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DIREITO AGRARIO Conteúdo programático 1 – antecedentes históricos 2 – denominação 3 – autonomia/especialidade 4 – conceito 5 – elemento tipificador: agranedade 6 – fontes 7 – institutos (imóvel rural, módulos rural e fiscal, latifúndio/minifúndio 8 – princípios 9 – empresa agrícola (atividade empresária, estabelecimento) 10- contrato agrário (típicos, atípicos) 11 – reforma agraria 12 – colonização 13 – justiça agraria Bibliografia 1 – CF/88 2 - Estatuto da terra Lei 4504/64 3 – RIZZARDO, Arnaldo. Curso de direito agrário, São Paulo, editora Revista dos tribunais. * 4 – SCAFF, Fernando campos, Aspectos fundamentais da empresa agraria, São Paulo, Nalheiros. 5 – MARQUES, Benedito Ferreira, direito agrário brasileiro, São Paulo, Altas. ANTECEDENTES HISTORICOS DO DIREITO AGRÁRIO Nenhuma cultura ou sociedade sobreviveu sem a agro (campo), todos utilizavam a terra. No início os povos nômades viviam mediante captura de bens, quando os recursos ficavam insuficientes mudavam de lugar, mas a partir do momento que isso começou a ocorrer chegou um ponto em que as mulheres não conseguiam acompanhar, por conta dos filhos, então elas começaram a se fixar em determinado lugar enquanto os homens caçavam e buscavam alimentos. Com essa permanecia das mulheres começou a utilizar a terra, e devagar começaram a cuidar dos animais, lavrar a terra e a partir daí foi se desenvolvendo a agropecuária. Código de Hamurabi – esse código foi escrito entre 2067 a 2025 a.c. esse código já possuía regras jurídicas sobre a agropecuária, artigos 35 a 65. Código de Manu – aproximadamente 1300 a 800 a.c. De origem Hindu. DIREITO AGRARIO Lei das XII tabuas – Roma, 451 a.c. Significou a mais importante contribuição jurídica existente naqueles tempos. Direito mosaico – Moisés (velho testamento); Pentateuco (gêneses, êxodo, números) Lei de talião - olho por olho, dente por dente. Não é uma lei. Significa equivalência, proporcionalidade entre o delito e pena. Talião não é nome de gente. Emphituesys – gregos, é um instituto que tem o sentido de novo cultivo, é usado até hoje, em português chama-se enfiteuse ou aforamento. Dividiram a propriedade em dois aspectos, a propriedade chamada de domínio direto (antigos donos que continuavam cultivando) e útil (romanos que recebiam uma parte do que era cultivado), esse sistema entrou no nosso código civil. A enfiteuse deriva diretamente do arrendamento por prazo longo ou perpétuo de terras públicas a particulares, mediante a obrigação, por parte do adquirente (enfiteuta), de manter em bom estado o imóvel e efetuar o pagamento de uma pensão ou foro anual (vectigal), certo e invariável, em numerário ou espécie, ao senhorio direto (proprietário). Este, através de um ato jurídico, inter vivos ou de última vontade, atribui ao enfiteuta, em caráter perpétuo, o domínio útil e o pleno gozo do bem. No Brasil até 10 de janeiro de 2003 (fim da vigência do Código Civil de 1916), a enfiteuse era considerada um direito real, no entanto, com o início da vigência do CC/02, em 11 de janeiro de 2003, a enfiteuse saiu do rol de direitos reais, que são previstos no art. 1225 do Novo Código Civil. O direito ao recebimento do foro é denominado laudemium e corresponde a 2,5% do preço de alienação do direito da enfiteuse – sendo devido pelo alienante ao proprietário. No império romano do oriente tinha um imperador chamado Justiniano, o império era muito grande e invadiam muitas terras ao ponto de que o imperador no momento de administrar o império viu que seria impossível, pois cada local era regido por costumes diferentes, sendo assim, decidiu nomear uma comissão de juristas dirigida por um jurista chamado triburiano e 10 juristas, pediu que essa comissão percorresse o império e apontasse todas as normas de todos os reinos conquistados. Isso chamou-se Codex (código), havia muitas leis diferentes. O imperador pediu que essa comissão analisasse com calma esse código e organizasse da melhor forma possível, isso se chamou digesto (resumo), eles resumiram e organizaram toda as leis. Esse digesto possuía 40 volumes. O imperador verificou todo o trabalho que estava em latim clássico, era difícil de ser entendido, só os estudiosos entenderiam, os alunos de direito não conseguiriam entender, ele pediu então que denominassem os institutos principais, resumisse ainda mais, a comissão criou então os institutos Justilianos. Mas devidos fatos novos que ocorrem cotidianamente, o imperador verificou que só isso não resolveria, ele passou então a realizar o “novelles constitutions” (novas leis) = esse trabalho foi denominado pelos historiadores de “corpos juris civile” (corpo de direito civil). O direito civil valia apenas para a nobreza, os patrícios, o povo e os estrangeiros tinham outro regime. Desse “corpos juris civile” foi criado o instituto chamado “locatio conductio” (locação), começando com a locação de “rei” (res=locação de coisa; animais previsto no CC, casas e terras – arrendamento rural previsto no estatuto da terra); “operarum” (locação de serviço – previsto no contrato de prestação de serviço) e “operes” (construção de uma obra – contrato de empreitada). O império Romano foi sendo invadido pelos bárbaros (germânico), até que chegou em um ponto que o império foi totalmente dominado, começa a idade média caracterizada pelos feudos, senhores feudais, nobres que possuíam terras, tinha o sistema do servilismo, os servos eram convidados para DIREITO AGRARIO trabalhar nas terras dos senhores feudais – o regime nesse período feudal era: soberania e jurisdição os senhores feudais constituíam as leis e aplicavam as leis. Essa situação foi criando muita insatisfação e em 1789, ocorreu a revolução francesa, a queda da bastilha. Nessa época só os reis, nobres e o alto clero possuíam privilegio, o povo não tinha direitos e isso gerou uma insatisfação que acarretou na revolução e a queda da monarquia. Alguns nobres insatisfeitos com a monarquia começaram a liderar os pobres nessa revolução. Se instalou na França a república (o império romano é o iniciador de tudo, se inspiraram neles com o fim da monarquia). República (“res” publica) o povo obtinha direitos iguais, o regime implantado foram os cônsules, nomearam 3 cônsules. O direito a propriedade passou a ser: ‘ius intendi” (direito de usar), “ius fruendi” (direito de fruir) e “ius abutendi” (direito de dispor) = direito absoluto da propriedade. Hoje em dia a propriedade deve seguir a função social, não é absoluto. Em 1791 a França criou o código rural, mas napoleão depois que assumiu o império em 1804 reformou o código civil e nessa reforma ele englobou o direito agrário, sendo assim, ele revogou o código rural, e passou a ser tudo regulamentado pelo CC. Em 26 de junho de 1376 Portugal criou a “Lei das Sesmarias’ pelo Rei D. Fernando, o formoso, as terras que não fossem cultivadas por negligencia elas seriam tomadas pela realeza que as passariam para pessoas que a cultivassem – muito parecido com o nosso CC de hoje em dia, a desapropriação. O imperador napoleão invadiu Portugal, pois queria que Portugal se desvinculasse dos ingleses, como não fizeram isso ele invadiu, e para que o rei de Portugal não fosse morto ele fugiu para o Brasil, sendo assim, transformou o brasil em reino unido. Toda a legislação do brasil era portuguesa, sendo assim, a lei das sesmarias foi aplicada no Brasil, as pessoas recebiam uma terra provisoriamente da coroa para que fosse explorada e divididas, depois de certo tempo explorando receberiam o título de proprietário da terra. Mas em razão da falta de ferramentas e da grande área as terras retornavam para o poder da coroa, pois não conseguiam cumprir o que a lei mandava. Depois que houve a proclamação da república essas terras passaram a pertencer a república, nos termos de hoje em dia, pertencem a união – terras da uniãonão pode sofrer usucapião. As terras tiveram que ser devolvidas a união, chamadas de terras devolutas, a união recupera as terras atrás da ação discriminatória, descrever a terra e registrar a terra no nome da união – Lei nº 6383/76. Antes da republica se aplicava as leis portuguesas, chamava-se ordenações do reino – houve as ordenações manuelinas (aplicadas pelo rei Manuel); afonsirias (aplicada pelo rei afonso) e filipinas (aplicada por rei Felipe – durou por cerca de 300 anos, até 1603). Depois da republica não se podia mais obedecer as leis portuguesas, sendo assim, D. Pedro tornou as leis portuguesas em brasileiras, e continuo sendo seguida as mesmas normas. Essas legislações já previam a enfiteuse e