanian era bom de oratória e de esgrima. O personagem encasqueta a ideia de que precisa encontrar um inimigo para duelar consigo, e fica obstinado por esse pensamento. Trash indaga a si mesmo enquanto conversa com seu primo: 
– Pense bem. Quem você odeia? (...) Eu sei que odeio alguém, só não consigo lembrar quem seja. Deixa-me pensar. Não tem alguém que todos nós odiamos? (...)
– Talvez você odeie os italianos? – perguntei.
– Não, claro que não.
– E os alemães? Índios? Mexicanos? Hindus? Japoneses? Sérvios? Chineses? Portugueses? Negros? Espanhóis?
– Não, gosto de todos eles. (...)
No dia seguinte, ele veio a minha casa, eu estava pronto. 
– Trash – eu disse – acho que descobri quem você odeia. 
– Quem?
– Os turcos.
– Você tem razão – ele disse – Sabia que tinha alguém que eu odiava.
(Saroyan, 1988f, pp. 135-6)
A solução cômica para o dilema é encontrar um turco na cidade, mas não há nenhum. Há assírios, sírios, persas e alguns árabes. “Tem que haver um turco em algum lugar da cidade” (Saroyan, 1988f, p. 136). “Eu tenho que encontrar um turco” (Saroyan, 1988f, p.137). 
A conclusão a que o protagonista chega é que, na América, os velhos ódios ficaram para trás. Lá são todos americanos, deixando de ser o que foram outrora. O turco claramente representa “o outro”, o inimigo, como o autor deixa transparecer no final do conto: “Não procure por um turco no mundo e você não o encontrará” (Saroyan, 1988f, p.141). Na história criada por Saroyan, a solução adotada para resolver a questão foi ensinar o primo de Trash a praticar esgrima, de modo que agora os dois podem lutar entre si, revezando em quem faz o papel de turco, “cada um ganhando e perdendo a cada vez, não importa o lado em que está” (Saroyan, 1988f, p.141).
6. Discursos e narrativas
6.1 A diáspora como Nova Armênia ou Pequena Armênia
Os armênios de Cleveland eram procedentes em sua maioria da cidade de Malatya na Armênia Turca sob domínio otomano. Por este motivo, Cleveland é por eles chamada de “Malatya do Ocidente”, “Pequena Malatya”, “Nova Malatya”, a exemplo de outras grandes diásporas como a Cilícia, estado Armênio independente na região ocidental (do ano 1080 a 1375), às margens do mar Mediterrâneo, geograficamente distante das terras da Armênia, cuja formação também foi motivada por guerras e invasões dos turcos seldjúcidas. As expressões “Pequena Malatya”, “Nova Malatya”, evocam a Cilícia, primeira grande diáspora armênia da história, também chamada de “Pequena Armênia”, “Nova Armênia”. 
Era como se os patriarcas da cidade de Malatya tivessem traçado um plano para mover a cidade inteira para Cleveland, Ohio. (...) Os vestígios de uma comunidade antiga foram desarraigados e cruzaram os mares para estabelecer uma Nova Malatya, a milhas de distância da antiga Malatya. Se este tivesse sido um plano de mestre, não seria tão engenhoso. Uma antiquíssima cidade da Ásia Menor se moveu e atravessou o oceano para outro continente. (Eminian, 2004, p.127)
 
6.2 Os heróis: Gamavors, Tehlirian, sobreviventes
Nos discursos há muitas referências à figura do herói. Frequentemente este é um herói de guerra, como os chamados Gamavors, voluntários que combateram os turcos na Primeira Guerra Mundial. Eminian descreve um desses heróis da sua memória de infância e a impressão que este lhe causou, principalmente quando percebeu o respeito e a admiração que as pessoas dirigiam ao velho soldado. Como outros armênios do Império Otomano, ele havia combatido primeiramente no exército turco, mas depois dos massacres de armênios dos anos 1895-1896, perpetrados pelo sultão Abdul Hamid, ele se juntou aos batalhões voluntários do exército russo contra os turcos. Os turcos veem esta mudança de lado como uma traição e a utilizam para justificar a matança de armênios durante a Primeira Guerra. 
Quando meus amigos e eu éramos crianças, havia alguns homens que todo mundo chamava de Gamavors (voluntários). Nós éramos muito jovens para entender o que eles tinham feito, mas quando se ouvia a palavra Gamavor, dava para notar a mudança nas pessoas e o sentimento de orgulho e respeito que tomava conta do ambiente (...). Naqueles dias os Gamavors andavam entre nós nas vizinhanças de Newburgh. Havia cafeterias armênias em Cleveland que ofereciam comida, bebida e um bom jogo de Tavli (gamão). (...) Foi numa delas que eu vi um Gamavor pela primeira vez (...). A dor ainda figurava no seu olhar, que parecia não ver coisa alguma. As linhas profundas que enrugavam a sua face ficaram ainda mais marcadas conforme ele tomou sua dose de raki de um gole só. Ele era um velho homem, que tinha lutado bravamente no exército turco nos Balcãs junto com outros tantos armênios antes que o sultão os traísse. Depois ele se aliou aos russos e lutou contra os turcos, e mais tarde como Gamavor ele ajudou a expulsar o exército turco.
