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Texto O Desenho em uma perspectiva psicogenetica

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1 
 
PSICOLOGIA CONSTRUTIVISTA 
 
O Desenho em uma perspectiva psicogenética 
 
O desenho segundo Luquet 
 
De acordo com Piaget, ao final do estádio sensório-motor (por volta dos 2 anos), surge na 
criança uma capacidade cognitiva de representação – um significado por meio de um 
significante –, e o meio que utiliza para isso pode ser a linguagem, o jogo simbólico, a 
imitação, a imagem mental e o desenho. 
O desenho, nessa perspectiva, não é apenas um ato criativo e espontâneo da criança, mas 
sim uma função de pensamento, simbólica e semiótica, que possibilita a representação da 
realidade. Em outras palavras, o desenho é uma das manifestações da função simbólica ou 
semiótica que surge na criança por volta dos 2 anos (estádio pré-operatório), possibilitando a 
representação intencional da realidade por meio do grafismo. 
 
No livro “A representação do espaço na criança”, Piaget apresenta um estudo muito 
interessante sobre as relações espaciais elementares e o espaço gráfico. 
Piaget considera o desenho uma forma de representação do pensamento e, embora não 
tenha estudado o desenvolvimento do grafismo infantil, refere-se em seus textos aos célebres 
estudos de Georges-Henri Luquet (1876-1965), que foi o primeiro a tabular em etapas 
evolutivas. 
Luquet inicia seus estudos observando de maneira sistemática os desenhos de seus filhos, 
Simone e Jean Luquet. Percebe o desenhar como um ato de representação da realidade, 
uma imitação do real através da representação e, nesse sentido, afirma que o desenho é 
realista na intenção. Portanto, o“realismo” do desenho é uma concepção-chave em sua teoria. 
A característica fundamental do desenho infantil é ser realista, a criança quando desenha 
expressa uma intenção de representar a realidade tal qual ela se apresenta. Nesse sentido, o 
desenho infantil éu ma imitação do real por meio de uma representação e, por isso, é realista 
na intenção. 
Compreende o desenvolvimento do grafismo infantil em quatro importantes etapas, 
demonstrando que o desenho sofre mudanças e destacando um realismo que se desenvolve 
à medida que a criança vai avançando em idade. 
Essa característica realista apontada por Luquet sofre modificações ao longo do 
desenvolvimento infantil. Gradativamente o desenho vai evoluindo em etapas e, em cada uma 
delas, há um tipo de realismo. 
Em outras palavras, o realismo do desenho infantil ocorre em diferentes fases: 
 
- Realismo fortuito (2 e 3 anos) - è analogia entre o traço e o objeto, dando nome/“sem 
querer”. 
- Realismo mal sucedido (3 e 4 anos)- a criança aprende a representar, há fracassos e 
sucessos; badameco girino e badameco. 
- Realismo intelectual (4 a 8/9 anos) - a criança desenha o que sabe e não o que vê; 
Transparência/Plano Deitado/Rebatimento. 
- Realismo visual (8/9 a 11/12 anos) -a criança desenha o que vê/perda da espontaneidade 
para desenhar. 
 
Realismo fortuito 
O desenho, para Luquet, é um conjunto de traços feitos intencionalmente para 
representar um objeto real. No entanto, no início, não existe essa intenção de fazer uma 
imagem, o desenho é resultado da livre exploração que a criança faz sobre os materiais. 
Munida de vários acessórios e dos movimentos de sua mão, realiza marcas acidentais no 
2 
 
papel, uma obra involuntária, que reconhece como sendo sua, resultado de sua atividade, à 
qual não atribui significado. A criança limita-se a fazer traços aleatórios no papel sem 
qualquer objetivo ou significação, manipula e explora os materiais, e no grafismo é o olho que 
segue a mão e não as marcas impressas no papel. 
 
