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1 DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 2 Sumário 1.NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ............................................................................................ 3 1.1 Princípios Constitucionais ............................................................................................. 3 1.2 Outros Princípios Constitucionais ................................................................................. 4 2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ..................................................................... 7 2.1 Direitos x Garantias x Remédios Constitucionais .......................................................... 7 2.2 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos .................................................................. 8 2.3 Geração dos direitos fundamentais .............................................................................. 9 2.4 Características dos direitos fundamentais .................................................................. 10 2.5 Dimensão dos Direitos Fundamentais ........................................................................ 13 2.6 Eficácia dos direitos fundamentais ............................................................................. 14 2.7 Direitos individuais implícitos e explícitos .................................................................. 16 2.8 Tema interessante: ..................................................................................................... 17 2.9 Destinatário ................................................................................................................. 18 2.10 Não taxatividade dos direitos fundamentais e tratados de direitos humanos ......... 19 3. DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS EM ESPÉCIE ...................................................... 19 4. DIREITOS SOCIAIS ...................................................................................................... 49 3 TEORIA DOS DIREITO FUNDAMENTAIS 1.NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 1.1 Princípios Constitucionais São decididos antes da elaboração do texto, no momento de construção das normas. Têm natureza de vetores interpretativos que imprimem coesão, harmonia e unidade ao sistema. O que é o preâmbulo e qual a sua natureza jurídica? O preâmbulo é a parte precedente da CF. Segundo o STF, é mero vetor interpretativo do que se acha inscrito no texto constitucional. Não possui força normativa, logo, não pode ser parâmetro nem objeto de controle de constitucionalidade. “Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa.” (ADI 2.076, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 15-‐8-‐2002, Plenário, DJ de 8-‐8-‐2003.) * ATENÇÃO – PRINCÍPIOS QUE REGEM AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS (ART. 4º): Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-‐se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I -‐ independência nacional; II -‐ prevalência dos direitos humanos; III -‐ autodeterminação dos povos; IV -‐ não-‐intervenção; V -‐ igualdade entre os Estados; VI -‐ defesa da paz; VII -‐ solução pacífica dos conflitos; VIII -‐ repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX -‐ cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 4 X -‐ concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-‐americana de nações. 1.2 Outros Princípios Constitucionais Os Princípios Constitucionais estão presentes não só no art. 5º, mas em diversos dispositivos, a exemplo dos princípios tributários, previstos no art. 150, e dos princípios expressos da Administração Pública (art. 37). Assim, atentem-‐se brevemente aos princípios da dignidade da pessoa humana, legalidade e isonomia, sem prejuízo dos demais que se inserem na Carta Magna – e serão tratados nas matérias específicas: a) Dignidade da pessoa humana Define Luis Roberto Barroso que o “princípio da dignidade humana expressa um conjunto de valores civilizatórios que se pode considerar incorporado ao patrimônio da humanidade. Dele se extrai o sentido mais nuclear dos direitos fundamentais, para tutela do mínimo existencial e da personalidade humana, tanto na dimensão física como na moral”. Pode-‐se acrescentar também que a dignidade humana possui um enfoque moral, consistente na máxima de Kant segundo a qual o homem é um fim em si mesmo, e um enfoque material, relativo à manutenção do mínimo existencial. Decorre do aludido princípio, por exemplo, a impenhorabilidade do bem de família. ALÔ DEFENSORIA (Já caiu na Primeira fase da DPE Paraíba e Segunda Fase DPE Paraná) Conforme ensina André de Carvalho Ramos, é possível identificar quatro usos habituais da 5 dignidade humana na jurisprudência brasileira: 1-‐ Na fundamentação da criação jurisprudencial de novos direitos (também denominado eficácia positiva do princípio da dignidade humana). Por exemplo, o STF reconheceu o “direito à busca da felicidade”, sustentando que este resulta da dignidade humana: “O direito à busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implícito e expressão de uma ideia-‐força que deriva do princípio da essencial dignidade da pessoa humana” (RE 477.554 – Recurso Extraordinário, Rel. Celso de Mello, informativo n. 635). 2-‐ Na formatação da interpretação adequada das características de um determinado direito.Por exemplo, quando o STF reconheceu que o direito de acesso à justiça e à prestação jurisdicional do Estado deve ser célere, pleno e eficaz. 3-‐ Criando limites à ação do Estado (também denominada eficácia negativa da dignidade humana) Por exemplo, a dignidade humana foi repetidamente invocada para traçar limites ao uso desnecessário de algemas em vários casos no STF (HC 91.952, especialmente o voto do Rel. Min. Marco Aurélio). O uso de tortura por agentes do Estado foi também veementemente reprimido pelo STF (HC 70.389, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello). 