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Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 01/07/2020 MUDE SUA VIDA! 1 AULA 1 – BRASIL COLÔNIA 1. O SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS 1.1 ESTRUTURA POLÍTICO-ADMINISTRATIVA Logo após a chegada dos portugueses à sua nova colônia, a primeira atividade econômica girava em torno da exploração do pau-brasil, existente em grande quantidade na costa brasileira, principalmente no nordeste do País. Esse período ficou conhecido como Ciclo do Pau-Brasil. A exploração do pau-brasil foi meramente extrativista e não deu origem a uma ocupação efetiva. O trabalho de derrubar árvores e preparar a madeira para embarque era feito pelos indígenas e uns poucos europeus que permaneciam em feitorias na costa. Explorado de forma predatória, as árvores próximas da costa desapareceram já na década de 1520. Várias expedições foram enviadas por Portugal, visando reconhecer toda costa brasileira e combater os piratas e comerciantes franceses. As mais importantes foram as comandadas por Cristóvão Jacques (1516 e 1526), que combateu os franceses. Também Martim Afonso de Sousa (1532), combateu a pirataria francesa. Da mesma forma, ele instalou e m São Vicente, a primeira povoação dotada de um engenho para produção de açúcar. 1.1.1 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS Para colonizar o Brasil e garantir a posse da terra, em 1534, a Coroa dividiu o território em 15 capitanias hereditárias. Estas eram imensos lotes de terra que se estendiam do litoral até o limite estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas. Esse sistema consistia na distribuição de grandes lotes de terra para grupos de fidalgos, os quais eram pessoas da pequena nobreza portuguesa. A partir de então, foram chamados de capitães donatários. Essas pessoas ficavam encarregadas de povoar e defender a parte que lhes cabia do ataque de estrangeiros, entre outras responsabilidades. Eram administradores das terras em nome da Coroa portuguesa e podiam passar o governo para seus descendentes, caso cumprissem com os compromissos assumidos com a Coroa. Traziam nas mãos dois documentos reais: a carta de doação e os forais. No primeiro o rei declarava a doação e tudo o que ela implicava. O segundo era uma espécie de código tributário que estabelecia os impostos. O objetivo dessa doação era transferir aos donatários os custos com a colonização. A empresa açucareira foi escolhida, porque apresentava possibilidade de vir a ser um empreendimento altamente lucrativo, abastecendo o grande mercado de açúcar da Europa. Foi no nordeste do país que a atividade açucareira atingiu seu maior grau de desenvolvimento, principalmente nas capitanias de Pernambuco e da Bahia. Por uma série de fatores, o sistema administrativo de capitanias hereditárias não deu certo, sendo substituído pelo sistema de Governo Geral. 1.1.2 GOVERNO GERAL O sistema de Governo Geral foi criado em 1548, pela Coroa, com o objetivo de organizar a administração colonial. O primeiro governador foi Tomé de Souza (1549 a 1553), que recebeu do governo português, um conjunto de leis. Estas determinavam as funções administrativas, judicial, militar e tributária do Governo Geral. O segundo governador geral foi Duarte da Costa (1553 a 1558), e o terceiro foi Mem de Sá (1558 a 1572). Em 1572, depois da morte de Mem de Sá e de seu sucessor Dom Luís de Vasconcelos, o governo português dividiu o Brasil em dois governos cuja unificação só voltou em 1578: • Governo do Norte, com sede em Salvador • Governo do Sul, com sede no Rio de Janeiro Em 1580, Portugal e todas as suas colônias, inclusive o Brasil, ficaram sob o domínio da Espanha, situação que perdurou até 1640. Este período é conhecido como Unificação Ibérica. Em 1621, ainda sob o domínio espanhol, o Brasil foi novamente dividido em dois estados: o Estado do Maranhão e o Estado do Brasil. Essa divisão durou até 1774, quando o Marquês de Pombal decretou a unificação. 