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Uma experiência prática: intervenções nas aulas de Língua Portuguesa na E.E. Gov. Juscelino Kubitschek
Maria Lúcia Marcon Benicá de Morais[footnoteRef:1] [1: Aluna do curso de licenciatura em Letras da UFJF.] 
Apresentação
Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência de intervenção realizada nas aulas de Língua Portuguesa de uma turma de 8º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Governador Juscelino Kubitschek, em Juiz de Fora – MG, durante o período de estágio obrigatório da disciplina Estágio Supervisionado I – Língua Portuguesa, no primeiro semestre letivo de 2014.
A intervenção foi planejada para ser feita em oito aulas, as quatro primeiras aulas lecionadas pela estagiária Maria Lúcia, e as seguintes pela estagiária Andrelina, todas supervisionadas pela professora regente de Língua Portuguesa da turma e pela professora da disciplina Reflexões sobre a atuação no espaço escolar I, da UFJF.
A escola e a turma
A E.E.Gov. Juscelino Kubitschek foi fundada na década de 50, pelo então governador Juscelino Kubitschek, no bairro Santa Luzia, Juiz de Fora, e hoje recebe alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e dos três anos do Ensino Médio, nos turnos matutino e vespertino.
Com excelente infraestrutura, a Escola possui 12 salas de aula, biblioteca com razoável acervo (bastante utilizada pelos alunos), quadra, pátio amplo, cantina, área arborizada e dependências para o setor administrativo. Muito bem conservada, é bastante elogiada pelos frequentadores e inclusive pela Superintendência Regional de Ensino. 
O corpo docente e a direção da escola são formados por profissionais novos, em sua maioria, com formação pelo menos em nível de especialização. A professora com quem foi realizada a prática possui especialização em Ensino de Língua Portuguesa, é aluna do Mestrado Profissional em Letras oferecido pela Universidade Federal de Juiz de Fora, e tem vínculos profissionais com o município, além da esfera estadual.
A turma observada, o 8º ano A, com aproximadamente 28 alunos e média de idade de 14 anos, tem relativo bom comportamento, segundo os professores. É composta por maioria de meninas, com boa relação interpessoal, embora a participação dos meninos nas aulas seja predominante. 
As aulas eram dadas as segundas e terças-feiras entre 13h30min e 15h20min (duas aulas) e às quartas-feiras, a partir das 13h30min, com intervalos, até as 16h30min (duas aulas), cada uma com 50 minutos de duração. 
Fundamentação teórica
O ensino de língua portuguesa sofreu mudanças significativas desde o advento dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Uma dessas mudanças foi a chegada dos gêneros textuais à escola e a substituição da gramática normativa para o ensino da língua em uso.
Um dos objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) é fazer com que o aluno seja capaz de identificar e analisar criticamente elementos linguísticos da língua em uso e compreender o que dizem os diferentes gêneros de texto.
Ler e escrever são atividades que se complementam, sendo assim, os alunos devem ser incentivados a essas práticas para desenvolverem suas habilidades de leitura e escrita, possibilitando seu aperfeiçoamento enquanto leitor e produtor.
Ensinar a produzir textos com os quais os alunos não estão habituados, não é tarefa fácil. No entanto, eles precisam saber que há outras tipologias textuais além da descrição, narração e a dissertação.
Trabalhar com gêneros é importante por possibilitar a situação de comunicação e a aprendizagem de textos que circulam socialmente. 
Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. (MARCUSCHI, 2008, p.153).
A atividade escolhida para esta intervenção leva em conta as características da turma, observadas durante o período em que acompanhamos as aulas dadas pela professora. Em todos os encontros em que estivemos presentes, ela procurou trabalhar os gêneros textuais a partir de suas características principais, priorizando a produção de textos, enfatizando as características da linguagem e estabelecendo uma conexão entre a linguagem do dia-a-dia e a priorizada pela escola. 