4-‐ Para fundamentar o juízo de ponderação e escolha da prevalência de um direito em prejuízo de outro (quando o STF utilizou a dignidade humana para fazer prevalecer o direito à informação genética em detrimento do direito à segurança jurídica, afastando o trânsito em julgado de uma ação de investigação de paternidade). Por exemplo, o STF utilizou a dignidade humana para fazer prevalecer o direito à informação genética em detrimento do direito à segurança jurídica, afastando o trânsito em julgado de uma ação de investigação de paternidade. b) Legalidade O princípio da legalidade significa que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo que não esteja previamente estabelecido na própria CR e nas normas jurídicas dela derivadas. O princípio da legalidade, desta forma, se converte em princípio da constitucionalidade (Canotilho), subordinando toda atividade estatal e privada à força da Constituição. 6 I. Legalidade x Reserva Legal: O princípio da reserva legal é um desdobramento da legalidade, que impõe e vincula a regulação de determinadas matérias constantes na constituição à fonte formal do tipo lei. II. Acepções do princípio da legalidade: • Para particulares: Somente a lei pode criar obrigações, de forma que a inexistência de lei proibitiva de determinada conduta implica ser ela permitida. • Para a Administração Pública: O Estado se sujeita às leis, e deve atuar em conformidade à previsão legal. c) Isonomia Segundo bem definiu Rui Barbosa, “ a regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade (...). Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real”. Logo, é possível extrair: • Isonomia formal: Igualdade perante a lei; • Isonomia Materiais: Tratar os iguais na medida de sua desigualdade. É possível estabelecer critérios diferenciadores para admissão de candidato em concursos públicos? A jurisprudência vem admitindo algumas hipóteses de discriminação, podendo ocorrer em relação à idade, sexo, altura, etc, desde que sejam observados dois requisitos: Previsão legal anterior definindo os critérios de admissão para o cargo; e Razoabilidade da exigência, decorrente da natureza das atribuições do cargo a ser preenchido. 7 A candidata que esteja gestante no dia do teste físico possui o direito de fazer a prova em uma nova data no futuro. É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época de sua realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público. STF. Plenário. RE 1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/11/2018 (repercussão geral). Sob o pretexto da observância do princípio constitucional da isonomia, é possível ao Poder Judiciário estender benefício fiscal a contribuinte não alcançado pela norma concessiva? Não. Porque sob o pretexto de concretizar a isonomia tributária, não pode o judiciário estender benefício fiscal sem que haja previsão legal específica. Caso pudesse, o judiciário estar-‐se-‐á imiscuindo em função típica do legislativo, isto é, estaria o judiciário atuando como legislador positivo. Ações Afirmativas A Carta Magna busca a igualdade material. Para aplicação do princípio da isonomia, são necessárias as ações afirmativas, a exemplo: mercado de trabalho da mulher, cotas de vagas sem serviços públicos, cotas em universidades, cotas para afrodescendentes. 2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS1 2.1 Direitos x Garantias x Remédios Constitucionais • Direitos: São normas de conteúdo declaratório da existência de um interesse, de uma vantagem. Ex: direito à vida, à propriedade; • Garantias: normas de conteúdo assecuratório, que servem para assegurar o 1 Para aprofundamento no assunto, consultar: http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/joao_tr indadade__teoria_geral_dos_direitos_fundamentais.pdf 8 direito declarado. As garantias são estabelecidas pelo texto constitucional como instrumento de proteção dos direitos fundamentais e writs constitucionais. São também chamadas de instrumentos de tutela das liberdades e ações constitucionais. • Remédios Constitucionais: Embora todo remédio constitucional seja uma garantia, nem toda garantia é um remédio constitucional, porque este é um instrumento processual que tem por objetivo assegurar o exercício de um direito. Ex:Habeas Corpus, Mandado de Segurança. ATENÇÃO: Alguns dispositivos constitucionais contêm direitos e garantias no mesmo enunciado. O art. 5º, X, estabelece a inviolabilidade do direito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, assegurando, em seguida, o direito à indenização em caso de dano material ou moral provocado pela sua violação. 2.2 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos Embora materialmente ambos objetivem a proteção e a promoção da dignidade da pessoa humana, não se confundem: • Direitos Humanos: são direitos reconhecidos no âmbito internacional. • Direitos fundamentais: são direitos reconhecidos no plano interno de um determinado Estado. Preferencialmente, positivados na CF. Como se classificam as normas constitucionais de direitos fundamentais quanto à eficácia e aplicabilidade? Pela classificação de José Afonso da Silva e considerando não haver direito fundamental absoluto, as normas não possuem eficácia plena, podendo apresentar, conforme a hipótese, eficácia contida (ou restringível) ou limitada. Nesse sentido, a doutrina majoritária defende que a maioria das normas seriam de eficácia contida, enquanto que a maior parte daquelas que reconhecem os direitos sociais seriam de eficácia limitada. 9 2.3 Geração dos direitos fundamentais • Direitos de primeira geração (individuais ou negativos): Relacionados à luta pela liberdade e segurança diante do Estado. Trata-‐se de impor ao Estado obrigações de não-‐ fazer e se relacionam às pessoas, individualmente. Ex: propriedade, igualdade formal (perante a lei), liberdade de crença, de manifestação de pensamento, direito à vida etc. • Direitos de segunda geração (sociais, econômicos e culturais ou direitos positivos): São os direitos de grupos sociais menos favorecidos, e que impõem ao Estado uma obrigação de fazer, de prestar (por isso são chamados de direitos prestacionais). Ex: direitos positivos, como saúde, educação, moradia, segurança pública. Obs: O termo “dimensão” é mais adequado para compor uma classificação dos direitos humanos, visto que a expressão “geração” pode induzir a erro, dando a entender que tais direitos se substituem ao longo da história, o que não é o caso. • Direitos de