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Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 1 HISTÓRIA DO PARANÁ Hoje é dia de estudar História do Paraná. É uma área de estudos específica no caso dessa prova e os assuntos vieram esparsos ao longo do Edital. Sendo assim, vamos estuda-los de forma conjunta, mas também relacionando aos períodos da História do Brasil e aos seus contextos. Os itens do edital PMPR 2020 referentes à História do Paraná, são os seguintes: 1.2 Paraná: movimentos de ocupação do território; 2.1 Paraná: dinâmica do tropeirismo; 2.3 Emancipação política do Paraná; 2.4 O ciclo da Erva Mate; 3.2 A Guerra do Contestado. Agora meus alunos e minhas alunas, é manter o foco em dia, ir pra cima dessa prova e quebrar a banca! 1. O COMEÇO DE TUDO O Estado do Paraná, da forma como conhecemos hoje, passou por um processo de construção, primeiramente ligado ao contexto das Grandes Navegações – séculos XV e XVI – o qual determinou a partir da chegada do Espanhóis na América (1492) a divisão do mundo entre portugueses e espanhóis. Para isso acontecer, foi traçada uma linha imaginária no sentido norte-sul, tendo como ponto de demarcação 100 léguas a partir das Ilhas do Cabo Verde. Essa primeira divisão ficou conhecida como Bula Inter Coetera (1493). Os portugueses, percebendo que não teriam contato com as terras recém descobertas por Colombo, trataram de propor uma nova divisão, a qual foi realizada no ano seguinte. Ao invés de 100 léguas, seria tomado 370 léguas a partir do Cabo Verde, o que pode praticamente dividir o continente americano quase ao meio, entre Portugal e Espanha. Essa divisão ficou conhecida como Tratado de Tordesilhas (1494). O referido Tratado nunca foi respeitado. Continuaram as divergências, pois para a Espanha uma légua tinha 5572 metros e para Portugal 6600 metros. O documento também não definiu qual das ilhas do Cabo Verde seria o ponto de referência. Pelo Tratado de Tordesilhas quase todo o Estado do Paraná seria da Espanha. Apenas pequena parte do litoral seria de Portugal. Em 1750, Espanha e Portugal assinaram o Tratado de Madri, que anulou o Tratado de Tordesilhas e consagrou, como critério para posse das novas terras, o princípio do Direito Romano do Uti possidetis (ocupação efetiva e prolongada). Esse novo tratado acabou criando alguns problemas, principalmente com relação aos nativos aldeados, determinando o banimento dos índios cristãos dos Sete Povos das Missões. Mais tarde, em 1761, a Espanha impôs a Portugal o Tratado de El Pardo, que desconhecendo o Tratado de Madri estabeleceu o retorno do território das Missões Orientais à Espanha. Em 1777 a Espanha levou Portugal a assinar o Tratado de Santo Ildefonso, onde Portugal perdeu a colônia de Sacramento. Suas cláusulas foram ditadas pela Espanha. Para tentar resolver a questão definitivamente e de uma vez por todas, em 1801 os dois países assinaram o Tratado de Badajós, o qual ratificou o Tratado de Madri, dando posse definitiva da Província de São Pedro do Rio Grande aos Portugueses, junto com os Sete Povos das Missões e a Colônia de Sacramento ficou para os Espanhóis. Dessa forma, no processo de formação do Estado do Paraná, nossa história inicialmente deu-se sobretudo dentro do domínio espanhol. 1.1 O PARANÁ ESPANHOL Levando em consideração o Tratado de Tordesilhas, uma pequena parte do que hoje é o Paraná ficou pertencendo aos portugueses, mal chegando ao início da Serra do Mar, menos ainda do que hoje é Curitiba. A maior parte do território foi ocupada pelos espanhóis que desenvolveram inicialmente expedições de reconhecimento e junto com elas a formação de cidades, e também a formação das reduções jesuíticas. A presença colonizadora espanhola em território hoje paranaense teve início na segunda metade do século XVI, quando o governador do Paraguai, Irala, resolveu fundar vilas na região do Guairá, as quais tinham por objetivo: Subordinar os indígenas ali encontrados, pertencentes sobretudo à grande família tupi- guarani. Estima-se um número de 200 mil, aproximadamente; Deter as contínuas incursões portuguesas, preadoras de nativos, para oeste da linha de Tordesilhas; Conseguir no futuro um porto marítimo para Asunción, no Atlântico, aparecendo a baía de Paranaguá como o local mais indicado para tanto. Um dos primeiros exploradores espanhóis foi Aleixo Garcia, que entre 1521 e 1525 a mando da Coroa Espanhola, percorreu a região Oeste, próximo às Sete Quedas das Missões, atravessando o Rio Paraná, rumando para a Cordilheira dos Andes. Alguns anos mais tarde, em 1542, o conquistador espanhol Pedro Alvarez Nuñes Cabeza de Vaca, percorrendo o Caminho de Peabiru, chegou às Cataratas do Iguaçu, sendo o primeiro a fazer um relato descritivo sobre essa maravilha da natureza. Tomou simbolicamente posse do rio Paraná, em nome do rei da Espanha. https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 2 Diante dos objetivos espanhóis, o adelantado (governador) de Asunción mandou em 1554 oitenta homens preparados em armas, os quais fundaram Ontiveros, a primeira vila espanhola, à margem esquerda do Rio Paraná. Logo em seguida, foi fundada Ciudad Real del Guairá, também à margem esquerda do Rio Paraná, próximo ao Rio Piquiri. Em 1576, próximo ao Rio Ivaí, foi fundada a Vila Rica do Espírito Santo. Esta denominação deve-se ao fato de os espanhóis terem encontrado na região grande número de cristais de rochas (ágatas), que julgavam ser pedras preciosas de imenso valor. Vila Rica tornou-se um importante centro escravista de índios. Desta maneira, formava-se então a Província Real del Guairá, território limitado ao norte pelo Rio Tietê, ao sul pelo Rio Iguaçu, à oeste pelo Rio Paraná e à leste pela Linha de Tordesilhas. No século XVII a província era um grande território, com suas cidades e as reduções jesuíticas. As autoridades espanholas encarregavam indivíduos de conquistarem as terras ocupadas pelos índios. Estes conquistadores eram chamados de adelantados, como foram por exemplo, Francisco Pizarro, Pedro Alvarez Nuñes Cabeza de Vaca, e muitos outros. De acordo com as determinações da coroa espanhola, a população indígena deveria ser catequizada, defendida contra os inimigos e treinada em uma atividade de trabalho. Em troca, os índios pagariam taxas ou prestariam serviços. Esse sistema chamava-se encomiendas, o qual não durou muito tempo, devido à ganância dos espanhóis, passando o índio à condição de escravo. Esse sistema também foi desenvolvido aqui no Paraná, na Ciudad Real e Vila Rica. Devido à resistência dos nativos em relação à aplicação desse sistema, o governador do Paraguai, Hernando Arias Saavedra, sugeriu ao governo espanhol que confiasse a pacificação e a conversão do indígena da região aos padres da Companhia de Jesus, o que foi aceito prontamente. Para ter eficiência nesse processo, os jesuítas experimentaram um novo sistema, o das reduções. Ele consiste em atrair o maior número possível de indígenas para uma povoação. Ali teriam uma moradia e ali produziria. O religioso também faria dali sua casa, não precisando deslocar-se frequentemente para outras regiões. Os jesuítas não foram bem aceitos na região, isso porque, acostumados com a exploração dos nativos, os espanhóis que faziam uso da encomienda não acharam boa a presença de padres defensores dos índios. Estes últimos, fugiam de suas encomiendas para as reduções, desfalcando a mão de obra nas lavouras e no cultivo da erva-mate. Vila Rica e Guairá entraram numa fase de decadência, até sua destruição final, pelos bandeirantes paulistas. Com a descoberta do ouro no litoral paranaense, esta região passou a ser visitada também por bandeirantes portugueses, cujo foco passou a ser as reduções jesuíticas. Merece destaque a atuação de Antônio Raposo Tavares em 1632 e o domínio doúltimo reduto que poderia oferecer resistência militar, a Vila Rica do Espírito Santo. Ademais, mesmo fazendo parte do território espanhol, como não existia mais o Tratado de Tordesilhas, esse território passou a receber acentuadamente a partir dos séculos XVIII e XIX a presença de portugueses, porém o processo de consolidação da ocupação brasileira só ocorreu definitivamente no século XX. Os primeiros núcleos indígenas fundados pelos jesuítas, foram os de Nossa Senhora de Loreto e Santo Inácio Mini, ambos localizados na margem esquerda do Paranapanema, sendo o de Loreto fundado em 1610, na foz do rio Pirapó. Nesta região, encontraram os jesuítas aproximadamente 200 famílias, já batizadas anteriormente por padres da companhia. Esta foi a primeira redução jesuítica entre os guaranis. O núcleo pioneiro prosperou rapidamente e tornou-se a capital das reduções, onde passou a residir o padre superior da província do Guairá. A coragem, a fé e um dinamismo invulgar dos padres rapidamente semearam, no vasto território das reduções, grande número destes aldeamentos, os quais chegaram à soma de treze, situados nas margens dos principais rios, como o Piquiri, Ivaí, Paranapanema, Tibagi e Iguaçu. Como consequência da atividade das bandeiras paulistas na região do Guairá, destacam-se: O fracasso da primeira tentativa de colonização do Paraná, realizada pelos espanhóis e jesuítas. Hoje, os únicos vestígios desta atividade são algumas diminutas ruínas das reduções; A incorporação do território que compreendiam as reduções ao Brasil, pelos tratados de limites de Madrid e Santo Ildefonso; A volta ao abandono de toda uma vasta região, que já estava em adiantado processo de incorporação à civilização. 