 
 
Débora (2a 2m) 
 
Por volta dos 2 e 3 anos, a criança começa a fazer traços intencionais no papel, percebe certa 
analogia entre seus traçados e objetos da realidade e faz uma interpretação: surge, então, o 
desenho intencional, o desenho como representação. A criança que antes rabiscava 
aleatoriamente passa a fazer uma analogia entre um objeto e seu traço, dando-lhe um nome e 
isso acontece de modo fortuito, uma representação da realidade ao acaso. 
Essa representação, por ser fortuita, não se mantém em todos os desenhos que a criança faz: 
é apenas acidentalmente que ela é capaz de fazer um traçado que se pareça com um objeto, 
e isso explicação porquê de ora nomear seu desenho de uma maneira, ora de outra. 
 
Realismo malsucedido 
Na segunda fase de evolução do desenho infantil, a criança desenha com a intenção realista 
de representar, mas encontra dois obstáculos que dificultam a representação da realidade: 
um de ordem física ou gráfica, que consiste em coordenar seus movimentos motores para 
dar ao traçado o aspecto do objeto desenhado; e o outro de ordem psíquica, que consiste na 
falta de atenção da criança para desenhar pormenores. Por causa desses obstáculos, o 
desenho infantil nessa fase é marcado por sucessos e fracassos; por isso, Luquet o chamou 
de “réalisme manqué ou l’ incapacité synthétique” , uma fase de imperfeição geral do 
desenho, que se inicia geralmente entre 3 e 4 anos. 
 
Vários autores traduzem réalismemanqué como “realismo fracassado” ,levando a uma 
conotação pejorativa esse momento evolutivo do desenho. Na interpretação de Luquet, há 
uma incapacidade sintética e não uma percepção “fracassada” da criança sobre sua 
representação. Por isso preferimos utilizar o termo malsucedido. 
A falta de proporções nos elementos desenhados é a primeira manifestação da incapacidade 
sintética, isto é, os traços são feitos de maneira independente, a criança não estabelece as 
relações entre os traçados. Luquet explica que essa desproporção pode ser resultado da 
imperícia gráfica da criança ou pela maneira como procura ocupar o espaço no papel: se 
faltar espaço, encurta o traço, se sobrar espaço, procura ocupá-lo e se o objeto ou o tema 
tratado é importante para ela, exagera em seu tamanho (em um jogo de bola os braços são 
enormes). No entanto, tais desproporções ocasionam justaposições ou síntese falsa. 
Segundo Piaget e Inhelder (1966,1968), essa justaposição não retrata inabilidade técnica, 
mas revela modos de pensar da criança, ou seja, fatores operatórios. 
3 
 
 
 
Melina (4a 1m) 
 
A justaposição, “juxtaposés” (PIAGET; INHELDER, 1966, p. 51), é a falta de 
coordenação entre os elementos de um mesmo desenho em um todo. A criança desenha os 
elementos lado a lado (as 4patas de um cavalo desenhado em paralelo), separados 
(disjuntos) e não tangentes (guarda-chuva ao lado da menina e não em sua mão; chapéu no 
ar e não na cabeça do boneco) ou desenha sem relação de inclusão (os botões da roupa 
desenhados fora do corpo). A síntese falsa (ALVES, 1986) é o desenho que apresenta 
detalhes incompatíveis com a realidade: nariz sob a boca, pernas que saem da cabeça. 
Dessa forma, a incapacidade sintética é a indiferença da criança pela orientação de conjunto 
do desenho em relação à posição do papel em que é traçado (céu e terra) e pela colocação 
de detalhes que não condizem ao desenho (figura humana de cabeça para baixo dentro da 
casa; a ponta do telhado desenhado para o chão e não para o céu). 
Segundo Piaget e Inhelder , também nessa fase a criança inicia a representação da figura 
humana, que passa por estágios: inicialmente são representados os “bonecos-girinos ou 
badamecos girinos”, com cabeça, pernas e braços sem tronco e, em seguida, os “bonecos ou 
badamecos” (PIAGET; INHELDER, 1966. p. 51), a figura humana propriamente dita. 
 
Realismo intelectual 
Por volta dos 4 anos, inicia-se o principal estágio, que irá estender-se até por volta dos 8/9 
anos. Essa fase se caracteriza pela superação da incapacidade sintética e, por isso, a criança 
passa a desenhar de maneira realista, isto é, desenha os pormenores do objeto, levando em 
consideração as suas relações recíprocas, o conjunto. Em outras palavras, o que caracteriza 
essa fase do realismo chamado por Luquet de intelectual (LUQUET, 1927, p. 165) “é a 
concepção infantil de que para que o desenho seja parecido deve conter todos os elementos 
visíveis e invisíveis do objeto do pontode vista do sujeito, buscando a sua exemplaridade”. 
 
