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Políticas Sociais no Neoliberalismo Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.a Esp. Regina Inês Da Silva Bonança Revisão Técnica: Prof.a Me. Cristina Freire de Oliveira Revisão Textual: Prof.a Me. Selma Aparecida Cesarin O Neoliberalismo • Introdução; • Neoliberalismo e Globalização da Economia; • A Crise do Estado de bem - estar social nas Economias Dominantes do Capitalismo Mundial; • Conclusão. · Compreender o Neoliberalismo como um movimento ideológico como uma doutrina coerente, autoconsciente e em sua extensão internacional; · Conhecer as diferentes formas de expressão das políticas sociais no Brasil e na América Latina; · Entender as razões e a natureza da crise do capital que ocasionaram mudanças no campo da política social, tanto no plano internacional como no plano nacional. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, vamos compreender a importância do Neoliberalismo e sua atuação na globalização da Economia. Também abordaremos a crise do Estado de bem-estar social nas economias dominantes do Capitalismo mundial. O estudo desse conteúdo é fundamental na qualificação do profissional de Serviço Social, para que seja possível respeitar a pluralidade de perspectivas que marcam a sociedade, relativas aos caminhos das políticas sociais. ORIENTAÇÕES O Neoliberalismo UNIDADE O Neoliberalismo Contextualização Nesta Unidade, vamos analisar o Neoliberalismo no Brasil e na América Latina a partir da perspectiva histórica da formação do Estado Moderno/Liberal dos processos de constituição político e social. Buscaremos compreender a ideologia Neoliberal em sua tentativa de reativar economicamente o Capitalismo e a crise do Estado de bem-estar social nas economias mundiais, bem como suas implicações no contexto das políticas sociais. Abordaremos, também, a importância e a influência do Neoliberalismo como um movimento ideológico, em escala ascendente no mundo. Para iniciar a reflexão sobre o tema do nosso estudo, convido você a assistir o vídeo Neoliberalismo. Disponível em: https://youtu.be/sFyCwUM3qXA Ex pl or 6 7 Introdução O Neoliberalismo nasceu com uma marca caracterizada por uma imagem pré-histórica no sentido de que sua ideologia pregava oposição contra as conquistas implantadas no Estado de bem estar social, em especial, no que tange à privatização dos serviços de Saúde e do sistema educacional, à diminuição da proteção social do trabalho e ao incremento da desigualdade como fator de crescimento econômico. Vejamos um breve panorama histórico sobre o Neoliberalismo na crise ocorrida nos anos de 60 a 70 do século XX, no cenário mundial dos países capitalistas. O Capitalismo detinha em sua centralidade os monopólios que, diante da profundidade da crise enfrentada, levou o capital monopolista a uma mudança articulada de respostas que impacta o cenário mundial nas políticas sociais, econômicas e culturais. Monopólio Palavra de origem grega que signifi ca monos-um e polein-vender. Designa uma situação particular de concorrência imperfeita, em que uma única empresa detém o mercado de um determinado produto ou serviço conseguindo, portanto, infl uenciar o preço do bem que comercializa. Ex pl or Fonte: www.infoescola.com/economia/monopolio/ Nos anos de 1974 e 1975, a ilusão dos “anos dourados” chega ao fim com o registro de uma recessão generalizada envolvendo praticamente todas as grandes potências imperialistas, recessão essa seguida de outra, de 1980 a 1982, em que se constatou: “taxas de lucro voltam a descer ainda mais e o recuo do crescimento é ainda mais nítido que em 1974 e 1975” (HUSSON, 1999, p.32). O capitalismo ingressa em um novo ciclo longo marcado por crises recessivas, que possibilitou ao grande capital fomentar e patrocinar a divulgação do Neoliberalismo no seu conjunto ideológico e suas teses profundamente conservadoras, principalmente, os partidos e os governos de países como Inglaterra, Estados Unidos, Bolívia e Chile. As próprias forças socialdemocratas que se opunham criticamente, converteram-se à nova ideologia, o que levou o Estado de bem-estar social a uma visão hegemônica crítica devido à sua oposição à visão tradicional. Os influxos dessa ideologia começam a se consolidar com os socialistas franceses, seguidos dos espanhóis, italianos e portugueses e chegam à América Latina. 