2. A OCUPAÇÃO DO ESTADO Com a implementação do sistema administrativo de Capitanias Hereditárias pelo rei d. João III, o litoral sul ficou dividido em quatro capitanias, doadas a Martim Afonso de Souza e seu irmão Pero Lopes de Souza. Os dois quinhões que couberam a Martim Afonso iniciavam-se na altura de Macaé (RJ), indo até cerca de um terço da ilha de São Sebastião, abrangendo o cabo São Tomé, baía da Guanabara, Angra dos reis e o território onde mais tarde seria fundada a vila de São Paulo. A segunda parte iniciava-se na barra de São Vicente e terminava na barra da baía de Paranaguá. Ambos https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 3 esses quinhões foram chamados de Capitania de São Vicente. As duas partes que ficaram com Pero Lopes abrangiam 2/3 da ilha de São Sebastião até encontrar a linha imaginária e delimitadora de Tordesilhas, na altura do que hoje é Laguna em Santa Catarina. Este quinhão do sul era a mais austral do território português. Inicialmente esse quinhão também era chamado de Santana, mais tarde mudando para Capitania de Santo Amaro. Na parte mais ao norte da capitania de Pero Lopes estavam as vilas de Santos e São Vicente, e, na mais ao sul a vila de Paranaguá. Ambos não demonstraram interesse na ocupação do litoral paranaense e após a morte desses donatários surgiu uma disputa entre seus herdeiros. A ocupação do Paraná pelos portugueses deu-se a partir do litoral, em direção à região Oeste. Esse processo, o qual consiste na ocupação em três diferentes momentos ou frentes, é conhecido como “Os três Paranás”, caracterizando-se da seguinte maneira. Paraná Tradicional: iniciou-se no século XVII, com a descoberta do primeiro ouro (Iguape, Paranaguá e Curitiba); vai até Guarapuava, passando pelo sul do Estado; Norte do Paraná: não foi por causa do café paulista, mas sim pelos tropeiros de MG: • Mais velha do que se imagina; • Agricultura de subsistência Frente Sulista: iniciou-se a partir de 1950, migrantes do RS fixaram-se no Oeste e Sudoeste. Erva- Mate e Madeira; Agricultura. 3. O PARANÁ TRADICIONAL A ocupação do Paraná pelos portugueses, centrada em Paranaguá e Curitiba, teve como atrativo, o ouro, juntamente com a caça ao índio. Desde 1578 já existiam garimpeiros nas planícies do rio Nhundiaquara. A primeira sesmaria foi concedida a um caçador de índios, Diogo de Unhate em 1614. Foi este o primeiro proprietário de terras, do lado português, em território paranaense. 3.1 O SURGIMENTO DE PARANAGUÁ Esta região já era frequentada desde 1554 por elementos vindos de São Vicente, Santos e de outros lugares. Estes elementos também mantinham um relativo comércio com os índios. Trocavam ferramentas, por algodão. Não foram, entretanto, estes preadores ou comerciantes que iniciaram o povoamento do litoral. Um dos herdeiros dos irmãos Souza, o Marquês de Cascais, criou em 1660 a Capitania de Paranaguá e nomeou Gabriel de Lara, Capitão-Mor e seu local- tenente e sesmeiro, o qual era a figura de muito valor, pois em 1646 havia levantado Pelourinho e em 1648 instituiu a Vila de Paranaguá. Ele foi confirmado no cargo pelo Governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benevides. Gabriel de Lara continuou no cargo até a sua morte em 1682, sendo a principal figura na história de Paranaguá e do Paraná, pois ele contribuiu também para a criação do Pelourinho em Curitiba em 1668. Isso acabou contribuindo para a ocupação de outros locais, como São Francisco do Sul em Santa Catarina. Devido às dificuldades para se explorar o metal e também pela pouquíssima quantidade, não apenas os mineradores, mas outros tipos como bandeirantes e jesuítas acabaram direcionando-se também para o primeiro planalto. Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, houve uma mudança significativa não só no litoral paranaense como no Brasil todo. Devido a esse fato a população de Paranaguá dedicou-se sobretudo à lavoura e o de Curitiba à pecuária. Os moradores de Paranaguá e do litoral passaram, principalmente, a produção de mandioca. Paranaguá tornou-se o maior empório de farinha do sul do Brasil, abastecendo Santos, Rio de Janeiro, Colônia de Sacramento e até a Bahia. Outros núcleos povoadores, no século XVIII, também se tornaram cidades como Antonina e Morretes. 3.2 A ORIGEM DE ANTONINA Tal qual Paranaguá, os primeiros desbravadores da região de Antonina, situada próxima de Paranaguá, foram faiscadores de ouro. Em meados do século XVII, foram concedidas três sesmarias em Antonina. Porém, o povoamento somente veio a ocorrer a 12 de setembro de 1714. Em 6 de novembro de 1797, o iniciante núcleo foi elevado à categoria de Vila, recebendo a denominação de Antonina, em homenagem ao príncipe d. Antônio, primogênito do então príncipe regente d. João e de sua esposa dona Carlota Joaquina. 3.3 A ORIGEM DE MORRETES Morretes também teve sua origem semelhante à de Antonina. A região era percorrida por aventureiros e faiscadores de ouro. Também está relacionada às preocupações do ouvidor Rafael Pires Pardinho, o qual percorrendo a vila de Paranaguá em 1721, percebeu a necessidade de se povoar a região próxima ao rio Cubatão, não somente Morretes, mas também, Porto de Cima, Porto do Padre Veiga e Guaratuba. Em 1733 a Câmara de Paranaguá procedeu a demarcação do território. A nova comunidade prosperava lentamente. Em 5 de junho de 1769, erigiu-se uma capela sob a invocação de Nossa Senhora do Porto e Menino Deus dos Três Morretes. A partir daí o porte de Morretes começou a ter um maior desenvolvimento, com o https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 4 aumento do comércio, não sendo mais necessário deslocar-se, para muitos viajantes, até Paranaguá. Em 1841, Morretes foi elevado a município, desmembrando-se de Antonina. 3.4 O SURGIMENTO DE CURITIBA Existia em meados do século XVII no primeiro planalto uma série de núcleos garimpeiros, provisoriamente instalados, com sua população habitando choças cobertas com folhas de palmeira. Esta população vasculhava os cascalhosdos riachos à procura de pequenas pepitas de ouro. Nessa região também habitavam os índios tinguis, pertencentes à grande nação tupi-guarani. Os faiscadores de ouro, vindos do litoral, foram organizados e mantidos em ordem por Eleodoro Ébano Pereira, administrador das minas de ouro nos distritos do sul, na época, a única autoridade que representava o governo geral do Rio de Janeiro. De acordo com relatos mais tradicionais, Soares do Valle, importante membro de uma família paulista, desentendeu-se com o governador da Capitania e teve que fugir, devido à perseguição que lhe moveu o citado governador. Embrenhou-se pelos sertões desconhecidos, vindo sair nos Campos Gerais do Paraná, chegando à campina de Curitiba. Escreveu ao sogro para que viesse e trouxesse sua família. Estabeleceram-se na pequena povoação chamada de Vilinha, às margens do riacho Atuba. Como se trata de uma região muito úmida, seus moradores resolveram mudar a sede da dita vila. Para que tivessem sempre boa amizade com os nativos, os povoadores convidaram o cacique de uma tribo tingui, que habitava a região, para indicar-lhes o melhor local. O cacique aceitou o convite e, após muito procuraram um bom lugar, fincou uma vara no chão dizendo: “Coré- etuba”, o que significa “muito pinhão aqui”. Dali surgiu o nome da futura capital dos paranaenses. Isso explica porque as relações entre brancos portugueses e os nativos na região foram boas. Após a fundação da vila, não existiu conflitos entre os faiscadores de ouro e os índios, diferente do que aconteceu em São Paulo, por exemplo! Com o decorrer do tempo outras famílias uniram-se a este núcleo populacional, e a essas famílias agregaram-se muitas outras, mais modestas, que forneciam mão de obra para a lavoura e a pecuária, junto com alguns escravos e índios. Em 1668, reuniram-se os moradores dessa vila para sua regularização. A lei portuguesa exigia um mínimo de 30 famílias para que uma localidade tivesse autoridades e Câmara Municipal. Esses 30 homens casados, tinham que ser proprietários de terras, sendo conhecidos assim como homens bons. Os outros, que não tinham bens, não eram considerados maus, mas por serem pobres não eram contados como aptos a votarem para a eleição das autoridades. Esses homens pobres, sem direitos políticos, eram chamados então de pés rachados. Foi solicitado que o capitão-mor de Paranaguá, Gabriel de Lara, erigisse o pelourinho ali, pelos homens bons. Este, não podendo negar o pedido, deferiu-o, porém como não desejasse dividir sua autoridade com uma Câmara Municipal de outro território, não elegeu nenhuma autoridade em Curitiba. Para que a ordem fosse mantida, indicou como seu representante Mateus Leme, a quem entregou o título de Capitão Povoador. Assim sendo, a situação de Curitiba ficou no mínimo estranha: tinha pelourinho, mas não elegeu autoridades. Mateus Leme exerceu sua autoridade de forma praticamente absoluta. Foi a primeira autoridade local, mas não para sempre. Já em avançada idade e diante de vários crimes de toda natureza se avolumando, e com a população já em número maior (90 fogões), Mateus Leme teve que oportunizar para a população eleições, pois o clamor era grande por parte destes últimos. Ao requerimento feito pelo povo, em 1693, o ancião patriarca deu o seguinte despacho: Junte-se o povo. Referireis o que ao que pedem. Juntou-se o povo no dia 29 de março de 1693 na pequena capela de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais, para eleger suas autoridades. Assim, 25 anos depois do surgimento do Pelourinho, organizou- se politicamente a vila de Curitiba. Mateus Leme solicitou ao Capitão-mor de Paranaguá, Francisco da Silva Magalhães, a legalização do ato, o qual concordou com a vontade e com as necessidades dos curitibanos. Foram escolhidos os componentes da Câmara Municipal, os juízes, o procurador da Câmara e o escrivão. 