Camila (9a 2m) 
4 
 
Dessa forma, a criança utiliza procedimentos para representar os elementos invisíveis de um 
objeto, que são a transparência, o plano deitado e o rebatimento. A transparência “consiste 
em representar o interior dos objetos como se fossem transparentes: os dedos no interior do 
sapato, o cesto com as frutas à mostra, um ovo com o pato dentro”. 
 
Segundo Luquet, o realismo intelectual é a fase de maior expressão de criatividade do 
desenho infantil e deve ser preservado pelo adulto em relação a sua psicogênese. O plano 
deitado consiste em representar o objeto projetado no solo, no plano, como se fosse visto por 
cima, do alto e não de lado, e o rebatimento consiste em rebater as laterais dos suportes dos 
objetos desenhados: perna de animais, pés de móveis, roda de carros. Esse tipo de 
procedimento é utilizado em objetos vistos do alto, em plano deitado, pois desse ponto de 
vista os suportes estão encobertos pelo corpo e, para a criança, não há outra forma de 
representá-lo. 
Para Piaget, a fase do realismo intelectual é a mais importante, pois a criança desenha o que 
sabe sobre os objetos e não aquilo que vê deles, dando ao desenho a característica de 
exemplaridade, sem preocupação com a perspectiva visual: um rosto de perfil tem dois olhos, 
as pernas do cavaleiro serão vistas por meio do cavalo e a comida no interior do boneco. 
 
Realismo visual 
Na última fase de evolução do desenho infantil, que se inicia por volta dos 8/9 anos, uma série 
de fatores levam a criança a abandonar o realismo intelectual e a adotar o realismo visual 
como forma de representação gráfica. O desenho infantil, para ser plenamente realista na 
fase do realismo visual, deve representar o objeto da forma como é visualmente percebido. As 
contradições e a insuficiência do realismo intelectual em relação a isso levam a criança a 
abandonar os procedimentos utilizados na etapa anterior. Por isso, no lugar da transparência, 
ela utiliza a opacidade, que consiste em suprimir os por menores que são objetivamente 
invisíveis no objeto representado; e, no lugar do rebatimento e do plano, utiliza a perspectiva, 
que consiste na modificação do aspecto da silhueta de um objeto ou de pormenores vistos de 
frente. O resultado disso é o abandono da exemplaridade. 
Para Luquet, há uma submissão da criança às leis da realidade, com perda da 
espontaneidade ao desenhar, diminuindo a produção artística (figuração adequada do real). 
Em resumo, o realismo visual é marcado pela descoberta da perspectiva e pela submissão às 
suas leis. Isso leva a um empobrecimento do desenho infantil, pois a criança, pela 
preocupação em desenhar aquilo que vê e não o que sabe sobre os objetos, passa a limitar 
os detalhes de seu grafismo, tornando-o pobre e pouco frequente, assemelhando-se às 
produções adultas (veja um exemplo de desenho empobrecido de um adulto na figura 20). 
A criança e, posteriormente, o adulto, a partir desse momento, perdem a espontaneidade ao 
desenhar e, com isso, sua produção artística diminui, em função da preocupação que existe 
em fazer certo, de acordo com a realidade. As partes escondidas não são figuradas, os 
objetos em segundo plano são diminuído sem relação ao primeiro plano (perspectiva). Como 
na maioria das vezes não há um aprendizado sobre essas técnicas de desenho, o sujeito irá 
apresentar um empobrecimento em sua produção gráfica e uma inibição para expressar seus 
pensamentos por meio dessa forma de representação. Esta é uma das maiores críticas dos 
estudiosos do grafismo infantil. 
 
