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1 P R O D U Ç Ã O I N T E G R A D A MÓDULO 2 GESTÃO E PLANEJAMENTO DA EMPRESA RURAL LAÉRCIO ZAMBOLIM ECILA MERCÊS ALBU QUERQUE VILLANI 2 Autores: Laércio Zambolim, Ecila Marcês Albuquerque Villani Layout: Lucas Kato e Taiane Souza Editoração Eletrônica: Núbya Fontes e Taiane Souza Edição de conteúdo e CopyDesk: João Batista Mota Diretora Silvane Guimarães Silva Gomes Campus Universitário, 36570-000, Viçosa/MG Telefone: (31) 3899 2858 | Fax: (31) 3899 3352 Universidade Federal de Viçosa Reitora Nilda de Fátima Ferreira Soares Vice-Reitor João Carlos Cardoso Galvão 3 Significado dos ícones da apostila Para facilitar o seu estudo e a compreensão imediata do conteúdo apresenta- do, ao longo de todas as apostilas, você vai encontrar essas pequenas figuras ao lado do texto. Elas têm o objetivo de chamar a sua atenção para determinados trechos do conteúdo, com uma função específica, como apresentamos a seguir. Texto-destaque: são definições, conceitos ou afirmações importantes às quais você deve estar atento. Glossário: Informações pertinentes ao texto, para situá-lo melhor sobre determinado autor, entidade, fato ou época, que você pode desconhecer. SAIBA MAIS! Se você quiser complementar ou aprofundar o conteúdo apresentado na apostila, tem a opção de links na internet, onde pode obter vídeos, sites ou artigos relacionados ao tema. Quando vir este ícone, você deve refletir sobre os aspectos apontados, relacionando-os com a sua prática profissional e cotidiana. Ì a Ñ Õ 4 11. EXIGÊNCIAS DOS MERCADOS: PADRONIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO Gabriel Vicente Bitencourt de Almeida Engenheiro Agrônomo D.Sc.; CEAGESP/DEPAR; galmeida@ceagesp.gov.br. Fabiane Mendes da Câmara Engenheira de alimentos M.Sc; CEAGESP/SECQH; fcamara@ceagesp.gov.br Evandro Goulart da Silva Técnico agrícola, classificador oficial de produtos vegetais; CEAGESP/DEPAR; egsilva@ceagesp.gov.br SAIBA MAIS! Para mais informações sobre esse tema leia também: 1.Andreuccetti, C., Ferreira, M.D., Anita S. D., Gutierrez, A.S.D., Tavares, M. Classificação e padronização dos tomates cv. Carmem e Débora dentro da Ceagesp – SP. Eng. Agríc., Jaboticabal, v.24, n.3, p.790-798, set./dez. 2004. 2. Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo – CEAGESP. Normas de Classificação / CEAGESP- São Paulo: CEAGESP, 2011.6p. 3. Walter, E.H.M. Classificação de Frutas e Hortaliças: Solução técnica para um problema comercial. Universidade Federal do Pampa. Engenharia de Alimentos. Tecnologia de Frutas e Hortaliças. Agosto de 2010. 4. Souza, I.S.F. 2001. Classificação e padronização de produtos com ênfase na agropecuária. Uma análise histórico conceitual. Embrapa. Brasília. Informação Tecnológica. 120 p. 5. Sousa, I.S.F. Classificação e Padronização de Sistemas Agroalimentares de Agroalimentares. Power point. 6. Trento, E.J., Sepulcri, O., Morimoto, F. Comercialização de Frutas, Legumes e Verduras. Curitiba- PR. Emater, 2011. 7. Spoto, M.H.F. Pós-colheita de frutas e Hortaliças. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Universidade de São Paulo. Piracicaba – SP. 11 Ì 5 1. A QUESTÃO DA QUALIDADE DOS PRODUTOS FRESCOS Qualidade é a propriedade que determina a essência ou a natureza de um ser ou coisa, sendo assim tudo teria uma determinada qualidade (HOUAISS, 2016). Em outro significado, qualidade é uma característica superior ou um atributo distintivo positivo que faz alguém ou algo sobressair em relação a outro - essa definição está mais próxima do senso comum. Não se pode esquecer também que valoração é o ato de determinar o valor ou o preço de algo (HOUAISS, 2016). Para as frutas e hortaliças, porém, o que determina a sua qualidade e ex- celência é a sua adequação a determinado uso; isto exige a medida dos seus atributos de qualidade. Esses atributos podem ser sensoriais (aqueles que nos- sos cinco sentidos detectam, como forma, sabor, coloração, aromas, entre tantos outros); o valor nutritivo, os constituintes químicos, as propriedades funcionais e até seus defeitos (ABBOTT, 1999). Coloração apropriada, forma e tamanho são importantes critérios de qualidade, além do aroma desejável como indicativo do seu amadurecimento (Kader (2002). O conceito de qualidade não é estático, pois as preferências e exigências dos consumidores mudam com o passar do tempo. A definição de qualidade so- freu modificações importantes, pois as necessidades quantitativas estão sendo substituídas por exigência de caráter qualitativo, no qual os aspectos sensoriais, capacidade nutritiva, higiene, proteção à vida, bem estar do consumidor, manu- tenção da saúde do produtor, sua família e funcionários, junto com a diminuição do custo de produção e o uso racional de insumos são cada vez mais requeridos e valorizados pelos consumidores (CANTILLANO et al., 2001). As diferenças de qualidade correspondem a diferenças de quantidade de algum ingrediente ou atributo desejado. A composição dos alimentos é influenciada por fatores genéticos, práticas culturais, regiões e estágios de crescimento, variedades e condições climáticas (CRISOSTO; MITCHELL, 2007). Por essa razão, não é possível designar valores numéricos para variações na composição durante a maturação e a estocagem (HARRIS; e VON LOESECKE, 1960;). Os métodos de avaliação da qualidade incluem escalas objetivas baseadas em instrumentos de medição ou métodos subjetivos baseados no julgamento humano utilizando gabaritos visuais. Entre as características indicadoras de qua- lidade, Kader (2002) cita: • aparência (tamanho, formato, coloração, presença de defeitos e brilho), • textura (firmeza, maciez, fibrosidade e suculência), • características organolépticas (doçura, acidez, adstringência, salinidade, amargura e aromas) • valor nutricional. Entre as aspectos mais comuns para avaliação da qualidade, Chitarra e Chitarra (2005) e Kader (2007) consideram as seguintes características físicas e químicas: pH, acidez total (AT), sólidos solúveis (SS), relação SS/AT, açúcares re- dutores (glicose e frutose), açúcares não-redutores (sacarose), açúcares totais, Õ Õ 6 compostos voláteis, substâncias pécticas, conteúdo de ácido ascórbico, pigmen- tos, compostos fenólicos, atividade respiratória (concentração de CO2 e O2) e produção de etileno. 2. VALORAÇÃO DE PRODUTOS FRESCOS E AS EXIGÊNCIAS E DESEJOS DOS CONSUMIDORES Um produto, quando destinado ao mercado in natura não pode ser conside- rada uma commodity. Este termo, da língua inglesa, pode designar um produ- to com as seguintes características: amplamente disponível, de características homogêneas e facilmente reconhecível pelos agentes comerciais (MARQUES; MELO, 1999). As frutas e hortaliças não podem ser considerados commodities, em função da grande variação das suas características qualitativas e outros valores que po- dem conter, por exemplo, sistemas de produção diferenciados, certificações, cul- tivares, climas diferentes (CRISOSTO; MITCHELL, 2007). A formação dos valores de comercialização não pode ser explicada unica- mente por oferta e demanda. A qualidade, da mesma forma que outras caracte- rísticas diferenciadoras, como o tipo de sistema de produção, é um fator de gran- de e vital importância. E é justamente na diferenciação, ou seja, na ocupação de nichos, que estão as maiores oportunidades da obtenção de melhores preços e maior lucratividade (ALMEIDA, 2006). A partir das exigências e desejos dos consumidores finais, que como já foi dito, mudam ao longo do tempo; ao mesmo tempo os varejistas buscam no atacado e em alguns casos diretamente na produção, produtos com características intrínsecas e extrínsecas que atendam estes anseios, tendendo fortemente a remunerá-los de melhor maneira. Os comerciantes, que mantêm um contato mais pessoal com o consumidor, são capazes de trabalhar melhor com produtos de maior qualidade e, portan- to, mais caros.Por meio de convencimento oral, orientação e degustação, eles podem informar e demonstrar ao consumidoressas características qualitativas superiores. Os feirantes de rua criaram muitas das técnicas que atualmente são também usadas por varejos especializados, conhecidos como sacolões ou hortifrútis. Eles são varejos especializados em frutas e hortaliças e procuram trabalhar com produtos de qualidade superior, além de venderem outros produtos perecíveis, como carnes, pescado e produtos industrializados de conveniência. As características qualitativas extrínsecas e intrínsecas, ou seja, aquelas que levam inicialmente a uma maior atratividade no ponto de venda e posterior- mente maior satisfação e prazer no momento do consumo talvez sejam as prin- cipais vantagens. Neste patamar se adequa muito a definição de Abott (1999) para a qualidade e excelências de frutas e hortaliças in natura, que são determi- nadas para a adequação a determinado uso, os atributos sensoriais (coloração, formato, gosto, aromas, sabor), o valor nutritivo, os constituintes químicos, as propriedades funcionais ou nutracêuticas e os defeitos. Õ 7 Nutracêutica é considerada por alguns como uma nova disciplina científica (por enquanto, o termo é mais utilizado em marketing que pela comunidade científica no seu todo), resulta da combinação dos termos “nutrição” e “farmacêutica” e estuda os componentes fitoquímicos presentes nas frutas, legumes, vegetais e cereais, dispondo-se a investigar as ervas, folhas, raízes (Plantas Medicinais) e cascas de árvores para descobrir seus benefícios à saúde e possíveis curas de doenças. O termo foi cunhado por Stephen De Felice em 1989 (Fonte: Wikipedia) O grande sucesso de produtores que conseguiram associar seus nomes ou marcas a produtos com estes atributos superiores indica que é o primeiro passo no caminho da diferenciação. Nos últimos anos são vários os exemplos, princi- palmente no melão de rede, mamão ‘formosa’, mangas colhidas maduras, toma- tes italianos, entre tantos outros. Muito provavelmente a grande quantidade de programas especializados em culinária e gastronomia nas TVs abertas e pagas, juntamente com publicações e sites voltados para esses temas, estejam criando rapidamente uma maior cultura de valorização da alimentação no país. Com isso, estão surgindo consumidores mais exigentes e predispostos a experimentação e a busca por produtos dife- renciados. Uma parcela menor de compradores finais preocupa-se com a questão da segurança do alimento, ligada a fatores como a quantidade de resíduos de agro- tóxicos, presença de microrganismos causadores de doenças e de metais pesa- dos. E finalmente, uma quantia ainda muito menor de pessoas se preocupa com aspectos ambientais e sociais da produção, evitando a compra de produtos que afetem demasiadamente o meio ambiente no processo produtivo ou que esta não cumpra adequadamente as obrigações sociais. Diversos protocolos de certificações, como a Produção Integrada do Minis- tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) se propõe a dar essas ga- rantias. 3. QUALIDADE NA PRODUÇÃO INTEGRADA A questão da qualidade, sob todos os sentidos, tem sido uma preocupação constante de todos os elos das cadeias produtivas, do produtor ao consumidor final. É consenso que para a manutenção da competitividade e para a diferencia- ção em relação à concorrência é imprescindível contar com produtos que aten- dam às perspectivas e anseios dos consumidores. O grande sucesso de produtores de frutas e hortaliças que conseguiram as- sociar suas marcas ou grifes à qualidade superior e, sobretudo a uma garantia de sabor indica o caminho do êxito na produção de hortícolas. Não é difícil supor, portanto, que um produto garantidamente saboroso por ter sido colhido no ponto correto, que não vai apodrecer rapidamente e que não esteja contaminado com resíduos perigosos de agrotóxicos, tenha tudo para lo- grar um grande êxito. Mas para obter esse resultado é necessária uma tecnologia adequada. Nesse ponto, a Produção Integrada, como consolidação das melhores técnicas agronômicas, pode fornecer um excelente rumo. Nada consegue irritar mais o consumidor que um produto colhido antes ou depois do ponto ideal. Ninguém quer comer uma fruta ou hortaliça azeda, pas- sada, seca ou fibrosa. Ou pior ainda, descartar um fruto que apodreceu na gela- deira. O produtor ou fornecedor, que se identifica por meio de uma marca que a 8 garanta que seu produto detém características qualitativas superiores, tende a ter uma grande vantagem competitiva. E alguns consumidores, ainda mais exigentes, querem saber em que condi- ções sociais e ambientais ocorreu a produção desses alimentos. Os produtores bem-sucedidos no mercado interno de produtos hortícolas costumam passar pelas seguintes etapas: 1.Conhecimento das características qualitativas responsáveis por uma melhor aceitação no mercado atacadista e pelo consumidor final. O pro- dutor necessita conhecer quais atributos de qualidade são os mais importan- tes para a obtenção da melhor aceitação e, consequentemente, maiores preços para o seu produto. 2.Plantio em região com características climáticas adequadas e adoção de um sistema de produção que possibilite chegar o mais próximo possível das características qualitativas desejadas. Espera-se que a adoção da Pro- dução Integrada (PI) leve a um produto seguro e de alta qualidade. O grande mérito dos trabalhos de produção integrada é ter consolidado e sistematizado um conhecimento outrora disperso, de modo que o produtor que o adote, certi- ficando ou não, estará conduzindo sua plantação da melhor maneira possível e, por consequência, produzir o que é mais desejado pelos mercados. 3.Associação do nome do produtor ou de sua marca a um produto de alta qualidade. Quando o consumidor passar associar o selo da Produção In- tegrada a um produto superior, a certificação passará a ser mais vantajosa. O objetivo não deve ser substituir a marca do produtor, mas sim reforçá-la. A as- sociação pelo consumidor do selo da PI como indicativo de um produto de alta qualidade passará a beneficiar automaticamente os produtores que aderirem ao sistema na sequência. 4.Dispor de um sistema de informação que permita visualizar constan- temente as diferenças de preços de diversas qualidades de produto. Em um mesmo dia e praça de comercialização, existem grandes diferenças de preços para um mesmo produto e cultivar. Esta variação nos valores é consequência das diferenças qualitativas entre os diversos lotes e o que acarreta em menor ou maior aceitação do produto. É muito importante que o produtor tenha acesso não apenas a um preço médio, mas sim a toda a variação e quais são as princi- pais características qualitativas que levam a essa diferenciação, de modo que possa negociar um preço justo pelo seu morango e saiba também em quais pon- tos pode evoluir. 5.A Produção Integrada deverá ser, aos olhos do consumidor final, si- nônimo de alta qualidade, sabor, segurança e produção ambiental e social- mente correta, sendo que apenas o atendimento de todas estas premissas de maneira conjunta pode levar ao sucesso. 4. QUALIDADE E PRODUÇÃO DE COMMODITIES Embora até o momento nossas considerações tenham sido voltadas para produtos frescos, algumas das premissas também valem para as grandes com- modities agrícolas. Em algumas oportunidades, grãos, fibras e café podem ser “descomoditizados”, ou seja, agregarem características intrínsecas e extrínsecas que os diferenciem em um mercado de extrema padronização. Tanto é assim, que para vários desses produtos foram conduzidos projetos de Produção Inte- 9 grada. Mesmo grãos altamente “comoditizados”, como soja e milho, podem oferecer diferenciais, como segurança e adequação ambiental e social. O grande desafio, nesse caso, é a implantação de sistemas de segregação e de rastreabilidade. Cereais e leguminosas direcionados para a alimentação humana, como ar- roz, feijão e trigo, e bebidas, como café, apresentam enormes possibilidades de diferenciação. 5. CLASSIFICAÇÃO EPADRONIZAÇÃO VEGETAL Padronização é a adoção de uma medida, especificação, paradigma (mode- lo) ou tipo para uniformizar a produção ou avaliação de qualquer coisa inclusive produtos agrícolas. Classificação é a separação por classes ou divisões (HOUAISS, 2016). A classi- ficação dos produtos agrícolas é a determinação das características intrínsecas e extrínsecas deles, com base em padrões qualitativos previamente elaborados, permitindo que se tenha uma descrição do produto obtida pela análise minucio- sa a partir de uma amostra representativa do lote. E para que os produtos sejam classificáveis necessitam, após a colheita, pas- sar por processos que façam a segregação por lotes homogêneos a partir de padrões predeterminados por uma norma. Normalmente, se consegue isso se- parando as unidades, que podem ser grãos, frutos, raízes, etc., em classes de ta- manho que as deixem visualmente homogêneas, em alguns casos por coloração e por qualidade, por meio das faixas de tolerância aos defeitos graves e leves. Para os grãos e para várias frutas e hortaliças existem máquinas, em alguns casos bastante sofisticadas, capazes da separá-los em lotes muito homogêneos. Algu- mas frutas e hortaliças podem ser classificados manualmente. Embora a classificação não tenha o objetivo de determinar o valor do produ- to, mas sim descrevê-lo, é importante que os padrões adotados sejam capazes de mensurar pelo menos as principais características qualitativas determinantes para a valoração do produto no mercado. A atividade de classificação no Brasil é regida pela Lei Nº 9.972, DE 25 DE maio de 2000 e regulamentada pelo Decreto Nº 6.268, de 22 de novembro de 2007. Essa legislação obriga que os produtos vegetais e seus subprodutos sejam classificados, nas seguintes situações: quando destinados diretamente à alimen- tação humana, nas compras do poder público, nos protos, aeroportos e postos de fronteira. O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) dispõe de padrões oficiais de classificação para mais de 60 produtos vegetais entre fibras como algodão, grãos, óleos, farinhas, hortícolas e outros como castanhas. Nos padrões oficiais estão definidas as especificações e critérios de identidade, qua- lidade, apresentação, modo de amostragem e a marcação e rotulagem. Apenas entidades oficiais ou credenciadas pelo Mapa podem realizar a atividade de clas- sificação oficial e emitir o respectivo certificado (BRASIL, 2007). 5.1 Padronização de produtos vegetais É a atividade que tem por objetivo o estabelecimento de modelos-tipo, físico ou descritivo, por produto vegetal levando-se em conta a identidade, seu em- prego, forma, coloração, massa, tamanho, apresentação e qualidade. - Vantagens da padronização: Fixar terminologia para cada produto vege- tal e suas variações qualitativas e estimular a obtenção de produtos de melhor 10 qualidade e apresentação. - Padronizar é agir segundo um modelo ou na conformidade de um pa- drão. - Importação do controle de qualidade nos produtos vegetais. - As análises físicas e físico-químicas realizadas pelo Serviço de Classificação têm por objetivo o controle de qualidade de produtos de origem vegetal para garantir a oferta de alimentos saudáveis ao consumidor. -A segurança do alimento deve ser uma preocupação constante das em- presas que prezam pela satisfação do cliente, o que, naturalmente, se reflete na valorização de suas marcas. 5.2 Legislação A base da alimentação humana e constituída pelos nutrientes fornecidos pelos cereais e grãos leguminosos. Em consequência disso, qualquer modifica- ção na disponibilidade, qualidade e preço daqueles produtos ou derivados, é imediatamente perceptível ao homem comum, com profundas repercussões socioeconômicas. Quanto ao abastecimento de cereais e grãos leguminosos, o governo se acha premido pela necessidade de prover o consumo interno e coo- perar com excedentes de alguns produtos ou derivados, no aumento da receita de exportação (D. PUZZI, 1986). A apresentação do cenário atual em que o Brasil se encontra é relatada por pesquisas realizadas por empresas de consultoria em qualidade de produtos de origem vegetal. As pesquisas revelam o descontentamento dos produtores com o modelo atual de gestão de qualidade de grãos, a despadronização nos pro- cedimentos adotados pelas empresas classificadoras, com amostragens impró- prias e em desacordo com as normas existentes, amostras de análises com pesos discrepantes ao que as normativas determinam, contra provas irregulares. Em resumo: o Brasil passa por uma crise de identificação e padronização no cumpri- mento das normativas por não ter uma agencia controladora e principalmente fiscalizadora do sistema que existe atualmente. As entidades credenciadas para o serviço de classificação vegetal não estão sendo “suficientes” para a demanda que o setor necessita. Segundo o discurso do mercado, o Brasil precisa dar mais atenção e ser mais transparente nos crité- rios classificatórios de qualidade e ainda amadurecer a gestão de qualidade e classificação vegetal do país, subsidiando o suporte adequado para a demanda, conforme a atual produção de grãos do país. O Brasil dispõe de uma normatização bastante rica em seu conteúdo que constitui e regulamenta as atividades de classificação vegetal e a qualidade de produtos padronizados. No entanto, a demanda do país requer uma gestão ge- renciadora e que controle com mais eficiente as suas competências e atribui- ções. Tabela 1 – Quadro atual da classificação Fonte: FGIS – The Federal Grain Inspection Service (EUA) Procedimento Estados Unidos Argentina Brasil Amostragem Padrão oficial Padrão oficial Não existe Homogeneização Padrão oficial Padrão oficial Não existe Padrão de qualidade Normatizada Normatizada Não existe Contra amostra do produtor Fiscalização Câmara Arbitral Não existe Fiscalização teste de amostra FGIS Câmara Arbitral Não para produto- res e receptores 11 O de grãos homogêneos e de vasto consumo que podem ser produzidos e negociados por uma ampla gama de empresas tem como objetivo garantir a classificação representativa do produto (soja, milho, café) nos embarques CIF e FOB seguindo os procedimentos que atentam a negociabilidade global. Monitorar a qualidade entre as origens e destinos dos embarques FOB e CIF reportando e corrigindo eventuais divergências de classificação que possam ocorrer, assim como intermediando questionamento de qualidade nos pontos de embarque. 