1.2 ESTRUTURA SOCIOECONÔMICA Destarte, é possível afirmar que a lógica do sistema colonial acabou dando certo com a empreitada lusitana. O sistema colonial é o conjunto de relações entre as metrópoles e suas respectivas colônias em uma determinada época histórica. O sistema colonial que nos interessa abrangeu o período entre o século XVI e o século XVII, ou seja, faz parte do Antigo Regime da época moderna e é conhecido como antigo sistema colonial. Segundo o seu modelo teórico típico, a colônia deveria ser um local de consumo (mercado) para os produtos metropolitanos, de fornecimento de artigos para a metrópole e de ocupação para os trabalhadores da metrópole. Em outras palavras, dentro da lógica do “Sistema Colonial Mercantilista” tradicional, a colônia existia para desenvolver a metrópole, principalmente através do acúmulo de riquezas, seja através do extrativismo ou de práticas agrícolas mais ou menos sofisticadas. Uma Colônia de Exploração, como foi o caso do Brasil para Portugal, tem basicamente três características, conhecidas pelo termo técnico de “plantation”: https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 01/07/2020 MUDE SUA VIDA! 2 • Latifúndio: as terras são distribuídas em grandes propriedades rurais • Monocultura voltada ao mercado exterior: há um “produto-rei” em torno do qual toda a produção da colônia se concentra (no caso brasileiro, ora é o açúcar, ora a borracha, ora o café...) para a exportação e enriquecimento da metrópole, em detrimento da produção para o consumo ou o mercado interno. • Mão-de-obra escrava: o negro africano era trazido sobre o mar entre cadeias e, além de ser mercadoria cara, era uma mercadoria que gerava riqueza com o seu trabalho. A atividade colonizadora europeia aparece como desdobramento da expansão puramente comercial. Passou-se da circulação (comércio) para a -produção. No caso português, esse movimento realizou-se através da agricultura tropical. Os dois tipos de atividade, circulação e produção, coexistiram. Isso significa que a economia colonial ficou atrelada ao comércio europeu. 2. SOCIEDADE DO AÇÚCAR Em conformidade com sua ação exploratória, Portugal viu na produção do açúcar uma grande possibilidade de ganho comercial. A ausência de metais preciosos e o anterior desenvolvimento de técnicas de plantio nas Ilhas do Atlântico ofereciam condições propícias para a adoção dessa atividade. A economia açucareira no Brasil corresponde ao período colonial do século XVI. O açúcar representou a primeira riqueza produzida no país, acompanhada da ocupação do mesmo. Deu origem às três primeiras capitanias: Pernambuco, Bahia e São Vicente. Localizadas nas costas litorâneas do território, fizeram com que o Brasil se tornasse o maior produtor e exportador de açúcar da época. Pernambuco era a capitania mais rica, tinha as maiores fazendas e era a mais poderosa. Desse estado saiu a maior produção de açúcar do mundo. O pacto colonial assegurava que tudo que fosse produzido no Brasil seria comercializado com a metrópole portuguesa e assim foi estabelecido um monopólio comercial dos portugueses que puderam comercializar com outros países europeus e ficar com a maior parte dos lucros. Ou seja, a colônia produzia, entregava sua produção a preços baixos e comprava os escravos a preços altos. Portugal sempre ficava ganhando em qualquer negociação. A sociedade da região açucareira dos séculos XVI e XVII era composta, basicamente, por dois grupos. O dos proprietários de escravos e de terras compreendia os senhores de engenho e os plantadores independentes de cana. Estes não possuíam recursos para montar um engenho para moer a sua cana e, para tal, usavam os dos senhores de engenho. O outro grupo era formado pelos escravos, numericamente muito maior, porém quase sem direito algum. Entre esses dois grupos existia uma faixa intermediária: pessoas que serviam aos interesses dos senhores como os trabalhadores assalariados (feitores, mestres-de-açúcar,artesãos) e os agregados (moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção e auxílio). Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos, funcionários e comerciantes. Os escravos eram trazidos da África através de navios negreiros, chegando em péssimas condições, doentes ou resultando na morte de alguns. As condições climáticas favoreceram o cultivo de cana e as regiões em que essa cultura se desenvolveu proporcionaram praticidade para o transporte desses seres humanos. Para produzir o açúcar através da cana era necessária a casa da moenda, um cômodo construído mais baixo que a casa grande, normalmente próximo a um rio para que assim a água conseguisse passar pela casa. Havia duas portas, uma para entrada da carroça e outra para a saída. Toda engrenagem era feita na moenda que era movimentada por força humana escrava. Esta espremia a cana e o caldo que saía escorrendo por calhas até às caldeiras, o lugar mais perigoso da produção, pois era quente e o risco de queimadura era grande uma vez que o caldo era todo fervido. Depois que o caldo era cozido, ficava na casa de purgar por vários dias até saírem todas as impurezas e se transformar em açúcar. Nesse sistema também havia trabalhadores livres que tinham salários. Eles eram especialistas na produção do açúcar. Outro assalariado era o feitor-mor que era um empregado de confiança do senhor de engenho e cumpria a função de delegar tarefas aos outros trabalhadores e administrar a produção do açúcar. Os donos das pequenas terras também podiam plantar cana e vender para os grandes proprietários de engenho. Acabavam sempre ficando dependentes de quem possuía grandes posses uma vez que não tinham o mecanismo para produzir o açúcar em si, nem a mão de obra. Alguns senhores eram apenas proprietários de escravos e também vendiam aos grandes senhores, ou os deixavam plantar em sua propriedade e como forma de pagamento ficava com uma porcentagem dos lucros. A sociedade açucareira era patriarcal. A maior parte dos poderes se concentrava nas mãos do senhor de engenho. Com autoridade absoluta, submetia todos ao seu poder: mulher, filhos, agregados e qualquer um que habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar proteção à família, recebendo, em troca, lealdade e deferência. https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 01/07/2020 MUDE SUA VIDA! 3 Essa família podia incluir parentes distantes, de status social inferior, filhos adotivos e filhos ilegítimos reconhecidos. Seu poder extrapolava os limites de suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a vida colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização familiar implantado na sociedade colonial. Para o núcleo doméstico convergia a vida econômica, social e política da época. A partir do século XVII a economia açucareira entra em declínio devido à expulsão dos holandeses no norte do Brasil e à tomada de posse novamente do lugar que eles ocuparam. Os holandeses começaram a plantar e comercializar cana de açúcar em suas colônias nas Antilhas, fato que contribuiu para uma forte concorrência com os europeus deixando a preferência do açúcar brasileiro de lado. Embora a produção não tenha parado, ela diminuiu bastante e os colonos começaram a se voltar a outras culturas e posteriormente para o ouro. Isso ocorreu dentro do contexto da União Ibérica. 2.1 UNIÃO IBÉRICA A União ibérica foi a unidade política que regeu a Península Ibérica de 1580 a 1640, resultado da união dinástica entre as monarquias de Portugal e da Espanha após a Guerra da Sucessão Portuguesa. Na sequência da crise de sucessão de 1580 em Portugal, uma união dinástica que juntou as duas coroas, bem como as respectivas possessões coloniais, sob o controle da monarquia espanhola durante a chamada dinastia Filipina. A derrota na batalha de Alcácer-Quibir em 1578, que resultou na morte do jovem rei português D. Sebastião, ditou o fim da Dinastia de Avis. O sucessor, seu tio Cardeal Henrique de Portugal, tinha 70 anos na época. À sua morte, em 31 de janeiro de 1580, seguiu- se uma crise de sucessão, com três netos de D. Manuel I de Portugal a reivindicar o trono: Catarina, infanta de Portugal, duquesa de Bragança, António, Prior do Crato e Filipe II de Espanha. A maioria dos membros do Conselho de Governadores do Reino de Portugal apoiou Filipe. Após partirem para Espanha, declaram-no o sucessor legal do Henrique. Filipe II de Espanha foi coroado como Filipe I de Portugal em 1581, sendo reconhecido como rei pelas Cortes de Tomar, iniciando a Casa de Habsburgo portuguesa, a chamada dinastia Filipina. 