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1 P R O D U Ç Ã O I N T E G R A D A MÓDULO 2 GESTÃO E PLANEJAMENTO DA EMPRESA RURAL LAÉRCIO ZAMBOLIM ECILA MERCÊS ALBU QUERQUE VILLANI 2 Autores: Laércio Zambolim, Ecila Marcês Albuquerque Villani Layout: Lucas Kato e Taiane Souza Editoração Eletrônica: Núbya Fontes e Taiane Souza Edição de conteúdo e CopyDesk: João Batista Mota Diretora Silvane Guimarães Silva Gomes Campus Universitário, 36570-000, Viçosa/MG Telefone: (31) 3899 2858 | Fax: (31) 3899 3352 Universidade Federal de Viçosa Reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares Vice-Reitor João Carlos Cardoso Galvão 3 Significado dos ícones da apostila Para facilitar o seu estudo e a compreensão imediata do conteúdo apresenta- do, ao longo de todas as apostilas, você vai encontrar essas pequenas figuras ao lado do texto. Elas têm o objetivo de chamar a sua atenção para determinados trechos do conteúdo, com uma função específica, como apresentamos a seguir. Texto-destaque: são definições, conceitos ou afirmações importantes às quais você deve estar atento. Glossário: Informações pertinentes ao texto, para situá-lo melhor sobre determinado autor, entidade, fato ou época, que você pode desconhecer. SAIBA MAIS! Se você quiser complementar ou aprofundar o conteúdo apresentado na apostila, tem a opção de links na internet, onde pode obter vídeos, sites ou artigos relacionados ao tema. Quando vir este ícone, você deve refletir sobre os aspectos apontados, relacionando-os com a sua prática profissional e cotidiana. Ì a Ñ Õ 4 11. EXIGÊNCIAS DOS MERCADOS: PADRONIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO Gabriel Vicente Bitencourt de Almeida Engenheiro Agrônomo D.Sc.; CEAGESP/DEPAR; galmeida@ceagesp.gov.br. Fabiane Mendes da Câmara Engenheira de alimentos M.Sc; CEAGESP/SECQH; fcamara@ceagesp.gov.br Evandro Goulart da Silva Técnico agrícola, classificador oficial de produtos vegetais; CEAGESP/DEPAR; egsilva@ceagesp.gov.br SAIBA MAIS! Para mais informações sobre esse tema leia também: 1.Andreuccetti, C., Ferreira, M.D., Anita S. D., Gutierrez, A.S.D., Tavares, M. Classificação e padronização dos tomates cv. Carmem e Débora dentro da Ceagesp – SP. Eng. Agríc., Jaboticabal, v.24, n.3, p.790-798, set./dez. 2004. 2. Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo – CEAGESP. Normas de Classificação / CEAGESP- São Paulo: CEAGESP, 2011.6p. 3. Walter, E.H.M. Classificação de Frutas e Hortaliças: Solução técnica para um problema comercial. Universidade Federal do Pampa. Engenharia de Alimentos. Tecnologia de Frutas e Hortaliças. Agosto de 2010. 4. Souza, I.S.F. 2001. Classificação e padronização de produtos com ênfase na agropecuária. Uma análise histórico conceitual. Embrapa. Brasília. Informação Tecnológica. 120 p. 5. Sousa, I.S.F. Classificação e Padronização de Sistemas Agroalimentares de Agroalimentares. Power point. 6. Trento, E.J., Sepulcri, O., Morimoto, F. Comercialização de Frutas, Legumes e Verduras. Curitiba- PR. Emater, 2011. 7. Spoto, M.H.F. Pós-colheita de frutas e Hortaliças. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Universidade de São Paulo. Piracicaba – SP. 11 Ì 5 1. A QUESTÃO DA QUALIDADE DOS PRODUTOS FRESCOS Qualidade é a propriedade que determina a essência ou a natureza de um ser ou coisa, sendo assim tudo teria uma determinada qualidade (HOUAISS, 2016). Em outro significado, qualidade é uma característica superior ou um atributo distintivo positivo que faz alguém ou algo sobressair em relação a outro - essa definição está mais próxima do senso comum. Não se pode esquecer também que valoração é o ato de determinar o valor ou o preço de algo (HOUAISS, 2016). Para as frutas e hortaliças, porém, o que determina a sua qualidade e ex- celência é a sua adequação a determinado uso; isto exige a medida dos seus atributos de qualidade. Esses atributos podem ser sensoriais (aqueles que nos- sos cinco sentidos detectam, como forma, sabor, coloração, aromas, entre tantos outros); o valor nutritivo, os constituintes químicos, as propriedades funcionais e até seus defeitos (ABBOTT, 1999). Coloração apropriada, forma e tamanho são importantes critérios de qualidade, além do aroma desejável como indicativo do seu amadurecimento (Kader (2002). O conceito de qualidade não é estático, pois as preferências e exigências dos consumidores mudam com o passar do tempo. A definição de qualidade so- freu modificações importantes, pois as necessidades quantitativas estão sendo substituídas por exigência de caráter qualitativo, no qual os aspectos sensoriais, capacidade nutritiva, higiene, proteção à vida, bem estar do consumidor, manu- tenção da saúde do produtor, sua família e funcionários, junto com a diminuição do custo de produção e o uso racional de insumos são cada vez mais requeridos e valorizados pelos consumidores (CANTILLANO et al., 2001). As diferenças de qualidade correspondem a diferenças de quantidade de algum ingrediente ou atributo desejado. A composição dos alimentos é influenciada por fatores genéticos, práticas culturais, regiões e estágios de crescimento, variedades e condições climáticas (CRISOSTO; MITCHELL, 2007). Por essa razão, não é possível designar valores numéricos para variações na composição durante a maturação e a estocagem (HARRIS; e VON LOESECKE, 1960;). Os métodos de avaliação da qualidade incluem escalas objetivas baseadas em instrumentos de medição ou métodos subjetivos baseados no julgamento humano utilizando gabaritos visuais. Entre as características indicadoras de qua- lidade, Kader (2002) cita: • aparência (tamanho, formato, coloração, presença de defeitos e brilho), • textura (firmeza, maciez, fibrosidade e suculência), • características organolépticas (doçura, acidez, adstringência, salinidade, amargura e aromas) • valor nutricional. Entre as aspectos mais comuns para avaliação da qualidade, Chitarra e Chitarra (2005) e Kader (2007) consideram as seguintes características físicas e químicas: pH, acidez total (AT), sólidos solúveis (SS), relação SS/AT, açúcares re- dutores (glicose e frutose), açúcares não-redutores (sacarose), açúcares totais, Õ Õ 6 compostos voláteis, substâncias pécticas, conteúdo de ácido ascórbico, pigmen- tos, compostos fenólicos, atividade respiratória (concentração de CO2 e O2) e produção de etileno. 2. VALORAÇÃO DE PRODUTOS FRESCOS E AS EXIGÊNCIAS E DESEJOS DOS CONSUMIDORES Um produto, quando destinado ao mercado in natura não pode ser conside- rada uma commodity. Este termo, da língua inglesa, pode designar um produ- to com as seguintes características: amplamente disponível, de características homogêneas e facilmente reconhecível pelos agentes comerciais (MARQUES; MELO, 1999). As frutas e hortaliças não podem ser considerados commodities, em função da grande variação das suas características qualitativas e outros valores que po- dem conter, por exemplo, sistemas de produção diferenciados, certificações, cul- tivares, climas diferentes (CRISOSTO; MITCHELL, 2007). A formação dos valores de comercialização não pode ser explicada unica- mente por oferta e demanda. A qualidade, da mesma forma que outras caracte- rísticas diferenciadoras, como o tipo de sistema de produção, é um fator de gran- de e vital importância. E é justamente na diferenciação, ou seja, na ocupação de nichos, que estão as maiores oportunidades da obtenção de melhores preços e maior lucratividade (ALMEIDA, 2006). A partir das exigências e desejos dos consumidores finais, que como já foi dito, mudam ao longo do tempo; ao mesmo tempo os varejistas buscam no atacado e em alguns casos diretamente na produção, produtos com características intrínsecas e extrínsecas que atendam estes anseios, tendendo fortemente a remunerá-los de melhor maneira. Os comerciantes, que mantêm um contato mais pessoal com o consumidor, são capazes de trabalhar melhor com produtos de maior qualidade e, portan- to, mais caros.Por meio de convencimento oral, orientação e degustação, eles podem informar e demonstrar ao consumidoressas características qualitativas superiores. Os feirantes de rua criaram muitas das técnicas que atualmente são também usadas por varejos especializados, conhecidos como sacolões ou hortifrútis. Eles são varejos especializados em frutas e hortaliças e procuram trabalhar com produtos de qualidade superior, além de venderem outros produtos perecíveis, como carnes, pescado e produtos industrializados de conveniência. As características qualitativas extrínsecas e intrínsecas, ou seja, aquelas que levam inicialmente a uma maior atratividade no ponto de venda e posterior- mente maior satisfação e prazer no momento do consumo talvez sejam as prin- cipais vantagens. Neste patamar se adequa muito a definição de Abott (1999) para a qualidade e excelências de frutas e hortaliças in natura, que são determi- nadas para a adequação a determinado uso, os atributos sensoriais (coloração, formato, gosto, aromas, sabor), o valor nutritivo, os constituintes químicos, as propriedades funcionais ou nutracêuticas e os defeitos. Õ 7 Nutracêutica é considerada por alguns como uma nova disciplina científica (por enquanto, o termo é mais utilizado em marketing que pela comunidade científica no seu todo), resulta da combinação dos termos “nutrição” e “farmacêutica” e estuda os componentes fitoquímicos presentes nas frutas, legumes, vegetais e cereais, dispondo-se a investigar as ervas, folhas, raízes (Plantas Medicinais) e cascas de árvores para descobrir seus benefícios à saúde e possíveis curas de doenças. O termo foi cunhado por Stephen De Felice em 1989 (Fonte: Wikipedia) O grande sucesso de produtores que conseguiram associar seus nomes ou marcas a produtos com estes atributos superiores indica que é o primeiro passo no caminho da diferenciação. Nos últimos anos são vários os exemplos, princi- palmente no melão de rede, mamão ‘formosa’, mangas colhidas maduras, toma- tes italianos, entre tantos outros. Muito provavelmente a grande quantidade de programas especializados em culinária e gastronomia nas TVs abertas e pagas, juntamente com publicações e sites voltados para esses temas, estejam criando rapidamente uma maior cultura de valorização da alimentação no país. Com isso, estão surgindo consumidores mais exigentes e predispostos a experimentação e a busca por produtos dife- renciados. Uma parcela menor de compradores finais preocupa-se com a questão da segurança do alimento, ligada a fatores como a quantidade de resíduos de agro- tóxicos, presença de microrganismos causadores de doenças e de metais pesa- dos. E finalmente, uma quantia ainda muito menor de pessoas se preocupa com aspectos ambientais e sociais da produção, evitando a compra de produtos que afetem demasiadamente o meio ambiente no processo produtivo ou que esta não cumpra adequadamente as obrigações sociais. Diversos protocolos de certificações, como a Produção Integrada do Minis- tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) se propõe a dar essas ga- rantias. 