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2 9 ET Temperaturas Extremas

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HIGIENE DO TRABALHO 
Luiz Carlos Miyashiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2 TEMPERATURAS EXTREMAS 
2.1 Temperaturas extremas: doenças ocupacionais 
Os agentes físicos calor e frio na área ocupacional têm seus efeitos no Brasil norteados 
principalmente em razão das características do processo produtivo. A influência do 
clima fica em segundo plano, tendo em vista sua característica amena na maior parte 
do tempo, salvo exceções como atividades a céu aberto e áreas de trabalho que 
funcionam como estufas de temperatura externa. 
Independentemente do clima externo, toda atividade deve ser avaliada qualitativa ou 
quantitativamente quanto às condições térmicas de trabalho. 
Assim como ocorre no caso do agente físico ruído, as temperaturas extremas não 
devem estar sujeitas à ação prevencionista somente quando atingirem níveis de alerta, 
próximas a limites de tolerância. Deve-se buscar condições propícias ao que chamamos 
de “conforto térmico” e não próximas à caracterização de ambiente insalubre. 
2.2 Avaliação e limites de tolerância do calor 
Mal-estar em razão do calor deve ser investigado e diagnosticado por profissional 
habilitado da área médica, já que pode representar sinais de fadiga fisiológica. 
O profissional de área de segurança do trabalho deve, em sinais de calor excessivo, 
providenciar redução dos efeitos ou redução da exposição do trabalhador mesmo 
antes de uma avaliação quantitativa. 
Na videoaula deste subtema você encontrará tópicos referentes aos efeitos do calor, 
como: 
• Exaustão do calor; 
• Insuficiência do suprimento de sangue ao córtex cerebral; 
• Desidratação; 
• Redução do volume de sangue; 
 
 
 
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• Distúrbios na função celular; 
• Choque térmico; 
• Insolação; 
• Cãibra. 
Na avaliação quantitativa do calor, é fundamental obedecer aos requisitos legais com a 
utilização do termômetro IBUTG devidamente calibrado e a consideração do ritmo de 
trabalho que influi diretamente na avaliação térmica. 
Cabe ressaltar que a medição em IBUTG leva em consideração a umidade relativa do ar 
e a simulação da recepção do calor pelo corpo humano, por meio do termômetro de 
globo. 
 
Figura 2.1 – Termômetro de globo 
A sensação térmica varia de pessoa para pessoa e uma definição técnica alicerçada em 
bases legais produz evidências, inclusive para eventuais questões trabalhistas. 
Na videoaula deste subtema você terá a oportunidade de ver como o metabolismo 
influencia a troca térmica do calor e a importância do termômetro IBUTG na avaliação 
do calor. 
As trocas térmicas entre o corpo e o meio ambiente podem ser relacionadas através da 
seguinte expressão matemática: M ± C ± R – E = S 
 
 
 
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Onde: 
M = Calor produzido pelo metabolismo 
C = Calor ganho ou perdido por condução-convecção 
R = Calor ganho ou perdido por radiação 
E = Calor perdido por evaporação 
S = Calor acumulado no organismo 
S > 0 Hipertermia, S = 0 Equilíbrio homeotérmico e S < 0 Hipotermia 
Utilizamos a seguinte fórmula para localizar o calor resultante em IBUTG: 
Sem carga solar: IBUTG = 0,7tbn + 0,3tg 
Com carga solar: IBUTG = 0,7tbn + 0,2tg + 0,1tbs 
Onde: 
• tbn = temperatura de bulbo úmido natural; 
• tg = temperatura de globo; 
• tbs = temperatura de bulbo seco. 
Pelos quadros 1, 2 e 3 da Norma Regulamentadora n. 15 chega-se à definição dos 
níveis de calor limites, oferecendo ao avaliador o tempo máximo permissível de 
exposição. 
2.3 Medidas preventivas para o agente calor 
Como dito na questão de conforto térmico, não é necessária a exposição ao calor 
próximo aos níveis de tolerância para que sejam tomadas as devidas precauções. 
Deve-se, sim, adotar medidas de prevenção de forma antecipada. 
Meios de redução de calor, como implantação de ar-condicionado portátil, setorial ou 
central, ventiladores e exaustores não só contribuem para o bem-estar dos 
trabalhadores como auxiliam na conservação de alimentos e medicamentos, 
 
 
 
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resfriamento de circuitos elétricos (evitando sobrecargas de energia), além de 
influenciar no rendimento da produtividade. 
A avaliação do calor é explorada pelos quadros da NR-15, como segue: 
Quadro 2.2: Quadro III da NR-15 – Taxas de Metabolismo por Tipo de Atividade 
TIPO DE ATIVIDADE Kcal/h 
SENTADO EM REPOUSO 100 
TRABALHO LEVE 
Sentado, movimentos moderados com braços e tronco (ex.: datilografia). 
Sentado, movimentos moderados com braços e pernas (ex.: dirigir). 
De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada, principalmente com os braços. 
 