Pablo Picasso afirmou: “antes eu desenhava como Rafael, mas eu precisei de toda uma 
existência para aprender a desenhar como as crianças”, indicando o valor espontâneo e 
criativo do grafismo infantil. 
101 
 
5 
 
 
Psicologia Construtivista 
Claudia (21 anos) 
 
Para Luquet, há uma submissão da criança às leis da realidade, com perda da 
espontaneidade ao desenhar, diminuindo a produção artística (figuração adequada do real). 
A seguir, é apresentado um desenho em que, embora no realismo visual, o sujeito não perdeu 
a espontaneidade e a criatividade ao desenhar, pois teve a oportunidade de estudar técnicas 
de desenho e, com isso, pôde representar a realidade da maneira como a vê (não apenas 
como pensa sobre ela). 
 
A escola construtivista é aquela que possibilita ao sujeito interagir com situações de 
aprendizagem favoráveis ao desenvolvimento do grafismo. 
 
 
 
 Nathalia (13a 1m) 
102 
Unidade II 
 
 
 
 
 
 
6 
 
O desenho segundo Lowenfeld 
 
Viktor Lowenfeld (1903-1960) também realizou vários estudos sobre o grafismo infantil e, 
entreas publicações a respeito, destacam-se no Brasil duas obras: A criança e sua arte 
(1954/1976) e Desenvolvimento da capacidade criadora (1947/1977), em coautoria com W. 
Lambert Brittain. 
Os resultados de suas pesquisas revelaram que há uma transformação no grafismo infantil, 
que se inicia na infância e vai até a adolescência, percorrendo sucessivas fases de 
desenvolvimento. 
São elas: Garatujas (2 aos 4 anos); Pré-Esquemática (4 aos 7 anos); Esquemática (7 aos 9 
anos); Realismo (9 aos12 anos) Pseudonaturalismo ( 12 a 14 anos ) 
 
ETAPAS DO DESENHO INFANTIL - LOWENFELD 
ETAPAS DO DESENHO INFANTIL – LOWENFELD 
Garatujas (2-4 anos) – são quatro tipos: desordenadas (rabiscos que não respeitam o limite 
do papel, saem da folha, a criança risca a base onde está a folha); controladas (os riscos 
não saem mais da folha,a criança respeita os limites do papel); nomeadas (a criança começa 
a tirar o lápis do papel, dando nome aos riscos que faz na folha); diagramadas (traços e 
linhas se interligam, formando uma espécie de mosaico ou mandala). 
 
Pré-esquemática(4-7 anos) – é o início da representação da figura humana; há justaposição 
dos elementos desenhados sem a presença da linha de chão. 
 
Esquemática(7-9 anos) – é o aparecimento da linha de base (3 tipos), possibilitando maior 
coordenação no desenho: objetos do chão e objetos no céu; há exageros e omissões e a 
utilização de plano deitado e dos raios X. 
 
Realismo(9-12 anos) – é a preocupação com a perspectiva, profundidade, sobreposição, 
detalhes e pormenores, desenhos satíricos; a criança desenha por opção e muitas vezes não 
desenha mais pela perda da espontaneidade. 
 
Primeira fase: garatujas 
Assim como Bernson (1957,1962) e Mèredieu (1974,1979), Viktor Lowenfeld (1947/1977) 
observou em seus estudos um desenvolvimento nas garatujas. Para esse autor, a criança por 
volta dos 18 meses apresenta traços desordenados no papel, que evoluem para desenhos 
mais reconhecíveis aos adultos. 
Sendo assim, classificou as garatujas em três categorias principais: Garatujas desordenadas 
(2 anos),Garatujas controladas (2 anos e meio) e Garatujas com atribuição de nomes ou 
nomeada (3 anos e meio).As primeiras garatujas são chamadas por Lowenfeld de 
desordenadas. Para garatujar, por volta de 2 anos, a criança utiliza o lápis de vários modos: 
apoia no papel qualquer uma das extremidades ou lado e segura entre os dedos ou com a 
mão toda, realizando movimentos amplos sobreo papel, sem um planejamento prévio ou um 
controle de suas ações, e isso lhe causa muito prazer. Ela está mais interessada em explorar 
as propriedades físicas dos materiais (tocar, cheirar, ver, saborear) do que desenhar. Muitas 
vezes coloca o lápis na boca ou bate a ponta repetidas vezes no papel. Como não possui 
controle muscular, movimenta o braço para a frente e para trás, tanto pode olhar para a folha 
enquanto garatuja como para o outro lado, e não para o papel. 
O resultado irá variar, dependendo da qualidade dos traços aleatórios que foram feitos, sendo 
que na maioria das vezes ultrapassa o limite da folha, garatujando também a mesa, a parede 
ou o chão onde se encontra apoiado o papel. Isso ocorre porque não há controle motor de 
seus movimentos. 
7 
 