terceira geração (difusos e coletivos): São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas não pertencem a ninguém isoladamente. Transcendem o indivíduo isoladamente considerado. São também conhecidos como direitos metaindividuais (estão além do indivíduo) ou supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado). • Direitos de quarta geração: Há autores que se referem a essa categoria, mas ainda não há consenso na doutrina sobre qual o conteúdo desse tipo de direitos. Há quem diga tratarem-‐se dos direitos de engenharia genética (Norberto Bobbio), enquanto outros referem-‐nos à luta pela participação democrática (Paulo Bonavides). • Direitos de quinta geração: Direito à paz. 10 Obs: O termo “dimensão” é mais adequado para compor uma classificação dos direitos humanos, visto que a expressão “geração” pode induzir a erro, dando a entender que tais direitos se substituem ao longo da história, o que não é o caso. 2.4 Características dos direitos fundamentais • Historicidade: o que se entende por direitos fundamentais varia de acordo com o momento histórico, não são conceitos herméticos e fechados. Há uma variação no tempo e no espaço. • Inalienabilidade: são direitos sem conteúdo econômico patrimonial, não podem ser comercializados ou permutados. • Imprescritibilidade: são sempre exigíveis, ainda que não exercidos; • Irrenunciabilidade: o indivíduo pode não exercer os seus direitos, mas não pode renunciá-‐los, de modo geral. • Relatividade: não são direitos absolutos. Se houver um choque entre os direitos fundamentais, serão resolvidos por um juízo de ponderação ou pela aplicação do princípio da proporcionalidade. 1.TEORIAS ACERCA DA DEFINIÇÃO DO NÚCLEO ESSENCIAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS àTeoria Absoluta X Relativa TEORIA ABSOLUTA TEORIA RELATIVA Cada direito fundamental possui um núcleo essencial em seu âmbito de proteção, cujos limites são instransponíveis. O conteúdo essencial refere-‐se ao espaço de maior intensidade valorativa do direito, sua parte intocável, delimitada em abstrato por meio da interpretação. Deste modo, a proteção constitucional em sentido forte é assegurada apenas para o “núcleo essencial” do direito, podendo a “parte periférica” pode sofrer A definição daquilo que deve ser definitivamente protegido (núcleo essencial do direito) depende das circunstâncias do caso concreto (possibilidade fática) e das demais normas envolvidas (possibilidade jurídica). O conteúdo essencial será algo variável por depender do resultado da ponderação. 11 intervenções legislativas, ainda que dentro de certos limites. 2. TEORIAS ACERCA DAS LIMITAÇÕES A DIREITOS FUNDAMENTAIS àTeoria Interna e Externa TEORIA INTERNA DAS LIMITAÇÕES TEORIA EXTERNA DAS LIMITAÇÕES Toda restrição a direito fundamental é imanente a ele próprio, pois o conceito de qualquer direito fundamental abrange as respectivas restrições (teoria dos limites imanentes). As restrições não atingem o conteúdo do direito abstratamente considerado, mas apenas o seu exercício no caso concreto. Diferentemente do que ocorre na teoria interna, que pressupõe aexistência de apenas um objeto (o direito com os seus limites imanentes), a teoria externa diferencia o direito das restrições, situando-‐as fora dele. A determinação do conteúdo definitivamente protegido envolve duas etapas claramente distintas: (i) identificação do conteúdo protegido pelo direito (âmbito de proteção), que deve ser determinado da forma mais ampla possível; e (ii) definição dos limites externos (restrições) decorrentes da necessidade de conciliação com outros direitos e bens constitucionalmente protegidos. 3.CLASSIFICAÇÃO DAS RESTRIÇÕES AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: 12 CLASSIFICAÇÃO DAS RESTRIÇÕES AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Diretamente constitucionais: Cláusula restritiva escrita (princípios e regras): Ex.: art. 5º, XVI e XXIII, da CF; Claúsula restritiva não escrita (princípios): Ex.: STF HC 82.424 – “O preceito fundamental da liberdade de expressão não consagra o direito à incitação ao racismo”. Indiretamente constitucionais: Reserva legal simples (ex.: art. 5º, XV, da CF): A CF consagra a possibilidade de se estabelecer restrições sem fazer qualquer tipo de exigência quanto ao conteúdo ou à finalidade da lei restritiva; Reserva legal qualificada (ex.: art. 5º, XII, da CF): A CF autoriza que a lei estabeleça restrições, mas limita o conteúdo destas; Reserva legal implícita (art. 5º, II, da CF): Tem como fundamento as cláusulas restritivas não escritas. Na CF/88 é possível deduzi-‐la da “cláusula de reserva legal subsidiária”. 4. TEORIA DA RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES (= LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES) -‐ É teoria alemã, adotada no Brasil pelo STF; -‐ Uma das características dos direitos fundamentais é que eles são relativos, ou seja, podem sofrer limitações. Porém, essas restrições devem ser feitas com critérios e de forma excepcional a não esvaziar o seu núcleo essencial. 13 Conclusão: Pode haver restrições aos direitos fundamentais, mas essas restrições devem ser restritas, ou seja, podem ser impostas restrições se obedecerem a requisitos formais e materiais: REQUISITO FORMAL REQUISITOS MATERIAIS Princípio da legalidade (art. 5º, II, da CF) -‐ Princípio da não retroatividade e princípio da segurança jurídica (art. 5º, XXXVI, da CF) -‐ Postulado da proporcionalidade; -‐ Princípio da generalidade e abstração – está relacionado ao princípio da igualdade (art. 5º, caput), o qual impõe o tratamento isonômico aos membros de uma mesma categoria. A lei restritiva deve ser geral e abstrata; -‐ Princípio da proteção ao núcleo essencial. • Personalidade: não se transmitem. • Concorrência e cumulatividade: são direitos que podem ser exercidos ao mesmo tempo. • Universalidade: são universais, independentemente, de as nações terem assinado a declaração, devem ser reconhecidos em todo o planeta, independentemente, da cultura, política e sociedade. • Proibição de retrocesso: não se pode retroceder nos avanços históricos conquistados. 