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DIREITO CIVIL, AMBIENTAL, AGRÁRIO E LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA PROFESSORA Me. Monica Cameron Lavor Francischini ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/1001 EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. FRANCISCHINI, Monica Cameron Lavor. Direito Civil, Ambiental, Agrário e Legislação Tributária. Monica Cameron Lavor Francischini. Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. Reimpresso em 2022. 152 p. “Graduação - EaD”. 1. Direito 2. Ambiental 3. Agrário. EaD. I. Título. FICHA CATALOGRÁFICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador(a) de Conteúdo Silvio Silvestre Barczsz Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli, Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Sabrina Maria Pereira de Novaes Design Educacional Bárbara Neves Revisão Textual Meyre Barbosa Fotos Shutterstock CDD - 22 ed. 347 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-85-459-1995-7 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Pós-graduação, Extensão e Formação Acadêmica Bruno Jorge Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Zagonel NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi DIREÇÃO UNICESUMAR BOAS-VINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra- balhamos com princípios éticos e profissiona- lismo, não somente para oferecer educação de qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- versão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- sional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenasde cursos de graduação e pós-graduação. Por ano, pro- duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe- cidos pelo MEC como uma instituição de exce- lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa- cionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as neces- sidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromis- so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ati- vas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis- são, que é promover a educação de qua- lidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A Me. Monica Cameron Lavor Francischini Mestre em Ciências Jurídicas com ênfase nos Direitos da Personalidade pelo Cen- tro Universitário de Maringá (Unicesumar-PR). Especialista em Direito Público e em Educação a Distância, ambas pelo Centro Universitário de Maringá (Unicesumar-PR). Graduada pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (UniFMU- -SP). Docente no ensino presencial e a distância do Centro Universitário de Maringá (Unicesumar-PR). Advogada. Árbitra do TACOM (Tribunal Arbitral de Maringá). Presi- dente da Comissão de Direito Previdenciário da OAB Maringá-PR. http://lattes.cnpq.br/4559703778303166 A P R E S E N T A Ç Ã O D A D I S C I P L I N A DIREITO CIVIL, AMBIENTAL, AGRÁRIO E LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA Olá, amigo(a) aluno(a). Este é o livro de Direito Civil, Agrário, Ambiental e Legislação Tributária, que foi desenvolvido especialmente para você, de forma a guiá-lo(a) e o(a) instruir sobre o universo jurídico existente e ligado ao mundo dos agronegócios. Sou a autora deste livro didático e, além de ser professora do ensino presencial e a distância nesta instituição, sou também advogada, mestre em Ciências Jurídicas, especialista em Direito Público, EAD e Novas Tecnologias e pós-graduanda em Docência no Ensino Superior. Nosso livro está dividido em cinco unidades, as quais tratarão dos principais ramos jurídicos voltados a sua atividade profissional cuja finalidade será fornecer as bases necessárias para que você, acadêmico(a), possa atuar de forma legal em sua futura profissão. As normas jurídicas estão presentes no cotidiano desde o nosso nascimento e perduram até a morte. Rotineiramente, envolvemo-nos em relações jurídicas e precisamos conhecer os nossos direitos e deveres. Até o aprendizado que este livro traz faz parte do Direito, afinal, ele foi escrito em decorrência de um contrato de prestação de serviços entre a Unicesumar e você, acadêmico(a). Mas para que serve o Direito? O Direito é o conjunto de normas jurídicas que são instituídas pelo Estado com a função de limitar a liberdade individual, mediante a aplicação de penalidades ou nulidades em favor de um bem maior: o interesse da coletividade. Dentro deste contexto, a Unidade 1 ensina-nos os negócios jurídicos dentro do campo do Direito Civil e Empresarial e, para compreendê-los, é necessário estudar a capacidade das pessoas físicas e jurídicas, aprofundando-nos nessa última, ou seja, desde a criação até a extinção das sociedades, passando pelos principais tipos societários e contratos agrários. Na Unidade 2, estudaremos o Direito Agrário, englobando seu conceito, seus princípios e suas peculiaridades, inclusive, a distinção entre posse e propriedade. D A D I S C I P L I N AA P R E S E N T A Ç Ã O Na Unidade 3 teremos aspectos importantes para a sua formação, pois aprenderemos con- ceitos e princípios e veremos crimes ligados a esse ramo jurídico, que é um constante foco de atenção da mídia. Quem nunca ouviu falar do aquecimento global? Da queda de barragens? Na Unidade 4, o estudo abordará o Direito Tributário, em que compreenderemos o conceito de tributo, suas espécies e classificações, finalizando nos principais tributos voltados à sua atividade. E, por fim, na Unidade 5 trataremos de dois ramos do Direito: Trabalho e Previdenciário, em que poderemos conhecer as relações jurídicas entre empregado e empregador bem como os direitos e deveres de cada um. Esta unidade também abordará os principais benefícios previdenciários devidos ao trabalhador rural. Bons estudos! ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele- mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples. conceituando No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. quadro-resumo Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. explorando Ideias Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! pensando juntos Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno- logia a seu favor. conecte-se Quando identificar o ícone de QR-CODE,utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO NEGÓCIOS JURÍDICOS CÍVEIS E EMPRESARIAIS 10 O DIREITO AGRÁRIO COMO FONTE DO AGRONEGÓCIO 36 64 ASPECTOS RELEVANTES DO DIREITO AMBIENTAL 92 COMPREENDENDO A LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA 118 APLICAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO E PREVIDENCIÁRIO NO AGRONEGÓCIO 144 CONCLUSÃO GERAL 1 NEGÓCIOS JURÍDICOS CÍVEIS e Empresariais PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Das Pessoas • Entendendo o Direito Societário • Das Obrigações • Dos Contratos Agrários OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Identificar as pessoas físicas e jurídicas • Estudar os principais tipos societários • Compreender as obrigações cíveis • Elencar os contratos agrários. PROFESSORA Me. Monica Cameron Lavor Francischini INTRODUÇÃO Olá, alunos! Sejam bem-vindos ao estudo do Direito. Nesta primeira uni- dade, trabalharemos institutos jurídicos de Direito Civil e Empresarial, que são relevantes para atuar na área do Agronegócio de forma eficiente e legal. Para isso, primeiro, precisamos entender que o Direito brasileiro é di- vidido em Direito Público, que trata das questões entre os entes públicos (União, Estados e Distrito Federal, Municípios e suas autarquias e funda- ções) e entre entes públicos e particulares (pessoas jurídicas ou físicas), enquanto o Direito Privado trata das questões que envolvem o indivíduo, excluindo, aqui, o Estado. No campo do Direito Público, o ente público está dotado de sobera- nia e está ali presente defendendo os interesses de sua sociedade. É o que ocorre nas relações jurídicas de Direito Tributário. No Direito Privado, as partes estão em nível de igualdade, já que os particulares podem e devem expressar sua vontade na negociação que estabelecerá a relação jurídica. O Direito Civil bem como o Empresarial são ramos do Direito Privado e regem as relações familiares, patrimoniais, obrigacionais e societárias que se formam entre os indivíduos enquanto membros da sociedade. Para com- preendê-los, estudaremos quem são as pessoas físicas e jurídicas definidas pela legislação civil e este aspecto servirá de parâmetro para iniciarmos o estudo do Direito Empresarial. O Direito Empresarial (ou Comercial), objeto desta disciplina, será aquele voltado ao Agronegócio, englobando, portanto, desde o nascimento das sociedades até a sua extinção e o enquadramento das pessoas jurídicas voltadas à atividade agrária nesta classificação. Importante também estudar os principais contratos voltados à ativida- de rural e conhecer os requisitos essenciais na elaboração desses contratos, bem como os direitos e deveres de cada uma das partes. Vamos em frente! U N ID A D E 1 12 1 DAS PESSOAS Nascituro é a pessoa que está por nascer, já concebida no ventre materno, ou seja, o em- brião desde a sua concepção, que já é detentora de direitos na ordem civil, como o direito à herança e à vida. pensando juntos O Código Civil (Lei n. 10.406/2002) admite duas categorias de pessoas: a natural ou física e a jurídica, sendo a primeira o próprio ser humano, e a segunda, o con- junto de pessoas e/ou bens reunidos para determinado fim, como as cooperativas. Nosso Ordenamento Jurídico, Lei n. 10.406/2002, em seu Art. 2º, diz que a “personalidade para a pessoa física começa do seu nascimento com vida” (BRA- SIL, 2002, on-line). E, no mesmo artigo, o Código Civil