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História do Paraná - PM - PR


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2 
 
HISTÓRIA DO PARANÁ 
 
 
 
Edição, Produção Editorial e Revisão: Thiago Veronezzi. 
Capa: Richard Freitas. 
 
 
 
 
 
Concurso PM-PR. 
 
 
História do Paraná: movimentos de ocupação 
do território; a dinâmica do tropeirismo; Café: 
escravidão e trabalho livre; a emancipação 
política do Paraná; o ciclo da erva-mate; a 
Guerra do Contestado. 
 
 
 
 
 
 
 
MARINGÁ 
2021. 
 
3 
 
Índice: 
 
 
Movimento populacionais 
(O Paraná Espanhol: Administração espanhola em suas possessões: os 
adelantados e a encomienda; Reduções jesuíticas no Guairá; O Paraná 
português; Ocupação e povoamento do Paraná: Litoral (Baixada 
Litorânea); Paranaguá; Antonina; Morretes; Primeiro Planalto; 
Curitiba; Segundo Planalto; Campos Gerais; Guarapuava; Palmas; 
Norte do Paraná; Sudoeste do Paraná; Oeste paranaense; Sudeste 
paranaense) - 04 a 32. 
 
 
A dinâmica do tropeirismo - 32 a 34. 
 
 
 
Cafeicultura no Paraná - 34 a 37. 
 
 
 
Emancipação política paranaense - 37 a 41. 
 
 
 
O ciclo da erva-mate - 41 a 50. 
 
 
 
Guerra do Contestado - 50 a 55. 
 
 
 
Questões: 55 a 67. 
 
 
 
Referências: 67 a 68. 
 
4 
 
Movimentos populacionais: 
O Paraná Espanhol. 
 
A história dos territórios entre os rios Paranapanema, ao norte, e Iguaçu, ao sul, pertencentes 
hoje ao Estado do Paraná, está inserida nos processos de ocupação da América Meridional pelos 
europeus, no século XVI. 
No final do século XV, quando Espanha e Portugal celebraram o Tratado de Tordesilhas1, que 
dividia as terras descobertas entre as duas coroas cristãs, a maior parte das terras brasileiras, inclusive 
o Paraná, ficou sob a jurisdição espanhola. 
 
TERRITÓRIO SOB O DOMÍNIO ESPANHOL2 
 
TERRITÓRIO SOB O DOMÍNIO PORTUGUÊS3b 
 
 
Os contatos4 dos europeus com os nativos habitantes da região, ocorreram no início do século 
XVI, com os primeiros navegantes que aportaram ou passaram pelo litoral paranaense, e pelas 
primeiras expedições portuguesas e espanholas, que percorreram o interior do Paraná rumo ao 
Império Inca. 
Desta forma, os marinheiros que desembarcaram dos navios espanhóis e portugueses na costa 
sul do Brasil, fizeram contato primeiro com os Carijós, como eram chamados os Guarani, e, quando 
eles começaram a percorrer o interior, passaram a ter contatos com populações de fala diferente dos 
Carijós, os grupos falantes do tronco linguístico Jê, hoje conhecidos como Kaingang e Xokleng. 
Quando os primeiros europeus começaram a desembarcar no litoral sul do Brasil para 
abastecerem seus navios com água, lenha e alimentos, aqui deixavam desterrados ou náufragos que 
tomaram conhecimento, por meio dos Guaranis – neste período os índios Carijós, de língua Guarani, 
habitavam o litoral paranaense -, das enormes riquezas existentes a oeste de seus territórios. Esses 
desterrados e/ou náufragos, em conjunto com os índios, prepararam expedições para irem até às 
terras onde existiam ouro e prata em abundância. Começou então o processo de desvendamento e 
conquista dos territórios indígenas do interior, o que seria mais tarde o Estado do Paraná – durante 
muito tempo o território foi denominado de Província do Guairá. 
O reino de Portugal apenas começou a colonização de suas possessões americanas por volta 
das três décadas após o achamento das terras por Cabral em 1500. Já a coroa espanhola passou a 
organizar expedições por volta de 1515 à procura de uma passagem interoceânica no estuário da 
Prata. 
 
1 Assinado na povoação castelhana de Tordesilhas em 7 de junho de 1494, foi um acordo celebrado entre o Reino de 
Portugal e o recém-formado Reino da Espanha para dividir as terras “descobertas e por descobrir” por ambas as Coroas 
fora da Europa. 
2 Chamado pelos espanhóis de território de Província do Guairá. 
3 A Capitania de São Vicente pertencia à Martim Afonso de Sousa e a Capitania de Santana pertencia a Pero Lopes de 
Sousa. 
4 Os contatos entre europeus e indígenas no litoral do Paraná também foram registrados por Hans Staden. Viajando em 
direção ao Rio da Prata na expedição do adelantado Diego de Sanabria, sob o comando de Juan de Salazar, ele naufragou 
em 1550 na baia de Paranaguá, no porto de Superagui. Staden foi um dos que primeiro escreveu sobre o litoral do Paraná 
e sua população, como podemos conferir em: Duas viagens ao Brasil. 
 
5 
 
Numa dessas expedições foi encontrado o Caminho de Peabiru5 (este caminho já era utilizado 
pelos indígenas, onde saia do Oceano Atlântico, próximo a São Vicente, e chegava até o Oceano 
Pacífico, no território do Peru.). Aleixo Garcia6, um português naufragado, chegou ao litoral da 
Capitania de Santana e logo fez contato amistoso com os índios da região. Logo, Aleixo ficou 
sabendo das terras mais a oeste que emanavam ouro. O português juntou cerca de dois mil índios e se 
lançou em direção ao Império Inca pelo que seria conhecido como Caminho de Peabiru. 
Aleixo até conseguiu alguma prata, mas, em uma das viagens, quando voltava ao Paraguai, 
sua expedição foi atacada por índios Payaguás, provocando a morte de Aleixo Garcia e boa parte de 
seus homens. Contudo, apesar de sua morte, o português tem suma importância histórica pois é 
considerado o primeiro europeu a percorrer a região paranaense ultrapassando o rio Paraná, na 
localidade das antigas Sete Quedas, e chegando até os Andes. 
 
 
 Caminho de Peabiru. 
Além de Aleixo Garcia, foram comuns 
expedições espanholas adentrando o território 
paranaense. Como exemplo, o famoso Álvar 
Nuñes Cabeza de Vaca7 que fora enviado pela 
Coroa espanhola por volta de 1541, para 
reconhecimento da região. Percorreu por via 
terrestre com sua expedição que contava com cerca 
de quatrocentos homens e quarenta cavalos, sendo 
guiados por índios guaranis. Percorreu 
basicamente o mesmo caminho de Aleixo Garcia 
 
5 Esse e outros caminhos tiveram muita importância na ocupação dos territórios do atual Paraná. Alguns deles ficaram 
conhecidos como Caminho do Peabiru, de Cubatão, do Itupava e do Arraial, de Sorocaba e Viamão. 
6 Nascido em Portugal, foi um navegador que participou na exploração do Rio da Prata em 1516 ao serviço da Coroa de 
Castela, sob o comando de Juan Díaz de Solís, e em expedições ao interior da América do Sul. Devido a um naufrágio 
em uma dessas expedições em que Aleixo participou no início do século XVI, os 18 sobreviventes da sua caravela (14 
castelhanos e 4 portugueses, aos quais se juntou um outro português de expedições portuguesas anteriores) tiveram de 
desembarcar na costa do atual Estado de Santa Catarina, onde se inteiraram da existência de "grandes riquezas" no 
interior do continente. Poucos anos depois, Aleixo Garcia organizou por sua conta uma nova expedição, da qual fez parte 
um grande número de guerreiros avá (guaranis), para percorrer aquelas terras nas quais haviam as "grandes riquezas". 
Entre 1521 e 1525, percorreu o rio Paraguai chegando até os limites orientais do Império Inca, passando pela região de 
Cochabamba no que hoje é a atual Bolívia e atravessando a parte norte do Chaco. 
7 Álvar Núñez Cabeza de Vaca nasceu na Espanha, em 1490, e morreu também na Espanha, em 1560. Navegador e 
explorador, depois de uma vida de aventuras, tornou-se monge na cidade de Sevilha. Como prêmio por uma de suas 
expedições, foi nomeado governador do Paraguai em 1542. Assinou, em 1540, um contrato real em que o imperador 
Carlos V lhe confiava a chefia da expedição à pouco conhecida região do Rio da Prata e lhe concedia dez por cento de 
tudo que ali encontrasse. A expedição partiu de Cádiz (1540) e no ano seguinte os espanhóis desembarcaram na ilha de 
Santa Catarina, no Brasil, onde souberam da fundação da cidade de Assunção por parte de expedições anteriores. Decidiu 
partir para Assunção e no caminho descobriu as grandes cataratas do Iguaçu. Instalou-se na cidade, reorganizou o 
governo e promoveu uma expedição à serra da Prata, na região de Potosí, na Bolívia.Em 1555, publicou o livro 
"Naufrágios e comentários" relatando suas aventuras. Nesta obra, pode-se verificar informações importantíssimas a 
respeito de aspectos históricos, geográficos e antropológicos da História do Paraná. 
 
6 
 
do planalto curitibano a região de foz do Iguaçu. 
Prosseguindo às ações espanholas, em 1554 é fundado na foz do Rio Ivaí com o Rio Paraná, 
por Domingos Martínez de Irala8, então governador do Paraguai9, o primeiro povoamento 
paranaense, a Vila de Ontiveros. O líder paraguaio assim escreveu: “Sendo tão necessário para 
escala de navios que vêm da Espanha, determino se construir um povoado em caminho para o 
Brasil, na parte deste sobre o rio Paraná, pois se faz necessário cursar este caminho, para se ter 
comunicação com a costa, para se avisa por esta via a Sua Majestade, do estado da terra”. 
Ademais, Ruy Dias Melgarejo10, em 1553-1554, percorreu duas vezes o interior do Paraná, 
desde Ontiveros até São Vicente, e regressou em 1555, partindo do litoral, em Santa Catarina, 
seguindo o mesmo roteiro de Cabeza de Vaca. Melgarejo 
teve um destacado papel entre os conquistadores espanhóis 
no interior do Paraná, porque conduziu a fundação de 
Ciudad Real Del Guairá11 (1557), localizada na confluência 
dos rios Piquiri e Paraná, e de Villa Rica do Espírito Santo 
(1570), localizada na região do atual município de Fênix. 
Os colonos espanhóis, habitantes de Ciudad de 
Guairá e de Villa Rica começaram a escravizar os milhares 
de índios existentes na região. O principal trabalho dos escravos era a coleta e beneficiamento de 
erva-mate nos ervais nativos da região. 
 