2.5 Dimensão dos Direitos Fundamentais DIMENSÃO SUBJETIVA DIMENSÃO OBJETIVA Os direitos fundamentais conferem aos seus titulares o poder de exigir algo, seja ação ou omissão; Os direitos fundamentais encarnam valores que permeiam toda a ordem jurídica, condicionam e inspiram a interpretação e aplicação de outras 14 normas (EFICÁCIA IRRADIANTE) e criam dever geral de proteção sobre os bens salvaguardados 2.6 Eficácia dos direitos fundamentais • Vertical: Aplica-‐se à tradicional ideia de limitação de poder do Estado e respeito aos direitos dos indivíduos, conferindo direitos básicos e garantias aos indivíduos. Há um poder superior (Estado), em face do indivíduo, em posições diferentes (ESTADO X PARTICULAR); TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINECK (Classificação dos Direitos Fundamentais segundo Jellinek) São as possíveis relações do indivíduo com o Estado: Passivo: O indivíduo encontra-‐se em posição de subordinação com relação aos poderes públicos; Ativo: É o poder do indivíduo de interferir na formação da vontade do Estado, sobretudo através do voto; Negativo: O indivíduo pode agir livre da atuação do Estado, podendo autodeterminar-‐ se sem ingerência estatal (abstenção estatal); Positivo: É a possibilidade do indivíduo exigir atuações positivas do Estado em seu favor. *CONTEXTUALIZANDO: TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK PASSIVO Subordinação aos poderes públicos; sujeição a deveres fundamentais. ATIVO Exercício dos direitos 15 políticos; participação na formação da vontade estatal. NEGATIVO Autodeterminação do indivíduo; não ingerência do Estado. POSITIVO Exigência de atuação positiva do Estado. • Horizontal (eficácia privada ou externa dos direitos fundamentais): Com a evolução da teoria dos direitos fundamentais, atualmente é reconhecida a incidência também na relação entre particulares, em igualdade de armas. Logo, pode se definir a incidência e necessidade de observância de todos os direitos fundamentais nas relações privadas (PARTICULAR X PARTICULAR).2. *APROFUNDAMENTO: Quanto à eficácia horizontal, é importante mencionar que, de acordo com o seu grau de incidência, podem ser destacados os seguintes modelos: Teoria da ineficácia horizontal (doutrina da state action): Nega a possibilidade de produção de efeitos dos direitos fundamentais nas relações entre particulares. Teoria da eficácia horizontalindireta: Segundo esta teoria, caberia ao legislador a tarefa de mediar a aplicação dos direitos fundamentais às relações privadas, não se admitindo a aplicabilidade direta de tais direitos. Teoria da eficácia horizontal direta e imediata: Segundo esta concepção, a incidência dos direitos fundamentais deve ser estendida às relações entre particulares, independentemente de qualquer intermediação legislativa. 2 O STF já decidiu que deveriam ser garantidos o contraditório e a ampla defesa no caso em que uma associação desejava expulsar de seus quadros um associado pela prática de infrações. RE 201.819/RJ. 16 Teoria da convergência estatista: Segundo essa teoria, qualquer agressão a direitos fundamentais, mesmo que no âmbito das relações privadas, deve, sempre, ser imputada ao Estado (se o Estado não evita que essas transgressões ocorram, então as permite, devendo por isso ser responsabilizado). Deste modo, as violações aos direitos fundamentais por atores privados devem ser atribuídas ao Poder Público, porque, nessas situações, é ele quem decai do seu dever geral em proteger os direitos fundamentais. • Diagonal: Teoria desenvolvida por Sérgio Gamonal, e consiste na incidência e observância dos direitos fundamentais nas relações privadas marcadas por desigualdade de forças, ante a vulnerabilidade de uma das partes. Na hipótese, embora as partes teoricamente estejam em posição equivalente (PARTICULAR X PARTICULAR), na prática há império do poder econômico, a exemplo de demandas consumeristas e trabalhistas. O TST já adotou a eficácia diagonal em alguns julgados, inclusive. 2.7 Direitos individuais implícitos e explícitos Os direitos individuais podem ser explícitos ou implícitos. • Explícitos: são aqueles previstos expressamente no texto da Constituição Federal. Como exemplo, os contidos no art. 5° da CF. e seus incisos, em especial os previstos no caput do mencionado artigo, como a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. • Implícitos: O reconhecimento decorre de interpretação do texto da Lei das Leis. Isto se evidencia pela leitura do art. 5º, parágrafo 2º, que reconhece a existência de outros direitos individuais "decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais de que a República Federativa do Brasil seja parte". 17 2.8 Tema interessante: Eventual novo direito individual criado por meio de emenda constitucional é considerado cláusula pétrea? NÃO. Segundo Gilmar Mendes, devemos ter em mente que as cláusulas pétreas “se fundamentam na superioridade do poder constituinte originário sobre o de reforma”, de maneira que somente o primeiro pode criar obstáculos à atuação do segundo. Não faria sentido, do ponto de vista lógico, permitir que o poder reformador crie limites invencíveis a si mesmo. Assim, conclui Gilmar Mendes que “não é cabível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas. Apenas o poder constituinte originário pode fazê-‐lo”. Caso EC crie um novo direito fundamental, este não será cláusula pétrea. É preciso distinguir, contudo, a situação em que uma EC apenas especifica, detalha ou incrementa um direito fundamental já criado, sem inovar no rol de direitos. Nesse caso, ainda que introduzida por EC, a novidade é considerada cláusula pétrea. Para Gilmar Mendes “é o que se deu, por exemplo, com o direito à prestação jurisdicional célere somado ao rol do art. 5º da Constituição pela EC 45/04. Esse direito já existia, como elemento necessário do direito de acesso à justiça – que há de ser ágil para ser efetiva – e do princípio do devido processo legal, ambos assentados pelo constituinte originário”. Classificação dos direitos individuais explícitos: DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS DIREITOS SOCIAIS DIREITOS DE NACIONALIDADE DIREITOS POLÍTICOS Direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos 18 Correspondem aos direitos diretamente ligados ao conceito de pessoa humana e de sua própria personalidade, como, por exemplo: vida, dignidade, honra, liberdade. Basicamente, a Constituição os prevê no art. 5º [...]; (mas não só no art 5!Estão também espalhados pela CF). Caracterizam-‐se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria das condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretização da igualdade social, que configura um dos fundamentos de nosso Estado Democrático, como preleciona o art. 1º, IV. [...].