É importante lembrar que, para Lowenfeld, as garatujas não são tentativas de representara 
realidade, e simrabiscos que fazem parte do desenvolvimento físico e psicológico da criança. 
Sendo assim, é o primeiro registro permanente, anterior à linguagem, e será a partir dessa 
expressão inicial que mais tarde iniciará a pintura, o desenho e a palavra escrita. 
 
Para muitos educadores, os rabiscos não são considerados desenhos porque não possuem 
forma definida, mas tanto para Luquet como para Lowenfeld são representações, portanto, 
desenhos. 
Por volta dos 2 anos e meio, seis meses após ter começado a garatujar, a criança passa a ter 
um controle visual e motor de seus traços e, por isso, Lowenfeld chamou essa fase de 
“garatujas controladas” 
Nas palavras do autor: Trata-se de um passo muito importante, pois a criança já descobriu o 
controle visual sobre os traços que está fazendo. Ainda que uma olhadela não encontre 
grande diferença nos desenhos, a aquisição do controle sobre os movimentos é uma 
experiência vital para a criatividade infantil. 
 
 
Rafael (3a 1m) 
 
Assim, a criança começa a variar seus movimentos, tornando as garatujas mais elaboradas, 
embora ainda não haja uma relação entre sua atividade e aquilo que na realidade representa 
o objeto. Seus traços podem ser horizontais, verticais ou em círculos, e não ultrapassam mais 
os limites do papel. Não levanta o lápis da folha, por isso não representa pontos ou pequenos 
modelos repetidos. 
Nessa fase, a criança passa mais tempo garatujando, demonstra interesse em utilizar 
diferentes materiais, em preencher todo o espaço do papel e inicia, sozinha, o treino para 
segurar corretamente o lápis. Fica inteiramente absorta em suas garatujas e, às vezes, 
aproxima-se tanto do suporte que encosta seu nariz no papel, sem percebê-lo. 
Segundo Lowenfeld, o adulto tem um papel muito importante a partir dessa fase, porque, ao 
compartilhar com a criança a alegria de garatujar, estará auxiliando no desenvolvimento do 
grafismo. 
Por volta dos 3 anos e meio, há uma grande transformação no pensamento da criança, ela 
começa a atribuir nomes (significados) às suas garatujas, é a fase das garatujas nomeadas. 
Antes havia um simples prazer em realizar movimentos, agora os movimentos estão ligados 
ao mundo ao seu redor. 
“Transferiu se do pensamento cinestésico para o pensamento imaginativo” , onde a imagem 
mental tem um papel importante: a criança tem uma ideia do que irá fazer e é influenciada por 
aquilo que desenhou. 
 
8 
 
 
 
Ana Paula (2a 5m) 
105 
Nesse sentido, a criança agora desenha com uma intenção, ela anuncia o que vai desenhar. 
Isso não significa que tenha uma noção preconcebida do aspecto final de suas garatujas: o 
que no início é anunciado como árvore, pode terminar recebendo um nome diferente. 
Segundo Lowenfeld, os traços podem não ter sentido para os adultos, mas possuem um 
significado real para a criança. 
Em suma, nessa fase, a criança passa mais tempo desenhando, suas garatujas são mais 
elaboradas, distribuídas por toda página e acompanhadas de uma descrição verbal do que 
está representado no papel. Não costuma dar seu desenho a alguém, porque a garatuja, 
nesse momento, é um registro que faz sobre o ambiente. 
Lowenfeld adverte os adultos para não atribuir uma realidade visual aos rabiscos feitos pela 
criança, porque dar uma interpretação própria ou forçar a criança a dar um nome ou 
explicação para o que desenhou pode prejudicar seu desenvolvimento. Os pais e professores, 
segundo o autor, devem apenas estimular essa nova representação que se inicia e será fonte 
para novas aquisições. 
No final da fase das garatujas e início do período pré-esquemático, algumas crianças 
apresentam desenhos em forma de diagramas: linhas que se cruzam formando uma espécie 
de mandala. Essa representação é chamada de Garatuja diagramada e foi pesquisada por 
RhodaKellogg (1969) como uma das formas de representação gráfica infantil. 
 