3. QUALIDADE NA PRODUÇÃO INTEGRADA A questão da qualidade, sob todos os sentidos, tem sido uma preocupação constante de todos os elos das cadeias produtivas, do produtor ao consumidor final. É consenso que para a manutenção da competitividade e para a diferencia- ção em relação à concorrência é imprescindível contar com produtos que aten- dam às perspectivas e anseios dos consumidores. O grande sucesso de produtores de frutas e hortaliças que conseguiram as- sociar suas marcas ou grifes à qualidade superior e, sobretudo a uma garantia de sabor indica o caminho do êxito na produção de hortícolas. Não é difícil supor, portanto, que um produto garantidamente saboroso por ter sido colhido no ponto correto, que não vai apodrecer rapidamente e que não esteja contaminado com resíduos perigosos de agrotóxicos, tenha tudo para lo- grar um grande êxito. Mas para obter esse resultado é necessária uma tecnologia adequada. Nesse ponto, a Produção Integrada, como consolidação das melhores técnicas agronômicas, pode fornecer um excelente rumo. Nada consegue irritar mais o consumidor que um produto colhido antes ou depois do ponto ideal. Ninguém quer comer uma fruta ou hortaliça azeda, pas- sada, seca ou fibrosa. Ou pior ainda, descartar um fruto que apodreceu na gela- deira. O produtor ou fornecedor, que se identifica por meio de uma marca que a 8 garanta que seu produto detém características qualitativas superiores, tende a ter uma grande vantagem competitiva. E alguns consumidores, ainda mais exigentes, querem saber em que condi- ções sociais e ambientais ocorreu a produção desses alimentos. Os produtores bem-sucedidos no mercado interno de produtos hortícolas costumam passar pelas seguintes etapas: 1.Conhecimento das características qualitativas responsáveis por uma melhor aceitação no mercado atacadista e pelo consumidor final. O pro- dutor necessita conhecer quais atributos de qualidade são os mais importan- tes para a obtenção da melhor aceitação e, consequentemente, maiores preços para o seu produto. 2.Plantio em região com características climáticas adequadas e adoção de um sistema de produção que possibilite chegar o mais próximo possível das características qualitativas desejadas. Espera-se que a adoção da Pro- dução Integrada (PI) leve a um produto seguro e de alta qualidade. O grande mérito dos trabalhos de produção integrada é ter consolidado e sistematizado um conhecimento outrora disperso, de modo que o produtor que o adote, certi- ficando ou não, estará conduzindo sua plantação da melhor maneira possível e, por consequência, produzir o que é mais desejado pelos mercados. 3.Associação do nome do produtor ou de sua marca a um produto de alta qualidade. Quando o consumidor passar associar o selo da Produção In- tegrada a um produto superior, a certificação passará a ser mais vantajosa. O objetivo não deve ser substituir a marca do produtor, mas sim reforçá-la. A as- sociação pelo consumidor do selo da PI como indicativo de um produto de alta qualidade passará a beneficiar automaticamente os produtores que aderirem ao sistema na sequência. 4.Dispor de um sistema de informação que permita visualizar constan- temente as diferenças de preços de diversas qualidades de produto. Em um mesmo dia e praça de comercialização, existem grandes diferenças de preços para um mesmo produto e cultivar. Esta variação nos valores é consequência das diferenças qualitativas entre os diversos lotes e o que acarreta em menor ou maior aceitação do produto. É muito importante que o produtor tenha acesso não apenas a um preço médio, mas sim a toda a variação e quais são as princi- pais características qualitativas que levam a essa diferenciação, de modo que possa negociar um preço justo pelo seu morango e saiba também em quais pon- tos pode evoluir. 5.A Produção Integrada deverá ser, aos olhos do consumidor final, si- nônimo de alta qualidade, sabor, segurança e produção ambiental e social- mente correta, sendo que apenas o atendimento de todas estas premissas de maneira conjunta pode levar ao sucesso. 4. QUALIDADE E PRODUÇÃO DE COMMODITIES Embora até o momento nossas considerações tenham sido voltadas para produtos frescos, algumas das premissas também valem para as grandes com- modities agrícolas. Em algumas oportunidades, grãos, fibras e café podem ser “descomoditizados”, ou seja, agregarem características intrínsecas e extrínsecas que os diferenciem em um mercado de extrema padronização. Tanto é assim, que para vários desses produtos foram conduzidos projetos de Produção Inte- 9 grada. Mesmo grãos altamente “comoditizados”, como soja e milho, podem oferecer diferenciais, como segurança e adequação ambiental e social. O grande desafio, nesse caso, é a implantação de sistemas de segregação e de rastreabilidade. Cereais e leguminosas direcionados para a alimentação humana, como ar- roz, feijão e trigo, e bebidas, como café, apresentam enormes possibilidades de diferenciação. 5. CLASSIFICAÇÃO EPADRONIZAÇÃO VEGETAL Padronização é a adoção de uma medida, especificação, paradigma (mode- lo) ou tipo para uniformizar a produção ou avaliação de qualquer coisa inclusive produtos agrícolas. Classificação é a separação por classes ou divisões (HOUAISS, 2016). A classi- ficação dos produtos agrícolas é a determinação das características intrínsecas e extrínsecas deles, com base em padrões qualitativos previamente elaborados, permitindo que se tenha uma descrição do produto obtida pela análise minucio- sa a partir de uma amostra representativa do lote. E para que os produtos sejam classificáveis necessitam, após a colheita, pas- sar por processos que façam a segregação por lotes homogêneos a partir de padrões predeterminados por uma norma. Normalmente, se consegue isso se- parando as unidades, que podem ser grãos, frutos, raízes, etc., em classes de ta- manho que as deixem visualmente homogêneas, em alguns casos por coloração e por qualidade, por meio das faixas de tolerância aos defeitos graves e leves. Para os grãos e para várias frutas e hortaliças existem máquinas, em alguns casos bastante sofisticadas, capazes da separá-los em lotes muito homogêneos. Algu- mas frutas e hortaliças podem ser classificados manualmente. Embora a classificação não tenha o objetivo de determinar o valor do produ- to, mas sim descrevê-lo, é importante que os padrões adotados sejam capazes de mensurar pelo menos as principais características qualitativas determinantes para a valoração do produto no mercado. A atividade de classificação no Brasil é regida pela Lei Nº 9.972, DE 25 DE maio de 2000 e regulamentada pelo Decreto Nº 6.268, de 22 de novembro de 2007. Essa legislação obriga que os produtos vegetais e seus subprodutos sejam classificados, nas seguintes situações: quando destinados diretamente à alimen- tação humana, nas compras do poder público, nos protos, aeroportos e postos de fronteira. O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) dispõe de padrões oficiais de classificação para mais de 60 produtos vegetais entre fibras como algodão, grãos, óleos, farinhas, hortícolas e outros como castanhas. Nos padrões oficiais estão definidas as especificações e critérios de identidade, qua- lidade, apresentação, modo de amostragem e a marcação e rotulagem. Apenas entidades oficiais ou credenciadas pelo Mapa podem realizar a atividade de clas- sificação oficial e emitir o respectivo certificado (BRASIL, 2007). 5.1 Padronização de produtos vegetais É a atividade que tem por objetivo o estabelecimento de modelos-tipo, físico ou descritivo, por produto vegetal levando-se em conta a identidade, seu em- prego, forma, coloração, massa, tamanho, apresentação e qualidade. - Vantagens da padronização: Fixar terminologia para cada produto vege- tal e suas variações qualitativas e estimular a obtenção de produtos de melhor 10 qualidade e apresentação. - Padronizar é agir segundo um modelo ou na conformidade de um pa- drão. - Importação do controle de qualidade nos produtos vegetais. - As análises físicas e físico-químicas realizadas pelo Serviço de Classificação têm por objetivo o controle de qualidade de produtos de origem vegetal para garantir a oferta de alimentos saudáveis ao consumidor. -A segurança do alimento deve ser uma preocupação constante das em- presas que prezam pela satisfação do cliente, o que, naturalmente, se reflete na valorização de suas marcas. 