põe a salvo desde a con- cepção aos direitos do nascituro, ou seja, a personalidade jurídica das pessoas físicas inicia-se no nascimento com vida e se encerra com a morte daquela pessoa. De acordo com o CC/2002, as pessoas jurídicas somente obtêm sua personalidade por meio do registro do seu documento de constituição (que, dependendo da socie- dade, será um contrato social ou um estatuto social) no Cartório do Registro Civil de Pessoas Jurídicas para sociedades simples e Juntas Comerciais para sociedades empresariais, sendo que a personalidade se extingue com a dissolução da sociedade. U N IC E SU M A R 13 Da capacidade de fato e de direito das pessoas físicas Pela análise do Código Civil, existem duas formas de capacidade: a de direito e a de fato. A primeira é aquela em que todas as pessoas físicas a possuem, pois depende apenas do nascimento com vida; já a segunda diz respeito somente às pessoas que po- dem praticar os atos da vida civil sozinhas, como a assinatura de um contrato agrário. Dentro da capacidade de fato das pessoas físicas, o Código Civil estabeleceu a incapacidade de duas formas: absoluta e relativa. Conforme a legislação, apenas o requisito etário é fator determinante para considerar as pessoas absolutamente incapazes, já que somente os menores de 16 anos são assim considerados. Estas pessoas não têm capacidade de realizar os atos da vida civil pessoalmente, ou seja, dependem de alguém que realize os atos por elas (seu representante legal ou um tutor designado), sob pena de nulidade do negócio jurídico. Já as pessoas consideradas relativamente incapazes são (i) os maiores de 16 e menores de 18 anos; (ii) os ébrios habituais, bem como os viciados em tóxicos; (iii) os que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (iv) os pródigos. Estas pessoas possuem restrições em realizar alguns atos da vida civil pessoalmente, assim, para que estes negócios tenham validade jurídica, é neces- sária a assistência de seu representante legal, sob pena de anulação, ou seja, caso seja declarada a anulação do ato, ele produzirá efeitos a partir da anulação em diante. Os atos produzidos até este momento permanecem. Se o ato for considerado nulo, ele não deve produzir nenhum efeito, como se nunca tivesse sido praticado. É o que chamamos de efeitos ex tunc, ou seja, retroage ao seu início invalidando todas as suas consequências desde o primeiro ato. Da personalidade jurídica das pessoas jurídicas Já estudamos que a pessoa jurídica somente adquire sua personalidade jurídica após o re- gistro do seu ato constitutivo no órgão competente. De acordo com Kerkhoff (2014, p. 21): “ Esta personalidade jurídica traz como consequências a existência de patrimônio próprio, distinto do patrimônio dos sócios, geração de direitos e obrigações próprias e capacidade própria de estar em juízo, pois com a inscrição de seus atos constitutivos nasce a capa- cidade patrimonial, negocial e processual. U N ID A D E 1 14 2 ENTENDENDO O DIREITO SOCIETÁRIO Após a compreensão da importância de a pessoa jurídica ter sua personalidade jurídica definida, estudaremos as sociedades personificadas. De acordo com o Art. 966 do Código Civil, são consideradas sociedades empresariais aquelas que “exercem atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e serviços” (BRASIL, 2002, on-line). O parágrafo único do mesmo artigo define que não será considerada empresária a atividade voltada ao exercício da “profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores” (BRASIL, 2002, on-line). Assim, as so- ciedades simples são aquelas que se encaixam no referido parágrafo da lei como as sociedades de arquitetura e contabilidade por exemplo. Nas hipóteses em que se constituem sociedades simples, o documento de criação que denominamos ato constitutivo deve ser um Contrato Social e será registrado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Focaremos nosso estudo nas três principais sociedades personificadas empresariais e voltadas à atividade do agronegócio: sociedade limitada, sociedade anônima e cooperativa. U N IC E SU M A R 15 Da sociedade limitada A sociedade limitada possui previsão legal no Código Civil, mais precisamente a partir do Art. 1052, que prevê que “a responsabilidade de cada sócioé restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social” (BRASIL, 2002, on-line). O que a legislação define é que, neste tipo societário, existe um marco de definição da responsabilidade de cada sócio, ou seja, na constituição da sociedade, o sócio responde apenas com o valor feito em favor da sociedade e que representará a sua quota individual. Contudo apenas após a total integralização do capital social subscrito (previsto no contrato social) e integralizado é que os sócios passam, efetivamente, a não responder mais com seus bens pessoais por eventuais dívi- das contraídas pela pessoa jurídica. Para exemplificar, considere uma sociedade limitada com três sócios pessoas físicas: Marcos, Pedro e Antônio. Segundo o ato constitutivo, o capital social subscrito é de 1000 quotas, sendo que Marcos possui 40%, e os demais, 30% cada. Caso Marcos e Pedro integrali- zem a sua quota - parte, mas Antônio não, esse percentual em aberto poderá ser exigido de qualquer dos sócios, que são solidários, caso a quantia, efetivamente integralizada, não baste à satisfação das pendências financeiras. U N ID A D E 1 16 O simples exercício da atividade empresarial não gera a personalidade jurídica, já que essa se dá unicamente com o registro do ato constitutivo no órgão competente. pensando juntos “ O sócio que pagar o valor cobrado pelos credores, como fru-to da responsabilidade solidária prevista em razão da fal-ta de integralização completa do capital, poderá voltar- -se contra os co-responsáveis para pleitear o reembolso da importância despendida, dentro do limite obrigacional individual. Havendo integralização total das quotas sociais, os sócios não te- rão nenhuma responsabilidade por obrigações sociais contraídas, no que excederem do aporte correspondente às quotas individuais. Caso inexistam recursos e bens no acervo da pessoa jurídica, os credores não poderão buscar no patrimônio pessoal dos sócios a satisfação dos créditos decorrentes de relações negociais tratadas com a sociedade (KERKHOFF, 2014, p. 24-25). Quanto à administração da sociedade, vale dizer que pode ser feita por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado, e não necessa- riamente por quotistas. Caso o ato constitutivo assim permita, é possível que não sócios também administrem a empresa. Neste caso, a designação deles dependerá de aprovação por unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver inte- gralizado, e de dois terços, no mínimo, após a integralização. Da sociedade anônima A sociedade anônima possui uma legislação específica que dispõe sobre seus procedimentos (Lei n. 6404/76), bem como possui previsão legal no Código Civil. Este tipo societário possui seu capital social dividido em ações. Daí a terminolo- gia adotada de acionistas para seus sócios. “ Caracterizam-se como sociedades anônimas aquelas que se desti-nam aos grandes empreendimentos, com mínimo de dois acionistas (eram 07 na legislação anterior), e caráter de impessoalidade (não se considera as aptidões pessoais dos sócios) (KERKHOFF, 2014, p. 27). U N IC E SU M A R 17 Similar à sociedade limitada, nas S/A (ou companhias), cada acionista responde pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. As S/A podem ser consideradas abertas ou fechadas, sendo a primeira aquelas que negociam suas ações no mercado de ações (Bovespa), enquanto que a segunda espécie não lança suas ações ao público. Da Sociedade Cooperativa As cooperativas (previstas na Lei n. 5764/71 e no CC/02) são sociedades sem ob- jetivo de lucro, constituídas em benefício dos seus associados, podendo operar em qualquer gênero de atividade. Assim, esta sociedade é composta por pessoas físicas voltadas a uma mesma atividade ou a um grupo econômico. A solidez de uma cooperativa depende de alguns fatores: identidade de propósitos e interesses, ação conjunta, voluntária e objetiva, obtenção de resultado útil e comum para todos. As cooperativas funcionam mediante algumas características próprias, tais como: ingresso livre e voluntário de seus cooperados, gestão democrática, interesse pela comunidade, entre outros. De acordo com a legislação (CC/02), neste tipo societário, é possível que a responsabilidade dos cooperados seja limitada ou ilimitada. Empresa rural Com a vigência do atual Código Civil, permitiu-se o funcionamento da atividade rural. “ Assim, considera-se como atividade rural a exploração das atividades agrícolas e das atividades pecuárias; a extração e a exploração vegetal e animal; a exploração da apicultura, da avicultura, da suinocultura, da sericicultura, da piscicultura e de outras de pequenos animais; a transformação de produtos agrícolas ou pecuários, sem que sejam alteradas as composição e as características do produto “in natura”, realiza da pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando-se exclusivamente matéria-prima milho, pasteurização e acondiciona- mento do leite, assim como o mel e o suco de laranja, acondicionados em embalagem de apresentação; produção de carvão vegetal; produ- ção de embriões de rebanho em geral (ZANLUCA, [2019], on-line)1. U N ID A D E 1 18 De acordo com o Código Civil, para o desenvolvimento da atividade empresarial, tanto pode ser constituída uma pessoa jurídica na figura de empresário individual (pessoa física que assume sozinha os riscos do negócio), como sociedade empresarial (pessoa jurídica, resultado da união de esforços de pessoas). Fonte: a autora. explorando Ideias De todo o apresentado, é possível identificar aspectos fundamentais que podem distinguir as atividades em três grupos: 1. Explorações rurais típicas, que compreendem a lavoura (tanto a tempo- rária como a permanente), o extrativismo animal e vegetal, a pecuária de pequeno, médio e grande porte e as hortigranjeiras. 