3.5 OCUPAÇÃO DOS CAMPOS GERAIS A ocupação dos Campos Gerais, ou 2º planalto paranaense, deve-se à expansão paulista, atividade também conhecida como bandeirantismo. Os paulistas, pertencentes às famílias mais importantes, vão ocupa- los com atividade econômica a partir das primeiras décadas do século XVIII. Nessa época, os Campos Gerais não passavam de um sertão bruto. Sua ocupação não seguiu o modelo tradicional de trazer família, escravos, padres, etc. Nesse território, não foi levada uma sociedade inteira. A ocupação desses campos foi encarada como um negócio para ser explorado e dar lucro. Para se obter uma propriedade, o interessado mandava um preposto seu, acompanhado de dois escravos. Escolhiam uma paragem, de seu agrado, e ali soltava algumas cabeças de gado bovino e cavalar. Alguns anos mais tarde, alegando posse, o proprietário requeria a concessão da sesmaria. Cada propriedade tinha entre 4 a 8 mil alqueires. https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 5 Ocorre que esses proprietários não moravam ali. Grande parte obteve a terra para garantir uma renda futura. Discorreu dessa situação uma disputa entre paulistas e curitibanos. Esses últimos teriam se queixado ao governo português, que a região nada lucrava dessas fazendas, pois seus proprietários moravam em outras cidades. Além das sesmarias, também se constituíram pequenas propriedades ou minifúndios, ocupadas por posseiros. Essa ocupação acabou criando problemas futuros e em decorrência disso, questões que serão resolvidas no século XX – como por exemplo, na Guerra do Contestado. A população de Curitiba era pobre e os proprietários das fazendas eram considerados ricos. Essas divergências manifestaram-se por ocasião da abertura da estrada de tropas que ligaria o Rio Grande do Sul com São Paulo. Alguns proprietários dos Campos Gerais eram contrários à abertura desse caminho, pois faria os preços de reses caírem em São Paulo e Minas Gerais, enquanto que para Curitiba a abertura desse caminho seria vantajosa, pois abriria as possibilidades de ampliação do seu comércio. Essa dependência do Campos Gerais em relação a São Paulo, ocorreu na região central e norte dos mesmos. Na parte sul (Lapa e Palmeira), tal fato não ocorreu, em decorrência da abertura da estrada São Paulo-Rio Grande, sendo bem maior a presença curitibana. A ocupação dos Campos Gerais deve também à pecuária, porém não desenvolvida na região, mas sim o gado que saía do sul do Brasil com destino à Sorocaba em São Paulo, no século XVIII, durante o processo de exploração do ouro. O tropeirismo consistia basicamente no fornecimento de gado de corte, gado de leite e gado muar para a região das minas. O transporte era feito em tropas de animais, guiadas pelos tropeiros pelo Caminho de Viamão. Devido à enorme distância, os tropeiros se viam obrigados a descansar a tropa em paragens ou também conhecidas invernadas. Com isso, núcleos urbanos acabaram surgindo com a necessidade de engordar o gado no Paraná para que tivesse bons preços em Sorocaba. Desses núcleos urbanos acabaram surgindo cidades como Castro e Ponta Grossa. No início do século XIX esta sociedade que nasceu paulista transformou-se em paranaense e recebeu forte influência rio-grandense. Nessa época, já estava integrada social, política e economicamente aos núcleos que formariam o Paraná. Apesar dessa integração, as populações não latifundiárias dos Campos Gerais eram pobres. As casas de Castro eram de pau a pique. Na Lapa, as primeiras casas de alvenaria surgiram em 1824. Mas em 1844, algumas casas de Palmeira, Ponta Grossa e Castro já eram de pedra e cal. Após a independência do Brasil e após a separação política do Paraná em 1853, os fazendeiros dos Campos Gerais tornaram-se a elite econômica e política do Paraná. Apesar da presidência da província ser de nomeação do governo imperial, o poder político regional era exercido de forma oligárquica, pela elite campeira. A regiãoenfrentou um processo de decadência, em relação ao contexto, que a partir de 1880, impôs várias dificuldades, como por exemplo, a perda dos mercados de São Paulo e Rio de Janeiro para outros centros criatórios no país; a queda da produção de gado; a decadência do mercado de muares, com o surgimento das ferrovias; o desenvolvimento e modernização da indústria da erva-mate; a ausência dos fazendeiros na indústria madeireira; e a introdução de imigrantes europeus que aceleraram a desagregação da tradicional sociedade campeira. No início do século XX a região passou a receber imigrantes europeus, dentre eles holandeses, alemães, poloneses e ucranianos, o que proporcionou um tipo de desenvolvimento industrial. Também é importante lembrar que a evolução tecnológica no campo, com o aparecimento de adubos sintéticos, proporcionou a transformação dos antigos campos de criatório em terras propícias para a agricultura. Isso tudo se soma ao surgimento de indústrias modernas, sobretudo as ligadas à transformação de produtos agrícolas. No processo de modernização dos Campos Gerais, Ponta Grossa tornou-se o principal centro urbano e econômico da região e atualmente é uma das principais regiões urbanas do Paraná. A ocupação dos campos de Guarapuava, parte inicial do 3º planalto, deve-se à três fatores. O primeiro fator está relacionado à criação da Colônia de Sacramento. Devido à necessidade de estabelecer contato com a região platina, por conta do declínio do comércio açucareiro, Portugal criou em 1680 a Colônia de Sacramento, dentro do território que originalmente, devido ao Tratado de Tordesilhas, pertencia à Espanha. Isso acabou contribuindo para o desenvolvimento da região, incluindo Santa Catarina, Paraná e o Rio Grande do Sul. A leva de pessoas para a região despertou interesses e conflitos. O segundo fator, ligado ao primeiro, está relacionado ao reconhecimento espanhol pelo Tratado de Madri (1750) das terras a oeste de Tordesilhas pertencerem a Portugal, terras estas que ficaram abandonadas desde a destruição das reduções jesuíticas pelos bandeirantes. De 1768 a 1774, Afonso Botelho de Sampaio e Souza, sobrinho de Morgado de Mateus, governador da Capitania de São Paulo, foi o responsável por estabelecer uma sequência de bandeiras com o objetivo de reanimar e desenvolver vilas (Lapa e Castro) e descobrir e reconhecer os campos de Guarapuava. https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 6 Das expedições empreendidas, merecem destaque: • Em 1768, do capitão Estevão Ribeiro Baião, que partiu ao interior com o objetivo de chegar até o rio Paraná, descobrindo às margens do rio Ivaí, campos que foram denominados Campos do Mourão; • Em 1769, de Antônio da Silva Peixoto, que desceu por todo o Iguaçu, chegando ao rio Paraná, onde foi preso pelos espanhóis; • Em 1771, de Francisco Martins Lustosa, o qual foi nomeado para chefiar uma expedição aos campos de Guarapuava. Abriu caminho até a Serra da Esperança, chegando aos campos em 1771. Fez uma roça na Serra da Esperança, esperando a chegada de Afonso Botelho. Afonso Botelho ainda pretendia estabelecer o domínio dos campos de Guarapuava, só que desta vez enviou Cândido Xavier, o qual chegou a ocupar os campos recém descobertos. No entanto, Xavier não recebeu os reforços militares solicitados e abandonou o lugar. Para d. Luís, governador da Capitania, não existia perigo algum e devido ao abandono de Cândido Xavier, ameaçou-lhe de prisão perpétua. Em decorrência da reação violenta do governador, o próprio Afonso Botelho revolveu efetivar a conquista de Guarapuava. Da mesma forma que d. Luís, Botelho também não acreditava que os indígenas fossem um obstáculo a qualquer expedição e por isso não foi devidamente preparado, presenciando uma emboscada feita pelos nativos. Deu tempo de fugir para se reorganizar. Toda essa expedição foi inútil, porque mais parecia uma excursão do que uma expedição. Seu lado bom foi que foi possível constatar a ausência de postos avançados dos espanhóis neste território inóspito. O terceiro fator vincula-se à chegada da família real ao Brasil e à ordenação de d. João para criar sesmarias para garantir o território diante da possibilidade de invasão de argentinos. O príncipe d. João, desejando ocupar definitivamente os campos de Guarapuava, dirigiu-se ao governador de São Paulo legalizando a caça e a escravização dos nativos. 4. O NORTE DO PARANÁ A ocupação da região norte do Paraná está ligada à diferentes contextos. Ao contrário do que comumente se aceita, o início da colonização do norte não foi obra exclusiva da expansão da economia do café. O chamado norte pioneiro é mais antigo do que se possa conceber de primeira, porém, seu início se deu após o processo de colonização do Paraná Tradicional. O início da sua colonização data da década de 1840. 