(art.6 ao 11 CF). Nacionalidade, significa, o vínculo jurídico político que liga um indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo com que este indivíduo se torne um componente do povo, capacitando-‐ o a exigir sua proteção e em contra partida, o Estado sujeita-‐o a cumprir deveres impostos a todos (art. 12 e 13 CF) Conjunto de regras que disciplina as formas de atuação da soberania popular. São direitos públicos subjetivos que investem o indivíduo no status activae civitatis, permitindo-‐lheo exercício concreto da liberdade de participação nos negócios políticos do Estado, de maneira a conferir os atributos da cidadania. (Art. 14 a 16 CF) A Constituição Federal regulamentou os partidos políticos como instrumentos necessários e importantes para preservação do Estado Democrático de Direito, assegurando-‐lhes autonomia e plena liberdade de atuação, para concretizar o sistema representativo. 2.9 Destinatário Os destinatários das normas dos direitos individuais, que são os direitos fundamentais, são os brasileiros e os estrangeiros residentes no Brasil. Grande parte da doutrina entende que esses direitos devem estender-‐se a toda e qualquer pessoa, mesmo àquelas que se encontrem apenas em trânsito no solo nacional. 19 2.10 Não taxatividade dos direitos fundamentais e tratados de direitos humanos O ordenamento jurídico brasileiro adotou um sistema aberto de direitos fundamentais no Brasil, não se podendo considerar taxativo o rol do artigo 5º. Inclusive, o art. 5°, §3°, da CF/88, reconhece que nos tratados internacionais sobre direitos humanos passam a gozar de status de emenda constitucional, se forem aprovados nas duas casas, em dois turnos, pelo quórum de 3/5. -‐ Caso não sejam aprovados pelo quórum constitucional, os tratados em direitos humanos revestem-‐se de supralegalidade. Sem alterar a constituição, bloqueiam a legislação federal que lhes seja contrária. Se o tratado não versar sobre direitos humanos, mantém a sua hierarquia infraconstitucional e equivalente à lei ordinária. CONCLUSÃO: • Tratado internacional sobre direitos humanos, aprovado no rito da EC: Status de EC; • Tratado internacional sobre direitos humanos, aprovado com quórum diverso das emendas: Supralegalidade; • Tratados Internacionais diversos: Status de lei ordinária, desde que haja o processo de incorporação. 3. DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS EM ESPÉCIE DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO CAEM, DESPENCAM! IMPORTANTÍSSIMO!!!!!! DECOREM A LETRA DO ART. 5º DA CRFB! a) Direito à vida 20 Está relacionado à existência física de um ser humano. O art. 5º, caput, da CF assegura a inviolabilidade do direito à vida em relação ao Estado e em relação aos demais indivíduos. Inviolabilidade difere de irrenunciabilidade: a inviolabilidade diz respeito à proteção de um direito em face de outras pessoas, enquanto que a irrenunciabilidade diz respeito à proteção de um direito em face do próprio titular. O direito à vida compreende o direito ao mínimo necessário a uma existência digna, que abrange: I-‐ Direito à integridade física: direito à saúde, vedação de pena de morte, proibição do aborto, etc; II-‐ Direito a condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência digna. Dupla acepção do direito à vida (NOVELINO, 2017, p. 325): I-‐ Acepção positiva: está associada ao direito à existência digna, que assegura o acesso a bens e utilidades indispensáveis para isso. Ela não se limita ao mínimo existencial, pois garante também pretensões de caráter material e jurídico, de modo que os poderes públicos devem adotar medidas positivas de proteção da vida, de amparo material e de emissão de normas protetivas; II-‐ Acepção negativa: é o direito assegurado a todo e qualquer ser humano de permanecer vivo. É um direito de defesa e um pressuposto elementar para o exercício de todos os demais direitos. Uma decorrência dessa acepção é a proibição da pena de morte (art. 5º, XLVII, “a”, da CF). 21 *Contextualizando: ÂMBITO DE PROTEÇÃO Dupla acepção: Direito de permanecer vivo e a uma existência digna RESTRIÇÕES -‐ Pena de morte em caso de guerra declarada (art. 5º, XLVII, a, da CF) -‐ Aborto necessário e sentimental (art. 128, I e II do CP) -‐ Aborto em casos de anencefalia (ADPF nº 54/DF) -‐ Uso de células-‐tronco embrionárias para fins terapêuticos (ADI nº 3.510/DF) *Julgados Importantes relacionados aos Direito à vida: A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada pela própria gestante (art. 124) ou com o seu consentimento (art. 126) não é crime. É preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos arts. 124 a 126 do Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da proporcionalidade. STF. 1ª Turma. HC 124306/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/11/2016 (Info 849). FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE – DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-‐se inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal. STF. Plenário. ADPF 54. J. 12/04/2012. CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DE BIOSSEGURANÇA. IMPUGNAÇÃO EM BLOCO DO ART. 5º DA LEI Nº 11.105, DE 24 DE MARÇO DE 2005 (LEI DE BIOSSEGURANÇA). PESQUISAS COM CÉLULAS TRONCO EMBRIONÁRIAS. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DODIREITO À VIDA. CONSTITUCIONALIDADE DO USO DE CÉLULAS-‐TRONCO 22 EMBRIONÁRIAS EM PESQUISAS CIENTÍFICAS PARA FINS TERAPÊUTICOS. DESCARACTERIZAÇÃO DO ABORTO. NORMAS CONSTITUCIONAIS CONFORMADORAS DO DIREITO FUNDAMENTAL A UMA VIDA DIGNA, QUE PASSA PELO DIREITO À SAÚDE E AO PLANEJAMENTO FAMILIAR. DESCABIMENTO DE UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DE INTERPRETAÇÃO CONFORME PARA ADITAR À LEI DE BIOSSEGURANÇA CONTROLES DESNECESSÁRIOS QUE IMPLICAM RESTRIÇÕES ÀS PESQUISAS E TERAPIAS POR ELA VISADAS. IMPROCEDÊNCIA TOTAL DA AÇÃO. STF. Plenário. ADI 3.510/DF. J. 29/05/2008. b) Direito à igualdade Está previsto no art. 5º, caput, da CF: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-‐se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”. Concepções da igualdade: I-‐ Concepção formal: é a igualdade perante a lei e perante o Estado. Por essa concepção, a igualdade impede que os indivíduos sejam tratados pelos poderes públicos de maneira diversa. Trata-‐se de uma concepção estática e negativa, insuficiente para solucionar as desigualdades sociais; II-‐ Concepção material: representa o tratamento igual dos iguais e o tratamento desigual daqueles em situações desiguais. Por essa concepção, a igualdade deve adotar critérios distintivos justos e razoáveis, de modo que os poderes públicos devem adotar medidas concretas para reduzir ou compensar desigualdades. Dimensões da igualdade (NOVELINO, 2017, p. 340): 23 I-‐ Dimensão objetiva: é a igualdade compreendida como princípio material estruturante do Estado brasileiro que impõe o tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais, bem como ações voltadas à redução das desigualdades sociais e regionais; II-‐ Dimensão subjetiva: confere a indivíduos e grupos posições jurídicas de caráter negativo (proteção contra diferenciações ou igualizações arbitrárias) e de caráter positivo (direito a exigir determinadas prestações materiais e jurídicas destinadas à redução de desigualdades). *APROFUNDAMENTO: TEORIA DO IMPACTO DESPROPORCIONAL Teoria do impacto desproporcional (disparate impact doctrine) A teoria do impacto desproporcional surgiu nos Estados Unidos da América e trata-‐se de uma distorção na aplicação do princípio da igualdade. Percebeu-‐se que em algumas oportunidades, o Estado ou o particular, adota uma medida buscando promover a igualdade; contudo, na prática, essa ação que nasceu bem intencionada, acaba gerando uma discriminação indireta de algum grupo vulnerável. No âmbito legislativo, isso ocorre porque nem sempre é possível ao legislador, quando da formulação da lei, ter a dimensão do impacto da sua obra legislativa. É o caso da lei que, pelo texto, não se extrai qualquer vulneração à isonomia, mas sua aplicação, no caso concreto, incorre em discriminação. É a chamada teoria do impacto desproporcional. Segundo Joaquim Barbosa: “Toda e qualquer prática empresarial, política governamental ou semigovernamental, de cunho legislativo ou administrativo, ainda que não provida de intenção discriminatória no momento de sua concepção, deve ser condenada por violação do princípio constitucional da igualdade material se, em consequência de sua aplicação, resultarem efeitos nocivos de incidência especialmente desproporcional sobre certas categorias de pessoas” (Ação afirmativa e princípio constitucional da igualdade, Renovar, 2001, p. 24). 24 No Brasil, a teoria foi aplicada pelo STF na ADI 1946-‐5/DF, que tratou do salário-‐ maternidade. Isso porque, a depender das circunstâncias, a inserção da mulher no mercado de trabalho poderá ser turbada pelos encargos trabalhistas. Como se vê, a pretexto de proteger a mulher, no caso concreto, a lei pode acabar voltando-‐se contra ela (discriminação indireta). Na ADPF 291, o STF foi chamado a esclarecer se o crime militar de pederastia foi recepcionado pela CF/88. O julgado declarou a recepção do delito, mas não das expressões alusivas à homossexualidade. De acordo com o Ministro Luís Roberto Barroso: “Torna-‐se, assim, evidente que o dispositivo, embora em tese aplicável indistintamente a atos libidinosos homo ou heterossexuais, é, na prática, empregado de forma discriminatória, produzindo maior impacto sobre militares gays. Esta é, portanto, uma típica hipótese de discriminação indireta, relacionada à teoria do impacto desproporcional (disparate impact), originária da jurisprudência norte-‐americana. Tal teoria reconhece que normas pretensamente neutras podem gerar efeitos práticos sistematicamente prejudiciais a um determinado grupo, sendo manifestamente incompatíveis com o princípio da igualdade”. *Julgados Importantes relacionados ao Direito à Igualdade: Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. STF. Plenário. RE 898450/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/8/2016 (repercussão geral) (Info 835) Súmula 552 do STJ: “O portador de surdez unilateral não se qualifica como pessoa com deficiência para o fim de disputar as vagas reservadas em concursos públicos”. Súmula 377 do STJ:"O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos deficientes" Constitucionalidade do sistema de cotas raciais em concursos públicos A Lei nº 12.990/2014 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos realizados no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União. 25 O STF declarou que essa Lei é constitucional e fixou a seguinte tese de julgamento: "É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta e indireta.” Além da autodeclaração, é possível que a Administração Pública adote critérios de heteroidentificação para analisar se o candidato se enquadra nos parâmetros da cota. A Lei nº 12.990/2014 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos da administração pública federal, direta e indireta. Segundo o art. 2º da Lei, poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso público, conforme o quesito cor ou raça utilizado pelo IBGE. Trata-‐se do chamado critério da autodeclaração. O STF afirmou que este critério é constitucional. Entretanto, é possível também que a Administração Pública adote um controle heterônomo, sobretudo quando existirem fundadas razões para acreditar que houve abuso na autodeclaração. Assim, é legítima a utilização de critérios subsidiários de heteroidentificação dos candidatos que se declararam pretos ou pardos. A finalidade é combater condutas fraudulentas e garantir que os objetivos da política de cotas sejam efetivamente alcançados. Vale ressaltar que tais critérios deverão respeitar a dignidade da pessoa humana e assegurar o contraditório e a ampla defesa. Exemplos desse controle heterônomo: exigência de autodeclaração presencial perante a comissão do concurso; exigência de apresentação de fotos pelos candidatos; formação de comissões com composição plural para entrevista dos candidatos em momento posterior à autodeclaração. Essa conclusão do STF foi resumida na seguinte tese de julgamento: "É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa". STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (Info 868). Vale ressaltar as Forças Armadas integram a Administração Pública Federal, de modo que a vagas oferecidas nos concursos por elas promovidos sujeitam-‐se à política de cotas prevista na Lei 12.990/2014. STF. Plenário. ADC 41 ED, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12/04/2018. O programa “Universidade para Todos” (PROUNI), instituído pela lei 11.096/2005, é constitucional. 