Para estruturar as aulas dadas na intervenção, procurou-se não se afastar muito das aulas da professora regente da turma, elaborando um plano baseado na discussão sobre os gêneros textuais e o cotidiano dos alunos. Considerando o contido nos PCNs de Língua Portuguesa,
A produção de discursos não acontece no vazio. Ao contrário, todo discurso se relaciona, de alguma forma, com os que já foram produzidos. Nesse sentido, os textos, como resultantes da atividade discursiva, estão em constante e contínua relação uns com os outros, ainda que, em sua linearidade, isso não se explicite. (BRASIL, 1998, p.22)
Entendemos que os alunos de 8º ano devem ser capazes de compreender os textos lidos, reproduzi-los e produzir adequadamente outros textos a partir dessa compreensão, com domínio da estrutura, da linguagem e dos objetivos de cada gênero textual. Com base nisso, procuramos estabelecer como prioridade em nossa intervenção o desenvolvimento da compreensão dos gêneros textuais, trabalhando com dois gêneros ao mesmo tempo, interconectando-os, visando à capacitação dos alunos para uma produção própria, original e independente, baseadas nas propostas de Schneuwly e Dolz (2004). Os gêneros escolhidos para tal atividade foram a crônica de humor e a notícia jornalística, novamente considerando as orientações dos PCNs:
Os textos a serem selecionados são aqueles que, por suas características e usos, podem favorecer a reflexão crítica, o exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, bem como a fruição estética dos usos artísticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para a plena participação numa sociedade letrada. (BRASIL, 1998, p.22)
Nesse sentido, esse trabalho busca abordar dois gêneros distintos, a fim de que os alunos identifiquem as características de cada um. Procuramos trabalhar os gêneros, crônica de humor e notícia jornalística, a partir de suas características principais, priorizando a produção de texto e enfatizando a linguagem de cada gênero e estabelecendo uma conexão entre a linguagem do dia a dia a priorizada pela escola.
São muitos os gêneros discursivos presentes em jornais: anúncio, classificados, editorial, entrevista notícia, charge... As notícias são “informações sobre um acontecimento, considerado por quem publica, importante ou interessante para ser mostrado a determinado público”. Sobre esse fato são observadas, entre outras, as seguintes características, para definir se é ou não uma notícia: ineditismo, atualidade, veracidade e a potencial importância ou interesse que ele pode ter para uma dada parcela da sociedade (FARIA E ZANCHETA, 1995).
A respeito do outro gênero trabalhado por nós em sala de aula, a crônica é um gênero que registra fatos do cotidiano, registra os acontecimentos do dia a dia, dos mais simples aos mais graves e polêmicos. Sua função não é de informar, mas entreter o leitor e fazê-lo refletir sobre a vida e sobre atitudes. 
O cronista se utiliza do humor e da ironia, características marcante do gênero. Para dar o ar de leveza ao gênero ele utiliza uma linguagem mais simples, menos monitorada em alguns casos, distanciando-se um pouco da formalidade jornalística.
O autor muitas vezes traz para o texto marcas da oralidade, como frases ouvidas nas ruas ou empregadas como bordões por personagens televisivos, ditados populares e expressões típicas da fala, gírias. Ou seja, ela adota um estilo coloquial de linguagem.
O cronista ainda pode se valer do lirismo e colocar sua subjetividade ao abordar o tema por ser a crônica um gênero com várias faces. Segundo Simon (2007, p.19): enquanto existem crônicas idênticas ou praticamente iguais a contos, no que se refere a sua adesão a organização narrativa, outras abdicamdo narrar constituindo-se em comentários ou reflexões, com mais ou menos lirismo, além de uma terceira modalidade bastante comum, composta por uma mescla de narrativa, comentário e lirismo.
Nessa perspectiva, procuramos estabelecer como prioridade na intervenção proposta o desenvolvimento da compreensão dos gêneros textuais, trabalhando com a crônica e a notícia jornalística ao mesmo tempo, interconectando-os, visando à capacitação dos alunos para uma produção própria, original e independente.
A intervenção
As quatro aulas da primeira parte da intervenção foram dadas nos dias 19 e 20 de maio (segunda e terça-feira), em aulas seguidas, pela estagiária Maria Lúcia, e as últimas quatro foram nos dias 21 e 26 de maio de 2014 (quarta e segunda-feira), pela estagiária Andrelina.
Importante é, aqui, destacar o pouco caso da professora com nossas aulas. Infelizmente, por algum motivo, ela sentou-se entre os alunos e permaneceu conversando com eles, em alguns momentos falando alto e tirando nossa concentração. Conversou sobre assuntos diferentes, e como usou o tempo das aulas para fazer outras atividades e adiantar seu trabalho, chegou ao ponto de chamar alunos à mesa onde estava e para irem à biblioteca, interrompendo nossa atividade.
Ressaltamos a dificuldade de implementar a prática da reescrita dos textos produzidos nessa atividade por conta do final do período de estágio e do início das férias escolares. Sabemos da imensurável importância dessa etapa para o desenvolvimento das habilidades de escrita dos alunos, mas esperamos que, no início do próximo semestre, após o retorno das férias, possamos retornar à escola para, pelo menos, devolver as produções para os alunos com as devidas observações.