5.3 Hortiescolha Uma poderosa ferramenta para produtores da PI conhecerem as exigências do mercado é o Programa de Apoio à Tomada de Decisão do Serviço de Alimen- tação Escolar na Escolha de Frutas e Hortaliças, conhecido pela sigla HortiEsco- lha. Apesar de inicialmente previsto para orientar a compra de merenda escolar, o programa se adequa muito bem à orientação sobre as exigências de qualidade do mercado e serve de guia para os produtos que não têm norma oficial de clas- sificação. Frutas e hortaliças in natura são componentes essenciais no cardápio pelo seu valor nutricional e por oferecer a oportunidade de descobrir e apreciar no- vos aromas, sabores, cores, formatos e texturas e desfrutar o prazer da sua in- gestão (ISSA et al., 2014). O crescente distanciamento entre o consumidor e a agricultura decorrente da urbanização, e a inexistência de denominações claras e mensuráveis de tamanho e qualidade para o produto, a variedade e a classifi- cação, tornam muitas vezes complexo o processo de descrição e de controle de qualidade de frutas e hortaliças frescas. A caracterização precisa do alimento e o estabelecimento da classificação, que garanta o melhor custo-benefício para cada utilização, é um grande desafio para os técnicos responsáveis pelos serviços de alimentação. É muito comum que a indicação de compra recaia sobre o produto mais valorizado na cotação de preços e que a mercadoria recebida seja o menos valorizada: paga-se pela mais cara e recebe-se a mais barata. Omemorial descritivo - parte integrante do edital de licitação ou chamada pública - deve conter, no mínimo, informações sobre as características gerais e sensoriais, caracterização mensurável de tamanho, padrão de qualidade, de em- balagem, além das condições de entrega e transporte. Ele também exige o le- vantamento de cotações de preços e o estudo da sazonalidade para elaboração de cardápios que ofertem produtos na sua melhor época de compra e consumo. A elaboração do memorial descritivo para a compra pública é ainda mais complexa e deve buscar melhor preço e garantia da qualidade. A execução da compra por órgãos públicos exige procedimentos específicos, como autoriza- ções, pedidos, especificação completa, definição de unidades e quantidades, levantamento de preços, cotações, documentos de habilitação, obediência à legislação, entre outros (BATISTA; MALDONADO, 2008). As atividades adminis- trativas e burocráticas são exercidas muitas vezes com dificuldades por alguns gestores, devido à sua formação técnica (CHAVES et al., 2013). O HortiEscolha, resultado da parceria entre a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) e a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), com o aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesqui- sa do Estado de São Paulo - FAPESP (2010/52337-0) e Conselho Nacional de De- senvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq (407668/2012-8), é um programa Õ 12 de políticas públicas desenvolvido com o objetivo de orientar e simplificar o processo de tomada de decisão na gestão das frutas e hortaliças in natura - na escolha do produto, da variedade e da classificação de melhor custo-benefício, na exigência do padrão mínimo de qualidade e na escolha da melhor época de aquisição para cada produto. A página eletrônica http://www.hortiescolha.com.br permite o acesso gra- tuito ao aplicativo e oferece informações da melhor época de compra, das va- riedades disponíveis (Figura 1), das classificações utilizadas (com a equivalência entre as diferentes denominações e uma característica mensurável), do melhor custo-benefício de cada classificação (resultado dos índices de aproveitamento e valoração), sugestões de substituição para tornar o cardápio mais diversificado e também o padrão mínimo de qualidade que deve ser exigido para 94 frutas e hortaliças. A correta utilização das ferramentas do HortiEscolha garante que o produto comprado seja exatamente o recebido. Figura 1. Principais variedades de manga comercializadas na Ceagesp Uma das ferramentas do programa é o Índice de Valoração, calculado pela análise dos dados históricos da Cotação de Preços da Ceagesp por produto e variedade (fator utilizado para calcular a relação entre o preço de cada classifica- ção e a classificação menos valorizada de cada produto e variedade). Por meio desse índice (Tabela 2) podemos constatar que a Manga Haden, da classificação 09 frutos, é em média durante o ano 61% mais cara que a Manga Haden da clas- sificação 18 frutos, e que a Manga Haden das classificações 12 frutos e 15 frutos, são respectivamente 62% e 29%, mais caras que a Manga Haden da classificação 18 frutos. Para a Manga Palmer, as classificações 09 frutos, 12 frutos, 15 frutos são, em média, respectivamente 53%, 54% e 25% mais caras que a de 18 frutos ao longo do ano. E para a Manga Tommy Atkins, as classificações 09 frutos, 12 frutos, 15 frutos são, em média, respectivamente 40%, 55% e 26% mais caros que a classi- ficação 18 frutos ao longo do ano. 13 Tabela 2 – Valoração da Manga cotada pela CEAGESP Variedade Cotação CEAGESP Índice de Valoração Haden 09 frutos 1,61 Haden 12 frutos 1,62 Haden 15 frutos 1,29 Haden 18 frutos 1,00 Palmer 09 frutos 1,53 Palmer 12 frutos 1,54 Palmer 15 frutos 1,25 Palmer 18 frutos 1,00 Tommy Atkins 09 frutos 1,40 Tommy Atkins 12 frutos 1,55 Tommy Atkins 15 frutos 1,26 Tommy Atkins 18 frutos 1,00 Algumas exigências também são necessárias para a garantia da qualidade do produto. A presença dos seguintes defeitos internos e aparentes não deve ser tolera- da de acordo com o HortiEscolha: defeitos de polpa, de casca grave, ferimento, imaturo, mancha látex e podridão (Figura 02). Figura 2. Manga Haden, Tommy Atkins, Palmer. Padrão mínimo de qualidade. Defeitos proibidos Outras ferramentas do HortiEscolha são o Guia de Variedades, com a repre- sentação gráfica e as principais características das variedades representativas de manga comercializadas no entreposto paulistano (e a Tabela de Equivalência de Tamanho para a manga, que descreve as denominações pelo Mercado Atacadis- ta, pela Cotação de Preços da Ceagesp e também uma característica mensurável. Tabela 3 – Equivalência e valoração ¹ - Número de frutos por caixa de 6 quilos. Cotação CEAGESP Mercado atacadista¹ Medida e valoração Unidade de medida 9 frutos Tipos 8, 9 e 10 Maior que 650 Não existe 12 frutos Tipos 11 e 12 500 a 650 Não existe 15 frutos Tipos 13,14 e 15 400 a 499 Não existe 18 frutos Tipo 18 Menor que 400 Não existe Peso em grama 14 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, G. V. B. Fruta tem que ser gostosa! Frutas e Derivados, São Paulo, v. 02, n. 1, p.40, 01 jun. 2006. Mensal. Disponível em: <http://www.ibraf.org.br/x_files/ revista02.pdf>.Acesso em: 28 jul. 2011. BATISTA, M.A.C.; MALDONADO, J.M.S.V. O papel do comprador no processo de compras em instituições públicas de ciência e tecnologia em saúde (C&T/S). Re- vista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 42, n. 4, p. 681-699, 2008. BRASIL. Institui a classificação de produtos vegetais, subprodutos e resíduos de valor econômico, e dá outras providências. Lei Nº 9.972, de 25 de maio de 2000. Seção 1, p. 1-1. BRASIL. Regulamenta a Lei nº 9.972, de 25 de maio de 2000, que institui a classi- ficação de produtos vegetais, seus subprodutos e resíduos de valor econômico, e dá outras providências. Decreto Nº 6.268, de 22 de novembro de 2007. Seção 1. CANTILLANO, R.F.F.; MATOS, M.L.T. MADAIL, J.C.M. Mercado de alimentos: ten- dência mundial. Informe Agropecuário, v.22, n.213, 2001. CHAVES, L.G.; SANTANA, T.C.M.; SANTANA, T.C.M.; GABRIEL, C.G.; VASCONCELOS, F.A.G. Reflexões sobre a atuação do nutricionista do Programa Nacional de Ali- mentação Escolar no Brasil. 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SÃO PAULO. Esalq. Esalq-usp/ceagesp. HORTIESCOLHA: Programa de apoio à to- mada de decisão do serviço de alimentação escolar na escolha de frutas e hor- taliças frescas. 2016. Disponível em: <http://www.hortiescolha.com.br/>. Acesso em: 10 maio 2016. 15 12 12. EQUIPAMENTOS DE APLICA- ÇÃO DE AGROTÓXICOS Capítulo elaborado a partir do texto Tecnologia de aplicação de defensivos, dos professores Lino Roberto Ferreira(UFV), Aroldo Ferreira Lopes Machado (UFRRJ), Miller Soares Machado, Rafael Gomes Viana (UFRA, Campus Parauapebas) e Francisco Cláudio Lopes de Freitas (UFERSA). 1. INTRODUÇÃO A utilização incorreta de agrotóxicos - uso inadequado de dose, época impró- pria à aplicação, condições climáticas adversas,associada ao desconhecimento dos recursos do equipamento aplicador e suas limitações – é um dos fatores que contribuem para a redução da eficiência dos produtos, além de aumentar o risco de intoxicação humana e contaminação ambiental. Os agrotóxicos, para terem ação eficiente, necessitam ser distribuídos da maneira mais uniforme possível sobre o alvo a ser atingido. Essa distribuição será tanto melhor quanto mais adequados forem os equipamentos e as técnicas empregadas. Alvo: em síntese, é um objeto selecionado a ser atingido, direta ou indiretamente, pelo processo de aplicação. Diretamente, quando se coloca o produto em seu contato no momento da aplicação, e indiretamente, pelo processo de redistribuição. Tal redistribuição poderá se dar por meio da translocação sistêmica ou pelo deslocamento superficial do depósito inicial do produto. O crescente aumento do custo de mão de obra e de energia e a preocupação cada vez maior em relação à poluição ambiental têm ressaltado a necessidade de tecnologias mais acuradas para aplicação de agrotóxicos no alvo. Para isso, são necessários procedimentos e equipamentos mais adequados à maior proteção ao trabalhador e ao ambiente. Na aplicação de agrotóxicos, as gotas que não são depositadas no alvo são chamadas de deriva de pulverização. Muitas vezes, elas são muito pequenas, a Õ 16 com diâmetro menor que 150 μm, facilmente movidas para fora do alvo pela ação do vento e das condições climáticas. A deriva provoca deposição do produ- to aplicado em áreas não desejadas. As causas da deriva, segundo Matuo et al. (2001), são muitas e estão relacio- nadas aos equipamentos de aplicação, às formulações e às condições meteoro- lógicas. Tamanho de gota, altura de vôo em aplicações aéreas, altura da barra e da ponta de pulverização, velocidade de operação e do vento, temperatura e umidade do ar, volume de aplicação e formulação utilizada encontram-se como os principais fatores que influenciam a deriva. 2. INTER-RELAÇÃO ENTRE ALVO, PRODUTO, EQUIPAMENTO E AMBIENTE O sucesso do controle fitossanitário, depende da interação entre caracterís- ticas do produto aplicado (herbicida, fungicida, inseticida e outros), do equipa- mento de aplicação e seus acessórios (pulverizador, ponta de pulverização), das condições ambientais (temperatura, umidade relativa e vento), do momento correto da aplicação e do alvo a ser atingido (plantas daninhas, insetos, ácaros, fungos, bactérias). Essa inter-relação ocorre para todas as aplicações de herbicidas, fungicidas e inseticidas. Na prática, antes de tomar qualquer decisão, deve-se ter em mente três questões com relação à técnica de aplicação: - O que aplicar? (qual o produto a ser aplicado e a sua qualidade); - Como aplicar? (qual equipamento e quais acessórios necessários para se obter qualidade na aplicação); e - Quando aplicar? (momento da aplicação, levando em consideração o alvo e as condições ambientais). Nesse sentido, a técnica utilizada na aplicação de agrotóxicos deve consi- derar conhecimentos científicos, de modo que o produto biologicamente ativo seja depositado no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica e com o mínimo de contaminação ambiental. 3. ALVO BIOLÓGICO E EFICIÊNCIA O agrotóxico deve exercer a sua ação sobre determinado organismo que se deseja controlar. Portanto, o alvo a ser atingido é esse organismo, seja ele, planta daninha, inseto, fungo ou bactéria. Em função de características do alvo, como forma, tamanho e posição, a pulverização deverá ter características específicas para melhor atingi-lo. O alvo real tem que ser definido em termos de tempo e de espaço, de maneira a aumentar a porcentagem de produto que o atinge em relação à que foi emitida pelo equipamento de aplicação. Qualquer quantidade de produto aplicado, que não atinja o alvo, não terá qualquer eficácia e repre- sentará uma forma de perda e poluição ambiental. Õ 17 Eficiência de aplicação (EA) é a relação entre a dose teoricamente requerida para o controle e aquela efetivamente empregada. Quando o alvo possui elevada superfície e a coleta do defensivo é favorável, a EA é elevada, como é o caso da aplicação de herbicidas sistêmicos em pós-emergência, numa área com boa cobertura de plantas daninhas, sob condições climáticas favoráveis à aplicação. Por outro lado, quando se aplicam, por exemplo, inseticidas de contato, visando obter controle de lagartas no fruto, como o tomate, a EA pode atingir valores baixos, devido à dificuldade de se atingir o alvo. A melhoria nessa eficiência poderá ser alcançada por meio da evolução no processo, nos seus mais variados aspectos. O treinamento do operador do equipamento de aplicação é, sem dúvida, um dos pontos mais importantes. O uso correto e seguro dos agrotóxicos passam por diversas etapas, desde a sua aquisição até a colheita do produto comercializado, respeitando-se o período de carência, a fim de se preservar o meio ambiente e a saúde dos trabalhado- res e consumidores. Sua aquisição somente pode ser feita por meio de recei- tuário agronômico, emitido por um profissional legalmente habilitado, valendo os princípios de uma agricultura sustentável, que procura produzir alimentos para a população, sem comprometer a produção de alimentos para as futuras gerações. No receituário devem constar informações sobre o agrotóxico (dose, fina- lidade, período de carência, etc.), sobre a destinação de sobras dos produtos e embalagens vazias, precauções de uso, equipamentos de proteção individual (EPIs) e primeiros socorros em casos de acidentes. 4. MÉTODOS DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS Os métodos de aplicação, dependendo do estado físico do agrotóxico, po- dem ser agrupados em via sólida, líquida e gasosa. Dentre essas, a via líquida, usando a água como diluente, é o método mais utilizado. Nela, a aplicação é feita na forma de gotas (pulverização), podendo em alguns casos também ser na forma de filetes líquidos (rega ou injeção) ou na forma de gotas diminutas, formando neblina (nebulização). A concentração varia em função da dose reco- mendada para o defensivo e do volume de calda aplicado. A distribuição da calda é realizada, normalmente, por meio de pulverização hidráulica, que é definida como “processo mecânico de geração de gotas” pelo pulverizador (Cordeiro, 2001; Matuo, et al. 2001). As gotas são produzidas pelas pontas de pulverização que, também, determinam a vazão e a distribuição do líquido pulverizado, sendo, portanto, um dos componentes mais importantes do pulverizador (Bauer e Raetano, 2004). 5. APLICAÇÃO VIA LÍQUIDA A água é o principal diluente ou veículo de aplicação para a via líquida, por ser de fácil obtenção, de baixo custo e por contar com ampla opção de formu- Õ 18 lações compatíveis. Entretanto, a água apresenta duas limitações: alta tensão superficial e alta pressão de vapor (Matuo et al., 2001), fazendo com que haja diminuição do volume da gota produzida. A alta tensão superficial faz com que uma gota depositada numa superfície permaneça na forma esférica, com pouca superfície de contato. Para corrigir este problema, basta adicionar nela algum agente tensoativo (surfactante), que dimi- nua sua tensão superficial. Com isso, a gota se espalha facilmente na superfície, molhando maior área. Alguns adjuvantes integrantes da formulação - como os molhantes, emulsionantes, etc. - são agentes tensoativos. Assim, a simples pre- sença deles na formulação pode ser suficiente para diminuir a tensão superficial da água até os níveis desejados. Outras vezes, no momento da aplicação de de- terminados agrotóxicos, é necessário adicionar surfactante ou óleo mineral, para melhorar a cobertura foliar. A intensidade de evaporação depende de vários fatores, dos quais os mais importantes são: a evaporação de líquidos não-voláteis ou proporção de partí- culas sólidas existente na mistura; temperatura, umidade do ar e velocidade do vento; tamanho da gota e o tempo que ela permanece no ar. À medida quea água vai evaporando, as gotas diminuem de tamanho e peso, reduzindo, assim, a possibilidade de impactar o alvo. Gotas de mesmo tamanho podem ter com- portamentos distintos, em diferentes condições ambientais. Portanto, a obser- vação das condições ambientais é muito importante para uma aplicação correta. A elevada capacidade de evaporação da água limita a utilização de gotas muito pequenas, principalmente nos climas tropicais. Para boa cobertura do alvo e emprego de pequenos volumes de aplicação (abaixo de 50 L ha-¹), é ne- cessário controlar a evaporação da água ou utilizar outro diluente que não seja volátil, como, por exemplo, o óleo mineral agrícola. Nas condições noturnas, a umidade relativa é elevada e a evaporação é dras- ticamente reduzida, o que permite a utilização de gotas menores, por isso al- guns agrotóxicos têm sido aplicados durante a noite com eficiência de controle. Segundo Matthews (1979), existem cinco categorias de volume de aplicação para culturas de campo: alto volume (> 600 L ha-¹); volume médio (200 - 600 L ha-¹); volume baixo (50 - 200 L ha-¹); volume muito baixo (5 - 50 L ha-¹); e volume ultrabaixo (< 5 L ha-¹). No caso da aplicação com alto volume, a dose é dada por concentração do produto na calda (g 100 L-¹); se maior que 600 L ha-¹, pulverização acima da capa- cidade máxima de retenção das folhas, ocorre escorrimento. Nos demais casos, a dose é recomendada em L ou kg ha-¹. A tendência atual é a utilização de menor volume de calda, visando diminuir o custo e aumentar a rapidez do tratamento, devido ao alto custo do transporte de água ao campo e à perda de tempo representada pelas constantes paradas para reabastecimento do pulverizador. Também o menor volume de calda é im- portante quando a qualidade da água não é boa em razão da presença de sais minerais, especialmente Ca++ e Mg++ (Silva et al., 2005). Isso tem sido possível Õ 19 devido à evolução na qualidade das pontas de pulverização. Para um mesmo vo- lume de calda aplicado, existem pontas que produzem diferentes tamanhos de gotas, o que permite escolher o tipo de ponta em função da cobertura do alvo desejada e das condições ambientais no momento da aplicação. • Cobertura do Alvo A cobertura do alvo pode ser calculada pela fórmula proposta por Courshee (1967): C = 15 (VRK2)/AD em que: C = cobertura (% da área); V = volume aplicado (L ha-¹); R = taxa de recu- peração (% do volume aplicado captado pelo alvo); K = fator de espalhamento de gotas; A = superfície vegetal existente no hectare; e D = diâmetro de gotas. Em aplicações com alto volume, consegue-se elevada cobertura, mesmo com gotas grandes, porém, aumenta a probabilidade de perdas por escorri- mento. O aumento da taxa de recuperação (R) é obtido utilizando tamanho de gotas mais eficientemente coletadas pelo alvo. Gotas carregadas eletricamente induzem, na superfície foliar, carga elétrica de sinal contrário e são atraídas ele- trostaticamente, aumentando bastante a taxa de recuperação pelas folhas. O au- mento do fator de espalhamento de gotas (K) pode ser conseguido com adição de agentes tensoativos, que diminuem a tensão superficial, permitindo melhor espalhamento da gota. O aumento da área foliar implica redução da cobertura, se os demais fatores permane¬cerem constantes. O tamanho da gota também é fator importantíssimo: gotas menores pro- porcionam maior cobertura (Figura 1), mas também apresentam tempo de vida menor e maior capacidade de deriva. Assim, o tamanho ideal das gotas depende das condições ambientais (vento, umidade relativa e temperatura) e da cober- tura desejada e será definido como aquela que seja pequena o suficiente para produzir boa cobertura e grande o necessário para provocar menor perda por deriva e evaporação. Por outro lado, a cobertura desejada depende do tipo de agrotóxico a ser aplicado, tais como herbicidas (sistêmicos ou contato), insetici- das, fungicidas, dentre outros. Alguns fatores interferem no tamanho da gota gerada pela ponta de pulve- rização, como a abertura do orifício da ponta, a pressão de trabalho, composição química da calda, o uso de adjuvantes e a velocidade de ventilação quando uti- lizados pulverizadores atomizadores. Não é necessário alterar a pressão ou o volume de calda para aumentar a cobertura do alvo. Existem no mercado inúmeras possibilidades de se aumentar ou reduzir o tamanho de gota, a cobertura do alvo e a densidade de gotas, sim- plesmente alterando a ponta de pulverização utilizada (Figura 1). 