Claro que, como eu tinha apenas quatro anos de idade, não compreendi a coragem deste guerreiro ou pelo que ele lutava. Ele foi o primeiro herói armênio que eu vi na minha infância. Os massacres e o genocídio fizeram dele um velho homem amargo com o coração cheio de ódio (...). (Eminian, 2004, pp. 119-120)
O patriotismo é traço marcante dos discursos armênios. Lutar pela pátria é um dever, não importando a qual partido político a pessoa se filie (Dashnaktsutiun ou Ramgavar), e transforma homens comuns, trabalhadores, em bravos heróis. Os armênios da diáspora que se tornaram Gamavors são ainda mais admirados na comunidade pelo fato surpreendente de que, tendo fugido para os Estados Unidos e escapado do genocídio, eles tenham retornado depois ao território do Império Otomano para combater os turcos.
Não importava se você era Dashnak ou Ramgavar quando se tratava de lutar voluntariamente pelo seu país. Me contaram que havia 38 Gamavors de Cleveland com idade entre 19 e 22 anos que se voluntariaram para lutar contra os turcos na Primeira Guerra Mundial. (...) Estes eram bravos homens que lutaram com o General Dro e o general Antranik. (...) No total, 1.200 armênios da América se voluntariaram para retornar e lutar contra os turcos. (Eminian, 2004, p. 122)
Minha percepção desses homens começou a mudar. Eles pararam de ser apenas pais, maridos, idosos e trabalhadores. Lembro-me daqueles que trabalhavam nas indústrias siderúrgicas e fábricas nas proximidades de Newburgh e da cidade [de Cleveland]. (...) Acordavam às cinco da manhã e, depois de tomar seu café na escuridão da cozinha, se juntavam aos outros trabalhadores (...). Ninguém via neles o soldado – o espírito lutador de homens determinados. Eles eram vistos apenas como homens que falavam mal o inglês, plantavam vegetais e criavam sua família. (Eminian, 2004, p.21)
Na sua adolescência, quando Eminian entra para a Federação da Juventude Armênia, ele mesmo tem que jurar solenemente que até o fim de sua vida será um Dashnak e defensor da pátria armênia. Como ele mesmo explica, “um Dashnak é um patriota, comprometido com um Estado Armênio independente, o que inclui recorrer às armas, se preciso for, para conquistá-lo e mantê-lo” (Eminian, 2004, p. 83).
Discurso semelhante a este também figura na descriçãode personagens dos contos de Saroyan. Em “Eu sobre a terra”, o narrador descreve o pai como um armênio revolucionário e amante da liberdade.
Meu pai também era um escritor, um escritor não publicado, tenho todos os seus manuscritos, seus grandes poemas narrativos, escritos em nossa língua nativa, que eu não posso ler (...). No nosso velho país ele era um cidadão honrado, um professor e chamavam-no de Agha, que significa, mais ou menos, lorde. Infelizmente, ele era também um revolucionário como todos os bons armênios. Ele queria que o punhado de gente da sua raça fosse livre. Queria que eles gozassem da liberdade e por isso, de vez em quando, ele ia preso. A situação acabou ficando tão ruim que, se ele não deixasse a Armênia, teria que matar para não ser morto. (Saroyan, 1934b, p. 52)
Por causa deste forte traço de patriotismo e deste ideal do papel político e social do homem como soldado e defensor de sua pátria, os armênios da América achavam que era seu dever servir seu novo país na guerra. Tanto Eminian como Saroyan combateram na Segunda Guerra Mundial, mas há uma diferença de postura nos seus discursos: enquanto em Eminian transparece o orgulho de ter cumprido seu dever e participado da guerra, em Saroyan o que se vê é uma crítica ferrenha a mesma. Isto fica claro no conto “Cowards”, que fala dos jovens armênios de Fresno, convocados para servir os Estados Unidos na Primeira Guerra. O personagem Kristofor Agbadashian se recusa a atender a convocação e, durante a guerra, se esconde, adota um nome falso, muda de endereço e consegue até trabalhar e abrir seu próprio negócio. Ao questionar onde estaria Kristofor, a personagem Arshaluce Ganjakian, amiga da mãe do jovem desaparecido, observa que mesmo se ele estivesse se esbaldando na cidade, vivendo no pecado e na esbórnia, ainda assim, isso seria muito melhor do que perder a vida na guerra, afinal ele sempre pode se arrepender depois e arranjar uma boa moça armênia para se casar e formar família. No mesmo texto, Saroyan (1988d) relaciona nomes armênios de jovens convocados pelos Estados Unidos ao serviço militar e mortos na Primeira Guerra. 