5.2 Legislação A base da alimentação humana e constituída pelos nutrientes fornecidos pelos cereais e grãos leguminosos. Em consequência disso, qualquer modifica- ção na disponibilidade, qualidade e preço daqueles produtos ou derivados, é imediatamente perceptível ao homem comum, com profundas repercussões socioeconômicas. Quanto ao abastecimento de cereais e grãos leguminosos, o governo se acha premido pela necessidade de prover o consumo interno e coo- perar com excedentes de alguns produtos ou derivados, no aumento da receita de exportação (D. PUZZI, 1986). A apresentação do cenário atual em que o Brasil se encontra é relatada por pesquisas realizadas por empresas de consultoria em qualidade de produtos de origem vegetal. As pesquisas revelam o descontentamento dos produtores com o modelo atual de gestão de qualidade de grãos, a despadronização nos pro- cedimentos adotados pelas empresas classificadoras, com amostragens impró- prias e em desacordo com as normas existentes, amostras de análises com pesos discrepantes ao que as normativas determinam, contra provas irregulares. Em resumo: o Brasil passa por uma crise de identificação e padronização no cumpri- mento das normativas por não ter uma agencia controladora e principalmente fiscalizadora do sistema que existe atualmente. As entidades credenciadas para o serviço de classificação vegetal não estão sendo “suficientes” para a demanda que o setor necessita. Segundo o discurso do mercado, o Brasil precisa dar mais atenção e ser mais transparente nos crité- rios classificatórios de qualidade e ainda amadurecer a gestão de qualidade e classificação vegetal do país, subsidiando o suporte adequado para a demanda, conforme a atual produção de grãos do país. O Brasil dispõe de uma normatização bastante rica em seu conteúdo que constitui e regulamenta as atividades de classificação vegetal e a qualidade de produtos padronizados. No entanto, a demanda do país requer uma gestão ge- renciadora e que controle com mais eficiente as suas competências e atribui- ções. Tabela 1 – Quadro atual da classificação Fonte: FGIS – The Federal Grain Inspection Service (EUA) Procedimento Estados Unidos Argentina Brasil Amostragem Padrão oficial Padrão oficial Não existe Homogeneização Padrão oficial Padrão oficial Não existe Padrão de qualidade Normatizada Normatizada Não existe Contra amostra do produtor Fiscalização Câmara Arbitral Não existe Fiscalização teste de amostra FGIS Câmara Arbitral Não para produto- res e receptores 11 O de grãos homogêneos e de vasto consumo que podem ser produzidos e negociados por uma ampla gama de empresas tem como objetivo garantir a classificação representativa do produto (soja, milho, café) nos embarques CIF e FOB seguindo os procedimentos que atentam a negociabilidade global. Monitorar a qualidade entre as origens e destinos dos embarques FOB e CIF reportando e corrigindo eventuais divergências de classificação que possam ocorrer, assim como intermediando questionamento de qualidade nos pontos de embarque. 5.3 Hortiescolha Uma poderosa ferramenta para produtores da PI conhecerem as exigências do mercado é o Programa de Apoio à Tomada de Decisão do Serviço de Alimen- tação Escolar na Escolha de Frutas e Hortaliças, conhecido pela sigla HortiEsco- lha. Apesar de inicialmente previsto para orientar a compra de merenda escolar, o programa se adequa muito bem à orientação sobre as exigências de qualidade do mercado e serve de guia para os produtos que não têm norma oficial de clas- sificação. Frutas e hortaliças in natura são componentes essenciais no cardápio pelo seu valor nutricional e por oferecer a oportunidade de descobrir e apreciar no- vos aromas, sabores, cores, formatos e texturas e desfrutar o prazer da sua in- gestão (ISSA et al., 2014). O crescente distanciamento entre o consumidor e a agricultura decorrente da urbanização, e a inexistência de denominações claras e mensuráveis de tamanho e qualidade para o produto, a variedade e a classifi- cação, tornam muitas vezes complexo o processo de descrição e de controle de qualidade de frutas e hortaliças frescas. A caracterização precisa do alimento e o estabelecimento da classificação, que garanta o melhor custo-benefício para cada utilização, é um grande desafio para os técnicos responsáveis pelos serviços de alimentação. É muito comum que a indicação de compra recaia sobre o produto mais valorizado na cotação de preços e que a mercadoria recebida seja o menos valorizada: paga-se pela mais cara e recebe-se a mais barata. Omemorial descritivo - parte integrante do edital de licitação ou chamada pública - deve conter, no mínimo, informações sobre as características gerais e sensoriais, caracterização mensurável de tamanho, padrão de qualidade, de em- balagem, além das condições de entrega e transporte. Ele também exige o le- vantamento de cotações de preços e o estudo da sazonalidade para elaboração de cardápios que ofertem produtos na sua melhor época de compra e consumo. A elaboração do memorial descritivo para a compra pública é ainda mais complexa e deve buscar melhor preço e garantia da qualidade. A execução da compra por órgãos públicos exige procedimentos específicos, como autoriza- ções, pedidos, especificação completa, definição de unidades e quantidades, levantamento de preços, cotações, documentos de habilitação, obediência à legislação, entre outros (BATISTA; MALDONADO, 2008). As atividades adminis- trativas e burocráticas são exercidas muitas vezes com dificuldades por alguns gestores, devido à sua formação técnica (CHAVES et al., 2013). O HortiEscolha, resultado da parceria entre a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) e a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), com o aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesqui- sa do Estado de São Paulo - FAPESP (2010/52337-0) e Conselho Nacional de De- senvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq (407668/2012-8), é um programa Õ 12 de políticas públicas desenvolvido com o objetivo de orientar e simplificar o processo de tomada de decisão na gestão das frutas e hortaliças in natura - na escolha do produto, da variedade e da classificação de melhor custo-benefício, na exigência do padrão mínimo de qualidade e na escolha da melhor época de aquisição para cada produto. A página eletrônica http://www.hortiescolha.com.br permite o acesso gra- tuito ao aplicativo e oferece informações da melhor época de compra, das va- riedades disponíveis (Figura 1), das classificações utilizadas (com a equivalência entre as diferentes denominações e uma característica mensurável), do melhor custo-benefício de cada classificação (resultado dos índices de aproveitamento e valoração), sugestões de substituição para tornar o cardápio mais diversificado e também o padrão mínimo de qualidade que deve ser exigido para 94 frutas e hortaliças. A correta utilização das ferramentas do HortiEscolha garante que o produto comprado seja exatamente o recebido. Figura 1. Principais variedades de manga comercializadas na Ceagesp Uma das ferramentas do programa é o Índice de Valoração, calculado pela análise dos dados históricos da Cotação de Preços da Ceagesp por produto e variedade (fator utilizado para calcular a relação entre o preço de cada classifica- ção e a classificação menos valorizada de cada produto e variedade). Por meio desse índice (Tabela 2) podemos constatar que a Manga Haden, da classificação 09 frutos, é em média durante o ano 61% mais cara que a Manga Haden da clas- sificação 18 frutos, e que a Manga Haden das classificações 12 frutos e 15 frutos, são respectivamente 62% e 29%, mais caras que a Manga Haden da classificação 18 frutos. Para a Manga Palmer, as classificações 09 frutos, 12 frutos, 15 frutos são, em média, respectivamente 53%, 54% e 25% mais caras que a de 18 frutos ao longo do ano. E para a Manga Tommy Atkins, as classificações 09 frutos, 12 frutos, 15 frutos são, em média, respectivamente 40%, 55% e 26% mais caros que a classi- ficação 18 frutos ao longo do ano. 13 Tabela 2 – Valoração da Manga cotada pela CEAGESP Variedade Cotação CEAGESP Índice de Valoração Haden 09 frutos 1,61 Haden 12 frutos 1,62 Haden 15 frutos 1,29 Haden 18 frutos 1,00 Palmer 09 frutos 1,53 Palmer 12 frutos 1,54 Palmer 15 frutos 1,25 Palmer 18 frutos 1,00 Tommy Atkins 09 frutos 1,40 Tommy Atkins 12 frutos 1,55 Tommy Atkins 15 frutos 1,26 Tommy Atkins 18 frutos 1,00 Algumas exigências também são necessárias para a garantia da qualidade do produto. A presença dos seguintes defeitos internos e aparentes não deve ser tolera- da de acordo com o HortiEscolha: defeitos de polpa, de casca grave, ferimento, imaturo, mancha látex e podridão (Figura 02). Figura 2. Manga Haden, Tommy Atkins, Palmer. Padrão mínimo de qualidade. Defeitos proibidos Outras ferramentas do HortiEscolha são o Guia de Variedades, com a repre- sentação gráfica e as principais características das variedades representativas de manga comercializadas no entreposto paulistano (e a Tabela de Equivalência de Tamanho para a manga, que descreve as denominações pelo Mercado Atacadis- ta, pela Cotação de Preços da Ceagesp e também uma característica mensurável. Tabela 3 – Equivalência e valoração ¹ - Número de frutos por caixa de 6 quilos. Cotação CEAGESP Mercado atacadista¹ Medida e valoração Unidade de medida 9 frutos Tipos 8, 9 e 10 Maior que 650 Não existe 12 frutos Tipos 11 e 12 500 a 650 Não existe 15 frutos Tipos 13,14 e 15 400 a 499 Não existe 18 frutos Tipo 18 Menor que 400 Não existe Peso em grama 14 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, G. V. B. Fruta tem que ser gostosa! Frutas e Derivados, São Paulo, v. 02, n. 1, p.40, 01 jun. 2006. Mensal. Disponível em: <http://www.ibraf.org.br/x_files/ revista02.pdf>.Acesso em: 28 jul. 2011. BATISTA, M.A.C.; MALDONADO, J.M.S.V. O papel do comprador no processo de compras em instituições públicas de ciência e tecnologia em saúde (C&T/S). Re- vista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 42, n. 4, p. 681-699, 2008. BRASIL. Institui a classificação de produtos vegetais, subprodutos e resíduos de valor econômico, e dá outras providências. Lei Nº 9.972, de 25 de maio de 2000. Seção 1, p. 1-1. BRASIL. Regulamenta a Lei nº 9.972, de 25 de maio de 2000, que institui a classi- ficação de produtos vegetais, seus subprodutos e resíduos de valor econômico, e dá outras providências. Decreto Nº 6.268, de 22 de novembro de 2007. Seção 1. CANTILLANO, R.F.F.; MATOS, M.L.T. MADAIL, J.C.M. Mercado de alimentos: ten- dência mundial. Informe Agropecuário, v.22, n.213, 2001. CHAVES, L.G.; SANTANA, T.C.M.; SANTANA, T.C.M.; GABRIEL, C.G.; VASCONCELOS, F.A.G. Reflexões sobre a atuação do nutricionista do Programa Nacional de Ali- mentação Escolar no Brasil. Ciência & saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 4, p. 917-926, 2013. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A.B. Pós-Colheita de frutas e hortaliças: glossário. Lavras: UFLA, 2006. 256 p. CRISOSTO, C. H.; MITCHELL, J. P. Factores precosecha que afectan la calidad de frutas y hortalizas. In: KADER, Adel A.; PELAYO-ZALDIVAR, Clara (Ed.). Tecnolo- gía Postcosecha de Cultivos Hortofrutícolas. 3. ed. Davis: University Of California, 2007. Cap. 5. p. 55-62. (Series de Horticultura Postcosecha). ISSA, R.C.; MORAES, L.F.; FRANCISCO, R.R.J.; SANTOS, L.C.; ANJOS, A.F.V.; PEREIRA, S.C.L. Alimentação escolar: planejamento, produção, distribuição e adequação. Revista Panamericana de Salud Pública. Washington, v. 35, n .2. p. 96-103, 2014. HOUAISS, Antonio. Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 2016. Dis- ponível em: <http://houaiss.uol.com.br/>. Acesso em: 09 maio 2016. MARQUES, P. V; MELO, P. C. Mercado futuro de commodities agropecuárias. São Paulo: Bolsa de Mercados Futuros, 1999, 208 p. SÃO PAULO. Esalq. Esalq-usp/ceagesp. HORTIESCOLHA: Programa de apoio à to- mada de decisão do serviço de alimentação escolar na escolha de frutas e hor- taliças frescas. 2016. Disponível em: <http://www.hortiescolha.com.br/>. Acesso em: 10 maio 2016. 15 12 12. EQUIPAMENTOS DE APLICA- ÇÃO DE AGROTÓXICOS Capítulo elaborado a partir do texto Tecnologia de aplicação de defensivos, dos professores Lino Roberto Ferreira(UFV), Aroldo Ferreira Lopes Machado (UFRRJ), Miller Soares Machado, Rafael Gomes Viana (UFRA, Campus Parauapebas) e Francisco Cláudio Lopes de Freitas (UFERSA). 1. INTRODUÇÃO A utilização incorreta de agrotóxicos - uso inadequado de dose, época impró- pria à aplicação, condições climáticas adversas,associada ao desconhecimento dos recursos do equipamento aplicador e suas limitações – é um dos fatores que contribuem para a redução da eficiência dos produtos, além de aumentar o risco de intoxicação humana e contaminação ambiental. Os agrotóxicos, para terem ação eficiente, necessitam ser distribuídos da maneira mais uniforme possível sobre o alvo a ser atingido. Essa distribuição será tanto melhor quanto mais adequados forem os equipamentos e as técnicas empregadas. Alvo: em síntese, é um objeto selecionado a ser atingido, direta ou indiretamente, pelo processo de aplicação. Diretamente, quando se coloca o produto em seu contato no momento da aplicação, e indiretamente, pelo processo de redistribuição. Tal redistribuição poderá se dar por meio da translocação sistêmica ou pelo deslocamento superficial do depósito inicial do produto. O crescente aumento do custo de mão de obra e de energia e a preocupação cada vez maior em relação à poluição ambiental têm ressaltado a necessidade de tecnologias mais acuradas para aplicação de agrotóxicos no alvo. Para isso, são necessários procedimentos e equipamentos mais adequados à maior proteção ao trabalhador e ao ambiente. Na aplicação de agrotóxicos, as gotas que não são depositadas no alvo são chamadas de deriva de pulverização. Muitas vezes, elas são muito pequenas, a Õ 16 com diâmetro menor que 150 μm, facilmente movidas para fora do alvo pela ação do vento e das condições climáticas. A deriva provoca deposição do produ- to aplicado em áreas não desejadas. As causas da deriva, segundo Matuo et al. (2001), são muitas e estão relacio- nadas aos equipamentos de aplicação, às formulações e às condições meteoro- lógicas. Tamanho de gota, altura de vôo em aplicações aéreas, altura da barra e da ponta de pulverização, velocidade de operação e do vento, temperatura e umidade do ar, volume de aplicação e formulação utilizada encontram-se como os principais fatores que influenciam a deriva. 2. INTER-RELAÇÃO ENTRE ALVO, PRODUTO, EQUIPAMENTO E AMBIENTE O sucesso do controle fitossanitário, depende da interação entre caracterís- ticas do produto aplicado (herbicida, fungicida, inseticida e outros), do equipa- mento de aplicação e seus acessórios (pulverizador, ponta de pulverização), das condições ambientais (temperatura, umidade relativa e vento), do momento correto da aplicação e do alvo a ser atingido (plantas daninhas, insetos, ácaros, fungos, bactérias). Essa inter-relação ocorre para todas as aplicações de herbicidas, fungicidas e inseticidas. Na prática, antes de tomar qualquer decisão, deve-se ter em mente três questões com relação à técnica de aplicação: - O que aplicar? (qual o produto a ser aplicado e a sua qualidade); - Como aplicar? (qual equipamento e quais acessórios necessários para se obter qualidade na aplicação); e - Quando aplicar? (momento da aplicação, levando em consideração o alvo e as condições ambientais). Nesse sentido, a técnica utilizada na aplicação de agrotóxicos deve consi- derar conhecimentos científicos, de modo que o produto biologicamente ativo seja depositado no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica e com o mínimo de contaminação ambiental. 3. ALVO BIOLÓGICO E EFICIÊNCIA O agrotóxico deve exercer a sua ação sobre determinado organismo que se deseja controlar. Portanto, o alvo a ser atingido é esse organismo, seja ele, planta daninha, inseto, fungo ou bactéria. Em função de características do alvo, como forma, tamanho e posição, a pulverização deverá ter características específicas para melhor atingi-lo. O alvo real tem que ser definido em termos de tempo e de espaço, de maneira a aumentar a porcentagem de produto que o atinge em relação à que foi emitida pelo equipamento de aplicação. Qualquer quantidade de produto aplicado, que não atinja o alvo, não terá qualquer eficácia e repre- sentará uma forma de perda e poluição ambiental. Õ 17 Eficiência de aplicação (EA) é a relação entre a dose teoricamente requerida para o controle e aquela efetivamente empregada. Quando o alvo possui elevada superfície e a coleta do defensivo é favorável, a EA é elevada, como é o caso da aplicação de herbicidas sistêmicos em pós-emergência, numa área com boa cobertura de plantas daninhas, sob condições climáticas favoráveis à aplicação. Por outro lado, quando se aplicam, por exemplo, inseticidas de contato, visando obter controle de lagartas no fruto, como o tomate, a EA pode atingir valores baixos, devido à dificuldade de se atingir o alvo. A melhoria nessa eficiência poderá ser alcançada por meio da evolução no processo, nos seus mais variados aspectos. O treinamento do operador do equipamento de aplicação é, sem dúvida, um dos pontos mais importantes. O uso correto e seguro dos agrotóxicos passam por diversas etapas, desde a sua aquisição até a colheita do produto comercializado, respeitando-se o período de carência, a fim de se preservar o meio ambiente e a saúde dos trabalhado- res e consumidores. Sua aquisição somente pode ser feita por meio de recei- tuário agronômico, emitido por um profissional legalmente habilitado, valendo os princípios de uma agricultura sustentável, que procura produzir alimentos para a população, sem comprometer a produção de alimentos para as futuras gerações. No receituário devem constar informações sobre o agrotóxico (dose, fina- lidade, período de carência, etc.), sobre a destinação de sobras dos produtos e embalagens vazias, precauções de uso, equipamentos de proteção individual (EPIs) e primeiros socorros em casos de acidentes. 4. MÉTODOS DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS Os métodos de aplicação, dependendo do estado físico do agrotóxico, po- dem ser agrupados em via sólida, líquida e gasosa. Dentre essas, a via líquida, usando a água como diluente, é o método mais utilizado. Nela, a aplicação é feita na forma de gotas (pulverização), podendo em alguns casos também ser na forma de filetes líquidos (rega ou injeção) ou na forma de gotas diminutas, formando neblina (nebulização). A concentração varia em função da dose reco- mendada para o defensivo e do volume de calda aplicado. A distribuição da calda é realizada, normalmente, por meio de pulverização hidráulica, que é definida como “processo mecânico de geração de gotas” pelo pulverizador (Cordeiro, 2001; Matuo, et al. 2001). As gotas são produzidas pelas pontas de pulverização que, também, determinam a vazão e a distribuição do líquido pulverizado, sendo, portanto, um dos componentes mais importantes do pulverizador (Bauer e Raetano, 2004). 