contrato de arrendamento (previstos até hoje). A medida que o Brasil foi criando sua própria legislação houve um momento de vacatio legis para que houvesse a adaptação das novas leis. O CC brasileiro além de manter a mesma estrutura das ordenações, manteve a enfiteuse e previa as ações agrarias. Em 1922 um professor da universidade Bolonha na italiana chamado Giangastone Bolla começou a observar o direito agrário e criou a “rivista di diritto agrario” e começou a publicar artigos na Itália sobre o assunto, assim foi se consolidando o conceito de função social da propriedade, esse conceito não nasceu ali, ele registrou e desenvolveu isso. Esse conceito começou com a revolução mexicana em 1917, Pancho Villa foi o líder da revolução, a propriedade era retirada dos grandes latifundiários e era entregue a uma cooperativa que ficava com a obrigação de produzir DIREITO AGRARIO (diferente do Brasil que era entrega a pessoas). Em seguida 1919 houve a constituição de Weinear na Alemanha, como consequência do termino da primeira guerra começou a se delinear a função social da propriedade que se expressava da seguinte maneira: “la proprietí oblige” a propriedade obriga. Com os estudos do professor Bolla a estrutura que veio da revolução francesa que considerava a propriedade como “jus utendi”, “jus fruendi” e “jus abitendi”, essa visão fio sendo abandonada e criou-se o conceito de “res frugifera” coisa que deve produzir frutos. No Brasil em 1941 foi editado o estatuto da lavoura canavieira, decreto lei 3.855/41 – lavoura vem do latim “lavor” trabalho, do italiano “lavorar” trabalhar, pra gente significa plantação. Esse estatuto referia-se aos contratos de arrendamentos, parcerias e contratos típicos de trabalho (desvinculou agora é direito trabalhista). Foi muito importante na época, mas hoje esta revogado. Em 1963 houve a Lei nº 4.214 que é o estatuto do trabalhador rural – o trabalho rural não tinha os mesmos direitos do trabalho urbano e essa lei foi tratar desse assunto, foi um progresso na atividade rural, hoje é revogado pela Lei nº 5.889 de 08 de junho de 1973 que traçou normas novas mas principalmente mandou aplicar as regras da CLT no trabalho rural, passou a ser os mesmos direitos, essa lei está em vigor até hoje. Em 1960 um professor chamado Fernando Pereira Sodero começou a fazer estudos sistematizados do direito agrário a partir das pesquisas do professor Bolla – mas antes dele tivesses um parlamentar gaúcho chamado Joaquim Luiz Osorio que em 1914 criou o primeiro ante projeto de código rural brasileiro, não foi aprovado. Em 1937 ele escreveu uma doutrina chamado direito rural, obra reeditada em 1948. Em 1953 o jurista paulista advogado chamado Francisco Malta Cardoso escreveu uma obra chamada tratado de direito rural brasileiro (3 volumes). Foram tentativas de se desenvolver o direito agrário, mas era puro direito civil, em razão disso em 1960 começou os estudos e observou que o direito agrário tinha sujeito próprios diferente do direito civil e por isso deveria ser tratado como um direito autônomo, a grande diferença do direito agrário é uma área de grande risco em razão da natureza imprevisível, por lidar com seres vivos. No entanto alguns autores como Miguel Reali era contra a criação de um direito agrário especifico, mas foi prevalecendo os estudos do professor Sodero. Primeira menção do direito agrário como um ramo especifico na constituição brasileira foi em 1934 se referia a direito rural. Mas na constituição de 1946 não constou, ignorou. Houve a emenda constitucional em 10/10/1964 incluiu na constituição de 46 o direito agrário. Em 1967 houve a constituição outorgada que previa direito agrário, depois tivemos a emenda constitucional nº 1 de 17/10/69 que alterou a constituição de 67, e por último houve a constituição atual de 1988. Essas ultimas três previam direito agrário ao invés de usar o nome rural. Em 30/11/1964 a Lei nº 4.504 - chamada de estatuto da terra acabou se tornando a norma agrarista fundamental no Brasil, nela trata tudo, trata dos direitos e obrigações relativas aos bens imóveis, o objetivo das autoridades da época era mudar o sistema dominial, os sistemas de propriedade da terra eram chamados fundos, por isso proponham uma mudança no sistema fundiário. Tratava dos contratos agrários e especialmente as parcerias. Em 06/04/1966 houve uma Lei Federal nº 4. 947 que complementou o estatuto no que diz respeito aos contratos agrários, principalmente no seu artigo 13. Cada capitulo desse estatuto recebeu um decreto regulamentador para regularizar, o decreto nº 59.566 de 14/11/66 regulamentou os contratos agrários – nesse decreto consta tudo a arespeito. A CF/88 tratou o sob a função social da propriedade – artigo 186, se não cumprir fica passível de desapropriação DIREITO AGRARIO Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. A partir dessa constituição abandonou a visão anterior que privilegiava o domínio da terra e começou a privilegiar a produção, trabalho, resultado. Houve a Lei nº 8.171 de 17/01/91 voltada a produção e em seguida veio a lei nº 8.629 de 25/02/95, enquanto o estatuto da terra no artigo primeiro privilegia o dono, a nova constituição privilegia a produção e essa Lei se refere a reforma agraria em razão da importância da produção, trata também da propriedade rural em forma ampla. Em 2002 houve a Lei nº 10. 406 do CC brasileiro, que revogou o Código de 1916 que previa e regulava os processos agrários, no novo CC não tocou mas no assunto agrário – lei especial sobre direito agrário que tratava disso “estatuto da terra”. Seguindo esse entendimento o CC cuidou só da parte civil, não referindo ao direito agrário, porem nos artigos 970 e 971 do CC pressupõe a existência da empresa agraria/rural. Na américa latina sempre prevaleceu a ideia de justiça social, distribuir propriedade por justiça social “a fulano não tem terra”, a reforma agraria se pautou nisso erroneamente. Tem que ter terra quem se dispõe a produzir e não por que se senti injustiçado socialmente. Na LINDB no artigo 5º está especificado que a "Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum" – es preocupação social sempre existiu. Mas hoje a propriedade não tem mais sentido filosófico, mas sim de produção. Direito agrário já é entendido como direito autônomo, com regras próprias, e em razão do acréscimo de risco por se tratar da natureza e seres vivos, além do risco empresarial normas, o direito agrário prevê uma proteção maior aos que atuam nesse ramo, maior que a do direito civil, o direito civil prevê igualdade entre as partes, já no direito agrário é protegido, a tutela dos agentes do direito agrárioé maior do que os que atuam no âmbito do direito civil. O direito agrário protege o hipossuficiente, que está em pé de desigualdade, qual seja o nível. Rural – “rus”, “ruris”, “ruralis” – “rustiam. Rural é mais genérico, significa campo que é um terreno distante da cidade, da urbe (urb). Exemplo, um posto de gasolina fora do perímetro urbano é considerado rural. Esse posto deve pagar IPTU ou ITR? Deve pagar o IPTU pela sua destinação. Isso significa que se houver atividade agraria dentro do perímetro urbano deve-se pagar ITR e não IPTU. Agrário – “ager”, “agri”, “agrarius”. Significa terra passível de produção agrícola (agro - campo + colo - cultivar). Conceito de direito agrário: para adotarem o ramo da autonomia no direito é necessário analisar dois aspectos: autonomia formal (inclusão/concentração de normas jurídicas relativas a determinado ramo do direito em um só veículo formal, exemplo, código civil, código penal) e substancial (especialização do conteúdo das normas e a sua diferença dos demais conteúdos). Então embora a partir da CF/88 o direito agrário é considerado autônomo, depois da aprovação do CC atual, não se pode mais falar em autonomia formal, pois há normas inclusas nesse CC. Não se pode mais falar que o direito agrário é um ramo autônomo do direito, mas também não é CC. Podemos afirmar hoje, que o direito agrário é um ramo especial do direito privado. DIREITO AGRARIO Agrariedade é a vinculação de todas as normas e institutos a produção vegetal e animal. Comprar um animal e um objeto, ambos são um contrato de compra e venda previstos no CC, o que diferencia é que a compra e venda do animal é qualificado como agrário pelo elemento agrariedade, que é o que vincula as atividades do campo como um ciclo biológico = ciclo de vida. E a outra compra é comercial. Ciclo produtivo é a interferência humana nesse ciclo biológico que gera produção. A agrariedade é exatamente a vinculação da atividade com