2. Explorações rurais atípicas, que envolvem beneficiamento ou transfor- mação dos produtos rústicos (matéria-prima, e que são denominadas, genericamente, agroindústria, como a produção de farinha e o benefi- ciamento do arroz). A agroindústria refere-se aos processos industriais desenvolvidos no limite territorial da produção rural. 3. Atividades complementares da exploração agrícola, que compreendem o transporte e a comercialização dos produtos. São etapas finais do processo produtivo e se situam no setor terciário da economia. Os transportes são atividades típicas de prestação de serviços e a comercialização, atividade tipicamente mercantil (comercial). Mais uma vez, é importante ressaltar que devem se referir a atividades desenvolvidas no limite territorial da produção rural. “ A empresa rural tem como atividades principais a produção e venda dos produtos agropecuários por ela produzidos, e como atividades acessórias as receitas e despesas decorrentes de aplicações financeiras; as variações monetárias ativas e passivas não vinculadas a atividade rural; o aluguel ou arrendamento; os dividendos de investimentos avaliados pelo custo de aquisição; a compra e venda de mercadorias, a prestação de serviços etc. (ZANLUCA, [2019], on-line)1. U N IC E SU M A R 19 3 DAS OBRIGAÇÕES As obrigações são frutos dos negócios jurídicos. Para Monteiro (2007, p. 8): “ obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecido entre devedor e credor e cujo objeto consiste na prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através do seu patrimônio. Segundo o Código Civil, as obrigações podem ser classificadas como Negati- vas ou Positivas. Será Negativa quando ficar estabelecido que seja necessária a abstenção por parte dos obrigados, isto é, a obrigação de não-fazer algo, e será Positiva quando implicar a obrigação de fazer algo ou de dar alguma coisa. Dessa forma, as obrigações podem ser: ■ De dar (coisa certa ou incerta): Dizemos“coisa certa”, quando o objeto é determinado, conhecido, específico e individualizado. Se ocorrer a deterio- ração do objeto ou bem, sem culpa do devedor, o credor tem a faculdade de aceitar a coisa como está, abatendo de seu preço o valor que perdeu. Se, porém, esta avaria se deu por culpa do devedor, o credor poderá exigir o equivalente em dinheiro, ou aceitar o bem com o abatimento do preço e, neste caso, poderá exigir as perdas e os danos. U N ID A D E 1 20 Da mesma forma, se o objeto sofrer melhorias ou acréscimos até o mo- mento da tradição (entrega), o devedor fica com o direito de exigir au- mento do preço. No caso de estar estipulado no contrato, a obrigação de dar coisa incer- ta significa que a parte devedora deverá fornecer certa quantidade de unidades de determinado gênero. Isto não significa entregar coisa inde- terminada, mas tão somente genérica. Neste caso, a escolha do objeto em questão cabe ao devedor, isto se nada ficar convencionado em contrário. Entretanto o devedor não poderá dar coisa pior nem será compelido a dar coisa melhor do que o descrito no contrato. Após a escolha feita pelo devedor, a coisa que era incerta passa a ser certa. ■ De fazer: É uma obrigação positiva, em que o devedor compromete-se a prestar uma atividade lícita e vantajosa ao credor. Essa obrigação pode ser de caráter personalíssimo (quando o próprio obrigado/devedor deverá cumprir a obrigação) ou não. Um exemplo de obrigação personalíssima é a contratação de um famoso pintor de quadros – um tipo de obrigação que só atingirá a satisfação do contratante se a tela for feita pelo próprio pintor contratado. No caso de impossibilidade de cumprir a obrigação, deve ser analisada a existência ou não de culpa do devedor, posto que, sem culpa desse, resolve-se a obrigação, voltando os contratantes ao estado anterior, e o prejuízo sofrido não poderá ser alegado por nenhuma das partes. Já no caso da existência de culpa do devedor, este responderá por perdas e danos. ■ De não fazer: Isto parece impossível né? Como alguém tem a obrigação de não fazer algo? É um tipo de obrigação negativa, pois a pessoa obrigada deve se abster de realizar o ato, de fazer a ação. Como a obrigação de não passar o gado para a propriedade vizinha, de não utilizar determinado produto, de não alterar a cerca de lugar, de não utilizar o maquinário de forma imprópria, entre outros. U N IC E SU M A R 21 Classificação e extinção das obrigações Visando a melhor compreensão, as obrigações podem ser divididas da seguinte forma: a) Obrigação simples ou alternativa: será simples quando houver uma única pres- tação e ela for determinada; e será composta ou complexa quando for cumu- lativa ou alternativa, neste caso, será escolhida qual obrigação será adimplida, observando sempre o que estiver contido no contrato ou em lei específica. Geralmente, o ato Jurídico que formou esta obrigação apontará a quem cabe fazer a escolha, mas se nada estiver disposto, seguimos a regra do Art. 252 do CC/02, que concede ao devedor o direito de escolha da obrigação a ser cumprida. b) Obrigações Solidárias: ocorre este tipo de obrigação quando exis- te mais de um devedor (solidariedade passiva) ou mais de um cre- dor (solidariedade ativa) para a mesma obrigação. Neste caso, cada credor tem o direito de exigir, e cada devedor tem o dever de apre- sentar, de forma integral, as coisas que são objeto da prestação. As obrigações são extintas pelas seguintes formas: ■ Pagamento: é a execução voluntária e exata por parte do devedor. ■ Novação: quando nasce uma nova obrigação destinada a substituir a an- terior, um novo contrato, por exemplo. ■ Compensação: ocorre quando o credor passa a dever, para o devedor, o valor igual ao débito, de forma que as duas dívidas acabam se compensando. ■ Transação: é o negócio jurídico bilateral onde as partes fazem con- cessões mútuas. ■ Compromisso: quando as partes vão submeter suas controvérsias jurídi- cas à decisão de um árbitro. ■ Confusão: ocorre quando o devedor e o credor passam a se tornam uma só pessoa. Um exemplo disso é o filho que deve ao pai, se o pai falece, o filho se torna seu herdeiro e herdeiro de seus créditos, inclusive, do que lhe devia. ■ Remissão: trata-se do perdão da dívida. É um ato bilateral e depende da aceitação do devedor para que tenha validade e eficácia. U N ID A D E 1 22 4 DOS CONTRATOS AGRÁRIOS Contrato é o acordo de vontade feito entre duas ou mais pessoas com a finalidade de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir algum direito, assim, “o funda- mento ético do contrato é a vontade humana, desde que atue na conformidade da ordem jurídica. Seu habitat é a ordem legal. Seu efeito, a criação de direitos e obrigações” (GONÇALVES, 2018, p. 22). Espécies contratuais Devido às inúmeras espécies contratuais, focaremos nosso estudo naqueles voltados à atividade agrária, ou seja, inerentes às relações jurídicas entre os produtores rurais, os seus parceiros, fornecedores, prestadores de serviços, arrendatários, compradores e outros. Compra e venda É um contrato firmado entre partes que são denominadas comprador e vendedor. Nesse contrato, uma ou mais pessoas possuem o dever de transferir o domínio de um bem móvel ou imóvel, corpóreo ou incorpóreo, mediante o pagamento de certo preço em dinheiro ou valor correspondente. U N IC E SU M A R 23 O termo Arrendamento é sinônimo de locação, sendo utilizado entre nós, preferentemen- te, para as locações imobiliárias rurais. Neste caso, poderá ser um contrato de locação de uso e gozo do objeto. A diferença entre os dois tipos de contrato é que a locação visa a dar preferência apenas ao uso da coisa, e, no arrendamento, ao uso e ao gozo da coisa. Fonte: a autora. explorando Ideias A compra e a venda podem ter por objeto coisa futura, ainda não existente, ficando, nesse caso, condicionada a eficácia do contrato à existência da coisa (Art. 483 do CC). A venda de ascendente para descendente é anulável (lembrem que as ca- racterísticas da anulabilidade já foram estudadas), salvo anuência dos demais descendentes e do cônjuge. O contrato de compra e venda deve possuir algumas cláusulas essenciais, como a do preço a ser pago, da forma e lugar da tradição (entrega do bem) e obri- gação das partes. Possui, também, algumas cláusulas facultativas, porém especiais, que dependerão do consentimento das partes para existir. São exemplos dessas cláusulas: a retrovenda, a venda a contento, a preferência, a venda com reserva de domínio e a alienação fiduciária. São elementos essenciais para a validade desse contrato: o objeto, o preço certo e determinado e o consentimento das partes. Locação (Art. 565 e seguintes do CC): “É o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a ceder, tem- porariamente, o uso e gozo, de coisa não fungível, mediante certa remuneração”, a outra. A locação pode ser apenas de uso, quando o locatário não tem direito à apro- priação dos frutos, mas tão somente ao uso da coisa e de gozo, quando, além de usar a coisa, objeto do contrato, o locatário poderá apropriar-se dos frutos; assim, podemos dizer que os objetos não produtivos, (uma casa, um carro etc.) são objetos de locação de