5. APLICAÇÃO VIA LÍQUIDA A água é o principal diluente ou veículo de aplicação para a via líquida, por ser de fácil obtenção, de baixo custo e por contar com ampla opção de formu- Õ 18 lações compatíveis. Entretanto, a água apresenta duas limitações: alta tensão superficial e alta pressão de vapor (Matuo et al., 2001), fazendo com que haja diminuição do volume da gota produzida. A alta tensão superficial faz com que uma gota depositada numa superfície permaneça na forma esférica, com pouca superfície de contato. Para corrigir este problema, basta adicionar nela algum agente tensoativo (surfactante), que dimi- nua sua tensão superficial. Com isso, a gota se espalha facilmente na superfície, molhando maior área. Alguns adjuvantes integrantes da formulação - como os molhantes, emulsionantes, etc. - são agentes tensoativos. Assim, a simples pre- sença deles na formulação pode ser suficiente para diminuir a tensão superficial da água até os níveis desejados. Outras vezes, no momento da aplicação de de- terminados agrotóxicos, é necessário adicionar surfactante ou óleo mineral, para melhorar a cobertura foliar. A intensidade de evaporação depende de vários fatores, dos quais os mais importantes são: a evaporação de líquidos não-voláteis ou proporção de partí- culas sólidas existente na mistura; temperatura, umidade do ar e velocidade do vento; tamanho da gota e o tempo que ela permanece no ar. À medida quea água vai evaporando, as gotas diminuem de tamanho e peso, reduzindo, assim, a possibilidade de impactar o alvo. Gotas de mesmo tamanho podem ter com- portamentos distintos, em diferentes condições ambientais. Portanto, a obser- vação das condições ambientais é muito importante para uma aplicação correta. A elevada capacidade de evaporação da água limita a utilização de gotas muito pequenas, principalmente nos climas tropicais. Para boa cobertura do alvo e emprego de pequenos volumes de aplicação (abaixo de 50 L ha-¹), é ne- cessário controlar a evaporação da água ou utilizar outro diluente que não seja volátil, como, por exemplo, o óleo mineral agrícola. Nas condições noturnas, a umidade relativa é elevada e a evaporação é dras- ticamente reduzida, o que permite a utilização de gotas menores, por isso al- guns agrotóxicos têm sido aplicados durante a noite com eficiência de controle. Segundo Matthews (1979), existem cinco categorias de volume de aplicação para culturas de campo: alto volume (> 600 L ha-¹); volume médio (200 - 600 L ha-¹); volume baixo (50 - 200 L ha-¹); volume muito baixo (5 - 50 L ha-¹); e volume ultrabaixo (< 5 L ha-¹). No caso da aplicação com alto volume, a dose é dada por concentração do produto na calda (g 100 L-¹); se maior que 600 L ha-¹, pulverização acima da capa- cidade máxima de retenção das folhas, ocorre escorrimento. Nos demais casos, a dose é recomendada em L ou kg ha-¹. A tendência atual é a utilização de menor volume de calda, visando diminuir o custo e aumentar a rapidez do tratamento, devido ao alto custo do transporte de água ao campo e à perda de tempo representada pelas constantes paradas para reabastecimento do pulverizador. Também o menor volume de calda é im- portante quando a qualidade da água não é boa em razão da presença de sais minerais, especialmente Ca++ e Mg++ (Silva et al., 2005). Isso tem sido possível Õ 19 devido à evolução na qualidade das pontas de pulverização. Para um mesmo vo- lume de calda aplicado, existem pontas que produzem diferentes tamanhos de gotas, o que permite escolher o tipo de ponta em função da cobertura do alvo desejada e das condições ambientais no momento da aplicação. • Cobertura do Alvo A cobertura do alvo pode ser calculada pela fórmula proposta por Courshee (1967): C = 15 (VRK2)/AD em que: C = cobertura (% da área); V = volume aplicado (L ha-¹); R = taxa de recu- peração (% do volume aplicado captado pelo alvo); K = fator de espalhamento de gotas; A = superfície vegetal existente no hectare; e D = diâmetro de gotas. Em aplicações com alto volume, consegue-se elevada cobertura, mesmo com gotas grandes, porém, aumenta a probabilidade de perdas por escorri- mento. O aumento da taxa de recuperação (R) é obtido utilizando tamanho de gotas mais eficientemente coletadas pelo alvo. Gotas carregadas eletricamente induzem, na superfície foliar, carga elétrica de sinal contrário e são atraídas ele- trostaticamente, aumentando bastante a taxa de recuperação pelas folhas. O au- mento do fator de espalhamento de gotas (K) pode ser conseguido com adição de agentes tensoativos, que diminuem a tensão superficial, permitindo melhor espalhamento da gota. O aumento da área foliar implica redução da cobertura, se os demais fatores permane¬cerem constantes. O tamanho da gota também é fator importantíssimo: gotas menores pro- porcionam maior cobertura (Figura 1), mas também apresentam tempo de vida menor e maior capacidade de deriva. Assim, o tamanho ideal das gotas depende das condições ambientais (vento, umidade relativa e temperatura) e da cober- tura desejada e será definido como aquela que seja pequena o suficiente para produzir boa cobertura e grande o necessário para provocar menor perda por deriva e evaporação. Por outro lado, a cobertura desejada depende do tipo de agrotóxico a ser aplicado, tais como herbicidas (sistêmicos ou contato), insetici- das, fungicidas, dentre outros. Alguns fatores interferem no tamanho da gota gerada pela ponta de pulve- rização, como a abertura do orifício da ponta, a pressão de trabalho, composição química da calda, o uso de adjuvantes e a velocidade de ventilação quando uti- lizados pulverizadores atomizadores. Não é necessário alterar a pressão ou o volume de calda para aumentar a cobertura do alvo. Existem no mercado inúmeras possibilidades de se aumentar ou reduzir o tamanho de gota, a cobertura do alvo e a densidade de gotas, sim- plesmente alterando a ponta de pulverização utilizada (Figura 1). 20 Figura 1 - Representação do tamanho de gotas pulverizado por portas de pulverização de mes- ma vazão e com mesma pressão. Ponta de jato leque com indução de ar: gotas extremamente grossas (A); Ponta de jato leque convencional: gotas médias (B); Ponta de jato cônico: gotas finas (C) (Fonte: TeeJet Spray Products) Na Figura 2 encontram-se os possíveis exemplos de pontas de pulverização para diferentes situações abordando o tamanho de gota, densidade de gotas e cobertura do alvo. Pela Figura 2A observa-se a deposição de gotas com 250 µm (gotas médias) e 500 µm (gotas grossas) sobre duas folhas. O mesmo volume foi aplicado, en- tretanto, houve alteração na densidade de gotas e na cobertura do alvo. A folha pulverizada com gotas de 250 µm possui maior cobertura do alvo e maior den- sidade de gotas. Nesse caso, poderá ser indicada, por exemplo, na utilização de herbicidas de contato. Na outra folha, há menor cobertura e menor densidade de gotas, sendo indicado como possibilidade para aplicação de qualquer herbi- cida em pré-emergência ou herbicida sistêmico em pós-emergência. Na Figura 2 B, nas quatro porções representadas, também o volume de cal- da é o mesmo, o que muda é o tamanho das gotas, que interfere na densidade de gotas e na cobertura do alvo. A probabilidade das gotas do quadro superior esquerdo (grossa, 200 micra) acertarem o alvo (inseto) é muito pequena devido ao seu tamanho e o alvo ser móvel, mas não é indicado para controle desse in- seto. Já nos quadros superior direito (muito grossa) e inferior esquerdo (médias), os tamanhos das gotas utilizadas aumentam a probabilidade de acerto do alvo com menor possibilidade de deriva. No quadro inferior direito (finas), as gotas são muito pequenas, facilitam a deriva e há maior chance das gotas se deposita- rem fora do alvo, ocasionando perdas financeiras e impacto ao ambiente. Na Figura 2C pode ser observada a impressão de gotas em papel hidrossen- sível localizados em folhas de café adulto, simulando a deposição de calda em uma aplicação de agrotóxicos com duas pressões de trabalho (40 e 60 lb pol-2) e quatro volumes de calda (140, 170, 280 e 340 L ha-2). Verifica-se que, mesmo sob condições com baixa pressão de trabalho e menor volume de calda (figura superior esquerda), há cobertura satisfatória do alvo, com menor probabilidade de deriva e menor gasto de calda, favorecendo fatores inerentes à segurança na aplicação, menor impacto ambiental e maior rendimento operacional. Nas demais situações há maior cobertura do alvo, porém com maiores riscos de deriva e escorrimento de calda, principalmente quando utilizada a pressão de 60 lb pol-2 com volume de calda de 340 L ha-1. Nessa situação, a utilização de configurações com menor pressão e volume de calda são satisfatórias tanto na cobertura do alvo como na melhoria de condições operacionais e menor risco de deriva de agrotóxicos. A B C 21 Figura 2. A) Deposição de gotas sobre folhas; B) sobre insetos, e C) diferentes coberturas do alvo em função da pressão e volume de calda Para expressar-se numericamente o tamanho e a uniformidade das gotas, são utilizados quatro parâmetros: a) Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV): mediana do volume das gotas. É o volume da gota que divide o volume pulverizado em duas metades iguais (Figura 3). O valor do DMV está situado mais próximo das classes superiores do diâmetro, pois o volume de poucas gotas grandes equivale ao de muitas gotas pequenas. Figura 3. DiâmetroMediano Volumétrico - DMV b) Diâmetro Mediano Numérico (DMN): mediana ddo número de gotas. Média Fina GrossaMuito grossa 10 0 m ic ra 40 0 m ic ra 20 0 m ic ra 50 m ic ra Média Fina GrossaMuito grossa 10 0 m ic ra 40 0 m ic ra 20 0 m ic ra 50 m ic ra 40 lb pol-2 140 L ha-1 60 lb pol-2 170 L ha-1 40 lb pol-2 280 L ha-1 60 lb pol-2 340 L ha-1 40 lb pol-2 140 L ha-1 60 lb pol-2 170 L ha-1 40 lb pol-2 280 L ha-1 60 lb pol-2 340 L ha-1 A B C 22 É o diâmetro que divide o número de gotas em duas porções iguais (Figura 4). Figura 4. Diâmetro Mediano Numérico - DMN c) Coeficiente de dispersão (r): refere-se à relação entre DMV e DMN r = DMV/DMN O coeficiente de dispersão expressa a uniformidade do conjunto de gotas. Se o valor de r for igual a 1, indica que todas as gotas têm o mesmo diâmetro e o conjunto é rigorosamente homogêneo. Quanto mais o valor de r se afastar de 1, maior a heterogeneidade das gotas. Na prática, considera-se que, quando r < 1,4, o conjunto de gotas é homogêneo. d) Amplitude de dispersão (Span): é outra forma de expressar a uniformi- dade das gotas e é mais empregado nos dias atuais (Matuo et al., 2001). É dado pela fórmula: s = (V90 - V10)/V50 em que: V10 = diâmetro da gota abaixo do qual os volumes acumulados totali- zam 10% do volume; V90 = diâmetro da gota abaixo do qual os volumes acumu- lados totalizam 90% do volume; e V50 = valor do DMV. Assim, quanto menor o valor da amplitude (próximo de zero), mais uniforme é o conjunto das gotas na amostra, e vice-versa. • Classificação do tamanho de gotas Existem duas classificações de tamanhos de gotas: uma realizada pelo Con- selho Britânico de Proteção de Culturas (British Crop Protection Council - BCPC) e outra pela Associação dos Engenheiros Agrícolas Americanos (Asae). Essa últi- ma, mais simples e prática, tem sido utilizada por vários fabricantes de pontas de pulverização para descrever os diferentes