Administração espanhola em suas possessões: os adelantados e a encomienda. 
 
A Coroa espanhola delegava autoridade à algumas pessoas providas de condições e bens para 
ocuparem e colonizarem as terras nativas; esses conquistadores eram conhecidos como adelantados. 
De acordo com as ordens da Coroa de Castela, eles deveriam ensinar os nativos a garantirem um 
ofício (era comum a situação de mestre e aprendiz durante muito tempo na Europa, e essa tradição 
acabou sendo trazida para o Novo Mundo). Além disso, ficava a cargo desses conquistadores a 
responsabilidade de catequização da população nativa. 
Contudo, os nativos não receberiam isso de bom grado: pagariam taxas ou serviços a esses 
conquistadores. O trabalho em troca da “civilização” era conhecido como encomienda. Na prática, 
esse sistema colocava o nativo na condição de escravo. Tal condição fez surgir núcleos de revolta de 
índios guerreiros na região Del Guairá e diversas manifestações de negação à submissão das ordens 
espanholas. 
Devido às dificuldades de submissão dos índios, foi sugerido ao rei que a pacificação e a 
conversão fossem confiadas aos jesuítas espanhóis. A sugestão foi aceita, criando-se pela Carta 
Régia de 1608 a Província Del Guairá12, abrangendo justamente as terras do ocidente do Paraná. Ali 
seriam estabelecidas as Reduções Jesuíticas do Guairá, chegando, a leste, até o rio Tibagi; ao norte, 
ao rio Paranapanema; ao sul, ao rio Iguaçu; a oeste, ao rio Paraná. 
Em 1588, os padres Manuel Ortega, Juan Saloni e Thomas Fields percorreram a região do 
Guairá visando conhecer o potencial humano para futuros trabalhos missionários, a exemplo do que 
já ocorria na costa do Brasil desde 1549. Informaram aos seus superiores a existência de milhares de 
índios Guarani na região, bem como reconheceram uma série de peculiaridades culturais, sociais e 
 
8 Domingo Martínez de Irala (Vergara, 1509 — Assunção, Paraguai, 1556) foi um conquistador e colonizador espanhol. 
Martínez de Irala veio para a América em 1535, junto à expedição de Pedro de Mendoza e participou, no ano seguinte, da 
primeira fundação de Buenos Aires. Com a morte de Juan de Ayolas em 1537, passa a ser o governador do Rio da Prata, 
com sede em Assunção. 
9 Os espanhóis começaram a conquista da região fundando Buenos Aires em 1536 e Assunção em 1537. A atual capital 
do Paraguai foi o centro da colônia espanhola no sul da América. 
10 Ruy Dias de Melgarejo foi um militar e explorador espanhol. Foi o fundador de várias cidades (hoje extintas ou 
remanescentes com outros nomes), como a Ciudad Real del Guayrá, Santiago de Xerez e Vila Rica do Espírito Santo. 
11 O povoado de Ontiveros foi transferido em 1557 por Ñuflo de Chaves para Ciudad Real Del Guairá. 
12 Guairá do tupi-guarani significa: gua+i+rá = “água que cai” (catarata) ou guaí-ra = “gente+abundância” (local 
populoso). 
 
7 
 
políticas que seriam úteis alguns anos depois. Era o início das atividades religiosas no Guairá, e os 
conquistadores passaram a veicular os elementos básicos de sua cultura por intermédio dos padres 
jesuítas. 
 
Reduções Jesuíticas no Guairá. 
 
A atuação dos jesuítas no Guairá iniciou bem antes da fundação das Reduções, em 1610. Em 
carta ao Padre Cláudio Aquaviva, então padre-geral dos jesuítas, em 1º de novembro de 1584, o 
Padre Cristóvão de Gouveia apresentava a situação da região do Rio da Prata, especialmente de 
Guairá, com a grande concentração de índios, alguns estabelecimentos espanhóis, necessidade de 
evangelização e carência de ministros que lhe ensinassem coisas sobre a salvação. 
No final de 1588, foram enviados, desde Assunção, os Padres Manuel Ortega, Juan Saloni e 
Thomas Fields, aos povoados dos espanhóis, Cidade Real de Guairá e Vila Rica do Espírito Santo, 
sendo lançadas as bases da evangelização com os colonos espanhóis e com os indígenas. 
Contudo, somente a partir de 1609 essa evangelização e a colonização, ambas ligadas entre si, 
foram efetivamente desenvolvidas de forma organizada, com a chegada dos padres jesuítas de 
origem italiana, José Cataldino e Simão Masseta. A eles coube a implantação das primeiras reduções 
na região do Guairá em 1610. As primeiras reduções fundadas pelos padres jesuítas, na região, foram 
as de Nossa Senhora de Loreto e de Santo Inácio Mini, ambas localizadas na margem esquerda do rio 
Paranapanema. 
Em poucos anos, com a chegada de outros padres, entre os quais o novato Antonio Ruiz de 
Montoya, em 1612, conseguiram implantar treze reduções e aglomerar mais de uma centena de 
milhar de ameríndios. 
Os documentos da Coleção de Angelis, de Jesuítas e Bandeirantes no Guairá, compõem-se de 
várias cartas, informes e outros documentos que dão conta de todo esse trabalho. Os documentos 
tratam da doação de terras para a Companhia de Jesus na região, feita pelo governo do Paraguai; 
sobre as encomendas de índios também dessa região aos espanhóis conquistadores; e toda espécie de 
documentos que tratam do apoio que se deveria dar aos padres para o início das Reduções. O 
documento XII – Ordem do Tenente Geral do Governador do Paraguai e Rio da Prata, D. Antonio de 
Añasco, ao Capitão Pero Garcia de Ciudad Real para que se dê todo o Apoio e Auxílio aos Padres 
Cataldino e Masseta, que Pretendem Fundar Reduções no Paranapanema e Tibajoba, página 137 da 
referida Coleção, é uma ordem do governador do Paraguai e Rio da Prata, e nele é possível entender 
que os padres receberam apoio para tal empreendimento, e também que era do interesse dos 
espanhóis que os indígenas estivessem reduzidos, evangelizados e civilizados. O documento é do ano 
de 1609, e as reduções se organizariam sistematicamente em 161013. 
Os enviados para fundar as missões e reduções eram cuidadosamente selecionados e 
geralmente pertenciam a famílias da alta aristocracia europeia, falavam quatro idiomas – o materno e 
mais três. No caso do Paraguai, todos os missioneiros que ali chegavam aprendiam também o 
guarani. Deveriam ter em torno de 30 anos de idade e outras qualidades, como estabilidade 
emocional, conhecimentos técnicos que lhes permitissem cumprir as funções numa missão como 
educadores, agricultores, médicos, pintores, metalúrgicos, etc. Melhor se possuíssem aptidão para 
música e conhecimentos de arquitetura e escultura. 
Os jesuítas aplicaram, no Guairá,um novo método de catequese, qual seja o das reduções14. 
O ato de “reduzir” os indígenas em povoados tinha o objetivo de ensinar a doutrina católica, 
promover a civilização, como pretendia a Companhia de Jesus, e também livrá-los do serviço 
pessoal, realizado através das encomendas. 
 
13 CHAGAS, Nádia Moreira; MOTA, Lúcio Tadeu. O Guairá nos séculos XVI e XVII – as relações interculturais. 
Disponível em 
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2007_uem_hist_artigo_nadia_mor
eira_chagas.pdf>. 
14 O Padre Antonio Ruiz de Montoya, que escreveu “Conquista Espiritual”, ao tratar sobre a evangelização nesta região, 
informa o significado do termo Redução. Ele disse que “chamamos reduções aos povos de índios que vivendo à sua 
antiga usança nos montes, foram reduzidos pelas diligências dos padres a povoações grandes e à vida política e humana”. 
 
8 
 
A organização das Reduções mais ao Sul no século XVIII em relação às rudimentares do 
século XVI no Guairá e dizem que eram sempre construídas segundo um mesmo plano. O esquema 
tinha uma praça central (em torno de 130m de extensão) em torno da qual era construída a igreja, 
com a casa das viúvas e órfãos de um lado e a escola (as crianças a frequentavam, em média, 12 anos 
e estudavam o guarani, espanhol e latim. Os que mais se destacavam seguiam os estudos para 
assumir funções de responsabilidade), a casa dos missionários e os ateliês do outro; atrás da Igreja se 
estendiam o pomar e a horta; as moradias dos índios erguiam-se do outro lado da praça; nos outros 
dois lados situavam-se o Conselho da Missão, uma portaria; uma hospedaria, capelas, um relógio de 
sol e, mais adiante, uma prisão; no centro erguia-se a imagem da Santíssima Virgem Maria ou do 
santo padroeiro da Missão. A praça servia para as grandes festas religiosas ou civis; as casas eram de 
pedra, retilíneas, separadas por corredores largos; os muros tinham um metro de espessura; as 
habitações tinham chaminé e outros aposentos se ligavam contra os indígenas não reduzidos e os 
bandeirantes. Os talentos artísticos dos guaranis e suas aptidões manuais exercitadas pelos padres, 
permitiram a edificação de verdadeiras obras-primas de pedra talhada. As imagens de madeira 
pintada também eram feitas por escultores indígenas. 
No início do seu trabalho, os padres jesuítas tiveram o apoio da administração colonial, que 
deu terras, construiu casas e igrejas. Estado e Igreja estavam unidos. Isso, porém, durou pouco 
tempo. Com o objetivo de proteger o indígena, os jesuítas entraram em choque com os espanhóis de 
Vila Rica e Ciudad Real, cujos habitantes desejavam escravizar os nativos. 
Sabiamente, os jesuítas não quebrariam a hierarquia dos índios nas reduções. Adaptaram os 
chefes indígenas aos cargos existentes numa vila espanhola. Porém, nunca deixaram de ter a 
supremacia. Exerciam, portanto, uma ação paternal sobre o indígena aldeado. Cada redução era 
dirigida por um missionário que os colonizados/guarani chamavam de pai-tuya (pai velho), suprema 
autoridade, que era auxiliado por um assistente, o pai-mini (pai novo). Ambos estavam sujeitos ao 
Superior das Missões e todos ao Provincial. 
O Conselho de cada Redução, ou Cabildo, era eleito democraticamente e compreendia o 
corregedor ou presidente, também denominado cacique, o cabeça da hierarquia indígena, o qual tinha 
sob suas ordens um alguacil ou comissário administrativo; o tenente ou vice-presidente, dois 
alcaides, que eram também juízes em matéria criminal e dirigiam o policiamento; o fiscal e seu 
lugar-tenente, encarregado, entre outras coisas, de manter o registro de estado civil; quatro 
corregedores ou conselheiros, assumindo diversos serviços e eventualmente assessores, cujo número 
era proporcional ao número de habitantes. Elegiam-se também os chefes de setores, escolhidos entre 
os mais fervorosos cristãos. Ao final do mandato de um ano, o Conselho cessante preparava uma 
lista de candidatos, mas os padres tinham o direito de controlar essa lista perante a assembleia 
pública. 
Os jesuítas davam as instruções e os guaranis cumpriam os trabalhos. A partir dos 7 anos, a 
criança participava da vida civil e religiosa na Redução. Completava sua educação cristã e sua 
instrução musical e coreográfica, se tivesse dons artísticos. Caso contrário, trabalhava nos campos. 
As escolas tinham bons professores indígenas que ensinavam os pequenos a ler, escrever, contar, 
assim como as bases da doutrina cristã. Mulheres também aprendiam a cozinhar e costurar. Os mais 
jovens colhiam frutos, cuidavam das flores do jardim, caçavam insetos e animais nocivos. Treinavam 
o arco e a flecha. Cada família dispunha de partes de terra: uma chamada “tupã-mbe” (propriedade 
de Deus, destinada à comunidade e necessidades de base, como pagamentos de impostos, trocas, 
vendas, etc, na qual devia trabalhar dois dias por semana durante seis horas, em dois períodos), a 
outra “abambaé” (propriedade do indígena, destinada ao seu próprio consumo), que ela devia 
trabalhar e cultivar para mais tarde passar a seus descendentes. As primeiras culturas eram de milho, 
mandioca, batata, legumes, árvores frutíferas e erva-mate. 
Tudo isto era algo novo para os guaranis, principalmente o de fazer provisões, sendo razão de 
sua resistência, o que era também motivo de castigo. A execução da justiça era atribuição dos 
jesuítas: a pena, um autocastigo ou chibatadas e até mesmo a prisão. Certas fontes falam do exílio 
como pena suprema. A organização era rígida e a disciplina quase militar, pois esta foi a origem da 
Companhia de Jesus. 
 