Gissag Jamanakian foi morto em Verdun, Vaharam Vaharamian em Chateau-Thierry, e os irmãos gêmeos Krikor e Karekin Kasabian na Floresta de Belleau. Todos com menos de 25 anos de idade, todos trazidos para Fresno da Armênia quando ainda eram crianças de colo ou garotos. (Saroyan, 1988d, p. 67)
 
Uma figura histórica particular retratada como um herói nos discursos armênios é Soghomon Tehlirian. Este também lutou na Primeira Guerra, mas sua notoriedade, entre os armênios, vem do fato de ter sido o assassino do principal comandante do genocídio, o ministro turco Talaat Paxá. 
No nosso centro comunitário havia grandes fotografias em preto e branco de estranhos nas paredes (...). Nós não sabíamos quem eram e o que eles tinham feito para merecer um lugar de honra nas paredes do centro comunitário (...). Foi quando aprendemos sobre o general Antranik, o general Dro e sobre Soghomon Tehlirian, o herói armênio notável que assassinou Talaat Paxá (...). (Eminian, 2004, p. 120)
O assassinato se deu em Weimar, Alemanha, onde Tehlirian foi julgado. A narração deste fato difere substancialmente conforme a fonte consultada. Assim, a transcrição fiel do julgamento tal como ocorreu (Pinheiro, 1994) não se coaduna com a versão que o próprio Tehlirian fornece em sua biografia (Tehlirian, 1953 apud Bogosian, 2015)[footnoteRef:4]. Na primeira fonte citada, Tehlirian é retratado como um réu inocente, que não premeditou o assassinato, não podendo inclusive ser responsabilizado por ele, já que sofria de problemas mentais ocasionados pelo trauma do genocídio, tendo constantemente visões de sua mãe morta cobrando-lhe vingança. O segundo relato o caracteriza mais propriamente como um terrorista que, com a ajuda do partido político Federação Revolucionária Armênia (Dashnak), calculou sistematicamente o assassinato do governante turco, o qual fazia parte de um plano para matar todos os líderes turcos que comandaram o genocídio, denominado “Operação Nêmesis”, conforme o nome da deusa grega da vingança. [4: TEHLIRIAN, Soghomon. (1953). Verhishumner (T'aleati ahapegume) [Memoirs (The Assassination of Talaat)]. Cairo, Housaper.] 
Eminian conta com detalhes como foi a visita de Tehlirian a Cleveland, na década de 1950. Tehlirian estava entre os homens que tinham lutado contra os turcos na Primeira Guerra. Outros armênios que também haviam participado da guerra vieram recebê-lo. Ele foi reverenciado como um herói pelos armênios não só de Cleveland mas de toda parte. As pessoas se aproximavam dele para beijar-lhe as mãos e davam suas crianças para ele carregar, como se fora um homem santo. O túmulo de Tehlirian está no cemitério de Fresno, Califórnia. 
Foi na metade dos anos 50 que ouvimos falar de um estranho de nome Soghomon Tehlirian que tinha vindo para Cleveland visitar os Esayans. Um grupo seleto de pessoas da comunidade armênia foi convidado. Homens que tinham sido Gamavors durante a Primeira Guerra lá estavam. Homens que tinham lutado contra os turcos. Soghomon fora um deles. Ele foi soldado e lutou sob o comando do general Dro. Também foi membro da FRA [Federação Revolucionária Armênia]. Estes velhos soldados trataram este homem com honra e respeito. Tehlirian era um herói para eles. (Eminian, 2004, p. 65)
Mas como Eminian relata, “conforme eu fui crescendo outros heróis armênios tomaram o lugar dos Gamavors” (2004, p. 120). Este autor armênio-americano da diáspora vê os próprios sobreviventes como heróis, e usa este termo para se referir a eles diversas vezes ao longo de sua narrativa. Estas pessoas nunca falavam de suas “ações heróicas”, sua superação e perseverança para renascer das cinzas no novo mundo. Para ele, são heróis e heroínas não celebrados, cujos feitos não foram cantados.
6.3 O discurso acerca do genocídio
Para a geração de sobreviventes falar do genocídio é um tabu. Trata-se, portanto, de um discurso que é implícito, mas não dito. 
Eu tinha ouvido que a geração dos sobreviventes do genocídio não falava abertamente sobre suas experiências. Por isto, meu avô e os tios dos meus pais (...) permaneceram sendo estranhos para mim exceto pelas velhas fotografias que nunca falavam. Muitos de nós, primeira geração de armênios nascidos na América, compartilhamos o mesmo destino. Nossos avós se foram, os irmãos dos nossos pais se foram, vítimas dos massacres do sultão em 1890' e do genocídio de 1915. Nossos pais não falavam sobre seu destino e crescemos sem o amor e conforto de nossos avós e tios e tias. Nossas famílias nunca estavam completas. Quando eu fiquei sabendo disso, foi difícil descrever a emoção que tomou conta de mim. (Eminian, 2004, p. 103)
Como o próprio autor explica, é possível que não falassem para não reviver o pesadelo, deixando-o para trás, ou porque simplesmente não conseguiam falar sobre aquela experiência tão traumática (cf. Garcia, 2015), ou ainda para não transmitir ódio, tristeza e amargura à nova geração. “Acho que eles não contavam porque queriam nos poupar do horror que tinham presenciado” (Eminian, 2004, p. 132).
