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Humor surdo

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Humor na literatura surda
Humor in deaf literature
Lodenir Becker Karnopp1 
Carolina Hessel Silveira1
RESUMO
O artigo situa-se no contexto das atuais investigações no campo da educação 
de surdos, que, a partir de mudanças da legislação e do reconhecimento 
político da diferença linguística e cultural das comunidades surdas, vêm 
focalizando o estudo de produções culturais desses grupos. Seu objetivo é 
apresentar um recorte introdutório de estudo do humor em língua de sinais 
brasileira (Libras), especificamente a partir da análise de piadas que circulam 
nas comunidades surdas. Considerando a literatura como objeto estético e 
como construção intertextual, propõe-se a análise de uma piada circulante 
em Libras, em cinco versões diferentes. Conclui-se que o humor privilegia 
temas socialmente controversos e as diferentes versões da piada Leão Surdo 
aborda a diferença linguística e cultural, a inversão de olhares, através de 
cenas que apresentam as vantagens de ser surdo, a comunicação com ou-
vintes, bem como a língua de sinais como conhecimento determinante para 
o final (in)feliz da história. O inesperado acontece: o violinista é devorado, 
pois a técnica – musical e auditiva – empregada para fazer leões adormece-
rem não funciona com o leão surdo. No entanto, em uma das versões dessa 
piada, quando o violinista usa a língua de sinais, o leão surdo adormece e a 
vida do violinista é preservada, graças ao conhecimento da língua de sinais.
Palavras-chave: literatura surda; humor surdo; língua de sinais; surdos.
ABSTRACT
This article is situated in the context of current research of deaf education, 
and it considers the current legislation and political recognition of the 
linguistic and cultural differences of deaf communities, in order to focus 
on the study of cultural productions of those groups. The main goal is to
1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Av. Paulo 
Gama, s/n, CEP: 90046-900. 
DOI: 10.1590/0104-4060.37013
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR 93
present an introductory study about the humor in Brazilian Sign Language 
(Libras), specifically some analysis of circulating jokes in deaf communities. 
Considering literature as an aesthetic object and as an intertextual 
construction, it is proposed to analyze a joke circulating in Libras, in 
five different versions. We concluded that humor emphasizes socially 
controversial themes and different versions of the joke Deaf Lion address 
the linguistic and cultural differences, the reversal looks through scenes that 
show the advantages of being Deaf, the communication with hearing people, 
as well as the sign language as determinant knowledge for the final (un)
happy story. The unexpected end happens: the violinist is eaten, because the 
musical and auditory technique used to lions fall asleep does not work with 
a deaf lion. However, in one of the versions of that joke, when the violinist 
uses sign language, the deaf lion sleeps and the violinist’s life is preserved 
due to the knowledge of sign language. 
Keywords: deaf literature; deaf humor; sign language; deaf.
Sinais iniciais: contextualização do estudo
Nas últimas duas décadas, no Brasil, investigações na área de educação 
de surdos têm centrado suas análises principalmente nas políticas linguísticas e 
educacionais, tais como as propostas educacionais bilíngues implementadas na 
educação básica e superior. Especificamente, no âmbito da política linguística, 
podemos citar mudanças ocorridas na legislação através da oficialização da 
Língua Brasileira de Sinais (Libras), desencadeadas pela organização política e 
pelo fortalecimento da comunidade surda. Assim, a Lei nº 10.436/2002 reconhece 
a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, 
determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso 
e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras como parte integrante 
do currículo nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia. Nos 
últimos anos, em especial a partir da publicação do Decreto 5.626/2005, ações 
promovidas por Instituições de Ensino Superior têm potencializado a formação 
de educadores bilíngues e intérpretes de Libras. Cabe destacar, como exemplo, 
os cursos de Graduação em Letras-Libras, na modalidade de ensino a distância, 
promovidos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/ MEC) desde 
o ano de 2006. A formação desses profissionais visa a garantir que, nas escolas, 
os surdos possam receber a educação básica em língua de sinais.
O reconhecimento político da diferença linguística e cultural das comu-
nidades surdas, desencadeado por mudanças na legislação (Lei nº 10.436/2002 
KARNOPP, L. B.; SILVEIRA, C. H. Humor na literatura surda
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR94
e Decreto 5.626/2005), possibilitou debates sobre a educação bilíngue numa 
dimensão política e não apenas linguística, problematizando a Política Nacional 
de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). 