20 Figura 1 - Representação do tamanho de gotas pulverizado por portas de pulverização de mes- ma vazão e com mesma pressão. Ponta de jato leque com indução de ar: gotas extremamente grossas (A); Ponta de jato leque convencional: gotas médias (B); Ponta de jato cônico: gotas finas (C) (Fonte: TeeJet Spray Products) Na Figura 2 encontram-se os possíveis exemplos de pontas de pulverização para diferentes situações abordando o tamanho de gota, densidade de gotas e cobertura do alvo. Pela Figura 2A observa-se a deposição de gotas com 250 µm (gotas médias) e 500 µm (gotas grossas) sobre duas folhas. O mesmo volume foi aplicado, en- tretanto, houve alteração na densidade de gotas e na cobertura do alvo. A folha pulverizada com gotas de 250 µm possui maior cobertura do alvo e maior den- sidade de gotas. Nesse caso, poderá ser indicada, por exemplo, na utilização de herbicidas de contato. Na outra folha, há menor cobertura e menor densidade de gotas, sendo indicado como possibilidade para aplicação de qualquer herbi- cida em pré-emergência ou herbicida sistêmico em pós-emergência. Na Figura 2 B, nas quatro porções representadas, também o volume de cal- da é o mesmo, o que muda é o tamanho das gotas, que interfere na densidade de gotas e na cobertura do alvo. A probabilidade das gotas do quadro superior esquerdo (grossa, 200 micra) acertarem o alvo (inseto) é muito pequena devido ao seu tamanho e o alvo ser móvel, mas não é indicado para controle desse in- seto. Já nos quadros superior direito (muito grossa) e inferior esquerdo (médias), os tamanhos das gotas utilizadas aumentam a probabilidade de acerto do alvo com menor possibilidade de deriva. No quadro inferior direito (finas), as gotas são muito pequenas, facilitam a deriva e há maior chance das gotas se deposita- rem fora do alvo, ocasionando perdas financeiras e impacto ao ambiente. Na Figura 2C pode ser observada a impressão de gotas em papel hidrossen- sível localizados em folhas de café adulto, simulando a deposição de calda em uma aplicação de agrotóxicos com duas pressões de trabalho (40 e 60 lb pol-2) e quatro volumes de calda (140, 170, 280 e 340 L ha-2). Verifica-se que, mesmo sob condições com baixa pressão de trabalho e menor volume de calda (figura superior esquerda), há cobertura satisfatória do alvo, com menor probabilidade de deriva e menor gasto de calda, favorecendo fatores inerentes à segurança na aplicação, menor impacto ambiental e maior rendimento operacional. Nas demais situações há maior cobertura do alvo, porém com maiores riscos de deriva e escorrimento de calda, principalmente quando utilizada a pressão de 60 lb pol-2 com volume de calda de 340 L ha-1. Nessa situação, a utilização de configurações com menor pressão e volume de calda são satisfatórias tanto na cobertura do alvo como na melhoria de condições operacionais e menor risco de deriva de agrotóxicos. A B C 21 Figura 2. A) Deposição de gotas sobre folhas; B) sobre insetos, e C) diferentes coberturas do alvo em função da pressão e volume de calda Para expressar-se numericamente o tamanho e a uniformidade das gotas, são utilizados quatro parâmetros: a) Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV): mediana do volume das gotas. É o volume da gota que divide o volume pulverizado em duas metades iguais (Figura 3). O valor do DMV está situado mais próximo das classes superiores do diâmetro, pois o volume de poucas gotas grandes equivale ao de muitas gotas pequenas. Figura 3. DiâmetroMediano Volumétrico - DMV b) Diâmetro Mediano Numérico (DMN): mediana ddo número de gotas. Média Fina GrossaMuito grossa 10 0 m ic ra 40 0 m ic ra 20 0 m ic ra 50 m ic ra Média Fina GrossaMuito grossa 10 0 m ic ra 40 0 m ic ra 20 0 m ic ra 50 m ic ra 40 lb pol-2 140 L ha-1 60 lb pol-2 170 L ha-1 40 lb pol-2 280 L ha-1 60 lb pol-2 340 L ha-1 40 lb pol-2 140 L ha-1 60 lb pol-2 170 L ha-1 40 lb pol-2 280 L ha-1 60 lb pol-2 340 L ha-1 A B C 22 É o diâmetro que divide o número de gotas em duas porções iguais (Figura 4). Figura 4. Diâmetro Mediano Numérico - DMN c) Coeficiente de dispersão (r): refere-se à relação entre DMV e DMN r = DMV/DMN O coeficiente de dispersão expressa a uniformidade do conjunto de gotas. Se o valor de r for igual a 1, indica que todas as gotas têm o mesmo diâmetro e o conjunto é rigorosamente homogêneo. Quanto mais o valor de r se afastar de 1, maior a heterogeneidade das gotas. Na prática, considera-se que, quando r < 1,4, o conjunto de gotas é homogêneo. d) Amplitude de dispersão (Span): é outra forma de expressar a uniformi- dade das gotas e é mais empregado nos dias atuais (Matuo et al., 2001). É dado pela fórmula: s = (V90 - V10)/V50 em que: V10 = diâmetro da gota abaixo do qual os volumes acumulados totali- zam 10% do volume; V90 = diâmetro da gota abaixo do qual os volumes acumu- lados totalizam 90% do volume; e V50 = valor do DMV. Assim, quanto menor o valor da amplitude (próximo de zero), mais uniforme é o conjunto das gotas na amostra, e vice-versa. • Classificação do tamanho de gotas Existem duas classificações de tamanhos de gotas: uma realizada pelo Con- selho Britânico de Proteção de Culturas (British Crop Protection Council - BCPC) e outra pela Associação dos Engenheiros Agrícolas Americanos (Asae). Essa últi- ma, mais simples e prática, tem sido utilizada por vários fabricantes de pontas de pulverização para descrever os diferentes tamanhos de gotas e facilitar a escolha certa do tipo por parte do usuário. Algumas empresas fabricantes de agrotóxi- cos introduziram a classificação da Asae de recomendação de classe de tamanho de gotas a serem produzidas em seus rótulos. No Quadro 1 encontram-se as clas- ses de tamanho de gotas proposta pela ASAE e os respectivos códigos de cores. Quadro 1. Classes de gotas propostas segundo norma da ASAE e suas aplicações na pulverização agrícola Categoria Cor DMV aproxi- mado (µm) Risco de Deriva/ Evaporação Aplicações Agrícolas Muito Fina Vermelho < 100 Muito alto Não recomendado 23 Fina Laranja 100 - 175 Muito alto Fungicida de contato Média Amarelo 175 - 250 Alto Inseticidas e herbicidas de contato Grossa Azul 250 - 375 Médio Herbicidas sistêmicos e pré-emergentes Muito grossa Verde 375 - 450 Baixo Herbicidas sistêmicos e pré-emergentes Extrema- mente grossa Branco > 450 Baixo Herbicidas sistêmicos e pré-emergentes Fonte: TeeJet Spray Products (2009). Há algumas diferenças fundamentais entre as classificações BCPC e Asae. Ambas fornecem um código de cores e uma letra para indicar o tamanho das gotas. No entanto, o foco da norma BCPC, desenvolvida por Doble et al. (1985), baseando-se na pulverização necessária para maior eficácia dos produtos fitossanitários, determinada por onde a maioria do espectro de gota é depositada. A norma Asae tem como foco o potencial de deriva, no qual a eficiência é um conceito secundário. Essa norma estabelece o limite de uma classe como a curva do diâmetro acumulado da ponta de referência mais o desvio-padrão; o BCPC não considera o desvio-padrão. Com isso, como resultados gerais, as pontas tendem a ser classificadas como (gotas) mais finas na norma Asae. • Qualidade de Distribuição da Pulverização Para apresentar boa eficiência, o agrotóxico deve ser depositado no alvo na quantidade correta, com o tamanho de gota que produza menores perdas por deriva e evaporação, desde que a eficiência biológica seja mantida. Além disso, o produto deve ser distribuído mais uniformemente na faixa tratada. Um dos fatores que podem influenciar drasticamente a eficiência de um agrotóxico é a distribuição da pulverização. A uniformidade de distribuição da pulverização, ao longo da barra ou faixa de aplicação, é um componente essencial para atingir a máxima eficiência do produto com um mínimo de custo e de contaminação fora do alvo. Os principais fatores que afetam a distribuição da calda pulverizada são: a) Ponta de pulverização: tipo, pressão, espaçamento, ângulo de pulverização, ângulo de desvio, qualidade do perfil de pulverização, desgaste, entupimento e vazão. De modo geral, os bicos de jato cônico cheio produzem as maiores gotas, seguidos pelos de jato plano e de jato cônico vazio. Mesmo dentro de uma mesma forma de jato - como os de jato plano - diferentes tipos de pontas podem produzir pulverizações com diferentes tamanhos de gotas. Por exemplo, as pontas de jato plano 11003, das séries TR Hypro, LD Hypro e Turbo Teejet, na mesma pressão de trabalho, embora com a mesma vazão, produzem gotas com tamanhos diferentes. Em relação à vazão da ponta, ela apresenta relação direta com o tamanho de gota. Pontas que apresentam vazões maiores na mesma pressão de trabalho produzem gotas maiores. As pontas de jato plano TR 11004, na pressão de 28,44 lb pol-2, com vazão de 1,29 L min-1, produzem gotas maiores que as TR 11002 na mesma pressão, porém com vazão de 0,65 L min-1. No caso de pressão, a relação é inversa ao tamanho de gotas. Um aumento na pressão reduzirá o tamanho, enquanto a redução na pressão aumentará o Õ 24 tamanho das gotas. A ponta TT 11003, na pressão de 20 lb pol-2, produz gotas maiores que a pressão de 60 lb pol-2. Em relação ao ângulo do jato emitido pela ponta, existe uma relação inversa ao tamanho de gotas. Pontas com a mesma vazão, na mesma pressão, porém com ângulos maiores, produzem gotas menores. O bico TR 8003, a 30 lb pol-2, produz gotas maiores que o bico TR 11003, na mesma pressão, ambos com a mesma vazão. b) Barra: nas barras acima da altura recomendada as gotas produzidas pelas pontas de pulverização ficam mais propensas à deriva e, quando abaixo dessa altura, não permite uniformidade no padrão de deposição, ficando faixas com excesso de deposição de gotas e outras faixas sem deposição da calda aplicada. Outro fator importante em relação à barra de pulverização é a sua estabilidade quanto ao movimento: vertical, lateral e sua inclinação. Movimentos bruscos na barra de pulverização podem levar a irregularidades na deposição da calda aplicada no alvo. Esse efeito pode ser minimizado quando se utiliza espaçamentos adequados entre os bicos e velocidade de trabalho do equipamento de acordo com as condições do terreno. c) Perdas de pressão: mangueiras e conexões, que apresentam vazamentos da calda ao longo do sistema hidráulico do pulverizador, promovem perda na pressão de trabalho, reduzindo a eficiência de aplicação. d) Filtros obstruídos: reduzem a eficiência de aplicação e podem ser considerados como uma das principais fontes de intoxicação de aplicadores, devido à necessidade de sua desobstrução durante a aplicação. e) Condições ambientais: velocidade e direção do vento, temperaturas máxima e mínima e umidade relativa do ar têm grande influência na qualidade da aplicação. g) Velocidade de deslocamento do pulverizador e a turbulência resultante: em terrenos irregulares, velocidade de deslocamento do pulverizador elevada pode reduzir a eficiência de aplicação devido às perdas ocasionadas pela deriva e ao arraste das gotas provocado pela turbulência resultante do deslocamento. • Deriva – Causas e controle Na aplicação de agrotóxicos, a deriva de pulverização é o termo usado para aquelas gotas que não foram depositadas no alvo - elas provavelmente são muito pequenas, com diâmetro menor que 100 μm, e facilmente movidas para fora do alvo pela ação do vento associado às outras condições climáticas. A deriva pode causar a deposiçãode agrotóxicos em áreas não desejadas, com sérias consequências, tais como: – danos nos cultivos sensíveis que ficam em áreas adjacentes; – contaminação de reservatórios e cursos de água; – riscos à saúde de animais e pessoas, e – perda de produto e menor eficiência na aplicação. As causas da deriva são muitas e estão relacionadas com os equipamentos de aplicação, as formulações e as condições meteorológicas. As principais são: a) Tamanho da gota: quanto menor a abertura do orifício do bico e maior a 25 pressão, menores serão as gotas produzidas e, portanto, maior a tendência de perda por deriva. Gotas menores que 100 μm são facilmente derivadas; b) Altura da ponta de pulverização: à medida que aumenta a distância entre a ponta de pulverização e a área-alvo, maior será a influência da velocidade do vento sobre as gotas e maior a tendência de deriva; c) Velocidade de operação: velocidade mais alta contribui para que as gotas sejam arrastadas para trás e levadas pela corrente de vento ascendente, formando um turbilhão sobre o pulverizador, arrastando as gotas pequenas e aumentando a deriva; d) Velocidade do vento: é o fator de maior impacto entre os fatores meteorológicos. A deriva aumenta linearmente com a velocidade do vento. No entanto, a ausência de vento no momento da aplicação não é recomendada, pois não permite a deposição das gotas produzidas no alvo, e) Temperatura e umidade do ar: temperaturas ambientes acima de 25°C e baixa umidade relativa (UR < 50%) tornam as gotas pequenas propensas à deriva e à volatilização. Por isso, em condições de temperatura elevada deve-se aumentar o tamanho da gota ou suspender a aplicação, para evitar grandes perdas por deriva e, ou, volatilização. Sob condições normais de umidade e temperatura (20°C e 80%, respectivamente), uma gota de 100 µm evapora completamente em 50 segundos. Em condições mais quente e seca (30°C e 50%, respectivamente), a mesma gota é evaporada em 16 segundos. Uma gota de 50 µm, sob condições de baixa umidade e alta temperatura (30°C e 50%, respectivamente) percorreria apenas 15 cm antes de ser evaporada. f) Volume de aplicação: quando a aplicação é realizada em baixo volume, geralmente utilizam-se gotas pequenas. Nessas condições, deve-se ter atenção especial com a deriva, h) Formulação utilizada: se esta apresentar alta pressão de vapor, devem-se adotar medidas mais incisivas para minimizar a volatilização (ex.: aplicar em condições de menor temperatura e maior umidade relativa do ar). Em alguns países europeus foi definido um padrão mínimo de gota produzida, em termos de DV0,1. Segundo esse critério, os bicos de pulverização devem atingir um DV0,1 maior do que o valor de um bico XR11002, à pressão de 35,55 lb pol-2, que é de 115 μm. • Equipamentos e técnicas para aplicação de agrotóxicos via líquida Os equipamentos para aplicação de líquidos podem ser divididos em injetores, pulverizadores e nebulizadores. Os injetores aplicam um filete líquido (sem fragmentação em gotas); os pulverizadores, gotas; e os nebulizadores, neblina. • Tipos de pulverizadores A classificação mais comum de pulverizadores leva em consideração o tipo de energia utilizado no processo de produção de gotas. Eles podem ser: a) De energia hidráulica ou de pressão: são os mais utilizados devido à grande facilidade de adaptação dos bicos de pulverização, proporcionando grande faixa 26 de vazão, tamanhos de gotas e formas de jato para diversos tipos de aplicação, b) De energia centrífuga: nessa categoria se encontram os pulverizadores portáteis de disco e os aviões agrícolas quando operando com bicos rotativos de tela do tipo miconair ou de disco tipo aeroturbo. c) De energia pneumática, d) De energia térmica, e e) De energia elétrica. Outra maneira de classificar os pulverizadores é quanto à forma de direcionar as gotas. Há três tipos: a) Pulverizador de jato lançado: quando a própria inércia das gotas e a gravidade levam em direção ao alvo, como é o caso dos costais manuais e os pulverizadores de barras comuns e suas adaptações. A escolha do pulverizador ideal depende do tipo de alvo a ser pulverizado, do nível tecnológico do agricultor, do tamanho e da topografia da área. b) Pulverizadores de jato assistido: quando uma corrente de ar é criada para levar as gotas em direção ao alvo. Como exemplos podem ser citados os turbos pulverizadores utilizados em cafeicultura e fruticultura e os equipamentos com barra do tipo Vortex. c) Pulverizadores eletrostáticos: quando as gotas produzidas são carregadas eletricamente para serem atraídas pelas cargas opostas das superfícies das folhas. d) Pulverizador costal: O pulverizador costal manual (Figura 5A e B) é composto por um tanque, normalmente com capacidade para 20 litros de calda, uma bomba de pistão ou êmbolo, acionado manualmente por meio de uma alavanca. Pode apresentar ponta única de pulverização ou barra com duas ou mais pontas. De todos os pulverizados disponíveis para os produtores, esse é o que apresenta maior grau de dificuldade de operação, devido, principalmente, ao baixo nível de instrução dos operadores e à falta de controles refinados, como: pressão de trabalho, velocidade de operação e altura de barra. Os pulverizadores costais manuais apresentam baixo rendimento operacional em consequência do tamanho do reservatório reduzido e da pequena faixa de aplicação. A utilização de barras com dois (Figura 5C) ou três bicos, associadas às pontas de pulverização de impacto (maior ângulo de abertura), são alternativas para aumentar a faixa aplicada. No entanto, se a vazão e a pressão requeridas pela ponta de pulverização forem altas, acima de 45 lb pol-2, o operador não consegue trabalhar com a pressão necessária. Nesse sentido, pontas de pulverização de baixa vazão e com grandes ângulos de abertura do jato e que operam a baixas pressões (faixa de 15 a 45 lib) têm sido priorizadas. A falta de uniformidade de pressão e vazão nesse tipo de pulverizador pode ser facilmente solucionada, adotando-se válvulas reguladoras de pressão (Figura 5D). Para aplicações de inseticidas e fungicidas em cultivos de citrus, goiabeira, mangueira, café ou hortaliças (tomate, pimentão, etc.), pode-se utilizar uma ponta de jato cônico vazio ou uma ponta dupla para melhorar a cobertura do alvo (Figura 5C). 27 Figura 5. Pulverizador costal manual (A e B), válvula reguladora de pressão (C) e barra com dois bicos para melhor cobertura do alvo (D) e) Pulverizadores estacionários: São utilizados para aplicação de inseticidas e fungicidas, principalmente em lavouras de tomate e outras hortaliças. Esse equipamento também é amplamente utilizado para aplicação de agrotóxico em lavouras de café, citros e outras culturas perenes. São constituídos por uma bomba, geralmente de pistão, que pode ser acio- nada manualmente (pulverizador capeta), ou por motores elétricos ou a gasolina (Figura 6A e B), que succiona a calda a ser pulverizada do depósito. A distribuição da calda na lavoura é realizada por meio de mangueira com comprimento que varia geralmente de 20 a 50 m, onde é acoplado um sistema com gatilho e lança de pulverização. Lança de pulverização: é a parte extrema do pulverizador e serve de suporte às pontas de pulverização. Pode ter tamanho variado, com o mínimo de 50 cm de comprimento, mas o ideal é ser maior, para emitir o fluxo de calda longe do corpo do operador, minimizando sua exposição. Alguns fabricantes fornecem lança extensível de diversos tamanhos, para possibilitar a pulverização com maior segurança. Na extremidade da lança pode-se adicionar uma pequena barra, com nú- mero variável de pontas de pulverização. Deve-se evitar a aplicação de volume de calda muito alto, que proporcione escorrimento superficial e consequente A B C D a 28 redução da eficiência da aplicação. Figura 6 - Pulverizador estacionário manual (A); pulverizador estacionário a gasolina (B) f) Pulverizador acoplado sobre rodas (ciclojet, carroçajet):Trata-se de um pulverizador costal adaptado sobre uma plataforma dotada de rodas, que, ao girarem, aciona o pistão da bomba, gerando a pressão da pulverização (Figura 7A). Esse tipo de pulverizador reduz o esforço do operador, além de aumentar o rendimento operacional, com uma faixa aplicada de até 4 m em função da largura da barra. Também têm sido empregados equipamentos com mecanis- mo semelhante, tracionados por animais, sendo que este possui maior tanque e maior barra, o que garante maior rendimento (Figura 7B). Dentre as vantagens desse equipamento, destacam-se a redução da expo- sição do operador e a uniformidade do volume de calda aplicado, mesmo com alteração da velocidade, pois a variação da velocidade apresenta uma relação direta com a pressão, fazendo com que o volume de calda pulverizado na área seja uniforme. Figura 7. Pulverizador acoplado sobre rodas - Ciclojet (A) e Pulverizador acoplado sobre rodas com tração animal - Carroçajet (B) g) Pulverizador de barra acoplado ao trator: Os modelos mais comuns pos- suem capacidade do tanque variando entre 400 e 2.000 litros. O tamanho da barra é variável e deve ser planejado de acordo com a topografia do terreno. Em áreas planas e com vegetação baixa, sem presença de restos de tocos, deve-se priorizar barras maiores (Figura 8A), o que aumenta a capacidade operacional do equipamento. Em terrenos com topografias irregulares, com presença de tocos e com pequenas dimensões é aconselhado trabalhar com barras menores (Figura 8B), no sentido de reduzir oscilações, assim como facilitar manobras. Terrenos com inclinações acentuadas inviabilizam a utilização de pulveriza- dores tratorizados, uma vez que a uniformidade de aplicação é reduzida em fun- ção da dificuldade em manter a altura adequada da barra. O número de pontas na barra varia de acordo com o espaçamento entre elas, que na maioria dos pulverizadores é fixada em 0,5 m, e o tamanho da barra. A B A B 29 Pulverizadores tratorizados, quando utilizados corretamente, proporcionam alto rendimento e eficiência, maior segurança ao aplicador, pois reduzem o risco de exposição na aplicação principalmente em tratores com cabine fechada. Adaptações realizadas no pulverizador de barra, cujo formato denominou-se “Conceição”, é um dos principais equipamentos para aplicação de herbicidas em reflorestamento. A “Conceição” (Figura 8C) apresenta os mesmos princípios dos pulverizadores de barra comum, podendo, da mesma forma, ser acoplados no sistema de três pontos do trator ou como carretas arrastadas. O que os difere é a estrutura da barra, que apresenta uma manta protetora, para evitar que as gotas pulverizadas atinjam as plantas não-alvos. A largura da barra protegida pode variar de 1,5 a 3,0 m, conforme o espa- çamento entre linhas de plantio ou a finalidade de aplicação. Para aplicação de herbicidas para controle da rebrota são usadas menores larguras de barras (1,5 a 2,0 m); na entrelinhas de plantio, largura de barra pode variar de 2,0 a 3,0 m, em função do espaçamento da cultura. Cuidados devem ser tomados com relação ao espaçamento entre pontas de pulverização na barra protegida, de modo a evitar o escorrimento da calda her- bicida na manta lateral (Figura 8D). Todos os arranjos das pontas de pulverização ao longo da barra devem ser testados para cada situação (tipo de ponta, ângulo de inserção na barra e largura da barra), de modo a se ter uniformidade de de- posição da calda. Figura 8. A) Pulverizador de barra acoplado ao trator; B) Pulverizador de barra adaptado para áreas com presença de tocos (pontas de longo alcance); C) pulverizador de barra protegida “Con- ceição” e D) detalhe do escorrimento de calda na manta protetora da “Conceição” h) Turbo atomizadores: São também chamados de pulverizadores hidropneu- máticos e utilizados na aplicação de agrotóxicos em culturas perenes como café, citrus e outras frutíferas. Õ A B C D 30 O principio de funcionamento desse equipamento consta de duas etapas. Na primeira, o líquido é fragmentado, por força hidráulica, por meio da passa- gem da calda pelo orifício da ponta, sob influência da pressão de trabalho. As gotas devem ser de tamanho tal que não sejam muito propensas à deriva e que tenham força cinética capaz de atingir o alvo. A segunda etapa consiste na fragmentação do líquido pelo sistema pneumá- tico, ou seja, utilizando a velocidade do vento produzido pelo ventilador acopla- do ao sistema, garantindo o carregamento da gota do pulverizador até o alvo. Os pulverizadores pneumáticos podem ser utilizados acoplados a tratores e de aplicação manual por meio de pulverizadores costais para aplicação de fun- gicidas, inseticidas, acaricidas, entre outros, em culturas como café, fruteiras, to- mate, etc. i) Turbo atomizador tratorizado: Para acionamento desse pulverizador a for- ça utilizada é gerada pelo trator por meio da tomada de potência (TDP) ou por bombas acionadas do próprio pulverizador. As pontas geralmente são montadas em uma barra em forma de arco, envol- vendo o ventilador e montada na saída de ar. Dessa forma, as gotas produzidas são lançadas diretamente na corrente de ar, para serem conduzidas até a planta. O tipo de ponta de pulverização nesse sistema geralmente é do tipo cone cheio, sendo importante a aferição da vazão de todas as pontas de maneira que todas tenham a mesma vazão na mesma pressão. O ponto-chave na utilização desse pulverizador é escolher a vazão de ar ne- cessária para que ocorra deposição no alvo sem, contudo, atravessar o dossel da planta, incidindo em deriva e contaminação ambiental. Nesse equipamento, é importante a angulação dos defletores e a ativação de toda a barra. Muitas vezes, as palhetas defletoras direcionam o jato de ar para locais sem necessidade de aplicação, como o solo e o caule de plantas. Nesse caso, não é necessária a ativação da totalidade da barra, mas pode ser necessária a correção dos ângulos dos defletores. j) Turbo atomizadores costais: O princípio de funcionamento é o mesmo do tratorizado, porém utiliza uma só ponta em um grande bocal na ponta da lança. O vento é gerado por meio de uma bomba movida à gasolina com motor dois tempos. A bomba e o tanque são carregados nas costas do aplicador. Possui bai- xo rendimento operacional devido à baixa capacidade de armazenamento de calda no tanque. A grande vantagem da utilização desse pulverizador em detri- mento ao pulverizador costal manual é não necessitar de acionamento manual, o que permite melhor operacionalidade ao aplicador. l) Aplicação aérea: Por definição, aplicação aérea é um trabalho no qual a ae- ronave é usada como uma plataforma móvel para aplicar materiais como inseti- cidas, fungicidas, herbicidas, fertilizantes, sementes, substâncias químicas para controle de incêndio, etc. Geralmente são utilizadas aplicações aéreas nos cam- pos da agricultura, silvicultura, combate de incêndio e na saúde pública. A aplicação de agrotóxicos com uso de aeronaves agrícolas, aviões e helicópteros (Figura 9) vem aumentando nos últimos anos. Na utilização de aeronaves agrícolas, os cuidados são maiores e alguns diferentes daqueles observados nos equipamentos terrestres, como: efeitos aerodinâmicos do voo; faixa de deposição de gotas maior do que a extensão das barras; menor vazão por área; maior distância da barra em relação ao Õ 31 alvo; pressões mais baixas e possibilidades do ajuste das gotas para compensação em relação às variações climáticas durante as aplicações, sem necessidade da troca da ponta e do volume por área. A aplicação de agrotóxicos com uso de aeronaves possui vantagens, quando comparado à aplicação terrestre: – Rapidez de aplicação, mesmo em grandes áreas; – Precisão na aplicação, devido à presença de sensores ao longo do equi- pamento de aplicação; possibilidade de aplicação no momento correto, timing; – Não amassamento da cultura; – Não compactação do solo. A aplicação aérea de agrotóxicos deve ser realizada por empresashabilita- das; normalmente o serviço de aplicação é terceirizado, o que em alguns casos pode provocar atrasos no momento adequado da aplicação. Como desvantagens, enquadram a maior possibilidade de deriva, devido à maior distância da barra de aplicação e o alvo; maior dificuldade de calibração e problemas com obstáculos que podem levar à queda da aeronave. Figura 9. Aeronaves agrícolas no momento da aplicação: A) Avião e B) helicóptero Segundo legislação específica, os produtos a serem utilizados deverão estar registrados para o uso e aplicação com aeronaves agrícolas. 