 
Nós crianças sabíamos muito pouco sobre nossos pais e os outros adultos do nosso clã. Eles nunca sentaram conosco para nos contar sobre o antigo país, sobre suas famílias ou sobre a experiência do genocídio. Infelizmente nós éramos muito jovens e pouco perscrutadores para perguntar. Quando tínhamos doze anos já sabíamos sobre os horrores do genocídio de 1915, os mártires e os sobreviventes, mas nunca indagávamos sobre isso. Nós estávamos muito ocupados crescendo na América. 
Nós víamos nossas mães sentadas sozinhas chorando e olhando para fotografias de pessoas que sabíamos que tinham sido mortas. (...) “Fantasmas” era o termo que usávamos para designar os parentes mortos. (...) Queria que nossos pais tivessem sentado conosco e nos contado sobre cada um deles, avós, avôs, irmãs, irmãos, tias, tios e amigos. Talvez eles silenciaram porque as imagens eram tão horríveisque era impossível falar. Então eles choravam em silêncio na cozinha ou no quarto e às vezes podíamos ouvir os soluços baixinhos. Nestas ocasiões, nós ficávamos bem quietos, porque não queríamos ser intrusos neste momento em que eles não conseguiam esconder sua dor. (Eminian, 2004, p. 131) 
O discurso acerca do genocídio, quando se manifesta, é frequentemente um discurso de dor, de revolta e de culpa. Como observado num texto de Saroyan (1939, p. 62), “a nossa língua é uma língua de amargura. Já provamos muita morte e a nossa língua está carregada de ódio e raiva”. Note-se que, na citação acima, Eminian, descendente de armênio nascido na diáspora, denomina os mortos de “mártires”, incorporando o termo que os armênios utilizam, e fala em primeira pessoa como se tivesse ele mesmo sido vítima do massacre: “Escrevo estas linhas sabendo que esta é a história das nossas vidas, de todos nós que moramos em Newburgh” (Eminian, 2004, p. 135).
Quando eu era garoto (...) devo confessar que tinha vergonha de ser armênio. Lembro que eu sempre perguntava para Deus por que, entre tantas nacionalidades que imigraram para este país, eu tinha que ser armênio? Eu tinha vergonha por nós termos permitido que os turcos nos massacrassem. Por que, eu me perguntava, deixamos eles fazerem isto conosco? (Eminian, 2004, p. 62) 
Em Newburgh ou nas regiões próximas da cidade, toda família armênia tinha um pesadelo que o genocídio criou. Os que sobreviveram às atrocidades, e que eram verdadeiros milagres, carregavam o peso da culpa, crendo que tinham pecado e por isto atraído para si a ira de Deus. (Eminian, 2004, pp.131-2) 
O genocídio e as vicissitudes da história por vezes motivam um discurso vitimista. Isto é ilustrado pelas palavras do personagem “tio armênio” do conto “Seventy Thousand Assyrians” (Saroyan, 1934c). Como na citação acima, ele fala do ponto de vista de um cristão, interpretando o sofrimento que se abateu sobre os armênios como punição de Deus pelos seus pecados.
Eu lembro da passagem da Assistência ao Oriente Próximo pela minha cidade natal. Meu tio costumava ser nosso orador e ele costumava fazer um auditório cheio de armênios chorar. Ele era um advogado e era um grande orador. Bom, primeiro o problema foi a guerra. Nossa gente estava sendo destruída pelo inimigo. Aqueles que não tinham sido mortos estavam sem casa e estavam passando fome, nosso próprio corpo e sangue, meu tio disse, e todos nós choramos. E nós juntamos dinheiro e o mandamos para nossa gente no velho país. Depois, quando a guerra acabou, quando eu era um garoto maior, nós tivemos outra visita da Assistência ao Oriente Próximo, e o meu tio ficou de pé no palco do Auditório Cívico da minha cidade natal e disse: “Graças a Deus, desta vez não é o inimigo, mas um terremoto. Deus nos fez sofrer. Nós o adoramos, durante a provação e a tribulação, durante sofrimentos e doença e tortura e horror e (meu tio começou a chorar, começou a soluçar) durante a loucura do desespero, e agora ele fez isto, e nós ainda o louvamos, nós ainda o adoramos. Nós não entendemos os caminhos de Deus”. E depois disso, eu fui encontrar-me com meu tio (...). “E quando você chorou?”, eu perguntei, e meu tio disse: “Aquilo era real. Eu não pude evitar. Eu tive que chorar. Por que, pelo amor de Deus, por que nós temos que passar por todo este maldito inferno? O que nós fizemos para merecermos toda esta tortura? Os homens não vão deixar-nos em paz. Deus não vai deixar-nos em paz. Fizemos nós alguma coisa? Nós não somos pessoas devotas? Qual é o nosso pecado? Eu estou aborrecido com Deus. Eu estou enojado dos homens. (...) Eu não posso suportar o pensamento de mais de nossa gente morrendo. Jesus Cristo, fizemos nós alguma coisa?” (Saroyan, 1934c, pp. 35-6)
6.4 Idealização e elogio da terra de origem 
A Armênia é frequentemente engrandecida com um discurso que valoriza sua posição geográfica estratégica. Ela está na fronteira entre Oriente e Ocidente, sendo rota entre Ásia e Europa, e por isso mesmo foi muitas vezes invadida por inúmeros exércitos ao longo de sua história (Eminian, 2004, p. 125). Alexandre, o Grande, rei dos macedônios e o poderoso exército romano, entre tantos outros, marcharam pelo território armênio. 
