Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ÉTICA E CIDADANIA WEBCONFERÊNCIA II Dra. Andressa R. Queiroz A desigualdade social • Na prática, ocorre a exploração e a sujeição de uns ao poder de outros como consequência, tanto na perspectiva de Hobbes quanto na de Rousseau, pois, independente da teoria, existe um movimento de preservação de uma estrutura de poder e a manutenção de uma massa orientada à obediência. Diferenciação e preconceito • A desigualdade social decorre de um direito auto atribuído, que define benefícios exclusivos a um determinado grupo em detrimento a outros. • Essa desigualdade, muitas vezes, é oriunda de um sentimento de superioridade em relação ao próximo, o que, por consequência, institui a depreciação das qualidades alheias. • A desigualdade não tem uma raiz comum, ela pode ser originária de diferenciações econômicas, partidárias, religiosas, culturais, étnicas, sexuais ou de outros motivos quaisquer. • A diferenciação que origina a desigualdade pressupõe uma relação de valorização das qualidades de um determinado grupo e a condenação das qualidades de outros grupos. Conceito de razão moral objetiva • Dentre os argumentos para sustentar a tese de que a moral é objetiva, costuma-se utilizar: • A noção histórica de que fatos como os ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial, como, por exemplo, o holocausto, são imorais objetivamente, isto é, independentes dos resultados que levaram à queda do regime nazista. • A afirmação de que a noção contrária, isto é, de que a moral seria o resultado da construção subjetiva e intersubjetiva, não é capaz de sustentar a obrigatoriedade da ação moral, o que tornaria permissível qualquer tipo de comportamento em particular. • Na ausência de Deus e, por conseguinte, na ausência de leis morais objetivas, nada seria “bom” ou “mau”, pois tudo dependeria da perspectiva definida pelo próprio observador de acordo com seu ponto de vista em particular. Distinção entre as razões morais objetivas e as relações concretas • Em termos modernos, encontramos em correntes como o empirismo e o materialismo histórico uma semelhante negação às razões morais objetivas, tendo por fundamento a premissa de que as fontes de todo conhecimento e de toda a legislação ética são concretas e dependes da experiência histórica. Distinção entre as razões morais objetivas e as relações concretas • No empirismo, de autores como John Locke e David Hume, a raiz de todo conhecimento é a experiência empírica, concreta, pela qual o indivíduo apreende informações do mundo real e transforma tais impulsos em pensamentos, inicialmente simples e posteriormente mais complexos. Assim, mesmo noções extremamente abstratas, como a concepção de um Deus, ou qualquer tipo de divindade transcendente, seriam produto de processos mentais a partir de elementos que foram capturados a princípio pela experiência concreta coma matéria. Distinção entre as razões morais objetivas e as relações concretas • De acordo com o materialismo histórico, de Karl Marx, as condições concretas que definem os modos de produção e consumo, o sistema econômico adotado e as constituições sociais e políticas desenvolvidos pela cultura ao longo do tempo, determinam também os valores que são legitimados enquanto ideologia dominante. • Tais valores se tornam a base para as distinções morais que, segundo esta perspectiva, não teriam existência independente da dinâmica concreta, objetiva, mas seriam o produto mais sofisticado dos modos de vida que foram assumidos pela sociedade. Ética e política • A marca característica da ética na Antiguidade era a sua indissociabilidadeda política. Para Platão, a constituição da polis deve passar por governantes sábios, justos e virtuosos. Aristóteles, sendo discípulo de Platão, seguiu ideia do seu mestre. • Platão, em A república, no Livro II, afirma que o homem justo se assemelhará à cidade justa. É nessa concepção que Platão compara a ideia de justiça tanto para o indivíduo quanto para a sociedade, sendo harmônica essa relação. Essa relação compreende o estudo tanto da ética quanto da constituição da polis. Ética e política • Essa relação entre ética e política estava ligada diretamente ao conceito de justiça. Tanto para Platão quanto Aristóteles, justiça (dikaiosýne) é também uma virtude (areté), uma vez que a justiça é tanto a ordem da comunidade dos cidadãos quanto a virtude individual de cada cidadão, indicando para eles o discernimento do que é justo e injusto. • À luz dessa filosofia de Platão e Aristóteles, é inconcebível pensar o projeto individualista do liberalismo moderno, uma vez que, para os gregos, a liberdade se situa, sobretudo, na esfera política. • Para os gregos, ética e política não poderiam ser dissociadas. Essa dicotomia surgiu com o liberalismo moderno, que acabou por romper os laços com a polis, uma vez que