esse vínculo biológico. Interrompe o ciclo biológico para obter o produto que interessa no momento. A atividade agraria é a interferência humana no ciclo biológico para otimizar esse ciclo, e obter produtos melhores, mais rápidos, com maior quantia e menor preço. Direito agrário prevê uma tutela especial aos que praticam a atividade agraria, pois estão sobre um duplo risco, o risco comum da atividade empresarial, mais o risco acrescido do ciclo biológico. Fontes do direito privado São aqueles que fazem nascer o determinado direito - fonte imediata: leis agrarias e costumes rurais - fonte mediata: médio prazo, doutrinas e jurisprudências agrarias A principal fonte do direito agrário continua sendo a constituição federal. XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição – pode ser feita desde, que não esteja cumprindo a função social da propriedade e o poder público tenha interesse na propriedade. A função social da propriedade para que seja cumprida deve seguir cumulativamente: Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º - a expropriação é confisco, você não ganha, sendo assim é diferente da desapropriação que o proprietário é indenizado. DIREITO AGRARIO FONTES CONSTITUCIONAIS Constituição Federal: Fixa as linhas mestras, norteadoras do ordenamento jurídico agrário. Fonte é a origem das leis. Há fontes imediatas – aquelas que provocam desde logo a validade de regras jurídicas, a principal é a constituição federal; e mediatas – mais distantes, como doutrinas e jurisprudências. - art. 5º, XXII – garante o direito de propriedade; - art. 5º, XXIII – determina que a propriedade deve atender à sua função social; - há quatro requisitos para cumprir a função social: produção racional e adequada, proteção ao meio ambiente, respeito a legislação trabalhista e que propriedade tenha exploração que beneficia proprietário e trabalhadores – esses requisitos devem ser observados cumulativamente. Para que ocorra a desapropriação é necessário que o poder público tenha interesse e que não esteja seguindo a sua função social, não ocorre a desapropriação de forma automática. - art. 5º, XXIV – prevê a desapropriação por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, observados os casos previsto na própria CF; Art. 186. Estabelece os requisitos para a observância da função social da terra: - produção racional e adequada; - proteção ao meio ambiente e aos recursos naturais; - respeito à legislação trabalhista; - exploração que beneficie os proprietários e os trabalhadores. Esses requisitos devem ser cumpridos simultaneamente, sob pena de não ser cumprida a função social da terra. Art. 243: determina a expropriação imediata, sem qualquer indenização, de glebas que contiverem culturas ilegais de plantas psicotrópicas. Essas glebas servirão ao assentamento de colonos, para cultivo de alimentos e medicamentos – se for plantação ilegal poderá de expropriada (confiscada) sem qualquer indenização (diferente da desapropriação onde o proprietário é indenizado) – deve se observar a cultura. Essa terra expropriada é dirigida aos sem-terra. Art. 126: prevê a existência de juízes com competência exclusiva para questões agrárias e, se necessário, comparecer no local do litígio – significa dizer que o artigo se refere aos casos que houver litigio por terra (invasões e etc.) Art.184: desapropriação por interesse social para a reforma agrária – Indenização em TDAs – 20 anos – TDAs é títulos da dívida agrária, papéis emitidos pelo governo prometendo te pagar até 20 anos, quanto maior o valor mais tempo demora. Benfeitorias no âmbito rural é uma casa da sede, um rural, um prédio de maquinas, depósitos, mais não só isso, no trato na terra, por exemplo, a curva de nível, cercas, sistema de água, protegem a terra então é benfeitorias que devem ter indenização em dinheiro e de forma prévia, o que não for benfeitoria será indenizado por TDAs. Art. 185: Insuscetíveis de desapropriação para a reforma agrária: pequena e média propriedade se o proprietário não tiver outra; e propriedade produtiva – não permite desapropriação Art.189: títulos de domínio da reforma agrária – inegociáveis por 10 anos. Art.190: limitação à aquisição de propriedade rural por estrangeiros – pessoa jurídica estrangeira desde que tenha objetivo estatuário com sentido de exploração da terra pode adquirir. Se tratar de área de segurança nacional não basta autorização do INCA, de 3 até 50 precisa da autorização da secretaria geral de defesa nacional também. Lei 5709 de 1971, artigo 12, impõe uma restrição na área DIREITO AGRARIO total do município em que as pessoas jurídicas podem ter terras em cada um dos municípios, limita a ¼ (25%) da superfície do município, é o máximo que pode ser pertencente ao estrangeiro. Tem outrarestrição dessa lei, até 40% desse ¼ pode ser adquirido por estrangeiros da mesma nacionalidade. Também prevê situações que não precisam observar essas regras, como áreas inferiores a 3 módulos não necessita seguir esses requisitos ou ter filho brasileiro ou ser casado com brasileiro em regime de comunhão parcial de bens. A aquisição de imóveis rurais que violem essa lei é nula, deverá restituir o que recebeu do adquirente e deverá ser responsabilizado criminalmente. Essas restrições não se aplicam aos portugueses que venham ter terras no brasil, e não se aplica aos brasileiros que venham a ter terras em Portugal – princípio da reciprocidade. Art. 191: usucapião constitucional ou pro labore – exige uma posse de 5 anos ininterruptos – devem abranger área não superior a 50 há Sistema tributário: art. 153 CF - Compete à União instituir impostos sobre: VI propriedade territorial rural; - será progressivo, quanto mais produtiva a propriedade menor o imposto quando menos produtiva maior o imposto, esse imposto não incide sobre pequenas glebas rurais (não imunes pois está disposto na própria constituição). Art. 20. São bens da União: antigamente quem possuía o solo era dono do subsolo e da parte aérea, com o progresso a legislação teve que mudar. Hoje todo o espaço aéreo e subsolo pertencem a união, isso traz algumas restrições, se quiser explorar subsolo precisa de uma outorga, permissão para isso, pois pertence a união. Fontes infraconstitucionais – como lei base do direito agrário o estatuto da terra, Lei 4504 de 30 de novembro de 1964, naquela época em que foi editado significou um verdadeiro código rural, tinha objetivo de tratar em primeiro lugar das propriedades rurais em sentido da reforma agraria, entendia- se que era necessário uma reforma agraria para que houve progresso na produção, retirar as terras dos proprietários que não produziam e dar aquelas que produzem. Agora o primeiro requisito é produção racional e adequada, deixou de lado a questão de quem é proprietário e se voltou a produção, temos uma visão mais voltada a produção agraria. E hoje esse estatuto já foi modifico e atualizado por outras legislações. A lei do estatuto da terra foi complementada por outra lei em 1966 que criou regras complementares ao estatuto da terra. Lei 8171 de 17 de janeiro de 1991, após a constituição de 81, dispõe sobre a política agrícola, conjunto de normas que incentiva a produção Lei 8629 de 25 de fevereiro de 1993 regulamentou e disciplinou condições da reforma agraria Decreto 59.566 de14 de novembro de 1966 – regulamenta a parte referente aos contratos do estatuto da terra - Contratos agrários. Código civil é também uma legislação agraria margeante infraconstitucional – é utilizado principalmente nos contratos no que diz respeito as pessoas e negócios jurídicos. Todas os contatos agrários são regulados pelas normas dos contratos do direito civil (ser maior, ter representante e etc) CONCEITOS E DEFINIÇÕES ESPECÍFICAS DO DIREITO AGRÁRIO a) imóvel rural: conceito Lei 8629/93 art. 4 I - Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, DIREITO AGRARIO pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial; - termo rústico no sentido jurídico se refere a rural. Ponto principal desse conceito é que o imóvel que importa para o direito agrário é aquele voltado para produção, diante disso, pode verificar que imóvel rural não é só aquele localizado fora do perímetro urbano independentemente da atividade que seja exercida nele. Inicialmente considerava-se o imóvel rural com base na teoria da localização, já que o Cód. Tributário nacional previa a incidência do ITR, sobre os imóveis situados fora da zona urbana do município (lei 5.172/66, art. 29). No entanto, o decreto Lei nº 57/66, recepcionado pela CF de 1988 e reconhecido como lei complementar, adotou a teoria