3. SOCIEDADE DA MINERAÇÃO Em 1674, saiu de São Paulo a bandeira comandada pelo bandeirante Fernão Dias Pais em direção à Serra de Itaberaba, onde foram achados sinais da existência de ouro. Em 1694, outro bandeirante paulista, Bartolomeu Bueno da Siqueira, descobriu ouro na Serra de Itaberaba. A notícia da descoberta de ouro atraiu gente de toda a colônia para a região das Minas. Desde o início do século XVIII, a população dessa região ia crescendo, conforme surgiam notícias de descoberta de mais minas. Diante disso e desejando ficar com a maior parte desse ouro, Portugal resolveu organizar a sua exploração. Após décadas de crise econômica – desde o final da União Ibérica –, Portugal finalmente realizava o sonho de extrair ouro de sua colônia, a exemplo do que os espanhóis já faziam desde que chegaram à América. Para o Brasil, a extração aurífera representou mudanças significativas na organização social e econômica, pois começou a existir maior mobilidade social, além de um mercado interno de consumo. O Centro-Sul passou a ocupar o posto de região mais importante do Brasil, ultrapassando o Nordeste. A população nas áreas das minas (Minas Gerais e Mato Grosso) aumentou de forma vertiginosa, efetivando a ocupação de boa parte do interior da colônia. Isso leva a pensar que a atividade de extração de ouro no Brasil foi um divisor de águas em sua história colonial. A exploração do ouro não exigia grande investimento, e as técnicas utilizadas eram bastante rudimentares. O minério obtido nessa época foi basicamente o chamado “ouro de aluvião”, aquele que fica na superfície dos leitos dos rios. A organização da produção deu-se por meio de unidades conhecidas como datas ou lotes, representadas de duas maneiras: Lavras: unidades de grande porte, que dispunham de aparelhos mais sofisticados e usavam grande número de escravos. Faisqueiras: unidades pequenas e móveis, trabalhadas pelos próprios interessados ou por mineradores com poucos escravos. Já em 1702, o governo português promulgou um regimento que definia a forma de exploração dos metais. Em linhas gerais, as minas – divididas em datas – eram repartidas da seguinte forma: o seu descobridor tinha direito a uma data; a Coroa portuguesa também ficava com uma data; as demais eram sorteadas ou distribuídas entre mineradores interessados. Os candidatos donos de mais escravos tinham mais chance de obter as melhores datas. O Regimento de 1702 criou a Intendência das Minas, um órgão administrativo que tinha como principais tarefas reprimir o contrabando e a sonegação de impostos e cobrar o quinto. Esse imposto, que correspondia a 20% das riquezas encontradas, deveria ser pago pelos mineradores ao rei de Portugal. A propósito, Portugal cobrava muitos outros impostos sobre a atividade mineradora e sobre o comércio que circulava nas áreas das minas. Não existem registros seguros sobre o montante de ouro que era extraído e não era comunicado à Intendência: era contrabandeado para não pagar o quinto. Pelo total de https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 01/07/2020 MUDE SUA VIDA! 4 ouro brasileiro que chegou à Europa durante o século XVIII, calcula-seque a quantidade de ouro exportada de forma clandestina equivalente à que foi legalmente registrada. Os colonos usavam os mais variados disfarces para retirar o ouro da região das Minas e levá-lo aos portos, onde era embarcado para a Europa. O disfarce mais conhecido foi o santo do pau oco – imagem religiosa aparentemente esculpida em madeira maciça, mas que era oca e tinha seu interior recheado de ouro ou de pedras preciosas. Assim como o contrabando foi uma das características da exploração mineira, também o foram as tentativas dos portugueses de acabar com ele. Em 1720, começaram a funcionar as Casas de Fundição, que tinham a função de transformar o ouro em pó em barras marcadas com o selo da Fazenda Real. Somente podiam circular barras devidamente seladas; as que fossem pegas sem a chancela oficial eram consideradas contrabando, e seus donos eram condenados por praticarem o comércio ilegal do ouro. No momento da fundição, já era descontada a parte correspondente a 20%, o quinto, que, pela lei, pertencia ao rei de Portugal. A fundição, entretanto, não garantiu o fim do contrabando de ouro e a consequente sonegação dos impostos, pois os colonos, insatisfeitos com a grande quantidade de impostos que pagavam, encontravam alternativas para burlar a lei. Desde do fim da União Ibérica, Portugal tinha criado uma relação de dependência com a Inglaterra, o que provocou a assinatura de tratados