125 
150 
150 
TRABALHO MODERADO 
Sentado, movimentos vigorosos com braços e pernas. 
De pé, trabalho leve em máquina ou bancada, com alguma movimentação. 
De pé, trabalho moderado em máquina ou bancada, com alguma 
movimentação. 
Em movimento, trabalho moderado de levantar ou empurrar. 
 
180 
175 
 
220 
300 
TRABALHO PESADO 
Trabalho intermitente de levantar, empurrar ou arrastar pesos (ex.: remoção 
com pá). 
Trabalho fatigante. 
 
 
440 
550 
 
Quadro 2.3: Quadro II da NR-15 – Limites de tolerância para exposição ao calor, em 
regime de trabalho intermitente com período de descanso em outro local (local 
apropriado para descanso) 
M (Kcal/h) MÁXIMO IBUTG 
175 
200 
250 
300 
350 
400 
450 
500 
30,5 
30,0 
28,5 
27,5 
26,5 
26,0 
25,5 
25,0 
 
 
 
 
 
15 
 
No Quadro 2.2, em posse das características do tipo de trabalho a ser avaliado, 
encontramos a taxa de metabolismo em Kcal/h. Com este valor, utilizamos o Quadro 
2.3 para chegarmos ao valor máximo de temperatura em IBUTG. 
No Quadro 2.4 temos os limites de tolerância para exposição ao calor onde, em posse 
do valor medido em IBUTG, relacionamos o limite de regime de trabalho. 
Quadro 2.4: Quadro I da NR-15 – Limites de tolerância para exposição ao calor, em 
regime de trabalho intermitente com período de descanso no próprio local de trabalho 
REGIME DE TRABALHO 
INTERMITENTE COM DESCANSO 
NO PRÓPRIO LOCAL DE TRABALHO 
(POR HORA) 
TIPO DE ATIVIDADE 
LEVE MODERADA PESADA 
Trabalho contínuo Até 30,0 Até 26,7 Até 25,0 
45 minutos de trabalho 
15 minutos de descanso 30,1 a 30,6 26,8 a 28,0 25,1 a 25,9 
30 minutos de trabalho 
30 minutos de descanso 30,7 a 31,4 28,1 a 29,4 26,0 a 27,9 
15 minutos de trabalho 
45 minutos de descanso 31,5 a 32,2 29,5 a 31,1 28,0 a 30,0 
Não é permitido o trabalho sem a 
adoção de medidas adequadas de 
controle 
Acima de 32,2 Acima de 31,1 Acima de 30,0 
 
2.4 Medidas preventivas para o agente frio 
No Brasil, a exposição ao frio ocupacional se dá nas câmaras frias, já que o clima 
tropical não oferece riscos maiores, com diminutas exceções, como o trabalho a céu 
aberto em regiões do sul do país em épocas de frio intenso. 
Nas atividades em câmaras frias, onde não há possibilidade de alteração da 
temperatura para redução do desconforto térmico (com risco de comprometer a 
integridade de materiais perecíveis) ou com materiais farmacêuticos (com risco de 
perda das características dos medicamentos), as medidas de prevenção consistem 
basicamente no uso de equipamentos de proteção individual. 
 
 
 