tamanhos de gotas e facilitar a escolha certa do tipo por parte do usuário. Algumas empresas fabricantes de agrotóxi- cos introduziram a classificação da Asae de recomendação de classe de tamanho de gotas a serem produzidas em seus rótulos. No Quadro 1 encontram-se as clas- ses de tamanho de gotas proposta pela ASAE e os respectivos códigos de cores. Quadro 1. Classes de gotas propostas segundo norma da ASAE e suas aplicações na pulverização agrícola Categoria Cor DMV aproxi- mado (µm) Risco de Deriva/ Evaporação Aplicações Agrícolas Muito Fina Vermelho < 100 Muito alto Não recomendado 23 Fina Laranja 100 - 175 Muito alto Fungicida de contato Média Amarelo 175 - 250 Alto Inseticidas e herbicidas de contato Grossa Azul 250 - 375 Médio Herbicidas sistêmicos e pré-emergentes Muito grossa Verde 375 - 450 Baixo Herbicidas sistêmicos e pré-emergentes Extrema- mente grossa Branco > 450 Baixo Herbicidas sistêmicos e pré-emergentes Fonte: TeeJet Spray Products (2009). Há algumas diferenças fundamentais entre as classificações BCPC e Asae. Ambas fornecem um código de cores e uma letra para indicar o tamanho das gotas. No entanto, o foco da norma BCPC, desenvolvida por Doble et al. (1985), baseando-se na pulverização necessária para maior eficácia dos produtos fitossanitários, determinada por onde a maioria do espectro de gota é depositada. A norma Asae tem como foco o potencial de deriva, no qual a eficiência é um conceito secundário. Essa norma estabelece o limite de uma classe como a curva do diâmetro acumulado da ponta de referência mais o desvio-padrão; o BCPC não considera o desvio-padrão. Com isso, como resultados gerais, as pontas tendem a ser classificadas como (gotas) mais finas na norma Asae. • Qualidade de Distribuição da Pulverização Para apresentar boa eficiência, o agrotóxico deve ser depositado no alvo na quantidade correta, com o tamanho de gota que produza menores perdas por deriva e evaporação, desde que a eficiência biológica seja mantida. Além disso, o produto deve ser distribuído mais uniformemente na faixa tratada. Um dos fatores que podem influenciar drasticamente a eficiência de um agrotóxico é a distribuição da pulverização. A uniformidade de distribuição da pulverização, ao longo da barra ou faixa de aplicação, é um componente essencial para atingir a máxima eficiência do produto com um mínimo de custo e de contaminação fora do alvo. Os principais fatores que afetam a distribuição da calda pulverizada são: a) Ponta de pulverização: tipo, pressão, espaçamento, ângulo de pulverização, ângulo de desvio, qualidade do perfil de pulverização, desgaste, entupimento e vazão. De modo geral, os bicos de jato cônico cheio produzem as maiores gotas, seguidos pelos de jato plano e de jato cônico vazio. Mesmo dentro de uma mesma forma de jato - como os de jato plano - diferentes tipos de pontas podem produzir pulverizações com diferentes tamanhos de gotas. Por exemplo, as pontas de jato plano 11003, das séries TR Hypro, LD Hypro e Turbo Teejet, na mesma pressão de trabalho, embora com a mesma vazão, produzem gotas com tamanhos diferentes. Em relação à vazão da ponta, ela apresenta relação direta com o tamanho de gota. Pontas que apresentam vazões maiores na mesma pressão de trabalho produzem gotas maiores. As pontas de jato plano TR 11004, na pressão de 28,44 lb pol-2, com vazão de 1,29 L min-1, produzem gotas maiores que as TR 11002 na mesma pressão, porém com vazão de 0,65 L min-1. No caso de pressão, a relação é inversa ao tamanho de gotas. Um aumento na pressão reduzirá o tamanho, enquanto a redução na pressão aumentará o Õ 24 tamanho das gotas. A ponta TT 11003, na pressão de 20 lb pol-2, produz gotas maiores que a pressão de 60 lb pol-2. Em relação ao ângulo do jato emitido pela ponta, existe uma relação inversa ao tamanho de gotas. Pontas com a mesma vazão, na mesma pressão, porém com ângulos maiores, produzem gotas menores. O bico TR 8003, a 30 lb pol-2, produz gotas maiores que o bico TR 11003, na mesma pressão, ambos com a mesma vazão. b) Barra: nas barras acima da altura recomendada as gotas produzidas pelas pontas de pulverização ficam mais propensas à deriva e, quando abaixo dessa altura, não permite uniformidade no padrão de deposição, ficando faixas com excesso de deposição de gotas e outras faixas sem deposição da calda aplicada. Outro fator importante em relação à barra de pulverização é a sua estabilidade quanto ao movimento: vertical, lateral e sua inclinação. Movimentos bruscos na barra de pulverização podem levar a irregularidades na deposição da calda aplicada no alvo. Esse efeito pode ser minimizado quando se utiliza espaçamentos adequados entre os bicos e velocidade de trabalho do equipamento de acordo com as condições do terreno. c) Perdas de pressão: mangueiras e conexões, que apresentam vazamentos da calda ao longo do sistema hidráulico do pulverizador, promovem perda na pressão de trabalho, reduzindo a eficiência de aplicação. d) Filtros obstruídos: reduzem a eficiência de aplicação e podem ser considerados como uma das principais fontes de intoxicação de aplicadores, devido à necessidade de sua desobstrução durante a aplicação. e) Condições ambientais: velocidade e direção do vento, temperaturas máxima e mínima e umidade relativa do ar têm grande influência na qualidade da aplicação. g) Velocidade de deslocamento do pulverizador e a turbulência resultante: em terrenos irregulares, velocidade de deslocamento do pulverizador elevada pode reduzir a eficiência de aplicação devido às perdas ocasionadas pela deriva e ao arraste das gotas provocado pela turbulência resultante do deslocamento. • Deriva – Causas e controle Na aplicação de agrotóxicos, a deriva de pulverização é o termo usado para aquelas gotas que não foram depositadas no alvo - elas provavelmente são muito pequenas, com diâmetro menor que 100 μm, e facilmente movidas para fora do alvo pela ação do vento associado às outras condições climáticas. A deriva pode causar a deposiçãode agrotóxicos em áreas não desejadas, com sérias consequências, tais como: – danos nos cultivos sensíveis que ficam em áreas adjacentes; – contaminação de reservatórios e cursos de água; – riscos à saúde de animais e pessoas, e – perda de produto e menor eficiência na aplicação. As causas da deriva são muitas e estão relacionadas com os equipamentos de aplicação, as formulações e as condições meteorológicas. As principais são: a) Tamanho da gota: quanto menor a abertura do orifício do bico e maior a 25 pressão, menores serão as gotas produzidas e, portanto, maior a tendência de perda por deriva. Gotas menores que 100 μm são facilmente derivadas; b) Altura da ponta de pulverização: à medida que aumenta a distância entre a ponta de pulverização e a área-alvo, maior será a influência da velocidade do vento sobre as gotas e maior a tendência de deriva; c) Velocidade de operação: velocidade mais alta contribui para que as gotas sejam arrastadas para trás e levadas pela corrente de vento ascendente, formando um turbilhão sobre o pulverizador, arrastando as gotas pequenas e aumentando a deriva; d) Velocidade do vento: é o fator de maior impacto entre os fatores meteorológicos. A deriva aumenta linearmente com a velocidade do vento. No entanto, a ausência de vento no momento da aplicação não é recomendada, pois não permite a deposição das gotas produzidas no alvo, e) Temperatura e umidade do ar: temperaturas ambientes acima de 25°C e baixa umidade relativa (UR < 50%) tornam as gotas pequenas propensas à deriva e à volatilização. Por isso, em condições de temperatura elevada deve-se aumentar o tamanho da gota ou suspender a aplicação, para evitar grandes perdas por deriva e, ou, volatilização. Sob condições normais de umidade e temperatura (20°C e 80%, respectivamente), uma gota de 100 µm evapora completamente em 50 segundos. Em condições mais quente e seca (30°C e 50%, respectivamente), a mesma gota é evaporada em 16 segundos. Uma gota de 50 µm, sob condições de baixa umidade e alta temperatura (30°C e 50%, respectivamente) percorreria apenas 15 cm antes de ser evaporada. f) Volume de aplicação: quando a aplicação é realizada em baixo volume, geralmente utilizam-se gotas pequenas. Nessas condições, deve-se ter atenção especial com a deriva, h) Formulação utilizada: se esta apresentar alta pressão de vapor, devem-se adotar medidas mais incisivas para minimizar a volatilização (ex.: aplicar em condições de menor temperatura e maior umidade relativa do ar). Em alguns países europeus foi definido um padrão mínimo de gota produzida, em termos de DV0,1. Segundo esse critério, os bicos de pulverização devem atingir um DV0,1 maior do que o valor de um bico XR11002, à pressão de 35,55 lb pol-2, que é de 115 μm. • Equipamentos e técnicas para aplicação de agrotóxicos via líquida Os equipamentos para aplicação de líquidos podem ser divididos em injetores, pulverizadores e nebulizadores. Os injetores aplicam um filete líquido (sem fragmentação em gotas); os pulverizadores, gotas; e os nebulizadores, neblina. • Tipos de pulverizadores A classificação mais comum de pulverizadores leva em consideração o tipo de energia utilizado no processo de produção de gotas. Eles podem ser: a) De energia hidráulica ou de pressão: são os mais utilizados devido à grande facilidade de adaptação dos bicos de pulverização, proporcionando grande faixa 26 de vazão, tamanhos de gotas e formas de jato para diversos tipos de aplicação, b) De energia centrífuga: nessa categoria se encontram os pulverizadores portáteis de disco e os aviões agrícolas quando operando com bicos rotativos de tela do tipo miconair ou de disco tipo aeroturbo. c) De energia pneumática, d) De energia térmica, e e) De energia elétrica. Outra maneira de classificar os pulverizadores é quanto à forma de direcionar as gotas. Há três tipos: a) Pulverizador de jato lançado: quando a própria inércia das gotas e a gravidade levam em direção ao alvo, como é o