entre os dois países, nem sempre interessantes para Portugal. Um bom exemplo disso foi o Tratado de Methuen – também conhecido como Tratado de Panos e Vinhos – assinado em 1703. Era um tratado de comércio pelo qual Portugal abria seus mercados aos tecidos ingleses e a Inglaterra, por sua vez, abria seus mercados aos vinhos portugueses. O valor das importações portuguesas de tecidos superava, em muito, o valor dos vinhos importados pelos ingleses, o que gerava sempre um enorme déficit na balança comercial portuguesa. O que arcava com esse “rombo” no comércio português era o ouro brasileiro. Diante disso, era inegável a importância da mineração para o mercantilismo português, por isso o exercício do controle rígido da fiscalização e a pesada tributação. De qualquer maneira, boa parte do ouro que saiu do Brasil, em forma de impostos, na primeira metade do século XVIII, acabou nas mãos dos ingleses, fato que somado a outros, ajudou a financiar a Revolução Industrial inglesa. Como a fundição oficial não resolveu o problema da sonegação, o então rei luso d. José I, por intermédio de seu principal ministro, o marquês de Pombal, fixou, em 1750, uma taxa anual de cem arrobas de ouro a ser pago como imposto. As Casas de Fundição de Vila Rica, Sabará, São João del Rei e Vila do Príncipe eram encarregadas de fazer a coleta das cem arrobas. Até 1762, os mineiros conseguiram pagar a totalidade do imposto, mas, a partir do ano seguinte, isso não foi mais possível, porque o volume de ouro extraído começava a diminuir, já que as minas estavam se esgotando. O governo português, inconformado com essa situação e extremamente necessitado do ouro para saldar suas dívidas com outros países, criou a derrama, exigindo que todos os mineradores que tivessem impostos atrasados com a Coroa deveriam ser cobrados de maneira violenta. Para tanto, os soldados tinham autorização para entrar nas casas e levar à força o ouro que encontrassem. Essa atitude de violência, numa época em que o desânimo tomava conta dos mineiros por causa do esgotamento das lavras, gerou revolta e a consciência política de libertar o Brasil de Portugal. A área mineradora viveu um surto urbanizador, com a constituição de várias vilas e cidades no interior. A população colonial cresceu rapidamente e atividades de suporte eram necessárias para tal concentração humana, principalmente no que diz respeito à alimentação. Dessa forma, grupos intermediários surgiram nessa sociedade colonial, atendendo à atividade mais importante. Os tropeiros, mercadores que transportavam gado e uma grande variedade de artigos como cachaça, vinho e queijo do Nordeste e do Sul, atendiam toda a região mineradora. A vida colonial se intensificava, possibilitando a integração das várias partes do que chamamos de Brasil. Uma das principais integrações regionais promovidas pela ação dos tropeiros foi o caminho que ligava a cidade de Viamão, no Rio Grande do Sul, a Sorocaba, em São Paulo. Por esse caminho, conhecido também como Estrada da Mata, os tropeiros transportavam suas mercadorias para serem vendidas na região mineradora. Cidades importante surgiram ao longo destas trilhas: Mafra, Lapa, Castro, Ponta Grossa, Piraí, Jaguariaíva, Itararé e Sorocaba. Outra trilha que contribuiu para a integração das regiões brasileiras e que surgiu do caminho dos tropeiros foi a Estrada das Missões. As principais cidades, que serviam de ponto de parada para os mercadores, foram São Borja, Santo Ângelo, Xanxerê, Palmas, Chapecó e União da Vitória. A principal mão de obra empregada na atividade mineradora foi a dos escravos africanos, o que fez reacender o tráfico negreiro com os altos lucros por ele gerados aos seus realizadores e à Coroa portuguesa. Apesar da predominância do trabalho escravo, não era incomum homens livres e escravos trabalharem lado a lado nas minas, pois muitos mineradores não tinham escravos, nem por isso estavam impedidos de extrair ouro. Além disso, era muito comum os escravos https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 01/07/2020 MUDE SUA VIDA! 5 comprarem sua liberdade, porque conseguiam se apropriar de pequenas quantidades – nem sempre com a permissão de seus donos – e as guardavam para obter a soma que tornava possível a compra da liberdade por meio