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Resenha Critica Processo Trabalho I


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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DO RECIFE 
CURSO DE DIREITO
AV 1 – História e evolução do Direito Processual do Trabalho no Brasil 
CCJ0247/3590112 - 1001
Trabalho da disciplina Dir. Processual do Trabalho I
 Prof. Fábio
 Porto Esteves
Recife
2020
AV1 – História e evolução do Direito Processual do Trabalho no Brasil
Historicamente falando, somente após a abolição formalizada da escravatura (1888) é que podemos ter um inicio real da relação de trabalho subordinado, que até antes era basicamente rural e escravocrata. Mesmo assim, não existia uma massa de trabalhadores, muito menos de uma categoria. Isso só veio mudar com a vinda dos imigrantes europeus para o Brasil, nas lavouras de café entre séculos XIX e XX. Porém, em um segundo momento, dado as crises dessas lavouras, essa massa de trabalhadores passou a se dirigir para as cidades a fim de ocupar empregos nas nascentes indústrias paulistas.
 No caso do Brasil, a origem do direito processual do trabalho se mistura com a própria história da Justiça do Trabalho, tal como retrata Ives Gandra da Silva Martins Filho¹. Nesse período inicial, as demandas relacionadas às relações de trabalho competiam à jurisdição ordinária, prevista no Regulamento n. 737, de 1850. Partindo disso, conseguimos dividir essa evolução em quatro fases: institucionalização; constitucionalização e incorporação e a fase atual.
A fase de institucionalização é caracterizada por uma feição administrativa na solução dos conflitos trabalhistas. No seu primeiro período, temos os denominados Conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem, previstos pela Lei n. 1.637, de 05 de novembro de 1907, mas que não chegaram a ser instaladas, por puro desinteresse governamental, No segundo período, no Estado de São Paulo, em 1922, foram criados os Tribunais Rurais, pela Lei no 1.869, de 10 de outubro de 1922, com a função de decidir questões entre trabalhadores rurais e seus patrões, com valor até quinhentos mil réis. O Tribunal Rural era composto por um Juiz de Direito da comarca e por outros dois membros, um designado pelo fazendeiro e outro pelo colono, o que caracteriza como o primeiro tribunal brasileiro composto pelo sistema de representação paritária de classes. O Tribunal, em si, não apresentou nenhum resultado relevante. Após alguns anos, em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, pelo então presidente Getúlio Vargas, trazendo uma nova fase no direito do trabalho brasileiro, criando elementos como o salário mínimo, a distinção entre empregado de empregador e a tratá-los de forma diversa. Para solucionar esses conflitos, foram criados dois órgãos: as denominadas Juntas de Conciliação e Julgamento (JCJ) e as Comissões Mistas de Conciliação (CMC), em 1932. Cada um desses órgãos possuía atribuições diferentes, e entre eles não havia hierarquia funcional. Tratava-se de órgãos administrativos de composição, sendo a CMC para solucionar conflitos coletivos e a JCJ para resolver conflitos individuais decorrentes dos contratos de trabalho. Dois anos depois, foi criado o Conselho Nacional do Trabalho, que tinha função de resolver casos de legislação previdenciária. 
Já a fase de constitucionalização recebe esse nome porque as Constituições Federais de 1934 e 1937 estabeleceram dispositivos concernentes à Justiça do Trabalho, embora como órgão não integrante do Poder Judiciário. Por conseguinte, apenas a partir de 1937 que podemos falar em Judiciário do Trabalho e em legislação processual relacionada aos conflitos do trabalho no Brasil. Apesar da Constituição Federal de 1937 manter a organização da Justiça do Trabalho prevista nos capítulos consequentes à ordem econômica e social, foi criado o Decreto-lei n. 1.237/39, que estruturou aos moldes que conhecemos atualmente. A partir de 1939 já se pode concluir que a Justiça do Trabalho passou a fazer parte do Poder Judiciário, visto que suas decisões deixaram de se submeter ao controle judicial da Justiça Comum, passando ser executadas pelo próprio Judiciário Trabalhista. Os presidentes e suplentes das Juntas eram, via regra, bacharéis em Direito. Foi também nessa fase que em vigor a Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei n. 5.452, de 1º-5-1943), trazendo normas processuais trabalhistas, dentre muitas outras disposições.
Na fase de incorporação, como o próprio nome sugere, é a fase marcada pela incorporação da Justiça do Trabalho como órgão do Poder Judiciário nacional. Isso se deu pelo Decreto-Lei n. 9.777, de 09 de setembro de 1946, que dispôs sobre sua organização, o que foi recepcionado pela Carta de 1946 (art. 122). Nessa fase, as já citadas Juntas de Conciliação e Julgamento (JCJ) continuaram como órgãos com mesmo objetivo, enquanto as Comissões Mistas de Conciliação (CMC) tornaram-se aquilo que conhecemos como os Tribunais Regionais do Trabalho. Já o Conselho Nacional do Trabalho veio a se tornar Tribunal Superior do Trabalho, cujas súmulas passaram a ser vinculantes. Logo, ficou evidente que o Poder Judiciário trabalhista foi estruturado hierarquicamente em três graus. Essa integração da Justiça do Trabalho ao Poder Judiciário, como observa Amauri Mascaro Nascimento, “é consequência natural da evolução histórica dos acontecimentos. Na sociedade empresarial, as controvérsias entre trabalhadores e empresários assumem especial significado. O Estado, intervindo na ordem econômica e social, não pode limitar-se a dispor sobre matéria trabalhista. Necessita, também, de aparelhamento adequado para a solução dos conflitos de interesses, tanto no plano individual como no coletivo. Assim, a existência de um órgão jurisdicional do Estado para questões trabalhistas é o resultado da própria transformação da ideia de autodefesa privada em processo judicial estatal, meio característico de decisão dos litígios na civilização contemporânea”².
Por fim, a fase atual está relacionada ao problema político, econômico, social e jurídico da multiplicação dos conflitos trabalhistas, o que acaba gerando a chamada hipertrofia da Justiça do Trabalho. Nessa fase, o direito processual trabalhista desempenha uma função muito importante, mormente em função da ausência de celeridade dos processos trabalhistas que compromete a efetividade dos direitos sociais garantidos aos trabalhadores. Nessa fase que nos encontramos, é que necessita a instauração de uma nova cultura entre juristas e operadores do direito processual do trabalho, o que passa pela nova concepção de que o processo deve propiciar a concretização dos direitos humanos de segunda dimensão, que são os direitos sociais dos trabalhadores. Por esse fator social, far-se á busca de novos institutos compatíveis com a atualidade. 
Referências:
1. MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva et al. História do trabalho, do direito do trabalho e da justiça do trabalho em homenagem a Armando Casimiro Costa, p. 162-221
2. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho, cit., p. 50.
PAMPLONA FILHO, Rodolfo; SOUZA, Tércio Roberto Peixoto. Curso de direito processual do trabalho – 2. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020, pp. 51-56
PEREIRA, Leone. Manual de Processo do Trabalho – 6. ed. – São Paulo: Saraiva, 2019, pp. 37-41 
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho – 17. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019, pp. 159-161
ARAÚJO FARIAS, James Magno. Sobre a Justiça do Trabalho brasileira – Impressões levadas à Audiência Pública sobre a Reforma Trabalhista na Câmara dos Deputados – 2020. Disponível em: https://www.editorajc.com.br/sobre-justica-do-trabalho-brasileira-impressoes-levadas-audiencia-publica-sobre-reforma-trabalhista-na-camara-dos-deputados/. Acesso em: 02/10/2020