A Armênia é constantemente vista como o paraíso, o Éden – os rios Tigre, Eufrates e Araxes, que localizam o Éden no Velho Testamento, passavam por suas terras. No texto de Eminian, esta idealização se manifesta na descrição dos pomares de Malatya, onde as frutas assumiam proporções enormes. 
Quando sentavam em volta da mesa no sábado à noite, Mano e meu pai nos contavam histórias de Malatya. Eles falavam do rio Babookhti que era tão gelado que se alguém jogasse nele uma melancia ou um melão, eles partiam em dois. Mano descrevia a terra fértil e escura e o clima quente, que produziam frutas e vegetais gigantes. Os tamanhos tomavam proporções miraculosas. Estas eram as histórias que nós ouvíamos à mesa do clã durante nossa infância. Talvez tenhamos acreditado nelas por um período, já que éramos muito pequenos. (Eminian, 2004, p. 22) 
O mesmo discurso de elogio hiperbólico à natureza da terra de origem pode aparecer na descrição da natureza do país para o qual imigraram, desde que se trate de coisas armênias. Assim, as folhas de uva de Ohio eram vistas pelos armênios daquela comunidade como as melhores de toda a América.
A idealização também se estende às pessoas da Armênia. No conto “Os vivos e os mortos”, a personagem “avó armênia”, já viúva, relembra o marido no antigo país, retratando-o como um herói, um guerreiro, um homem forte, de fibra, um verdadeiro armênio. Ela se lamenta quando vê a nova geração composta pelos descendentes de armênios da América, que não atende as suas expectativas do que seja seu ideal de bravo homem armênio.
(...) Melik, o meu marido, era um homem que andava montado num cavalo preto, por florestas e montes, durante todo o dia e parte da noite, bebendo e cantando. Quando a gente da cidade o via chegar fugia e escondia-se. Os curdos selvagens do deserto tremiam na sua presença. Envergonho-me de ti, disse ela, refastelado no meio destes livros idiotas. (...)
O meu marido Melik, se estivesse sóbrio falava tranquilamente, com uma voz rica, profunda e meiga, e se estivesse bêbado rugia como um leão e pensar-se-ia que Deus no céu exclamava lamentos e pragas sobre os povos da terra. Nunca ouvi nenhum outro homem que falasse assim, bêbado ou sóbrio, nem um, aqui ou no antigo país.
E quando ele ria? perguntei eu.
Quando Melik ria, disse a minha avó, era como um oceano de água límpida precipitando-se para a lua com prazer. (...) Agora ela estava zangada com a trágica poesia de seu povo. E nenhum de vocês, fedelhos opegh-tsapegh[footnoteRef:5], são como ele, gritou ela. (...) [5: Conforme Saroyan (1939, p. 66), “opegh-tsapegh é intraduzível. Quer dizer mais ou menos reunidos muito acidentalmente, e quanto dito acerca de alguém significa que essa pessoa não é nenhum motivo de orgulho para a raça humana. Pelo contrário, apenas mais um louco, alguém para incluir no recenseamento e esquecer.”] 
E quando ele chorava? perguntei eu.
O meu marido nunca foi visto a chorar, disse a minha avó. (...) Se ele chorava nos montes, chorava sozinho, apenas com Deus para presenciar a sua fraqueza. 
(Saroyan, 1939, p. 62, pp.65-6)
Se o caráter do armênio da diáspora difere substancialmente do de um armênio prototípico, tanto mais o ambiente em que vive. No conto “Seventy Thousand Assyrians”, ao conhecer um assírio vivendo na América, o narrador armênio se identifica com seu discurso, que contrapõe a grandiosidade de seu povo na Antiguidade, dono de um vasto território e de um grande império, com o presente do habitante da diáspora, na qual sua identidade étnica corre o risco de se perder aos poucos, de desaparecer gradualmente. Os armênios igualmente idealizam a história antiga da Armênia como a época áurea de seu poderio e auge de sua expansão territorial, imagem heróica relegada ao segundo plano devido aos trágicos acontecimentos de sua históriacontemporânea.