uso, e as coisas produtivas (um terreno, um equipamento etc.) são objetos de locação de uso e gozo, exceto se houver ressalva contratual. As principais obrigações do locatário são: utilizar a coisa apenas para os usos convencionados no contrato; pagar, pontualmente, os aluguéis; comunicar ao locador as turbações de terceiros; restituir a coisa ao final do contrato. U N ID A D E 1 24 Já as principais obrigações do locador são: responder pelos vícios ou defeitos anteriores à locação; garantir, durante o prazo de locação, o uso pacífico do bem; entregar ao locatário o bem locado em estado de servir ao uso a que se destina; fornecer recibos ao locatário pelos pagamentos dos aluguéis e pagar impostos, taxas e seguros que incidam sobre o bem locado, excetose essa obrigação for repassada ao inquilino em contrato, com a anuência dele. É proibido vincular o valor do aluguel à moeda estrangeira, ao salário mínimo ou à variação cambial. Nada impede, porém, que o locatário faça o pagamento de uma única vez. Morrendo o locador, a locação transmite-se aos herdeiros, em tese, o espólio é o continuador das relações transmissíveis do falecido. Empréstimo São exemplos de contratos de empréstimo o Mútuo e o Comodato. No Mútuo (Art. 586 e seguintes do CC), uma parte transfere a outra parte a propriedade de determinada quantidade em dinheiro ou outro bem fungível, com obrigação de o mutuário restituir ao mutuante uma quantidade de coisa igual ou semelhante em gênero e qualidade. É um empréstimo de consumo. Esse tipo de acordo pode ser gratuito ou oneroso. Um exemplo disso é o empréstimo de dinheiro, quando a restituição for prevista sem a cobrança de juros, somen- te com a devida correção monetária será empréstimo gratuito; porém, quando for prevista a cobrança de juros no contrato, será mútuo oneroso. A falência do mutuário ou a abertura de concurso de credores pode acarretar o vencimento antecipado da dívida de mútuo. Já o Comodato (Art. 579 e seguintes do CC) é um empréstimo para o uso, em que a pessoa (comodante) entrega um bem imóvel para outra (comodatário) que o usará por determinado período de tempo e o restituirá ao final do prazo ao proprietário. Neste contrato, o comodatário exerce a posse direta da coisa e o comodante, a posse indireta. Arrendamento Trata-se do contrato firmado entre o proprietário do bem (possuidor, usufrutuário ou arrendador) e o arrendatário. O arrendador é aquele que cede o imóvel, total ou U N IC E SU M A R 25 parcialmente, ao arrendatário que, por sua vez, possui a função de explorar a terra por prazo determinado ou não, e mediante certo preço. Esta exploração será destinada à atividade agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, sendo as principais: 1. Arrendamento agrícola: quando a exploração é decorrente de cultivo de espécies vegetais. 2. Arrendamento pecuário: destinado à criação de gado. 3. Arrendamento agroindustrial: destinado à exploração para o beneficia- mento de produtos agrícolas, pecuários ou vegetais. É possível, ainda, que o contrato englobe mais de uma das espécies apresentadas, sendo denominado misto. Ao arrendatário é assegurada, pelo Estatuto da Terra, a proteção de lhe ga- rantir um crescimento social e econômico. Conforme previsto no Art. 13, II, do Decreto 59566/66 (BRASIL, 1966, on- -line), o prazo mínimo será: “ - de 3 (três), anos nos casos de arrendamento em que ocorra ati-vidade de exploração de lavoura temporária e ou de pecuária de pequeno e médio porte; ou em todos os casos de parceria; - de 5 (cinco), anos nos casos de arrendamento em que ocorra ati- vidade de exploração de lavoura permanente e ou de pecuária de grande porte para cria, recria, engorda ou extração de matérias pri- mas de origem animal; - de 7 (sete), anos nos casos em que ocorra atividade de exploração florestal. As hipóteses de extinção do arrendamento estão previstas no Art. 26 da mes- ma legislação, sendo o término do prazo do contrato e de sua renovação; a retomada do imóvel arrendado; a aquisição de gleba arrendada, pelo arren- datário; o distrato ou rescisão do contrato; força maior, que impossibilite a execução do contrato etc. Já o subarrendamento é aquele negócio jurídico em que uma das partes (ar- rendatário) transfere a outra pessoa, total ou parcialmente, os direitos e as obri- gações do contrato de arrendamento. U N ID A D E 1 26 Parceria rural Este contrato é firmado entre o parceiro-outorgante (que pode ser proprietário ou usufrutuário) e o parceiro-outorgado (permitindo, inclusive, a participação de sua família). O objeto é a cessão ao segundo, por tempo determinado ou não, da utilização do imóvel rural, incluindo, ou não, as benfeitorias, outros bens ou outras facilidades, com a finalidade de exploração agrícola, pecuária, agroindus- trial, extrativa vegetal ou mista. É possível, também, que esta espécie contratual possua, como objeto, a entrega de animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de matérias-primas de origem animal, mediante partilha de riscos, ou seja, em ocorrência de caso fortuito ou força maior, como a morte dos animais, os prejuízos ficarão por conta de ambos, conforme previsto no Art. 96, VI, do Estatuto da Terra. Dentre as espécies de parcerias rurais, citamos a Parceria agrícola, que ocorre quando o objeto do contrato é o uso do imóvel rural para a exploração vegetal; a Parceria pecuária: que ocorre quando o objeto do contrato for a cria, a recria, a invernagem ou a engorda de animais; a Parceria agroindustrial: que ocorre quan- do o objeto do contrato for o uso do imóvel rural para transformação do produto agrícola, pecuário ou florestal; a Parceria extrativa: que ocorre quando o objeto do contrato for a atividade extrativa de produto agrícola, animal ou florestal; e, por fim, a Parceria mista: quando engloba mais de uma das espécies anteriores. Nesta espécie contratual, são utilizados os mesmos prazos do contrato de arrendamento. A diferença está é que, aqui, não há pagamento de arrendamento, e sim, divisão dos frutos, que obedecerá às seguintes porcentagens a favor do parceiro outorgante: “ a) 20% (vinte por cento), quando concorrer apenas com a terra nua; b) 25% (vinte e cinco por cento), quando concorrer com a terra preparada; c) 30% (trinta por cento), quando concorrer com a terra prepa- rada e moradia; d) 40% (quarenta por cento), caso concorra com o conjunto básico de benfeitorias, constituído especialmente de casa de moradia, gal- pões, banheiro para gado, cercas, valas ou currais, conforme o caso; U N IC E SU M A R 27 e) 50% (cinqüenta por cento), caso concorra com a terra preparada e o conjunto básico de benfeitorias enumeradas na alínea d deste inciso e mais o fornecimento de máquinas e implementos agrícolas, para atender aos tratos culturais, bem como as sementes e animais de tração, e, no caso de parceria pecuária, com animais de cria em proporção superior a 50% (cinqüenta por cento) do número total de cabeças objeto de parceria; f) 75% (setenta e cinco por cento), nas zonas de pecuária ultra-ex- tensiva em que forem os animais de cria em proporção superior a 25% (vinte e cinco por cento) do rebanho e onde se adotarem a meação do leite e a comissão mínima de 5% (cinco por cento) por animal vendido; g) nos casos não previstos nas alíneas anteriores, a quota adicional do proprietário será fixada com base em percentagem máxima de dez por cento do valor das benfeitorias ou dos bens postos à dispo- sição do parceiro; (Art. 96, IV) (BRASIL, 1964, on-line). É permitido ao parceiro-outorgante exigir do parceiro-outorgado o valor de custo de fertilizantes, vacinas, medicamentos e inseticidas fornecidos no percentual que corresponder à participação desse. Acadêmicos e futuros gestores, atenção! Se o parceiro-outorgado receber do parceiro-outorgante pagamento em dinheiro, fica descaracterizada a parceria agrícola, prevalecendo o trabalho rural, sujeitando-se, assim, à legislação traba- lhista. É recomendável que os contratos sejam escritos e registrados no Cartó- rio Imobiliário do imóvel objeto, acompanhado do Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR), bem como do comprovante de pagamento do ITR e da Certidão Negativa do Ibama. Este conjunto de documentos impede que terceiros interessados aleguem desconhecimento do acordo. O contrato é lei entre as partes, assim, aquele que não cumprir seus deveres deverá ser constituído em mora, por meio de notifica- ção judicial e extrajudicial. Se o descumprimento da obrigação for pelo parceiro-outorgado ou arrendatário, a ação cabível é o despejo, enquanto se for do parceiro-outorgante ou arrendador, a ação competente é a de cumprimento de contrato ou rescisão com perdas e danos. A parceria ruralpossui algumas características próprias, como a obrigação de cumprimento de deveres por ambas as partes, a participação de ambos nos resul- U N ID A D E 1 28 Quando o contrato determinar o pagamento do trabalhador parte em dinheiro e parte em percentual na lavoura ou gado, não se trata de contrato de parceria rural, e sim, contrato de trabalho. O que diferencia os dois institutos é o fato de a direção dos trabalhos e os riscos pelo negócio serem, exclusivamente, do proprietário do imóvel. Neste caso, mesmo que se denomine contrato de parceria rural, se o trabalhador ingressar com ação traba- lhista a qualquer tempo contra o proprietário, terá êxito, pois está comprovada a relação de trabalho e não parceria agrícola. Fonte: a autora. explorando Ideias tados, favoráveis ou não (em caso de caso fortuito ou força maior); o fim lucrativo do contrato; é intuito persona, ou