A tônica da discussão sobre a educação de surdos, a partir disso, marcou o 
reconhecimento político da surdez como diferença, provocando uma mudança 
epistemológica na forma como os surdos eram narrados e tratados: de deficientes 
auditivos para minoria linguística. Essa localização política embasou também 
propostas e ações sobre a educação bilíngue, já que, nessa perspectiva, a educa-
ção não envolve somente a escola ou a metodologia de ensino, mas considera a 
localização dos mecanismos e relações de poder e saber situados nas propostas 
educacionais. Com isso, os temas de discussão passam a ser também a legisla-
ção, as políticas educacionais e linguísticas, as representações dos surdos e da 
língua de sinais, a visibilidade da cultura surda, os mecanismos de controle que 
silenciam as diferenças, a negação das múltiplas identidades surdas, o percurso 
plural da comunidade surda, a aproximação entre escola e comunidade, a ne-
cessidade de projetos de formação de professores e de tradutores-intérpretes de 
línguas de sinais, entre outros. Neste contexto de debates, presenciamos também 
a valorização de poemas, anedotas, contos e narrativas produzidos em línguas 
de sinais. Neste sentido, a literatura surda começa a ser um tema investigado, 
descrito e analisado favorecendo a visibilidade das produções artístico-literárias 
em Libras, por exemplo, de narrativas e poemas sinalizados – disponibilizados 
em vídeos ou impressos – e que apresentam modos de ser surdo e marcas da 
cultura surda (KARNOPP, 2013).
Na análise que objetivamos empreender no presente artigo, deparamo-nos 
com produções de narrativas curtas – piadas/anedotas2 – em línguas de sinais. 
Interessa-nos identificar os significados partilhados na comunidade surda, tendo 
como pista a análise do humor, produzido em língua de sinais. Neste sentido, 
relembramos a afirmação de Hall de que “A linguagem é o meio privilegiado 
através do qual damos sentido às coisas, através do qual o significado é produzido 
e através do qual há seu intercâmbio. Os significados só podem ser partilhados 
através de um acesso comum à linguagem.3” (1997a, p. 1).
Interessa-nos estudar essa temática a partir do entendimento de que a 
representação é uma prática que produz cultura. De modo resumido, podemos 
dizer que esse conceito-ferramenta, a ser utilizado na presente análise, está 
vinculado ao campo dos Estudos Culturais (HALL, 2008; COSTA, 2000) e aos 
Estudos Surdos (LANE, 1992; LADD, 2003; SKLIAR, 1998), pois a represen-
2 Embora alguns estudos apresentem diferenças entre piada e anedota, no presente texto, 
usamos esses termos como sinônimos. 
3 Tradução nossa.
KARNOPP, L. B.; SILVEIRA, C. H. Humor na literatura surda
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR 95
tação, através da linguagem, é central para os processos através dosquais o 
significado é produzido. 
Os Estudos Culturais (EC) e os Estudos Surdos (ES) têm influenciado 
significativamente as pesquisas nas áreas de Educação de Surdos, de modo 
particular nos últimos 20 anos, no Brasil. Eles têm inspirado diferentes investi-
gações realizadas por grupos de pesquisa, tais como o Grupo Interinstitucional 
de Pesquisa em Educação de Surdos (GIPES). Os trabalhos produzidos por 
pesquisadores desse grupo estão unidos, algumas vezes, pelos autores em que 
se apoiam, pelos conceitos-ferramentas utilizados, pelo tipo de material investi-
gado e/ou pelos procedimentos de investigação implementados. Mas, de forma 
ainda mais importante, eles/elas compartilham o processo de formular outras 
interrogações e inventar diferentes modos de descrição e análise.
[...] a certeza de que precisamos ser pesquisadores/as conectados/as com 
os desafios educacionais, culturais, sociais e políticos do nosso tempo. 
Um tempo que demanda de nós não apenas a compreensão do mundo 
em que vivemos, mas, sobretudo, a criação de instantes de suspensão dos 
sentidos já criados e a abertura de possibilidades de sua ressignificação. 
(MEYER; PARAÍSO, 2012, p. 21).