da destinação ou seja, levando em conta sua finalidade. Isso significa que constituem imóveis rurais todos aqueles situados fora da zona urbana do município, desde que neles se pratiquem atividades agrícolas, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial. No mesmo sentido são imóveis rurais os localizados na área urbana, desde que, comprovadamente, neles se pratiquem essas mesmas atividades. Em consequência, consideram-se urbanos os imóveis situados no perímetro urbano que não sejam explorados para fins agrários, mas também aqueles localizados fora do perímetro urbano que não tenham dimensões suficientes para ser rurais e ou sejam explorados para fins urbanos como residência, sitio de recreio ou atividades comerciais. Assim o ITR incide não só sobre os imóveis situados na zona rural, como também, os situados no perímetro urbano desde que nos dois casos, sejam explorados com atividades agrarias. No mesmo sentido, incidirá o IPTU sobre os imóveis urbanos e ainda, sobre os imóveis situados fora do perímetro urbano que sejam utilizados para fins urbanos. b) Tamanho da propriedade rural: pequena, média e grande o art. 4 da lei 8.629/93 classifica o imóvel rural, quanto ao seu tamanho em três pios a saber: I – pequena propriedade: imóvel rural de área comprometida entre 1 a 4 módulos fiscais II – média propriedade: imóvel rural de área superior a 4 e até 15 módulos fiscais III – grande propriedade: imóvel rural de área superior a 15 módulos discais Nos termos do artigo 50, §3º do E.T, classificam-se as propriedades em pequenas, medias e grandes, apurando-se o número (quantidade) de módulos fiscais que contém cada uma delas, mediante a divisão da área aproveitável do imóvel pelo modulo fiscal do município. Diz o § 3º do art. 50 do E.T: “o número de módulos fiscais de um imóvel rural será obtido dividindo- se sua área aproveitável total pelo módulo fiscal do município”. A área aproveitável exclui as APPs, a reserva legal, área de sede, construções, instalações, morros, encostas e todas as demais áreas em que não se possam praticar atividades agrarias, inclusive áreas sob exploração mineral (art. 10 da Lei 8.629/93). No entanto, o STF não acolhe esse entendimento, em razão de não haver preceito constitucional ou legal que permita a exclusão da área não aproveitável do imóvel rural para classifica-lo como pequena, média ou grande propriedade. DIREITO AGRARIO Isso porque, segundo o entendimento da suprema corte o art. 50 e seus parágrafos do Estatuto da Terra destinam-se á finalidade única de calcular o ITR – imposto territorial rural, constituindo instituto dirigido ao direito tributário (embora previsto no E.T), impossível de ser enxertado no direito agrário para outras finalidades. Ou seja, no entendimento do STF, a área que deve servir de base para o calculo do número de módulos fiscais do imóvel rural é sua área total (incluindo as áreas não aproveitáveis) e não apenas a área aproveitável. A diferença é relevante pois, o art. 185 da CF dispõe que: São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. No mesmo sentido o art. 4º parágrafo único da Lei 8.629/93 que, entretanto, não menciona a propriedade produtiva. Partindo-se da área total do imóvel sem considerar as áreas não aproveitáveis, sua classificação como pequena ou média propriedade será mais difícil e por consequência, mais provável seu enquadramento na classificação que permite a desapropriação para fim de reforma agrária. A doutrina condena a posição do STF ao argumento de que é inconcebível mudar os conceitos de institutos jurídicos em razão de sua destinação. Se há um conceito jurídico de pequena, média e grande propriedade rural, o mesmo deve valer para qualquer finalidade, principalmente dianteda omissão da lei em criar outros conceitos. Há também consideração de ordem prática, se a classificação da área rural é feita em função de seu tamanho e, não de sua área aproveitável isso leva a conclusão de que se deve admitir a exploração do imóvel em sua totalidade pelos futuros assentados, incluindo as áreas de reserva legal e de preservação permanente. c) Propriedade familiar O inciso II do art. 4º do E.T define a propriedade familiar como: "Propriedade Familiar", o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros;” A propriedade familiar tem o tamanho mínimo de 1 módulo rural que é a área mínima suficiente para que uma família possa viver e progredir com sua exploração, calculada de acordo cada região do pais e com seu tipo de exploração. Se essa propriedade for menor que um módulo rural caracteriza minifúndio. DIREITO AGRARIO Se for maior que um módulo rural não significa necessariamente que seja um latifúndio, podendo ser classificada como pequena ou média propriedade ou, até mesmo, empresa rural, já que qualquer uma dessas propriedade pode possuir mais de um módulo rural. Embora o E.T não fixe o tamanho máximo de terras para a caracterização da propriedade familiar, a legislação que estabelece as diretrizes da politica nacional da Agricultura familiar considera agricultor familiar quem pratica atividade no meio rural e não detenha a qualquer título, área maior do que 4 módulos fiscais – Lei 11.326/2006, art. 3º, inciso I. Pode-se entender, pois que a propriedade familiar deve ter o tamanho compreendido entre 1 módulo rural e 4 módulos fiscais. No entanto o E.T no art. 4º, inciso II, considera a propriedade familiar como o imóvel que possua área suficiente para sustentar o agricultor e sua família, ao passo em que o inciso III desse mesmo dispositivo estabelece ser o módulo rural “a área fixada nos termos do inciso anterior”, vale dizer, nos termos do inciso II. Ou seja, para o E.T a propriedade familiar corresponde a 1 módulo rural, mas a Lei 11.326/2006 em seu art. 3º, inciso I, considera agricultor familiar quem detenha área de até 4 módulos fiscais, o que pode ser muito maior que um módulo rural, o que evidencia a insuficiência do conceito de módulo rural para caracterizar a propriedade familiar. d) Módulo Rural Módulo rural é uma unidade de medida, expressa em hectares que busca exprimir a interdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições de seu aproveitamento econômico. O módulo rural equivale à área mínima necessária ao aproveitamento econômico do imóvel rural para o sustento familiar. Sua finalidade é evitar a existência de glebas cujo tamanho não seja suficiente para propiciar o progresso econômico e social do agricultor, evitando a fragmentação dos imóveis rurais e a constituição de minifúndios. É a área mínima que permite a abertura de matrícula de imóvel rural no registro de imóveis, não se admitindo o registro de áreas de minifúndios. O módulo rural mínimo corresponde ao módulo de exploração hortigranjeira da zona de módulo (ZTM) aa que o município pertencer. Ao ser parcelado o imóvel rural, a área remanescente não poderá ser inferior a fração mínima de parcelamento (FMP). O modulo rural varia de tamanho em razão da localização do imóvel, do tipo de exploração predominante nele existente e das condições de aproveitamento econômico (art. 11 do decreto 55.891/65). DIREITO AGRARIO Segundo classificação do INCRA, o imóvel rural pode ser de exploração hortigranjeira, de cultura permanente, de cultura temporária de exploração pecuária, de exploração florestal e de exploração indefinida. Por consequência há os seguintes tipos de módulos: - módulo de exploração hortigranjeira - módulo de lavoura permanente - módulo de lavoura temporária - módulo de exploração pecuária de médio e grande porte (a exploração pecuária de pequeno porte é considerada exploração hortigranjeira) - módulo de exploração florestal O INCRA estabelece zonas típicas de módulo (ZTM) nas quais se enquadram os vários municípios do país. Para apuração do módulo rural, verifica-se a qual das zonas típicas de módulo o município pertence e apurado isso, busca-se o número de hectares previstos naquela ZTM para a exploração hortigranjeira. As funções do módulo rural são as seguintes: - determinação da fração mínima de parcelamento - enquadramento sindical do proprietário, com base no número de módulos rurais da propriedade - limitação da aquisição do imóvel rural por estrangeiro, pessoa física ou jurídica (nesse caso, o módulo é de exploração indefinida, previsto nas ZTMs.) - definição dos beneficiários do banco da terra e do programa nacional de credito fundiário (PNCF) - parâmetro bancário de área penhorável Há outras medidas agrarias para o dimensionamento das áreas dos imóveis rurais, o que acaba reduzindo a importância do módulo rural e, inclusive