1ª e 2ª aulas
No início da aula, a professora apresentou-nos novamente aos alunos, ressaltando que, como já comunicado anteriormente, as aulas daqueles dias seriam regidas por nós, pedindo-lhes respeito e colaboração.
Conforme o plano de intervenção, foi providenciado material para acompanhamento das atividades, e distribuído aos alunos no início da intervenção. Esse material era composto por uma crônica (A velha contrabandista, de Stanislaw Ponte Preta), uma notícia jornalística (“PF investiga contrabando de carros de luxo”, Folha de São Paulo) e duas sequências de perguntas para verificação da compreensão dos textos.
Após os cumprimentos iniciais aos alunos, foi feita uma primeira leitura da crônica A velha contrabandista. Foi pedido a eles que não revelassem o final para quem não conhecesse a crônica, visto que, segundo a professora, eles já haviam trabalhado com ela em anos anteriores. Para nossa surpresa, todos os alunos responderam que não a conheciam e realmente não pareceram se lembrar, deixando a professora estupefata. 
Depois da leitura, discutimos as impressões que eles tiveram do texto, se gostaram, se era divertido, e começamos a distinguir e anotar as características que eles conseguiam observar no texto: sem dar o nome do gênero, discutimos o nível de formalidade da linguagem, o tamanho do texto, o tempo verbal, a duração temporal dos acontecimentos, o número de personagens e suas características, a forma como foi feita a reprodução da fala dos personagens. Tudo isso foi aos poucos direcionando-os para a construção de uma compreensão do texto. Instados a dar um nome para o gênero, um aluno (que geralmente se destacava nas aulas), arriscou o nome “crônica”. Após dizer-lhes que era realmente uma crônica, passamos a falar sobre o gênero, enfatizando suas características, e discutimos aquele tipo específico de crônica (de humor). Eles anotaram nos cadernos, e não fizeram questionamentos, embora instados a fazê-los. As únicas dúvidas foram em relação ao vocabulário: alfândega, lambreta, odontólogo, muamba, “manjo”. 
O interessante nesse ponto da aula foi observar que as meninas, em sua maioria sentadas ao fundo da sala, pouco interesse tinham em participar, chegando a expressar tédio e pouco caso. Os meninos, sentados nas fileiras mais próximas à mesa do professor, respondiam, queriam ter uma confirmação de suas respostas, perguntavam e não se acanhavam em serem corrigidos. Essa característica já havia sido observada nas aulas, e manteve-se durante toda a intervenção. Chamamos a atenção para a referência do texto e a sua notação, já que foi feita a partir de um livro (isso será importante para comparar com o texto seguinte, a notícia jornalística, retirada de um site de internet).
Um aluno fez uma segunda leitura da crônica, para verificarmos se restou ainda alguma dúvida. Solicitamos que respondessem as questões ao final do texto. Essa primeira atividade relacionava-se com a compreensão do texto. Muitos solicitavam ajuda, e de carteira em carteira foram atendidos conforme suas demandas, para dar-lhes mais atenção. Isso fez com que algumas meninas ficassem mais à vontade. Algum tempo depois, a maioria já havia terminado a tarefa, e começamos então a corrigi-la. 
Discutimos, também, o valor da experiência (“Por que o fiscal continuou desconfiado da velhinha?”) e eles comentaram casos particulares que julgavam parecidos. Essa interação com os alunos é uma das mais importantes tarefas do professor, para estreitar os laços entre os dois lados e fazer com que eles sintam-se à vontade no ambiente escolar, identificando-se com essa outra realidade que é a do ambiente formal da escola. Além disso, o professor não deve negligenciar a discussão de valores, tentando, pelo menos, ajudar na formação de cidadãos mais seguros, conscientes e participativos. 
3ª e 4ª aulas
Continuando as aulas anteriores, procedemos à reflexão mais voltada ao tratamento da linguagem da crônica. Iniciamos a discussão com o questionamento sobre o tipo de linguagem que eles identificavam no texto. Prontamente, o mesmo aluno que havia respondido a maioria das perguntas disse que era a linguagem informal. A partir daí, começamos a enumerar as características que levaram a essa conclusão. Anotei tudo o que diziam no quadro, pedindo que eles também o fizessem em seus cadernos, sempre após uma breve reflexão sobre o motivo daquilo ser considerado linguagem informal. Uma das coisas que eles disseram foi que “palavrões não estariam num texto formal” (sobre o trecho: “que diabo a senhora leva nesse saco?”)