7 UNIDADE O Neoliberalismo Na América Latina, temos alguns partidos/países que iniciaram as teorias do Neoliberalismo, tais como: · o Partido Revolucionário Institucional (PRI), no México, · a Ação Democrática, na Venezuela, · o Partido Socialista, no Chile, · o Movimento Nacional Justicialista, também conhecido como Peronismo, que depois se transformará em Partido Justicialista, na Argentina, · o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), na Bolívia. Figura 1. Juan Domingo Perón Fonte: Wikimedia Commons Peronismo Denominação dada genericamente ao Movimento Nacional Justicialista, criado e liderado a partir do pensamento de Juan Domingo Perón (militar e estadista argentino, presidente da Argentina, eleito nos anos de 1946, 1951 e 1973). O Movimento Justicialista transformou-se mais tarde em Partido Justicialista, que é a força política majoritária na Argentina. Ex pl or Fonte: dicionarioportugues.org/pt/peronista Não foi diferente no Brasil. O Neoliberalismo aconteceu com a eleição de um candidato do partido que reivindica a socialdemocracia, um tipo de ideologia política que tem como fundamento o Marxismo e os princípios de igualdade, justiça social, solidariedade e liberdade e que, portanto propicia soluções neoliberais. Vamos compreender o que ocorreu com a tentativa do Neoliberalismo em reativar economicamente o Capitalismo em sua crise do modelo econômico do pós-guerra, em 1973, que ocasionou pela primeira vez baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação, em que todo o mundo capitalista avançado caiu em uma profunda e longa recessão, além de também entender a importância do Neoliberalismo na área social em sua pretensão transformadora da relação social, pública e ideológica, como modelo hegemônico globalizado. Neoliberalismo e globalização da Economia O Neoliberalismo se constituiu na Europa e na América do Norte, onde imperava o Capitalismo, baseado nos princípios do economista austríaco Friedrich A. Hayek (1899-1992), que dividiu, em 1974, o Prêmio Nobel de Economia com Gunnar Myrdal devido ao texto ‘O caminho da Servidão’ escrito em 1944, logo após a II Guerra Mundial, com bases em uma reação ideológica política que se opunha veemente ao Estado intervencionista e de bem estar e tinha como alvo, naquele momento, o Partido Trabalhista inglês, às vésperas da eleição geral de 1945 na Inglaterra. 8 9 Compreende-se por caminho de servidão qualquer caminho trilhado: · fora dos parâmetros liberais; · fora do livre mercado; · sem a intervenção do Estado na Economia; · ausente de políticas do Estado que promovem o bem estar. “Apesar de suas boas intenções, a socialdemocracia moderada inglesa conduz ao mesmo desastre que o nazismo alemão – uma servidão moderna”. (HAYEK, 2010). No ano de 1947, as bases do Estado de bem estar, no qual o Estado é organizador da política e da economia, encarregando-se da promoção e defesa social, efetivaram-se na Europa do pós-guerra. Não somente na Inglaterra, mas também em outros países. Hayek convoca seus parceiros com sua orientação ideológica neoliberalista para uma reunião na peque- na estação de Mont Pélerin, na Suiça. Assim, cons- titui-se a chamada Mont Pèlerin Society, com reuni- ões internacionais a cada dois anos, com o objetivo de organizar e sistematizar e unir forças na ideologia neoliberal mesmo não logrando êxito no início, deu continuidade aos encontros aguardando uma crise maior no sistema Capitalista Participavam da Mont Pèlerin Society os adversários do Estado de bem-estar europeu, mas também opositores do New Deal norte-americano. Entre eles podemos citar:Milton Friedman, Karl Popper, Lionel Robbins, Ludwig Von Mises, Walter Eupken, Walter Lipman, Michael Polanyi e Salvador de Madariaga. New Deal norte-americano Devido à crise de 1929 que os Estados Unidos da América enfrentavam, foi criado o New Deal (novo acordo), com o intuito de o Estado intervir na Economia, no qual o Estado era liberal, ou seja, os norte americanos viviam o chamado liberalismo econômico, no qual o estado não intervém nas atividades econômicas. Este foi o maior fator para o fi m do Capitalismo liberal. O “novo acordo” foi um conjunto de medidas criado no governo de Franklin Delano Roosevelt (1933-1945), que foi inspirado nas ideias do economista John Keynes o qual visava a tomar medidas econômicas que garantissem o pleno emprego dos trabalhadores. Keynes defendia, também, uma redistribuição de lucros para que o poder aquisitivo dos consumidores aumentasse de acordo com o desenvolvimento dos meios de produção. O New Deal abrangia a agricultura, a indústria e a área social Ex pl or Fonte: http://www.infoescola.com/historia/new-deal/ Figura 