seja, somente alcança as partes envolvidas, não transmitindo aos herdeiros e, por fim, o administrador do negócio jurídico é o parceiro-outorgante perante terceiros, salvo exceções expressas no contrato. A legislação denomina benfeitorias as obras executadas no imóvel com a in- tenção de conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo, tendo tratamento diferenciado cada uma das espécies. As obras denominadas necessárias são aquelas realizadas pelo arrendatário ou parceiro-outorgado, mesmo sem autorização do proprietá- rio, e serão indenizáveis, já que imprescindíveis para evitar o deterioramento do bem, como o reparo de um telhado. As úteis só serão possíveis de serem indenizadas mediante prévia autorização do arrendador ou parceiro-outorgante, sendo aquelas destinadas a facilitar, ou aumentar o uso do bem, como a instalação de grades. E, por fim, as voluptuárias não dão direito ao arrendatário ou parceiro-ou- torgado de reter o imóvel, já que são destinadas apenas a tornar o imóvel mais bonito ou agradável, como obras de jardinagem. A parceria pode, a qualquer tempo, ser transformada em arrendamento, mediante a vontade das partes. U N IC E SU M A R 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS Bem, terminamos aqui esta primeira unidade. Como vimos, há um universo jurí- dico com conceitos e institutos ligados ao Direito Civil e Empresarial e que estão, também, diretamente voltados ao mundo do Agronegócio e, para isso, você, acadê- mico(a), deve estar atento(a) à legislação e às suas alterações para desempenhar um bom papel no mundo dos negócios e, consequentemente, ter sucesso profissional. Além do mais, entender o Direito não é importante apenas para a vida profis- sional, mas também é essencial para a vida pessoal, para saber como agir frente a situações em que tenha um direito ferido ou na iminência de um dever jurídico. No campo profissional, você, acadêmico(a), deve ter percebido que existem inúmeros fatos praticados que repercutem na esfera jurídica, tais como: a assi- natura de um contrato de parceria ou até a contratação de um empregado. Por isso, ao longo desta unidade, vimos que a figura do empresário rural e da própria empresa rural são instituições em franco desenvolvimento em nosso país, assim como o cooperativismo agrícola que, a cada dia, se fortalece mais e se propaga por todo o território nacional. Estudamos, também, quem são as pessoas físicas e jurídicas e os principais contratos voltados à atividade rural. Não se esqueça de que o contrato é um acordo de vontades feito entre duas ou mais pessoas com a finalidade de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir algum direito e, como tal, precisa de requisitos para ser firmado, tais como a capacidade das partes, o objeto lícito e possível de ser cumprido e a obediência a legislação. Em suma, atuar de forma eficaz e pautada na legislação fará um diferencial no seu ramo de atuação, por este motivo, busque sempre o aprimoramento, por meio de estudos e da busca pelo conhecimento, atos que, se exercidos de forma contínua, levarão você ao sucesso. 30 na prática 1. A pessoa física adquire a plena capacidade civil aos 18 anos, desde que seja men- talmente sã. Quem são as pessoas consideradas, pela lei civil, como absolutamente incapazes? 2. Estudamos, nesta unidade, as sociedades e a sua classificação. Neste contexto, o que diferencia uma sociedade não personificada de uma sociedade personificada? 3. Os contratos podem ser de várias espécies, tipificadas ou não, em lei. Assim, com base no conteúdo estudado, diferencie Mútuo de Comodato. 4. Os contratos agrários são essenciais no agronegócio, pois nem sempre o proprietário será o explorador da terra. Com base nisso, conceitue o Contrato de Arrendamento. 5. Vimos que as propriedades rurais podem conter benfeitorias. Com base nisso e, dada a importância da temática, conceitue as benfeitorias úteis. 31 aprimore-se As sociedades anônimas de capital aberto permitem a negociação de suas ações no mercado. Vejamos a leitura a seguir: “As ações são valores mobiliários representativos de unidade do capital social de uma sociedade anônima, que conferem aos seus titulares um complexo de direitos e deveres. Classificam-se as ações segundo três critérios distintos: espécie, classe e forma. Segundo a espécie, as ações são: a) Ordinárias - aquelas que conferem aos seus titulares os direitos que a lei reserva ao acionista comum. São ações de emissão obrigatória. Não há so- ciedade anônima sem ações desta espécie. o estatuto não precisará discipli- nar esta espécie de ação, uma vez que dela decorrem, apenas, os direitos normalmente concedidos ao sócio da sociedade anônima. b) Preferenciais - ações que conferem aos seus titulares um complexo de direi- tos diferenciado, como, por exemplo, a prioridade na distribuição de divi- dendos ou no reembolso do capital, com ou sem prêmio etc. As ações pre- ferenciais podem ou não conferir o direito de voto aos seus titulares. Para serem negociadas no mercado de capitais (bolsa de valores ou mercado de balcão), os direitos diferenciados das preferenciais devem ser pelo menos um de três definidos na lSA (art. 17, § 1º). c) De fruição - são aquelas atribuídas aos acionistas cujas ações foram total- mente amortizadas. O seu titular estará sujeito às mesmas restrições ou desfrutará das mesmas vantagens da ação ordinária ou preferencial amor- tizada, salvo se os estatutos ou a assembleia geral que autorizar a amorti- zação dispuserem em outro sentido. O máximo de ações preferenciais sem direito a voto, ou com restrições a esse direito, tolerado por lei é de 50% das ações emitidas (Art. 15, § 2º). As ações preferenciais se dividem em classes de acordo com o complexo de direitos ou restrições que, nos termos dos estatutos, forem conferidos aos seus titulares. As ações ordinárias, em tese, não deveriam ser divisíveis em classes, na medida em que se conceituam justamente por conferirem um mesmo conjunto de direitos aos seus titulares. No entanto a lei possibilita aos estatutos da companhia fechada a previsão de classes de ações ordinárias, em função de sua conversibilidade em ações prefe- 32 aprimore-se renciais, exigência de nacionalidade brasileira do acionista ou direito de eleger, em separado, membros dos órgãos de administração (Art. 16). As ações ordinárias das companhias abertas não poderão ser divididas em classes (Art. 15, § 1º). Anteriormente à Medida Provisória que deu origem à Lei n. 8.021, de 1990, as ações eram classificadas, quanto à forma, em nominativas, endossáveis, ao porta- dor ou escriturais. Com a nova redação que aquele diploma conferiu ao art. 20 da lSA, foram extintas as formas ao portador e endossável. Presentemente, portanto, segundo este critério, as ações serão nominativas ou escriturais. O critério de diferenciação entre uma forma e outra leva em conta o negócio jurídico que opera a transferência de titularidade da ação, ou seja, a maneira pela qual são transmissíveis. As nominativas circulam mediante registro no livro próprio da sociedade emissora. Já as ações escrituraissão mantidas, por autorização ou determinação dos estatutos, em contas de depósito em nome de seu titular. Essas ações são desprovidas de certificado e sua circulação se opera por lançamento da operação nos registros próprios da instituição financeira depositária, a débito da conta de depósito do alienante e a crédito da conta de depósito do adquirente. Os estatutos da companhia fechada podem estabelecer limites à livre circulação das ações representativas de seu capital social, desde que, dispõe a lei (art. 36), não impeçam a sua negociação nem sujeitem o acionista ao arbítrio dos órgãos de ad- ministração ou à maioria dos acionistas. O exemplo mais corrente de aproveitamen- 33 aprimore-se to dessa faculdade do legislador encontra-se na previsão do direito de preferência para a compra de ações reconhecido aos demais acionistas da companhia. Nesse caso, aquele que pretender alienar suas ações estará obrigado a oferecê-las, ini- cialmente, aos demais integrantes do quadro associativo da sociedade anônima. A circulação das ações da companhia aberta, no entanto, não poderá sofrer qualquer restrição por parte dos estatutos. As ações nominativas são documentadas em um certificado, em regra de emis- são da companhia, cujos requisitos se encontram fixados em lei (Art. 24). Poderá, no entanto, a companhia contratar os serviços de escrituração e guarda dos livros de registro e transferência de ações, bem como os de expedição de certificados, de uma instituição financeira autorizada pela CVM, chamada pela lei de agente emissor de certificados. Nesta hipótese, caberá exclusivamente ao agente a prática dos atos relativos aos registros e emissão de certificados. A lei possibilita, também, às instituições financeiras autorizadas para este fim, pela CVM, prestarem serviços de custódia de ações fungíveis, recebendo em depó- sito, como valores fungíveis, as ações de cada espécie, classe e companhia. Neste caso, a instituição financeira representará, perante a companhia, os titulares das ações depositadas em custódia, para recebimento de dividendos e ações bonifica- das, bem como exercício de direito de preferência na subscrição de novas ações”. Fonte: Coelho (2011). 