4.1 O NORTE PIONEIRO As denominações dadas à região situada entre os rios Paranapanema, Itararé e Tibagi, compreendendo as cidades de Curiúva e Venceslau Braz, foram várias. Ela já foi chamada de região do Valuto pelos sertanejos paulistas, que também usaram o termo Panema derivado do nome do Rio Paranapanema. O usual, foi por algum tempo a expressão Norte Velho, mas mostrou-se pouco ética. Assim, estabeleceu-se Norte Pioneiro, o que não desmente o fato da ocupação do Norte como um todo ter se iniciado a partir dessa região. O interesse pela região foi despertado desde o século XVIII, quando a preocupação em consolidar as fronteiras brasileiras com o Uruguai, Argentina e Paraguai estavam na ordem das prioridades do Império brasileiro. Daí várias expedições fizeram incursões ao Brasil Meridional, e havendo diamantes no rio Tibagi, devido aos seus panelões de cascalho, era comum as expedições seguirem seu curso, ainda que fosse mais lógico, optarem pelos rios Negro e Iguaçu para ir do Paraná a Santa Catarina, ou rios Tietê e Paranapanema para chegar a São Paulo. A partir de 1840, a necessidade de aproximar a Província do Mato Grosso com o Litoral, mostrava-se crescente, principalmente diante da possibilidade de um conflito armado com o Paraguai. Neste momento, surgiu um personagem muito ligado ao Governo Imperial, e cujos interesses latifundiários no Paraná sempre ficaram muito evidentes chegando a ser apelidado de “papa terras”. Tratou-se do Barão de Antonina. O senhor João da Silva Machado, Barão de Antonina, na busca dos Campos do Paiquerê, contratou os serviços do sertanista Joaquim Francisco Lopes e do agrimensor e ex-marinheiro inglês João Henrique Elliot. Em 1846, estes haviam apontado um caminho terrestre-fluvial para o Mato Grosso. Essa empreitada necessitava de apoio governamental em decorrência da grande distância da civilização, da falta de picadas na região e do seu despovoamento. Por isso a necessidade da fundação de uma colônia agro-militar na região. Outro problema era a mão de obra. Para resolvê-lo, foi usado o sistema de aldeamento de índios às margens dos rios Tibagi e Paranapanema, possibilitando não só a mão de obra necessária, bem como guias seguros para navegação de tais águas e proteção contra possíveis ataques de tribos hostis. Dessa forma, em 1850, o Barão de Antonina deu início aos trabalhos preliminares de instalação da colônia. Em 2 de janeiro de 1851, pelo Decreto Imperial n° 751, foi autorizada a criação da Colônia Nossa Senhora da Conceição do Jataí, sendo fundada em 8 de dezembro de 1854 pelo sertanista Lopes. O nome Jataí, foi retirado de uma árvore frutífera com mesmo nome, https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 7 muito comum no vale dos Rios Ivaí e Tibagi, e era também o nome dado a um pequeno afluente do Rio Tibagi. Esta colônia tinha por diretor o major Thomas José Muniz. Como não havia índios naregião, foram trazidos índios Caiuás do Mato Grosso para o Tibagi. Assim, à margem esquerda do Tibagi, em frente à Colônia Militar do Jataí, foi erguido o aldeamento de São Pedro de Alcântara. O diretor do aldeamento era o italiano Domingos Antônio Luciani, nascido em Castelnovo e por isso chamado de Frei Timoteo de Castelnovo. Apesar de despovoada a região pertencia aos índios Kaingang, estes índios também eram chamados de Coroados por cortarem seus cabelos à moda dos frades franciscanos. Eram famosos por sua hostilidade e por sua inimizade com os Caiuás, e não tardaram a aparecer, o que deixou em pânico as populações que habitavam a Colônia. Entretanto, cansados de lutar com outras tribos e de passar fome, o que eles queriam era também aldearem-se, o que acabou sendo feito na Fazenda São Jerônimo, de propriedade do Barão de Antonina que ficava à 60 km de Jataí. Além da impossibilidade de retirar a força, os índios da fazenda, o Barão teria sido aconselhado a aceitar o aldeamento pelo fato de que a localização da mesma, em plena Serra dos Agudos, dava-lhe uma topografia acidentada, o que só fazia desvalorizá-la. Com a presença dos índios do aldeamento, haveria disponibilidade de mão de obra, o que poderia valorizar muito mais rapidamente outras propriedades do Barão próximas à região. Ressaltando-se que na época, terras de maior valor, eram os campos limpos e planos, prontos para uso agrícola ou pastoreio, justifica-se o ato de doação do Barão não ter nada de filantrópico. Entre os primeiros colonizadores dessa região haviam muitos mineiros. Os fazendeiros de Minas Gerais, donos de terras decadentes (cansadas), lançaram-se também ao tropeirismo. Buscavam gado no Rio Grande do Sul para revendê-lo no sudeste. De retorno, ao passarem pelo registro do Itararé, ampliavam sua presença mais para o norte, a fim de conhecer as terras vizinhas. Foram os primeiros a entrar no que se chamou de norte velho. Muitos gostaram e venderam suas terras para povoar a região entre o Itararé e o rio das Cinzas. Outro fator que os levaram a migrar foram as perseguições políticas após a Revolução Liberal de 1842, pois tanto o levante paulista iniciado em Sorocaba e liderado por Feijó como o mineiro iniciado em Barbacena e liderado por Teófilo Otoni, foram sufocados pelo Barão de Caxias. Os líderes presos foram anistiados em 1844, ano em que os liberais voltaram ao poder. Essas pessoas dirigiam-se para o Valuto, nome que os sertanejos paulistanos davam a terras despovoadas da margem esquerda do Paranapanema. Quando chegavam à região ocupavam uma “água”. Este era o nome dado à terra posseada onde buscavam a cabeceira de um riacho, pois instalando-se na cabeceira eram donos da água, isto é, do terreno que margeava o riacho. A cidade de Jacarezinho está relacionada a esse contexto de ocupação de “águas” No passo dos Barbosa, onde hoje está a localidade de Santa Ana do Itararé, o governo criou uma estação arrecadadora para evitar o contrabando de mercadorias do Paraná para São Paulo. Próximo a confluência do Rio Itararé e Paranapanema, fixou-se uma mulher com sua família. Era Maria Ferreira, descendente de índios mineiros. Sua moradia na margem paranaense, ficou conhecida como Porto Maria Ferreira. Não havia nenhuma organização quanto a forma de colonização até 1866. Depois de 20 anos de existência da Colônia do Jataí, apenas 36 lotes haviam sido demarcados. A emancipação da Colônia do Jataí, deixou-a abandonada à própria sorte. Contrabando de produtos via Mato Grosso, corrupção e marasmo econômico, passaram a caracterizar a Freguesia, mesmo porque, isolada como estava da civilização, era difícil progredir. Em 1904, teve início a primeira penetração vinda de Ourinhos quando os fazendeiros de café fundaram Cambará, continuando a avançar em direção ao vale do Tibagi. A produção de café era escoada pela Sorocabana. Observa-se neste momento, a presença dos japoneses na região, que antecedeu o início da colonização e que se intensificou a partir de 1912. A primeira cidade que os recebeu foi Ribeirão Claro. Durante a Primeira Guerra Mundial as antigas zonas cafeeiras do Estado de São Paulo, enfrentavam uma séria crise econômica, ocasionada pela queda dos preços do produto e o consequente prejuízo nas colheitas, possibilitando que com o empobrecimento dos grandes fazendeiros, os colonos se transformassem em pequenos e médios proprietários, enriquecendo-se, porque o período favorecia ao aumento dos preços dos cereais. Isto também pode ser notado com relação aos colonos japoneses que se beneficiaram da crise do café, pois ao ficarem vários anos sem receber salários, ao acertarem suas contas, adquiriram recursos suficientes para adquirir suas próprias fazendas no Norte Pioneiro. Além disso, seu desenvolvimento inicial também está ligado à produção de algodão, fumo, arroz, feijão e milho, que mesmo com dificuldade, ainda no século XIX, foi importante para o desenvolvimento econômico da região, a qual enfrentou várias dificuldades. A partir do século XX a suinocultura também foi desenvolvida. O destino do porco era Jaguariaíva, Itararé e até Itapeva. O negócio era tão atraente que a firma paulista de Francisco Matarazo, instalou-se na região com um https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 8 grande frigorífico em Jaguariaíva, em 1924, e não foi o único. 4.2 O NORTE NOVO A região denominada “Norte Novo” limita-se ao Norte com o Rio Paranapanema, ao Sul com a cidade de Manoel Ribas, a Leste com o Rio Tibagi e a Oeste com o Rio Ivaí, compreendendo as cidades-polo de Londrina, Maringá, Apucarana e Ivaiporã. A denominação de “Novo” para essa parte da região vincula-se de certo modo à forma de sua colonização que foi diferente do chamado “Norte Pioneiro”. Boa parte desta região (compreendendo as cidades de Londrina, Maringá e Apucarana) foram colonizadas por uma companhia inglesa, portanto iniciativa privada. A região, que era povoada por índios coroados e caboclos, despertou interesse de empresas de colonização com a Companhia Marcondes de Colonização, Indústria e Comércio. Esta Companhia pertencia ao sertanista José Soares Marcondes. Como Marcondes não entendia do gerenciamento da Companhia, a presidência da empresa foi confiada a Custódio Coelho. Entretanto, este administrador não foi fiel à empresa, tirando proveito pessoal e desviando valores para viagens ao exterior à procura de crédito aos colonos. Suas despesas pessoais eram grandes e os empréstimos no exterior (Inglaterra) enormes, e com isso, descapitalizou a empresa de tal forma que, quando o dono e seus herdeiros perceberam quão grave era a situação, não havia mais como evitar a falência da Companhia, e nem tão pouco evitar a perda da concessão de 500 mil alqueires concedidos pelo governo estadual para projeto de colonização. O Governador, Afonso Camargo, ao considerar que o prazo para a colonização havia expirado, retirou-as da Companhia Marcondes e transferiu-as para uma companhia inglesa. Os ingleses em sua expansão imperialista, sempre buscaram a aplicação de seus capitais com retorno garantido. A primeira tentativa de colonização inglesa foi feita pela empresa Paraná and Mato Grosso Railway Survey (1873-1874). Esta companhia teria sido dirigida por um engenheiro chamado Mr. Lloyd, e teria fracassado por falta de organização, infraestrutura e uso de propaganda enganosa. Esse imperialismo traduzia-se no Brasil principalmente por dívida externa, que em 1924, era de 102.623.294 libras, sendo que haviam também débitos interno a serem saldados. Os pagamentos de juros e amortizações estavam em atraso ainda. A crise financeira que acometeu os países europeus após a Primeira Guerra, atingiu também a Inglaterra, impedindo-a de realizar altos investimentos no exterior. Porém, no Brasil era diferente, pois, devedor aos bancosingleses, dava margem a parcerias