9 
 
A criação de cavalos, gado bovino, galinhas, etc, também era coletiva. O produto deste 
trabalho era armazenado em depósitos públicos, donde cada família recebia o necessário para seu 
sustento. Esta distribuição, limitada a cada família, era para que não se malbaratassem os gêneros 
alimentícios e para que as donas de casa indígenas não se acostumassem a gastar demasiadamente. 
Deste depósitos comuns retirava-se também o necessário para o culto e os impostos, que eram 
religiosamente pagos à coroa espanhola. 
Os missionários espanhóis não introduziram o uso da moeda entre os índios para não 
despertarem a cobiça, até então inexistente. Porém, anualmente, desciam os índios das reduções até 
Santa Fé ou Buenos Aires, chefiados por um missionário, que era o procurador das missões, para 
realizarem a venda de seus produtos e adquirirem as mercadorias de que tinham necessidade. A 
presença de um procurador missionário era para defender os índios dos vexames que os colonos 
poderiam inflingir-lhes, bem como evitar que fossem fraudados ou roubados. 
Contudo, a situação iria mudar para os espanhóis: no limiar dos seiscentos, os portugueses 
chegaram à região em busca do seu butim: escravos indígenas para o trabalho nas fazendas paulistas, 
metais preciosos e outras riquezas15. 
O sucesso absoluto das reduções levantou temores dos luso-brasileiros de São Paulo. A 
reação violenta dos paulistas contra as reduções pode ser sintetizada nos seguintes interesses: 
 
1. Temor da expansão espanhola para leste, em direção à baía de Paranaguá. 
2. Preação de índios para trabalharem em suas lavouras. 
3. Desejo de atingir as famosas minas de Potosí. 
 
Sempre foi intenção dos portugueses dar, como limite meridional do Brasil, o Rio da Prata. 
Os espanhóis, por sua vez, desejavam que este limite corresse pelo rio Paranapanema até Cananéia 
ou, na pior das hipóteses, até a baía de Paranaguá. Desta forma, o território compreendido entre o Rio 
da Prata e o Paranapanema foi disputado pelos portugueses e espanhóis. 
Ressalta-se que desde a fundação de São Vicente, em São Paulo, eles já preavam os Guaranis 
do litoral e das encostas das serras paranaenses. As reduções acabaram tornando os ameríndios 
vulneráveis aos escravagistas e exploradores. A docilidade deles atraiu a cobiça e a ganância dosaventureiros que vinham às Reduções. Se de um lado representavam a criação de uma vida 
comunitária baseada na solidariedade, com evidente melhoria da qualidade de vida da população 
guarani em relação à crise étnica e à insegurança que viviam com o avanço das frentes escravistas 
ligadas aos encomendeiros e aos de São Paulo, apesar da vassalagem ao rei espanhol e de vigilância 
da fronteira hispânica devido à expansão luso-brasileira, de outro representou um confinamento, com 
a perda de seus valores naturais e presa fácil dos inimigos, pela alta concentração que representavam 
esses “pueblos” com três a quatro mil indivíduos à mercê da cobiça e da ganância dos “brancos”. 
A organização das reduções levava, além de tudo, preocupação aos portugueses. Os 
bandeirantes paulistas já assolavam o território em busca de índios. Os portugueses também tinham 
interesse em estabelecer os limites do Brasil, indo até o Rio da Prata, o que ia contra os ideais 
espanhóis, que pretendiam chegar ao litoral atlântico, até Cananéia. 
Os primeiros ataques às reduções Del Guairá foram realizados pelas bandeiras chefiadas por 
Manoel Preto. Em 1623, ele e seu irmão, Sebastião Preto, prepararam uma expedição que deixou São 
Paulo praticamente despovoada de homens. Alcançaram o Guairá, destruindo aldeias e prendendo 
muitos indígenas. O ataque rendeu cerca de três mil cativos, que foram levados para as fazendas do 
planalto e para outras praças. 
 
 
 
 
15 As incursões para aprisionar índios se intensificaram durante o domínio espanhol, entre 1580 e 1640, (período em que 
o rei da Espanha foi também rei de Portugal) em virtude da Holanda, que estava em guerra com a Espanha, ter dificultado 
a vinda de escravos africanos. 
 
10 
 
 
 
 
 
Reduções jesuíticas e exp. bandeirantes. 
As primeiras décadas do século XVII foram marcadas por uma intensificação das ações dos 
europeus no Guairá. De um lado, existiam os choques entre os índios Guarani e dos encomenderos 
espanhóis que os exploravam no trabalho semiescravo da coleta da erva-mate. Os padres jesuítas, em 
sua pregação religiosa, tentavam inculcar os valores da sociedade invasora junto às populações 
indígenas existentes na região. Contrariando os interesses dos encomenderos espanhóis e dos padres 
da Companhia de Jesus, vieram os paulistas com a intenção de buscar seu butim. 
Os padres da Companhia de Jesus fundaram, junto com os índios, quatorze Reduções nos 
vales dos rios Paraná, Iguaçu, Piquiri, Ivaí, Paranapanema, e Tibagi. 
No ano de 1628, as reduções Del Guairá foram arrasadas e reduzidas às cinzas. Partiu de São 
Paulo essa que foi uma das maiores expedições da época, chefiada por Manuel Preto, auxiliado por 
Antonio Raposo Tavares e Paulo do Amaral. Era composta de 2 mil indígenas, 900 mamelucos e 69 
portugueses, isto é, brancos. Envolveu praticamente toda a população ativa da cidadezinha, ficando 
ali só velhos, crianças e mulheres. O alvo eram as reduções do Guairá, em número de 14. Antigo 
território paraguaio, essa região abrangia o Oeste do atual Paraná, compreendendo uma população de 
50 mil Guarani. Essa bandeira era dividida em quatro capitães e oficiais próprios, sendo a primeira 
companhia comandada por Antonio Raposo. A 8 de setembro de 1828, os paulistas atravessaram o 
rio Tibagi e atacaram de surpresa a redução de Encarnación. Os padres ainda tentaram uma 
negociação e Manuel Preto pareceu concordar: não atacaria as aldeias de índios cristãos. Foi apenas 
um recuo estratégico, pois, em janeiro de 1930, Raposo Tavares destruiu as reduções de San 
Antonio, Jesus Maria e San Miguel, escravizando muitos Guarani. Apesar dos protestos dos jesuítas, 
todas as reduções foram destruídas, mais de 15 mil Guarani presos e muitas centenas deles mortos. 
Do lado paulista houve também grandes baixas, inclusive de Manuel Preto, morto pelos indígenas. 
 
Reação Guarani: as reduções se militarizam. 
 
O massacre não ficou impune. Após mais de dez anos de ataques sem respostas (o rei da 
Espanha proibia que os indígenas se armassem) e com a metade da população morta ou levada em 
cativeiro, no ano seguinte surge a reação. 
O primeiro confronto mais significativo aconteceu no início de 1639, quando 1.500 indígenas 
da redução de Caaró, no Tape, dirigidos por Nhienguiru e pelo padre Alfaro, enfrentaram a bandeira 
de Domingos Cordeiro. Ela foi praticamente destroçada às margens do Caazapagaçu. Os 
sobreviventes foram levados à presença de Dom Pedro de Lugo Y Navarro, governador do Paraguai, 
que por casualidade visitava as missões. Transferidos para Assunção, após bom tratamento, foram 
soltos. 
Não seguro dessa vitória, os jesuítas propuseram aos Guarani mudarem-se para a margem 
direita do Uruguai, hoje Província de Corrientes, na Argentina. De fato, em março de 1641, surge o 
 
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exército paulista, formado, segundo os jesuítas da época, por 800 mamelucos e 6 mil indígenas 
flecheiros, que ali chegaram em 900 canoas, das quais 300 eram “grandes, sólidas e bem armadas”. 
De São Paulo, desceram para Santos, São Vicente e Itanhaém. Atravessaram a Serra do Mar 
pelo Rio Ribeira, até os Campos Gerais. A partir daí, a expedição dividiu-se. Um aparte menor foi 
mais para o Sul e a maior foi para o vale do Tibagi, em direção às reduções. 
Para enfrentar esse batalhão, os Guarani foram chefiados por Abiaru. Como bom estrategista, 
colocou seu exército escondido na floresta, à beira do rio Uruguai e, com os mais valentes, subiu o 
rio em 200 canoas e batéis, ao encontro do inimigo. Avançando pelo rio Acaraí com seis canoas, 
encontrou Jerônimo Pedroso de Barros, que ouviu as reprimendas do chefe guarani, que o censurou 
por estar matando e querendo “roubar a liberdade aos que professavam a mesma religião”. 
Sem fazer caso desse sermão, os bandeirantes avançaram, sendo surpreendidos pela frota de 
canoas armadas, na altura do Rio M’Bororé. A luta durou seis dias, quando foi praticamente 
destruída a bandeira paulista. Dela só restaram uns 300 homens, sendo as vítimas, em sua maior 
parte, indígenas. Os que não morreram foram soltos, tendo podido se incorporar às missões. Os 
prisioneiros foram levados a Buenos Aires, receberam o mesmo tratamento cavalheiresco, sendo 
soltos em seguida. 
A partir daí os jesuítas deixaram de confiar no Estado espanhol e começaram a se armar por 
conta própria. Oficinas especializadas foram construídas e eles chegaram a fabricar até pólvora. O 
Padre Sepp, 50 anos depois, afirmava: “Poderíamos mobilizar imediatamente mais de 30 mil índios, 
todos a cavalo” e capazes “tanto de manejar um mosquete como de brandir um sabre... e de se 
baterem na ofensiva ou na defensiva, tudo como qualquer europeu”. 
As consequências desse contexto foram: fracasso das reduções; incorporação do território 
paranaense às possessões portuguesas pelo Tratado de Madrid em 1750 (foi um acordo entre 
Portugal e Espanha, que objetivava o estabelecimento das fronteiras entre terras portuguesas e 
espanholas no sul do Brasil e abandono de demasiados territórios paranaenses por muitos anos). 
 