A partir do “circuito da cultura”, análises desenvolvidas no campo dos 
Estudos Culturais pretendem dar conta da complexidade que envolve os proces-
sos de produção, circulação e consumo dos objetos culturais. Nesse contexto, 
interessa aos investigadores desenvolver análises dos modos como um determi-
nado objeto é representado, quais identidades são associadas a essas represen-
tações, como os artefatos são produzidos e consumidos e quais os mecanismos 
que regulam a sua distribuição e uso. Assim, o “circuito da cultura” envolve 
conceitos como representação, identidades, produção, consumo e regulação. 
Desse modo, trabalhamos com o conceito de representação na presente análise 
de anedotas em Libras.
É possível afirmar que a literatura surda e a literatura em língua de sinais 
não se caracterizam como “um campo passivo de mero registro ou de expres-
são de significados existentes” (HALL, 1997b, p. 47). Esses significados são 
construídos historicamente, principalmente por membros das comunidades 
surdas, inseridos em um campo discursivo do nosso tempo. A cultura determina 
formas de ver, de explicar e de compreender o mundo; ou seja, depende de que 
seus participantes interpretem de forma significativa o que esteja ocorrendo ao 
seu redor, e “entendam” o mundo de forma geral semelhante (HALL, 1997a). 
KARNOPP, L. B.; SILVEIRA, C. H. Humor na literatura surda
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR96
Além disso, a “cultura é alimentada, criada, reproduzida, reforçada e, por ve-
zes, subvertida, largamente, pelas narrativas com protagonistas pontuais, em 
circunstâncias e lugares datados” (SILVEIRA, 2005, p. 199).
Por traduzir o universo ficcional, linguístico e cultural de surdos, é no 
campo da literatura surda e da literatura em línguas de sinais que membros 
das comunidades surdas produzem e exercitam o humor, o prazer estético e a 
tradução cultural, oportunizando a circulação e o consumo da cultura surda. 
Assim é possível (re)constituir heranças histórico-culturais das comunidades 
surdas, testemunhando as práticas cotidianas e as ações da comunidade surda 
através de romances, fábulas, lendas, contos, poemas, piadas, crônicas, mitos, 
trova e de outras produções (MULLER; KARNOPP, 2012).
Com o propósito de analisar anedotas em Libras, no presente texto, 
deparamo-nos com a tarefa de traduzir os textos e o humor produzido em sinais 
para a língua portuguesa. Neste caminho investigativo, como pesquisadores, 
temos o desafio de analisar quem traduz a quem e através de quais significados 
políticos. Diante desse (e outros) desafios, desenvolvemos nossas pesquisas no 
campo dos EC e dos ES considerando que “a metodologia deve ser construída 
no processo de investigação e de acordo com as necessidades colocadas pelo 
objeto de pesquisa e pelas perguntas formuladas.” (MEYER; PARAÍSO, 2012, p. 
15). Assim, entendemos metodologia como um modo de olhar, de perguntar, de 
discutir informações; enfim, “como uma certa forma de interrogação e um con-
junto de estratégias analíticas de descrição” (MEYER; PARAÍSO, 2012, p. 16).
Sinais em desenvolvimento: algumas pesquisas e produções literárias 
em Libras 
A palavra literatura sempre é difícil definir, e muitos conceitos já foram 
apresentados. Lajolo (2001, p. 11) afirma que perguntas como “o que é literatu-
ra?” são “perguntas permanentes” com “respostas provisórias”. O desafio para 
o presente trabalho é apresentar “respostas provisórias” para a forma como vem 
se constituindo a literatura surda e a literatura em língua de sinais, em pesqui-
sas e em materiais produzidos por surdos e/ou em línguas de sinais. De modo 
resumido, buscamos discutir o conceito de literatura surda/literatura em línguas 
de sinais, a partir das contribuições de estudos anteriores sobre essa temática, 
bem como através da análise de produções literárias em sinais.
Nas décadas de 1980-90, a literatura surda circulava de modo mais pre-
sencial e nos encontros entre os surdos. Espaços como associações de surdos, 
KARNOPP, L. B.; SILVEIRA, C. H. Humor na literatura surda
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR 97
escolas de surdos e eventos da área contavam com apresentações teatrais e/ou 
com surdos contadores de histórias, e havia poucos ouvintes que participavam 
(SILVEIRA, 2013). As produções literárias em Libras começaram a circular de 
modo mais frequente a partir de 2000. O avanço tecnológico nos últimos anos 
facilitou o uso de equipamentos portáteis (como máquinas digitais ou filma-
doras), bem como a divulgação e circulação de vídeos em Libras, agilizando 
assim o registro de piadas, poesias, contos... sobre/de/para surdos. A questão 
das formas de registro das histórias é um aspecto importante a considerar para 
a análise da literatura surda, porque é diferente do caso da literatura escrita 
utilizada em culturas letradas. 