em projetos de colonização. Portanto, o principal objetivo da “visita” dos ingleses ao Brasil em 1923, num evento conhecido como “Missão Montagu”, foi solucionar a questão da dívida externa brasileira. A Missão Montagu foi organizada por bancos credores ingleses, o que vem confirmar seu objetivo. Não houve nenhum “convite” por parte do então Presidente da República, Arthur Bernardes. Nenhum dos representantes da missão possuía ligações diretas com a coroa inglesa. É bem verdade que pertenciam a aristocracia e eram pessoas renomadas e condecoradas por serviços prestados ao seu governo, e de certa forma isso dava à Missão um certo “ar de oficialidade” que ajudava a esconder sua verdadeira identidade: eram todos emissários dos banqueiros que sentiam seus créditos ameaçados. Os resultados da missão Montagu foram animadores para os visitantes pois, voltando a Inglaterra, os visitantes resolveram fundar a Brazil Plantations Syndicate Ltd.. Em 1924 o advogado João Sampaio instalou e colocou em funcionamento esta firma inglesa em São Paulo. No ano seguinte a companhia comprou três fazendas em São Paulo com o objetivo de produzir algodão, e também uma indústria. Este projeto, no entanto, não teve sucesso, o que fez com que houvessem mudanças nos planos. Foi então que o advogado João Sampaio persuadiu Arthur Thomas, representante da companhia inglesa no Brasil, a tentar comprar, terrenos de títulos duvidosos no Norte do Paraná, pertencentes à Companhia Marcondes de Colonização, Indústria e Comércio. Como essa companhia estava em dificuldades financeiras, colocou sua concessão de terras como garantia de empréstimos. As perspectivas de negócios foram então ampliadas, e o contato com o governo do Estado deu aos ingleses a possibilidade de adquirirem terras devolutas para serem colonizadas. Outro fator que atraiu a atenção dos ingleses foi a existência nessas terras de um ramal ferroviário. Visualizando a possibilidade de muitos outros empreendimentos, do que apenas o plantio do algodão, a Brazil Plantation Syndicate Ltd. Foi desativada, fundando-se a Paraná Plantation Ltd. No Brasil criou- se a sua subsidiária, a Companhia de Terras Norte do Paraná – CTNP, que foi organizada por Arthur Thomas, auxiliado por João Sampaio e seu sócio Antônio de Moraes Barros. A quem defenda que o uso do termo Paraná se associa a ideia de uma preocupação com um projeto futuro de colonização e povoamento. Em 1925 a CTNP adquiriu 350 mil alqueires de terras do Estado do Paraná e continuou comprando mais terras, até completar 544.017 alqueires. A forma como a CTNP organizou a colonização de suas terras é denominada Colonização-Dirigida, ou seja, realizada por empresas ou pelo poder público, cujo planejamento atende a vinda de colonos e onde as terras são divididas e organizados eficientes meios de comunicação e transporte, pois seu objetivo é a venda https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 9 das terras e o povoamento. As glebas compradas pela CTNP, foram pagas até três vezes: primeiro ao Estado, depois aos que possuíam títulos de posse verdadeiros ou duvidosos, e por fim aos posseiros. Isso deu credibilidade aos títulos de propriedade ofertados pela companhia. As glebas compradas foram divididas em pequenas propriedades com cerca de 30 hectares mas, existiam propriedades menores com até 5 a 10 hectares. Foram separados também lotes urbanos (para dinamizar a atividade comercial) e lotes rurais. O objetivo do grupo estrangeiro no norte do Paraná foi obter o máximo de lucro. O norte quase foi usado pelos ingleses para se livrarem de uma população curda do norte do Iraque, os quais atrapalhavam seus planos de explorar o petróleo. Encontraram resistência intelectual paranaense e brasileira e desistiram. Com isso, paulistas, mineiros, nordestinos e estrangeiros foram beneficiados com a aquisição de mais de 12 mil km² das melhores terras do Brasil (terra roxa). A expansão do norte foi fruto da produção do café que, após ocupar o norte propriamente dito – Jacarezinho, Cornélio Procópio, Londrina, Apucarana, Maringá, Cianorte, Umuarama, Paranavaí, etc. – atravessou o rio Piquiri e adentrou na região oeste. Desse modo, pode- se dizer que a colonização do Norte Novo envolveu a CTNP, o Governo do Estado, os pioneiros e os migrantes/imigrantes. Em um quarto de século, surgiram na região 110 núcleos urbanos. Desse, 62 criados pela Companhia e os outros 48, por grupos organizados ou não. Como exemplo, pode-se mencionar a cidade de Londrina, sede do escritório da CTNP desde a chegada da primeira caravana da Companhia. No local chamado Patrimônio Três Bocas, que foi considerado o Marco Zero. Ela foi transformada em município só bem mais tarde, em 1934, sendo a primeira cidade fundada pela Companhia, e seu nome, uma homenagem ao capitalismo inglês. A propaganda de venda das terras foi feita tanto no Brasil quanto no exterior, a atraiu brasileiros de São Paulo, Minas Gerais e do Nordeste. Atraiu, também, imigrantes estrangeiros que já se encontravam no Brasil e fora dele. Era mais compensadora a venda para os europeus que fugiam das convulsões políticas e sociais originadas pela consolidação da URSS, pela ascensão do nazismo e fascismo e também camponeses expropriados pelo processo de desenvolvimento do capitalismo europeu. Exemplo disso foi a compra de terras paranaenses pertencentes à Companhia por judeus-alemães, que tentavam fugir às perseguições nazistas. A Segunda Guerra Mundial fez com que os ingleses revissem suas perspectivas econômicas e financeiras e além disso, a baixa venda de terras no período entre 1930 e 1943 contribuiu para a colocação da empresa à venda. A nacionalização da CTNP fez com que ela passasse a se chamar Companhia melhoramentos Norte do Paraná. Para a Companhia Melhoramentos, ainda havia muita terra para vender, pois a CTNP, até 1943 teria vendido somente 30% dos lotes. Desse modo, a empresa, agora nacional, deu prosseguimento ao projeto de colonização iniciado anteriormente pela companhia inglesa. 4.3 O NORTE NOVÍSSIMO Trata-se da ocupação e colonização da região Noroeste do Paraná. Corresponde à Região do Vale do Rio Ivaí e compreende cidades como Paranavaí, Umuarama, Cianorte e Campo Mourão. De início essa parte do território, mais a Oeste, pertencia aos espanhóis (Tordesilhas), sendo que uma parte deste território fez parte da Província Real del Guairá. Durante o século XVII e XVIII, após os vários ataques dos bandeirantes, a região foi dominada para ser logo em seguida, abandonada. Ainda no século XVIII o governador de São Paulo, d. Luiz Antônio de Souza Botelho e Mourão, enviou o capitão-mor Afonso Botelho de Sampaio e Souza, para reconhecer a região. Como homenagem deste capitão, ao governador, a região ficou conhecida como Campos do Mourão. A partir de 1880, começou efetivamente o povoamento da região com expedições de Guarapuava, formada por criadores de gado. Foram eles os primeiros a se fixarem na região em 1903. A presença destas pessoas e o desenvolvimento econômico da região, criaram mecanismos de comunicação com o resto do Estado, questão precariamente resolvida com a abertura em 1906, de um picadão entre Campo Mourão e Pitanga, cidade da qual era distrito, e a construção da Estrada Boiadeira que ligava a região ao Mato Grosso. Essa deficiência de comunicação, deveu- se a falta de infraestrutura que ocorreu na região até a década de 1960. A região ao que parece, ficou oficialmente esquecida, ressurgindo o interesse somente com a Marcha para o Oeste. Era a ideia de desbravar e colonizar as terras devolutas do Estado. O governo brasileiro, para agilizar esse processo, contratava obras, pagando às empreiteiras com terras. Como o pagamento era adiantado, empresas estrangeiras beneficiaram-se disso, adquirindo terrasno Estado do Paraná. O que foi o caso da Companhia Brasileira de Viação e Comércio S/A (BRAVIACO). A construção da Estrada de Ferro Central do Paraná, também foi iniciada mediante o pagamento com terras próximas à Umuarama, onde acabou originando as cidades de Pérola, Xambrê, Altônia e outras. A BRAVIACO também possuía uma gleba de 100 mil alqueires, chamada Pirapó. Situava-se entre os rios Paranapanema e Ivaí, vizinha das terras da Companhia de Terras Norte do Paraná. Apesar de oficialmente devolutas, as terras à Noroeste do Estado estavam ocupadas não só por https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 10 indígenas, como por grileiros, que de acordo com o depoimento de Joaquim da Rocha Medeiros, tentaram, em grupo armado, tomar posse de diversos pontos da margem do Rio Paranapanema. Não somente desta forma, mas as próprias companhias colonizadoras acabaram se confrontando pela posse de terras nesta região. 