promovendo confusão na identificação e na aplicação de um ou outros desses institutos. e) Módulo Fiscal Uma outra medida para o dimensionamento das áreas rurais é o módulo fiscal que, para parte da doutrina, substituiu o módulo rural, entendimento esse que decorre do disposto no art. 22 do decreto 84.685/80, que regulamenta o imposto sobre propriedade territorial rural (ITR). No entanto, módulo rural e módulo fiscal, embora sejam correlatos no que se refere a fixação da área em hectares, possuem finalidades diversas: a) O módulo rural é calculado para cada imóvel rural em separado e sua área reflete o tipo de exploração predominante, segundo a região onde se localiza b) O módulo fiscal é estabelecido para cada município e procura refletir a área mediata dos módulos rurais dos imóveis rurais do município. O conceito de módulo fiscal considera os seguintes fatores: - tipo de exploração predominante no município - renda obtida com a exploração predominante DIREITO AGRARIO - outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em razão da renda ou da área utilizada - conceito de propriedade familiar As finalidades do módulo fiscal são as seguintes: - servir de unidade de medida para a classificação dos imóveis rurais segundo a Lei 8.629/92, ou seja, as pequenas, médias e grandes propriedades. - servir de parâmetro para as alíquotas de incidência do imposto territorial rural – ITR - delimitar os beneficiários do programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar - PRONAF - estabelecer os critérios de resgate da dívida agraria pagos como indenização das desapropriações por interesse social. - Lei 8.629, art. 5, § 3º. - constituir a base de cálculo para a contribuição do serviço nacional de aprendizagem rural – SENAR O número de módulos fiscais de um imóvel rural é obtido dividindo-se sua área aproveitável total pelo módulo fiscal do município. Considera-se área aproveitável (ou útil) de um imóvel rural a que for passível de exploração agrícola, pecuária ou florestal. Não se considera aproveitável (art. 5º e 6º do decreto 84.685/80) - área ocupada por benfeitorias - área ocupada por floresta ou mata de efetiva preservação permanente ou florestada com essências nativas - área comprovadamente imprestável para qualquer exploração agrícola, pecuniária ou florestal. Conceito de Latifúndio e minifúndio - a legislação continua se referindo a isso e a doutrina também, mesmo que a CF não se refira mais, utiliza agora o conceito de pequena, média e grande propriedade. Latifúndio– “fundo grande” são as propriedades com as suas agrícolas. No sentido comum corresponde a uma extensão de terras não exploradas ou minimamente exploradas, para o direito agrário o latifúndio é o imóvel rural que tem área igual ou superior ao modulo rural e que é mantido inexplorado ou minimamente explorado, ou seja, não cumpre sua função social. Art. 4º, V, estatuto da terra - "Latifúndio", o imóvel rural que: a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do artigo 46, § 1°, alínea b, desta Lei, tendo-se em vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e o fim a que se destine; b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo área igual ou superior à dimensão do módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja, deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de empresa rural; Art. 22 DECRETO Nº 84.685 - Para efeito do disposto no art. 4º incisos IV e V, e no art. 46, § 1º, alínea "b", da Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, considera-se: I - Minifúndio, o imóvel rural com dimensão inferior a um módulo fiscal, calculado na forma do art. 5º; II - Latifúndio, o imóvel rural que: a) exceda a seiscentas vezes o módulo fiscal calculado na forma do art. 5º; DIREITO AGRARIO b) não excedendo o limite referido no inciso anterior e tendo dimensão igual ou superior a um módulo fiscal, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja, deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de empresa rural; Minifúndio – inferior ao módulo rural, não pode existir embora exista ainda, comparado a pequena propriedade. Art. 20 – estatuto da terra. As desapropriações a serem realizadas pelo Poder Público, nas áreas prioritárias, recairão sobre: I - os minifúndios e latifúndios; - permite desapropriação por não ter condições mínimas para cumprir a função social, mas o artigo 185 da CF proibi desapropriação de pequena e medias propriedade, então embora o minifúndio não seja produtivo, por isso pudesse ser desapropriado, se for produtivo não poderá ser desapropriado por conta do artigo 185 e por ser considerado pequena propriedade. PRINCIPÍOS DO DIREITO AGRÁRIO Princípios são valores que norteiam a interpretação e aplicação dos institutos do direito agrário. São valorações finalísticas, isto é, que tem em conta a finalidade do direito agrário. Não são – e não podem ser- estabelecidos aleatoriamente devem ser fundamentados em alicerces legais e axiológicos, naquilo que é (ser) e que deve ser (dever ser). Os princípios básicos do direito agrário vêm expressos na lei, a partir da constituição federal, do estatuto da terra, e seu regulamento (decreto 59.566/66) em legislação agrária complementar e no código civil. Também decorrem de construção doutrinaria e jurisprudencial. Nessa matéria, cada autor relaciona uma serie de princípios, muitos dos quais, entretanto, são contidos em outros mais amplos, constituindo até subprincípios, de forma que é suficiente abordar os mais relevantes que fixam os contornos do direito agrário e que são os seguintes: 1 – monopólio legislativo da união, no que se refere à sua regulamentação (art. 22, I e art. 152 da CF). 2 – sobreposição da utilização da terra à titulação dominial. 3 – a propriedade da terra é garantida, mas condicionada ao cumprimento da sua função social (art. 186 da CF, art. 2º, § 1º e arts. 12 e 13 do E.T e art. 9º da Lei 8.629/93). A função social da terra é cumprida (art. 186 CF) quando observados, simultaneamente: a) Aproveitamento racional e adequado b) Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente c) Observância das disposições que regulam as relações de trabalho d) Exploração que favoreça os benefícios dos proprietários e dos trabalhadores. Dai extrai-se até como subprincípios: I. Incremento da produção – (ITR progressivo, art. 153, § 4º, e art. 23, VIII da CF). II. Defesa do meio ambiente e dos recursos naturais (art. 23, VI e VII e 225 da CF) III. Proteção ao trabalhador e ao empresário rurais (art. 7º da CF, art. 2º, § 3º do E.T e Lei 5.889/73) 4 – prevalência do interesse público sobre o individual DIREITO AGRARIO 5 – combate ao latifúndio, ao minifúndio e à exploração predatória (art. 20, inciso I, do E.T) 6 – proteção à pequena e média propriedades e a propriedade produtiva. - CF, art. 153, §4º, inciso II – ITR não incide sobre pequenas glebas rurais, quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel (imunidade) - CF, art. 185, I e II e Lei nº 8.629/93, art. 4º, parágrafo único – são insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e média propriedade rural, desde que seu proprietário não possua outro imóvel rural. - CF, art. 5º, XXVI e art. 649, inciso VII do CPC e art. 4º, § 2º da Lei 8009/90 – a pequena propriedade rural, desde que trabalhada pela família não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva. 7 – fortalecimento de empresa rural e da empresa agrária (art. 4º, inciso IV do E.T, arts. 970 e 971 do CC). 8 – proteção ao hipossuficiente (Lei 8.171/91, art. 2º, inciso VI) – sobre contratos agrários. - Lei 4.947/66 – art. 13, IV – nos contratos, proibição de renúncia por parte do arrendatário ou do parceiro não proprietário de direitos ou vantagens estabelecidas em leis ou regulamentos. 9 – restrição a liberdade de contratar - obrigatoriedade de cláusulas de proteção aos hipossuficientes e para a conservação do meio ambiente e dos recursos naturais. Lei 4.947/66 art. 13. - limites quanto aos prazos contratuais, porcentagens, alugueis, além de outras exigências, E.T, arts. 92 a 96 e decreto 59.566/66, arts. 13 e seguintes. 