Os artistas surdos Nelson Pimenta e Rosani Suzin promoveram a divul-
gação da literatura surda em vídeo4, em oficinas e eventos, no final dos anos 
1990. Em seguida, outros surdos ficaram conhecidos como contadores de histó-
rias, artistas e poetas, através de vídeos postados em Libras no YouTube. Além 
disso, participantes da disciplina de Literatura Surda, no curso de Graduação 
em Letras-Libras (a partir de 2006), construíram narrativas e poemas, poten-
cializando a(s) cultura(s) surda(s) e constituindo fonte de pesquisa. Destacamos 
ainda materiais em Libras produzidos pelo Instituto Nacional de Educação de 
Surdos (INES); LSB Vídeo; LIBRAS Rosani Suzin e pela Editora Arara Azul, 
entre outros materiais. 
Trabalhos acadêmicos sobre a literatura surda e a literatura em língua de 
sinais começaram a surgir em torno do ano de 2000, como por exemplo os de 
Silveira (2000); Karnopp (2006); Rosa (2006). Investigações em Programas 
de Pós-Graduação em Educação, como as dissertações de mestrado de Mourão 
(2011), Rosa (2011), Schallenberger (2010) e Muller (2012), trouxeram con-
tribuições para a área de estudos da literatura surda. Além disso, localizamos 
a apresentação de trabalhos em eventos nas áreas de educação e linguística. 
As respostas “provisórias” para a noção de literatura surda podem ser 
encontradas em Karnopp (2010) e Strobel (2009). Vejamos:
A expressão “literatura surda” é utilizada no presente texto para histórias 
que têm a língua de sinais, a identidade e a cultura surda presentes na narrativa. 
Literatura surda é a produção de textos literários em sinais, que traduz a experi-
ência visual, que entende a surdez como presença de algo e não como falta, que 
possibilita outras representações de surdos e que considera as pessoas surdas 
como um grupo linguístico e cultural diferente (KARNOPP, 2010, p. 161).
Strobel sinaliza que a literatura surda: 
4 DVD “Literaturaem LSB”, vol.1, Nelson Pimenta, LSB Vídeo, Rio de Janeiro, 1999; 
DVD “LIBRAS”, vol. 03, Rosani Suzin, Curitiba, 2001.
KARNOPP, L. B.; SILVEIRA, C. H. Humor na literatura surda
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR98
[...] traduz a memória das vivências surdas através das várias gerações 
dos povos surdos. A literatura se multiplica em diferentes gêneros: 
poesia, história de surdos, piadas, literatura infantil, clássicos, fábulas, 
contos, romances, lendas e outras manifestações culturais. (STROBEL, 
2009, p. 61)
Sutton-Spence (2013) aborda três formas de produção de literatura sobre 
surdos e/ou literatura em língua de sinais: (i) literatura escrita sobre surdos 
dentro do cânone de literatura escrita; (ii) literatura escrita por surdos com 
alguns deles culturalmente surdos; (iii) literatura em línguas de sinais quase 
sempre produzida por surdos. Segundo ela, a literatura surda se apresenta de 
modo recorrente como: (i) muito visual; (ii) centra-se na linguagem estética; 
(iii) carrega elementos que nos fazem aprender a partir das coisas ditas e (iv) 
carrega elementos que nos fazem aprender a partir da forma como as coisas 
são ditas. A partir dessas considerações, podemos dizer que a literatura surda é 
produzida em língua de sinais, mas nem toda literatura em sinais é identificada 
como literatura surda. Existem manifestações culturais dos surdos que apresen-
tam singularidades, marcadas pela experiência visual, pelo modo como a língua 
de sinais é produzida e pelos significados construídos.