6. COMPONENTES BÁSICOS DOS PULVERIZADORES HIDRÁULICOS O pulverizador pode ser conceituado como uma máquina aplicadora de agrotóxico na forma de gotas, dirigidas ao alvo, em tamanho e densidades con- troláveis. Existe grande variedade de pulverizadores, todavia, quando os diferentes tipos são comparados, verifica-se que os princípios de funcionamento são se- melhantes. Todos eles apresentam em comum três elementos: tanque, que armazena o líquido a ser pulverizado; bomba ou sistema de A B Õ 32 alimentação por gravidade que irá conduzir o líquido até uma ou mais saídas, que são os bicos (pontas de pulverização), que irão produzir e distribuir as gotas desejadas. Entre as principais partes dos pulverizadores tratorizados podem ser citadas: depósito, agitadores de tanque, registros, filtros, bomba, câmara de compressão, regulador de pressão, manômetro, registro ou válvulas direcionais, barra, bicos ou pontas de pulverização. Não é objetivo desse estudo descrever com detalhes todas as partes de um pulverizador, porém será feito comentários mais aprofundados sobre algumas dessas partes. • Filtros Devem ser colocados na boca do tanque, antes da bomba, na linha de pulve- rização e nos bicos, totalizando de três a seis filtros por pulverizador. Os filtros Eles apresentam quatro funções importantes: a) Garantir maior uniformidade nas aplicações, não permitindo que o entu- pimento das pontas de pulverizações cause a distribuição desuniforme da calda; b) Garantir maior capacidade operacional dos pulverizadores, diminuindo o tempo parado para desentupir as pontas de pulverização, tratando, assim, maior área por dia; c) Garantir segurança ao trabalhador, não o expondo ao trabalho de desen- tupir os bicos, evitando-se o contato direto com a calda, ficando o trabalhador com a função de apenas conduzir o conjunto pulverizador, e d) Garantir maior durabilidade às pontas pulverizadoras, diminuindo as im- purezas e, assim, a abrasão nos bicos, além de evitar o uso de material não reco- mendado, como arame para desentupir as pontas. As malhas dos filtros devem ser escolhidas em função da formulação do pro- duto a ser aplicado. Pó molhável e seus derivados (suspensão) devem usar filtros com malha 50. Para as formulações pó solúveis, solução-aquosa e concentra- dos emulsionáveis podem ser usadas malhas 80 ou 100. O modelo e tamanho das pontas de pulverização também influenciam a escolha da malha do filtro. As pontas de menor vazão exigem filtros mais finos (malha 100) e nas de maior vazão as malhas podem ser mais grossas (malha 50). É importante seguir as re- comendações dos catálogos. • Bomba A função da bomba é pressionar a calda, colocando no sistema a energia que será usada para fazer a pulverização. Existem vários tipos de bombas: de pistão, de diafragma, de roletes, de engrenagens e centrífuga. A grande maioria das bombas comercializadas no Brasil ainda é de pistão, embora a bomba centrífuga esteja sendo muito utilizada nos autopropelidos. As bombas de pistão têm sua capacidade de deslocamento diretamente ligada à sua rotação e estão projeta- das para trabalhar entre 450 e 540 rpm. No Brasil, a capacidade nominal de uma 33 bomba pistão é medida a 540 rpm; assim, uma bomba especificada para 40 L min-1, se estiver a 450 rpm, desloca apenas 33,3 L min-1. Esse cálculo é feito por regra de três simples. Dessa forma, ao regular um pulverizador para aplicação de um agrotóxico, deve-se somar a vazão individual dos bicos e observar se a bomba é capaz de deslocar volume suficiente para atender a demanda dos bicos. Tecnicamente, não se deve usar mais de 60% do volume real deslocado; o restante, muitas ve- zes, tem de ser usado para agitação da calda no tanque. • Regulador de pressão Basicamente, é um divisor de volume no qual uma parte da calda vai para as pontas de pulverização e a outra retorna ao tanque. Essa peça contém uma entrada que recebe a calda (líquido) que vem do tanque e duas saídas: uma que comunica com pontas de pulverização e outra que leva o excesso de calda ao tanque. Para variar a proporção do líquido que vai para pontas de pulverização e a que retorna ao tanque, basta girar um parafuso, o qual comprime uma mola que comanda a passagem para o retorno. Quanto mais se comprime essa mola, mais difícil será o retorno e mais líquido será enviado às pontas de pulverização. Como a saída das pontas de pulverização é pequena, a pressão nessa parte do circuito se elevará até que as pontas de pulverização permitam a vazão deseja- da, por isso é chamado de regulador de pressão. Os pulverizadores de maior capacidade, como autopropelidos, já são equipa- dos com sistemas eletrônicos computadorizados, onde o regulador de pressão tem um sistema que ajusta a pressão de acordo com o volume pré-programado e a velocidade de operação, com uma válvula de esfera funcionando como es- trangulamento ou retorno. Também nesses pulverizadores já estão sendo insta- lados controladores de pulverização que têm gerado ganhos em uniformidade de pulverização, economia de produtos e aumento da capacidade operacional. • Manômetro Tem a função de medir a energia do sistema para pulverizar (lb pol-2 ou kg cm-2). Os manômetros com banho de glicerina têm durabilidade maior, porém não suportam as árduas condições de trabalho no campo. Os manômetros de- vem ser usados apenas no momento da calibração, devendo posteriormente ser desligados ou retirados dos circuitos. Uma boa alternativa para prolongar a vida útil deste equipamento seria o kit manômetro, que é instalado no bico no momento da calibração e depois retirado. Além de aumentar a durabilidade do equipamento, ele determina a pressão real de saída da calda. Normalmente, o manômetro colocado no circuito, longe dos bicos, pode indicar pressão maior que a encontrada nas pontas de pulverização, pois existem perdas de pressão por mangueiras, conectores, filtros, cotovelos, etc. • Barra O comprimento da barra varia conforme o modelo do pulverizador. Quanto mais comprida, maior a capacidade operacional, embora também aumente a oscilação e a heterogeneidade da aplicação. Tanto as oscilações verticais quanto as horizontais influenciam a uniformidade de deposição da calda pulverizada. 34 O sistema de barra autoestável tem a barra independente da estrutura do trator, com molas e amortecedores para absorver os impactos provenientes das irregularidades do terreno, e possibilita a construção de barras bastante longas (27 m), sem grandes problemas de oscilações, com sistema de nivelamento individualizado para cada barra, mantendo a altura (0,50 a 1,80 m). Outro aspecto importante que deve ser levado em consideração na aplica- ção de agrotóxicos é com relação à altura da barra. Na altura ideal (Figura 10A), o agrotóxico é distribuído uniformemente ao longo da faixa de aplicação. Quando a barra estiver abaixo da altura recomendada (Figura 10B), a pulverização não será uniforme, podendo ser observadas falhas no controle de plantas daninhas, alternando com toxidez nas culturas. Figura 10. Faixa de deposição do volume pulverizado oriunda de barra na altura correta (A) e abaixo da altura recomendada (B) • Bico É todo o conjunto e suas estruturas de fixação na barra como corpo, capa, filtro ou peneira e ponta de pulverização (Figura 11). Figura 11. Componentes de um bico de pulverização A ponta de pulverização, também chamadade bico, é o componente res- ponsável pela formação e distribuição das gotas na pulverização. Segundo Matthews (1979), as pontas podem ser classificadas de acordo com a forma de energia utilizada na formação das gotas: gasosa, centrífuga, cinética, térmica, elétrica, hidráulica ou combinada. Dentre esses diferentes tipos de pontas de pulverização, as de energia hidráulica ainda são as mais utilizadas para aplicação de agrotóxicos, por isso, apenas estas serão discutidas a seguir. Diferentes pontas de pulverizações produzem diferentes tamanhos de go- tas, com perfis, ângulos de jato (Figura 12) e vazões distintas. Algumas dessas características são indicadas pelo número da ponta (Figura 13). Em relação ao ângulo do jato formado pela ponta de pulverização, a pressão de trabalho pode aumentar ou diminuí-lo, respectivamente, em função do aumento ou da dimi- Õ A B 35 nuição da pressão (Figura 8). (14,22 lb pol-2) Figura 12. Ângulo formado pela ponta de pulverização, em função da pressão de trabalho Figura 13. Nomenclatura das pontas de pulverização As pontas de energia hidráulica de pulverização na agricultura têm três fun- ções importantes: a) Determinar a vazão: a vazão é função do tamanho do orifício, pressão de trabalho e característica do líquido aplicado, b) Distribuição: o modelo da ponta de pulverização, a pressão de trabalho e características do líquido aplicado que irão influenciar na distribuição da calda, e c) Tamanho da gota: é a função do modelo da ponta de pulverização, da pressão de trabalho e característica do líquido. É importante observar que todas as funções da ponta de pulverização de- pendem da pressão de trabalho, que é a fonte de energia para a formação da gota. A unidade internacionalmente usada é o “bar”, porém, a mais comum é “libras” (lb pol-2). Veja, a seguir, outras unidades e as relações entre elas: 1 bar = 14,22 lb pol-2 = 100 kPa = 1,02 kg cm-2 A vazão de uma ponta de pulverização depende do tamanho do orifício de saída, da pressão de trabalho e da densidade e viscosidade do líquido. Para cada um desses fatores, é possível utilizar fórmulas e tabelas de correção, a fim de determinar a vazão correta da ponta. Entretanto, as variáveis mais importantes 36 são a pressão e a densidade. A fórmula pode ser utilizada no cálculo da vazão: V1/√P1 = V2/√P2 em que V1 = vazão da ponta 1; V2 = vazão da ponta 2; P1 = pressão 1; e P2 = pressão 2. Assim, para dobrar a vazão de uma ponta, é necessário quadruplicar a pres- são de trabalho. A variação da vazão, devido à densidade do líquido, pode ser corrigida utili- zando-se os fatores de conversão do Quadro 2. Como as tabelas são calculadas para o uso da água (densidade =1), deve-se fazer a conversão quando a densida- de da calda for diferente de 1. Quadro 2. Fatores de conversão de vazão para líquidos com densidade diferente da água Densidade (kg L-1) 0,84 0,96 1,00 1,08 1,20 1,28 1,32 1,44 1,68 Fator de conversão 0,92 0,98 1,00 1,04 1,10 1,13 1,15 1,20 1,30 Fonte: Matuo et al. (2001) Quanto à forma do jato e sua distribuição, os bicos hidráulicos se dividem em pontas de jato cônico e de jato leque. Os de jato cônico se subdividem em cone cheio e cone vazio, e as pontas de jato plano, em pontas de impacto e leque. • Pontas de jato cônico São de uso comum entre os bicos hidráulicos, principalmente as de cone vazio (Figura 14 A). A deposição de gotas no cone vazio se concentra somente na periferia do cone; no centro do cone praticamente não há gotas. Já nos de cone cheio (Figura 14 B), a distribuição das gotas atinge também o centro da pulverização. Existem dois modelos de bicos cônicos: os da série X e os da série D. Os pri- meiros são pontas de baixa vazão, com gotas muito pequenas. Essas pontas têm seu número relacionado à vazão em galões americanos por minuto, trabalhando a 40 lb pol-2. Assim, um bico X1 é uma ponta capaz de aplicar 3,785 L min-1, se estiver trabalhando a 40 lb pol-2. Nos bicos da série D o filtro é de ranhuras e não de malhas como nos demais bicos. O núcleo é conhecido com outros nomes, como difusor, caracol, espiral e “core” e serve para proporcionar o movimento helicoidal ao jato líquido que por ele passa. Após tomar esse movimento, o líquido passa através do orifício circular, formando um cone. A combinação de difusores e chapa orifício é que determina se o cone é cheio ou vazio. No cone cheio, o difusor tem apenas um furo no centro e, no vazio, o difusor só tem furos nas laterais. Figura 14. Pontas de jato cônico vazio (A); e cone cheio (B) A B 37 • Pontas de jato leque Produzem jato em um só plano (Figura 15) e seu uso é mais indicado para alvos planos, como paredes, solo e culturas, como soja, trigo, milho, etc. As pontas de pulverização do tipo leque podem ser de deposição contínua ou descontínua. A ponta com deposição contínua (bico Even) pulveriza uma faixa uniforme e é indicada para pulverização em faixas sem haver sobreposição com os bicos vizinhos. As pontas de pulverização com deposição descontínua produ- zem um padrão de deposição desuniforme, também chamado de distribuição normal, decrescendo do centro para as extremidades. São recomendados para trabalhar em barras, havendo 30% de sobreposição com cada bico vizinho. De- ve-se observar não somente o padrão de deposição de uma ponta isolada, mas a somatória da aplicação, cujo coeficiente de variação não deve exceder a 10%. As pontas de pulverização do tipo leque são comercializadas com diferentes tipos de ângulos; os mais comuns são os de 80o e 110 o. Elas são padronizadas pela cor: laranja indica vazão de 0,10 galão por minuto; as verdes, 0,15 galão por minuto; as amarelas, 0,20 galão por minuto; as azuis, 0,30 galão por minuto; e as vermelhas, 0,4 galão por minuto - isso se estiverem trabalhando a 40 lb pol-2. Cada galão equivale 3,785 litros. Os tamanhos de gotas produzidas pelas pontas de pulverização são variáveis e dependentes do tamanho do orifício, da pressão de trabalho e da característi- ca do líquido. Como já foi discutido, o tamanho da gota tem relação direta com a deriva, evaporação e cobertura do alvo. Dessa forma, escolher uma ponta que produza uma gota de tamanho adequado ao produto a ser utilizado e ao alvo a ser atingido é de fundamental importância. Figura 15. Pontas de pulverização de jato plano. Jato plano (A); Jato plano tipo impacto (B); Duplo jato plano (C); Duplo jato plano de impacto (D); Jato plano com Indução de ar (E). Fonte: TeeJet Spray Products • Pontas de jato leque de impacto Pontas de jato plano do tipo impacto apresentam um plano inclinado na sa- ída do jato, abrindo um leque de grande ângulo (Figura 16 A e B). A grande van- tagem do ângulo maior na saída do jato é a maior faixa de aplicação pulverizada por ponta. Tais pontas permitem pulverização mais próxima do alvo, ou mais distantes umas das outras, possibilitando espaçamento entre pontas de até 1,2 m, mesmo sob baixa pressão - fato este que reduz a deriva, além de aumentar o rendimento operacional. Comparativamente às de jato plano convencional, que operam no espaçamento de 0,5 m, as pontas de impacto espaçadas de 1,0 m re- duzem pela metade o volume de calda e o caminho percorrido em determinada área pulverizada. São indicadas para aplicação de herbicidas sistêmicos em pós- -emergência ou herbicidas aplicados em pré-emergência, todas em área total. A B C D E 38 Figura 16. Secção transversal da ponta de pulverização Turbo Teejet (A) e Ponta de pulverização de impacto DT da empresa Hypro (B) Pontas de jato duplo plano foram desenvolvidas com o objetivo de aumen- tar a cobertura do alvo, tanto das pontas de jato plano comum como das de impacto (Figura 17A). As pontas de jato plano comum melhoram a eficiência na deposição de inseticidas e fungicidas no dossel de culturas fazendo com que a calda seja distribuída uniformemente e atinja o terço inferior da planta. Essa ponta forma dois jatos planos: um direcionado para frente e outro para trás,formando um ângulo de 60o entre eles (Figura 17B). Por apresentar me- nor ângulo de abertura do jato (80o), o espaçamento entre pontas não pode ser maior que 50 cm. Também não é recomendada altura de barra superior a 50 cm para evitar deriva, uma vez que as gotas produzidas são menores do que as de uma ponta com jato único. Nas pontas de impacto conjugadas, com mecanismo de jato duplo (Figura 17), o funcionamento é semelhante ao da anterior (Figura 16), porém apresen- tando maior tamanho de gota e ângulo de saída do jato, podendo aumentar o espaçamento entre pontas e o rendimento operacional, sem reduzir a eficiência de aplicação. Figura 17. Ponta de jato duplo Turbo Twin Jet (A); Secção transversal da ponta Turbo Twin Jet (B) Pontas de jato plano com indução de ar (Figura 18) permitem minimizar a deriva de gotas, no momento da aplicação do agrotóxico. O principio de funcionamento consta da turbulência da calda devido à aspi- ração de ar por um sistema Venturi (Figura 18A). A turbulência promove a pro- dução de gotas grossas a extremamente grossas, reduzindo significativamente a ocorrência daquelas propensas à deriva. Devido à turbulência da calda, geral- mente há produção de espuma, conforme o produto químico utilizado e, por isso, comumente denominado de bico espuma. Há uma perda de carga promo- vida pela entrada de ar na ponta, fazendo com que não possam ser utilizadas pressões muito baixas (abaixo de 200 kPa). Algumas pontas já apresentam o sis- tema de impacto adjunto à indução de ar, como é o caso da ponta Turbo Teejet Induction (Figura 18B), ou mesmo o duplo leque, como a ponta AVI TWIN da Jacto. A B Plano inclinado da saída do jato A B 39 Figura 18. Secção transversal de ponta de pulverização com indução de ar (A); Ponta de pulveri- zação Turbo Teejet Induction (B) 7. CALIBRAÇÃO DO PULVERIZADOR É a regulagem da máquina com o objetivo de aplicar de maneira mais unifor- me possível a quantidade de herbicida recomendada. Consiste em determinar o volume de calda que o pulverizador vai aplicar por unidade de área. Nesse item, deve-se simular a calibração de um pulverizador de barra, cujo raciocínio se re- pete para os demais pulverizadores. 7.1. Principais passos da calibração a) Verificar o funcionamento da máquina: se não há eventuais vazamentos e se os componentes estão funcionando a contento; b) Verificar e adequar a velocidade de trabalho do equipamento. Nos pulve- rizadores acoplados ao sistema de três pontos do trator a velocidade varia de 4 a 6 km h-1, todavia, nos autopropelidos, a velocidade pode chegar a 20 km h-1; c) Dimensionar a barra em função da topografia do terreno e do tipo de bar- ra. A altura da barra deve-se manter constante. Em terrenos planos, as barras podem atingir até 27 m de largura; d) Escolher o tipo de ponta de pulverização correta, em função do alvo a ser atingido, da cobertura necessária, do padrão de deposição deste, do agrotóxico e da formulação a ser aplicada, das condições ambientais (vento, umidade re- lativa do ar e temperatura), e não apenas em função do volume a ser aplicado; e) Ajustar a pressão de trabalho de acordo com a ponta selecionada, obser- vando sempre a recomendação dos fabricantes; f ) Determinar a distância correta entre bicos e a altura de trabalho da barra. A altura correta depende do ângulo da ponta de pulverização e da distância entre elas; g) Verificar a uniformidade de deposição das pontas de pulverização (padrão de deposição individual e na barra), substituindo aquelas com desvio superior a 10%; h) Marcar uma distância de 50 m no local onde será feita a aplicação; i) Percorrer esses 50 m, simulando a pulverização, determinando-se o tempo gasto (ex.: 40 segundos); j) Determinar a vazão da barra nesse tempo (ex: em 40 segundos a vazão mé- dia de uma barra de 10 pontas 110 03, espaçadas entre si de 50 cm, foi de 10 L); k) Determinar a faixa pulverizada (faixa pulverizada = número de pontas x Orifício de indução de ar Orifício de saída A B 40 distância entre elas). No caso do exemplo: Fp = 10 x 0,5 = 5 m, e l) Determinar a área pulverizada no tempo gasto para percorrer os 50 m (área pulverizada = faixa pulverizada x distância percorrida). No caso do exemplo: Ap = 5 m x 50 m = 250 m2, m) Determinar o volume de aplicação por hectare: 250 m2 ----------------10 L 10.000 m2 --------------X X = 400 L ha-¹ 8. BALIZAMENTO O balizamento deve ser realizado sempre que se realiza a pulverização, pois reduz os riscos de repetir a aplicação sobre uma mesma área ou de não aplicar em determinadas partes. Os erros decorrentes de balizamentos malfeitos, ou mesmo do não balizamento, são responsáveis por menor eficiência no controle do alvo e possível intoxicação da cultura, além de perdas financeiras e impacto ao ambiente. Os principais métodos de balizamento são: a) Balizamento manual: é um processo simples e eficiente, comumente re- alizado por pequenos produtores, porém muitas vezes é ignorado ocasionan- do erros graves na aplicação. O processo mais simples é contar as fileiras das culturas emergidas e, assim, tem-se sempre o referencial onde se deve retornar pulverizando. Quando não há cultura emergida, como no caso da dessecação, devem-se utilizar balizas (estacas, Figura 19 A) posicionadas ao centro da barra de aplicação ou, em caso de se utilizar apenas uma ponta, no centro do jato pul- verizado. Para que a aplicação costal seja eficiente, recomenda-se a utilização de duas pessoas, uma responsável pela aplicação e outra posicionando as balizas e preparando a calda. Esse processo reduz o tempo de aplicação, é mais preciso, melhora a eficiência de controle e reduz gastos financeiros, b) Balizamento por meio de GPS: sistema preciso e prático estando cada vez mais acessível ao campo. Sua utilização é mais comum em extensas áreas de plantio. O sistema de GPS vem adaptado geralmente a uma barra de luz (Figura 19 B) em pulverizadores tratorizados, autopropelidos e aviões Uma luz locomo- ve-se na barra indicando ao tratorista ou piloto para que lado deva ser ajustado o caminhamento para que seja realizada a aplicação no local desejado. O siste- ma de posicionamento traça rotas virtuais como se fosse uma estrada a qual o tratorista deve seguir, e c) Balizamento com marcador espuma: trata-se de um bico que forma uma espuma densa e grande que é lançada ao solo a intervalo regulares, marcando onde o tratorista deve retornar. A espuma persiste no solo por alguns minutos e não deixa resíduos danosos à planta e ao ambiente (Figura 19C). Õ 41 Figura 19. Balizamento manual por meio de estacas de bambu (A); Sistemas de balizamento por GPS acoplado à barra de luz (B) e Marcador espuma (C). 