2. Friedrich A. Hayek (1899-1992) Fonte: Wikimedia Commons 9 UNIDADE O Neoliberalismo Segundo Hayek e seus seguidores, o Estado de bem - estar social destruía: · A liberdade da Economia dos cidadãos, · A vitalidade da concorrência. Sendo estes dois fatores os principais determinantes da prosperidade de todos. Por vinte anos, a teoria do Neoliberalismo ficou latente, consolidando-se depois de 1973 em decorrência da grave crise econômica que ocasionou: · Aumento da inflação; · Redução das taxas de crescimento econômico. Segundo afirmavam Hayek e seus companheiros, o poder nefasto dos Sindicatos e, de maneira mais geral, do movimento operário, havia corroído as bases da acumulação capitalista, devido às suas pressões reivindicativas sobre os salários e com sua pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos sociais e, assim, impediam a possibilidade de novos investimentos, provocando o fenômeno chamado de estaglafação. Estaglafação: É quando ocorre a inflação acompanhada de estagnação econômica. Ex pl or Anderson sintetiza a ação curativa que o Neoliberalismo pretendia aplicar diante das crises: O remédio, então, era claro: manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. Para isso seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos gastos com bem estar, e a restauração da taxa “natural” de desemprego, ou seja, a criação de um exército de reserva de trabalhado para quebrar os sindicatos. Ademais, reformas fiscais eram imprescindíveis, para incentivar os agentes econômicos. Em outras palavras, isso significava reduções de impostos sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas (ANDERSON,1973) A doutrina do Neoliberalismo assume o poder no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, com: · Margaret Thatcher (1979), na Inglaterra; · Ronald Reagan (1980), nos Estados Unidos; · Helmut Josef Michael Kohl (1982), que derrotou o regime social liberal de Helmut Schimidt, na Alemanha. 10 11 Na América Latina, o Neoliberalismo se estendeu com orientação de seus princípios ao longo dos anos 1990, por todos os países. No Brasil, o governo de Fernando Henrique Cardoso, no primeiro mandato (1994 -1997) e no segundo mandato (1998-2002) foi marcado pela efetiva implantação da política neoliberal, a partir da qual se buscou, de forma contundente: · Estabilidade monetária; · Corte dos investimentos sociais; · Reformas do Estado; · Privatizações. A crise do Estado de bem estar social nas economias dominantes do Capitalismo Mundial O Estado de bem estar realiza dentro da linha ortodoxa liberal os primeiros passos de um Estado positivo em favor das pessoas mais necessitadas. Jeremy Benthan (1748-1832), um dos mais fervorosos defensores do livre mercado, já admitia que o Estado investisse dinheiro público na Saúde e na Educação. E também John Stuart Mill atribuía ao Estado funções que impliquem uma distribuição de renda mais justa. Figura 4. John Stuart Mill Fonte: Wikimedia Commons John Stuart Mill – Filósofo e economista britânico. Um dos pensadores liberais mais infl uentes do século XIX, foi defensor do Utilitarismo, a teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho Jeremy Benthan. Dizem os historiadores que John Stuart Mill fi cou chocado com a desigual distribuição da riqueza produzida pelos trabalhadores nos fi ns do século XIX, contudo, como era um irrestrito defensor dos mercados competitivos e da propriedade privada, não viu esse fato como resultado da lógica capitalista, mas, sim, de fatores externos. Ex pl or No segundo pós-guerra, o mundo atravessou uma de suas piores crises. As doutrinas intervencionistas do Estado se constituíram em Políticas que nos Estados Unidos ficaram conhecidas como New Deal. Elas eram caracterizadas pela indução econômica, realizadas pelo planejamento e seguidas de ações em favor da cidadania, objetivando uma nova distribuição de renda. Figura 3. Fernando Henrique Cardoso Fonte: Agência Brasil 11 UNIDADE O Neoliberalismo Na Europa, John Maynard Keynes (Inglaterra, 1883-1946) foi o maior pensador do Estado de bem estar, sendo suas reflexões baseadas em duas premissas: · Pleno emprego – Entendia que com o equilíbrio econômico entre oferta e demanda, o pleno emprego seria conquistado, utilizando-se do Estado como um instrumento a serviço da economia em períodos de crise. Assim, em um contexto de baixa demanda, o objetivo do Estado é estimular a produção e a demanda efetiva, suprindo o déficit de investimento privado com a ampliação do investimento público; · Igualdade – Gerada por intermédio do Estado, compondo os direitos inerentes à cidadania nos serviços sociais. Por meio da legislação, a política avança em favor dos direitos em todas as áreas, tais como o direito à/ao: · Educação; · Saúde; · Previdência; · Moradia; · Ciência; · Cultura; · Lazer. Podemos observar grandes avanços ocorridos com a aplicação destas políticas que também incentivam a expansão da participação popular. O Estado de bem estar, para bem promover sua função, precisa de grandes estruturas para bem prover os direitos de cidadania, porque estas políticas não estão constituídas na doutrina Neoliberal. As bases da doutrina neoliberal servirão de fundamentos para a criação de políticas econômicas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, que foi criado na reunião de Bretton Woods – New Hampshire, em 1944, contando com a participação de quarenta e quatro países e cuja finalidade era construir uma nova arquitetura econômica para evitar novas crises, desgastes políticos e sociais. No final dos anos de 1960, o Capitalismo encontra-se em sua fase expansiva. Porém, começou a dar sinais de esgotamento, trazendo consequências graves nas últimas décadas do século XX, o que culminou em grandes mudanças nas condições de vida e trabalho das maiorias e rompeu com o crescimento pactuado pelo pleno emprego Keynesiano-fordista e com o desenho social – democrata das políticas sociais. Ex pl or 12 13 Importante! Figura 5. John Maynard Keynes (1883-1946) Fonte: Wikimedia Commons Teoria Keynesiana: Conjunto de ideias que propunham a intervenção estatal na vida econômica com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego. As teorias de John Maynard Keynes tiveram enorme infl uência na renovação das teorias clássicas e na reformulação da política de livre mercado. Acreditava que a Economia seguiria o caminho do pleno emprego, sendo o desemprego uma situação temporária que desapareceria graças às forças do mercado. O objetivo do Keynesianismo era manter o crescimento da demanda em paridade com o aumento da capacidade produtiva da Economia,de forma sufi ciente para garantir o pleno emprego, mas, sem excesso, pois isto provocaria um aumento da infl ação. Na década de 1970, o Keynesianismo sofreu severas críticas por parte de uma nova doutrina econômica: o monetarismo. Em quase todos os países industrializados, o pleno emprego e o nível de vida crescente alcançados nos 25 anos posteriores à II Guerra Mundial foram seguidos pela infl ação. Em 1999, a revista Time nomeou Keynes uma das cem pessoas mais infl uentes do século XX, dizendo que “sua ideia radical de que os governos devem gastar o dinheiro que não têm pode ter salvado o Capitalismo”. Keynes é amplamente considerado o pai da macroeconômia moderna. Você Sabia? Fonte: www.economia.br.net/teoria_escolas/teoria_keynesiana.html. Capitalismo Maduro Conceito teórico e político desenvolvido por Mandel na obra O capitalismo tardio (1982) que consiste em aprender como as variáveis que compõem a lei de valor, e que se comportam de forma parcialmente independente entre si, manifestaram-se ao longo da história do capitalismo, em especial na sua fase tardia ou madura, aberta após 1945. O sentido de maduro é uma referência ao desenvolvimento pleno das possibilidades do capital, considerando esgotado seu papel civilizatório. Assim, a ideia de maduro remete ao aprofundamento e à visibilidade de suas contradições fundamentais, e às decorrentes tendências de barbarização da vida social. (Fonte: Livro Depois do fi m do mundo: a crise da modernidade e a barbárie, M. Menegat). Ex pl or 13 UNIDADE O Neoliberalismo A chamada onda de estagnação que se desenvolve desde o final dos anos 1960 até os nossos dias, mantém características enunciadas no conceito mandeliano de capitalismo maduro: Ha uma constatação generalizada no campo da tradição marxista contemporânea de que o capital desencadeou uma reação implacável à queda de taxas de lucro ao longo dos anos 1980 e 1990, retomando níveis de rentabilidade por parte das empresas transnacionais e do capital financeiro, em especial, mas mantendo taxas de crescimento medíocres em todos os cantos do planeta, o que permite afirmar que não houve retomada de uma nova onda expansiva, apesar das autocomemorações neoliberais. A clássica saída belicista da crise, configurada após os atentados a Nova York de 11 de setembro de 2001, corrobora a tese da longa estagnação (ANDERSON,1995). Mandel coloca como ponto central de sua pesquisa a expansão do Capitalismo nos anos