Além disso, ao considerarmos as contribuições de pesquisadores no campo 
da literatura como Culler (1999), destacamos alguns aspectos presentes na lite-
ratura surda e na literatura em língua de sinais, como por exemplo a literatura 
como objeto estético. Apesar da vinculação estreita com estudos de representa-
ção, o campo dos Estudos Culturais tem evitado sistematicamente a discussão 
de temas ligados a questões de estética, “por entender que esse conceito está, 
historicamente, ligado às dicotomias alta e baixa cultura, cultura do colonizado 
e do colonizador, como também lhes tem conferido legitimação teórica e epis-
temológica ao longo do tempo” (KIRCHOF; BONIN, 2013, p. 1071).
No entanto, ao considerarmos a literatura surda como objeto estético, esta-
mos posicionando as formas humorísticas, poéticas e a colocação da linguagem 
em um plano diferenciado de uso. Essa colocação da linguagem em um plano 
diferenciado de uso evidencia sua literariedade, sobretudo na organização da 
língua de sinais, que a torna diferente dos sinais usados para outros fins, por 
exemplo, para fornecer informações. Na literatura surda, o uso da língua de sinais 
frequentemente é marcado por sinais poéticos, rimas sinalizadas, neologismos, 
classificadores. Esses sinais chamam a atenção dos surdos – é a linguagem 
literária (RUTHERFORD, 1983). 
Outro ponto importante é o da construção intertextual, pois, como vamos 
ver, existem muitas obras surdas que transformam, adaptam e fazem retornar par-
KARNOPP, L. B.; SILVEIRA, C. H. Humor na literatura surda
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR 99
tes de outras obras. Assim, consideramos literatura como construção intertextual, 
no sentido de que uma obra existe em meio a outros textos, ou outras línguas/
linguagens, através de suas relações com eles. Nessa perspectiva, relembramos a 
afirmação de Barthes (apud CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2004, p. 289): 
Todo texto é um intertexto; outros estão presentes nele, em níveis 
variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis [...] O intertexto é um 
campo geral de fórmulas anônimas, cuja origem raramente é recuperável, 
de citações inconscientes ou automáticas, feitas sem aspas (1973). 
As perguntas permanecem, as respostas continuam provisórias... entretan-
to, trazemos outras perguntas, uma certa forma de interrogação e um conjunto 
de estratégias analíticas de descrição para a análise de piadas e anedotas em 
Libras. Na análise das diferentes versões do Leão Surdo, percebemos essa 
intertextualidade, através dos textos contados e recontados nas comunidades 
surdas, analisados na seguinte seção.
Sinais do humor
Alguns estudiosos já se interessaram por piadas e anedotas surdas. No 
livro Deaf Culture Our Way: Anecdotes from the Deaf Community, os autores5 
(HOLCOMB et al., 1994) apresentam um total de 111 piadas e anedotas trazidas 
por surdos nos Estados Unidos. Eles explicam o conteúdo do livro:
As piadas a seguir passaram por gerações de surdos e são amplamente 
conhecidas entre indivíduos da comunidade surda dos EUA. Geralmente 
estão entre as primeiras a serem compartilhadas com recém-chegados 
à comunidade surda. Enquanto pode haver muitas versões quanto 
contadores, as seguintes histórias são apresentadas em suas formas 
básicas. (1994, p. 3).6
5 Os autores, Roy K. Holcomb, Samuel K. Holcomb e Thomas K. Holcomb, são surdos, 
um pai e dois filhos, que registraram as piadas surdas contadas pela comunidade surda durante anos 
nos Estados Unidos. Esta obra é um registro importante sobre piadas surdas antes da tecnologia 
avançada. 
6 Tradução de Iuri Abreu.
KARNOPP, L. B.; SILVEIRA, C. H. Humor na literatura surda
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR100
Rutherford (1983, p. 310) se propõe a analisar piadas surdas e entende 
as piadas dentro do folclore: “Meu estudo desse texto [a piada] foi baseado na 
crença de que, por meio de análise do folclore de uma comunidade, é possível 
encontrar um reflexo de sua cultura [...]”.
As piadas e anedotas fazem parte da abordagem do humor. Morgado 
(2011a) explica que humor em línguas gestuais7 parece apresentar sempre as 
mesmas características, seja qual for o país. No entanto, para compreender 
o sentido ou as sutilezas humorísticas nas línguas de sinais, é necessário ser 
fluente na língua.
Para Morgado, podem-se diferenciar cinco formas de humor em línguas 
de sinais. A primeira viria das imitações de pessoas, animais, filmes e objetos. 