 
 “Nós uma vez fomos um grande povo”, ele continuou. “Mas isto foi ontem, antes de ontem. Agora somos um tópico de história antiga. Nós tínhamos uma grande civilização. Eles ainda a estão admirando. Agora eu estou na América aprendendo a cortar cabelo. Nós fomos banidos como uma raça. Nós estamos acabados, tudo está acabado (...)”. Estes comentários eram muito dolorosos para mim, um armênio. Eu sempre me senti mal sobre meu próprio povo ser destruído. Eu nunca tinha ouvido um assírio falando em inglês sobre estas coisas. Eu senti um grande amor por esse jovem companheiro. (...) Theodore Badal, um filho de uma raça antiga, ele próprio jovem e alerta, ainda assim desesperançado. Setenta mil assírios, meramente setenta mil daquele grande povo, e todos os outros quietos na morte, e toda grandeza desmoronada e ignorada, e um homem jovem na América aprendendo a ser barbeiro, e um homem jovem lamentando-se amargamente sobre o curso da história. (Saroyan, 1934c, pp. 37-40)
7. Símbolos 
7.1 O monte Ararat
O Monte Ararat é um dos maiores símbolos da Armênia. Ele mostra que um símbolo cultural pode se constituir simplesmente de uma paisagem natural. Ademais, exemplifica perfeitamente como os objetos não têm valor em si mesmos, sendo este dependente do significado que atribuímos a eles. Assim como a romã que em outras partes do mundo é apenas um fruta, mas para os armênios é a fruta nacional, sendo capaz de representar o país (ver, por exemplo, A cor das romãs, do cineasta Parajanov, em que o nome da fruta, por metonímia, evoca a Armênia, enganando a censura da União Soviética), a montanha do Ararat nem sequer está atualmente localizada em território armênio, mas continua sendo um símbolo do país. Na diáspora este símbolo é constantemente evocado por retratos do monte nas paredes das casas e pelos nomes de estabelecimentos armênios (Ararat ou Massis). 
Na barbearia de Harry, em Cleveland, entre os vários pôsteres na parede que exibiam penteados modernos, havia uma pintura que não combinava, mas que era frequentemente vista nos lares armênios. Ela exibia o Ararat e uma mulher que representava a “Mãe Armênia”, isto é, a pátria.
A linda mulher da pintura estava vestida com uma blusa larga de camponesa e uma saia, e aparecia numa perspectiva que a fazia parecer maior do que a paisagem em volta dela. Sua blusa estava meio aberta no pescoço e mostrava uma pequena parte do seu peito. Atrás estava o monte Ararat, a montanha lendária da antiga Armênia, onde dizem que está a arca de Noé. A mulher da pintura era Mayr Hayastan (Mãe Armênia). (Eminian, 2004, pp. 40-1)
Saroyan também faz referência ao grande símbolo cultural dos armênios, mas com muito humor. No conto “Madness in the family”, os armênios são representados pela família Bashmanian, cujo nome já denuncia sua origem étnica, e que imigrou para Fresno, Califórnia, vindo de Bitlis, na Armênia Turca. A família é acometida por loucura ao menos uma vez na vida, e este constitui um rito de passagem para a fase adulta. No personagem tio do narrador, chamado Vorotan, a loucura se manifesta tardiamente e se expressa pelo desejo veemente de que alguém da família morra, pois só enterrando alguém no novo mundo se estabelece definitivamente a comunidade armênia. A sepultura de um membro da família é uma forma de ocupação do novo território. Ser enterrado no local também simboliza que a terra aceitou o novo habitante. Interessante é que, ao morrer, os armênios retornam para “Ararat”, nome do cemitério.
“Agora, finalmente nós estamos aqui”, ele disse. “Podemos respirar melhor. Varujan, velho de idade mas jovem em espírito, nos salvou a todos, nosso primeiro tradicionalista no Novo Mundo. Ele está no Ararat para onde devemos todos ir”. Ararat era o cemitério armênio, que naqueles dias tinha apenas alguns túmulos, mas hoje está quase tão populoso quanto Fresno, e com mais pessoas interessantes, incluindo o próprio Vorotan. (Saroyan, 1988g, p.4)
7.2 A Batalha de Avarair 
No conto “Fire”, Saroyan evoca a batalha de Avarair, que é um marco e símbolo da cultura cristã. No século V, os persas, que eram então zoroastras, adoradores do fogo, tentaram converter os armênios à força à sua religião, mas estes preferiram guerrear a ter que renunciar à sua fé cristã. A batalha de Avarair é até hoje comemorada no mês de fevereiro, através de uma festa cívica e religiosa, na Armênia e na diáspora, a Festa de Vartanants, que leva o nome do protagonista desta guerra, Vartan, o qual é visto como um grande herói entre os armênios. Ela simboliza o apego dos armênios à sua religião e à sua cultura.