da alforria. Dentro da pesada carga tributária a que estava submetida a população das minas, havia a capitação, um imposto sobre o escravo utilizado na mineração. Eram cobrados 17 gramas de ouro por escravo (por cabeça). Além do trabalho nas minas, era muito comum os escravos serem aproveitados em outros tipos de trabalho pesado, como na construção de pontes e estradas. Havia, na região mineradora, em pequena escala, os escravos de ganho. Estes eram aproveitados pelos seus proprietários para realizar atividades variadas como vendedores de alimentos e carregadores. A maior parte do dinheiro ganho por esses cativos ficava com seu senhor. A parte que cabia ao escravo muitas vezes era utilizada para a compra da alforria. Não podemos esquecer que os diamantes também fazem parte deste contexto. Assim como outros sítios, no começo do século XVIII, a região localizada na Serra do Espinhaço, comarca de Serro Frio, cujo centro administrativo era o Arraial do Tijuco, foi um lugar de extração de ouro, até que, em 1726, foram encontrados diamantes nessa localidade. Conhecida, a partir de então, por Distrito Diamantino, a região passou a ser alvo da Coroa portuguesa. A princípio, a Coroa atuou, sem muito sucesso, no sentido de monopolizar a extração de diamantes. Outro meio para a extração foi o sistema de arrematação por contrato, até que, em 1771, a Coroa instituiu o estanco sobre a atividade, por meio da Real Extração, situação que perdurou até o início do século XIX. 4. A FAMÍLIA REAL NO BRASIL (1808-1822) A vinda da Família Real Portuguesa se deve aos conflitos causados pelo expansionismo de Napoleão Bonaparte, o qual decretou em 1806 o Bloqueio Continental, com o objetivo de isolar e estagnar a Inglaterra. Como Portugal era parceiro econômico de longa data da nação britânica e também por conta do fator geográfico (literalmente uma brecha no bloqueio), em novembro de 1807 cerca de 15 mil pessoas da corte (ministros, conselheiros, juízes da Corte Suprema, funcionários do Tesouro, patentes do Exército e da Marinha e membros do alto clero) embarcaram em navios portugueses rumo ao Brasil, sob a proteção da frotainglesa. A viagem não foi fácil, mas todos os aspectos cômicos que a envolvem não podem esconder que ocorreu uma reviravolta nas relações entre a Metrópole e a colônia. Logo ao chegar, d. João decretou a abertura dos portos do Brasil às nações amigas (1808), o que na prática colocava um fim aos 300 anos de sistema colonial. Dessa forma, as relações comerciais principalmente entre Brasil e Inglaterra aconteceriam de forma livre, inclusive, regularizando as várias formas existentes de contrabando entre os dois países, permitindo a cobrança de seus devidos tributos. Porém, plena autonomia econômica ainda não estava acontecendo, pois, a Inglaterra dominava todo o cenário econômico aqui no Brasil. O aumento do controle do mercado colonial brasileiro culminou no Tratado de Comércio e Navegação de 1810. Juntamente com este, veio o Tratado de Aliança e Amizade, também em 1810. Tampouco, a autonomia política também ainda era algo distante, principalmente pelo fato da presença de toda a estrutura burocrático- administrativa de Portugal presente na colônia. Faltava então algo que fosse significativo em relação à independência política. Em 1815, d. João fez a elevação do Brasil à Reino Unido de Portugal e Algarves, o que teoricamente formalizaria a independência. Mas com a insistente presença do controle português sobre os aspectos políticos, a autonomia política não aconteceu. Principalmente se considerarmos os exemplos de países vizinhos que acabaram com a relação colonial através de conflitos entremeados à influência do Iluminismo e da Independência dos EUA. Visto de outra forma, o Brasil ainda não era plenamente independente. Esperava-se que com o ato de 1815 o Brasil pudesse resolver tal questão. Esperava-se também que a própria população, seguindo os exemplos mineiro e baiano fariam a emancipação política do Brasil. Longe disso, a elite colonial ainda se beneficiava com essa continuidade, principalmente em algumas regiões do Brasil como o Maranhão que ganhou muito com as exportações de algodão para a então recente nação americana. Em 1816, Dona Maria, a louca faleceu e d. João tornou-se rei de