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS O sucesso da aplicação depende do conhecimento técnico de profissionais e produtores que lidam com de agrotóxicos. O conjunto de informações bási- cas aumenta o rendimento operacional de equipamentos, melhora a segurança do aplicador e minimiza riscos de contaminação ambiental. Ações educativas conjuntas de empresas públicas e privadas são fundamentais para aumentar a eficiência na aplicação de agrotóxicos. É de suma importância aliar treinamento e fiscalização, mostrando as técnicas corretas de aplicação e os cuidados com o manuseio dos produtos fitossanitários, uma vez que mal utilizados, provocam danos ao homem e ao ambiente. 9. EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUER, F. C.; RAETANO, C. G. Distribuição volumétrica de calda produzida pelas pontas de pulverização XR, TP e TJ sob diferentes condições operacionais. Planta Daninha, v. 22, n. 2, p. 275-284, 2004. CORDEIRO, A. M. C. Como a tecnologia de aplicação de produtos fitossanitá- rios pode contribuir para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas. In: ZAMBOLIM, L. Manejo integrado: fitossanidade, cultivo protegido, pivô central e plantio direto. Viçosa-MG: UFV, 2001.p. 683-721. COURSHEE, R. J. Application and use of foliar fungicides. TORGESON, D.C. ed. Fungicide - An advance treatise. Academic Press, New York, 1967. p. 239-286. DOBLE. S. J.; MATTHEUS, G. A.; RUTHERFORD, L.; SOUTHCOMBE, E. S. E. A System for classifying hydraulic and other atomizers into categories of spray quality. Pro- A B C Õ 42 ceedings British Crop Protection Conference – Weeds, 3, p. 1125 -1133. FERREIRA, L.R.; MACHADO A.F.L.; FERREIRA, F.A. Tecnologia de aplicação d e herbicidas: In: SILVA, A.A.; SILVA, J.F. Tópicos em manejo de plantas daninhas. Viçosa-MG: UFV, 2007. p. 325-347. FREITAS, F. C. L.; TEIXEIRA, M. M.; FERREIRA, L. R.; FERREIRA, F. A.; MACHADO, A. F. L.; VIANA, R. G. Distribuição volumétrica de pontas de pulverização turbo Teejet 11002 em diferentes condições operacionais. Planta Daninha, v. 23, n. 1, p. 161- 167, 2005. MATTHEWS, J. A. Pesticide application methods. London, Longman, 1979. 334 p. MATUO, T; PIO, L. C.; RAMOS, H. H.; FERREIRA, L. R. Tecnologia de aplicação e equi- pamentos. In: ABEAS - Curso de proteção de plantas. Módulo 2. Brasília, DF: ABE- AS; Viçosa, MG: UFV; 2001. 85 p. SPRAYING SYSTEMS CO. Produtos de pulverização para agricultura – Catálogo 46M-BR/P. 1999. 43 13. PREPARO E APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS Professor Laércio Zambolim Na tecnologia de aplicação de defensivos (TAD), emprega-se todos os co- nhecimentos científicos que proporcionem a correta colocação do produto bio- logicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica, com mínimo de contaminação de outras áreas. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a TAD é o emprego de todos os conhecimentos científicos que proporcionem a correta colocação do produto biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica, com mínimo de contaminação de outras áreas. Os agrotóxicos devem exercer a sua ação sobre determinado organismo que se deseja controlar. O crescente aumento dos custos de produtos químicos, da mão de obra e da energia e a preocupação cada vez maior em relação à poluição ambiental têm realçado a necessidade de uma tecnologia mais acurada na colocação do produto químico no local correto, bem como de procedimentos e equipamen- tos adequados à maior proteção ao trabalho. A fixação pouco exata do alvo leva, invariavelmente, a perdas de grandes proporções, pois o produto é também aplicado sobre partes que não têm relação direta com o controle. A aplicação de agrotóxicos, tal como se conhece hoje, não difere essen- cialmente daquela praticada há 100 anos, e se caracteriza por um considerável desperdício de energia e de produto químico, constituindo-se em sério risco de acidente para o agricultor e para o meio ambiente. Para melhorar a qualidade e eficiência dos tratamentos e reduzir o desperdício de produtos e contaminação do ambiente, os pulverizadores devem ser calibrados periodicamente, utilizan- do-se equipamentos e métodos reconhecidos no Brasil e internacionalmente. O uso indevido e inadequado de agrotóxicos é responsável pelos altos ín- dices de intoxicação verificados entre os produtores e trabalhadores rurais. Pro- voca também a contaminação dos alimentos consumidos pela população, cau- sando ainda grandes danos econômicos e ambientais à sociedade. As classes de risco de toxicidade, caracterizadas pelas faixas coloridas e por símbolos e frases, indicam o grau de periculo- sidade de um produto, mas não definem de forma exata quais sejam esses riscos. Os maiores riscos de intoxicação estão re- 13 Õ Õ 44 lacionados ao contato do produto ou da calda com a pele. A via mais rápida de absorção é pelos pulmões; daí, a inalação constituir-se em grande fator de risco. Assim, os trabalhadores que aplicam rotineiramente agrotóxicos devem se submeter periodicamente a exames médicos. A utilização de agrotóxicos é influenciada por diversos fatores, dentre os quais destacam-se o clima, o hospedeiro, o alvo biológico, o ingrediente ativo e o veículo utilizado no produto. É aconselhável que as pulverizações sejam real- izadas nas horas mais frescas do dia, ou seja, pela manhã e ao final da tarde, a fim de evitar a evaporação rápida do produto aplicado. As aplicações eficientes são conseguidas também com velocidade de vento inferior a 2,0 m s-1. Na prática, com velocidade entre 2,0 e 3,1 m s-1, as folhas das árvores são ligeiramente agitadas. Deve-se interromper a pulverização quando o valor da velocidade ultrapassar 3,0 m s-1 (Matuo, 1990). SAIBA MAIS! Mais detalhes sobre este tema podem ser obtidos em: Con- ceição, M.Z. Defesa vegetal: legislação, Normas e produtos fitossanitários. In: ZAMBOLIM, L.; CONCEIÇÃO, M.Z.; SANTIAGO, T. O que Engenheiros Agrônomos devem saber para orientar o uso de produtos fitossani- tários, 2a. edição.Viçosa: UFV/ANDEF, 2003. p. 1-68. 1. ALVO BIOLÓGICO O agroquímico deve exercer a sua ação sobre determinado organismo que se deseja controlar. O alvo a ser atingido pode ser a folha de uma planta daninha, um inseto ou uma parte da planta onde a doença inicia, além de a determinado organismo fitopatogênico diretamente (caso de doenças denominadas de Míl- dio Pulverulento, Ferrugens), etc. Em média, 30% do produto aplicado visando folhas atinge o solo por ocasião da aplicação (Matuo, 1990). Qualquer quantidade do produto químico (ou agente de outra natureza) que não atinja o alvo não terá qualquer eficácia e representará uma forma de perda. É, portanto, de fundamental importância que se fixe com exatidão o alvo quando se aplica um defensivo. No caso de um herbicida de pós emergência, o alvo será a planta daninha que se pretende eliminar; se for inseticida, o objetivo será o inseto (praga) que se deseja destruir. Entretanto, para fins práticos, a definição do alvo é muito mais abrangente. Imaginem a aplicação de um acaricida para o controle do ácaro branco do ma- moeiro, que se encontra nas folhas jovens, isto é, nos “ponteiros” da planta. O alvo a ser atingido poderá ser eleito entre os seguintes: a) o ácaro branco; b) as Õ Ì 45 folhas do “ponteiro” da planta; c) a planta do mamoeiro; d) a cultura de mamão. Percebe-se que, com os atuais conhecimentos e instrumentos disponíveis, não é possível atingir somente os ácaros e, portanto, a fixação do alvo deve ser mais “frouxa” e recairá sobre os outros itens. Fixando-se o alvo como sendo as folhas do ponteiro da planta, a definição do objetivo da aplicação estará mais exata se a escolha for sobre o mamoal como um todo. A fixação pouco exata do alvo leva, invariavelmente, a perdas de grandes proporções, pois o produto é também aplicado sobre partes que não têm rela- ção direta com o controle. 2. EFICIÊNCIA NA APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS Suponhamos que a Dose Letal (DL50) de determinado inseticida para uma lagarta seja de 0,03 mg. Se, por exemplo, em um hectare existir uma população de 1 milhão dessas lagartas, seriam necessários somente 30 mg do inseticida por hectare para matar todas elas - se fosse possível colocar todo o inseticida sem perda, isto é, com a eficiência de 100% na aplicação. Em condições práticas, porém, mais de 3.000 vezes dessa quantidade é colocada na cultura. A eficiência da aplicação é a relação entre a dose teoricamente requerida para o controle e aquela efetivamente empregada, geralmente expressa em por- centagem, onde: E (Eficiência da Aplicação (%)) = dt (Dose Teórica Requerida) / dr (Dose Real Empregada) X 100. Quando o alvo é de grandes dimensões e a coleta do produto químico é fa- vorável, essa eficiência pode ser relativamente alta. Por exemplo, a eficiência no controle de gramíneas com o herbicida Paraquat tem sido de 30%. Para folhas largas, tem sido relatada eficiência de 30% com o emprego de 2,4 D, ao passo que, com o mesmo herbicida, a eficiência no controle de plântulas (seedlings) caiu para 0,5% a 2%. No caso de alvos diminutos, a eficiência cai bastante: no controle de afídeos, é de 0,02% enquantoque para o controle de insetos em condições de lavoura, a eficiência média da aplicação deve estar por volta de 0,000001%. Diante de tão baixa eficiência, chegou-se à conclusão de que: A aplicação de defensivos é, provavelmente, o processo mais ineficiente que o homem já praticou até hoje. Apesar de tudo, muitos avanços foram registrados: adoção de controladores eletrônicos; uso do sistema GPS (global positioning system); sistema de injeção direta. Entretanto, para que todos esses avanços se tornem realidade no nosso meio, muito esforço deve ser despendido, em todas as áreas desta matéria multi- disciplinar. 3. FORMULAÇÃO DE DEFENSIVOS Formular um defensivo consiste em preparar os componentes ativos na con- centração adequada, adicionando substâncias coadjuvantes, tendo em vista Õ 46 que o produto final deve ser dispersado em determinadas condições técnicas de aplicação, para poder cumprir eficazmente a sua finalidade biológica, mantendo essas condições durante o armazenamento e transporte. O produto resultante do ato de formular denomina-se formulação ou preparado comercial. 3.1. Formulações • Pó-seco (P) - Formulação de pronto uso para aplicação via sólida. Embo- ra tenha sido importante no passado, seu uso decaiu a partir do início da década de 1970 e, atualmente, está completamente em desuso. • Grânulos (Gr) - Formulação de pronto uso, para aplicação via sólida. Na sua elaboração, partículas sólidas são impregnadas pelo ingrediente ativo. Essas partículas são relativamente grandes e podem ser dos mais diversos materiais: silicatos, argila granulada, gesso, resíduos vegetais triturados e homogeneiza- dos (sabugos, bagaço), plástico, etc. A granulometria é baseada em peneiras, a saber: 8/22 mesh (2 - 0,7 mm); 22/44 mesh (0,7 - 0,35 mm); 15/30 mesh (1,5 - 0,5 mm); 30/60 mesh (0,5 - 0,2 mm). Existem, no entanto, grânulos gigantes, como as iscas formicidas, e micro- grânulos, como os microencapsulados. Ao contrário do pó-seco, todas as partí- culas do grânulo veiculam o ingrediente ativo. A concentração de grânulo também não ultrapassa os 10%, sendo comuns as formulações a 2,5% e a 5%. Dentre as formulações granuladas, predominam os inseticidas sistêmicos, alguns fungicidas e, muito raro, os herbicidas. • Pó-molhável (PM) - É uma formulação sólida para ser diluída em água e posterior aplicação via líquida. Na sua composição, entra o veículo sólido (mine- ral de argila) que absorve o ingrediente ativo na sua superfície; sobre o veículo são adicionados os adjuvantes (agentes molhantes, dispersantes, antiespuman- tes, estabilizantes, aderentes, etc.) que possibilitam o rápido molhamento e pro- piciam a formação de uma dispersão razoavelmente estável. O PM, quando diluí- do em água, forma uma mistura homogênea de sólido no meio aquoso (suspen- são). A suspensão não é tão estável e necessita de agitação contínua para que a calda se mantenha homogênea. Por outro lado, o atrito de partículas sólidas nas passagens estreitas do pulverizador (válvulas, bicos) provoca desgastes acentuados do equipamento, principalmente quando o veículo da formulação apresenta alto grau de dureza. Apesar das suas limitações, o PM é uma formulação mais barata que outras equi- valentes [Concentrado Emulsionável (CE), Suspensão Concentrada (SC), etc.]. É uma formulação largamente utilizada para fungicidas (grande maioria), herbici- das e inseticidas. Outra particularidade importante no uso do PM é que a dosagem é dada em peso por área (Ex.: kg/ha). Outra característica desta formulação é que, durante a diluição, ocorre a necessidade de se preparar, em recipientes à parte, uma pré- -mistura, colocando-se a dose do produto e um pouco de água, fazendo uma pasta fluida que será finalmente adicionada ao tanque do pulverizador. Devido Õ 47 a esses inconvenientes, atualmente se vê uma nítida tendência para substituição dessa formulação pela Suspensão Concentrada ou nas formulações de Grânu- los Dispersíveis em Água (GrDA). Suspensão concentrada (SC): É uma formulação líquida para ser diluída em água. Já foi conhecida como Flowable e surgiu para contornar as dificuldades apresentadas pelo PM. A SC pode ser diretamente despejada no tanque do pulverizador, com o agitador ligado. Na sua elaboração, geralmente o ponto de partida é o próprio PM, que é suspendido em pequena porção de água e nele se adicionam os adjuvantes para manter essa suspensão estável. No entanto, a suspensão nem sempre é estável no armazenamento, pois durante o repouso as partículas sólidas se sedimentam e após certo tempo e formam uma camada de separação e não mais se ressuspendem. Porém, com o aperfeiçoamento da arte de formular, muitos produtos já superaram essa fase. É formulação que se está popularizando entre herbicidas e fungicidas em aplicação via aérea. Há também formulação SC de fungicida para ser diluído em água e ser aplicado via solo para controle da ferrugem do cafeeiro. Grânulos dispersíveis em água (GRDA): São formulações granuladas para serem diluídas em água. Em contato com a água, elas se dissolvem prontamente, formando solução estável. É formulação bastante popularizada. É empregado para o grupo dos fungicidas e inseticidas para serem diluídos em água e aplicados, via solo, para controle de doenças e insetos-pragas em cafeeiro. Algumas podem ser embaladas em sacos solúveis e, assim, colocadas no tanque do pulverizador sem oferecer risco ao operador. Por outro lado, o pacote (sobre embalagem) fica praticamente livre de contaminação, facilitando o seu descarte. Entretanto, nem todos os ingredientes ativos podem ser embalados em filmes solúveis, pois existem problemas de incompatibilidade entre os compostos. • Pó solúvel (PS) - Formulação sólida destinada à diluição em água e pos- terior aplicação via líquida. É pouco comum, pois o ingrediente ativo deve ser solúvel em água. O PS é uma formulação solúvel em água e, por isso mesmo, denominada de solução verdadeira, o que é interessante na aplicação, pois, uma vez dissolvida, a calda resultante sempre se mantém homogênea, sem a necessidade de agita- ção constante. A solução é translúcida, podendo ser colorida ou não. • Concentrado emulsionável (CE) - É uma formulação líquida destinada à diluição em água. Para a sua elaboração, o ingrediente ativo é primeiramente dissolvido em um solvente apropriado, resultando uma solução concentrada. Como essa solução é imiscível em água, são adicionados adjuvantes (agentes emulsionantes, estabilizadores, corretivos, etc.) para possibilitar a mistura com a água. O resultado da diluição do Concentrado Emulsionável na água é uma mis- tura homogênea, na qual glóbulos líquidos da formulação ficam dispersos na fase aquosa (emulsão), constituindo uma calda de aspecto leitoso. A estabilida- de da emulsão é muito melhor que a da suspensão e, portanto, a necessidade de agitação não é tão crítica. É uma formulação bastante comum para inseticidas e encontrada também em alguns herbicidas. Por ser líquido, é de fácil dosagem, pois se medem volumes, ao invés de peso. Por não ter partículas sólidas, a calda não provoca desgaste nem obstrução das passagens estreitas do pulverizador. a 48 a Entretanto, adjuvantes empregados na formulação a tornam mais cara que o pó molhável. Emulsão: É uma dispersão coloidal em que tanto a fase dispergente (dispersante) como a dispersa estão na fase líquida. Então, as emulsões consistem num coloide no qual pequenas partículas de um líquido são dispersas em outro líquido. É uma mistura de dois líquidos imiscíveis (que não se misturam). O líquido que está em maior quantidade é o dispergente e o líquido que se encontra em menor quantidade é o disperso, distribuindo-se em gotículas muito pequenas difundidas em suspensão. A expressão emulsão vem do latim emulsu, que quer dizer ordenhado, devido ao aspecto leitoso da maioria delas. A emulsões são instáveis, mas algumas substâncias podem agir como emulsificantes, dando estabilidadea elas. Uma emulsão tem cadeia longa e átomos ligados com uma extremidade polar e outra extremidade apolar, assim como as moléculas de detergentes e sabões. Algumas emulsões: leite, cremes, maionese. • Outras formulações - Além dessas, há outras menos comuns, geral- mente destinadas a usos específicos, como: comprimido (CP), tablete (TB), pasti- lha (PA), pasta (PT), fibras plásticas (FP), etc. Vale a pena ficar atento ainda a esses termos relacionados às formulações: • Solução aquosa concentrada (SAqC) - É uma formulação líquida para ser diluída em água. Na sua elaboração, o ingrediente ativo solúvel, geralmente na forma de sal, é dissolvido em água, até próximo do limite de saturação. • Ultrabaixo volume (UBV) - É uma formulação líquida de pronto uso para aplicação em pulverização a ultra baixo volume. Na sua elaboração o ingre- diente ativo é dissolvido em um solvente que deve possuir as seguintes proprie- dades: a) volatilidade muito baixa; b) alta capacidade de dissolução do ingrediente ativo; c) baixa viscosidade; d) não fitotóxico; e) compatível com o ingrediente ativo. Como, geralmente, o volume total empregado na aplicação em ultrabaixo volume se situa abaixo de 5 L/ha, frequentemente entre 1 a 2 L/ha, a formulação deve ser concentrada o suficiente para que esse volume contenha a necessária quantidade do ingrediente ativo. Sendo subdividido em gotas muito pequenas (abaixo de 100 micrômetros) durante a aplicação, a questão de volatilidade é bastante crítica, pois se a substância for volátil desaparecerá no percurso entre a máquina e o alvo. Esta formulação, quando diluída em água, forma solução verdadeira. É uma formulação que praticamente não é empregada atualmente. • Solução estável e instável – Os materiais estáveis são aqueles que normalmente resistem às mudanças de suas composições químicas, apesar de expostos ao ar, água e calor (liberado nos incêndios emergenciais). Um mate- rial instável é aquele que pode reagir violentamente com a água. Reações com outros materiais também podem resultar numa liberação violenta de energia, porém isto está além do escopo deste critério. Um material instável é aquele que no estado puro ou comercial, irá polimerizar, decompor ou condensar vigo- rosamente, tornando-se auto-reativo ou de outra maneira reage violentamente sob condições de choque, pressão ou temperatura. Para a obtenção de informa- ções mais específicas a respeito dos perigos quanto à instabilidade dos peróxi- 49 dos orgânicos, consultar o NFPA 43B, Code for the Storage of Organic Peroxide Formulations. • Solução insaturada ou não-saturada é quando adicionamos menos soluto do que o solvente pode dissolver. Solução saturada é quando coloca- mos exatamente a quantidade de soluto que o solvente pode dissolver. Solução supersaturada é quando adicionamos mais soluto que o solvente pode dissol- ver, formando o corpo de fundo ou corpo de chão. A solução supersaturada é instável exatamente por isso: ela tem soluto a mais. Vou usar como exemplo a so- lução supersaturada de acetato de sódio. Para a completa dissolução do acetato em água, deve-se aquecer o sistema. Com o aumento da temperatura, o líquido consegue dissolver o soluto que não havia sido diluído, mas com qualquer mo- vimento mais brusco ou com a adição de um cristal de acetato à solução, ela se solidifica. 4. MÉTODOS DE APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS Os métodos de aplicação podem ser basicamente agrupados em aplicações via sólida, via líquida ou via gasosa, em função do estado físico do material a ser aplicado. Dentre esses, a aplicação via líquida, com o emprego de água como diluente, é, de longe, o método predominante. Entretanto, em algumas condições, as dificuldades na obtenção e no transporte de água podem conduzir à adoção de alternativas, como a aplicação via líquida sem o uso de água ou aplicação via sólida. A aplicação via gasosa é bastante restrita, devido às dificuldades associadas ao processo. 