O segundo tipo abrange “brincadeiras com as configurações do alfabeto ou dos 
números, em que o contador pode criar uma história a partir delas” (p. 54). O 
terceiro tipo são “brincadeiras com o movimento”, em que os sinais produzidos 
realizam movimentos que remetem à piada/anedota que está sendo contada. O 
quarto tipo envolve “brincadeiras com temas tabu, como sexo ou cocô”, que 
são também muito frequentes entre os ouvintes. A autora afirma que “estas 
produções não são produzidas em contextos formais, mas são antes preferidas 
em convívios informais, em grupos pequenos [...]” (p. 54). O quinto tipo inclui 
“anedotas que vão passando de mão em mão e de país para país, entre os sur-
dos” (p. 55). A autora considera as possibilidades de comunicação atualmente, 
através da internet, bem como os encontros de surdos, nos quais sempre existe 
um momento de contar anedotas. Podemos observar a circulação de algumas 
piadas no Brasil e também em outros países – Estados Unidos, Portugal e Fran-
ça – especialmente aquelas que são clássicas na comunidade surda, tais como: 
“King Kong; A lua de mel; O leão surdo; [...]” (MORGADO 2011b, p. 166).
Sinais analíticos: O Leão Surdo8
Considerando os aspectos citados anteriormente – literatura como objeto 
estético e literatura como construção intertextual – propomos analisar uma 
mesma piada em Libras, intitulada Leão Surdo e contada em cinco versões 
diferentes. Além disso, pretendemos analisar quais especificidades da língua 
7 Em Portugal, se emprega a expressão línguas gestuais; no Brasil se diz língua de sinais.
8 Retomamos, nesta seção, materiais utilizados por uma das autoras deste artigo, em Proposta 
de Tese (SILVEIRA, 2013).
KARNOPP, L. B.; SILVEIRA, C. H. Humor na literatura surda
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR 101
de sinais são aproveitadas para dar maior força expressivaàs piadas, como 
artefatos da cultura surda. 
Leão Surdo foi uma piada citada por Morgado (2011b) como clássica 
na comunidade surda, e tem uma forma básica conhecida. Assim como outras 
piadas surdas, o desfecho se relaciona com o próprio fato de um personagem ser 
surdo. Foram encontradas inicialmente versões dessa piada em quatro materiais 
(em DVD) e em um vídeo disponível no YouTube. 
Uma incursão por sites da internet mostrou também que se trata de uma 
piada bastante conhecida internacionalmente, como se pode ver por vídeos 
postados no YouTube, em que, por exemplo, um surdo americano conta uma 
versão sobre o leão surdo9 e uma surda indiana conta uma piada10 semelhante. 
Apesar da considerável distância geográfica de origem, os surdos de diferentes 
comunidades conhecem essa piada. Outra versão da piada, encontramos em um 
livro de original escrito em francês, que foi traduzido para o português com o 
título “Surdos, 100 Piadas” (RENARD; LAPALU, 2009). É importante chamar a 
atenção por ser uma piada escrita, como a que reproduzimos na página seguinte, 
e mesmo as outras transcrições não trazem a riqueza de uma piada sinalizada. 
Em um primeiro levantamento feito sobre as ocorrências, em Libras, da 
piada Leão Surdo, foram identificadas versões semelhantes referindo-se a um 
animal de grande porte (touro). Foram encontrados quatro materiais, sendo 
que um deles apresentava duas versões. As versões encontradas e analisadas, 
no presente estudo, foram:
Versão A: DVD PIADAS EM LIBRAS, produzido por Sandro dos S. Pereira 
(2009). 
Versões B e C: DVD PIADAS EM LIBRAS com 20 piadas, com duas versões 
sobre o Leão Surdo, produzido pela Feneis-SP, com atuação de atores diferentes 
(2011). 
Versão D: Vídeo postado no YouTube11, com o ator Germano Dutra (2008), que 
apresenta a versão do touro surdo. 
Versão E: Vídeo didático usado no ensino de Libras na Unintese, produzido por 
Cláudio Mourão (2011), com a versão do touro surdo. 
É possível identificar algumas modificações em cada versão. Para fazer 
uma comparação mais precisa das cinco versões, podemos visualizar um qua-
dro de síntese com os seguintes elementos: material (vídeo, internet ou texto 
9 Disponível em: <http://www.codatalk.com/robert-rivera.html>.
10 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NH0D_TEqVFs>.