Portugal, Brasil e Algarves. No entanto, a nesse contexto, a península ibérica se via livre de um mal que a assolou durante mais de 10 anos: Napoleão Bonaparte estava morto. Na verdade, logo após sua prisão em 1815, a Inglaterra assumiu temporariamente o governo de Portugal, até que então d. João decidisse voltar para a pátria-mãe. Isso não aconteceu de imediato pelo fato de que a situação para a família real aqui no Brasil estava muito cômoda, e o rei conseguiria governar seus territórios daqui mesmo. Isso impossibilitava a autonomia política brasileira. Neste processo de independência, diretamente ligado aos movimentos emancipacionistas do final do século XVIII, a Revolução Pernambucana de 1817 insere-se nesta questão. Os principais motivos foram o descaso militar com a região nordeste, sendo que d. João VI chamou tropas de Portugal para guarnecer as https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 01/07/2020 MUDE SUA VIDA! 6 principais cidades e organizou o Exército, reservando os melhores postos para a nobreza lusitana. Outro motivo foi o aumento dos impostos, pois agora a Colônia tinha de suportar sozinha as despesas da Corte e os gastos das campanhas militares que o rei promoveu no rio da Prata. Além destes dois motivos, soma-se um terceiro que reúne um sentimento de descontentamento resultante de condições econômicas e dos privilégios concedidos aos portugueses. Este movimento abrangeu amplos setores da sociedade: militares, proprietários rurais, juízes, artesãos, comerciantes e um grande número de sacerdotes. Outro fato importante é a sua extensão – além do Recife, o movimento se estendeu para Alagoas, Paraíba, e Rio Grande do Norte. O desfavorecimento regional acompanhado do sentimento antilusitano foi o elemento em comum. Claro que nem todos discutiam da mesma forma os problemas, como por exemplo: para as camadas pobres, a independência estava associada a ideia de isonomia; já para os grandes proprietários rurais, o movimento tinha como objetivo pôr fim à centralização determinada pela Coroa. Os revolucionários tiveram sucesso nessa empreitada, pois, ao tomarem o Recife, implantaram um governo provisório baseado em uma “lei orgânica” que proclamou a República e estabeleceu a igualdade de direitos e a tolerância religiosa, mas não falou nada sobre pôr fim à escravidão. Inclusive, algumas nações foram notificadas sobre “uma nova República” no Nordeste do Brasil. Porém, em quase três meses depois de ter iniciado, a revolta foi sufocada pelas tropas Portuguesas, e o desfecho resultou em prisões e execuções dos principais líderes. Mesmo assim, as marcas profundas deixadas no Nordeste não seriam fáceis de serem esquecidas e sete anos depois, a chama da liberdade reacenderia nesta importante região do Brasil. Mesmo assim, a situação modificou-se a partir de 1820 quando as Cortes Portuguesas – o Parlamento português – intimou d. João VI para retornar para Portugal, principalmente para que pudessem estabelecer controle político sobre o rei. Era a Revolução Liberal do Porto, movimento que pretendia fazer de Portugal uma monarquia parlamentarista. Encerrava-se assim o período Joanino no Brasil, mas não de qualquer maneira. d. João VI retornou para a pátria Lusitana, mas deixou seu filho Pedro como regente no Brasil, propositalmente, pensando que não poderia simplesmente deixar o território Brasileiro para qualquer um. EXERCÍCIOS 1. As expedições portuguesas ao Brasil nas duas primeiras décadas do século XVI objetivaram a) iniciar o cultivo da cana-de-açúcar e o imediato povoamento. b) travar contato com os nossos índios e iniciar atividades comerciais com os mesmos c) transferir para o Brasil os acusados de heresias protestantes na corte portuguesa. d) reconhecer a terra descoberta e salvaguardar a sua posse. e) estimular a catequese dos índios a pedido da Companhia de Jesus Portugal não tinha interesse em colonizar o Brasil, inicialmente, porque não encontrará ouro. As expedições buscavam reconhecer as terras e preservá-las do ataque de estrangeiros que desrespeitavam o Tratado de Tordesilhas. 