 
 
Amanda (4a 6m) 
 
 
 
 
 
9 
 
Segunda fase: pré-esquemática 
Ao final da fase das garatujas, surge uma etapa muito importante. É o momento em que a 
criança, por volta dos 4 anos, cria conscientemente desenhos que têm alguma relação com o 
mundo à sua volta, para Lowenfeld é o início da “compreensão gráfica”. Os movimentos 
corporais passam a ser controlados, relacionando-se a objetos visuais. O primeiro símbolo 
criado é um homem, desenhado com um círculo para a cabeça e duas linhas 
verticais para as pernas. Nas palavras do autor: “Tipicamente, o homem é desenhado com um 
círculo, indicando a cabeça e, duas linhas verticais, as pernas. Essas representações 
‘cabeça-pés’ são comuns nas crianças de cinco anos. ”Em outras palavras, a criança pensa a 
figura humana dessa maneira, uma vez que não há cópia de um objeto visual, e sim a 
interpretação que faz dele. Nesse momento, está desenhando a si mesma, o que sabe sobre 
si e não uma representação visual de um modelo. 
Segundo Lowenfeld, essas primeiras experiências representativas da figura humana não são 
símbolos imaturos, e sim uma abstração, um processo mental ordenado. Aos poucos, a 
criança vai acrescentando pormenores a essa representação cabeça-pés: braços saem da 
cabeça, aparece um umbigo entre as pernas e há a inclusão do corpo. Por volta dos 6 anos, a 
criança já consegue fazer um desenho da figura humana bem organizado. Dessa forma, aos 
4/5 anos surgem os desenhos de pessoas, casas e árvores que, aos 6 anos, evoluem para 
desenhos mais organizados, com temas e claramente identificáveis. É importante lembrar que 
a criança está em contínua busca de novos conceitos, por isso seus símbolos representativos 
mudam constantemente e somente na próxima fase irá estabelecer um esquema. 
 
 
Roger (6a 10m) 
 
Outro aspecto importante é a maneira como organiza espacialmente os desenhos no papel. 
Desenha os objetos e os nomeia separadamente, sem estabelecer uma relação entre todos: 
uma árvore, uma casa, um homem. Na verdade, o espaço está relacionado ao seu corpo e 
consigo mesma, não estabelece relação entre os objetos desenhados, desenha o que está a 
sua volta de maneira aparentemente desordenada e afigura humana é o centro de toda 
representação. Por isso acaba fazendo uma justaposição dos modelos ao invés de coordená-
los em um todo. Nas palavras do autor: “Nenhuma relação espacial foi ainda estabelecida, 
fora do conceito do eu da própria criança. Portanto, o espaço é concebido como algo que 
gravita em torno dela”. 
 
Terceira fase: esquemática 
 
Lowenfeld denomina esquema a possibilidade que a criança encontra, a partir dos7 anos, de 
desenhar utilizando símbolos que representam um objeto real. Esse esquema é flexível, 
passa por alterações, é altamente individualizado e não inclui experiências intencionais. Em 
10 
 