26 STF. Plenário. ADI 3330/DF, Rel. Min. Ayres Britto, julgado em 3/5/2012 (Info 664) O STF decidiu que a Lei nº 11.340/06 (“Lei Maria da Penha”) é constitucional. Confira as principais conclusões sobre o tema: • Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato de a Lei nº 11.340/06 ser voltada apenas à proteção das mulheres. • O art. 33 da Lei Maria da Penha determina que, nos locais em que ainda não tiverem sido estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para as causas decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher. Essa previsão não ofende a competência dos Estados para disciplinarem a organização judiciária local. • Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher não se aplica a Lei dos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/95), mesmo que a pena seja menor que 2 anos. • Toda lesão corporal, ainda que de natureza leve ou culposa, praticada contra a mulher no âmbito das relações domésticas é crime de ação penal INCONDICIONADA. STF. Plenário. ADI 4424/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/2/2012. c) Direito à dignidade É um valor, um princípio, servindo como parâmetro para a definição dos direitos formal e materialmente fundamentais. ATENÇÃO: ADPF 347 MC/DF (Informativo 798 STF) -‐ ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL3 • ESTADOS DE COISAS INCONSTITUCIONAL Em que consiste o chamado "Estado de Coisas Inconstitucional"? O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando.... -‐ verifica-‐se a existência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, 3 Para aprofundamento do julgado: http://www.dizerodireito.com.br/2015/09/entenda-‐decisao-‐do-‐stf-‐sobre-‐o-‐sistema.html 27 -‐ causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura, -‐ de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma pluralidade de autoridades podem alterar a situação inconstitucional. Obs: conceito baseado nas lições de Carlos Alexandre de Azevedo Campos (O Estado de Coisas Inconstitucional e o litígio estrutural.Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-‐set-‐01/carlos-‐campos-‐estado-‐coisas-‐inconstitucional-‐ litigio-‐estrutural), artigo cuja leitura se recomenda. Exemplo: no sistema prisional brasileiro existe um verdadeiro "Estado de Coisas Inconstitucional". Origem A ideia de que pode existir um Estado de Coisas Inconstitucional e que a Suprema Corte do país pode atuar para corrigir essa situação surgiu na Corte Constitucional da Colômbia, em 1997, com a chamada "Sentencia de Unificación (SU)". Foi aí que primeiro se utilizou essa expressão. Depois disso, a técnica já teria sido empregada em mais nove oportunidades naquela Corte. Existe também notícia de utilização da expressão pela Corte Constitucional do Peru. Pressupostos: Segundo aponta Carlos Alexandre de Azevedo Campos, citado na petição da ADPF 347, para reconhecer o estado de coisas inconstitucional, exige-‐se que estejam presentes as seguintes condições: a) vulneração massiva e generalizada de direitos fundamentais de um número significativo de pessoas; b) prolongada omissão das autoridades no cumprimento de suas obrigações para garantia e promoção dos direitos; b) a superação das violações de direitos pressupõe a adoção de medidas complexas por uma pluralidade de órgãos, envolvendo mudanças estruturais, que podem depender da alocação de recursos públicos, correção das políticas públicas existentes ou formulação de novas políticas, dentre outras medidas; e d) potencialidade de congestionamento da justiça, se todos os que tiverem os seus direitos violados acorrerem individualmente ao Poder Judiciário. O que a Corte Constitucional do país faz após constatar a existência de um ECI? O ECI gera um “litígio estrutural”, ou seja, existe um número amplo de pessoas que são atingidas pelas violações de direitos. Diante disso, para enfrentar litígio dessa espécie, a Corte terá que fixar “remédios estruturais” voltados à formulação e execução de políticas públicas, o que não seria possível por meio de decisões mais tradicionais. 28 A Corte adota, portanto, uma postura de ativismo judicial estrutural diante da omissão dos Poderes Executivo e Legislativo, que não tomam medidas concretas para resolver o problema, normalmente por falta de vontade política. Situações excepcionais O reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional é uma técnica que não está expressamente prevista na Constituição ou em qualquer outro instrumento normativo e, considerando que "confere ao Tribunal uma ampla latitude de poderes, tem-‐se entendido que a técnica só deve ser manejada em hipóteses excepcionais, em que, além da séria e generalizada afronta aos direitos humanos, haja também a constatação de que a intervenção da Corte é essencial para a solução do gravíssimo quadro enfrentado. São casos em que se identifica um “bloqueio institucional” para a garantia dos direitos, o que leva a Corte a assumir um papel atípico, sob a perspectiva do princípio da separação de poderes, que envolve uma intervenção mais ampla sobre o campo das políticas públicas." (trecho da petição inicial da ADPF 347). ADPF e sistema penitenciário brasileiro Em maio de 2015, o Partido Socialista e Liberdade (PSOL) ajuizou ADPF pedindo que o STF declare que a situação atual do sistema penitenciário brasileiro viola preceitos fundamentais da Constituição Federal e, em especial, direitos fundamentais dos presos. Em razão disso, requer que a Corte determine à União e aos Estados que tomem uma série de providências com o objetivo de sanar as lesões aos direitos dos presos. Na petição inicial, que foi subscrita pelo