Extinção de Vila Rica. 
 
Durante o período da destruição das reduções, os espanhóis de Ciudad Real e Vila Rica 
aliaram-se a Raposo Tavares. Visavam com tal atitude ajudar a abater o poder dos jesuítas, seus 
tradicionais inimigos. Aliás, tanto os mamelucos como os espanhóis eram tenazes defensores da 
escravização do indígena. Esta aliança fez com que Raposo Tavares poupasse Vila Rica. Contudo, 
em sua companhia, vários espanhóis mudaram-se para São Paulo, onde se fixaram. Afinal, todos 
estavam debaixo do governo do mesmo rei, o espanhol. 
Apesar de ter sobrevivido, Vila Rica entrou em decadência. Em 1674, o bandeirante 
Francisco Pedroso Xavier organizou uma bandeira com o objetivo de recolher o que restava dos 
indígenas no Guairá. Para lá se dirigiu, porém praticamente nada encontrou. Resolveu então saquear 
Vila Rica, com o argumento de que toda a regiãoentre o Paranapanema e o Rio da Prata pertencia a 
Portugal, sendo, portanto, ilegal a existência desta vila espanhola nas margens do Ivaí. 
Assaltou inicialmente quatro aldeias vizinhas de Vila Rica, aprisionando os índios. O 
bandeirante espalhou a notícia de que os portugueses dispunham de cerca de 2.000 homens. Os 
espanhóis resolveram parlamentar e, em consequência, Francisco Xavier tomou posse da vila. 
Os espanhóis de Assunción enviaram contra os paulistas uma força de 400 soldados e 700 
índios. Foram batidos por Xavier e os próprios espanhóis reconheceram que os paulistas não 
passavam de 150 homens brancos e 400 tupis-guaranis. 
A partir de então, os espanhóis abandonaram Vila Rica e retiraram-se para o Paraguai. 
 
O Paraná português: 
 
Os primeiros índios paranaenses que entraram em contato com os portugueses foram os 
Carijós, que habitavam o litoral do Paraná. Estes eram inimigos dos tupiniquins, que habitavam o 
litoral de São Paulo. Por esse motivo, inicialmente combateram também os portugueses, que eram 
 
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aliados dos tupiniquins. Este fato foi explorado contra os portugueses por Ruy Moschéra, espanhol 
que se estabeleceu ilegalmente em Iguape, em 1531. A destruição da expedição que no mesmo ano, 
com 80 homens, Martim Afonso de Souza enviou para os sertões à procura de ouro, chefiada por 
Pero Lobo, seria obra de Ruy Moschéra. 
Em 1534, Pero Lopes de Souza recebeu a Capitania de Santa Ana, e em 1543, Martim Afonso 
de Souza recebeu a Capitania de São Vicente16. A ocupação do Paraná pelos portugueses, centrada 
em Paranaguá e Curitiba, teve inicialmente, como imã, o ouro, juntamente com a caça ao índio - e é 
justamente esse contexto que analisaremos no próximo capítulo. 
Em 1562, alguns jesuítas, aproveitando a companhia de espanhóis que partiam a pé de São 
Vicente até o Prata, chegaram ao território paranaense, com o objetivo de catequizá-los. Foram 
trucidados pelos carijós, pois foram considerados como espiões dos tupiniquins. 
Entretanto, apesar destes revezes, os jesuítas da Casa da Missão de São Vicente passaram a 
realizar os seus trabalhos não só com os carijós, mas também com os nativos do planalto curitibano. 
Em 1545, o espanhol Pedro Alvares Nuñes Cabeza de Vaca, que da ilha de Santa Catarina dirigiu-se 
até Assunção, no Paraguai, encontrou, nas margens do Rio Iguaçu, um índio já convertido pelos 
jesuítas portugueses. No início do século XVII, os padres jesuítas fundaram uma Casa de Missão em 
Cananéia, donde continuaram a enviar missionários para o Sul. 
Um dos jesuítas que mais se tornou conhecido pelo seu trabalho com os índios do Paraná foi 
o padre Leonardo Nunes, cognominado pelos carijós de araré-bebe (padre voador). 
Em 1605, os padres João Lobato e Jerônimo Rodrigues trabalhavam entre os carijós. Em 
1690, trabalhava com o gentio de Curitiba o padre Melchior de Pontes. 
No século XVII, fundaram os jesuítas portugueses uma Casa de Missão em Superagui (litoral 
norte da baía de Paranaguá), donde passaram a partir catequistas até a região de Laguna. Os jesuítas 
conseguiram estabelecer-se em Paranaguá, porém alguns anos mais tarde (1759), os padres da 
Companhia de Jesus foram expulsos dos territórios portugueses. 
 
Ocupação e povoamento do Paraná: 
 
O Estado do Paraná é caracterizado, 
historicamente, por um povoamento que teve 
orientação nas diversas fases econômicas pelas 
quais percorreu (mineração, tropeirismo, madeira, 
erva-mate, café e soja). Essas fases resultaram num 
processo de povoamento irregular, no qual parcelas 
do território foram sendo ocupadas segundo as 
motivações de exploração econômica do momento. 
Na sua primeira fase de 
ocupação, a penetração foi realizada por 
iniciativas isoladas, individuais – tais 
iniciativas individuais foram impulsionadas pela concessão de sesmarias pela Coroa Portuguesa. 
Excetuando a ocupação ocidental pelos espanhóis, não houve, nos primeiros momentos um 
planejamento efetivo, sendo escasso o povoamento. 
É preciso enfatizar que o processo de ocupação econômica do território paranaense seguiu 
direcionamentos distintos, no tempo e no espaço, por meio de incursões e fluxos não muito 
definidos. 
 
Litoral (Baixada Litorânea): 
 
 
16 Os irmãos Souza não demonstraram interesse na ocupação do litoral paranaense e após a morte desses dois donatários, 
surgiu uma disputa entre seus herdeiros. 
 
Divisões geográficas do Paraná. 
 
13 
 
O litoral paranaense se localiza entre os paralelos 25º e 26º de latitude sul e 48º e 49º de 
longitude oeste. Tem uma superfície total de 6.061,2 km², que representa apenas 3% da superfície do 
Paraná, e uma população total de 225.840 habitantes em 2000 (IBGE, 2001). Em 2006, teria atingido 
280.833 habitantes, e em 2010 atingiria 311.216 habitantes, segundo estimativas do IBGE, 
acrescentando seu peso na população total do estado de 2,5% em 2000, a 2,7%, e 2,9%, 
respectivamente. 
Este litoral caracteriza-se pela sua diversidade física e biológica, que influenciou a ocupação, 
condicionando seus usos. Deste modo, a análise das inter-relações entre a base natural, a ocupação e 
seus usos podem contribuir para identificar e caracterizar conflitos e tendências. 
Do ponto de vista administrativo, o litoral paranaense é formado por sete municípios: 
Guaraqueçaba, Antonina, Morretes, Paranaguá, Pontal do Sul, Matinhos e Guaratuba. Até meados do 
século XVII, a área total pertencia ao estado de São Paulo, tendo-se desmembrado Paranaguá, em 
1648, e sucessivamente os restantes deste, sendo o último Pontal do Paraná, em 1997. São 
municípios muito próximos a Curitiba, a capital do estado: Antonina, o mais próximo, dista 63 km de 
Curitiba, e o mais longe, Guaraqueçaba, 158 km. Antonina e Morretes, localizados no fundo da Baía 
de Paranaguá, não alcançam o mar aberto, e Matinhos é o único que tem costa exclusivamente para 
mar aberto. De extensão bastante desigual, Matinhos é o menor, com 111,5 km2 (2% do total 
litorâneo); e o maior, Guaraqueçaba, com 2.159,3 km2 (35% do total). 
O espaço e a população permanente estão distribuídos de forma muito desigual, apresentando 
densidades municipais bem diferentes. Paranaguá, com apenas 11% da superfície total, concentra 
54% dos habitantes (127.339), e Guaraqueçaba, com 35% da superfície total, tem apenas 4% da 
população (8.288 habitantes). A densidade populacional média é de 38 hab/km², mas varia entre 4 
hab/ km², em Guaraqueçaba, e 217 hab/km², em Matinhos, seguido por Paranaguá, com 191 hab/km². 
A ocupação européia do Paraná iniciou-se no século XVI pelo litoral, impulsionada pela 
exploração de ouro de aluvião. Os primeiros informes datam de 1530 e relatam que do povoamento 
de São Vicente, no litoral de São Paulo, saíram numerosas expedições em busca de ouro e de 
aprisionamento de índios. Navegaram pelas baías paranaenses e nos rios que nelas deságuam, 
chegando a ultrapassar a Serra do Mar. No litoral, os colonos estabeleceram-se em Superagüi e na 
Ilha da Cotinga; e posteriormente ocorreu o povoamento nas margens do rio Itiberê, que daria origem 
à cidade de Paranaguá. Existem dados que constatam que Antonina já estava povoada em 1712. O 
crescimento populacional nessas vilas estimulou a produção de alimentos e de utensílios. 
 