caso dos costais manuais e os pulverizadores de barras comuns e suas adaptações. A escolha do pulverizador ideal depende do tipo de alvo a ser pulverizado, do nível tecnológico do agricultor, do tamanho e da topografia da área. b) Pulverizadores de jato assistido: quando uma corrente de ar é criada para levar as gotas em direção ao alvo. Como exemplos podem ser citados os turbos pulverizadores utilizados em cafeicultura e fruticultura e os equipamentos com barra do tipo Vortex. c) Pulverizadores eletrostáticos: quando as gotas produzidas são carregadas eletricamente para serem atraídas pelas cargas opostas das superfícies das folhas. d) Pulverizador costal: O pulverizador costal manual (Figura 5A e B) é composto por um tanque, normalmente com capacidade para 20 litros de calda, uma bomba de pistão ou êmbolo, acionado manualmente por meio de uma alavanca. Pode apresentar ponta única de pulverização ou barra com duas ou mais pontas. De todos os pulverizados disponíveis para os produtores, esse é o que apresenta maior grau de dificuldade de operação, devido, principalmente, ao baixo nível de instrução dos operadores e à falta de controles refinados, como: pressão de trabalho, velocidade de operação e altura de barra. Os pulverizadores costais manuais apresentam baixo rendimento operacional em consequência do tamanho do reservatório reduzido e da pequena faixa de aplicação. A utilização de barras com dois (Figura 5C) ou três bicos, associadas às pontas de pulverização de impacto (maior ângulo de abertura), são alternativas para aumentar a faixa aplicada. No entanto, se a vazão e a pressão requeridas pela ponta de pulverização forem altas, acima de 45 lb pol-2, o operador não consegue trabalhar com a pressão necessária. Nesse sentido, pontas de pulverização de baixa vazão e com grandes ângulos de abertura do jato e que operam a baixas pressões (faixa de 15 a 45 lib) têm sido priorizadas. A falta de uniformidade de pressão e vazão nesse tipo de pulverizador pode ser facilmente solucionada, adotando-se válvulas reguladoras de pressão (Figura 5D). Para aplicações de inseticidas e fungicidas em cultivos de citrus, goiabeira, mangueira, café ou hortaliças (tomate, pimentão, etc.), pode-se utilizar uma ponta de jato cônico vazio ou uma ponta dupla para melhorar a cobertura do alvo (Figura 5C). 27 Figura 5. Pulverizador costal manual (A e B), válvula reguladora de pressão (C) e barra com dois bicos para melhor cobertura do alvo (D) e) Pulverizadores estacionários: São utilizados para aplicação de inseticidas e fungicidas, principalmente em lavouras de tomate e outras hortaliças. Esse equipamento também é amplamente utilizado para aplicação de agrotóxico em lavouras de café, citros e outras culturas perenes. São constituídos por uma bomba, geralmente de pistão, que pode ser acio- nada manualmente (pulverizador capeta), ou por motores elétricos ou a gasolina (Figura 6A e B), que succiona a calda a ser pulverizada do depósito. A distribuição da calda na lavoura é realizada por meio de mangueira com comprimento que varia geralmente de 20 a 50 m, onde é acoplado um sistema com gatilho e lança de pulverização. Lança de pulverização: é a parte extrema do pulverizador e serve de suporte às pontas de pulverização. Pode ter tamanho variado, com o mínimo de 50 cm de comprimento, mas o ideal é ser maior, para emitir o fluxo de calda longe do corpo do operador, minimizando sua exposição. Alguns fabricantes fornecem lança extensível de diversos tamanhos, para possibilitar a pulverização com maior segurança. Na extremidade da lança pode-se adicionar uma pequena barra, com nú- mero variável de pontas de pulverização. Deve-se evitar a aplicação de volume de calda muito alto, que proporcione escorrimento superficial e consequente A B C D a 28 redução da eficiência da aplicação. Figura 6 - Pulverizador estacionário manual (A); pulverizador estacionário a gasolina (B) f) Pulverizador acoplado sobre rodas (ciclojet, carroçajet):Trata-se de um pulverizador costal adaptado sobre uma plataforma dotada de rodas, que, ao girarem, aciona o pistão da bomba, gerando a pressão da pulverização (Figura 7A). Esse tipo de pulverizador reduz o esforço do operador, além de aumentar o rendimento operacional, com uma faixa aplicada de até 4 m em função da largura da barra. Também têm sido empregados equipamentos com mecanis- mo semelhante, tracionados por animais, sendo que este possui maior tanque e maior barra, o que garante maior rendimento (Figura 7B). Dentre as vantagens desse equipamento, destacam-se a redução da expo- sição do operador e a uniformidade do volume de calda aplicado, mesmo com alteração da velocidade, pois a variação da velocidade apresenta uma relação direta com a pressão, fazendo com que o volume de calda pulverizado na área seja uniforme. Figura 7. Pulverizador acoplado sobre rodas - Ciclojet (A) e Pulverizador acoplado sobre rodas com tração animal - Carroçajet (B) g) Pulverizador de barra acoplado ao trator: Os modelos mais comuns pos- suem capacidade do tanque variando entre 400 e 2.000 litros. O tamanho da barra é variável e deve ser planejado de acordo com a topografia do terreno. Em áreas planas e com vegetação baixa, sem presença de restos de tocos, deve-se priorizar barras maiores (Figura 8A), o que aumenta a capacidade operacional do equipamento. Em terrenos com topografias irregulares, com presença de tocos e com pequenas dimensões é aconselhado trabalhar com barras menores (Figura 8B), no sentido de reduzir oscilações, assim como facilitar manobras. Terrenos com inclinações acentuadas inviabilizam a utilização de pulveriza- dores tratorizados, uma vez que a uniformidade de aplicação é reduzida em fun- ção da dificuldade em manter a altura adequada da barra. O número de pontas na barra varia de acordo com o espaçamento entre elas, que na maioria dos pulverizadores é fixada em 0,5 m, e o tamanho da barra. A B A B 29 Pulverizadores tratorizados, quando utilizados corretamente, proporcionam alto rendimento e eficiência, maior segurança ao aplicador, pois reduzem o risco de exposição na aplicação principalmente em tratores com cabine fechada. Adaptações realizadas no pulverizador de barra, cujo formato denominou-se “Conceição”, é um dos principais equipamentos para aplicação de herbicidas em reflorestamento. A “Conceição” (Figura 8C) apresenta os mesmos princípios dos pulverizadores de barra comum, podendo, da mesma forma, ser acoplados no sistema de três pontos do trator ou como carretas arrastadas. O que os difere é a estrutura da barra, que apresenta uma manta protetora, para evitar que as gotas pulverizadas atinjam as plantas não-alvos. A largura da barra protegida pode variar de 1,5 a 3,0 m, conforme o espa- çamento entre linhas de plantio ou a finalidade de aplicação. Para aplicação de herbicidas para controle da rebrota são usadas menores larguras de barras (1,5 a 2,0 m); na entrelinhas de plantio, largura de barra pode variar de 2,0 a 3,0 m, em função do espaçamento da cultura. Cuidados devem ser tomados com relação ao espaçamento entre pontas de pulverização na barra protegida, de modo a evitar o escorrimento da calda her- bicida na manta lateral (Figura 8D). Todos os arranjos das pontas de pulverização ao longo da barra devem ser testados para cada situação (tipo de ponta, ângulo de inserção na barra e largura da barra), de modo a se ter uniformidade de de- posição da calda. Figura 8. A) Pulverizador de barra acoplado ao trator; B) Pulverizador de barra adaptado para áreas com presença de tocos (pontas de longo alcance); C) pulverizador de barra protegida “Con- ceição” e D) detalhe do escorrimento de calda na manta protetora da “Conceição” h) Turbo atomizadores: São também chamados de pulverizadores hidropneu- máticos e utilizados na aplicação de agrotóxicos em culturas perenes como café, citrus e outras frutíferas. Õ A B C D 30 O principio de funcionamento desse equipamento consta de duas etapas. Na primeira, o líquido é fragmentado, por força hidráulica, por meio da passa- gem da calda pelo orifício da ponta, sob influência da pressão de trabalho. As gotas devem ser de tamanho tal que não sejam muito propensas à deriva e que tenham força cinética capaz de atingir o alvo. A segunda etapa consiste na fragmentação do líquido pelo sistema pneumá- tico, ou seja, utilizando a velocidade do vento produzido pelo ventilador acopla- do ao sistema, garantindo o carregamento da gota do pulverizador até o alvo. Os pulverizadores pneumáticos podem ser utilizados acoplados a tratores e de aplicação manual por meio de pulverizadores costais para aplicação de fun- gicidas, inseticidas, acaricidas, entre outros, em culturas como café, fruteiras, to- mate, etc. i) Turbo atomizador tratorizado: Para acionamento desse pulverizador a for- ça utilizada é gerada pelo trator por meio da tomada de potência (TDP) ou por bombas acionadas do próprio pulverizador. As pontas geralmente são montadas em uma barra em forma de arco, envol- vendo o ventilador e montada na saída de ar. Dessa forma, as gotas produzidas são lançadas diretamente na corrente de ar, para serem conduzidas até a planta. O tipo de ponta de pulverização nesse sistema geralmente é do tipo cone cheio, sendo importante a aferição da vazão de todas as pontas de maneira que todas tenham a mesma vazão na mesma pressão. O ponto-chave na utilização desse pulverizador é escolher a vazão de ar ne- cessária para que ocorra deposição no alvo sem, contudo, atravessar o dossel da planta, incidindo em deriva e contaminação ambiental. Nesse equipamento, é importante a angulação dos defletores e a ativação de toda a barra. Muitas vezes, as palhetas defletoras direcionam o jato de ar para locais sem necessidade de aplicação, como o solo e o caule de plantas. Nesse caso, não é necessária a ativação da totalidade da barra, mas pode ser necessária a correção dos ângulos dos defletores. j) Turbo atomizadores costais: O princípio de