34 eu recomendo! Wall Street Ano: 1987 Sinopse: Nova York, 1985. Bud Fox (Charlie Sheen) é um jovem e ambicioso corretor que trabalha no mercado de ações. Após várias tentativas, ele consegue falar com Gordon Gekko (Michael Douglas), um inescrupuloso bilionário. Gekko o adota como discí- pulo e logo Bud trabalha secretamente para Gekko, abandonan- do qualquer escrúpulo, ética e meios lícitos, pois só quer enri- quecer. Bud obtém sucesso, o que faz seu padrão de vida mudar. Além disto, se envolve com Darien Taylor (Daryl Hannah), uma decoradora em ascensão, mas se os ganhos são bem maiores, os riscos também são. filme anotações 2 O DIREITO AGRÁRIO COMO FONTE do Agronegócio PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Compreendendo o Direito Agrário • Noções gerais sobre posse e propriedade • O imóvel rural OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Contextualizar as bases do Direito Agrário brasileiro • Compreender o Instituto Jurídico da Posse e da Propriedade • Estudar o imóvel rural. PROFESSORA Me. Monica Cameron Lavor Francischini INTRODUÇÃO Olá, aluno(a)! Nesta segunda unidade, trabalharemos as bases necessárias para que você possa entender a legislação agrária. O Direito faz parte da nossa vida, regula a sociedade desde o nascimento das pessoas até a sua morte, dia- riamente nos envolvemos em relações jurídicas, por isso, é necessário co- nhecer o seu funcionamento para tomada de decisões. Para isso, estudaremos, aqui, alguns conceitos e aspectos históricos do Direito Agrário, bem como suas principais peculiaridades, afinal, o Agro- negócio possui, por base, exatamente o Direito Agrário e a sua legislação. E, quando falamos em legislação agrária, estamos nos referindo a diversas leis, portarias, instruções normativas e decretos que regulamentam esta nossa unidade porque, diferentemente de outros ramos jurídicos, como o Direito Civil e o Direito Penal, não há um “código agrário”, já que as leis não estão codificadas, são leis esparsas, como o Estatuto da Terra e o próprio Código Civil. Também estudaremos, nesta unidade, a posse e a propriedade, sendo, esta última, um direito garantido constitucionalmente. Entretanto recai sobre ela um ônus, seja ela rural, seja urbana: atender aos interesses co- munitários e aos fins que dela se espera. A própria Constituição Federal prevê o princípio da prevalência do interesse público sobre o particular, ou seja, o proprietário de um imóvel rural não pode utilizá-lo da forma como queira, já que há limitações legais no uso dessa propriedade: atender à sua função social. Neste ponto, a intervenção estatal avulta-se, isto porque o imóvel rural ocioso, improdutivo e que não traga qualquer espécie de retorno à socie- dade, pode e deve ser desapropriado por interesse social. O seu objetivo como gestor é exatamente, neste ponto, identificar e gerir os negócios rurais em obediência aos requisitos legais. Vamos em frente! U N ID A D E 2 38 1 COMPREENDENDO O DIREITO AGRÁRIO Para compreender este ramo jurídico, vale a pena estudar a evolução histórica que ensejou a legislação atual. O Direito Agrário está diretamente ligado aos primórdios da civilização, já que uma, senão a primeira forma de o ser humano se alimentar foi o plantio e a colheita de produtos. Posteriormente, quando a civilização passou a existir em forma de tribos, tornou-se necessária a regula- mentação das relações entre o homem e a terra e entre os próprios humanos, o que originou o ordenamento jurídico agrário. Alvarenga (1985, p. 1), considerado um dos primeiros agraristas nacio- nais, anota que: “ as regras de conduta que regem o homem em sua relação com a terra evoluíram do Decálogo de Moisés para as condições e leis subseqüentes, até atingir um grau de tipicidade que justifica o direito agrário como ramo autônomo da ciência jurídica. Depois do Decálogo de Moisés, temos o Código Babilônico de Hamurabi (séc. XVII a. C.), considerado, por muitos doutrinadores, o primeiro código agrário da humanidade, isto porque continha 280 parágrafos e, destes, 65 referiam-se a temas agrários. U N IC E SU M A R 39 A Legislação Agrária no Brasil O primeiro ato de nosso direito relacionado às questões agrárias foi a Carta Régia de 1808, que abriu nossos portos às chamadas Nações Amigas. “ A carta régia de 28 de janeiro de 1808, que ordenou a abertura dos portos do Brasil ao comércio direto com o estrangeiro, assim o fez ‘a benefício do comércio e da agricultura, que tanto desejo promo- ver’ – Príncipe Regente Dom João – e foi talvez esta a mais antiga e positiva demonstração do direito dos rurícolas, no País, e de sua importância para o bem público (ALVARENGA, 1985, p. 32). O primeiro projeto de Código Rural de que temos notícia foi apresenta- do ao Congresso Nacional pelo gaúcho Dr. Joaquim Luís Osório, em 1914. Posteriormente, foram elaborados outros dois projetos, em 1937 e em 1942, respectivamente, porém ambos nunca chegaram a tornarem-se leis. Neste período, há de se notar a predominância de gaúchos, quer no estudo de ques- tões agrárias, quer no empenho por dotar o Brasil ou o Rio Grande do Sul de legislação específica e ordenada sobre os problemas rurais. Isso se deve ao fato de esse estado se encontrar muito próximo do Uruguai e da Argentina, que possuem seus códigos desde o século XIX. Em 1963, Milton Campos encaminhou ao Congresso o então Tratado das Terras do Brasil, um projeto de lei que, posteriormente, foi denominado Es- tatuto da Terra, o mesmo foi, preliminarmente, rejeitado pela Câmara. Final- mente, em 1964, o Estatuto da Terra foi aprovado e se tornou a Lei n. 4.504, de 30 de novembro de 1964, queestava dividida em dois planos de tutela: a Reforma Agrária e a Política Agrícola ou Política de Desenvolvimento Rural (ALVARENGA, 1985, p. 32-35). Não se pode negar que o Brasil é um país iminentemente agrícola, embora se vislumbre já um grande índice de industrialização. Nosso Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/64), combinado com a proteção do Trabalhador Rural, pode ser equipa- rado, nas suas linhas gerais, ao Trade Board Act, de 1909, do Reino Unido. Basta uma comparação ligeira para verificar que o Estatuto da Terra brasileiro adotou medidas que já eram exigidas no Reino Unido. Assim, temos, em primeiro lugar, a fixação do salário mínimo legal; em segundo, a moradia rural e, em terceiro, a propriedade e o cultivo parcelário. U N ID A D E 2 40 O Estatuto é a Lei agrária fundamental e foi publicada em 30 de novembro de 1964, possuindo, atualmente, 128 artigos que regulamentam a relação jurídica entre a terra e o homem. Mas o que é o Direito Agrário? A terminologia Direito Agrário encontra si- nônimos na legislação e na doutrina, tais como, Direito Rural ou da Agricultura. A palavra vem de agri, ager, que deriva de agrarius, que significa campo, tendo como objeto de estudo o conjunto das normas jurídicas relacionadas a regu- lamentar o trato do homem com a terra, visando à proteção da segunda e ao progresso social/econômico do primeiro. Existem várias definições doutrinárias do que seja o Direito Agrário, mas, em síntese, podemos dizer que é o ramo do Direito que visa ao estu- do das relações entre o homem e a propriedade rural, ao progresso social e econômico do rurícola e da própria sociedade. Neste sentido, este ramo jurídico é “a contraposição de duas classes sociais: aquela dos proprietários de terra, mas não cultivadores e aquela dos cultivadores e não proprietários”. (TRENTINI, 2012, p. 3). Como vimos, o objeto de estudo deste ramo jurídico possui perspectivas tanto públicas quanto privadas, já que as relações jurídicas envolvem o homem (proprietário, arrendatário ou trabalhador) e a natureza, englobando, assim, as explorações rurais na lavoura, o extrativismo animal e vegetal, a pecuária de pe- queno, médio e grande porte e a hortigranjeira (consideradas típicas), bem como “ • Exploração rural atípica ou beneficiamento ou transformação dos produtos rústicos (matéria-prima): que compreende a agroindús-tria, que são os processos industrializantes desenvolvidos no limite territorial da produção (produção de farinha, beneficiamento de arroz, dentre outros); • Atividade complementar da exploração agrícola, ou seja, a ativi- dade final do processo produtivista: que compreende o transporte e a comercialização dos produtos. No qual se situa no setor terciá- rio da economia, sendo a primeira considerada como prestação de serviços e a segunda, como comercialização, atividade tipicamente mercantil (comercial). (SILVA, 2019, on-line)2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito U N IC E SU M A R 41 Em sua competência está a definição das políticas de uso do solo, a Reforma Agrária, a definição do que é minifúndio, latifúndio, propriedade familiar, me- didas em porções ideais considerando aquilo que seja uma faixa de terra capaz de assegurar a sustentabilidade de um núcleo familiar mínimo, em cada tipo de terreno, em algumas legislações, chamadas de módulo rural. Princípios e Natureza Jurídica do Direito Agrário Ao contrário do Direito Civil, o Direito Agrário não tem como valor o progresso do indivíduo em si, mas sim, da sociedade como um todo. Não é um ramo indivi- dualista, mas social do Direito, por isso, os princípios que o norteiam e embasam a política agrária, dão ênfase ao coletivo, ao social em detrimento do individual. Ainda, é importante frisar que a competência legislativa é exclusiva da União Federal (Art. 22, I) (BRASIL, 1988, on-line). Acadêmico(a), estudamos, no início deste livro, que o Direito é um só, porém, para fins didáticos, ele é dividido em Direito Público e Privado. Vimos, também, que o Direito Civil (objeto da nossa primeira unidade) faz parte do ramo do Direito Privado. Com isso, eu pergunto a você: e o Direito Agrário? Faz parte do Direito Público ou Privado? Muito se discute sobre a resposta desta questão e parte