grande constitucionalista Daniel Sarmento, defende-‐se que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas Inconstitucional". São apontados os pressupostos que caracterizam esse ECI: a) violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais; b) inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura; c) situação que exige a atuação não apenas de um órgão, mas sim de uma pluralidade de autoridades para resolver o problema. A ação foi proposta contra a União e todos os Estados-‐membros. Medidas requeridas na ação Na ação, pede-‐se que o STF reconheça a existência do "Estado de Coisas Inconstitucional" e que ele expeça as seguintes ordens para tentar resolver a situação: O STF deveria obrigar que os juízes e tribunais do país: a) quando forem decretar ou manter prisões provisórias, fundamentem essa decisão dizendo expressamente o motivo pelo qual estão aplicando a prisão e não uma das medidas cautelares alternativas previstas no art. 319 do CPP; 29 b) implementem, no prazo máximo de 90 dias, as audiências de custódia (sobre as audiências de custódia, leia o Info 795 STF); c) quando forem impor cautelares penais, aplicar pena ou decidir algo na execução penal, levem em consideração, de forma expressa e fundamentada, o quadro dramático do sistema penitenciário brasileiro; d) estabeleçam, quando possível, penas alternativas à prisão; e) abrandar os requisitos temporais necessários para que o preso goze de benefícios e direitos, como a progressão de regime, o livramento condicional e a suspensão condicional da pena, quando ficar demonstrado que as condições de cumprimento da pena estão, na prática, mais severas do que as previstas na lei em virtudedo quadro do sistema carcerário; e f) abatam o tempo de prisão, se constatado que as condições de efetivo cumprimento são, na prática, mais severas do que as previstas na lei. Isso seria uma forma de "compensar" o fato de o Poder Público estar cometendo um ilícito estatal. O STF deveria obrigar que o CNJ: g) coordene um mutirão carcerário a fim de revisar todos os processos de execução penal em curso no País que envolvamm a aplicação de pena privativa de liberdade, visando a adequá-‐los às medidas pleiteadas nas alíneas “e” e “f” acima expostas. O STF deveria obrigar que a União: h) libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN) para utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos. O STF ainda não julgou definitivamente o mérito da ADPF, mas já apreciou o pedido de liminar. O que a Corte decidiu? O STF decidiu conceder, parcialmente, a medida liminar e deferiu apenas os pedidos "b" (audiência de custódia) e "h" (liberação das verbas do FUNPEN). O Plenário reconheceu que no sistema prisional brasileiro realmente há uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e desumanas. Diante disso, o STF declarou que diversos dispositivos constitucionais, documentos internacionais (o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos e Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes e a Convenção Americana de Direitos Humanos) e normas infraconstitucionais estão sendo desrespeitadas. Os cárceres brasileiros, além de não servirem à ressocialização dos presos, fomentam o aumento da criminalidade, pois transformam pequenos delinquentes em “monstros do 30 crime”. A prova da ineficiência do sistema como política de segurança pública está nas altas taxas de reincidência. E o reincidente passa a cometer crimes ainda mais graves. Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-‐Membros e do Distrito Federal. A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e do agravamento da situação. Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações visando a resolver o problema e monitorar os resultados alcançados. A intervenção judicial é necessária diante da incapacidade demonstrada pelas instituições legislativas e administrativas. No entanto, o Plenário entendeu que o STF não pode substituir o papel do Legislativo e do Executivo na consecução de suas tarefas próprias. Em outras palavras, o Judiciário deverá superar bloqueios políticos e institucionais sem afastar, porém, esses poderes dos processos de formulação e implementação das soluções necessárias. Nesse sentido, não lhe incumbe definir o conteúdo próprio dessas políticas, os detalhes dos meios a serem empregados. Com base nessas considerações, foram indeferidos os pedidos "e" e "f". Quanto aos pedidos “a”, “c” e “d”, o STF entendeu que seria desnecessário ordenar aos juízes e Tribunais que fizessem isso porque já são deveres impostos a todos os magistrados pela CF/88 e pelas leis. Logo, não havia sentido em o STF declará-‐los obrigatórios, o que seria apenas um reforço. STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015 (Info 798). Fonte: Dizer o Direito. ATENÇÃO: No julgado, entendeu-‐se que incumbiria ao STF retirar os demais poderes da inércia, coordenando ações para resolver os problemas e monitorar resultados. Porém, NÃO cabe ao Judiciário definir o conteúdo dessas políticas públicas (Ex: Medidas judiciais para abater o tempo de prisão). d) Direito à integridade A Carta Magna proíbe a prática lesões, psíquica e moral (provocação de dor interna e sofrimento). Ademais, veda a prática da tortura, bem como qualquer tipo de comercialização de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, 31 pesquisa e tratamento (art. 199, §4º). e) Proibição da tortura Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante (art. 5º, III, da CF). Uso de algemas: “o uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de natureza excepcional, a ser adotado nos casos e com as finalidades de impedir, prevenir ou dificultar a fuga ou reação indevida do preso, desde que haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto venha a ocorrer, e para evitar agressão do preso contra os próprios policiais, contra terceiros ou contra si mesmo. O emprego dessa medida tem como balizamento jurídico necessário os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade” (HC 89.429, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 22.08.2006, DJ de 02.02.2007). Súmula Vinculante nº 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob
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