buscou fortalecer a dimensão do individualismo humano. Ética e política • A marca característica da ética na Antiguidade era a sua indissociabilidade da política. Para Platão, a constituição da polis deve passar por governantes sábios, justos e virtuosos. Aristóteles, sendo discípulo de Platão, seguiu ideia do seu mestre. É dele a ideia de que o homem é um animal político (zoon polikon), ou seja, trata-se de um homem que, por essência, destina- se à vida política, à vida em comum na polis, sendo a arte de se viver segundo a razão. Ética e política • Essa relação entre ética e política estava ligada diretamente ao conceito de justiça. Tanto para Platão quanto Aristóteles, justiça (dikaiosýne) é também uma virtude (areté), uma vez que a justiça é tanto a ordem da comunidade dos cidadãos quanto a virtude individual de cada cidadão, indicando para eles o discernimento do que é justo e injusto. • À luz dessa filosofia de Platão e Aristóteles, é inconcebível pensar o projeto individualista do liberalismo moderno, uma vez que, para os gregos, a liberdade se situa, sobretudo, na esfera política. • Para os gregos, ética e política não poderiam ser dissociadas. Essa dicotomia surgiu com o liberalismo moderno, que acabou por romper os laços com a polis, uma vez que buscou fortalecer a dimensão do individualismo humano. Ética e política Em O príncipe, Maquiavel, não rejeita os princípios éticos, somente defende a autonomia da política em relação à ética, devendo o príncipe saber usar de artifícios estratégicos que contrastem, por exemplo, com a moral, se quiser manter o seu poder. Ética na política brasileira frente à Lei da Ficha Limpa • Com todas as instituições em xeque, inclusive o judiciário, o sentimento de desesperança impera entre a população, que busca em políticos demagogos e até mesmo autoritários uma segurança que não consegue encontrar mais nem no judiciário, que sofre devido ao fenômeno de politização. • Nesse momento de crise, não só política, mas das instituições, impõe-se a necessidade de reflexão a respeito de ética e política. • Universo político não pode ser reduzido simplesmente ao campo da ética ou da moral, uma vez que os valores políticos transcendem os valores éticos, já que a política é muito mais do que simplesmente o agir de forma proba, com caráter, pois a política liga as relações sociais. Ética na política brasileira frente à Lei da Ficha Limpa • Na política brasileira, há inúmeros escândalos de corrupção, que, por mais que pareçam surgir com determinado partido ou grupo político, sempre existiram no Brasil, o que mostra a necessidade de um exercício histórico- crítico. • Privataria tucana; • Mensalão; • Operação lava jato; Lei Complementar nº. 135/2010 (BRASIL, 2010) trouxe foram: • Aumento no rol dos crimes; • Quando houver rejeição das contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas ou a ação do agente for dolosa, exige anulação ou suspensão da decisão pelo poder judiciário, não apenas o ajuizamento da ação judicial; • Inelegibilidade para os condenados por captação ilícita de sufrágio; • Previsão de inelegibilidade para os excluídos do exercício da profissão; • Aplicação de inelegibilidadeaos condenados que simularam a cessação do vínculo conjugal ou da união estável para evitar a inelegibilidade em razão de parentesco; • Exclusão da incidência da lei que estabelece casos de inelegibilidade sobre os crimes culposos, os de menor potencial ofensivo, os de ação penal privada e a renúncia para fins de desincompatibilização; • Abolição da exigência do trânsito em julgado da decisão judicial para fins de inelegibilidade, bastando decisão proferida por órgão judicial colegiado; • Prioridade na tramitação dos processos que versarem sobre desvio ou sobre abuso do poder econômico ou do poder de autoridade; • Possibilidade de suspensão cautelar da inelegibilidade por decisão proferida do órgão colegiado competente; • Aumento do prazo das inelegibilidades para 8 anos. Lei Complementar nº. 135/2010 (BRASIL, 2010) trouxe foram: • São condenações criminais que culminam com a ilegibilidade que se refere o art. 1º, I, e, da Lei Complementar nº. 135: 1) Contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público; 2) Contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o mercado de capitais e os crimes previstos na lei de falência; 3) Contra o meio ambiente e a saúde pública; 4) Eleitorais, para os quais a lei imponha pena privativa de liberdade; Lei Complementar nº. 135/2010 (BRASIL, 2010) trouxe foram: 5) De abuso de autoridade, nos casos em que houver condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o exercício de função pública; 6) De lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; 7) De tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e hediondos; 8) De redução à condição análoga a de escravo; 9) Contra a vida e a dignidade sexual; 10) Praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando (BRASIL, 2010, documento on-line). Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal e da Câmara dos Deputados • Ética e política vêm estabelecendo um exame de comunhão na aplicação do debate político; • Os códigos de ética e decoro parlamentar nas diferentes casas legislativas, como resposta ao anseio popular de cada vez mais buscar uma política transparente e menos corrupta, no mesmo passo do surgimento do projeto de lei de iniciativa popular conhecido como lei da ficha limpa. • O decoro está inserido paralelamente à moral. • O decoro é a decência, a honradez e a dignidade, enquanto norma de conduta social que deve orientar a atividade parlamentar. • A quebra desse decoro pode ser punida com a perda do mandato de forma temporária ou definitiva. Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal e da Câmara dos Deputados • Dentro do parlamento brasileiro, tanto a Câmara dos Deputados quanto o Senado Federal têm as suas atividades regidas por um Código de Ética e Decoro Parlamentar próprio para cada Casa Legislativa, que dispõe sobre os deveres e os atos incompatíveis e atentatórios contra o decoro parlamentar, impondo penalidades e demais sanções. Conselho de Ética e Decoro Parlamentar • Nas duas Casas Legislativas, há um Conselho de Ética e Decoro Parlamentar que, entre outras atribuições: • Busca observar os preceitos éticos; • Preservar a dignidade parlamentar • Responder consulta à mesa diretora, comissões parlamentares e deputados acerca de matérias de sua competência. • O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar somente atua mediante provocação da mesa diretora das Casas Legislativas para instaurar processo disciplinar contra deputado ou senador que tenha agido de forma a violar o Código de Ética e Decoro Parlamentar. O que é cidadania? A palavra cidadania vem de civitas, que, do latim, refere-se ao indivíduo que habita a cidade. Assim, com o início da vida na cidade, em coletividade, surge a necessidade de os indivíduos exercerem seu papel de cidadãos — com direitos e deveres; • Na Grécia Antiga, o conceito de cidadania resumia-se aos direitos políticos, e, ainda assim, nem todos eram considerados cidadãos; • Na Roma Antiga, o conceito de cidadania está ligado à classe social à qual o indivíduo pertencia. Havia três classes sociais: os patrícios, descendentes dos fundadores; os plebeus, descendentes dos estrangeiros; e os escravos, prisioneiros das diversas guerras e, também, aqueles que não pagavam seus débitos. O que é cidadania? • Exercer a cidadania significa viver em constante luta por melhorias na qualidade de vida — individuais e coletivas —, em busca de liberdade, dignidade e igualdade. • Rousseau, Montesquieu, Diderot e Voltaire, já defendiam essa ideia de cidadania, onde existiria um governo democrático e ampla participação popular, findando os privilégios de classe e inaugurando os ideais de liberdade e igualdade como direitos fundamentais dos homens (Manzini- Covre, 2010). O que é cidadania? • É a prática do indivíduo em exercer seus direitos e deveres, no âmbito de uma sociedade do Estado. • Não se restringe somente ao ato de votar e ser votado, como pensado por muitos, mas envolve viver em sociedade, cumprir seus deveres e ter seus direitos garantidos, por meio da justiça social (PEREIRA, 2011). • A cidadania, pois, deve garantir a plena emancipação dos indivíduos que, por meio de seus deveres com a sociedade, têm seus direitos inerentes à vida— como saúde, assistência social, educação, moradia, renda, alimentação, entre outros, garantidos pelas políticas sociais. O que é cidadania? A cidadania brasileira, nesse sentido, permanece em uma constante construção, num movimento de ampliação e encolhimento das políticas sociais, à medida que, em muitos momentos históricos, inclusive atualmente, muitos indivíduos não têm o direito de ter suas necessidades básicas garantidas ou, nem mesmo, o mínimo necessário para sua subsistência e da família (PEREIRA, 2011). O que é cidadania? • É por meio do exercício de cidadania, assumindo o papel de cidadãos, que se dará a ampliação dos direitos mediante políticas sociais. As ações coletivas, nesse sentido, são mais eficazes do que as individuais, e o que é conquistado por meio do coletivo fortalece a cidadania de todos. O desenvolvimento das políticas sociais a partir da concepção de cidadania • Desenvolvimento das políticas sociais está diretamente relacionado à concepção de cidadania, com cidadãos portadores de direitos e deveres. • A conquista da cidadania perpassa a efetivação dos direitos sociais, políticos e civis, dentro de uma perspectiva de universalização dos direitos, por meio das políticas sociais O desenvolvimento das políticas sociais a partir da concepção de cidadania • A partir do