4.1. Aplicação via sólida Uma das principais vantagens da aplicação via sólida é a não utilização da água, o que dispensa a diluição pelo usuário. Nessas aplicações, as formulações estão prontas para o uso, isto é, já se encontram diluídas em concentração adequada para o campo. Entretanto, o transporte de grandes quantidades de materiais inertes sólidos, que integram a formulação, faz aumentar substancialmente o custo da unidade do ingrediente ativo. Dependendo da granulometria do material, a aplicação de sólidos comporta duas modalidades: aplicação de pó e aplicação de grânulo, sendo que a primeira não é mais praticada entre nós. • Aplicação de grânulos - A aplicação de formulações granuladas tem crescido paulatinamente nos últimos anos. Produtos sistêmicos granulados são usados para aplicação no solo para controle de pragas que se alimentam da seiva (insetos e ácaros), cochonilhas, larvas de brocas e de lepidópteros, nematoides, etc. Inseticidas de contato são granulados e aplicados no controle de pragas do solo. Herbicidas e fungicidas também são experimentados nessa formulação. Uma das características mais interessantes dos granulados é que, dependendo da matriz empregada como veículo, pode-se controlar a velocidade de liberação do ingrediente ativo, de tal forma a prolongar a sua ação residual. As partículas são suficientemente pesadas para resistirem à ação do vento durante a aplicação e, estando bem elaborada a formulação, não há formação de pó. Essas características tornam a aplicação um dos processos mais seguros entre as diversas alternativas. Produtos altamente tóxicos podem ser aplicados com relativa segurança com aplicação de formulações granuladas. Geralmente, essa aplicação pode ser efetuada com equipamentos bastante simples, o que torna o processo mais 50 facilmente aceito nas regiões pouco desenvolvidas. Uma boa formulação de grânulos deve: - ser de fácil escoamento; - não empastar; - estar livre de pó; - não se quebrar durante o transporte e armazenamento. Outras vantagens dos granulados: a) o risco do operador é reduzido, porque o ingrediente ativo está encerrado dentro da partícula sólida; b) produtos altamente voláteis podem ser liberados mais lentamente; c) partículas sólidas podem ser colocadas com maior exatidão no solo ou na folhagem; d) a distribuição é mais precisa, porque o tamanho das partículas pode ser padronizado facilmente; e) há menor risco de deriva; f ) o rendimento da aplicação pode ser maior devido ao volume reduzido e à dispensa da operação de diluição; g) a calibração é mais fácil e exata; h) uma variedade grande de matérias-primas está disponível ao formulador e esse fato pode ser explorado no sentido de conferir maior eficácia ao ingrediente ativo. A dosagem de granulado é recomendada em função da área (kg/ha), do comprimento (g/m de sulco) ou por planta (g/ planta). A dosagem em função da área oscila entre 10 e 40 kg/ ha. 4.2. Aplicação via líquida Nessa modalidade, geralmente, uma formulação é diluída em um líquido apropriado antes da aplicação. O diluente mais empregado é, sem dúvida, a água e as formulações são: pó molhável, suspensão concentrada, pó solúvel, concentrado emulsionável, grânulos dispersíveis em água e solução concentrada. Ao resultante da adição do diluente à formulação dá-se o nome de calda e ela se encontra na concentração adequada para a aplicação. Há casos, porém, em que a aplicação via líquida se faz sem a adição do diluente. Assim, a formulação que se emprega é o UBV (ultrabaixo volume). Normalmente, a aplicação é feita na forma de gotas (pulverização), havendo, no entanto, casos em que se faz na forma de filete líquido (rega ou injeção) ou na forma de gotas muito diminutas formando neblina (nebulização). Nebulização: consiste em se produzir uma névoa muito fina de aerossol por meio de uma corrente de ar de alta velocidade. Os grandes aparelhos ventiladores transportam gotas até a uma distância de 60 metros e as distribuem uniformementeno espaço, mediante movimentos de ar horizontais e verticais. Õ a 51 A adesividade das partículas líquidas no alvo é muito superior do que a do pó, bem como a sua tenacidade, o que leva à recomendação de dosagens mais baixas. Como o método é bastante antigo, existem muitos tipos de equipamentos apropriados para as mais variadas situações, bem como as formulações existentes estão bem desenvolvidas para serem miscíveis à água. Adesividade: (substantivo feminino) qualidade ou atributo do que é adesivo ou aderente. Termo empregado quando uma substância química adere fortemente à superfície de uma planta, seja folha, caule, flores, etc. Aderentes são substâncias que aumentam a aderência dos líquidos ou sólidos à superfície da planta. Apresentam afinidade com a água e forte adesão à cera e à cutina da superfície dos órgãos da planta. O aumento da aderência diminui o escorrimento e faz com que as gotas permaneçam na superfície das folhas e não sejam lavadas com facilidade Tenacidade: substantivo feminino com origem no termo em latim tenax, que significa a qualidade do que é tenaz, ou seja, que tem grande coesão, que é firme, viscoso e muito aderente. Característica daquilo que adere com facilidade; que possui excesso de aderência. O termo se aplica aos adjuvantes que têm a característica de aumentar a força com que os defensivos são aderidos a superfície vegetal. • Diluentes para aplicação via líquida - Diluente é o material adicionado à formulação com o intuito de aumentar o volume para possibilitar a sua distribuição. Segundo alguns autores, é também denominado “veículo”. Porém, para não confundir com o veículo, que é componente de muitas formulações, é preferível manter a denominação “diluente” ou então especificar “veículo de aplicação” para essas substâncias. A água é o diluente mais comum nas aplicações via líquida por ser de fácil obtenção e de baixo custo (o custo da água na fonte é muito baixo, porém deve-se considerar o seu custo no campo) e por contar com a ampla opção de formulações compatíveis. - Limitações da água como diluente: a) Tensão Superficial: a água apresenta alta tensão superficial. Isso faz com que a gota depositada numa superfície permaneça na forma esférica, fazendo com que tenha pouca superfície de contato. Para corrigir esse problema, basta adicionar nela algum agente tensoativo (ou surfactante) para diminuir a tensão superficial. Com isso, a gota se espalha facilmente na superfície, molhando maior área. Alguns adjuvantes integrantes da formulação, como os agentes molhantes, emulsionantes, etc., são agentes tensoativos e, portanto, a simples presença dessas formulações na calda pode ser suficiente para diminuir a tensão superficial da água até os níveis desejados. Agente tensoativo ou surfactante: nome genérico de agentes molhantes e emulsionantes. b) Evaporação: a superfície do líquido é enormemente aumentada quando fragmentada em pequenas gotas e perde a porção volátil por essa superfície. A a a 52 água é um líquido volátil e pode se evaporar no trajeto entre a máquina e o alvo. O tempo de “vida” da gota de água pode ser calculado pela fórmula: t = d² /80DT onde: t = tempo de “vida” da gota (seg.); d = diâmetro da gota (micrômetros); DT= diferença de temperatura (°C) entre os termômetros de bulbo seco e bulbo úmido de psicrômetro. No Quadro 1, pode ser visto o tempo de “vida” da gota de água, em duas condições diferentes de temperatura e umidade, e a distância que a gota percorre até a sua total extinção. Quadro 1 - Tempo de “vida” da gota de água e distância de queda Temperatura (°C) 20 30 ∆ T (°C) 2,2 7,7 Umidade relativa (%) 80 50 Diâmetro inicial da gota (micrômetros) Tempo de extinção Distância da queda Tempo até a extinção Distância da queda 50 14 s 12,7 cm 4 s 3,2 cm 100 57 s 6,7 cm 16 s 1,8 m 200 227 s 81,7 cm 65 s 21,0 m Fonte: Amsden (1962) Em condições tropicais, de alta temperatura, o fenômeno da evaporação das gotas de pulverização é bastante problemático, agravando-se em dias muito secos. Aplicações com gotas médias e pequenas, muitas vezes, não chegam a atingir o alvo, desaparecendo antes. • Aplicações por aeronaves apresentam as seguintes limitações: - Aplicações com calda de formulação líquida em água, usando gotas de 200 a 500 micrômetros de diâmetro e volume de 20 a 50 L/ha - Interromper a aplicação quando a diferença de temperatura entre termômetro de bulbo seco e de bulbo úmido exceder a 8°C ou a temperatura exceder 36°C. - Aplicação com calda de formulação líquida em água, usando gotas de 150 a 170 micrômetros de diâmetro e volume de 10 a 15 L/ha - Interromper a aplicação quando DT for superior a 4,5°C ou temperatura exceder a 32°C. O problema da evaporação impede que a água seja subdividida em gotas muito pequenas, principalmente nos climas tropicais. Por isso, quando se utiliza calda à base de água, o volume de aplicação por hectare deve ser relativamente grande. Quando for necessário o emprego de pequenos volumes de aplicação (por exemplo, abaixo de 50 L/ha), deve-se controlar a evaporação da água ou, então, passar a utilizar outro diluente que não seja volátil. Pesquisas com OED (orto-etileno docosanol) têm mostrado que esse produto, em concentração próxima de 1% na calda, retarda e controla muito bem a evaporação da água. Tem sido também recomendada a mistura de óleo emulsionável na calda para impedir a evaporação. Os resultados de ensaios de testes mostram que óleo não atua como antievaporante da água. O que se observa é que a parte aquosa da gota acaba evaporando com a mesma 53 velocidade da água e, no final, resta somente a porção correspondente ao óleo. O fenômeno de evaporação da água parece ser um problema não sentido pelos agricultores. Isso porque, na maioria das aplicações tradicionais, empregam-se gotas grandes e o bico está suficientemente próximo do alvo, de tal forma que esse fenômeno, ainda que manifeste, não chega a afetar o desempenho biológico do produto químico. Entretanto, quando se utilizam gotas pequenas que devem caminhar a uma razoável distância até a sua deposição final (aplicação por aviões ou por “canhão” terrestre), o fenômeno da evaporação torna-se perceptível, influindo negativamente no resultado da aplicação. Mesmo nas aplicações clássicas, existe um apreciável contingente de gotas pequenas entre as grandes. As gotas que perdem peso ou se extinguem no percurso para o alvo deixam o ingrediente ativo solto no ar (partícula flutuante), que é captado pela corrente aérea e arrastado para regiões distantes, onde, posteriormente, vem se depositar, principalmente fazendo parte do núcleo de condensação das nuvens. Mecanismos de transporte a longa distância são os principais responsáveis pela poluição de regiões não agrícolas remotas, como as calotas polares. Para esses casos, é usual lançar-se mão de líquidos não voláteis. A formulação UBV não volátil pronta para uso é recomendada para essas situações. Não havendo formulação UBV de um ingrediente ativo e necessitando-se de seu emprego em volumes reduzidos, a solução é lançar mão de diluentes não voláteis, que, para esses casos, é o óleo mineral agrícola ou vegetal. Para que seja classificado como “agrícola”, o óleo deve atender a certas especificações, como a ausência de fitotoxicidade. Nem sempre, porém, as formulações podem ser diretamente diluídas em óleo, pois foram desenvolvidas visando ser acrescentadas à água. Portanto, a miscibilidade da formulação ao óleo deve ser testada. Não sendo possível, pode-se lançar mão de um artifício de diluir a formulação em um pequeno volume de água, adicionar emulsionantes e acrescentar o óleo, formando uma mistura que contém pouca água e muito óleo, conhecida como emulsão invertida. Emulsão invertida: emulsões ditas convencionais consistem de uma fase óleo (insolúvel em água) emulsionada por surfactantes apropriados em meio aquoso. São chamadas emulsões óleo em água (O/W). Exemplocomum em nosso cotidiano é o ligante, em que o polímero insolúvel está emulsionado em água. Uma emulsão inversa, ao contrário, consiste de uma fase aquosa emulsionada por surfactantes apropriados em meio óleo. São as emulsões água em óleo (W/O). As principais vantagens dos espessantes em emulsão inversa são: - Rapidez no espessamento - o mecanismo de espessamento de uma emulsão inversa proporciona um espessamento mais rápido do que espessantes convencionais, que normalmente requerem neutralização ou forte agitação por tempo prolongado. A agitação do espessante em água incorpora a água às micelas aquosas em emulsão, aumentando-as e “invertendo a emulsão inversa”. Õ a 54 Isto faz com que o polímero, moléculas de altíssimo peso molecular, seja liberado ao meio causando o espessamento. - Facilidade no manuseio - as emulsões inversas apresentam baixa viscosidade, o que facilita seu bombeamento, pesagem e manuseio, reduzindo consideravelmente as perdas em relação a espessantes em pó ou gel. Alguns tipos de emulsão inversa não requerem neutralização (adição de amônia), o que torna sua aplicação mais fácil, rápida e agradável. Com o sistema de emulsão inversa é possível se trabalhar com polímeros totalmente solúveis (embora nem todas as emulsões inversas apresentem esta característica). Nas condições noturnas, a umidade relativa é elevada e a evaporação é drasticamente diminuída e permite o emprego de gotas de menor diâmetro. • Volume de aplicação - Na aplicação via líquida é usual classificar o processo em função do volume de calda aplicado por hectare. Quando se empregam aplicações de pequenas gotas, a água não é o diluente mais apropriado. Atualmente existe um consenso entre os principais pesquisadores europeus que a denominação “Volume alto” ou “Alto volume” seja dada à aplicação feita até além da capacidade máxima de retenção das folhas, de tal modo que haja escorrimento. Nesse tipo de aplicação, o depósito de produto químico sobre a superfície tratada é proporcional à concentração da calda utilizada, independentemente do volume aplicado. No Quadro 2, é apresentado um sistema de classificação do volume de aplicação de acordo com o tipo de cultura. Quadro 2. Categoria de aplicação via líquida Designação Volume (L/ha) Culturas de campo Culturas arbóreas Volume alto > 600 Volume alto > 1000 Volume médio 200-600 Volume médio 200-600 Volume baixo 50-200 Volume baixo 50-200 Volume ultra baixo <5 Volume ultra baixo <50 Matthews (1977) Portanto, a indicação da dosagem para a modalidade de Alto Volume é dada via concentração, como, por exemplo, 200 g/100 litros de água (0,2%) e se recomenda volume de aplicações suficiente para provocar escorrimento. Esse volume é muito variável, dependendo do grau de enfolhamento da lavoura. Para saturar todas as folhas e provocar escorrimento em cultura de amendoim, com 20 dias de idade, bastam 100 L/ha, ao passo que, aos 60 dias de idade, essas plantas requerem mais de 700 litros na mesma área. Em contraposição ao Alto Volume, o Volume Ultrabaixo (ou Ultrabaixo volume) é hoje definido como o Volume Mínimo por unidade de área para se alcançar um controle econômico independente de um limite rígido, pois esse Õ 55 volume mínimo também depende das características do alvo. A tendência atual - devido ao alto custo do transporte de água ao campo e à perda do tempo representada pelas constantes paradas para reabastecimento do pulverizador - é a prática de modalidades que requerem menor volume de aplicação, visando diminuir o custo e aumentar a rapidez do tratamento. A diminuição do volume de aplicação, por sua vez, implica no emprego de gotas menores, se quiser manter uma adequada cobertura do alvo. - Cobertura - A cobertura é dada pela fórmula de COURSHEE (1967): C = 15 .VRK2/AD onde: C = Cobertura (% da área) V = Volume de aplicação (L/ha) R = taxa de recuperação (% do volume aplicado, captado pelo alvo) K = fator de espalhamento de gotas A = superfície vegetal existente no hectare D = diâmetro de gotas. Segundo a fórmula, para se conseguir uma elevada cobertura, devem-se manter altos os valores do numerador ou baixos os do denominador. Portanto, uma elevada cobertura pode ser conseguida à custa de grande volume de pulverização (V). Em aplicações a Alto Volume, consegue-se bom grau de cobertura, mesmo se empregando gotas grandes. O aumento da taxa de recuperação (R), em condições normais se consegue utilizando tamanho de gotas mais eficientemente coletadas pelo alvo. Foi dado um avanço considerável no aumento do valor R quando se conseguiu carregar as gotas eletrostaticamente. Gotas eletricamente carregadas induzem na superfície do alvo cargas elétricas de sinal contrário e, no momento seguinte, são atraídas eletrostaticamente, aumentando consideravelmente a taxa de recuperação. O fator de espalhamento (K) atua sensivelmente na cobertura (função quadrática). O seu aumento se consegue com a adição de agentes tensoativos que diminuem a força de tensão superficial e fazem com que a gota se espalhe. Quanto aos fatores do denominador, há a considerar que, aumentando a área foliar existente no hectare e mantendo as demais condições, a cobertura fatalmente será prejudicada. Por isso, à medida que a planta cresce e aumenta o índice de enfolhamento, devem ser efetuados os necessários ajustes nos outros fatores. Normalmente, esse ajuste se faz pelo aumento do volume de aplicação (V). A diminuição do tamanho de gotas proporciona aumento no grau de cobertura do alvo. O Quadro 3 mostra que, com o volume de aplicação mantido fixo em 1 L/ha, a cobertura decresce à medida que se aumenta o tamanho das gotas. Já o Quadro 4 revela que, para se manter uma densidade de 50 gotas/cm2, à medida que se aumenta o tamanho de gotas, é requerido maior volume de líquido por área. Inversamente, pode-se conseguir a mesma cobertura com gotas menores, empregando volumes reduzidos, porém, a concentração dessas gotas deve ser proporcionalmente aumentada. Õ 56 Quadro 3 - Densidade de gotas teóricas na aplicação de um litro por hectare Diâmetro gotas (μm) Número gotas/cm² 10 19.099 20 2.387 50 153 100 19 200 2,4 400 0,3 1000 0,02 Portanto, para se conseguir uma boa cobertura da superfície a ser tratada, pode-se lançar mão de pulverização a Alto Volume (até início do escorrimento), usando-se grandes volumes de aplicação (caldas diluídas e gotas grandes). Outra alternativa é com volumes menores, usando-se gotas menores e mais concentradas (melhor opção). A rigor, gotas menores são mais eficientemente captadas pelo alvo e, por isso mesmo, proporcionam melhores resultados. A massa das gotas caminhando no ar tem grande influência na sua trajetória, pois o ar oferece resistência à sua caminhada, que regida pela Lei de Stokes, que determina a velocidade máxima que elas podem alcançar. Quadro 4 - Volume de líquido necessário para cobrir 1 ha com 50 gotas/ cm2 e concentração necessária para distribuir 500 g de ingrediente ativo por hectare Diâmetro (mm) Volume de Aplicação (L/ha) Concentração necessária 60 0,56 89 80 1,34 37 Quadro 5 - Tamanho das gotas indicado para diferentes alvos Alvo biológico Tamanho da gota em micrômetros Insetos em voo 10-50 Insetos sobre folha 30-50 Folhagem 40-100 Solo (para evitar deriva) 250-500 Fonte: Brooks (1969) Gotas pequenas não podem caminhar com velocidade maior devido à re¬sistência do ar e permanecem muito tempo no ar, dando oportunidade para a ocorrência de deriva. É importante frisar que, na aplicação prática, a velocidade da gota é resultante da velocidade inicial de lançamento determinada pelo bico (que dita a velocidade da gota nos primeiros centímetros) e pela velocidade determinada pela Lei de Stokes. Estando o alvo dentro da distância de 1 metro (para gotas de tamanho médio para maior), o que predomina é a velocidade conferida pelo 57 bico. Com velocidade terminal muito reduzida, as gotas de pequeno diâmetropodem ser arrastadas a distâncias consideráveis. Quadro 6 - Velocidade terminal, tempo de queda e distância percorrida pela gota Diâmetro da gota (micrômetros) Velocidade terminal (m/s) Tempo de queda (*) Distância horizontal percorrida (**) 1 0,000036 28,1 h 155,7 km 10 0,00303 16,9 min 1,4 km 50 0,075 40,55 s 54 m 100 0,279 40,95 s 14,6 m 200 0,721 4,25 s 5,7 m 500 2,139 1,65 s 2,1 m (*) queda de 3m em ar parado; (**) vento de 5 km/h paralelo ao solo. Estas fórmulas são úteis para os cálculos que envolvem tamanho de gotas e cobertura: - Volume da esfera: V = πR³ - Cobertura (número de gotas/centímetro quadrado): η = 0/p (100)3/d Q onde, η = número de gotas/centímetro quadrado; d = diâmetro da gota (dmv em micrômetros); Q = Volume de aplicação (L/ha) • Gotas Na esmagadora maioria das aplicações líquidas, a calda é fragmentada em partículas denominadas gotas, que têm comportamento diferente de acordo com o seu tamanho (massa). O tamanho da gota aplicada é diretamente relacionado à penetração do produto, à uniformidade de distribuição e à efetividade de deposição. - Para fungicidas, recomendam-se gotas com diâmetro de 100 a 200 µm, resultando em 70 a 100 gotas cm-2; - para inseticidas, 50 a 200 µm e 50 a 70 gotas cm-2, - para a aplicação de herbicidas, 200 a 300 µm e 20 a 30 gotas cm-2. • Parâmetros para o estudo das gotas A nuvem de gotas pode estar composta de gotas grandes ou pequenas, homogêneas ou não. Para se expressar numericamente o tamanho e a uniformidade das gotas, são utilizados vários parâmetros. Atualmente, os mais utilizados para se representar o tamanho das gotas de um conjunto são os seguintes: a) vmd (volume median diameter) - É a mediana (não a média) do volume 58 das gotas, que pode ser chamada de diâmetro mediano volumétrico (dmv). É o diâmetro da gota que divide o volume pulverizado em duas metades iguais, isto é, metade do volume pulverizado é constituída de gotas maiores que o vmd e a outra metade é constituída de gotas menores que esse valor. Frise-se que o valor vmd está situado mais próximo do limite superior das classes de diâmetro, pois o volume de poucas gotas grandes equivale ao de muitas pequenas. Quando se fala em diâmetro de gotas, sem nenhuma referência especial, está se subentendendo o vmd. b) nmd (number median diameter) - É a mediana do número de gotas ou diâmetro mediano numérico (dmn). É o diâmetro da gota que divide o número de gotas em duas porções iguais, isto é, uma metade das gotas de conjunto é maior que nmd e a outra, menor. c) Coeficiente de dispersão é dado pela razão - Expressa a uniformidade do conjunto de gotas ou o espectro de variação do tamanho das gotas: r = vmd/nmd (Johnstone, 1978) Suponha uma amostra de gotas absolutamente homogêneas, um conjunto delas, todas iguais, de 200 μm, o vmd seria 200 μm e o nmd também. Isso porque, por ser um conjunto de gotas iguais, qualquer uma delas divide o conjunto em duas metades iguais. Assim o valor r seria igual a 1,0. O valor r, quanto mais se afastar de 1,0, indica maior heterogeneidade das gotas. Até o valor r < 1,4, o conjunto de gotas é considerado homogêneo. Diz-se nesse caso que o espectro de gotas é estreito. Quando r é menor ou igual a 1,4, a homogeneidade é tal, que atende a especificação para ser enquadrado como CDA (controlled droplet application). Essa uniformidade se consegue raramente em pulverizadores convencionais. Os bicos centrífugos, sob determinadas condições operacionais, nem sempre conseguem produzir gotas, cuja homogeneidade atenda a esse limite. Nos pulverizadores eletrostáticos, é comum se ter o coeficiente de dispersão muito próximo de 1,0. d) Amplitute de dispersão (Span) - É outra forma de se expressar a uniformidade das gotas e mais empregado nos dias atuais. É dado pela fórmula: S = V 90 – V 10/V50 onde: - V10 é o diâmetro da gota, abaixo do qual os volumes acumulados totalizam 10% do volume; - V90 é o diâmetro da gota, abaixo do qual os volumes acumulados totalizam 90% do volume; - V50 é o valor do vmd. Assim, quanto menor é o valor da amplitude (próximo de zero), mais uniforme é o tamanho das gotas da