11 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?list=UUcSrK2pK7X7DURi_
oavadrA&v= 697SwM6U-9I&feature=fvwp&NR=1>.
KARNOPP, L. B.; SILVEIRA, C. H. Humor na literatura surda
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR102
FONTE: RENARD, Marc; LAPALU, Yves. Surdos, 100 Piadas! Lisboa, Editora 
Surd´Universo, 2009, p. 8.
escrito); personagem animal (tipo de animal e quantidade); personagem humano 
(ouvintes/surdos/adultos/crianças?); cenário da ação; instrumento musical ou 
fonte sonora; desfecho.
KARNOPP, L. B.; SILVEIRA, C. H. Humor na literatura surda
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR 103
Fonte Vídeo
Personagem
Cenário Instru- 
mento
Desfecho
Versão Animal Humano 
A Sandro 
Pereira 
DVD Piadas 
em Libras
DVD Leão 2 violinistas 
e 1 menino
Zoológico Violino Violinista 
e menino 
morrem.
B Celso Badin 
DVD 
FENEIS – SP
DVD Leão 2 turistas 
(surdo e 
ouvinte) e 1 
guia
Pampa 
Safári 
(África)
Canto Turista ouvinte 
morre; turista 
surdo escapou.
C Moryse 
Saruta 
DVD 
FENEIS – SP
DVD Leão 1 escravo
violinista
Coliseu
(Roma- 
Itália)
Violino Violinista
sinalizou; leão
adormeceu.
D Germano 
Dutra 
YouTube
You 
tube
Touro 1 toureiro
violinista
Arena 
(Espanha)
Violino Toureiro caiu.
E Cacau 
Mourão 
Vídeo 
Unintese
DVD Touro 1 toureiro
violinista
Arena 
(Espanha)
Violino Toureiro voou 
para fora 
da Arena, o 
público tirando 
fotos.
QUADRO 1 – VERSÕES DA PIADA LEÃO SURDO
Numa primeira comparação, vemos que as versões A e B têm um final 
trágico com o leão devorando pessoas, enquanto outras versões apresentam 
outros desfechos aparentemente mais conciliadores. Em duas delas – D e E – o 
final envolve o toureiro que caiu e outro toureiro sendo arremessado para fora, 
o que é mais condizente com o animal (touro), que não devora pessoas. Em 
outra versão, C, o violinista apresenta uma música em Libras, agradando o leão.
Quatro piadas usam o instrumento violino como fonte de música agradá-
vel, e uma piada somente utiliza a referência ao canto. Observa-se ainda uma 
variedade de lugares de ambientação: temos, como locais da ação, o zoológico 
(local urbano onde regularmente se podem encontrar leões), a África, através 
de um safári; Coliseu (Roma – Itália) e, nas duas últimas piadas, apresenta-se 
o mesmo local: uma arena ou campo de touros, na Espanha. Das cinco versões 
apresentadas, em duas delas o animal é o touro, condizente com toda a sua 
ambientação: uma tourada, um protagonista toureiro, um campo de touradas. 
Nas demais, trata-se do animal que tradicionalmente tem sido visto como um 
símbolo de ferocidade: o leão. Em todas as versões, o desfecho da piada se 
relaciona com o próprio fato de o animal ser surdo.
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Também observamos o fato de que em uma versão (C) o fato de saber 
Libras livra o personagem da morte e, portanto, saber uma Língua de Sinais foi 
uma grande vantagem. Em todas as outras versões, fica claro que se o persona-
gem soubesse uma língua de sinais, teria sobrevivido! 
Em síntese, duas versões correspondem à versão mais corrente na comu-
nidade surda: apresentam um violinista (ou dois) que acalma leões ouvintes 
com sua música, até que um leão – que é surdo – não se sensibiliza e acontece 
um final trágico. 
Podemos também analisar esta anedota com base na classificação que 
Morgado (2011a) faz das fontes do humor surdo, conforme mencionamos ini-
cialmente. Assim, o Leão Surdo se encaixaria nas “Anedotas que vão passando 
de mão em mão e de país para país, entre os surdos”. Essas anedotas, conforme 
a autora, apresentam as (des)vantagens de ser surdo, a comunicação com ou-
vintes, os aparelhos auditivos, a acessibilidade tecnológica, a língua de sinais, 
os intérpretes de línguas de sinais, etc. 