Paranaguá: 
 
Segundo relatos de Hans Staden, um náufrago alemão, a região17 do litoral do Paraná já era 
conhecida e habitada pelo homem branco por volta de meados do século XVI. 
Denominada pelos índios Carijós como "Pernagoa" ("grande mar redondo") que evoluiu para 
"Pernaguá", "Parnaguá" e, definitivamente, Paranaguá; a colonização desta região do Paraná teve 
início, aproximadamente, em 1550, primeiramente na Ilha da Cotinga e movida por interesse na 
extração de ouro, que se dizia abundante na região. 
O padrão de ocupação das vilas da Ilha da Cotinga e da margem do rio Itiberê procurava uma 
localização funcional à economia e meios de transporte da época, no caso,no interior da baía, que as 
protegesse das ondas do mar e estivesse próxima a canais da baía favoráveis à navegação. 
O processo histórico posterior mostra que as atividades econômicas associadas a certas 
regiões foram mudando, e isso pautou as formas e ritmos da ocupação e uso do solo, e as mudanças 
na dinâmica populacional. 
Vinte anos depois, o paulista Domingos Peneda liderou a chegada dos pioneiros que 
conquistaram o território habitado pelos índios Carijós, onde foram construídas as primeiras 
 
17 Uma das primeiras informações que temos da região é o mapa feito por Hans Staden, quando ele aqui esteve junto com 
Martim Afonso de Sousa e seu irmão Pero Lopes de Sousa, em 1534, por ocasião da posse de suas capitanias hereditárias 
no sul do Brasil. 
 
14 
 
habitações deste novo povoado. Neste período foi iniciado o processo de comércio entre os portos de 
Paranaguá, Rio de Janeiro e Santos. 
Posteriormente, os espanhóis tomaram a região e a renomearam "Baya de la Corona de 
Castilha". O Capitão Provedor Gabriel de Lara chega em Paranaguá com sua família em 1640, 
retomando a região ao domínio da Coroa portuguesa, após o fim da União Ibérica. A extração de 
ouro pelos "faiscadores" foi intensa neste período. Em 29 de julho 1644 se transforma na Vila de 
Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá. Já em 1646 ergue-se o Pelourinho, símbolo de poder e 
justiça. 
Em 1660 se torna uma Capitania; posteriormente, foi elevada à condição de cidade em 5 de 
fevereiro de 1842. Em 1880, é fundado o Porto de Paranaguá. 
 
Antonina18: 
 
Antonina é uma das mais antigas povoações do Paraná, tendo sua região sido perlustrada a 
partir do século XVII. A efetiva ocupação deu-se em 1648 quando Gabriel de Lara, o “Capitão 
Povoador”, sesmeiro da Nova Vila (Paranaguá), cedeu a Antonio de Leão, Pedro Uzeda e Manoel 
Duarte três sesmarias no litoral Guarapirocaba, primeiro nome de Antonina, as primeiras daquela 
porção litorânea. Foram estes os primeiros povoadores de Antonina. Eram tempos de caça ao ouro, e 
este ciclo de povoamento intensificou-se com a chegada de homens sequiosos pelo metal. 
Em 1712, Manoel do Valle Porto, depois sargento-mor, estabeleceu-se no Morro da Graciosa, 
pois havia recebido uma sesmaria localizada nesta região, e a frente de grande número de escravos 
iniciou o trabalho de mineração e agricultura na região. As primeiras roçadas devastaram a selva em 
frente a ilha da Graciosa (atualmente Corisco), que comprovaram a fertilidade da terra, de grande 
valia para o povo do lugar. 
Valle Porto conseguiu provisão de licença para a construção da primeira nave da Capela de 
Nossa Senhora do Pilar no povoado, que abrigava cerca de cinquenta famílias de fiéis, em tributo a 
Virgem Maria. Desde esta época os moradores da cidade ficaram conhecidos como "capelistas". 
Em 1797 o povoado tinha 2.300 habitantes, que viviam de mineração, pesca e agricultura de 
subsistência. 
Neste mesmo ano, a 6 de novembro, a freguesia de Nossa Senhora do Pilar da Graciosa foi 
elevada a categoria de vila, com a denominação de Antonina, em homenagem ao Príncipe da Beira 
Dom Antônio. Este ato solene foi realizado na presença da nobreza e do povo em geral, que assistiu 
ao levantamento do pelourinho e da lavratura do ato. 
Em 14 de janeiro de 1798 foi empossada a primeira câmara de vereadores de Antonina, e a 
primeira providência foi a reabertura da Estrada da Graciosa, no que foram ajudados por autoridades 
curitibanas. Em 1835 a vila tinha 3.300 habitantes. 
No dia 21 de janeiro de 1857, através de Lei Provincial nº 14, torna-se município da nascente 
Província do Paraná. 
 
Morretes: 
 
Até o século XVI, a região atual do município era território dos índios Carijós, etnia indígena 
que ocupava a faixa litorânea brasileira desde Cananeia até a Lagoa dos Patos. A partir de 1646, com 
a descoberta de jazidas de ouro, a região passou a ser ocupada por mineradores e aventureiros 
provenientes da cidade de São Paulo. Em 1721, foi fundado, oficialmente, o povoado de Morretes. 
Foi o ouvidor Rafael Pires Pardinho quem determinou que a Câmara Municipal de Paranaguá 
autorizasse a medição e demarcação de trezentas braças em quadra, para a instalação do povoado de 
Morretes. A partir de meados do século XVIII, o Capitão Antonio Rodrigues de Carvalho e sua 
mulher Maria Gomes Setúbal se estabelecem em Morretes, onde logo construíram uma capela, 
 
18 O nome de Antonina é uma homenagem prestada ao Príncipe da Beira Dom António de Portugal em 1797. 
Etimologicamente existem duas fontes: primeiro, do latim "antonius" que significa inestimável, segundo, do grego 
"antheos", traduzido como flor. 
 
15 
 
dedicando-a Nossa Senhora do Porto e Menino Deus dos Três Morretes. Em 21 de julho de 1769, o 
padre Francisco de Meira Calassa abençoou a capela morretense. 
A partir desta época, o lugar teve grande crescimento, com o setor comercial tornando-se 
ponto de referência obrigatória aos viajantes de serra acima e rio abaixo. O progresso do povoado 
provocou certa rivalidade com Paranaguá, que chegou a proibir “os comércios de fazendas secas de 
lojas em Morretes", por ordem do ouvidor da Capitania no ano de 1780. No ano seguinte, a proibição 
foi revogada por ordem de Dom Martin Lopes Saldanha - governador-general da capitania. 
Quando era capelão de Morretes, o padre Francisco Xavier dos Passos conseguiu, com a 
ajuda da comunidade, reformar a antiga capela. Nesse tempo, a vida social e cultural do lugar girava 
em torno das atividades da igreja. Foram beneméritos da Capela de Nossa Senhora do Porto e 
Menino Deus dos Três Morretes, de 1797 a 1809, o tenente João Ferreira de Oliveira e, de 1810 até 
1814, o sargento-mor Antonio Ricardo dos Santos. 
Em 1º de março de 1841, através da Lei Provincial Número Dezesseis, Morretes foi elevada à 
categoria de município, com território desmembrado de Antonina. A instalação oficial se deu no dia 
5 de julho de 1841. 
 
O litoral foi a região do Paraná mais desenvolvida economicamente até o início do século 
XIX. Depois do primeiro momento centrado na produção de ouro, a economia se centrou na 
produção agrícola, e foi o litoral norte a área mais dinâmica. 
 
Primeiro Planalto: 
 
Curitiba: 
 
A região da atual Curitiba era uma região de floresta exuberante, onde reinavam as 
araucárias. Os nativos Tupi-guaranis, que habitavam a região, referiam-se a ele como Curii Tiba, que 
pode ser traduzido como “pinheiral”. 
As primeiras décadas do século XVI marcaram o início de uma guerra de conquista dos 
europeus contra os povos indígenas que habitavam os planaltos do Sul e Sudeste do Brasil. Eram 
expedições portuguesas e espanholas em busca de metais e pedras preciosas, além de índios para 
escravizarem. 
O povoamento de Curitiba está relacionado com dois fatores principais: um deles era dominar 
o interior a partir do Caminho de Peabiru; outro fator é o crescente número de pessoas que chegaram 
à região devido às informações da descoberta de ouro em Paranaguá. Chegaram formando os 
“arraiais de mineradores”, como o Arraial Queimado, Borda do Campo e o Arraial Grande. As levas 
de garimpeiros subiam o Ribeirão, atingiam o rio Assungui e deparavam ao sul com os Campos de 
Curitiba, onde vários deles se fixaram com suas famílias. Outros, vindos do litoral, galgaram a Serra 
do Mar e se estabeleceram no planalto. 
Em 1649, Eleodoro Ébano Pereira19, capitão das canoas de guerra da Costa do Sul, comandou 
uma expedição exploratória para subir os rios e atingir o planalto em busca de ouro. Para isso, 
recrutou pessoal na Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá. Estabeleceram-se, inicialmente, 
na margem esquerda do rio Atuba, entre os atuais bairros de Vila Perneta e Bairro Alto. 
Posteriormente, mudaram-se para um local às margens do rio Ivo, atual centro de Curitiba. 
Em 1654, foi fundado o povoado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba, ficando 
num local onde havia oencontro entre os mineradores e os criadores de gado. Logo em seguida, em 
1668, com a construção do pelourinho, a pequena vila foi incorporada a Paranaguá. Gabriel de Lara, 
como Procurador do Donatário da Capitania, subiu ao planalto e tomou posse da povoação que 
 
19 Eleodoro Ébano Pereira, primeira autoridade a representar o governo colonial no Sul, em ofício de 4 de março de 1649, 
comunicou a Gabriel de Lara, Capitão-mor de Paranaguá, estar investido, pelo Governador-Geral do Rio de Janeiro, das 
funções de Administrador das Minas do Distrito do Sul. A sua presença nessa região contribuiu para a formação de 
arraiais, mesmo provisórios, que foram a base dos povoados estáveis que os sucederam, originando-se, assim, o povoado 
de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais, futura Curitiba. 
 
16 
 
estava surgindo nos Campos de Curitiba. Ali concedeu ao Capitão Mateus Martins Leme a sesmaria 
do Barigui, investiu-o de autoridade para das sesmarias em nome d’El-Rei e fez levantar o 
Pelourinho na praça da Igreja, em sinal de posse e poder público. Em 1693, o povoado é elevado à 
vila. E em 1701, a vila passa a se chamar Curitiba. 
Durante o início do século XIX, o povoado já era então chamado de Nossa Senhora dos 
Pinhais de Curitiba. Possuía pouco mais de 200 casas. Mas com o início da exploração e do comércio 
da erva-mate com apoio da extração de madeiras nobres temos um novo impulso de crescimento e já 
em meados do século XIX, em 1842, Curitiba já possuía 5.819 habitantes, e era elevada a categoria 
de cidade. Já em 1853, era criada a província do Paraná. No ano seguinte, já com o nome de Curitiba, 
foi escolhida para sua capital. 
Já como província, Curitiba promove uma colonização através dos imigrantes europeus com 
foco em italianos e poloneses. Por volta de 1870 foram fundados 35 núcleos coloniais de terras de 
mata em torno dos campos de Curitiba. A cidade conhecia um novo crescimento e progresso 
desenvolvendo atividades agrícolas e a industrialização. 
 