da doutrina entende que o Direito Agrário faz parte dos dois ramos (TRENTINI, 2017, p. 7). Contudo há autores e estudiosos do Direito que entendem que há um predomínio das normas de ordem pública sobre as de direito privado. Esta parte da doutrina justifica esta afirmativa pelo princípio da função social previsto na Constituição Federal, como veremos mais à frente. As fontes do Direito Agrário A palavra fonte vem do latim fons e significa nascente, manancial. Daí dizer-se que fonte do Direito é a sua origem, o princípio da norma jurídica. As fontes do Direito se dividem em materiais e formais, sendo as primeiras aquelas de onde se originam, é a sociedade em constante mudança e evolução, onde os fatos sociais produzem as normas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_agr%C3%A1ria http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_agr%C3%A1ria http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_agr%C3%A1ria http://pt.wikipedia.org/wiki/Minif%C3%BAndio http://pt.wikipedia.org/wiki/Minif%C3%BAndio http://pt.wikipedia.org/wiki/Latif%C3%BAndio http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%B3dulo_rural http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%B3dulo_rural U N ID A D E 2 42 No caso do Direito Agrário, as fontes materiais são as políticas agrárias, que planejam a ação do Poder Público e dos particulares na atividade agrária. Fonte: a autora. explorando Ideias As fontes formais do Direito são as maneiras dentre as quais ele se exterioriza, afinal, a lei não é a única fonte jurídica, já que engloba costumes, jurisprudências, doutrina, analogia e princípios gerais do Direito. As fontes do Direito Agrário são: a Constituição Federal, as normas infra- -constitucionais constantes de leis, os decretos, as portarias e as normas regula- mentadoras da atividade agrária bem como os costumes, como fonte consuetu- dinária e a jurisprudência dos tribunais. A Constituição Federal estipula alguns dos maiores princípios como: “ • A garantia do direito de propriedade (inciso XXII do Art. 5º);• A função social da propriedade (inciso XXIII do Art. 5º); • A desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária (inciso XXIV do Art. 5º); • A proteção à pequena propriedade rural contra débitos decorren- tes de sua atividade produtiva (inciso XXVI do Art. 5º); • A capacidade da União para legislar (Art. 22, I); • A competência comum da União, Estados e Distrito Federal de pro- teger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas (inciso VI do Art. 23); preservar as florestas, a fauna e a flora (inciso VII do Art. 23) e fomentar a produção agropecuária e organi- zar o abastecimento alimentar (Art. 23, VIII) (BRASIL, 1988, on-line). Além disso, não se esqueçam que, apesar do Direito Agrário ser considerado, para alguns, um ramo autônomo do Direito, ele está diretamente ligado a outros ramos, como o Direito Civil (em relação aos Contratos Agrários por exemplo), ou o Direito Tributário (em relação ao Imposto Territorial Rural, que será objeto de estudo de uma unidade futura). U N IC E SU M A R 43 O Estatuto da Terra Já expusemos, anteriormente, a dificuldade de criação e aprovação do nosso Código da Terra, que é considerado o Código Rural, a lei maior referente ao Direito Agrário. Sobre o nosso Documento da Terra, assim se expressa Borges (1998, p. 13): “ O Estatuto da terra é a lei agrária fundamental. Em seus 128 artigos ele fixa os rumos básicos do relacionamento entre a terra e o ho-mem, procurando proteger este e aquele. Protege o homem, como sujeito da relação jurídica e destinatário das vantagens objetivadas pela lei. Protege a terra, porque ela é a matriz e a nutriz não só no presente como no futuro. Por isso ela precisa ser tratada com cari- nho, para que,na afoiteza, não se mate a galinha dos ovos de ouro. O Estatuto da Terra é uma lei federal publicada em 30 de novembro de 1964, no início do Regime Militar, que visava a promover a reforma agrária e o desenvol- vimento da agricultura. O nosso Estatuto da Terra está estruturado em Prelimi- nares, Reforma Agrária; Política de Desenvolvimento Rural e demais Disposições. O primeiro título elenca os Princípios e Definições, Acordos e Convênios e Das Terras Públicas e Particulares em que constam os princípios deste ramo jurídico e os conceitos dos principais institutos jurídicos, como Propriedade Familiar, Módulo Rural, entre outros. O Título II trata da Reforma Agrária, sendo que legislações posteriores am- pliaram o rol de normas jurídicas que regulamentam o tema. O Título III trata da parte tributária, da Colonização; da Assistência e Prote- ção à Economia Rural e do Uso ou da Posse Temporária da Terra. Aqui, também, a legislação posterior regulamentou e disciplinou tais pontos. E, por fim, o Título IV prevê, entre outros assuntos, o objetivo da lei, que é “a perfeita ordenação do sistema agrário do país, de acordo com os princípios da justiça social, conciliando a liberdade de iniciativa com a valorização do trabalho humano” (Art. 103). (BRASIL, 1964, on-line). U N ID A D E 2 44 2 NOÇÕES GERAIS SOBRE POSSE E Propriedade Para compreender o Direito Agrário, é primordial diferruição de uma coisa ou direito, estado de quem é dono de algo, domínio. Porém há que se ressaltar que esse conceito gera inúmeras incorreções acerca do sentido jurídico da palavra posse, por exemplo, quando dizemos “Pedro possui uma grande fazenda, um belo cavalo e um relógio de pulso”, na realidade, estamos falando da condição de aquisição do domínio, e não da posse propriamente dita, ou o exercício ou gozo de um direito ou o compromisso do funcionário, em ato preliminar que promete exercer com honra a função. Para a caracterização de posse, segundo o Direito, é necessário estar em pre- sentes dois elementos essenciais: uma coisa (corpus – elemento material) e uma vontade (animus – intenção de ter a coisa para si). A partir dessa diretriz, quanto à caracterização, surgiram divergências entre as teorias sobre a natureza da posse. Atualmente, existem duas teorias predo- minantes: a Teoria Subjetivista (ou Subjetiva, onde posse seria: coisa + vontade de ser dono, querer a coisa para si) e a Teoria Objetivista (ou Objetiva – nesse entendimento, posse seria: coisa + vontade de proceder em relação à coisa como o proprietário procede, independentemente de querer a coisa para si). Neste estudo, aprofundaremos na Teoria Subjetivista, pois é a mais praticada pelo Direito atual. Essa teoria surgiu com os problemas decorridos da repartição de terras conquistadas pelos romanos. Terras essas que eram loteadas, sendo uma U N IC E SU M A R 45 Interdito possessório são ações judiciais que visam à proteção da posse, isto é a ma- nutenção dela ou a retomada de quem injustamente a esteja violando. São exemplos de ação de interdito possessório: o interdito proibitório, o interdito de manutenção de posse e o interdito de reintegração de posse. Estas ações judiciais, para terem caráter de inter- dito possessório, devem visar à tutela da posse. Fonte: a autora. explorando Ideias parte dos lotes denominada possessiones, cedidas a título precário aos cidadãos, e a outra, destinada à construção de novas cidades. Como os beneficiários não eram proprietários dessas terras, não podiam lançar mão de ações reivindicatórias para defendê-las das invasões. Daí o aparecimento de um processo especial, ou seja, do interdito possessório destinado a proteger, juridicamente, aquele estado de fato. Perante o Código Civil, a posse está assim conceituada (Art. 1.196)(BRASIL, 2002): “Considera-se possuidor todo aquele, que tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. Assim, possuidor é aquele que tem pleno exercício de fato dos poderes constitutivos do domínio ou somen- te de alguns deles, como no caso dos direitos reais sobre a coisa alheia, como o usufruto e a servidão. A posse é dividida em posse direta e indireta, sendo que a posse direta é a do possuidor que recebe o bem em razão de direito real, pessoal ou de contrato, como no usufruto, o usufrutuário tem o uso e gozo da coisa. Portanto, a posse é direta porque é detida, materialmente, sendo utilizada, economicamente, como o faria o proprietário, são casos como locatários, arrendatários, comodatários. A posse direta sempre será temporária, e o possuidor, que detém materialmente a coisa, se molestado, poderá usar dos “interditos possessórios”, até mesmo contra o possuidor indireto (verdadeiro dono). Já a posse indireta é a do possuidor (dono, proprietário), que cede o uso do bem a outrem. Assim, no usufruto, o nu-proprietário tem a posse indireta, porque concedeu ao usufrutuário o direito de possuir, conservando apenas a nua pro- priedade, ou seja, a substância da coisa. Quando terminar o prazo de concessão da posse direta da coisa (segundo o contrato), ele readquirirá a posse direta. U N ID A D E 2 46 Formas de posse Podemos caracterizar as formas de posse em injusta, justa, de boa fé e má fé. A posse será considerada injusta se ocorrer: 1. Com violência, ou seja, quando for adquirida mediante força física ou violência moral. 