Daí partimos para outro ponto: porque esse tipo de linguagem caracteriza o gênero crônica de humor? Como sempre, os meninos participavam mais, embora algumas meninas já se mostrassem menos reticentes e manifestassem mais interesse pela atividade. 
Trabalhamos, em seguida, as perguntas preparadas para esta etapa da aula, voltadas para a reflexão sobre a linguagem utilizada na crônica em questão. Eles responderam às questões, mas como muitos apresentavam as mesmas dúvidas, resolvemos fazê-lo em conjunto. Foi um tanto inusitado que eles não compreendessem o exercício 04: “Dê possíveis entendimentos para as expressões ‘tudo malandro velho’ e ‘Manjo essa coisa de contrabando para burro’”, porque o problema não foi na compreensão das expressões, mas do próprio enunciado. Diversos alunos pediram ajuda dizendo não entender o que a tarefa pedia, e não conseguimos identificar onde poderia estar o problema que gerou essa dúvida, talvez na falta de leitura. 
Com essa mudança, passamos por todas as perguntas, sempre incentivando primeiro as respostas deles, complementando-as se necessário. Tratamos da questão da linguagem informal a partir do texto, verificando se eles conheciam, se usavam ou conheciam alguém que usava alguma das expressões contidas nele. Isso tomou boa parte da aula; como havíamos visto que a crônica já é bastante antiga, alguns alunos perceberam que a expressão “manjo” voltou a ser usada, em contexto relativamente semelhantes, porém não exatamente iguais, porque hoje ela está seguida por outra, “manjo dos paranauês”, e eles começaram a procurar outras gírias que poderiam ter passado pelo mesmo fenômeno.
Essa etapa da intervenção terminou após chegarmos à conclusão de que o nível de formalidade/informalidade da linguagem é essencialpara a determinação do gênero textual, e depende das intenções comunicativas do autor.
Como ainda restou um tempo ao final da aula, iniciei com eles a leitura da notícia jornalística (“PF Investiga contrabando de carros de luxo”) a ser trabalhada pela estagiária Andrelina nas aulas seguintes, adiantando a compreensão das informações daquela notícia, alguns de seus elementos principais e comparando-os com o gênero crônica, principalmente a linguagem utilizada.
5ª e 6ª aulas
Procurou-se saber dos alunos se eles liam algum tipo de jornal. Muitos não liam e não tinham nenhum contato com esse material. A intenção era identificar e diagnosticar o conhecimento dos alunos antes de caracterizar o gênero notícia.
Como eles tinham lido a crônica de humor “A velha contrabandista” e a notícia a ser trabalhada já havia sido apresentada, perguntei-lhes do que haviam gostado mais: da crônica ou da notícia “PF Investiga contrabando de carros de luxo”; obviamente, gostaram mais do humor da crônica.
Em seguida, foram trabalhadas com eles as diferenças de linguagem existentes entre um gênero e o outro (formalidade/informalidade), uma vez que a crônica continha marcas da oralidade do dia a dia.
Trabalhou-se a questão da oralidade nos diferentes meios nos quais estamos inseridos, destacando que devemos usar diferentes linguagens dependendo da situação na qual estamos e mostrando o caráter formal da notícia e informal da crônica.
Depois disso, mostrou-se novamente que além da crônica humorística há outros tipos de crônica, e também a origem da palavra, que é grega e vem de Chronos (tempo).
Antes de pedir-lhes um texto escrito transformando a crônica em notícia jornalística, foi mostrado a eles alguns aspectos da notícia, como o título, manchete, lide, sua definição e identificação. 
7ª e 8ª aulas
Depois de os alunos já saberem como se estruturava a notícia, pedi-lhes que transformassem a crônica “A velha contrabandista” em notícia jornalística: eles teriam que tirar as marcas de oralidade e dar um caráter formal ao texto produzido por eles.
Durante as aulas, foram tiradas dúvidas relacionadas à proposta e para ficar mais claro o meu objetivo, a professora regente pediu-me que explicasse a eles novamente os aspectos da notícia.
Fomos para a biblioteca da escola, passei o texto “PF investiga carros de luxo”, mostrando a eles no texto a estrutura da notícia. Para facilitar na produção, foi sugerido que fizessem as seguintes perguntas ao texto: Quem? O quê? Quando? Como? Onde? Por quê?
Durante as aulas dei sugestões: se tivessem que dar uma notícia para alguém, como dariam? De que forma fariam? Disse-lhes também que não era tão difícil como muitos estavam pensando.