10 – restrição ao fracionamento do imóvel rural Fração mínima de parcelamento – para fins de transmissão a qualquer título, divisão em partilha judicial ou amigável ou divisão de condomínio, nenhum imóvel rural poderá ser desmembrado ou dividido em área de tamanho inferior ao módulo rural (módulo fiscal) ou da fração mínima de parcelamento do município, prevalecendo o que for menor. Quando o módulo rural do município for inferior à fração mínima de parcelamento, o imóvel não poderá ser dividido. Sendo possível a divisão, é necessário que a área remanescente permaneça com área superior à fração mínima de parcelamento. Objetivo é impedir a constituição de minifúndio e parvifúndio O próprio STJ já se pronunciou a respeito: “não afronta o estatuto da terra a venda de partes em imóveis, que não alcancem o módulo regional, se a alienação é feita para o confrontante, inocorrendo assim o surgimento de minifúndio”. (Resp. 265.132/GO, 3ª T, rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, j. 20.09.2004). Em caso de extinção de condomínio, se o quinhão de um determinado condomínio for maior que o módulo regional poderá ser desmembrado, desde que os quinhões remanescentes dos demais condôminos, somados, atinjam área superior ao módulo, permanecendo ales em comunhão. DIREITO AGRARIO De outro lado, o art. 2º do Decreto 62.504/1968, prevê casos em que o desmembramento se destine a finalidades diversas das rurais, afastando, nesse caso, a incidência do art. 65 do E.T. Assim não estão sujeitos á restrição para parcelamento, áreas que se destinem a um dos seguintes fins: I. Desmembramentos decorrestes de desapropriações por necessidade ou utilidade pública II. Desmembramentos de iniciativa particular que visem atender interesses de ordem pública na zona rural, tais como: a) os destinados à instalação de estabelecimentos comerciais: - postos de combustíveis, oficinas mecânicas, garagense similares - lojas, armazéns, restaurantes, hotéis e similares - silos, depósitos e similares b) os destinados a fins industriais - barragens, represas ou açudes - oleodutos, aquedutos, estações, elevatórias, estações de tratamento de água, instalações produtoras e de transmissão de energia elétrica, instalações transmissoras de rádio, de televisão ou similares - extração de minerais metálicos ou não e similares - instalação de industrias em geral c) os destinados á instalação de serviços comunitários na zona rural, a saber. - portos marítimos, fluviais ou lacustres, aeroportos, estações, ferrovias ou rodoviárias e similares. - colégios, asilos, educandários, patronatos, centros de educação física e similares - postos de saúde, ambulatórios, sanatórios, hospitais, creches ou similares - igrejas, templos e capelas de qualquer culto reconhecido, cemitérios ou campos santos e similares - conventos, mosteiros ou organizações similares de ordens religiosas reconhecidas - áreas de recreação pública, cinemas, teatros e similares. Há ainda uma questão: a viabilidade legal de se desmembrar um imóvel rural, abrindo-se nova matrícula, sem que ocorra a transmissão a outra pessoa ou a individuação de condomínio. A pergunta: é possível que o proprietário desmembre seu próprio imóvel em várias glebas, mesmo que respeite o limite da fração mínima de parcelamento? O entendimento corrente (que não é unânime) é que tal desmembramento não pode ser feito, por que, para tanto, é necessário uma alienação (transmissão) a terceiro. A própria lei dos registros públicos (Lei 6.015/72) não contém previsão de desmembramento sem transmissão. O assunto, porém, é passível de discussão. 26/05/2020 Princípio da restrição da aquisição de imóvel rural por estrangeiro: embora na CF no art. 5 garanta aos estrangeiros a possibilidade de adquirir imóvel no pais há algumas limitações, pois essa aquisição pode intervir em aspecto de segurança nacional, há normas infraconstitucionais como a lei 5709 de DIREITO AGRARIO 1971 e o decreto 74965 de 1974 regulam essa disposição da CF/88. Estrangeiro pessoa física pode adquirir área de até 50 módulos rurais em área continua ou descontinua em qualquer ponto no país, se for várias propriedades a soma não pode ser superior a 50 módulos rurais. Modulo de exploração indefinida é um cálculo específico da área que os estrangeiros podem possuir. Desses 50 módulos até 3 módulos rurais não há necessidade de licença prévia, mas se a área possui entre 3 a 50 módulos é necessário autorização do INCA a não ser que a gleba seja em área de segurança nacional, se for precisa da autorização do conselho nacional também. Já estrangeiro pessoa jurídica pode adquirir área rural desde que sejam vinculados ao seu objetivo estatutário e sejam aprovados pelo congresso da agricultura ou indústria e comercia. As empresas brasileiras mesmo que do seu capital participa pessoa estrangeira não precisa de autorização pois são equiparadas a empresas nacionais. O art. 12 da deferida lei impõe requisitos: a área total de cada município que pode pertencer não pode ultrapassar um ¼ do território do município (25%); pessoas da mesma nacionalidade não podem ser proprietárias de mais de 40% desse um ¼ autorizado aos estrangeiros = segurança nacional. São excluídas dessas restrições as áreas inferiores a 3 módulos e quando o adquirente estrangeiro tiver filho brasileiro ou for casado sob regime de comunhão universal de bens com brasileira. Conforme a Lei nº 5709 de 1971 a aquisição de imóveis rurais por estrangeiro que afrontem essas disposições legais é nula e o tabelião que realizar escritura e oficial de registro que registrar respondem no ponto de vista civil (danos aos contratantes) e penal pelo crime de prevaricação ou falsidade ideológica – o alienante é obrigado a restituir o preço pago pelo imóvel – há um caso em que não se aplica por conta da convenção de igualdade de direitos e deveres entre brasileiros e portugueses essas restrições não se aplicam a portugueses da mesma forma não se aplica aos brasileiros que obterem território em Portugal, mas os portugueses precisam de autorização do ministério da justiça. CONCEITO DE DIREITO AGRÁRIO O professor Antonio Carozza dividiu grupos: Um grupo de autores conceitual o direito agrário com base na noção de agricultura, para eles direito agrário seria o direito voltado a agricultura. Agricultura é um termo genérico, amplo, e pré-jurídico, não pertence ao campo do direito, é um termo técnico. Corrente majoritária entende que essa conceituação é incorreta pois restringe o direito agrário aos vegetais, não se enquadrando aos animais, fabricação de produtos, dentre outros. Segundo grupo entende direito agrário como base na reforma agraria, pressupõe que para haver produção precisa de reformulação fundiária pois entendia que o jeito que se explorava a terra anteriormente não permitiria a produção correta e necessária de bens agrários. Pra entender o que seria reformulação fundiária precisa-se entender o que é terra, solo e fundo, terra é bem móvel, transportável; o solo por sua vez é a superfície da terra na sua configuração natural solo arenoso, alagado e etc; e o fundo em termos agrários e a parte delimitada do solo, não se cultiva o fundo. Então para o direito agrário não tem sentido relacionar terra a bem imóvel, e sim o fundo, ter uma propriedade rural não é mais requisito essencial para cultivo, há cultivos e criações sem terras. Conclui-se que como não é mais necessário, no ponto de vista científico, a terra então não faz sentido conceituar o direito agrário com base na reforma fundiária da terra. Terceiro grupo entendia direito agraria como direito agro alimentar, ou seja, são aqueles que entendem que atividade agraria é aquela relativa a agricultura com finalidade a produção e DIREITO AGRARIO preservação ambiental – alimentação. Apesar dar críticas que esse conceito recebeu foi recebido na união europeia. Mas basta pensar um pouco para perceber que não se produz apenas produtos alimentícios para consumo, de maneira que esse conceito eliminaria se fosse aceito no âmbito do direito agrário tudo aquilo que não constitui alimento se tornando um conceito errôneo. Sobrou então um ultimo grupo que entendia o direito agrário como o direito da empresa agraria, conceito de empresa é derivado da economia, pra existir uma empresa é necessário que haja uma organização dos meios de produção (capital, mão de obra e matéria prima) utilizados pelo sujeito (empresário) realizado através de mecanismos, instrumentos materiais e imateriais chamados de estabelecimento, instrumentos de produção a disposição do empresário. Embora as empresas tenham todas as estruturas básicas iguais, a empresa agraria é submetida a agrariedade (ciclo biológico). Atualmente conclui-se, segundo Carozza, que hoje o direito agrário deve ser entendido como o direito da empresa agrária. Empresa agrária é previsto pelo código civil, o mesmo código diz respeito a empresa rural também, não limita empresa a atividade jurídica, já que empresa é atividade, então é praticada por pessoa jurídica ou natural. Empresa para alguns autores é atividade organizada, já para