5. FRENTE SULISTA Essa frente de ocupação abrange as regiões Sudoeste e Oeste. A terceira área do histórico-cultural originou-se em meados dos anos 1950. Uma nova frente pioneira adentrou em território paranaense, advinda do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, estimulada pelos problemas com a mão de obra agrícola. Nessa região as principais populações eram oriundas de Guarapuava e dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Numericamente, a frente sulista foi de menor intensidade do que a nortista. Os migrantes oriundos desta frente de colonização fundaram e se estabeleceram em importantes núcleos no sudoeste e oeste do estado: Francisco Beltrão, Dois Vizinhos, Medianeira, Santa Helena, Toledo, Marechal Cândido Rondon, Cascavel, etc. 5.1 O OESTE PARANAENSE Entende-se por oeste paranaense o território compreendido entre os rios Guarani, Iguaçu, Paraná e Piquiri. Durante a época imperial, a região ficou praticamente esquecida. A fronteira brasileira com a Espanha era o rio Paraná. Nenhuma estrada ou picada foi aberta durante o período imperial até as margens do rio Paraná. Por terra era inviável chegar até essa região. No século XIX, o Brasil assinou tratados de navegabilidade com a Argentina e o Paraguai. Esses países permitiram ao Brasil a navegabilidade dos rios Paraná e Paraguai, a fim de que os brasileiros pudessem chegar na isolada província de Mato Grosso. A Argentina obteve a permissão de navegar o rio Paraná. Desta forma, a região oeste do Paraná ficou mais exposta à penetração argentina, via fluvial do que à ligação terrestre com os grandes centros brasileiros. Atraídos pela erva-mate da região oeste, os argentinos de missiones chegaram na região por volta de 1881. Esse produto saía do Paraná como contrabando, pois não havia órgão instalado para fazer a devida cobrança de impostos. Como a foz do Iguaçu no rio Paraná era uma região estratégica, o governo imperial resolver instalar em 1888 uma colônia militar no local. O incumbido da missão foi o capitão Belarmino Augusto de Mendonça Lobo, oriundo de Guarapuava. A expedição chegou a Foz do Iguaçu em 22 de novembro de 1889. A população encontrada na região estava composta por 324 habitantes. Em 1905, a população da Colônia Militar de Foz do Iguaçu já era de mil habitantes. Os colonos que ganharam lotes de terras nos domínios da colônia tinham por obrigação principal produzir agricultura de subsistência. Mas isso não estava ocorrendo. Os que saíram da colônia passaram a explorar a erva-mate e a cortar madeiras. Nas primeiras décadas do século XX, a erva-mate era o principal produto de sustentação da economia de uma obrage. No interior da propriedade organizavam- se os ranchos. No rancho eram construídas casas rústicas onde residiam os mensus. Desse local, partiam estradas de penetração, onde em suas margens existiam os ranchitos. Colhia-se erva-mate ao redor dos ranchitos, numa distância de até dois quilômetros. A erva era colhida nas minas, que eram locais de maior concentração de pés nativos de erva-mate. Dos ranchos a erva-mate era transportada por caminhões até o porto, onde navios argentinos levavam para ser industrializada e comercializada na nação platina. Na década de 1930, as exportações de erva-mate entraram em decadência. A Argentina havia plantado milhares de ervais e começa a abastecer-se a si mesmo. Alguns obrageros do oeste paranaense apelaram para a exploração da madeira como substitutivo econômico. As madeiras de lei passaram a ser cortadas nos sertões do oeste com maior frequência e transportadas até as barrancas do rio Paraná através do sistema de alçapremas. Para o transporte fluvial, após centenas das toras estarem empilhadas, era uma montada uma jangada chamada de maromba, a qual poderia conter até duas mil toras, amarradas umas nas outras. Em 1928, a região oeste estava quase isolada da Capital do Estado. Essa situação começou a mudar a partir de 1946, quando alguns empresários do Rio Grande do Sul, liderados por Alberto Dalcanale e Willy Barth, compraram de Jorge Schmmelpfeng a Fazenda Britânia, com mais de 250 mil hectares e organizaram a Industrial Madeireira Colonizadora do Rio Paraná (MARIPA), com sede em Porto Alegre e escritório em Toledo. No período de 1946 a 1949 a MARIPA só extraia madeira principalmente o cedro, com mão de obra paraguaia, que era exportada para o cone sul. Entre 1950 e 1970 foi o auge da colonização. Foram vendidos cerca de 10 mil lotes, com tamanhos entre 10 e 25 hectares. Na região predominada a pequena propriedade. A ocupação foi rápida. Chegavam diariamente 50, 100 e até 200 pessoas, principalmente do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 11 5.2 OCUPAÇÃO DO SUDOESTE A região sudoeste desde 1891 era quase um único município, Clevelândia. Possuía muito pinheiro, erva- mate e outras madeiras de lei. Sendo uma região muito fértil e rica, foi muito disputada, causando conflitos jurídicos, políticos e sociais. Essa região serviu de palco para importantes disputas territoriais, envolvendo ela mesma, como foi o que aconteceu na Questão de Palmas; Paraná e Santa Catarina disputaram a posse de um território que abrangeria a região sudeste. Depois da Guerra do Contestado, os dois Estados assinaram o acordo de fronteira no dia 20 de outubro de 1916. Afonso Camargo assinou pelo Paraná e Felipe Schmidt firmou por Santa Catarina. O Referido acordo foi confirmado pelo então presidente da República, Venceslau Braz, sendo que a maior parte das terras em litígio passou para Santa Catarina. A companhia de Estradas de Ferro São Paulo – Rio Grande (CEFSPRG) era uma subsidiária da multinacional Brazil Railway Company. O governo do Paraná assinou contratos com a CEFSPRG para a construção de estradas de ferro e para isso transferiu terras para esta companhia. Em 1913, Carlos Cavalcanti de Albuquerque, presidente do Paraná, titulou parte da gleba Chopim com a área de 715.080 m². Mais tarde, em 1920, o presidente do Paraná Caetano Munhoz da Rocha, titulou para a mesma companhia estrangeira e gleba Missões, com mais de 4 milhões de m². Juntos, os dois territórios representavam quase todo o atual Sudoeste do Paraná. Após a Revolução de 1930, o General Mário Tourinho assumiu o governo do Estado como interventor, e uma de suas primeiras medidas foi estudar as concessões de terras feitas à CEFSPRG, constatando irregularidades, inclusive o não cumprimento do contrato por parte da referida companhia. A saída foi anular as concessões através de decretos. Missões e Chopim não pertenceriam mais à CEFSPRG. Com essa medida o território do Sudoeste do Paraná voltou ao domínio do poder público. A ocupação efetiva da Região Sudoeste passa por três momentos significativos. O primeiro foi a criação da ColôniaAgrícola Nacional General Osório (CANGO). Determinado por Getúlio Vargas, o decreto n° 12.417 de 1943 criava a Colônia Agrícola. Como a propriedade da terra na região estava sendo questionada na justiça (CEFSPRG X Estado do Paraná), e por essa razão os primeiros habitantes não podiam receber a escritura da terra, sendo quase todos posseiros. Muitos deles vieram do Noroeste do Rio Grande do Sul, sendo eles descendentes de europeus. A CANGO realizou um eficiente trabalho de povoamento e colonização, construindo obras de infraestrutura, dinamizando a vida social e cultural da comunidade, dando início para o grande progresso que o Sudoeste possui hoje. Mas ainda teriam outros órgãos importantes, presentes em outras etapas da colonização. A Clevelândia Industrial Territorial Ltda. (CITLA) apareceu na região em 1950 como proprietária de cerca de 500 mil há de terra, apresentando título fornecido pelo Governo Federal. Isso foi possível devido ao episódio conhecido como “A maior bandalheira da República”. Esse título conseguido de forma ilegal foi conseguido através de uma negociata em que a CITLA recebeu como forma de pagamento de uma dívida relacionada à ação entre a CEFSPRG e José Rupp, o qual ganhou a decisão judicial, mas não recebeu o valor da indenização, cedendo o seu crédito para a CITLA. Esta era de posse do governador na época Moisés Lupion, recebeu as glebas de Missões e Chopim. Como a legalidade do referido título dado a CITLA foi questionada pelo TCU e pelo Congresso, o governo pediu a anulação do mesmo. Em 1952, a CITLA entrou na justiça par garantir seus direitos e mais uma vez a região ficou “sub júdici”. Apesar da terra estar nessa condição, a CITLA continuou atuando na região e a partir de 1956 a situação se agravou, com a entrada de duas outras companhias – a Comercial e a Apucarana – as quais passaram a forçar os posseiros a compra das terras. Durante o governo de João Goulart foi criado o Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná (GETSOP), com finalidade de programar e executar os trabalhos necessários para a efetivação da desapropriação. O GETSOP mediu, demarcou e dividiu em lotes 350 glebas, 8 patrimônios e 30 povoados, somando mais de 545 mil ha. Isso fez com que Francisco Beltrão e Dois Vizinhos recebessem a maior quantidade de títulos. O GETSOP ajudou de todas as formas o Sudoeste do Paraná, construindo escolas, oferecendo subsídios em dinheiro vivo e promovendo uma verdadeira reforma agrária. Os mais de 50% de posseiros do Paraná que viviam no Sudoeste, passaram a ser detentores de suas propriedades. Essa mudança na posição jurídica dos lavradores em relação à terra, acarretou mudanças em todo o processo produtivo. Aumentaram os créditos, a quantidade de tratores e o tamanho das propriedades. 6. EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DO PARANÁ Com a expansão da pecuária nos Campos Gerais, com os trabalhos dos tropeiros curitibanos no comércio de gado, assim como com o crescimento da produção e da comercialização da erva-mate, criou-se uma infraestrutura que permitia sonhar com a autonomia política da Comarca de Curitiba. Uma das primeiras manifestações foi a de Pedro Joaquim de https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 12 Castro Correa e Sá, em 1800, pois o mesmo pretendia ser o capitão-mor da nova Província. A mudança do governo Português para o Brasil em 1808, facilitou a mobilização dos que desejavam transformar a Comarca em Província. Em 1811 a Câmara de Paranaguá formulou uma representação ao Príncipe Regente d. João, onde explicaram-lhe as vantagens que adviriam com a criação de uma nova capitania com sede em Paranaguá. A Câmara de Paranaguá apoiou Correa e Sá, inclusive concedendo-lhe uma procuração a qual autorizava-o a agir, no Rio de Janeiro, em nome da Câmara. Isso resultou, em 1812, na criação da 5ª Comarca, ou Comarca de Paranaguá e Curitiba. Outro movimento que também foi importante no processo de emancipação foi a Conjura Separatista em Paranaguá em 1821. As autoridades da comarca realizaram então várias reuniões secretas. Deliberaram procurar o comandante da guarda do Regimento das Milícias, o Capitão Bento Viana, para solicitarem seu imprescindível apoio, expondo-lhe seus argumentos em prol da emancipação da comarca, os quais podem ser resumidos: 1- A ignorância e o despotismo dos comandantes militares da comarca, que não procuram o bem do povo; 2- A falta de justiça, devido à dificuldade que havia em impetrar recursos, perante as autoridades de São Paulo; 3- O fornecimento, pela comarca, de grande número de praças de guerra às milícias portuguesas, sobretudo para as entradas que desbravavam nossos sertões do Iguaçu, ficando muitas famílias na miséria; 4- A falta de moeda na comarca, devido às grandes somas que eram remetidas, como impostos, para São Paulo; 5- O abandono em que se encontrava a comarca pela administração de São Paulo, surda que era aos apelos e queixas populares. Acabaram convidando-o para dar o brado de separação, por ocasião das solenidades de juramento, quando todos o apoiariam e conseguiriam desta forma o desmembramento de São Paulo. Terminada a solenidade de juramento, quando as autoridades e povo juraram publicamente fidelidade às bases da Constituição do Reino de Portugal e Algarves, o comandante da Guarda do Regimento de Milícias, Capitão Bento Viana, em nome do movimento, defendeu em seu discurso a emancipação. Ele ficou falando sozinho. As autoridades da comarca haviam procurado ele, pedindo o seu apoio, mas diante do seu discurso, faltou a elas coragem para se imporem e defenderem coletivamente. O movimento não passou de uma conjura. Apesar do desfecho nada favorável do movimento de 1821, o ideal emancipacionista não havia desaparecido. As câmaras de vereadores de Paranaguá, Morretes, Antonina, Vila do Príncipe (Lapa), Curitiba e Santo Antônio do Iapó (Castro), solicitavam com frequência a autonomia, já agora ao governo imperial brasileiro. A Secretaria de Negócios do Império procurava as mais variadas informações sobre a situação em que se encontrava a Comarca de Curitiba. Já no período imperial, dois fatos foram importantes para o processo de emancipação do Paraná. A partir do momento em que as forças econômicas ligas à pecuária e às atividades ervateiras abraçaram a causa e devido aos acontecimentos relacionados à Revolução Farroupilha (1835-1845) e à Revolução Liberal de 1842. Se a 5ª Comarca se unisse a essas revoluções uniria o Sul ao Centro e colocaria em perigo o poder do Império e a unidade nacional. As autoridades fizeram uma barganha, trocaram a promessa de emancipação política pela neutralidade da 5ª Comarca. Nesta fase, dois nomes foram extremamente importantes, se interessando pela autonomia: são eles Francisco de Paula e Silva Gomes e Manuel Francisco Correia Júnior. A atuação do tropeiro Paula Gomes foi no mínimo digna. Muito bem relacionado nos meios comerciais e políticos do RS, SP e do RJ, em suas andanças, empenhava-se a fundo na propaganda pela emancipação, distribuindo folhetos sobre a causa. Chegou quase a gastar toda a sua fortuna e quando ela, a emancipação aconteceu, continuou com sua vida de tropeiro, tentando dessa maneira recuperar a fortuna gasta na causa vitoriosa. Correia Júnior foi coronel da Guarda Nacional. Por conta da revolução liberal de 1842, armou e manteve às próprias custas, um batalhão legalista. No Rio de Janeiro, sempre procurou conseguir adeptos, na Corte e entre os políticos, para a causa da 5ª Comarca. Devido a ameaça da Revolução Farroupilha se alastrar e chegar até Paranaguá e Curitiba, as forças militares de Correia Júnior seriam estrategicamente importantes, por isso em troca do apoio ao governo imperial, foi prometida pelo próprio presidente de São Paulo, o Barão de Monte Alegre, o qual ao final da RevoluçãoFarroupilha, cumpriu sua promessa, solicitando ao Ministro do Império a elevação da comarca de Curitiba à categoria de província. Quase dez anos após essa “batalha” na luta pela emancipação, a vitória final enfim aconteceu. O governo imperial solicitou todas as informações necessárias às câmaras municipais da comarca, e em 1843 o projeto começou a ser discutido no legislativo. A luta parlamentar, discussão e aprovação do projeto ainda levaria uma década. A maioria dos deputados https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 13 paulistas procurava entravar ou retirar o projeto a qualquer custo. Seu principal temor era que São Paulo não pudesse subsistir sem a contribuição da comarca de Curitiba. Depois de inúmeros argumentos pró e contra, o governo imperial manifestou-se favoravelmente à nova província, por ser esta limítrofe da República do Paraguai e da Argentina. Os deputados paulistas, desesperados, apresentaram um outro projeto, que criava a província de Sapucaí, a qual seria desmembrada de Minas Gerais. O projeto da província de Sapucaí e a mudança da política na Câmara, onde voltou a predominar a corrente liberal, fez com que o projeto da 5ª Comarca fosse relegado a segundo plano. Apesar das dificuldades legislativas, Correia Junior e Paula Gomes continuam sem esmorecimento a propaganda pela emancipação, sobretudo na imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo. Somente em 1850 o assunto voltou a ser debatido no Congresso, agora no Senado. Fora apresentado nesta Câmara um projeto que criava a província de Amazonas. Voltou, então, a ser debatido o problema da emancipação da comarca de Curitiba. Os mais dinâmicos batalhadores e defensores da causa curitibana foram Cruz Machado e o senador Carneiro de Leão, os quais lutavam contra os inúmeros entraves colocados pelos representantes paulistas. Em 1850 foi aprovado o projeto que criava a província do Amazonas, ficando o Paraná ainda em discussão, enfrentando inúmeros entraves. Finalmente, a 2 de agosto de 1853 foi o projeto aprovado, tornando-se o Paraná a mais jovem província do império. A instalação solene foi realizada em 19 de dezembro do mesmo ano, ocasião em que o primeiro presidente, Zacarias de Goes e Vasconcelos foi empossado. 7. EVOLUÇÃO DA PROVÍNCIA DO PARANÁ O período provincial do Paraná teve uma duração de 36 anos, de 1853 até 1889, quando o Brasil se tornou uma república. Neste período, teve o Paraná 41 presidentes de província, o que significa em média, aproximadamente, oito meses e meio para cada gestão presidencial. Este fato é uma demonstração cabal da instabilidade dos governos provinciais, bem como de sua ineficiência administrativa. O presidente que mais governou foi Adolfo Lamenha Lins, que permaneceu na chefia pouco mais de dois anos e dois meses. Um tempo tão exíguo não é suficiente para qualquer ação administrativa tratada com eficiência. Os presidentes de província eram escolhidos entre os elementos pertencentes ao partido político dominante no cenário nacional e nomeados pelo imperador. Com a conquista da emancipação política do Paraná e a posse do primeiro presidente, teve início o trabalho mais importante, qual seria, estruturar o novo poder político administrativo de acordo com a legislação em vigor. A partir da criação da Província, o Paraná passou a ter, além do presidente nomeado pelo Imperador, o direito de eleger um Senador, um Deputado para a Assembleia Geral e uma Assembleia Provincial com 20 membros. O Presidente na prática era um delegado do Imperador, no qual seu principal trabalho era garantir a vitória eleitoral dos candidatos do governo. Quando houve a emancipação, o Paraná possuía a seguinte estrutura, reunindo ao todo pouco mais de 62 mil habitantes em: • Duas cidades: Paranaguá e Curitiba; • Sete vilas: Antonina, Guaratuba, Morretes, São José dos Pinhais, Lapa, Castro e Guarapuava. • Seis freguesias: Campo Largo, Palmeiras, Rio Negro, Ponta Grossa, Jaguariaíva e Tibagi. Para a escolha dos seus representantes ao Poder Legislativo, de acordo com a lei em vigor, eram poucos os eleitores, apenas 135. Além disso, a eleição era indireta, e os cidadão ativos escolhem em assembleia paroquial os eleitores da Província os quais elegem os parlamentares. O Paraná foi grandemente beneficiado por ter como seu primeiro presidente o baiano Zacarias Goes de Vasconcelos, homem de grande visão política e administrativa, que soube orientar os primeiros passos da jovem província de maneira dinâmica e eficiente. Entusiasticamente recebido em Paranaguá e Curitiba, tomou já no dia seguinte ao de sua posse importante decisão ao encarregar pessoas competentes de realizarem um estudo minucioso das condições e possibilidades das estradas que ligavam Curitiba ao litoral. Nessa época, no Paraná, não havia estradas próprias para o trânsito de carros de boi, por falta de condições técnicas. Este fato dificultava sobremaneira a colonização, o escoamento de safras agrícolas e o comércio da região. O transporte existente era feito exclusivamente por tropas de muares. Zacarias compreendeu desde o início a urgência e a necessidade de ligar Curitiba ao litoral, qual seja, de uma rodovia que ligasse o planalto com um porto de embarque. O presidente Zacarias chegou a afirmar que não via razão para a criação da província se o planalto e o litoral não se comunicassem por rodovia de primeira qualidade. Outro importante acontecimento no início do seu governo foi a confirmação da cidade de Curitiba como capital, apesar das pretensões que tinham a essa regalia as cidades de Paranaguá e Guarapuava. Esta decisão foi aprovada pela Assembleia Legislativa. https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 14 As relações do Presidente Zacarias com a Assembleia Provincial foram harmoniosas e independentes, o que muito contribuiu para a organização da nova Província. Isso é tão verdade que no encerramento dos trabalhos da primeira legislatura, o presidente da casa, deputado Joaquim Jose Pinto Bandeira, no seu discurso, elogiou esse bom relacionamento, solicitando ao governo Imperial sua permanência. Não foi tarefa fácil criar todos os serviços públicos, prover as necessidades da justiça, da instrução popular, da polícia, da viação, da catequese, enfim fazer reinar a ordem no meio daquele caos que sobrevivia quase inalterado desde o Regime Colonial. Além disso, no governo do primeiro presidente também foi feito: A divisão da província em três Comarcas: • Curitiba, Paranaguá e Castro; • A criação de uma Companhia Policial, a fim de proporcionar aos cidadãos maior segurança individual; • O início da construção da estrada da Graciosa; • A organização de várias escolas primárias e a criação das cadeiras de francês inglês. 