Segundo Planalto: 
 
Campos Gerais: 
 
Os Campos Gerais, situados no segundo planalto paranaense, começaram a serem povoados 
por fazendeiros de São Paulo, Santos, Paranaguá e dos estabelecidos nos campos de Curitiba no 
início do século XVIII, quando foi descoberto ouro em Minas Gerais e se criou uma forte demanda 
por animais cavalares e muares criados em abundância nos campos do sul do Brasil e Uruguai. Essa 
demanda e essa possibilidade de negócios fizeram com que as famílias abastadas de São Paulo 
requeressem sesmarias na região e para ali enviassem parentes ou capatazes para estabelecimentos de 
fazendas de criar gado. Com o início das atividades do tropeirismo, que consistia em comprar 
animais nos campos de Vacaria, no Rio Grande do Sul, e vende-los em Sorocaba, em São Paulo, 
começaram a surgir povoações ao longo dessa rota. 
Essas povoações, que no início eram locais de pouso e repouso dos tropeiros, passaram a 
aglutinar pequenos artesãos e comerciantes e logo se transformaram em vilas e cidades, como Ponta 
Grossa, Castro, e muitas outras. Assim ocorreu a ocupação dos vastos campos naturais do Segundo 
Planalto do Paraná: enormes sesmarias em torno da rota Sorocaba – Vacaria. 
A sociedade estabelecida nos Campos Gerais se caracterizou por ser uma sociedade 
constituída de famílias patriarcais que ia além da família nuclear: ela abrigava em seu seio agregados 
e homens pobres livres protegidos por grandes proprietários; caracterizou-se também por ser uma 
sociedade sustentada pelo trabalho escravo, mesmo que esse trabalho requeresse que eles andassem 
armados para protegerem a si mesmos e o gado de seu senhor, dos índios e dos predadores; e ainda 
caracterizou-se como uma sociedade assentada na grande propriedade, nas grandes sesmarias de 
criação de gado bovino, muar e cavalar. 
 
Guarapuava. 
 
O povoamento de Guarapuava20 foi resultado de um processo histórico iniciado no século 
XVIII com as expedições do Tibagi e levado a cabo pela “Real Expedição de Conquista do 
Povoamento dos Campos de Guarapuava”, comandada por Diogo Pinto de Azevedo Portugal, que 
chegou à região em 17 de junho de 1810 e fez construir o “Forte Atalaia”, onde abrigou as primeiras 
tropas, seus familiares e povoadores que dela fizeram parte. O Forte Atalaia protegeu os 
componentes da Real Expedição dos frequentes ataques dos índios, pertencentes às três tribos que 
habitavam a região (Camés, Votorões e Cayeres ou Dorins)21. 
 
20 Do tupi-guarani: guará (lobo) e puava (bravo). 
21 História de Guarapuava. Disponível em <http://www.guarapuava.pr.gov.br/turista/historia/>. 
http://www.guarapuava.pr.gov.br/turista/historia/
 
17 
 
No século XIX, a Corte Portuguesa reagia indignada aos desassossegos que imperava nos 
territórios do sul do Brasil que estavam, no dizer das autoridades, “infestados de selvagens”. 
Documentos régios de 1808 relatavam ataques generalizados por todo o sul do Império, 
principalmente nos Campos Gerais de Curitiba, Guarapuava e nos campos das cabeceiras do rio 
Uruguai. O príncipe-regente propunha então guerra contra os índios, que matavam “cruelmente todos 
os fazendeiros e proprietários” estabelecidos nesses campos. 
Desde a expulsão de Afonso Botelho22 e suas tropas dos Côranbang-rê23, em 1772, os 
Kaingang, encorajados, faziam incursões cada vez mais ao ocidente. No início do século XIX, eram 
senhores dos territórios a oeste da “Estrada do Viamão”, e atacavam constantemente fazendas, vilas 
e viajantes nas suas imediações. 
Com a chegada de Dom João VI ao Brasil, o Império tomou uma resolução: os índios 
deveriam ser combatidos, catequizados, “civilizados” e seus territórios deveriam ceder lugar a 
prósperas fazendas de gado. O Governador da Província de São Paulo convocou Diogo Pinto de 
Azevedo Portugal para organizar a ocupação dos territórios dos Kaingang e mantê-los afastados das 
fazendas de gado. Diogo Pinto era um militar disciplinado, duro, experiente e conhecedor dos 
Campos da Guarapuava, pois ali estivera com o Capitão Paulo Chaves em 1774. Para custear a 
operação, foi criado um imposto só para cobrir as despesas da expedição. Além disso, a população 
tinha que colaborar com gente, com gado e outros instrumentos necessários. 
Dessa forma, o ano de 1810 foi marcado pela chegada aos Campos de Guarapuava de uma 
enorme expedição com mais de trezentas pessoas, das quais cerca de duzentas eram soldados. O 
objetivo da expedição era ocupar esses campos, abrindo espaço para as fazendas de criação de gado. 
Deste modo, chegaram aos Campos de Guarapuava em 17 de junho de 1810 e fundaram o 
“Forte Atalaia” – onde abrigou as primeiras tropas (o qual seria destruído em 1825 devido aos 
embates entre brancos e indígenas). Concluídas as primeiras construções, em 1812, iniciou-se o 
aldeamento dos índios24. 
De acordo com instruções recebidas, o comandante deveria fundar a povoação definitiva a ser 
a freguesia e futura cidade de Guarapuava. Entre 1812 e 1859, Guarapuava foi a primeira cidade 
brasileira a receber condenados ao degredo pela justiça como forma de ocupar a região com 
“brancos”. Durante todo o período imperial, o aldeamento foi sustentado de forma parca pelos cofres 
públicos25. 
Oficialmente, a cidade surgiu com a assinatura do Formal de Instalação da Freguesia de 
Nossa Senhora de Belém, em 09 de dezembro de 1819. Após a instalação da freguesia, passou a ser 
vila em 17 de julho de 1852 e, devido ao progresso do povoado, em 12 de abril de 1871, elevou-se à 
cidade. 
 
Palmas. 
 
Não se sabe ao certo quando, pela primeira vez, o homem branco pisou nesta região, 
denominada pelos bandeirantes de “Campos de Biturunas” e pelos indígenas de “Campos de 
 
22 Durante a segunda metade do século XVIII, verifica-se uma mudança na política portuguesa de povoamento e na 
maneira com que a Coroa passou a olhar suas colônias. O objetivo português, nesse momento, consistia em garantir a 
posse deseus territórios, via projeto político, e assim transformar toda a sua população em súditos do rei. Nesse contexto, 
foram realizadas expedições aos sertões do Tibagi, na região do atual Paraná, com o fim de explorar o território e lançar 
as bases para a sua ocupação. O responsável direto por esse empreendimento foi o ajudante de ordens do governador da 
capitania de São Paulo, Afonso Botelho de Sampaio e Souza. 
23 Os Campos de Guarapuava eram denominados pelos Kaingang como Côranbang-rê. Coran (dia ou claro); bang 
(grande); rê (campo): “Campo do claro grande” ou “clareira grande”. 
24 Conforme Rosângela Ferreira Leite, esse aldeamento durou até 1825, quando foi destruído por uma tribo rival. Mesmo 
após a devastação do aldeamento, os Kaingang, originários dos campos de Guarapuava, permaneceram na região lutando 
contra os invasores e, por vezes, promovendo revoltas contra seus tutores, os colonizadores europeus. 
25 LEITE, R. F. De aldeamento a livre pobre: os casos de Rufina e dos ervateiros do Êre (Guarapuava 1853-1873). 2013. 
Disponível em <http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S22.612.pdf> 
 
18 
 
Butiatuba”, hoje Campos de Palmas. Porém, se tem notícia que desde 1636 concentravam-se 
bandeiras paulistas na localidade.26 
Passados cinco anos da ocupação dos campos de Guarapuava, entre os rios Coutinho e 
Jordão, os colonizadores começaram a se movimentar em direção aos campos de Palmas, ao sul de 
Guarapuava. A finalidade da ocupação da região era de utilizarem as terras para invernagem e 
criação de gado27. 
Algumas comissões antes de 1839 foram realizadas, mas com insucesso. A ocupação efetiva 
dos Campos de Palmas se tornou por volta de 1838 uma questão nacional, pois a região correspondia 
ao território contestado pela Argentina na questão de limites de terras pois, apesar dos Tratados de 
Madri, Santo Ildefonso e Badajoz, a questão não fora solucionada e nem as divisas demarcadas. 
Neste sentido, José Ferreira dos Santos, que havia firmado contrato com o governo provincial de São 
Paulo (que lhe deu direito de, após escolher a sua fazenda, dar posse de terras aos outros integrantes 
do grupo) formou, sob sua chefia, uma sociedade de estancieiros guarapuavanos para conquistar e 
povoar a região. Desta forma, em 1839, os fazendeiros de Guarapuava tinham conquistado os Krei-
bang-rê (Campos de Palmas) e ali instalado trinta e sete fazendas com mais de trinta mil cabeças de 
gado, fundando o povoado de Palmas. 
Tendo como ocupação principal, inicialmente, a criação de gado e, posteriormente, o 
comércio e a invernagem de tropas, a comunidade paranaense tradicional vai ocupando toda a área. 
Nesse contexto, Palmas foi se desenvolvendo e crescendo. 
Em 28 de fevereiro de 1855, pela Lei nº 22, da Assembleia Legislativa da Província do 
Paraná, Palmas foi elevada à categoria de freguesia. Em 13 de abril de 1877, pela Lei nº 484 da 
Assembleia Legislativa da Província do Paraná, Palmas passou à categoria de Vila, com a 
denominação de Vila do Senhor Bom Jesus da Coluna dos Campos de Palmas. Pela mesma lei, 
Palmas tornou-se município autônomo. Porém, somente em 14 de abril de 1879 é que se dá a 
instalação efetiva. Ademais, pela Lei nº 586, de 16 de abril de 1880, Palmas foi elevada a termo 
judiciário, foi suprimido e mais tarde, 1889, foi restaurado, pela Lei nº 986, de 2 de novembro. 
Finalmente, em 18 de novembro de 1896, Palmas foi elevada à Comarca, pela Lei de nº 233.28 
 
Norte do Paraná. 
 