funcionamento é o mesmo do tratorizado, porém utiliza uma só ponta em um grande bocal na ponta da lança. O vento é gerado por meio de uma bomba movida à gasolina com motor dois tempos. A bomba e o tanque são carregados nas costas do aplicador. Possui bai- xo rendimento operacional devido à baixa capacidade de armazenamento de calda no tanque. A grande vantagem da utilização desse pulverizador em detri- mento ao pulverizador costal manual é não necessitar de acionamento manual, o que permite melhor operacionalidade ao aplicador. l) Aplicação aérea: Por definição, aplicação aérea é um trabalho no qual a ae- ronave é usada como uma plataforma móvel para aplicar materiais como inseti- cidas, fungicidas, herbicidas, fertilizantes, sementes, substâncias químicas para controle de incêndio, etc. Geralmente são utilizadas aplicações aéreas nos cam- pos da agricultura, silvicultura, combate de incêndio e na saúde pública. A aplicação de agrotóxicos com uso de aeronaves agrícolas, aviões e helicópteros (Figura 9) vem aumentando nos últimos anos. Na utilização de aeronaves agrícolas, os cuidados são maiores e alguns diferentes daqueles observados nos equipamentos terrestres, como: efeitos aerodinâmicos do voo; faixa de deposição de gotas maior do que a extensão das barras; menor vazão por área; maior distância da barra em relação ao Õ 31 alvo; pressões mais baixas e possibilidades do ajuste das gotas para compensação em relação às variações climáticas durante as aplicações, sem necessidade da troca da ponta e do volume por área. A aplicação de agrotóxicos com uso de aeronaves possui vantagens, quando comparado à aplicação terrestre: – Rapidez de aplicação, mesmo em grandes áreas; – Precisão na aplicação, devido à presença de sensores ao longo do equi- pamento de aplicação; possibilidade de aplicação no momento correto, timing; – Não amassamento da cultura; – Não compactação do solo. A aplicação aérea de agrotóxicos deve ser realizada por empresashabilita- das; normalmente o serviço de aplicação é terceirizado, o que em alguns casos pode provocar atrasos no momento adequado da aplicação. Como desvantagens, enquadram a maior possibilidade de deriva, devido à maior distância da barra de aplicação e o alvo; maior dificuldade de calibração e problemas com obstáculos que podem levar à queda da aeronave. Figura 9. Aeronaves agrícolas no momento da aplicação: A) Avião e B) helicóptero Segundo legislação específica, os produtos a serem utilizados deverão estar registrados para o uso e aplicação com aeronaves agrícolas. 6. COMPONENTES BÁSICOS DOS PULVERIZADORES HIDRÁULICOS O pulverizador pode ser conceituado como uma máquina aplicadora de agrotóxico na forma de gotas, dirigidas ao alvo, em tamanho e densidades con- troláveis. Existe grande variedade de pulverizadores, todavia, quando os diferentes tipos são comparados, verifica-se que os princípios de funcionamento são se- melhantes. Todos eles apresentam em comum três elementos: tanque, que armazena o líquido a ser pulverizado; bomba ou sistema de A B Õ 32 alimentação por gravidade que irá conduzir o líquido até uma ou mais saídas, que são os bicos (pontas de pulverização), que irão produzir e distribuir as gotas desejadas. Entre as principais partes dos pulverizadores tratorizados podem ser citadas: depósito, agitadores de tanque, registros, filtros, bomba, câmara de compressão, regulador de pressão, manômetro, registro ou válvulas direcionais, barra, bicos ou pontas de pulverização. Não é objetivo desse estudo descrever com detalhes todas as partes de um pulverizador, porém será feito comentários mais aprofundados sobre algumas dessas partes. • Filtros Devem ser colocados na boca do tanque, antes da bomba, na linha de pulve- rização e nos bicos, totalizando de três a seis filtros por pulverizador. Os filtros Eles apresentam quatro funções importantes: a) Garantir maior uniformidade nas aplicações, não permitindo que o entu- pimento das pontas de pulverizações cause a distribuição desuniforme da calda; b) Garantir maior capacidade operacional dos pulverizadores, diminuindo o tempo parado para desentupir as pontas de pulverização, tratando, assim, maior área por dia; c) Garantir segurança ao trabalhador, não o expondo ao trabalho de desen- tupir os bicos, evitando-se o contato direto com a calda, ficando o trabalhador com a função de apenas conduzir o conjunto pulverizador, e d) Garantir maior durabilidade às pontas pulverizadoras, diminuindo as im- purezas e, assim, a abrasão nos bicos, além de evitar o uso de material não reco- mendado, como arame para desentupir as pontas. As malhas dos filtros devem ser escolhidas em função da formulação do pro- duto a ser aplicado. Pó molhável e seus derivados (suspensão) devem usar filtros com malha 50. Para as formulações pó solúveis, solução-aquosa e concentra- dos emulsionáveis podem ser usadas malhas 80 ou 100. O modelo e tamanho das pontas de pulverização também influenciam a escolha da malha do filtro. As pontas de menor vazão exigem filtros mais finos (malha 100) e nas de maior vazão as malhas podem ser mais grossas (malha 50). É importante seguir as re- comendações dos catálogos. • Bomba A função da bomba é pressionar a calda, colocando no sistema a energia que será usada para fazer a pulverização. Existem vários tipos de bombas: de pistão, de diafragma, de roletes, de engrenagens e centrífuga. A grande maioria das bombas comercializadas no Brasil ainda é de pistão, embora a bomba centrífuga esteja sendo muito utilizada nos autopropelidos. As bombas de pistão têm sua capacidade de deslocamento diretamente ligada à sua rotação e estão projeta- das para trabalhar entre 450 e 540 rpm. No Brasil, a capacidade nominal de uma 33 bomba pistão é medida a 540 rpm; assim, uma bomba especificada para 40 L min-1, se estiver a 450 rpm, desloca apenas 33,3 L min-1. Esse cálculo é feito por regra de três simples. Dessa forma, ao regular um pulverizador para aplicação de um agrotóxico, deve-se somar a vazão individual dos bicos e observar se a bomba é capaz de deslocar volume suficiente para atender a demanda dos bicos. Tecnicamente, não se deve usar mais de 60% do volume real deslocado; o restante, muitas ve- zes, tem de ser usado para agitação da calda no tanque. • Regulador de pressão Basicamente, é um divisor de volume no qual uma parte da calda vai para as pontas de pulverização e a outra retorna ao tanque. Essa peça contém uma entrada que recebe a calda (líquido) que vem do tanque e duas saídas: uma que comunica com pontas de pulverização e outra que leva o excesso de calda ao tanque. Para variar a proporção do líquido que vai para pontas de pulverização e a que retorna ao tanque, basta girar um parafuso, o qual comprime uma mola que comanda a passagem para o retorno. Quanto mais se comprime essa mola, mais difícil será o retorno e mais líquido será enviado às pontas de pulverização. Como a saída das pontas de pulverização é pequena, a pressão nessa parte do circuito se elevará até que as pontas de pulverização permitam a vazão deseja- da, por isso é chamado de regulador de pressão. Os pulverizadores de maior capacidade, como autopropelidos, já são equipa- dos com sistemas eletrônicos computadorizados, onde o regulador de pressão tem um sistema que ajusta a pressão de acordo com o volume pré-programado e a velocidade de operação, com uma válvula de esfera funcionando como es- trangulamento ou retorno. Também nesses pulverizadores já estão sendo insta- lados controladores de pulverização que têm gerado ganhos em uniformidade de pulverização, economia de produtos e aumento da capacidade operacional. • Manômetro Tem a função de medir a energia do sistema para pulverizar (lb pol-2 ou kg cm-2). Os manômetros com banho de glicerina têm durabilidade maior, porém não suportam as árduas condições de trabalho no campo. Os manômetros de- vem ser usados apenas no momento da calibração, devendo posteriormente ser desligados ou retirados dos circuitos. Uma boa alternativa para prolongar a vida útil deste equipamento seria o kit manômetro, que é instalado no bico no momento da calibração e depois retirado. Além de aumentar a durabilidade do equipamento, ele determina a pressão real de saída da calda. Normalmente, o manômetro colocado no circuito, longe dos bicos, pode indicar pressão maior que a encontrada nas pontas de pulverização, pois existem perdas de pressão por mangueiras, conectores, filtros, cotovelos, etc. • Barra O comprimento da barra varia conforme o modelo do pulverizador. Quanto mais comprida, maior a capacidade operacional, embora também aumente a oscilação e a heterogeneidade da aplicação. Tanto as oscilações verticais quanto as horizontais influenciam a uniformidade de deposição da calda pulverizada. 34 O sistema de barra autoestável tem a barra independente da estrutura do trator, com molas e amortecedores para absorver os impactos provenientes das irregularidades do terreno, e possibilita a construção de barras bastante longas (27 m), sem grandes problemas de oscilações, com sistema de nivelamento individualizado para cada barra, mantendo a altura (0,50 a 1,80 m). Outro aspecto importante que deve ser levado em consideração na aplica- ção de agrotóxicos é com relação à altura da barra. Na altura ideal (Figura 10A), o agrotóxico é distribuído uniformemente ao longo da faixa de aplicação. Quando a barra estiver abaixo da altura recomendada (Figura 10B), a pulverização não será uniforme, podendo ser observadas falhas no controle de plantas daninhas, alternando com toxidez nas culturas. Figura 10. Faixa de deposição do volume pulverizado oriunda de barra na altura correta (A) e abaixo da altura recomendada (B) • Bico É todo o conjunto e suas estruturas de fixação na barra como corpo, capa, filtro ou peneira e ponta de pulverização (Figura 11). Figura 11. Componentes de um bico de pulverização A ponta de pulverização, também chamada
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