7.1 A INSTALAÇÃO DA CAPITAL O primeiro problema a ser enfrentado e resolvido pela Assembleia Provincial diz respeito a primeira capital da Província. Três cidades disputava o páreo: Guarapuava, Paranaguá e Curitiba. Na prática a disputa era entre o litoral e o planalto. Além de estarem separadas pela serra do mar, elas também tinham posições políticas diferentes. Influenciado pelos liberais dos Campos Gerais, Zacarias inclinou-se em apoio à Curitiba, escolhida como capital da província em 1854. Os argumentos do próprio presidente da província sobre Curitiba eram realmente favoráveis: • Ficava mais no centro da província, em posição avantajada com relação a Paranaguá, sendo que esta última só se comunicava com as vilas do litoral; • Era Curitiba o município mais populoso, possuindo grande parte dos eleitores; • A localização de Curitiba tornava mais fácil a distribuição da justiça, bem como facilitava a administração da província; • Guarapuava estava muito afastada, localizadaem território pouco explorado e próxima dos países estrangeiros vizinhos. 7.2 O PARANÁ NO PERÍODO REPUBLICANO Durante o período republicano, o Estado acompanhou o desenrolar do que acontecia no restante do Brasil, ou seja, influenciado pela política central. Na Primeira República (1889-1930), predominou a atuação de Vicente Machado e Xavier da Silva. Neste período marcado por disputas um fato chama a atenção: a criação da Universidade do Paraná em 1912. No período getulista (1930-1945), o governo do Paraná teve a figura polêmica de Manoel Ribas por 13 anos. Devido a seu modo prático de governar, tornou- se rapidamente popular, apesar de ser por vezes ríspido e grosseiro. Foi no seu governo que se solidificou a Companhia de Terras do Norte do Paraná. A maior aceleração da colonização do norte trouxe rapidamente a supremacia econômica do Estado para o café, que encontrou ali seu habitat perfeito. Em 1943, Getúlio resolveu criar novos territórios federais, nas regiões de fronteira, alegando oficialmente a necessidade de fortalecer as mesmas e acelerar o progresso nos territórios limítrofes, para maior segurança nacional. Foram criados os territórios federais do Amapá, Rio Branco, Guaporé, Fernando de Noronha, Ponta-Porã e Iguaçu, este último em território do Paraná e Santa Catarina. Com o fim do Estado novo, o Paraná teve os governos eleitos de Moisés Lupion, Bento Munhoz, e novamente Moisés Lupion, tendo como característica fundamental a preocupação com o setor agrícola e o transporte ferroviário No período que marcou a passagem da democracia para a ditadura, Ney Braga e Paulo Pimentel foram os governadores, tendo como importantes preocupações a industrialização do Paraná e a construção de rodovias. De 1974 a 1982, foi a vez dos governadores Ney Braga e Jaime Canet Junior, nomeados e que marcaram o auge do poder da ditadura militar, no período do “Milagre Brasileiro”. De 1982 a 1994 os governos eleitos de José Richa, Álvaro Dias e Roberto Requião, marcam a conquista e a volta da democracia no Paraná. Em seguida vieram os 8 anos do governo Lerner, que marcou a consolidação da democracia. No desenvolvimento econômico do Paraná, além da extração de ouro, da criação de gado e do tropeirismo, teve importância a cultura da erva mate, bem como outros produtos. 8. ERVA-MATE Pode-se dizer que para se conhecer a história do Paraná, principalmente do Paraná Tradicional, é necessário se conhecer a produção, embalagem, transporte, e comercialização da erva-mate. Durante https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 13/05/2020 MUDE SUA VIDA! 15 mais de cem anos – de 1820 a 1930 – a erva-mate foi absoluta na economia e em toda a vida paranaense. Era a principal riqueza produzida. Toda a vida econômica, social, política e cultura, girava em torno da erva-mate. Conhecendo o processo cultural da erva-mate, conhece-se a História do Paraná daquele período. Foi o ciclo mais autônomo, mais prolongado e estável da história do Estado. Ao contrário do ciclo do ouro, do gado, da madeira ou do café, a economia ervateira não esteve sob o controle de outros Estados, permitindo que o Paraná criasse em torno dela sua própria elite dirigente, com influência sobre as diretrizes governamentais que melhor convinham a seus interesses, embora pudesse ser vítima de seus próprios erros. O mate estimulou o desenvolvimento de uma nova classe social: a burguesia. O mate foi tão importante que a própria Província do Paraná, foi criada em 1853, em seu nome e sobre a sua influência. A Erva do Paraguai, como também é chamada a “Ilex paraguaiensis”, foi o mais original complexo cultural na região de Curitiba e dos Campos Gerais. Trata-se de um arbusto que chega até 12 metros de altura, cujas folhas constituem sua parte mais importante. É uma riqueza espontânea que se renova em cada safra. Quanto mais cedo se colhe, mas abundante ela se torna. Pode ser podada de 2 em 2 anos ou de 3 em 3 anos, dependendo do solo e tecnologia aplicada. O conquistador dos Campos Gerais já a encontrou formada quando ali se estabeleceu. Existem muitas tradições sobre a erva-mate. Os incas já a usavam no Peru há mais de mil anos. Diz a lenda que o pai Zume (o são Thomaz dos cristãos) quando andou pela América, ensinou os guaranis e os caingangues do Paraná ao uso da “congonha” – a que alimenta. Na sua elaboração participaram povos diversos, desde os ameríndios até os espanhóis. Os ervais se estendiam pelo planalto paranaense até o Rio Paraná, principalmente de Guaíra para baixo, penetrando no Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ela se dá bem em região de clima temperado e de altitude acima de 400 metros, não sofrendo com as geadas. Desde 1720 d. João V autorizou a exportação do mate paranaense para as cidades do Prata. A sua comercialização só se desenvolveu a partir de 1820 com o estabelecimento dos engenhos de soque. Sobre a sua importância social, a cultura do mate se rareia hoje no Paraná. Foi geral ao tempo em que se formou Curitiba. O chimarrão era a bebida preferida. Era tomado pela manhã, no desjejum, antes e depois das refeições, como aperiente e digestivo, no ardor das soalheiras, para dessedentar, nas horas de descanso, para reconfortar, nas reuniões, como expressão de cordialidade social. Não havia casa onde não houvesse os instrumentos necessários à sua preparação: a cuia e a bomba. O médico alemão Robert Ave-Lallemant, que esteve na Província do Paraná em 1858, chamou-a de “civilização do mate”. Escreveu ele: “Mate, mate e mais mate. Essa é a senha do planalto. A senha nas terras baixas, na floresta e no campo. Distritos inteiros, aliás, províncias onde a gente desperta com mate, madraceira o dia com o mate e com o mate adormece. As mulheres entrar em trabalho de parto e passam o tempo de resguardo sorvendo o mate e o último olhar do moribundo cai lentamente sobre o mate” Sobre o seu valor econômico, já vimos que no período de 1820 a 1930, a vida paranaense girou em torno do mate. O processo de produção do mate tem várias fases: o corte, o sapeco, a secagem, a moagem, a embalagem, o transporte e a comercialização. Todo o processo se inicia pelo corte ou poda das erveiras, que é feito a facão, foice ou espada, preferencialmente nos meses de junho e julho. Em seguida os ramos cortados são submetidos a ação direta do fogo, nos “sapecos”. Sob a ação rápida das labaredas, as folhas perdem certa umidade, sem contudo, ficar escura. O bom aspecto e o sabor da erva dependem muito da rapidez e uniformidade do “sapeco”. Essa operação ainda é feita no mato. Após isso, a erva é levada para o “carijó” ou “barbaquas”, onde recebe uma segunda secagem. A fabricação termina com a moagem, trituração dos ramos em canchas apropriadas. A erva-mate assim “cancheada” já é um produto primário e constitui também, a matéria-prima para os engenhos de beneficiamento nacionais e estrangeiros. No processo produtivo do mate toma parte toda a família, sendo que a poda e o transporte cabe aos homens e o trabalho mais miúdo às mulheres e até às crianças. Convém esclarecer que a produção da erva-mate do Paraná é baseada principalmente na pequena propriedade. Os fazedores de ervais e plantadores de cidades, os nossos caboclos destemidos jamais praticaram a escravidão. Ao contrário, foram escravizados pelos ervais que formaram. Seus ganhos eram tão limitados que não permitiam introduzir melhoramento na propriedade e na produção do mate, vivendo, os produtores, em péssimas condições econômicas. Os moageiros e exportadores é que dominavam por completo a economia ervateira, explorando os produtores. Durante os mais de 100 anos em que a erva-mate dominou a economia paranaense, merece destaque o processo dinâmico ocorrido na indústria de embalagem. Inicialmente a erva era embalada em surrões, feitos de couro. Aproveitava-se
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