amostra e vice-versa. • Amostragem e observação de gotas Quando se faz observações de gotas, a primeira providência é coletar uma amostra. Para tanto, se deve ter uma superfície suscetível de ser marcada pelas gotas, seja pela formação de manchas, crateras ou outro fenômeno visível. A superfície padrão para a coleta de gotas é a lâmina de microscópio revestida por uma camada de óxido de magnésio. Entretanto, para observações qualitativas, pode-se empregar outros meios mais acessíveis. Por exemplo, empregar tiras de papel e adicionar à calda, uma tinta que provoque mancha 59 bem visível no papel. Se desejar efetuar observações comparativas, é interessante que o papel seja padronizado para que as condições sejam constantes entre as repetições. Um tipo de papel, cuja qualidade é controlada com rigor, é o papel fotográfico (por exemplo, papel Kromekote, da Kodak). O corante a ser diluído na calda pode ser uma anilina. Outro corante muito fácil de encontrar no comércio, a baixo custo, é aquele destinado a colorir tintas para pintura de paredes (látex). A concentração desses corantes na calda deve ser relativamente alta para provocar manchas bem nítidas no papel. Ao atingir o papel, a gota provocará uma mancha, que é maior que aquela que a originou, devido ao espalhamento. Para se conhecer o fator de espalhamento, haveria a necessidade de se ter um meio de conhecer o diâmetro real da gota, o que só é possível em laboratório equipado para esse fim. Portanto, sem saber o fator de espalhamento, as manchas obtidas no papel só servem para fins qualitativos e para efeitos comparativos, que são de grande utilidade em nível do campo. Outra técnica bastante interessante - mais empregada atualmente, devido à sua praticidade - é a utilização de um papel sensível à água que, em contato com gotas de água, desenvolve manchas azuis muito nítidas. Esse papel sensível à água, também denominado hidrosensível, pode ser encontrado nos distribuidores da Spraying Systems. Com bonito efeito demonstrativo, a utilização de corantes fluorescentes é mais uma alternativa de técnica. Um pigmento fluorescente (podem ser tintas cintilantes normalmente vendidas em casa de material para artesanato) é diluído na calda e pulverizado sobre a planta. Partes da planta (folhas, ramos, etc.) são destacadas e levadas a uma câmara escura provida de luz ultravioleta (luz negra). O pigmento brilhará intensamente e mostrará exatamente os locais onde as gotas se depositaram. A determinação do tamanho das gotas pode ser efetuada ao microscópio, provido de sistema de micrometria. No entanto, esse método é muito trabalhoso e hoje praticamente não é utilizado. Atualmente, existem sistemas computadorizados que efetuam rapidamente a medição das gotas, a sua classificação e os cálculos de seus parâmetros, com bastante rapidez. A determinação do tamanho das gotas é fundamental para se enquadrar a pulverização dentro das classes: muito fina, fina, média, grossa e muito grossa. Os bicos de pulverização devem ser enquadrados nessas classes e as recomendações de seus usos são estabelecidas segundo a classificação. Um bom catálogo traz sempre a classificação de bicos nas diferentes condições de uso. Quadro 7 - Classificação da pulverização, segundo o tamanho das gotas Designação Vmd (μm) Pulverização grossa >500 Pulverização média 200-500 Pulverização fina 100-200 Pulverização muito fina 30-100 Aerossol <30 Õ 60 Entretanto, com o avanço dos métodos utilizados para a determinação do tamanho das gotas, foi verificado que cada um dos sistemas (difração dos raios laser, análise de imagens, etc.), por se basearem em princípios e sensibilidades diferentes, fornecia resultados numéricos conflitantes. Os pesquisadores ingleses acharam por bem adotar bicos de referência paraservir como padrão para essa finalidade. Portanto, na hora de se classificar um bico, ele é medido em determinado sistema e comparado com os valores do bico padrão no mesmo sistema, no mesmo laboratório. Por comparação dos re- sultados, pode-se classificar o bico testado. Na reunião de especialistas da FAO, ocorrida em maio de 1997, foi decidido adotar os mesmos critérios britânicos. Quadro 8 - Classificação da pulverização segundo bicos de referência. Designação Vmd (mm) Pulverização muito grossa -- Pulverização grossa F80/2.92/2.5 (8008 a 35 psi) Pulverização média F110/1.96/2.0 (11006 a 28 psi) Pulverização fina F110/1.20/3.0 (11003 a 42 psi) Pulverização muito fina F110/0.48/4.5 (11001 a 63 psi) FAO, (1997) Por exemplo, o bico 8008, funcionando a 35 psi (pound per square inch ou libra-força por polegada ao quadrado), divide a classe muito grossa da grossa, isto é, se o bico testado for de partículas maiores que o bico padrão (8008 a 35 psi), será classificado como de pulverização muito grossa. Se as partículas do bico em teste forem menores que o padrão será enquadrado na classe inferior. Assim, o bico 11006 a 28 psi separa a classe “grossa” da “média” e assim por diante. As recomendações para a pulverização são baseadas nessas classes. É importante lembrar que gotas finas proporcionam boa cobertura, mas têm problemas de evaporação e deriva. Gotas grossas são menos afetadas pelo vento, mas apresentam baixa cobertura, requerendo, portanto, volumes mais altos. 6. PREPARO DA CALDA DO AGROTÓXICO Para o preparo da calda, o aplicador deve estar com o E.P.I. (Equipamento de Proteção Individual) apropriado. A preparação da calda consiste em diluir o produto na proporção correta de água. Antes da aplicação do agrotóxico, deve- se proceder a calibração do equipamento incluindo bico de atomização. Por exemplo, deseja-se aplicar 500 mL/ha de um agrotóxico supondo que a formulação seja GRDA, CE, SC ou Flowable. Primeiro: coloque no tanque do atomizador 2 L de água. Ponha papel sensível à água nas posições da planta onde se deseja que ela atinja (alvo biológico). Aplique de um lado e do outro na cultura, por exemplo, de tomate. Verifique se a água atingiu os locais que denominamos do alvo, isto é onde a doença inicia na planta (brotações novas, flores, frutos, parte superior, etc.). Conte o número de plantas que foram Õ 61 atomizadas com 2 L de água. Suponha-se 100 plantas. Se o número de plantas de tomate for de 20.000 por ha (espaçamento 1,00 m x 0,50 m), tem-se 400 L de água por ha. SAIBA MAIS! Outras informações estão no trabalho de: Ramos, H.H.; Araújo, D. de. Preparo da calda e sua interferência na eficácia de agrotóxicos. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www. infobibos.com/Artigos/2006_3/V2/index.htm>. Acesso em: 14/1/2016 Num atomizador costa manual ou motorizado, de tanque com capacidade de 20 L, deve-se diluir o agrotóxico (ex. 500 mL/ha) em 400 L de água, agitar bem e acrescentar em cada tanque do atomizador 20 L de calda do agrotóxico. Os 20 L de calda deverão cobrir 1.000 plantas. Se a formulação for PM deve-se proceder uma pré-mistura em um balde. Nunca faça a mistura do produto no balde com as mãos. Utilize um bastão limpo. Caso ocorra o esvaziamento da embalagem, faça a tríplice lavagem. Esse tipo de lavagem visa reduzir, ao mínimo, a quantidade de agrotóxico dentro da embalagem, aproveitando melhor o produto e não contaminando o meio ambiente. 6.1. Procedimentos da tríplice lavagem a) coloque água em um quarto da embalagem; b) agite-a fortemente durante 30 segundos; c) despeje a mistura no tanque de pulverização; d) repita essa operação mais duas vezes; e) fure o fundo da embalagem para inutilizá-la, preservando o rótulo. 6.2. Regulagem do turboatomizador Antes de iniciar a regulagem verifique se: • o filtro de sucção está limpo; • as mangueiras não estão furadas ou dobradas; • os componentes do regulador de pressão (válvula e mola) não estão gastas ou presas por eventuais sujeiras; • a bomba está lubrificada (nível de óleo ou graxa) e se não apresenta va- zamentos; • os bicos são do mesmo tipo e se não estão danificados ou desgastados. 6.3. Calibração 1 - Escolha um lote de 100 plantas. 2 - Abasteça completamente o pulverizador. 3 - Escolha a marcha de trabalho do trator. 4 - Ligue a tomada de força. 5 - Acelere o motor até a rotação a 540 rpm na tomada de força. 6 - Inicie o movimento do trator no mínimo 5 plantas antes do ponto mar- cado. Ì Õ 62 7 - Pulverize nas 100 plantas marcadas. 8 - Complete o tanque e meça o volume gasto em litros. Para medidas pre- cisas, o pulverizador deve estar na mesma posição antes e depois da operação. 9 - Repita essa operação várias vezes e tire a média. Quando a topografia do terreno for irregular, marque as 100 plantas e repita todas as operações em vários locais 10 - Calcule o volume de pulverização em L/planta, com fórmula: Q = volume gasto para atomizar 100 plantas / 100 plantas Q = volume de pulverização em L /(uma) planta Volume = volume gasto em litros 11 - Calcule volume total de calda (VTC) por hectare ou pelo número de plantas na cultura do café ou no pomar: Suponha um cultura com espaçamento 3 m x 6 m Total de plantas em 1 ha: 555 plantas VTC = Q x 555 12 - Calcule a quantidade de produto que deve ser adicionado por tanque. Se o volume de pulverização for abaixo do desejado, aumente a pressão, diminua a velocidade ou troque os bicos por um de maior vazão. Se o volume de pulverização for acima do desejado, diminua a pressão, aumente a velocidade ou troque os bicos por um de menor vazão. 6.4. Cuidados durante a aplicação de defensivos 1. Evite a contaminação ambiental - preservar a natureza. 2. Utilize equipamento de proteção individual (EPI). Em caso de contami- nação, substitua-o imediatamente. 3. Não trabalhe sozinho quando manusear produtos tóxicos. 4. Não permita a presença de crianças e pessoas estranhas ao local de tra- balho. 5. Prepare o produto em local fresco e ventilado, nunca ficando à frente do vento. 6. Leia atentamente e siga as instruções e recomendações indicadas no ró- tulo dos produtos. 7. Evite inalação, respingo e contato com os produtos. 8. Não beba, coma ou fume durante o manuseio e a aplicação dos trata- mentos. 9. Prepare somente a quantidade de calda necessária à aplicação a ser con- sumida numa mesma jornada de trabalho. 10. Aplique sempre as doses recomendadas. 11. Evite pulverizar nas horas quentes do dia, contra o vento e em dias de vento forte ou chuvosos. 12. Não aplique produtos próximos à fonte de água, riachos, lagos, etc. 13. Não desentupa bicos, orifícios, válvulas, tubulações com a boca. 14. Use os produtos menos tóxicos para as abelhas ou outros insetos polin- izadores. 15. Não aplique antes das irrigações (por aspersão), pois as gotas d’água la- vam o produto das folhas, anulando o tratamento e contaminando o solo e os Õ 63 cursos d’água. 16. Guarde os produtos em embalagens bem fechadas, em locais seguros, fora do alcance de crianças e animais domésticos e afastados de alimentos ou ração animal. 17. Mantenha o produto em sua embalagem original e não reutilize as em- balagens vazias. A calda deve ser preparada longe de córregos, nascentes e outras fontes de água, de crianças e de residências, utilizando sempre água limpa. Menores de 18 anos, idosos, enfermos e gestantes não devem trabalhar com agrotóxicos. Sua preparação deve ser feita próximo ao local de aplicação. A dosagem do produto deve ser a mesma indicada no receituário agronômico. O aplicador deve, nesse momento, utilizar o E.P.I. completo, pois o produto encontra-se em alta concen- tração. Caso venha a ocorrer a intoxicação do operador ou aplicador, vá ao pronto-socorro e leve a embalagem, com o rótulo, para a identificação do produto tóxico. Entre as mais modernas tecnologias de aplicação de agrotóxicos conhecidas e utilizadas no Brasil,está a Aviação Agrícola que, além de utilizar aeronaves fab- ricadas no país pela Embraer (BEM 200 Ipanema), consegue: - Reduzir a quantidade de agrotóxicos de 60 litros por hectare para menos de 5 L/ha (ultra-baixo-volume ou UBV). - Além disso, reduz em até 4 vezes o tempo de aplicação: enquanto na téc- nica convencional do alto volume (AV) é de 40 a 60 litros de agrotóxicos por hectare, pulverizam-se de 30 a 50 hectares em uma hora de trabalho, com o avião pode-se cobrir de 80 a 120 ha no mesmo período. Com a vantagem de melhor uniformidade na distribuição e de não se compactar o solo (no caso da aplicação motorizada) Logo depois do avião agrícola, a mais moderna tecnologia de aplicação de agrotóxicos está nos veículos motorizados. Além de acelerarem o trabalho, eles expõem menos o aplicador aos efeitos deletérios dos produtos químicos sobre o organismo. A Embrapa desenvolveu o bocal eletrostático para pulverizadores, um eq- uipamento que reduz o uso de agrotóxicos em plantações. Bocal eletrostático: desenvolvido para ser adaptado em pulverizadores motorizados costais, possibilita a redução da contaminação ambiental e humana por agrotóxicos. Segundo o pesquisador do Laboratório de Tecnologia de Aplicação de Agro- tóxicos da Embrapa Aldemir Chaim, que criou o bocal, o aparelho é indicado para pequenos agricultores e para culturas de porte arbustivo, como uva e café. De acordo com a Radiobrás, a Embrapa Meio Ambiente adaptou-o em pulveriza- dores motorizados costais e, em testes realizados na cultura de tomate estaque- ado, foi demonstrada que a nova tecnologia aumenta 19 vezes a deposição de agrotóxicos nas plantas e reduz em 13 vezes a contaminação dos aplicadores. O desperdício para o solo é extremamente reduzido, pois as gotas carregadas com eletricidade estática são fortemente atraídas pelas plantas. Õ a 64 Se a quantidade de agrotóxico depositada nas plantas pelo processo de pulverização convencional é suficiente para controlar o problema fitossanitário, teoricamente, o mesmo controle poderia ser conseguido com a pulverização eletrostática, reduzindo-se 19 vezes a dose aplicada. SAIBA MAIS! Para se aprofundar sobre o bocal eletrostático, leia também o artigo de Chaim, A., Pessoa, M.C.P.Y., Vera, L.F. Eficiência de deposição de agrotóxicos obtida com bocal eletrostático para pulverizador costal motorizado. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 37, n. 4, p. 497-501, abr. 2002. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/pab/v37n4/9083.pdf • Bico de pulverização pneumática eletrostática para aumento da efi- ciência de deposição de agrotóxico: indicado para pulverizar líquidos condu- tores miscíveis em água. Destina-se preferencialmente, mas não de forma res- tritiva, à aplicação de agrotóxicos, podendo ser utilizado em equipamentos de pulverização do tipo pistola para uso individual, em equipamentos estacionários com vários bicos para tratamentos sanitários zootécnicos, ou pulverizadores ele- trostáticos transportados por tratores. Esta solução tecnológica foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com outras instituições. SAIBA MAIS! Sobre o tema, leia ainda: Chaim, A. Aperfeiçoamento de bico de pulverização eletrostática para geração de gotas com alto nível de carga. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 33, n. 4, p. 463-470, abr. 1998. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/ digital/bitstream/item/47088/1/APERFEICOAMENTO-DE-BICO-DE- PULVERIZACAO-ELETROSTATICA.pdf 6.5. Procedimentos para a aplicação de defensivos a) aperte o gatilho da haste do pulverizador costal; b) assegure-se de que o bico da haste esteja numa distância adequada do alvo (planta), de forma a obter uma boa cobertura em toda a sua superfície; c) aplique o produto, mantendo as passadas e o bombeamento o mais cons- tantes possível; d) evite movimentos bruscos, principalmente com o tanque do pulverizador cheio; e) quando for se abaixar com o pulverizador nas costas, dobre os joelhos para não derramar a calda. Para um bom controle, deve-se fazer uma anotação em caderno próprio, após cada aplicação, observando: o dia da aplicação, o produto aplicado, a quan- tidade gasta, a cultura tratada e a área aplicada, visando respeitar o período de carência do produto. Aplique o agrotóxico somente do lado que estiver segurando a haste, para evitar desperdício do produto e possível contaminação ao cruzá-la na frente do corpo. Õ Ì Ì 65 6.6. Lavagem do equipamento de aplicação Após a aplicação, lave o equipamento de forma a estar pronto para o próxi- mo uso. Para isso, o aplicador deve utilizar o equipamento de proteção individu- al adequado, que deve ser lavado com água limpa e corrente, secado à sombra e guardado com a boca voltada para baixo, em um depósito. A água resultante da lavagem do equipamento de aplicação não deve ser jogada no leito de rios, açudes, etc. Deve ser recolhida em uma embalagem e lançada em área da propriedade reservada para este propósito ou atomizada nos campos de cultivo da cultura em que os agrotóxicos forem registrados. As embalagens não podem ficar expostas no campo. Não deverão também ser descartadas em locais impróprios (leitos dos rios etc.). Procure informar-se com um profissional da área, a fim de verificar a existência de algum programa de reciclagem de embalagens de agrotóxicos em sua região. 6.7. Conservação do EPI (equipamento de proteção individual) Após a aplicação, siga as seguintes recomendações: a) lave o E.P.I. longe das roupas de casa; b) lave-o, com água e sabão, no tanque de roupas, com água corrente. Nessa tarefa, use luvas impermeáveis; c) coloque-o para secar à sombra; d) guarde o E.P.I. longe de casa e não junto aos produtos agrotóxicos. e) depois de lavar o E.P.I., o aplicador deve tomar um banho com água fria e sabão e vestir roupas limpas. A contaminação pode ocorrer por contato (via dérmica) e por ingestão (via oral). O contato com a pele é a forma mais fre- quente de intoxicação com agrotóxicos e se dá por meio do contato direto com o produto ou por causa do uso de roupas contaminadas. • Em caso de intoxicação por contato: a) retire o paciente do local de trabalho. b) tire o E.P.I. do paciente e lave as partes contaminadas com água e sabão. c) lave os olhos em água corrente por 15 minutos, caso tenham sido atingi- dos. A contaminação por ingestão é muito perigosa, mas pode ser evitada ou reduzida se o aplicador não fumar, não comer, etc. sem ter lavado bem as mãos ao término da aplicação. • No caso de intoxicação por ingestão, siga estas instruções: a) retire o paciente do local de trabalho. b) provoque o vômito quando recomendado no rótulo da embalagem (ati- tudes de primeiros socorros). c) faça com que o paciente tome muita água, com a finalidade de diluir o agrotóxico. Em ambos os casos, quando for tirar o E.P.I. da pessoa contaminada, utilize equipamento de proteção. Procure o médico imediatamente, levando o rótulo da embalagem do agrotóxico. Os pacientes intoxicados com agrotóxicos não devem tomar leite nem produtos alcoólicos. Nunca provoque vômito em pa- cientes inconscientes. Õ 66 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Adam, A.V. Importance of pesticide application equipment and related field practices in developing countries. In: Watson, D. & Brown, A.W.A. ed. 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INTRODUÇÃO Segundo o Decreto n.º 98.816, de 11/01/1990 do Ministério da Agricultu- ra, Pecuário e Abastecimento (Mapa), o armazenamento de agrotóxicos deverá obedecer às normas nacionais vigentes, às instruções fornecidas pelos fabrican- tes, bem como as condições de segurança explicitadas no rótulo e bula. A ABNT tem estabelecido regras para o armazenamento adequado de pra- guicidas, visando à garantia da qualidade dos produtos, bem como à prevenção de acidentes, por meio da norma NBR 9843 - Armazenamento de agrotóxicos. Legislações locais, inclusive de municípios, muitas vezes estabelecem detalhes, especialmente quanto à localização dos armazéns de produtos perigosos. Os agrotóxicos são mercadorias que podem deteriorar-se, tornando-se ineficazes e até perigosas, se não forem armazenados em condições adequadas. SAIBA MAIS! Para saber mais sobre a norma, consulte: ABNT NBR 9843 FEV 2012. Agrotóxicos e afins – Armazenamento, movimentação e gerenciamento em armazéns, depósitos e laboratórios. (2004) 2012. 12 p. Disponível em: http://andav.com.br/repositorio/527.pdf A NR-31 preconiza uma série de normas a serem tomadas na atividade ru- ral. Empregadores rurais ou equiparados são responsáveis no cumprimento dessas normas, junto com seus trabalhadores. Os produtos adquiridos não po- dem ser armazenados “a céu aberto” ou junto com alimentos e medicamentos. Os agrotóxicos devem ser armazenados em depósitos, distantes 30 metros de casas, alojamentos e refeitórios, com piso cimentado, telhado sem goteiras, e fechados à chave. O produtor rural não deve estocar grandes quantidades dess- es produtos, que devem ser mantidos fechados nas embalagens. Os restos de produtos devem ser guardados nas embalagens originais. 14 Ì 69 SAIBA MAIS! A norma está disponível em: http://goo.gl/WGoq5X As embalagens são mantidas sobre estrados, guardando uma distância das pilhas de 50cm das paredes e de 1 metro do teto. O depósito deve ser bem ven- tilado e possuir chuveiros para a higiene dos empregados após as aplicações, e chuveirinhos para a lavagem dos olhos. Os produtos, no depósito, devem ser separados por classe toxicológica: extremamente, altamente, moderada- mente e pouco tóxicos. Deve ser apontado também, em cada pilha, o prazo de validade dos produtos. SAIBA MAIS! Para se aprofundar no tema, não deixe de conferir: ZÜGE, R.M., SOBRINHO, J.C.R., CORTADA, C., CABRAL, D. Manual de Armazena- mento e Transporte de Embalagens de Agrotóxicos e Produtos de Ori- gem Veterinária. Tecpar, Curitiba, PR. 2005. 17 p. Disponível em: http:// www.crmvsp.org.br/download/Manual_Agrotoxicos_Produtos_vet.pdf 2. ARMAZENAMENTO E ESTOCAGEM 2.1. Instalações físicas Os agrotóxicos nunca devem ser guardados dentro de residências ou de alo- jamento de pessoal. Devem ser armazenados em locais adequados, longe de fogo, estufas ou lâmpadas, em construções exclusivas para tal fim. Em quantidades pequenas, é possível a sua preservação em área isolada e fechada, com chave. Não deve haver a possibilidade de contaminação e tam- pouco confusão do praguicida com qualquer outro produto. Se os produtos forem guardados num galpão de máquinas, a área deve ser isolada com tela de proteção ou parede e mantida fechada sob chave. Normalmente, nas instituições da área da saúde, além dos depósitos setori- ais em que se armazenam pequenas quantidades para uso imediato, é mantido um grande depósito central, onde ficam armazenadas quantidades suficientes para o atendimento da demanda regional por um ano. Depósitos que trabalham com grandes volumes de produtos devem ser racionalmente planejados em função do consumo mensal/anual, obedecendo às regulamentações vigentes. 