Ao final, antes de recolher as atividades, pedi-lhes para que lessem, mas ninguém quis. Então as recolhi para que pudessem ser corrigidas.
Avaliação dos resultados
Nessa proposta de intervenção, planejada para oito aulas, o maior interesse recai na produção final a ser elaborada pelos alunos. Nas primeiras quatro aulas apenas foi feita a primeira parte da proposta, com um trabalho reflexivo sobre a linguagem dos gêneros textuais. Ao final da intervenção, eles produziram uma notícia jornalística baseada na crônica A velha contrabandista, adaptando a história da crônica às características da notícia.
A avaliação dos resultados, entretanto, após o término de todas as atividades da intervenção, permitiu que identificássemos problemas na produção textual dos alunos, que, em sua maioria, não conseguiram realizar plenamente a atividade. Eles não foram capazes de produzir a notícia adequadamente, limitando-se a contar novamente a história. Poucos casos foram satisfatórios, na produção do gênero proposto, e apontaram, também, problemas em relação à diferença entre a língua oral e a escrita, escrevendo da mesma forma como falam.
Considerações finais
A prática do estágio supervisionado é bastante proveitosa para o aluno das licenciaturas, possibilitando que sejam conhecidas metodologias e a realidade das escolas, agora do ponto de vista profissional, e aproxima o aluno da graduação daquilo que tem sido feito efetivamente nas escolas. Permite experimentações e a observação do que “funciona ou não” numa sala de aula, e também favorece sua inserção na comunidade escolar, podendo ver o que acontece fora das salas.
A proposta realizada nessa intervenção partiu das reflexões feitas no curso de Letras, coadunando-se com as aulas observadas no período inicial do estágio, voltadas para a prática dos gêneros textuais e sua importância para o letramento e desenvolvimento dos alunos do ensino fundamental. A escolha dos gêneros foi pautada na proximidade da crônica e da notícia com o cotidiano dos alunos, facilitando sua compreensão e o desenvolvimento das atividades.
Entretanto, foi verificada uma grande dificuldade dos alunos em produzir um texto, mesmo após o trabalho com a compreensão e caracterização dos gêneros. Esses resultados necessitariam de estudos mais aprofundados, com acompanhamento mais longo dos alunos e a exploração de outros gêneros (ou outros textos dos mesmos gêneros) para que pudéssemos formular uma explicação mais adequada das causas que geraram esses problemas. Talvez um estudo comparativo, com outras atividades semelhantes em outros contextos escolares também possam oferecer explicações para essa dificuldade.
Ainda assim, o estágio, considerando-se, sobretudo, as atividades da intervenção, foi essencial para nossa formação docente, já que apontou problemas que precisam ser diagnosticados e, se preciso, convicções e práticas reformuladas para melhor atender aos propósitos do ato de lecionar.
Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
FARIA, M. A.; ZANCHETTA Jr, Juvenal. O jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1996.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
SCHNEUWLY. B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
SIMON, Luiz Carlos Santos. Impasses em torno da crônica. Anais do IV Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo. São Gonçalo, 2007. Disponível em: http://www.filologia.org.br/cluerj-sg/anais/iv/completos/comunicacoes/Luiz%20Carlos%20Santos%20Simon.pdf. Acesso em: 13 jun.2014.
ANEXOS
Compreensão do texto:
1) O que fez o fiscal desconfiar da velhinha?
2) Por que é dito que, ao ouvir a resposta da senhora sobre o que levava no saco, “Aí quem sorriu foi o fiscal”? 
3) Por que, mesmo depois de ver o que tinha no saco, o fiscal continuou desconfiado da velhinha?
4) Qual é o motivo de ela sempre levar o saco de areia na lambreta?
Compreensão linguística:
1) Destaque alguns exemplos de uso da linguagem informal no texto.
2) Por que você acha que o início da crônica é feito com a expressão destacada “Diz que era uma velha que sabia andar de lambreta.” Que efeito isso causa em quem está lendo?
3) Tente explicar, com base no que você já sabe sobre o gênero crônica, por que neste trecho não são usadas marca de diálogo (travessão, dois-pontos, novo parágrafo): “Perguntou que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai!
4) Dê possíveis entendimentos para as expressões:
- “tudo malandro velho”
	- “Manjo essa coisa de contrabando pra burro”
 5) Por que você acha que o autor optou por reproduzir a fala da velhinha em “O senhor promete que não ‘espaia’ dessa forma?

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