Não admira que os armênios guerrearam com os persas quando estes vieram com suas espadas ordenando que nos juntássemos a eles no culto ao fogo. Para que estragar uma coisa tornando-a oficial? Nós já tínhamos o Jesus oficial, e isso já era suficiente para se admirar. (Saroyan, 1988h, p. 5)
Os armênios frequentemente se vangloriam de ter lutado até a morte para proteger sua fé cristã nesta batalha (há 1.036 mártires da Batalha de Avarair que são celebrados até hoje), mas aqui Saroyan subverte o discurso comum. Ora, os armênios pagãos já eram adoradores do fogo, muito antes dos persas, e mesmo após a adoção do cristianismo como religião oficial do estado armênio no início do século IV, esta e outras práticas pagãs se mantiveram entre o povo. 
7.3 A serpente
No conto “Najari Levon's old country or advice to the young Americans on how to live with a snake”, figura a serpente, símbolo da boa fortuna. Neste texto, o personagem Najari Levon fala sobre o animal doméstico que tinha na Armênia, em sua casa de pedra. Najari Levon explica em armênio: “Em nossa casa em Bitlis vivia uma imensa serpente negra, que era a serpente de nossa família” (Saroyan, 1988i, p. 76). Toda família armênia que se preze tinha que ter sua serpente. A casa não estaria completa sem ela, já que, de acordo com uma antiga crença pagã que se preservou entre muitos armênios, era a cobra que mantinha a família unida e com saúde. A serpente em questão se parecia fisicamente com os armênios. Ela não tinha olhos miúdos como os dos ingleses, mas olhos imensos como os dos armênios e dos curdos, e era muito sábia, “era a serpente doméstica mais velha de Bitlis” (1988i, p. 76). Ela ficava escondida na parede de pedra durante todo o inverno, e se mostrava aos habitantes da casa na primavera. 
Os armênios de fato mantinham muitos rituais pagãos de primavera que incluíam as serpentes. Ananikian (1925) descreve por exemplo o ritual de Shvaz, que acontecia na véspera da primavera, quando os agricultores armênios forçavam a serpente a abandonar os confortos da casa e a ajudá-los no cultivo da terra. A serpente deveria sempre ser tratada com muita gentileza e respeito. Se ela partisse com raiva, traria problemas e privações sem fim para a família. No conto de Saroyan, o narrador esclarece que ter uma serpente em casa é ter boa sorte, utilizando o termo árabe bacarat.
 
7.4 O trovador itinerante 
A avó armênia do conto “Os vivos e os mortos” discorre sobre um personagem típico da cultura popular armênia, que era o trovador itinerante. Desde a Antiguidade, havia trovadores na Armênia, e seu ofício era visto como uma profissão regular. Embora poucos tivessem cultura formal, esses artistas populares eram versados na arte poética, além de habilidosos instrumentistas (cf. Kutchak, 2012). A prática de literatura composta e preservada na oralidade se manteve por muitos séculos na Armênia, mesmo depois da criação do alfabeto armênio no século V, e até o início do século XX podia se encontrar trovadores itinerantes percorrendo os vilarejos e as cidades armênias. 
Sendo analfabeta e proveniente de uma cultura oral, a personagem, avó armênia, não valoriza a cultura formal, e só concebe poesia, literatura, na oralidade. Seu diálogo com o neto já nascido na América exemplifica a admiração que as pessoas tinham por esses trovadores armênios itinerantes.
Não consigo entender uma linguagem tão absurda, disse ela.
É uma linguagem magnífica,disse eu.
Isso é porque nasceste cá e não sabes falar nenhuma outra língua; são sabes turco nem curdo, não sabes uma única palavra em árabe.
Não, disse eu, é porque esta é a língua que Shakespeare escreveu e falou.
Shakespeare? Disse a minha avó. Quem é ele?
É o maior poeta que o mundo jamais conheceu, disse eu.
Disparates, disse a minha avó. Quando eu tinha doze anos um trovador itinerante veio à nossa cidade. Esse homem era feio como Satanás, mas conseguia recitar poesia em seis línguas diferentes, todo o dia e toda a noite, nem uma única palavra escrita, nem uma única palavra decorada, cada verso era inventado enquanto estava perante nós a recitar. (...) 
Bem, disse eu, cada país, cada povo e cada época tem o seu gênero de poeta e a sua maneira própria de entender a poesia, os poetas ingleses escreviam e os nossos recitavam.