2. Clandestinamente, quando é estabelecida às ocultas, escondido daquele que é o possuidor legal, ou que tenha interesse em sê-lo. 3. De forma precária, isto é, originária do abuso de confiança por parte de quem recebe a coisa, a título provisório, com o dever de restituí-la, como empréstimo, arrendamento, locação etc. A posse será justa quando cumprirem os requisitos legais e que não se enquadra- rem nas formas de posse injusta. Ter-se-á posse de boa-fé se o possuidor estiver convicto de que a coisa realmente lhe pertence, ignorando que prejudica o direito de outra pessoa por não saber da existência de vício que lhe impede a aquisição da coisa. Tal conceito de posse de boa-fé não se aplica à desapropriação judicial. Exemplo disso se dá quando a pessoa tem título hábil para transferir a posse ou o domínio, mas sem saber que esse título possui algum vício (erro) que o torna inválido, impossibilitando de atingir o fim esperado. A posse de má fé ocorrerá se o possuidor, mesmo portador de um título, tiver ciência da ilegalidade do seu direito de posse, em virtude de vício ou obstáculo im- peditivo de sua aquisição. Mas como será que a posse é desfeita? Vamos descobrir? A posse se desfaz de diversas formas: 1. Pelo abandono, quando a pessoa não tem mais intenção de continuar com o objeto. 2. Pela tradição, que além de ser meio aquisitivo da posse é também forma de acarretar sua extinção. 3. Pela perda da coisa, quando for impossível encontrá-la. 4. Pela destruição da coisa, que pode ser decorrente de evento natural ou fortuito ou de ato próprio do possuidor ou de terceiros. 5. Pela sua inalienabilidade, por ter sido colocada fora do comércio. 6. Pela posse de outrem, mesmo que ocorra contra a vontade do possuidor. 7. Pelo desuso, de modo que se a posse de um direito não ocorrer dentro do prazo previsto, tem-se, por consequência, a sua perda para o titular. U N IC E SU M A R 47 Efeitos da posse Os efeitos da posse são as consequências jurídicas por ela produzidas em virtude de lei ou norma jurídica. Para os juristas, os efeitos da posse são: I - o direito ao uso dos interditos (ações para manutenção e reintegração da posse); II - a percepção dos frutos; III - o direito de retenção por benfeitorias; IV - a responsabilidade pelas deteriorações (o possuidor de boa-fé responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa, devendo restituí-la no estado em que se encontre, se não procedeu com culpa ou dolo. Já o possuidor de má-fé deve ressarcir os danos pela perda e deteriorização, mesmo se advindos de força maior ou casofortuito, mas poderá exonerar-se dessa responsabilidade se demonstrar que esses fatos ocorreriam mesmo se a coisa estivesse em poder do reivindicante); V - a posse conduz à usucapião; VI - se o direito do possuidor é contestado, o ônus da prova compete ao adversário; VII - o possuidor goza de posição mais favorável em atenção à propriedade cuja defesa se completa pela posse. Há, também, a usucapião, uma modalidade de aquisição de bens móveis ou imóveis, pelo exercício da posse nos prazos fixados em lei. Não há usucapião sem posse, porque ela é a aquisição do domínio pela posse prolongada, segundo Clóvis Bevilácqua (autor do Código Civil de 1916). O Art. 1.238 do CC estabelece que “ aquele que, por 15 anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemen-te de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no cartório de registro de imóveis. Porém, este prazo, poderá reduzir-se a 10 anos, se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habi- tual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. (Art. 1.238) (BRASIL, 1988, on-line) Existe, também no CC, mais precisamente no Art. 1.239, a figura da usucapião pro labore ou usucapião especial rural, que ocorre quando o usucapiente tornar com o seu trabalho produtivo, uma área de terra em zona rural, tendo nela sua morada, desde que o ocupante não seja proprietário de imóvel rural ou urbano; que a terra cultivada seja abandonada; que a posse por ele exercida tenha sido de cinco anos ininterruptos; que o ocupante tenha tornado a terra produtiva com o U N ID A D E 2 48 Há diferença entre posse e detenção, e esta reside na maneira pela qual a pessoa se com- porta perante o bem. pensando juntos seu trabalho ou com o de sua família; que more na propriedade, e que a área não seja superior a 50 hectares. Bens que jamais poderão ser adquiridos por usucapião: bens públicos; bens indivi- síveis, como condomínios; áreas de especial proteção ambiental. Mas, atenção! Há dife- rença de posse e detenção. Vejamos qual a diferença entre estes dois institutos jurídicos. O Art. 1.198 do CC (BRASIL, 1988, on-line) diz que: “Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserve a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções”. Neste caso, preceitua o Art. 62 do Código de Processo Civil que “aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em nome próprio, deverá nomear a autoria o proprietário ou o possuidor”. É o que ocorre, por exemplo, com o caseiro, o motorista e o bibliotecário. Eles são detentores dos bens que utilizam para trabalho (casa, automóvel e livros), porém não exercem posse alguma sobre tais bens (nem direta, muito menos indireta). E a propriedade? No início das civilizações, as formas originárias de propriedade tinham uma feição comunitária. Na Idade Média, quando prevaleciam os feudos, estes foram doados como usufruto a certas pessoas que, em troca, prestavam serviços. Com o passar dos anos, a propriedade sobre tais feudos passou a ser perpétua e possível de transmissão apenas pela linha masculina. Entre nossos indígenas, havia domínio comum das coisas úteis entre os que ha- bitavam a mesma oca. O solo era pertencente a toda a tribo e, isso, temporariamente, porque nossos índios não se fixavam na terra, mudavam de cinco em cinco anos. A função social da propriedade A Constituição Federal, em seu Artigo 5º, inciso XXIII (BRASIL, 1988, on-line), declara que “a propriedade atenderá a sua função social”, após garantir o direito U N IC E SU M A R 49 de propriedade no inciso anterior e reafirmou a ideia de propriedade e sua função social no Artigo 170, II e III, ao tratar dos princípios da ordem econômica. O princípio da função social da propriedade está atrelado, portanto, ao exercício, e não ao direito de propriedade em si. São exemplos de propriedade que cumprem sua função social as que observam as normas de preservação ambiental, ao patrimônio histórico, prevendo até o tombamento, a proteção das terras indígenas, a observação às leis trabalhistas, a observação dos direitos de vizinhança, a produtividade, entre outras. O Art. 182, § 2º da CF (BRASIL, 1988, on-line) menciona que “a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências expressas no plano diretor”: O Plano Diretor é o instrumento obrigatório para estabelecer as políticas para o desenvolvimento urbanístico, paisagístico e socioeconômico do município. No capítulo de política agrícola e fundiária, o Art. 186 (BRASIL, 1988, on-line) dispõe: “ Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente segundo critérios e graus de exigência es-tabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I. aproveitamento racional e adequado; II. utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preser- vação do meio ambiente; III. observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV. exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Caso a função social não seja cumprida, o caput do Art. 184 determina que “ Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua fun-ção social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei (BRASIL, 1988, on-line). O Código Civil também preleciona a respeito da utilização da propriedade vi- sando ao bem comum, nos termos do Art. 1.228, §1º. U N ID A D E 2 50 Coisas inanimadas são coisas que não possuem vida, como os objetos (móveis ou imó- veis), ou seja, carros, tratores e equipamentos agrícolas. Um exemplo de danos causados por coisas inanimadas é o caso de acidente causado por automóvel ou maquinário agrí- cola que, por erro de manuseio ou imprudência do operador, causa dano a outra pessoa. Fonte: a autora. explorando Ideias Diante disso, verificamos que a função social está amplamente disciplinada no ordenamento jurídico pátrio, ficando claro que a todos é garantido, constitu- cional e infraconstitucionalmente, o direito à propriedade e à manutenção desta propriedade pelo Estado, mediante os meios legais. Entretanto deve ficar claro que este direito está condicionado à correta utilização desta propriedade de forma a cumprir sua função social, caso contrário, o Estado é legitimado para intervir nesta propriedade podendo, inclusive, desapropriá-la para fins de reforma agrária. Neste ponto, segundo Parra (2017, p. 169), “o cumprimento interino da função social da propriedade rural inexiste no Brasil. O texto legal é suficiente para coibir grande parte dos desacertos, porém, carece de fiscalização satisfatória, bem como medidas punitivas plenas”. Bem, mas o que pode ser objeto de propriedade? A resposta é bem simples, acadêmico(a): tudo aquilo que a lei permitir que o seja, por exemplo, podem ser bens corpóreos (móveis ou imóveis) e incorpóreos (propriedade artística, cultural e científica), desde que apropriáveis pelo homem. Responsabilidade civil do proprietário Ao exercer os seus direitos sobre o bem, o proprietário pode acabar causando prejuízo ou dano aos bens de terceiros, ou ainda, à sua integridade física. Nestes casos, o proprietário deve ser responsabilizado por esses atos ilícitos, tendo o dever de indenizar os prejudicados. Segundo o Art. 936 do CC, respondem pelos danos causados por animais ou por coisas inanimadas, tanto seu proprietário como seus detentores ou possui- dores, pois a obrigação de indenizar decorre da negligência na direção do bem. Dessa forma, os donos de animais deverão ressarcir todos os prejuízos que esses causarem a terceiros porque têm a obrigação de guarda. U N IC E
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