Assim, em todos os vídeos podemos ver uma ênfase maior na expressão, 
os sinais apresentam intensidade no movimento, repetições, exagerando e mi-
metizando características dos personagens e das ações (dentes dos leões, juba 
do leão esvoaçante quando ele corre, corda do violino arrebentando por causa 
da velocidade do violinista tocar ou do ataque do leão...). Os movimentos que 
narram as ações do leão ou do touro são velozes, e as expressões faciais são 
tensas; enquanto o movimento relacionado à música produzida pelo violino 
apresenta movimentos mais suaves e lentos, com expressões faciais mais serenas. 
Além disso, observamos que o local onde são produzidos os sinais – no espaço 
neutro, em frente ao corpo – posicionam, de um lado, o leão e, de outro lado, o 
violino, sendo que o leão vai se aproximando do violinista gradativamente até 
o desfecho da história. 
Conforme Bergson (1980), existem vários tipos de processos que nos 
fazem rir. Um desses processos é o exagero. “O exagero é cômico quando é 
prolongado e sobretudo quando é prolongado e sistemático” (p. 67). No caso 
das piadas em Libras sinalizadas e daquelas que analisamos, em especial, parece 
que este é um processo central.
Observamos, ainda, que as piadas surdas têm vários aspectos em comum 
com piadas de ouvintes e com características das histórias e anedotas populares. 
Assim, os estudiosos de anedotas e piadas dizem que toda a piada tem que ter 
um final inesperado e isso se observa na piada estudada. Ainda sobre Leão Surdo 
– é uma piada acumulativa, frequente na cultura popular, em que se repete uma 
situação com alguma mudança e que vai criando cada vez mais uma expectativa 
para saber o que vai acontecer.
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Sinais (quase) finais
Leão Surdo, piada que circula em diferentes versões em Libras e em outras 
línguas de sinais, apresenta algumas formas empregadas em outros tipos de pia-
das, tendo como base uma exploração mais sofisticada da linguagem humorística 
e a manipulação de sinais mais exagerados e expressivos, que desencadeia um 
final inesperado, quer pela situação, quer pela personagem. 
Mas, em virtude do que se afirmou anteriormente sobre os temas prediletos 
de piadas que circulam em línguas de sinais em comunidades surdas, a surpresa 
do que é apresentado no desfecho tem nas piadas de surdos um papel recorrente, 
com o fator surpresa e a quebra de expectativas. Nas piadas que examinamos, 
esperamos ter apresentado evidências empíricas de que o humor na literatura 
surda não é um humor banal, simples de ser tratado do ponto de vista discursivo. 
Um dos ensinamentos que se pode extrair das piadas apresentadas é que não 
existe leitor sem textos, o que deveria parecer óbvio, mas parece que não é, para 
uma parcela bastante grande de pessoas, que veem os textos como entidades 
independentes e autônomas. Os textos analisados podem até permitir mais de 
uma leitura, mas frequentemente impõem só uma e geralmente impedem uma 
leitura qualquer. Assim, concluímos que se tematiza, na piada Leão Surdo, a 
diferença linguística e cultural, a inversão dos olhares, através de cenas que 
apresentam as vantagens de ser surdo, a comunicação com ouvintes, bem como 
a língua de sinais como conhecimento determinante para o desfecho da história. 
O inesperado acontece: o violinista é devorado, pois a técnica empregada para 
fazer leões adormecerem não funciona com o Leão Surdo. No entanto, na versão 
C, quando o violinista sinalizou, o leão surdo adormeceu. Assim, o violinista se 
salvou, graças ao conhecimento que tinha da língua de sinais. Nessa direção, 
relembramos a afirmação de Possenti (1998) de que as piadas versam “sobre 
temas que são socialmente controversos. [...] Assim, as piadas são uma espécie de 
sintoma, já que, tipicamente, são relativas a domínios discursivos ‘quentes’” (p. 
25). A piada Leão Surdo apresenta as vantagens de conhecer a língua de sinais, 
como uma forma de preservação da(s) vida(s). Na inversão de olhares referida 
na piada do leão, percebemos um outro lado da “surdez”, veiculando discursos 
não explicitados correntemente, ou pelo menos, discursos pouco oficiais, tais 
como as vantagens de ser surdo e o seu valor cultural.
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Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 93-109. Editora UFPR106
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Texto aprovado em 07 de agosto de 2014.
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