outras palavras, o esquema de um objeto é o conceito que a criança chegou a partir de várias 
experiências, representa seu conhecimento ativo sobre o objeto. Esse esquema pode sofrer 
alterações a partir da experiência particular e está revestido de um significado especial para 
ela. Dessa forma, podemos distinguir os desenhos de uma criança dos de outra, observando 
as representações esquemáticas, pois, como já foram mencionadas, elas são particulares. 
O esquema humano é o conceito da figura humana que a criança criou após muita 
experimentação. À medida que constrói a percepção do conceito de forma, desenvolve o 
símbolo do homem, que irá repetir várias vezes, enquanto não tiver uma experiência particular 
que a influencie a mudar esse conceito. Essa figura humana, nesse período, é um símbolo 
facilmente reconhecível pelo adulto: possui as diferentes partes corporais, a roupa cobre o 
corpo e vários detalhes são desenhados, como cabelo, nariz, boca, pescoço, mãos, dedos e 
pés. A simetria do corpo é muito importante, por isso procura desenhar os dois lados com as 
mesmas características. As figuras são retratadas de frente e o esquema de perfil pode vir 
associado ao frontal: dois olhos e o nariz perfilado. 
Em relação ao esquema espacial, há uma grande descoberta: a criança percebe que é parte 
de seu meioe indica isso utilizando um símbolo que Lowenfeld denomina de linha de base. 
Em outras palavras, a criança inclui todos os objetos desenhados em uma relação espacial 
comum, estabelece uma relação mútua entre esses elementos, por meio da colocação de 
tudo nessa importante linha básica. Dessa forma, não apresenta mais os objetos em relação a 
si mesma, mas começa a representá-los com certa relação lógica entre si. 
 
 
Camila (6a) 
 
Para Lowenfeld, a linha de base é universal e pode ser considerada parte do desenvolvimento 
da criança, como correr ou pular. Nas várias pesquisas que realizou, pôde observar a 
existência desse esquema em crianças de diferentes culturas e seu significado é sempre de 
um solo, deum chão onde pisam. Esse esquema é representado por uma linha horizontal na 
parte inferior do papel, a base em que as coisas estão colocadas, e no alto são representados 
o céu com nuvens, o sol, a lua e as estrelas. A criança tanto pode fazer um risco no papel 
para representar essa base como desenhar os objetos emparelhados sob uma linha 
imaginária, facilmente identificável. Muitas vezes, ela faz, em um mesmo desenho, duas 
linhas de base, uma acima e outra abaixo, para representar dois episódios ou para desenhar 
duas situações concomitantes. Como não sabe representar no plano tridimensional, desenha 
no plano bidimensional, um acima do outro. A utilização de duas linhas de base é um 
desenvolvimento posterior e constitui um passo no sentido da perspectiva. 
Embora a linha de base seja a maneira mais usual de a criança representar o espaço, 
algumas vezes utiliza a “dobragem” como forma de representação, que consiste em 
desenhar os objetos perpendicularmente à linha de base, os quais parecem estar colocados 
de pernas para o ar. É a representação subjetiva que faz com que a criança utilize essa 
11 
 
maneira de desenhar e que, para o adulto, pode ter maior significado se dobrar a folha ao 
longo da linha de base ou ao meio para ter a dimensão do que foi representado. 
Outro aspecto importante das experiências espaciais subjetivas da criança é o “plano e a 
elevação”. O desenho é feito de lado, mas alguns objetos são representados como sendo 
vistos por cima. A partir da importância que a criança dá a esse objeto, ela irá desenhá-lo 
para que possa ser visto. Como vimos anteriormente, Luquet denomina isso de plano. 
Lowenfeld também apresenta os desenhos de crianças que envolvem as 
representações de espaço e tempo, ou seja, em um mesmo desenho há acontecimentos 
ocorridos em diferentes sequências de tempo ou de impressões espacialmente distintas. São 
imagens ou quadros separados (ou não) por linhas que relatam, a partir de um mesmo tema, 
fatos ocorridos em momentos diferentes. O autor exemplifica esse tipo de representação em 
quatro fases do desenho de uma criança: “o homem procura seu lápis, o encontra, 
apanha e coloca no bolso”. Luquet também observou esse mesmo tipo de representação 
nos desenhos de crianças e o chamou de narração gráfica. 
A “representação do tipo raios X” é a outra maneira utilizada pela criança em seus 
desenhos, que consiste em mostrar o interior e exterior dos objetos, misturando em seus 
desenhos os conceitos de dentro e fora. Em outras palavras, ela desenha aparte exterior e 
interior dos objetos como se fossem transparentes. Luquet (1927, 1969) também observou 
essa mesma forma de representação pela criança e chamou isso de transparência. 
 