A região Norte do Estado do Paraná constituiu-se historicamente na principal região agrícola 
paranaense. O Norte do Paraná, definido pelos rios Itararé, Paranapanema, Paraná, Ivaí e Piquiri, 
abrangendo uma superfície de aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados, foi dividido em três 
áreas, segundo a época e a origem das respectivas colonizações: 
 
• Norte Velho: área que compreende a região do Rio Itararé até à margem direita do Rio 
Tibagi, colonizado entre os anos de 1860 a 1925; 
• Norte Novo: delimitado pelos rios Tibagi, Ivaí e Paranapanema colonizados entre 1920 e 
1950; 
• Norte Novíssimo: região que se desdobra da linha traçada entre as cidades de Terra Rica e 
Terra Boa, até o curso do Rio Paraná, ultrapassando o Rio Ivaí e abarcando toda a margem 
direita do Rio Piquiri, colonizado desde 1940 até 1960. 
 
Conhecido no mundo inteiro há aproximadamente 30 anos, o norte paranaense permaneceu 
incógnito até a década de 1930. No início, predominava uma colonização espontânea que 
acompanhou o percurso futuro da ferrovia São Paulo-Paraná. Contudo, há de se destacar um fator de 
 
26 LAGO, Lourdes Stefanello. Origem e evolução da população de Palmas - 1840-1899. Dissertação de Mestrado em 
História. Universidade Federal de Santa Catarina, 1987. 
27 WEIGERT, Danielle. Escravidão, compadrio e família em Palmas na Província do Paraná: um estudo de trajetórias de 
famílias cativas. 2009. Disponível em < http://www.escravidaoeliberdade.com.br/site/images/Textos4/danieleweigert.pdf 
>. 
28 Idem. 
 
19 
 
extrema importância: conforme citamos, o território permaneceu incógnito, ou seja, desconhecido, e 
não desabitado. Isto é, não há uma continuidade étnica e cultura entre os habitantes de hoje e as 
populações pré-históricas e indígenas que viveram nos territórios entre os rios Tibagi e Ivaí. Para 
existir Maringá e todas as demais regiões, foi necessário expulsar, destruir e confinar as populações 
nativas que habitavam tais localidades. Da mesma maneira que se substituíram as populações 
indígenas por brasileiros e migrantes de outros países, também foi necessário destruir grandes 
regiões de mata nativa para implantar o modelo econômico agropastoril. Aliás, no interior dessas 
matas, antes da chegada do homem branco, as populações Guarani e Kaingang realizavam atividades 
cultivares de baixo impacto ambiental – quando comparados com as atividades dos séculos 
posteriores à presença europeia e migrante – e adaptada aos ciclos biológicos naturais. 
Conforme diversos pesquisadores colocam, é importante ressaltar essa reflexão das 
populações nativas que residiam no Norte paranaense para desmistificar a ideia oficial de que no 
Paraná havia territórios vazios, desocupados, antes da chegada do colonizador das primeiras décadas 
do século XX. Os interesses do Governo e das empresas colonizadoras criaram e fortaleceram a ideia 
de que a região era um vazio demográfico: incorporando este aspecto na história oficial, narrada a 
compradores de terras e suas famílias colonizadoras. 
A formação étnica do norte do Paraná reflete sua própria história. Encontram-se na ocupação 
destas terras um complexo jogo de interesses entre novos proprietários e nativos que por milhares de 
anos permaneceram ocultos a civilização ocidental. Este arcabouço torna-se um vasto campo de 
pesquisa para a história fazendo-se necessário recolocar cada personagem em seu lugar devido, 
partindo da premissa de que muitos agrupamentos coexistiram no decorrer de séculos. Os 
desbravadores de terras do século XX representam apenas uma peça deste diverso quadro histórico, 
havendo também outros grupos humanos anteriores a eles que devem ser registrados pela 
historiografia contemporânea, como: 
 
• Os índios responsáveis pela formação das primeiras populações humanas desta região. 
• Bandeirantes e grupos de aventureiros que aqui vieram em busca de riquezas naturais 
e mão-de-obra escrava a partir do século XVI, sendo eles portugueses e/ou espanhóis. 
• Os religiosos jesuítas que fundaram várias Reduções com o intuito de catequizar os 
nativos. 
• Caboclos que habitaram a região antes da chegada da colonização realizada pelas 
Companhias nos anos de 1930, 40. 
 
Assim verificamos que a história do norte do Paraná deve ser delineada levando-se em conta 
a sua pluralidade étnico-cultural e sua complexidade histórica. 
A ocupação contemporânea desta faixa de terras, trouxe consigo a triste realidade do 
desmatamentoda floresta, assim como em outras regiões do Brasil, dando espaço ao 
desenvolvimento da agricultura com fins de exportação de grãos, especificamente a produção do 
café, trazendo para a região, homens que vislumbravam ideais grandiosos de progresso e 
desenvolvimento econômico. A decisão do Estado valorizou a escolha do desenvolvimento 
econômico sacrificando o meio-ambiente. O modelo de ocupação capitalista resultou em uma grande 
devastação nas áreas cobertas pela floresta. 
As terras do norte do estado foram colocadas à venda em meados dos anos 20, empresas 
colonizadoras particulares, especificamente a (CTNP) Companhia de Terras Norte do Paraná e o 
próprio Estado foram responsáveis pelas negociações. A partir de 1939 o governo do Estado decidiu 
promover também, a venda de terras deste território que ainda faziam parte de seu patrimônio. 
O desenvolvimento da região se fez através da aquisição de lotes rurais pelos agricultores 
interessados em abrir o mato, limpar o terreno e plantar o cafezal, juntamente com plantações de 
subsistência. Fazia parte do planejamento das companhias de colonização e também do projeto do 
Estado, promover o desenvolvimento da infraestrutura necessária à região, estradas seriam abertas, 
cidades seriam fundadas, objetivando a fixação da população, o escoamento da produção cafeeira e o 
consequente progresso do território. 
 
20 
 
 
Colônia de Jataí. 
 
O Barão de Antonina, em meados do século XIX, visando à abertura de uma estrada que 
comunicasse os Campos Gerais paranaenses com a Província de Mato Grosso, fundou uma colônia 
militar. Foi então, em 1855, erigida a colônia, localizada à margem direita do rio Tibagi, num de seus 
trechos navegáveis: o Porto de Jataí. Essa colônia militar, apesar de seu grande isolamento 
continuou, devido a sua localização estratégica, próxima da Província de Mato Grosso, sobre a qual 
pairava a ameaça de invasão por parte do Paraguai. Ainda sob a direção do Barão de Antonina, 
fundaram-se dois aldeamentos indígenas: o de São Pedro de Alcântara e de São Jerônimo. 
Apesar da sua localização estratégica, porém isolada, a colônia militar de Jataí não se 
desenvolveu satisfatoriamente. Foi, no entanto, o primeiro núcleo de povoamento no norte do Estado, 
juntamente com os dois aldeamentos indígenas. 
 
Famílias Colonizadoras. 
 
Em 1867, deslocava-se de Itajuba, Minas Gerais, a numerosa família patriarcal do Major 
Tomás Pereira da Silva, composta de 200 indivíduos, aproximadamente. Trouxe todos os 
instrumentos agrários necessários, alimentos e escravos. Estabeleceu-se às margens do rio das Cinzas 
e iniciou o cultivo das terras. No local, existe hoje o município de Tomazina. 
Por volta de 1886, veio a família do fluminense Antonio Calixto. Em 1888, a família mineira 
dos Alcântara, com grande comitiva, estabelecia-se na região, e deu origem, juntamente com a 
família Calixto, à atual cidade de Jacarezinho. 
A notícia da fertilidade das terras logo de espalhou e apesar das dificuldades existentes 
inúmeras famílias, mineiras e paulistas, ali vieram estabelecer-se. Surgem, em seguida, no nordeste 
do Estado, novas povoações como Ribeirão Claro, S. Antonio da Platina, Carlópolis, Siqueira 
Campos etc. Grande número de seus povoadores provinha da Província de Minas Gerais, como atesta 
o antigo nome de Siqueira Campos: Colônia Mineira. 
A porta de entrada para o povoamento do nordeste do Estado foi Ourinhos, localizada no 
Estado de S. Paulo. Por ali entrou a maioria dos colonizadores. 
 
Norte pioneiro. 
 
 
 
No século XX, começava a expansão do Norte Velho entre o Paranapanema e o Tibagi. Em 
princípios do século, o major Antonio Barbosa Ferraz Junior, agricultor de Ribeirão Preto, sentindo 
os efeitos da exaustão de suas terras, resolveu transferir-se para o Paraná, experimentando a 
fertilidade do solo norte-paranaense. Comprando uma grande gleba entre Ourinhos e Cambará, ele 
desbravou uma extensa área e plantou um milhão de cafeeiros. Conhecido o êxito dessa iniciativa, 
outros lavradores adquiriram terras da miraculosa região. Sua euforia, porém, foi logo turbada pelo 
difícil escoamento de safras abundantes, deterioradas pela falta de comunicações, só corrigida com a 
formação, de redes viárias. Os pioneiros Barbosa Ferraz, Willie da Fonseca Brabazon Davids, e 
 
21 
 
Antônio Ribeiro dos Santos, apoiados por proprietários locais, formaram logo a Companhia 
Ferroviária São Paulo-Paraná e entregaram a execução do projeto e da construção do trecho 
Ourinhos-Cambará ao Eng. Gastão de Mesquita Filho, que teria, durante meio século, uma atuação 
destacada na região. Concluídos os trabalhos, a partir de 1925, sempre houve um tráfego normal 
entre as duas cidades. Infelizmente, a construção ficou retida em Cambará até 1929, quando se 
decidiu o futuro da ferrovia. 
A sociedade que surgiu no Norte Pioneiro a partir do século XIX apresentava, de modo geral, 
as mesmas características da paulista e mineira dos tempos coloniais: patriarcal, escravocrata e 
latifundiária. Embora a instituição da escravatura não se apresentasse dominante pois dava fortes 
sinais de desagregação, tanto na região como em todo o país. Com estes sintomas, a sociedade do 
Norte Pioneiro nasceu com características patriarcais e principalmente latifundiárias. Contudo, nem 
toda a população aí estabelecida no século XIX estava ligada aos latifundiários. 
A cultura do café, do final do século XIX, nunca se desenvolveu plenamente. Plantavam 
algodão, arroz, feijão e fumo. Praticamente não havia comunicação com o restante do território 
paranaense. 
Pequenos sitiantes e/ou posseiros também conseguiram estabelecer-se na região. A maioria da 
população poderia ser considerada pobre. Mesmo os grandes proprietários tinham dificuldades de 
conseguir numerários. Os produtores não tinham condições de escoar sua produção. Os pequenos 
ofereciam seus produtos aos grandes proprietários. 
No começo do século os porcadeiros que atravessavam o Itararé tinham um grande serviço. 
Neste sentido, a grande produção de suínos no Norte Pioneiro atraiu a atenção dos grandes 
frigoríficos brasileiros. A firma paulista de Francisco Matarazo resolveu instalar-se na região com 
um grande frigorífico na região de Jaguariaíva. 
 