2.1.1. Para armazenamento de grandes quantidades de agrotóxicos, recomenda-se que as edificações reúnam as seguintes condições: • Situem-se em área isolada, sempre no primeiro piso (térreo), a mais de 30 metros de habitações, instalações industriais, abrigos para animais, fontes, cursos de água e locais onde são conservados ou consumidos alimentos, rações, bebidas, medicamentos e outros materiais que possam ser prejudicados pelos agrotóxicos. Ì Ì 14 70 • Os depósitos de agrotóxicos devem ficar em terrenos elevados para evi- tar inundações; Devem ser total ou parcialmente construídas em alvenaria, incombustíveis, já que um incêndio em depósito de agrotóxicos traz riscos excepcionais. Se o armazém for parcialmente construído em alvenaria, as partes abertas deverão possuir telas ou outros elementos vazados. O piso deve ser impermeável (concreto ou similar), liso e de fácil limpeza; • As paredes e a cobertura devem ter bom isolamento térmico, já que as oscilações de temperaturas contribuem para a degradação do produto. As por- tas e janelas devem ser construídas de maneira a proteger os produtos contra as intempéries e luz solar,assim como impossibilitar a entrada de água em dias de chuva; • Serem amplas, bem ventiladas, com aberturas de ventilação comunican- do-se exclusivamente com o exterior, dotadas de proteção que não permita o acesso de animais (telas). Caso seja artificial (ou forçado), o sistema de ventilação deve ser à prova de explosão e estar de acordo com as normas existentes (NR 10 Instalações e serviços em eletricidade, da Portaria n.º 3.214, de 08/06/1978, do Ministério do Trabalho). Se possível, considerar a existência de lanternim (tel- hado sobreposto) para circulação do ar por convecção, evitando o acúmulo de vapores mais densos no nível do solo. A ventilação é essencial, tanto no nível do solo, como no teto, uma vez que os agrotóxicos - especialmente aqueles for- mulados como líquidos que podem ser inflamáveis e apresentam mais riscos de incêndio - podem gerar vapores a temperaturas normais. A utilização de mais de um ventilador e entrada de ar faz com que o ar se mova uniformemente e remova vapores com maior eficácia; • O ambiente deve ser seco, sem infiltração de umidade pelas paredes, nem goteiras no telhado. As paredes dos depósitos são impermeabilizadas, ou seja, pintadas com tinta que evite a passagem de umidade, para não danificar as embalagens dos produtos; • A iluminação pode ser natural, por meio de telhas translúcidas, ou artifi- cial, desde que as lâmpadas e interruptores sejam seguros, à prova de explosão. Instalações elétricas deficientes podem provocar incêndios. Por isso, devem ser construídas, instaladas e mantidas de acordo com as normas técnicas oficiais de segurança contra explosão e fogo estabelecidos pelos órgãos competentes (NR 10) e, na falta delas, com as normas internacionais vigentes; • Terem portas invioláveis, fechadas com cadeados e chave, para manter os produtos fora do alcance de irresponsáveis, crianças ou animais domésticos. O ideal é que o cadeado seja mantido na porta principal de entrada do depósito e os demais meios de acesso tenham trancas que sejam fechadas pelo lado de dentro; • Terem afixados, nas vias de acesso e em locais visíveis, sinais de advertên- cia indicando a presença e estocagem de produtos tóxicos na área, proibindo o fumo e a entrada de estranhos, com símbolos de perigo para os riscos de in- toxicação e/ou incêndio, conforme NBR 7500 - Símbolos de risco e manuseio para o transporte e armazenamento de materiais, da ABNT. Idealmente, seria interessante também terem afixadas, nas paredes internas do depósito, tabelas de toxicidade e classificação dos agrotóxicos; Õ 71 • Estar limpas e isoladas de agentes físicos ou químicos que venham a prejudicar os produtos armazenados. Devem apresentar condições que possi- bilitem sua descontaminação, como a disponibilidade de materiais próprios, em quantidade adequada, para a limpeza; • Dispor, permanentemente, em locais de fácil visualização e acesso (de preferência próximos à porta), de meios de combate a incêndios e recursos para acidentes, tais como: - instruções de emergência acessíveis e facilmente visualizadas por cartazes ou placas, com números de telefone e endereços emergenciais e de atendimen- tos (Corpo de Bombeiros; médicos, hospitais ou prontos-socorros mais próxi- mos; fabricantes dos produtos envolvidos); - caixa de emergência contando, entre outros, com respiradores com filtro para multigases; luvas de nitrila; botas; aventais; óculos de segurança com am- pla visão; macacões de algodão (para duas pessoas pelo menos), que devem ser inspecionados regularmente. Devem-se obter dos bombeiros locais sugestões e conselhos sobre os melhores equipamentos e normas sobre o uso da água; - extintores, que devem ser revisados periodicamente para assegurar que estejam corretamente carregados; - detergentes domésticos, materiais neutralizantes como cal virgem, soda cáustica, carbonato de sódio, em função da degradação em meios alcalinos da maioria dos agrotóxicos; - absorventes e adsorventes (baldes de areia, serragem fina de madeira, ar- gila granulada), pás; - ferramentas para as operações básicas, como pás de metal, vassouras de piaçava, escovões, baldes de plástico, panos de chão; - embalagens e recipientes vazios (tambores) para o recolhimento de produ- tos vazados e sacos plásticos para o envolvimento adequado de embalagens rompidas; - recursos de proteção coletiva, como chuveiro de emergência, lava-olhos, mangueiras e alarme de incêndio; - estar equipado com para-raios; - o cômodo para administração, se dentro do armazém, deve ter pelo menos uma saída que não passe pelo depósito. Considerar também a existência de saí- das de emergência devidamente sinalizadas. 2.1.2. Os depósitos setoriais, que envolvam operação direta com os agrotóxicos, devem contar ainda com: • um depósito separado de máquinas e utensílios para a manipulação e medidas (balança, filtros, copos graduados, provetas, funis, baldes, canecas) e uma área isolada para manipulação de agrotóxicos, bem ventilada, ao abrigo de insolação e de chuvas. É importante que nesta área exista chuveiro de emergên- cia e dispositivo “lava-olhos” para eventuais casos de contaminações corporais; • uma área especial para limpeza dos EPIs e equipamentos utilizados, com um sistema adequado de contenção de resíduos, de modo a evitar que entrem no sistema de águas pluviais ou mananciais (por exemplo, sistema selado, com- posto de ralos, drenos, diques e canaletas que levem os resíduos a um tanque de contenção); • um cômodo separado para uso diário, com recursos para o asseio indi- vidual: torneiras e vestiários, com chuveiros e sanitários, com armários duplos para guarda de roupa de casa e do serviço, de acordo com a NR 24 -Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho, da Portaria n.º 3.214, de 08/06/1978 do Ministério do Trabalho; nos maiores depósitos, além de um cômodo isolado para administração e controle operacional, deve haver também lavanderia azulejada, com máquina de lavar e de secar para as roupas usadas no 72 serviço e tanque de lavagem de materiais. 2.2. Pessoal envolvido A educação e a informação dos trabalhadores envolvidos no manuseio e aplicação dos agrotóxicos são essenciais na prevenção de acidentes e intoxicações. O funcionário, antes de entrar em contato com os agrotóxicos, deve pesquisar o que está manipulando e ser esclarecido quanto à toxicidade e às instruções de armazenamento constantes nos rótulos e fichas dos produtos. Os encarregados devem assegurar-se de que pessoas qualificadas sejam re- sponsáveis pelo armazenamento dos produtos, protegendo as instalações con- tra invasões e roubos, e pelas consequências decorrentes da estocagem inad- equada e da contaminação de seres vivos e do ambiente. Para isso, este pessoal deve: - ser adequadamente treinado; - sempre estar devidamente vestido (calça, camisa e sapato). Antes de ini- ciar qualquer atividade de contato com praguicida, verificar e utilizar os EPIs ne- cessários à tarefa que vai executar; - ter em seu poder as fichas de emergência com as informações detalhadas sobre os produtos armazenados que envolvam riscos, prevenção e ações de emergência durante um incêndio, vazamento ou derrame, intoxicações e pri- meiros socorros (recomenda-se que essas fichas sejam mantidas em painéis de fácil visualização); - não fumar, acender fogo, beber ou ingerir alimentos no interior do depósi- to; - não exceder às horas de trabalho; - permanecer somente o tempo necessário no interior do depósito; evitar atividades secundárias no local de armazenamento e impedir que durmam ali pessoas ou animais; - ser periodicamente submetido a exames médicos. 3. ESTOCAGEM Para quaisquer que sejam as quantidades e variedades de agrotóxicos uti- lizados ou armazenados no depósito, devem ser observadas medidas de segu- rança, reduzindo-se os desperdícios e os riscos e prevenindo-se acidentes: - o estoque de produtos deve satisfazer o uso em curto prazo, principal- mente nospequenos depósitos. A manutenção de estoques nos níveis central e regional raramente deve ser superior a um ano; - não armazenar alimentos, rações, materiais de almoxarifado ou outros dife- rentes produtos. Além da possibilidade de contaminação, há produtos, como iscas raticidas ou similares, que podem ser confundidas com alimentos; - é importante a manutenção da temperatura de armazenamento, conforme os limites indicados pelo fabricante; -manter todos os produtos nas embalagens originais, hermeticamente fechadas e rotuladas. Jamais em frascos de água, leite ou qualquer tipo de be- bida e alimentos. Os produtos devem ainda ser acompanhados das respectivas Õ 73 fichas de identificação enviadas pelos fabricantes, que devem contar com as se- guintes informações: • Nome comercial; Grupo químico; Classificação toxicológica com a tarja de cor correspondente à categoria; Formulação; Concentração do princípio ativo no produto; Fabricante, com telefone e endereço; Símbolo de veneno e alerta; Características do praguicida (explosivo, inflamável, comburente, corrosivo, ir- ritante); Equipamento de proteção individual no manuseio do praguicida; Ações de emergência durante um incêndio, vazamento ou derramamento; Intoxica- ções: sinais e sintomas, primeiras providências, antídotos; Instruções de armaze- namento (empilhamento); Medidas de proteção ao ambiente. - Após uma remoção parcial dos conteúdos, vedar as embalagens da mel- hor maneira possível e guardar minimizando a possibilidade de contaminação ambiental. É desaconselhável dividir as embalagens originais em quantidades menores ou a reembalagem em garrafas, sacos, caixas e outros recipientes avul- sos. O repasse para outras embalagens avulsas pode trazer riscos de acidentes, muitas vezes fatais, ao serem confundidas com embalagens de alimentos, refrig- erantes, etc.; - armazenar os produtos de forma que as portas de saída estejam livres para a rápida retirada do pessoal em serviço, em caso de acidente; - manter produtos inflamáveis em local apropriado, separados dos agrotóxi- cos, onde não haja possibilidade de aparecimento de centelhas e outras fontes de combustão. Este local deve ser ventilado, protegido com alambrado e conter, nas portas de acesso, cartazes indicativos de riscos de incêndio e proibição de fumar; - manter as embalagens e recipientes, principalmente as de vidro, longe de janelas e radiação solar; - não misturar ou armazenar produtos de classes diferentes na mesma área de prateleira, evitando, dessa forma, contaminações denominadas cruzadas. A estocagem deve ser feita separando-se os diferentes produtos; - armazenar as embalagens de formulações líquidas com o fecho voltado para cima. Antes de armazená-las, verificar cuidadosamente se não têm vaza- mentos; - os rótulos devem estar bem visíveis e em posição de fácil leitura, sempre voltados para o lado externo da pilha, a fim de facilitar a sua localização. Caso não estejam visíveis, devem ser trocados; - numerar as embalagens sequencialmente (controle por fichas) ou separar por lotes segundo as datas de validade, para facilitar a utilização do produto em ordem cronológica de armazenamento (saída dos lotes mais antigos antes dos mais recentes). Sem dúvida, se uma embalagem ou recipiente em particular estiver deteriorado ou com problemas de vazamento, será mais viável usar seu conteúdo na primeira oportunidade, sem levar em conta a ficha de chegada do depósito, desde que o produto esteja em condições de uso; - efetuar um controle permanente das datas de validade dos produtos, evi- tando que ultrapassem a do vencimento; - levar em consideração que o prazo de validade da maior parte dos agrotóx- icos é de dois anos; - produtos com validade próxima do vencimento e que preveem um baixo consumo nos próximos meses devem ser remanejados para outro local com pre- visão de maior consumo; - os produtos com validade vencida devem ser mantidos em local isolado e protegidos, até a destinação final; 74 - inspecionar regularmente as condições das embalagens e recipientes, ve- rificando sinais de corrosão, deterioração, vazamentos, derramamento. Como sinais têm-se: • fortes odores, que indicam frequentemente perdas ou decomposição do produto; ausência de tampas ou etiquetas; • para tambores metálicos: amassamentos, arestas dentadas ou sinais de oxidação; • para tambores ou frascos de plástico: deformações ou vazamentos; • para caixas e embalagens de papelão ou plástico: presença de umidade ou descoloração, furos ou sinais de vazamentos; • para frascos de vidros: quebras ou trincas. - Na suspeita de deterioração, problemas de derramamentos e vazamentos, todos os produtos afetados devem ser transferidos e isolados. 4. EMPILHAMENTO Quanto ao empilhamento: - os agrotóxicos devem ser dispostos de tal forma que na mesma pilha sejam acondicionadas embalagens iguais e do mesmo produto; - os produtos devem ser organizados de forma que haja amplo espaço para manuseio e/ou movimentação, bem como arejamento entre as pilhas, não de- vendo ser encostados nas paredes e teto. - em grandes depósitos, para facilitar a circulação de pessoas, o controle de incêndios e permitir a localização e identificação de vazamentos, devem ser ob- servados os seguintes espaçamentos mínimos: entre fileiras de pilhas - 1,20 m (verificar rotatividade); entre pilhas e paredes - 0,50 m; entre pilhas (parte mais alta dos produtos) e teto: 1 m. - as pilhas dos produtos não devem ficar em contato direto com o piso, prin- cipalmente se houver perigo de umedecimento e corrosão na base dos recipien- tes e rótulos dos agrotóxicos. Devem ser colocados sobre prateleiras ou estrados (1,20 m x 1,20 m); - o empilhamento deve ser feito de forma a manter o equilíbrio estável da pilha, respeitando o número máximo de camadas recomendadas pelo fabrican- te. -as embalagens de formato retangular devem ser empilhadas com apoios cruzados, o que assegura uma autoamarração do conjunto, bem como a sua maior resistência. Na ausência das especificações do fabricante, a NBR 9843 - Armazenamen- to de agrotóxicos, da ABNT, recomenda adotar os procedimentos de empilha- mento segundo o tipo de embalagem. 5. PRIMEIROS SOCORROS Todas as pessoas que manipulam ou aplicam produtos tóxicos correm riscos de contaminação ou, numa situação mais grave, de intoxicação. Na área de mistura e preparo de calda torna-se imprescindível ter, em locais acessíveis, sabão de coco ou comum, copos de vidro ou papel, bem como lava-olhos e chuveiros. Õ 75 Quando ocorrerem casos de intoxicação ou situações mais graves, deve ser providenciado o deslocamento da vítima para um serviço médico. Devem ser levadas, também, todas as informações sobre o produto com o qual houve o acidente (Ficha de identificação do produto). É importante ter na propriedade telefones de centros de intoxicação municipal, estadual e nacional para inteirar- -se dos procedimentos enquanto o paciente não seja transportado ao centro de saúde ou hospital. 6. VAZAMENTOS Em qualquer depósito onde se armazenem agrotóxicos, devem-se tomar precauções para prevenir acidentes e danos, assim como problemas que produ- zam os resíduos e sua eliminação. Os vazamentos nos depósitos ocorrem principalmente quando as embala- gens são deslocadas ou quando são manuseadas inadequadamente. Portanto, deve-se assegurar que as embalagens que forem abertas sejam tampadas ade- quadamente depois do seu emprego. Além disso, deve-se examinar as embala- gens na chegada e, periodicamente, em busca de vazamentos e outros danos. Quaisquer alterações tanto nas embalagens, como nos produtos, devem ser mo- tivos de separação para posterior tratamento e/ou descarte. 6.1. Para casos de vazamentos: *deve-se suspender imediatamente todas as operações; *manter fora da área afetada as pessoas não autorizadas, crianças e animais; *seguir as medidas de segurança e emergência recomendadas nas instru- ções do rótulo do produto e fichas de emergência fornecidaspelo fabricante; *usar os EPIs adequados: luvas, botas, óculos, máscaras com filtro, avental, etc.; *prevenir resíduos adicionais fechando os vasilhames adequadamente ou mudando sua posição para deter o vazamento; *na impossibilidade de manutenção na embalagem original, se muito da- nificada, os produtos devem ser transferidos de preferência para outra emba- lagem vazia do mesmo produto, de modo que não possa ser confundida com recipientes de alimentos ou de outros agrotóxicos. As embalagens devem ser fechadas com segurança e etiquetadas em local visível, com o rótulo original do produto. Porém, se não for possível, usar uma cópia precisa que identifique o produto, a classe toxicológica e as doses a serem usadas. Essas embalagens de emergência não devem ser mais usadas para outra finalidade; *os pacotes vizinhos devem ser cuidadosamente inspecionados e separa- dos para limpeza, caso estejam contaminados; *resíduos secos como pós ou granulados devem ser cobertos com areia ou terra seca e transferidos para vasilhames com tampa, de maneira a não levantar muito pó. O uso de areia umedecida ou água pode liberar gases tóxicos ou infla- máveis de certos produtos; *usar materiais absorventes, adsorventes e neutralizantes para resíduos lí- quidos e transferi-los para recipientes com tampa; *identificar e manter em locais seguros os recipientes utilizados para a cole- ta dos resíduos e de produtos sem condições de uso, bem como as embalagens 76 danificadas e inaproveitáveis para posterior descarte apropriado; *com a situação sob controle, proceder à descontaminação geral de tudo o que foi atingido, de acordo com as instruções fornecidas pelo fabricante. Não utilizar água para lavagem ou limpeza; *o material contaminado resultante da limpeza também deve ser guardado em recipientes fechados e em lugar seguro e bem identificado (pelo menos com o nome comercial do produto e suas especificações) para eliminação segura; *as roupas ligeiramente contaminadas devem ser lavadas com detergente e enxaguadas várias vezes com água abundante, separadas das demais. Para vesti- mentas altamente contaminadas, descartar apropriadamente, juntamente com embalagens inservíveis tratadas e inutilizadas; *nos grandes depósitos, seria interessante haver um aspirador de pó in- dustrial, com elemento filtrante descartável, para se aspirar partículas sólidas ou frações de pós vazados. 7. INCÊNDIO Além dos perigos normais, como queimaduras e geração de fumaça, incêndios em depósitos trazem riscos adicionais. Os produtos e seus derivados em combustão podem gerar gases e vapores tóxicos. Em caso de incêndio deve ser imediatamente acionado o Corpo de Bombeiros. Quando se trata de um grande depósito, é recomendada uma cooperação preventiva que consiste em manter os bombeiros informados sobre a sua localização e quais produtos estão ali armazenados. Nesse meio tempo, deve-se tentar evitar que o fogo se espalhe e a aproxima- ção de qualquer pessoa desprotegida e não autorizada. Devem-se usar os EPIs adequadamente como proteção contra vapores e fumaça. Máscaras contra gases são muito importantes para as pessoas envolvidas no combate ao fogo, no qual serão usados meios que dependem dos tipos de produtos armazenados. Extintores de incêndio com carga de espuma podem ser usados para mini- mizar o problema, para não espalhar os produtos. Jatos de água não devem ser usados quando existem produtos que pos- sam ser espalhados pela pressão da água, havendo o risco de levá-los para esgo- tos ou fontes de água. Embalagens com líquidos combustíveis ou formulações contendo sol- ventes inflamáveis devem ser esfriadas com neblina de água para evitar explo- sões e danos às embalagens. Deve-se combater o fogo lateralmente e nunca contra o vento. Em caso de explosões, mantenha distância. Algumas vezes, se o prédio é isolado e contém materiais altamente tóxicos, o procedimento mais seguro é deixar incendiar, sob supervisão. Ventilação ajuda na completa combustão e a reduzir fumaça tóxica. Se o incêndio se espalhar, somente bombeiros deverão entrar no local. Após o fogo, providenciar que o local seja adequadamente isolado, até o momento da limpeza total da área. Produtos recuperados após o incêndio podem estar aparentemente bons, Õ 77 mas por terem sido expostos a temperaturas elevadas, podem ter iniciado um processo de degradação. Nesse caso, entre em contato com o fabricante do pro- duto em questão, para que este faça uma avaliação das suas condições físico- -químicas. 8. ESTOCAGEM DE AGROTÓXICOS EM PEQUENAS PROPRIEDADES Para a estocagem de pequenas quantidades de agrotóxicos e afins, principalmente nas propriedades rurais, alguns critérios importantes contidos na Norma Técnica NBR n° 9843/04 (ABNT) devem ser observados para garantir um armazenamento seguro, como: - a construção deve ser de alvenaria, com boa ventilação e iluminação natural; - as instalações elétricas devem estar em bom estado de conservação para evitar curto-circuito e incêndios; - as portas devem permanecer trancadas para evitar a entrada de crianças, animais e pessoas não autorizadas; - manter sempre os produtos em suas embalagens originais; - não é recomendável armazenar estoques de produtos além das quantidades para uso a curto prazo; - nunca armazenar restos de produtos em embalagens sem tampa ou com vazamentos; - o depósito deve estar sinalizado com uma placa “cuidado: veneno”; - o depósito deve ficar num local livre de inundações e separado de outras construções, como residências e instalações para animais; - o piso deve ser cimentado e o telhado sem goteiras, para permitir que o depósito fique sempre seco; - os produtos devem estar armazenados de forma organizada, longe de alimentos, rações animais, medicamentos e sementes. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.ABNT NBR 9834-2004. Agrotóxicos e afins – Armazenamento, movimentação e gerenciamento em armazéns, depósitos e laboratórios. 2004. 8 p. 2.INPEV. Apresentação Educativa (Armazenamento, transporte, tríplice lavagem e lavagem sob pressão). Brasil, 2009. Disponível em: Acesso em: 24 de outubro de 2009. 3.RIBEIRO, M. L. et al. Pesticidas: Usos e Riscos Para o Meio Ambiente. HOLOS Environment, v.8 n.1, pág. 53, 2008. Disponível em: http://cecemca.rc.unesp.br/ ojs/index.php/holos/article/viewFile/2539/2236> Acesso em: 27 de outubro de 2009.