Mas se eles eram poetas, disse a minha avó, por que escreviam? Um poeta vive para cantar. Tinham medo que uma coisa boa se perdesse e fosse esquecida? Por que é que escrevem todos os seus pensamentos? Têm medo que se perca alguma coisa? (Saroyan, 1939, pp.67-8)
8. Considerações finais
Este trabalho objetivou a identificação e análise das imagens da cultura armênia na literatura contemporânea da diáspora, mais especificamente, na obra de dois autores armênio-americanos, William Saroyan e Sarkis J. Eminian.
O estudo das comunidades da diáspora pode lançar novas luzes sobre identidade cultural e representações da cultura. 
Presume-se erroneamente que a identidade cultural seja fixada desde o nascimento, que seja parte de nossa natureza, geneticamente transmitida através do parentesco. “Quanto maior a relevância da ‘etnicidade’, mais as suas características são representadas como relativamente fixas, inerentes ao grupo, transmitidas de geração em geração não apenas pela cultura e a educação, mas também pela herança biológica, inscrita no corpo e estabilizada, sobretudo, pelo parentesco e pelas regras do matrimônio endógamo, que garantem ao grupo étnico a manutenção de sua pureza genética e, portanto, cultural” (Hall, 2008, p. 67). Numa concepção fechada de “tribo”, “possuir uma identidade cultural (...) é estar primordialmente em contato com um núcleo imutável e atemporal, ligando ao passado o futuro e o presente numa linha ininterrupta. Esse cordão umbilical é o que chamamos de ‘tradição’, cujo teste é o de sua fidelidade às origens, sua presença consciente diante de si mesma, sua ‘autenticidade’ ” (Hall, 2008, p. 29). 
Contudo, no caso dos armênios, houve uma ruptura na transmissão da tradição, ocasionada pelo genocídio e pela formação da diáspora. Se esses habitantes da América não nasceram na Armênia e estão a milhares de quilômetros de “casa”, como imaginam esta nação, como é sua relação com a terra de origem de seus ancestrais, como manifestam sua identidade cultural e seu pertencimento a esta cultura? 
A análise mostra significativa manutenção da cultura armênia entre a primeira geração de armênios nascidos nos Estados Unidos. As representações da cultura armênia são numerosas e abrangem: (i) práticas culturais: hábitos, costumes e rituais do dia a dia, tais como: falar armênio, cozinhar pratos armênios, produzir a bebida destilada característica, colher folhas de uva, frequentar casas de banho público, cultivar um jardim, participar de jogos esportivos da comunidade; (ii) relações interpessoais, incluindo relações matrimoniais e familiares, códigos e convenções sociais, modos de organização social, como a família ampliada e o clã; (iii) discursos e narrativas, que evocam visões de mundo, tradições políticas e intelectuais, memórias históricas e coletivas, como a Armênia Ciliciana e o genocídio armênio do século XX; (iv) símbolos, que compreendem paisagens e imagens, como o Ararat; tradições artísticas, como a poesia oral composta por trovadores itinerantes; tradições religiosas e populares, como a Festa de Vartanants, a serpente como animal doméstico que traz sorte, etc.
Todas estas manifestações compõem um repertório de significados que representam a cultura armênia e sua nação. Através da produção e reprodução destes significados, dá-se a identificação e o pertencimento. “É somente dentro da cultura e da representação que a identificação com esta ‘comunidade imaginada’ pode ser construída” (Hall, 2008, p.74).
Hall (2008) constata que, de fato, muitas minorias étnicas formaram comunidades culturais na diáspora, que mantêm costumes e práticas sociais próprias na vida cotidiana, sobretudo nos contextos familiar e doméstico. Nessas comunidades diaspóricas, “as formas de vida derivadas de suas culturas de origem e denominadas tradicionais continuam influenciando as autodefinições comunitárias” (Hall, 2008, p. 63). 
Esta preservação foi motivada sobretudo pelo estímulo de seus pais armênios que, mesmo estando no exílio, mantiveram um forte senso do que é terra de origem e tentaram passar esta identidade aos seus filhos. Mas, como em outras diásporas, a prática destas tradições varia conforme o indivíduo, o sexo, a geração, entre outros fatores. Segundo Hall, “jovens de todas as comunidades expressam certa fidelidade às ‘tradições’ de origem, ao mesmo tempo em que demonstram um declínio visível em sua prática concreta” (Hall, 2008, p. 64). Portanto, não é possível fazer generalizações sobre as escolhas identitárias e processos de identificação, nem prever o que ocorrerá com as novas gerações.
Trata-se de um processo de repetição com diferença, tradução cultural entre dois mundos. Como nota Hall (2008, p. 43), “a cultura não é apenas uma viagem de redescoberta, uma viagem de retorno. Não é uma arqueologia. A cultura é uma produção”. Assim sendo, a cultura armênia na diáspora não é simples reflexo de uma cultura de origem “verdadeiramente” armênia, mas o resultado de sua própria formação relativamente autônoma. Esta primeira geração no novo mundo teve que interpretar e reler a Armênia, para construir sua imagem, o que ela significa depois da diáspora. Uma nova armenidade surgiu neste local diaspórico. 
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