Norte pioneiro. 
 
A derrubada das imensas matas primitivas a partir de 1935 a oeste do Rio Tibagi com a 
expansão da cafeicultura ilustra o período em que um Estado em dificuldade faz dessas terras 
públicas um alvo de um dos maiores investimentos imobiliários privados que se tem notícia. 
Concessões de terras a empresas de colonização privada foram responsáveis pelo “loteamento” da 
boa parte no norte paranaense, atraindo capital estrangeiro para ocupar as terras. 
 
 
 
Colonização Particular - Companhia de Terras do Norte do Paraná. 
 
Em 1924, veio ao Brasil uma missão inglesa chefiada por Lord Montagu e tendo como 
assessor Lord Lovat, que estava incumbido pelos acionistas da Sudan Plantations, de estudar a 
possibilidade dessa empresa aplicar recursos no Brasil, no sentido de produzir o algodão, que 
importava em larga escala, para suprir a florescente indústria têxtil inglesa. 
Com a visita desta missão ao Brasil, surgiu a convergência de interesses que iriam resultar no 
grande empreendimento colonizador do Norte do Paraná; de um lado Lord Lovat, em busca de 
informações sobre a nossa agricultura e de terras adequadas para o algodão; de outro lado, os 
fazendeiros do norte velho, liderados pelo Major Barbosa Ferraz e por Antonio Ribeiro dos Santos, 
 
22 
 
que procuravam por investidores estrangeiros na aplicação de capitais necessários à continuação das 
obras da Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná. 
Entusiasmado com a qualidade das terras, em 1924, Lord Lovat, juntamente com outros 
investidores, fundaram a Brazil Plantations Syndicate Ltda. 
A Paraná Plantations surgiu em 1925 quando a Brazil Plantations resolveu criar duasempresas para executar um plano imobiliário. A Paraná Plantations era sediada em Londres e a 
Companhia de Terras Norte do Paraná tinha sede em São Paulo, que tinha planos colonizadores e 
imobiliários. Contudo, antes de se criar a Paraná Plantations, a Brazil Plantations tinha passado por 
prejuízos na tentativa de plantar algodão nas fazendas Guatambi, Santa Emília e Caiuá, bem como 
uma usina de beneficiamento de algodão em Bernardino de Campos de São Paulo. Os prejuízos 
aconteceram devido à queda dos preços no mercado internacional, à qualidade das sementes e 
também aos problemas resultantes do movimento paulista de julho de 1924. 
Então, para tentar ressarcir dos prejuízos, foram criadas a Paraná Plantations e a Companhia 
de Terras do Norte do Paraná. O projeto da CTNP não visava apenas ao projeto imobiliário, que 
pelas informações que possuíam, seria bastante lucrativo. A empresa foi instituída em 24 de 
setembro de 1925, com um capital de 1.460.000 libras, em ações e 375.000 libras, em obrigações. 
Seu primeiro gerente administrativo foi Arthur Thomas e o primeiro presidente da companhia foi 
Antonio Moraes Barros, estes tomavam as decisões para estrutura-la e iniciar suas atividades 
Os ingleses também queriam uma ferrovia, pois nesta área tinha muita experiência devido à 
anteriores empreendimentos no mundo todo. Deste modo, foi projetada a estrada de ferro “São Paulo 
– Paraná” ligando Ourinhos a Cambará. Com essa estrada de ferro, estava definitivamente ligado o 
Norte do Paraná aos centros consumidores, como São Paulo, e exportadores, como Santos. Com o 
prolongamento da estrada de ferro, que garantia aos compradores o escoamento de seus produtos e a 
valorização das áreas adquiridas poderia tornar-se muito lucrativo um empreendimento de 
colonização agrícola. 
Para isso, a “Paraná Plantation” desdobrou-se em duas companhias: além da “Companhia de 
Terras Norte do Paraná”29, criou-se a “Companhia Ferroviária São Paulo – Paraná”30. 
Foi escolhido o local que seria a sede das atividades da Companhia, bem como o centro da 
colonização. Recebeu o nome de Londrina, em homenagem a Londres. 
Em 1928 cessaram as atividades da Companhia com o algodão, devido aos fracassos nas 
plantações dos fazendeiros em São Paulo. A diretoria da empresa passou a concentrar os seus 
esforços, a partir de então na colonização das terras adquiridas na margem esquerda do rio 
Paranapanema, entre os rios Tibagi e Ivaí. 
O plano de ação desenvolvido pela Companhia de Terras Norte do Paraná concentrou-se em 
três atividades principais: Companhia Melhoramentos Norte do Paraná: 
 
• Colonização, incluindo o planejamento loteamento e a venda de terras. 
• Construção de estradas, essenciais ao escoamento de produção, ligando vários núcleos 
de povoamento entre si e com os principais centros do país. 
• Implantação de núcleos urbanos, destinados a concentrar as atividades econômicas e 
sociais e servir como irradiadores de todas as obras colonizadas. 
 
No dia 27 de março de 1930, o imigrante japonês Mitsugi Ohara adquiriu da Companhia de 
Terras do Norte do Paraná, o primeiro lote de terras vendida pela empresa na região do norte 
paranaense. 
Depois de Mitsugi Ohara, milhares de colonos entraram na região. A expansão das frentes 
cafeeiras, contidas nas áreas tradicionais pelo Acordo de Taubaté, além de outros fatores como a 
capitalização dos colonos de São Paulo e que procuraram novas áreas para ter produção própria, e 
 
29 Tinha como finalidade lotear e revender em pequenas propriedades os 12.643 km², de terras devolutas adquiridas do 
governo do Estado. 
30 Teria a função de continuar os trilhos de Cambará, até o local do loteamento. 
 
23 
 
ainda a alta fertilidade das terras da região, foram os fatores que facilitaram à Companhia de 
Melhoramentos a rapidez da colonização da região. 
Os grupos sociais que se formavam nestas comunidades eram bem distintos. Existia o caso do 
“fazendeiro” que possuía mais recursos e poderia instalar uma pequena empresa capitalista baseada 
na exploração da terra, na aplicação do capital, podendo, neste caso, contratar mão-de-obra para o 
manejo da terra e para as atividades ligadas ao funcionamento da propriedade. Do outro lado, 
também existia o “pequeno proprietário” normalmente ligado à agricultura familiar, plantando o café 
e cultivando produtos para sua subsistência, criando por vezes algumas cabeças de gado; e considera-
se também uma “população móvel” que trabalhava no período da colheita e posteriormente partia 
para outros lugares em busca de trabalho. 
Esse fracionamento das terras foi um dos maiores responsáveis pelo êxito da implantação da 
cultura cafeeira. O baixo preço dos lotes e as facilidades de pagamento permitiram que um número 
muito grande de colonos oriundos principalmente de São Paulo e também Minas Gerais (e em menor 
número do Nordeste brasileiro) viessem para a região entre as décadas de 1930 e 1950 com vistas à 
produção de café. 
Em 1931, já se registrava a venda de 3.000 alqueires. Os compradores acorreram em grande 
número, atraídos pelos preços e pela propaganda da Companhia. 
A estrada de ferro sempre acompanhou a penetração do loteamento da Companhia. Atingiu 
Jataizinho em 1931, Londrina em 1935, Apucarana em 1937 e finalmente Maringá. 
Com a deflagração da segunda Guerra Mundial, em 1939, a Inglaterra foi obrigada a dispor 
de muitos de seus bens no exterior, a imprensa de Londres publicou uma lista de empresas oferecidas 
à venda em todo o mundo. Nessa lista publicada pela imprensa de Londres em 1942, estava posta à 
venda a Companhia de Terras Norte do Paraná. 
Esta empresa, Companhia de Terras Norte do Paraná, foi adquirida por empresários paulistas 
e o Governo Federal concordou com a transação, mas sob as condições de que a estrada de ferro, que 
já se estendia até Apucarana, lhe fosse entregue por 88.000.000 (oitenta e oito contos de réis). Em 
1950 assume o cargo de Diretor o Dr. Hermann Moraes de Barros, sob sua supervisão realizou-se a 
compra da Gleba Umuarama, com cerca de 30 mil alqueires, que permitia ampliar suas atividades 
colonizadoras. 
A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná diversificou-se em outras atividades, como 
por exemplo; pesquisou calcário em Itapeva-SP, construiu a usina hidroelétrica do Apucaraninha, 
adquiriu a usina de açúcar em Jacarezinho, etc. 
A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná possibilitou o crescimento da região. Esta 
pretendia através da colonização, a exploração das terras no cultivo de algodão para atender a 
demanda do mercado externo e a seguir com o café que se tornou a principal atividade da região e, 
do Brasil, durante décadas. 
A economia cafeeira deu o crescimento ao Norte do Paraná e a Companhia Melhoramentos o 
tornou integral e competitivo no mercado nacional. Aqui não ocorreu o atraso que se verificou em 
outras áreas do Brasil; a colonização e a exploração da terra foram feitas por meio de pequenas e 
médias propriedades, o que não ocorreu no Norte e Nordeste do Brasil, onde a exploração das terras 
deu-se por meio do latifúndio. Talvez pela própria necessidade de capital, não houve interesse no 
Nordeste, pela exploração de pequenas e médias propriedades. 
A Companhia não estava interessada em grandes latifúndios, pois era muito oneroso a 
estrutura para o plantio do café. Era preciso que a colonização se desse através de pequenos lotes e 
que os próprios proprietários tivessem condições de pagar. A área rural era dividida em lotes que 
variavam de cinco (5) a trinta (30) alqueires e o prazo de pagamento era de até quatro (04) anos com 
juros de 8 % a.a., no total a Companhia Melhoramento Norte do Paraná colonizou uma área de 
456.078 alqueires ou 1.321.499 hectares. 
Dentre os principais fatores responsáveis pelo sucesso da cafeicultura no Estado e pela rápida 
ocupação do norte paranaense (Tabela 01), pode-se destacar: i) a qualidade da terra; ii) a política 
econômica

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