outros empresa é uma própria organização independente de capital de trabalho, que produz bens e serviço, para outros ainda é uma instituição (abrange o conceito no sentido dinâmico), são inúmeros conceitos sobre empresa agraria, no fim se tem a supremacia de que a organização é o mais importante na empresa, sendo assim, empresa pressupõe uma atividade organizada. Essa atividade é praticada por um sujeito, o empresário, que possui o poder de destinação (não só o agrário tem), pois pode destinar suas atividades pra qualquer lado, dependendo do que quer produzir, no caso da agraria é voltado a atividade agrária. Essa atividade exercidapressupõe bens necessários para produção de produtos de gênero vegetal ou animal, chamados instrumentos da produção que constitui o estabelecimento. Pode praticar essa atividade através de pessoa jurídica ou não, ninguém possui atividade, sujeito pratica a atividade, já que a empresa é atividade segundo o CC. Estabelecimento sempre foi tido como local, mas na verdade são os instrumentos de produto posto em disposição ao empresário para fabricação dos produtos. Uma conceituação correta de atividade agraria deve resguardar essas características, atividade, empresário e estabelecimento. O que diferencia a empresa agrária das demais é a agrariedade que qualifica a atividade, a qualificação da atividade que a empresa pratica. O autor Fernando Skaf diz que a empresa agraria é uma atividade organizada profissionalmente, e ensina que estabelecimento não é um local e sim um conjunto de bens, mas apesar disso ele erra ao se referir em alguns momentos estabelecimento como local. Faltou dizer nesse conceito que essa atividade é submetida ao duplo risco, já que a atividade agrária esta subordinada a fatores climáticos, lida com seres vivos, além do risco comum de todas as empresas também há esses riscos decorrentes ao ciclo biológico. Por erra razão a proteção, tutela do direito agrário, deve ser maior. Requisitos da empresa agrária: organicidade – organização da atividade que podem distinguir os vários tipos de empresa, essa organização pode existir em vários graus e modalidades diferentes; economicidade da produção – atividade agraria é uma atividade produtiva que implica na obtenção de bens vegetais ou animais que sejam avaliáveis economicamente, uma questão observada é se essa atividade deve gerar bens a sociedade ou que tenha objetivo de lucro, alguns autores entendem que a destinação da produção ao mercado é requisito essencial, outros discordam que esse elemento não é necessário para caracterizar desse requisito economicidade (entendimento majoritário), o melhor entendimento é que superveniência de lucro (ter lucro ou não) não é elemento essencial da empresa, basta que os bens produzidos na atividade agrária sejam passíveis de avaliação econômica, a DIREITO AGRARIO obrigatoriedade de lucro não existe; profissionalidade – é o que fundamenta a atuação do empresário, significa habitualidade não pode ser uma atividade ocasional. Elementos da empresa agrária: atividade, empresário e estabelecimento. Atividade é o mais importante elemento da empresa, pois é o sinônimo de empresa é qualifica os sujeitos, a pessoa sem exercer atividade é neutra, no momento que passa a exercer passa a se qualificar. O sujeito pode ter mais de uma atividade, e o que vai qualificá-lo é a sua atividade preponderante. O conceito de atividade é – uma séria de atos coordenados em busca de um objetivo específico, no caso da empresa agraria é a produção ou produção de bens para mercado ou ato consumo de bens vegetais ou animais, essas devem ser as atividades principais. São realizadas por ato inicial de destinação do empresário e devem ser profissionalmente organizadas (ex. de atividade principal, agricultura, floricultura, criação de gados). Fernando Skaf e outros autores consideram não agrária atividades que não sejam destinadas ao consumo, então a criação de animais para laser ou produto estético não se enquadrariam em atividade agrária (não é uma consideração bem vista, não é tida como correta, já que a única coisa que muda é a destinação). A agricultura e a Pecuária (sentido amplo voltado a produção de animais) são as atividades principais. Existe as chamadas atividades agrárias conexas, são atividades de transformação, alienação e venda de produtos da atividade agrária, não deixam de ser agrárias pois são vinculadas a produção principal (ex. produz queijo do leite que extrai das vacas), não são atividades de produção como acontece na agricultura e a pecuária, mas são de conexão. Essa conexão deve ser analisada sob dois aspectos, a chamada conexão subjetiva (sujeito) significa que quem desenvolve a atividade conexa é o mesmo que desenvolve a principal, se quem vende o produto agrário final não é quem produziu sua atividade será meramente comercial e não agrária; e a conexão objetiva tem que haver uma conexão econômica de fato entre o produto principal e o conexo, discuta- se se o local onde se produz o principal e mesmo onde se produz o conexo. Alguns autores como Fernando Skaf, discutem isso que para ser atividade conexa tem que ser atividade normal dentro do estabelecimento agrário, ou seja, produz leite em manteiga ou queijo é normal, mas transformar trigo em bolo ou biscoito não seria normal, então em relação a esses autores a avaliação se a atividade é conexa deve ser feita caso a caso. Há também as atividades acessórias, que em princípio não seriam agrárias mas servem de suporte, sustentam ás atividades principais, exemplo seleção de sementes, conservação de estradas dentro do imóvel rural, construção de benfeitorias. E por último há a atividade extrativa (vegetal ou animal), vários autores consideram essa atividade como acessória outros entendem como principal, o estatuto da terra no art. 4, coloca essa atividade ao lado das demais atividades passiveis de serem desenvolvidas no imóvel rural, mas se for aceita a teoria biológica da agrariedade não se pode considerar como atividade agrária, já que a atividade humana agrária significa a interferência do homem para otimizar esse ciclo biológico, objetivando bens melhores, rápidos e baratos, essa interferência humana significa atividade agrária, mas a extração seria mero extrativismos, não há interferência no cultivo, na produção. Continuação dos elementos da empresa agrária. O segundo dos elementos da empresa agrária é o empresário agrário. A empresa que é uma atividade promove a transferência da destinação econômica da coisa, essa destinação econômica feita pelo empresário era vinculado a propriedade e seus atos fruição, se baseava no direito de propriedade, mas no âmbito de direito de empresa se cuida da questão produtiva do bem, esse direito que o empresário tinha acaba ultrapassando esse vinculo dominial, então a iniciativa de produção pode ser realizada sem que seja o proprietário, essa iniciativa deve ser realizada profissionalmente. O empresário que escolhe a destinação dos bens e coloca esses bens para produzir, mas não basta que o sujeito seja DIREITO AGRARIO proprietário desses bens ele deve destinar a produção de forma profissional, continuada e organizada em busca da sua função social para ser considerado empresário agrário. Não é necessário que o empresário seja proprietário, ele pode fazer isso através dos contratos agrários, essa figura do empresário possui três elementos: a) econômico - exercício de atividade econômica; b) organização - sua atividade deve ser organizada que abrange os capitais de produção; c) habitualidade. Esses bens chamados de instrumentos de produção que são colocados a disposição do proprietário em razão do poder de propriedade, mas hoje em dia não se baseia mais nisso, pois há os contratos agrários. O empresário é condição para a existência da empresa. quem pode ser empresário? Pessoa física (natural), jurídica, um conjunto familiar, pode ser o próprio estado através de autarquia ou empresas estatais de economia mista, cooperativas ou grupo de empresas atuando com empresário – mas é necessário que os atos feitos pela empresa sejam no seu nome, pois assim o resultado do processo produtivo recai sobre seu nome, do titular. É necessário que essa atividade primaria de produção seja destinada ao consumo direto ou indireto do homem, e seja exercida de forma continuada com profissionalidade. Não é necessário que exerce a atividade com exclusividade, pode ser empresário agrário e também ter outra profissão como advogado, de forma simultânea. O terceiroelemento da empresa agrária é o estabelecimento agrário. Popularmente se refere ao