Há muita semelhança nos indicadores apresentados por Luquet e Lowenfeld, por isso esses 
dois autores são úteis na avaliação do desenho infantil. 
10l 
LUQUET LOWENFELD 
Realismo fortuito Garatujas desordenadas, controladas, nomeadas e diagramadas 
Realismo malsucedido Pré-esquemática 
Realismo Intelectual Esquemática 
Realismo visual Realismo 
 Pseudo naturalismo 
 
O conhecimento dos diferentes tipos de esquemas utilizados pela criança nos permite 
compreender o processo de seu pensamento, a forma como constrói o significado dos objetos 
a partir de sua representação. Lowenfeld apresenta três aspectos importantes a serem 
observados: 
1 - o exagero de partes do desenho consideradas importantes para a criança. 
2 - a negligência ou omissão de partes menos importantes. 
3 - a mudança de símbolos para partes significativas. 
 
Esses aspectos são observados somente pelo adulto, pois, para a criança, não representam 
exageros ou omissões, e sim uma importância maior ou menor que atribui para algum 
elemento do desenho. Podemos observar isso na figura em que o lápis e os braços 
exagerados revelam sua importância para a temática e a redução de um dos braços, na 
segunda figura, expressa sua menor importância naquele momento. 
Por fim, Lowenfeld sugere uma série de temas a serem apresentados aos alunos pelos 
professores como forma de exploração de todos os esquemas utilizados pela criança nessa 
fase: linha de base, dobragem, plano, elevação, representações de espaço-tempo e desenhos 
do tipo raios X. 
Dessa maneira, o professor estará dando oportunidade para a criança explorar essas técnicas 
e propor intervenções nas representações de seus alunos. 
 
 
12 
 
 
Quarta fase: Realismo 
No período entre 9 e 12 anos, a criança vivencia a “idade da turma”, ou seja, uma fase do 
desenvolvimento em que as amizades grupais ganham importância e são formados grupos do 
mesmo sexo. Em função disso, o jovem, nessa idade, começa a tomar consciência da 
realidade, do seu mundo real, repleto de emoções, amigos, planos e recordações e, em seus 
desenhos, rompe com o esquema da fase anterior e passa a retratar as características 
sexuais na figura humana, com muitos detalhes. Descobre que as linhas e formas 
geométricas não são suficientes para desenhara figura humana, por isso se preocupa com os 
pormenores e não usa mais exageros ou omissões. O desenho do tipo raios X e dobragem 
agora são julgados como não apropriados. 
Em relação à representação do espaço, modifica o uso da linha de base para uma 
representação mais naturalista, pela crescente conscientização visual. Os desenhos passam 
a incluir várias linhas de base e os espaços entre elas ficam totalmente preenchidos. Passa a 
utilizar o plano e os espaços entre as linhas de base e, por isso, essas linhas começam a 
desaparecer como única base. Adquire, também, a consciência de profundidade e 
sobreposição, que utiliza largamente em seus desenhos: o céu ganha significado de horizonte 
e um objeto pode encobrir outro. 
 
 
Tiago Luz (14a) 
 
A criança desenvolve um senso crítico em relação a si mesma e aos outros, por isso pode 
esconder seus desenhos dos adultos ou fazer comentários depreciativos sobre suas 
produções e a dos colegas. 
 
Lowenfeld denomina a quinta fase do desenvolvimento do grafismo de 
pseudonaturalista, que acontece entre os 12 e 14 anos, período da puberdade ou pré-
adolescência; e a última fase de período da decisão, que acontece entre os 14 e 17 anos. Em 
ambos os períodos, os desenhos apresentam-se como estereotipados, ou seja, com pouca 
capacidade criativa. 
Segundo Lowenfeld, em vários estudos realizados, o desenho da criança nessas últimas 
fases se assemelha ao do adulto que não teve educação artística formal ou que passou por 
forte pressão escolar. Os adultos forçam a criança a uma adaptação aos desejos sociais, 
sendo a imitação de modelos e o conformismo fortes aliados nesse sentido. 
Por isso, o autor salienta a importância de explorar a capacidade criadora da criança, a fim de 
que se torne um adulto mais criativo, por meio da exploração de diferentes materiais, da não 
imposição de técnicas e do incentivo a trabalhos coletivos e individuais. 
 
Fonte Unip Interativa .

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