momento em que os indivíduos reconheceram-se como cidadãos pertencentes a um grupo social e ansiando pela sua condição de cidadania, passaram a enfrentar, sobretudo em coletivo, a forma de organização e produção da sociedade, sendo que os padrões de proteção social e as políticas sociais são as respostas para esses enfrentamentos. • As condições de trabalho e vida dos cidadãos têm forte relação com o surgimento das primeiras iniciativas de proteção social e políticas sociais, já que estas têm correlação direta com a luta de classes, ou seja, relação capitalismo versus trabalhador. O desenvolvimento das políticas sociais a partir da concepção de cidadania • É importante ressaltar algumas das políticas sociais que marcam o período, por ordem cronológica, quase sempre em resposta às lutas coletivas pelos direitos sociais. São elas: • 1923 – Lei Eloy Chaves, que cria as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP), para os trabalhadores ferroviários • 1933 – Criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) • 1942 – Criação da Legião Brasileira de Assistência (LBA), destinada ao atendimento de pessoas pobres, com apoio à maternidade e infância • 1943 – Promulgação das Consolidações das Leis Trabalhistas (CLT) • 1960 – Aprovação da Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS) • 1966 – Criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) • 1988 – Promulgação da Constituição Federal do Brasil, a chamada ConstituiçãoCidadã Seguridade Social • é instrumento de inclusão social, já que propicia a inserção e reinserção no mundo do trabalho, a interação social, promovendo a cidadania consciente. Assim, é instrumento de efetivação dos direitos fundamentais, já que garante aos cidadãos o mínimo para sua subsistência, sendo possível manter a dignidade humana. • Cabe ao Estado garantir a proteção social como política pública de cidadania e de direitos, excluindo as formas de políticas sociais focalizadas e assistencialistas, que somente reafirmam e mantêm a condição de desigualdade entre os cidadãos. Ética nas relações internacionais • A política externa é uma atividade profundamente marcada pelo significado da moral; • Nas relações internacionais, é preciso que as ações sejam dotadas de uma virtude moral, a prudência, e que sejam marcadas pela sabedoria, através da análise da conjuntura, dos princípios, da oportunidade da ação, da vontade dos povos e das relações de força no cenário internacional; • Para Bonete et al. (2017) “[...] no campo da filosofia, a ética tende a ser conceituada como algo que auxilia a humanidade na busca de uma convivência mais satisfatória”. Ética nas relações internacionais A ética influencia a política internacional nos seguintes aspectos: • a) formulação de objetivos ao longo prazo, bem como a seleção das políticas para alcançá-los; • b) imagem que os formuladores de políticas têm de si próprios; • c) catalisador para a ação ou aumento da militância em termos de ação; • d) freio para as ações. Ética nas relações internacionais • Um ponto que precisa ser levantado é o que diz respeito às dimensões da reflexão acerca da ética nas relações internacionais, são elas (HASSNER, 2004): • sujeitos coletivos, ou seja, a própria ideia de relações internacionais; • fins pretendidos; • meios utilizados para o atingimento desses fins; • estrutura dos meios, a partir das relações entre indivíduos, coletividades particulares (Estados) e humanidade. Conceito de estrangeiro e de hospitalidade • estrangeiro é uma categoria considerada genérica, pois frequentemente é recebida com reticências por quem é assim classificado, pois ignoram-se as multiplicidades, diversidades e singularidades de cada um. • refugiados, exilados, turistas, professores, profissionais, estudantes, nômades, modernos, imigrantes voluntários, cônjuges portadores de culturas diferentes Exilado, o imigrante e o expatriado • O exilado é aquela pessoa que foi obrigada a deixar seu país de origem para salvar a própria vida, de sua família, ou ainda fugir da prisão e, nesse caso, sem possibilidade de retornar. A imposição para que se mude de lugar é uma condição formal, onde não existe negociação. Exilado, o imigrante e o expatriado • O imigrante é aquela pessoa que escolheu viver fora de seu país natal, sem nenhum tipo de impedimento para o seu retorno. As razões para tal escolha podem ser inúmeras, como, por exemplo, o desejo de aventura, a busca de uma vida financeira mais estável, aprender uma nova língua e até mesmo a vontade de construir uma vida melhor. Exilado, o imigrante e o expatriado • O expatriado é o estrangeiro que chega ao local que será seu destino com um contrato de trabalho em mãos, para trabalhar na unidade da empresa à qual está ligado. A soprano Rasha Rizk agradece o público após apresentação com a Orquestra Filarmônica de Expatriados Sírios
Compartilhar