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Não há, na NR-15, como no caso do calor, tabelas com limites de valores de 
temperatura e tempo de permanência. Utiliza-se na prática a Tabela 1 da NR-29, que 
trata dos trabalhos portuários. 
Quadro 2.5: Tabela 1 da NR-29 
Faixa de temperatura de bulbo seco (°C) 
Máxima exposição diária permissível para 
pessoas adequadamente vestidas para 
exposição ao frio 
+15,0 a –17,9 * 
+12,0 a –17,9 ** 
+10,0 a –17,9 *** 
Tempo total de trabalho no ambiente frio de 
6 horas e 40 minutos, sendo quatro períodos 
de 1 hora e 40 minutos alternados com 20 
minutos de repouso e recuperação térmica 
fora do ambiente de trabalho. 
–18,0 a –33,9 
Tempo total de trabalho no ambiente frio de 
4 horas, alternando-se 1 hora de trabalho 
com 1 hora para recuperação térmica fora do 
ambiente frio. 
–34,0 a –56,9 
Tempo total de trabalho no ambiente frio de 
1 hora, sendo dois períodos de 30 minutoscom separação mínima de 4 horas para 
recuperação térmica fora do ambiente frio. 
–57,0 a –73,0 
Tempo total de trabalho no ambiente frio de 
5 minutos, sendo o restante da jornada 
cumprida obrigatoriamente fora de ambiente 
frio. 
Abaixo de –73,0 Não é permitida a exposição ao ambiente frio, seja qual for a vestimenta utilizada. 
(*) faixa de temperatura válida para trabalhos em zona climática quente, de acordo com o mapa oficial do IBGE. 
(**) faixa de temperatura válida para trabalhos em zona climática subquente, de acordo com o mapa oficial do IBGE. 
(***) faixa de temperatura válida para trabalhos em zona climática mesotérmica, de acordo com o mapa oficial do IBGE. 
Fonte: BRASIL, 1997. 
Conforme Saliba (2011), a vasoconstrição periférica é a primeira resposta do 
organismo para o abaixamento da temperatura com diminuição do fluxo sanguíneo. 
Numa exposição contínua em 35°C haverá uma diminuição gradual de todas as 
atividades fisiológicas como frequência do pulso, pressão arterial e taxa metabólica. O 
corpo reage e começa a tremer de modo a produzir calor. 
A não reação do corpo provoca a perda de calor e, com 29°C, o hipotálamo perderá 
sua capacidade termorreguladora, com deprimência das células cerebrais, sonolência e 
posterior coma. 
 
 
 
17 
 
A hipotermia se dá quando a perda de calor é maior do que o calor gerado, abaixo de 
35°C. Outros estados patológicos além da hipotermia são: 
• Enregelamento dos membros, o que pode levar à gangrena e amputação; 
• “Pés de imersão”, quando os pés ficam em água fria por longos períodos, 
causando estagnação do sangue; 
• Ulcerações do frio em forma de feridas, bolhas, rachaduras e necroses. 
Os principais equipamentos de proteção individual para o agente físico frio consistem 
em: 
• Japona térmica; 
• Calça térmica; 
• Gorro térmico; 
• Botas térmicas ou impermeáveis (PVC). 
Ambientes com risco de queda de objeto requerem o uso de capacete. 
A ultrapassagem do tempo de exposição em ambientes com frio intenso conforme 
referência da tabela devem ser corrigidas com tempo de recuperação fora do 
ambiente frio. 
Avaliações médicas regulares devem ser feitas para trabalhadores com exposição ao 
frio. 
SAIBA MAIS 
No vídeo do SESI 100% Seguro você encontrará menções sobre a proteção ao frio 
através dos EPI’s, já que não há possibilidade do aumento de temperatura em câmaras 
controladas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6-VTRUCljyg>. 
 
 
 
 
 
 
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Conclusão 
Neste bloco tratamos os conceitos que envolvem o agente físico calor e frio, suas 
consequências pela exposição excessiva, a metodologia de avaliação e os meios de 
prevenção e controle. 
É importante ressaltar sobre a não fixação dos valores dos limites de tolerância para 
início de tomada de ações. Independentemente da avaliação quantitativa, os primeiros 
sinais de sintomas devido a temperaturas extremas devem ser respondidos com ações 
para redução dos efeitos dos agentes. 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978. Aprova as 
Normas Regulamentadoras – NR – do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do 
Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Disponível em: 
<http://tiny.cc/qw1j7y>. Acesso em: 28 maio 2019. 
BRASIL. Ministério do Trabalho. NR 29 - Norma Regulamentadora de Segurança e 
Saúde no Trabalho Portuário, de 17 de dezembro de 1997. Diário Oficial da União, 
Brasília, 29 dez. 1997. Disponível em: <http://tiny.cc/mzgj7y>. Acesso em: 30 maio 
2019. 
SALIBA, Tuffi Messia. Curso básico de segurança e higiene ocupacional. 4. ed. São 
Paulo: LTR, 2011. 
SPINELLI, Robson. Higiene ocupacional: agentes biológicos, químicos e físicos. 2. ed. 
São Paulo: Editora Senac, 2008.

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