estabelecimento como local, mas hoje na teoria da empresa específica no CC estabelecimento significa uma universalidade de fatos, é a projeção patrimonial da empresa, uma congregação de uma sério de instrumentos materiais e imateriais adequadamente organizados que permitem ao empresário a realização da sua atividade produtiva. E a existência do estabelecimento é fundamental para a empresa, pois viabilizam a atividade da empresa. São bens que integram o estabelecimento agrário, tanto materiais como imateriais, exemplos de material: trator, carroça, semente, adubo, a própria terra destinada a produção (fundo rústico) – sempre teve uma proeminência sobre os demais bens, mas não é mais um elemento/fonte fundamental já que hoje em dia há formas de se cultivar sem fundo rústico, artificialmente, através de matrizes alternativas; a terra por tanto, é apenas um dos elementos do estabelecimento agrário. Exemplos de imaterial seria a tecnologia, ou a marca registrada, uma lista de relação de fornecedores/clientes, dentre outros. Estabelecimento, por tanto, não é mais considerado local e sim conjunto de bens que o empresário utiliza para sua atividade. Contratos agrários A legislação básica que rege os contratos agrários no Brasil hoje é o chamado estatuto da terra, o artigo 95 trata dos contratos agrários e 96 das parcerias que podem ser agrícolas, pecuários, agroindustrial, extrativa ou mista. O contrato de arrendamento rural no fundo é uma locação, e parcerias se assemelham a sociedade. Contrato agrário se refere ao uso temporário da terra (se não for temporário é proprietário) essa terra não pertence. A Lei nº 4947/66, artigo 13, veio depois do estatuto da terra, a complemento. O decreto nº 59566 de 1966 também é muito importante. O Código civil também trata sobre direito agrário, já que impõe regras aos contratos de forma geral, tais requisitos recaem sobre os contratos agrários, como acordo de vontades (maioridade, capacidade) e objeto (lícito, juridicamente possível, determinável). Em qualquer contrato agrário há cláusulas irrevogáveis, tais como a proteção do hipossuficiente. Estatuto da terra trata os contratos no capítulo de uso ou posse temporária da terra (se fosse definitiva estria tratando da propriedade da terra, mas aqui se trata de contrato). Trata sobre arrendamento rural (locação da terra) arrendatário equivale ao locatário, que paga uma quantia por mês ao arrendador e DIREITO AGRARIO toca sua atividade sem interferência, os riscos é do arrendatário; parcerias que são agrícolas, pecuária, agro industrias, extrativa ou mista, equivalem a uma sociedade, um entra com a terra, outro com trabalho, outro com maquinário, os riscos são divididos, as partes são os parceiros outorgante e outorgados. O Decreto n. 59.566/66 prevê a existência de outros contratos além desses, além de cláusulas irrevogáveis, prazos fixados em lei – ao contrário do contrato civil que determinam o que querem o legislador define muito coisa no contrato agrário. A doutrina defendia duas correntes: 1 só era contrato o arrendamento e parceiras e 2 haveria os chamados contratos nominados ou típicos que era os arrendamentos e parceiras e inominados ou atípicos que é todos os demais possíveis contratos do âmbito agrário. Hoje já se entende de forma quase unanime que há contratos típicos - parceiras e arrendamentos - e atípicos. O contrato típico ou nominados possuem um nome jurídico, ou seja, estão previstos em lei, são regulados em lei, disciplinado pelo direito positivo; já os atípicos ou inominados não são previstos em lei, apesar de serem válidos não possuem uma regularização. Não basta que o contrato tenha nome para ser nominado, é necessário que seja regularizado por lei. A premissa básica é que a denominação não compete só ao direito agrário, se não só seria contrato agrário os previstos na legislação agrária, então se qualquer das normas do ordenamento jurídico reconhece o contrato, lhe dá nome e o regulamenta ele é considerado contrato típico/nominado. O contrato típico no direito agrário é aquele que possui a característica da atividade agraria, ou seja, a agrariedade (ex. comprar um bezerro é contrato agrário típico, mas comprar uma mercadoria qualquer não). Para construir uma empresa é necessário atividades organizadas de produção, mas antes disso o empresário realiza atividades destinadas ao início, começo da empresa – então há duas situações a respeito de contrato agrários: contratos utilizados para constituição da empresa e contratos destinados ao seu exercício. Os para constituição da empresa são atos de organização da empresa agrária (ex. contrato de compra e vende de terra) enquanto os de exercício da empresa são contratos da organização da empresa agrária = são tipificados pela agrariedade. A constituição federal estabelece proteção as pequenas propriedades rurais, desde que a produção seja para a própria família, tutela a propriedade familiar. Propriedade familiar é exercida em terra própria e quando a terra é alheia está se falando de agricultura familiar. Os contratos agrários têm a obrigação de proteger essas pessoas no caso de serem hipossuficientes. Vale destacar que o artigo 92 do Estatuto da Terra diz que se o proprietário resolver vender área arrendada ou parceirada o parceiro, se o imóvel for vendido o arrendatário e o parceiro tem preferência sobre demais compradores, devem ser avisados para que exercem seu direito de preferência, se o proprietário não notifica-los esses parceiros ou arrendatários, uma vez que o imóvel tenha sido vendido, podem depositar o valor do deposito até seis meses da data do registro e obter para si a terra. Então o risco é do adquirente de perder a terra para os que possuem o direito de preferência. O proprietário não pode exigir do arrendatário ou parceiro nenhum serviço gratuito, nem preferência da colheita ou obrigatoriedade da produção. O artigo 95, inciso II, presume feito o prazo mínimo de 3 anos o arrendamento de tempo indeterminado – o Supremo já entendeu que 3 anos é o prazo mínimo para qualquer contrato agrário, seja por tempo determinado ou não. Todo prazo de arrendamento e parceira vão sempre terminar depois de encerrada a colheita (inclui animais), independente de data estabelecida. Por conta disso o arrendatário e parceiro para iniciar qualquer cultura cujo frutos não possam ser colhidos dentro do prazo determinado no contrato devem ajustar com o proprietário da terra como será a remuneração pelo prazo que ultrapassar o vencimento do contrato. Em igualdade de condição com estranhos, o arrendatário ou parceiro tem preferência para renovação do contrato – o proprietário deve notificar até seis meses antes do vencimento do contrato (prazo de DIREITO AGRARIO decadência), informando se tem outras propostas ou não; caso não notificados esse contrato considera-se automaticamente renovado, exceto de o arrendatário ou parceiro até 30 dias seguintes decida não renovar. Esse direito não valerá se o proprietário até seis meses antes notificá-los informando sua intenção de retomar o imóvel para explorá-lo diretamente ou por intermédio de herdeiro seu. O arrendatário ou parceiro tem direito a benfeitorias necessárias e uteis, enquanto não indenizados podem permanecer no imóvel no uso e gozo das vantagens do contrato que valeu até ali (direito de retenção). Segundo o artigo 95, inciso XII do Estatuto da Terra, a remuneração (aluguel) no arrendamento não pode ser superior a 15% do valor da terra nua. Em relação as parceiras o artigo 96 diz que equivalem a parceria. A Lei 4.947, no seu artigo 13 especifica a obrigatoriedade de cláusulas irrevogáveis que se referem aos recursos naturais, e proibição de renúncia de vantagem do arrendatário ou parceiro. No parágrafo primeiro prevê quetudo que está disposto no artigo 13 se aplica a todos os contratos agrários. O Decreto 59566 no artigo 3º da o conceito de arrendamento rural e no artigo 4º o conceito de parceria; o artigo 12 diz sobre os itens que devem constar nos contratos agrários. Estabelece também prazo mínimos para se encerrar essas parceiras e arrendamentos. O código de processo civil prevê que só podem ser provados exclusivamente por testemunhas aqueles contratos inferiores a 10 vezes o salário-mínimo, já os contratos agrários no artigo 14 do regulamento, diz que podem ser provados por testemunha qual quer que seja seu valor. O artigo 26 diz respeito as clausulas de extinção do arrendamento e na parceria é o artigo 34 e seguintes. A ação da retira de arrendatários e parceiros é a ação de despejo
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