de ouro pós 1945 e os sinais de seu esgotamento em fins dos anos de 1960, o que se tornou prenúncio de um longo período de estagnação. Com base no princípio dialético da crítica marxiana da economia política, não se configuram tendências de equilíbrio no Capitalismo. Isso gera no mundo do capital um desenvolvimento desigual, um vínculo estrutural entre desenvolvimento e subdesenvolvimento. Husson (1999), com muita propriedade, diz que o raciocínio dos ciclos longos não é a descoberta de uma espécie de “respiração” do Capitalismo, movida por automatismo, calendários ou processos naturais. Nesse sentido, faz uma citação de Mandel que merece ser reproduzida: A emergência de uma nova onda longa expansiva não pode ser considerada como o resultado endógeno (ou, por outras palavras, mais ou menos espontâneo, mecânico, autônomo) da onda longa recessiva precedente, qualquer que seja a sua duração ou gravidade. Não são leis de desenvolvimento do capitalismo, mas os efeitos da luta de classes de todo um período histórico que decidem do ponto de viragem. O que supomos aqui é a existência de uma dialéctica entre os factores objetivos e subjectivos são caracterizados por uma autonomia relativa, ou seja: não são diretacmente e unilateralmente predeterminados por aquilo que aconteceu antes do ponto de vista das tendências de fundo na acumulação de capital e as mutações tecnológicas, ou pelo impacto dessas evoluções sobre a própria organização do trabalho (MANDEL, 1995, apud HUSSON, 1999, p.43). Podemos observar que nos ciclos de reprodução mais representativos do capital, um incremento tecnológico é adicionado ao processo, gerando uma diminuição do diferencial de produtividade do trabalho e renovadas extrações de lucros. 14 15 Conclusão Os anos de 1940 até fins dos anos de 1970 marcam o período em que o Estado de bem estar de pós-guerra funcionou como regulador da Economia e da sociedade. A essência da socialdemocracia ou do Estado de bem-estar considera que o cidadão ao nascer é portador de direitos e estes direitos do cidadão se constituem nos deveres do Estado. Com a tendência neoliberal de redução dos gastos sociais, as possibilidades políticas atuais são bastante limitadas e condicionantes no desenvolvimento futuro de uma economia globalizada: O Neoliberalismo tendo que demonstrar sua racionalidade econômica para encontrar fundamento político viável, enquanto as políticas econômicas se encontrarão legitimadas praticamente a priori como opções técnicas iniludíveis (CABRERO,1997, p.129). Mudar a tendência neoliberal não é uma tarefa simples, mas se faz necessária se quisermos continuar acreditando no valor da justiça social e igualdade de direitos como virtudes supremas das políticas públicas. 15 UNIDADE O Neoliberalismo Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Capitalismo e liberdade FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. São Paulo: Abril Cultural, 1988. O capitalismo tardio MANDEL, Ernest. O capitalismo tardio. São Paulo: Nova Cultural, 1985. Estado, classe e movimento social. MONTÃNO, Carlos; DURIGUETTO, Maria Lúcia. Estado, classe e movimento social. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2011. Leitura O caminho da servidão HAYEK, F. A. O caminho da servidão. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010. http://goo.gl/X9RvDH 16 17 Referências ANDERSON, P. Considerações sobre o marxismo ocidental. Porto: Afrontamento, 1976. ______. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, E.; GENTILI, P. (Orgs.).Pós- neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 6.ed. São Paulo: Cortez, 2009. CABRERO, R. Por un nuevo contrato social: el desarrollo de la reforma social en el ámbito de la Uniòn Europea. In: MORENO, L. Uniòn Europea y Estado del Bienestar. Madrid: CSIC, 1997. HAYEK, F. A. O caminho da servidão. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010. HUSSON, M. Miséria do capital. Lisboa: Terramar, 1999. MANDEL, E. Crítica do eurocominismo. Lisboa: Antídoto, 1978. ______. O capitalismo tardio. São Paulo: Nova Cultural, 1982. ______. A crise do capital. São Paulo: Ensaio/Unicamp, 1990. MENEGAT, M. Depois do fim do mundo: a crise da modernidade e a barbárie. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003. NETTO, J. P.; BRAZ, M. Economia Política: uma introdução crítica. 8.ed. São Paulo: Cortez, 2012. SADER, E. S. Pós-Neoliberalismo: As políticas sociais e o Estado Democrático. São Paulo: Paz e Terra, 2010. 17
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