2. O Tratado de Tordesilhas, assinado pelos reis ibéricos com a intervenção papal, representa a) o marco inicial da colonização portuguesa do Brasil. b) o fim da rivalidade entre portugueses e espanhóis na América. c) a tomada de posse do Brasil pelos portugueses. d) a demarcação dos direitos de exploração colonial dos ibéricos. e) o declínio do expansionismo espanhol. Os países ibéricos entraram em confronto por causa das conquistas ultramarinas. Em 1494, logo após a viagem de Colombo e antes da descoberta do Brasil, com a mediação do papa, os reis de Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Tordesilhas, que regulou a questão dos limites para exploração das colônias. 3. O Tratado de Tordesilhas, celebrado em 1494 entre as Coroas de Portugal e Espanha, pretendeu resolver as disputas por colônias ultramarinas entre esses dois países, estabelecia que a) os espanhóis ficariam com todas as terras descobertas até a data de assinatura do Tratado, e as terras descobertas depois ficariam com os portugueses. b) os domínios espanhóis e portugueses seriam separados por um meridiano estabelecido a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. c) a Igreja Católica, como patrocinadora do Tratado, arrendaria as terras descobertas https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 01/07/2020 MUDE SUA VIDA! 7 pelos portugueses e espanhóis nos quinze anos seguintes. d) Portugal e Espanha administrariam juntos as terras descobertas, para fazerem frente à ameaça colonialista da Inglaterra, da Holanda e da França. e) portuguesese espanhóis seriam tolerantes com os costumes e as religiões dos povos que habitassem as terras descobertas. O Tratado de Tordesilhas estabeleceu que as terras situadas a oeste do meridiano situado a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde pertenceriam à Espanha, e as terras a leste à Portugal. 4. Se as especiarias dominaram o comércio marítimo português durante o século XV, um século depois esse papel foi ocupado, no Brasil, pela produção açucareira, que abrangia a lavoura de cana propriamente dita e a fabricação do açúcar nos engenhos. Muitos historiadores denominam essa economia de plantation, expressão emprestada dos ingleses para indicar as lavouras tropicais. Assinale a alternativa que apresenta os três elementos nos quais esse tipo de produção se fundamentava. a) Latifúndio, monocultura e mão de obra escrava. b) Latifúndio, policultura e mão de obra escrava. c) Latifúndio, monocultura e mão de obra livre. d) Minifúndio, monocultura e mão de obra escrava. e) Minifúndio, policultura e mão de obra livre. O modelo de produção utilizado no Sul das Treze Colônias e em toda América Latina foi denominado “Plantation” caracterizado por Latifúndio, escravidão, monocultura e a economia visava o mercado externo. 5. A respeito dos espaços econômicos do açúcar e do ouro no Brasil colonial, é correto afirmar: a) A pecuária no sertão nordestino surgiu em resposta às demandas de transporte da economia mineradora. b) A produção açucareira estimulou a formação de uma rede urbana mais ampla do que a atividade aurífera. c) O custo relativo do frete dos metais preciosos viabilizou a interiorização da colonização portuguesa. d) A mão de obra escrava indígena foi mais empregada na exploração do ouro do que na produção de açúcar. e) Ambas as atividades produziram efeitos similares sobre a formação de um mercado interno colonial. Uma das principais características e consequências do Ciclo do Ouro no Brasil Colonial foi a intensa interiorização da colonização, uma vez que as minas de ouro se encontravam no interior da Colônia, em especial em Minas Gerais. 6. Com a transferência da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, foi tomada uma série de medidas que afetou a economia, a política e a cultura da Colônia. A respeito desse conjunto de medidas, analise as afirmações a seguir e assinale a alternativa correta I. O rei assinou um decreto para fechar os portos com o objetivo de impulsionar a indústria e o comércio coloniais. II. A criação, na cidade do Rio de Janeiro, de uma filial da Imprensa Régia, do Banco do Brasil e do Real Hospital Militar foi uma medida tomada pela coroa para atender às necessidades das novas famílias instaladas na Colônia. III. Abandonou-se a política de povoamento e de exploração do território por uma política de concessão de terras coletivas a colonos e a ex- escravos, principalmente para o cultivo da cana-de-açúcar. IV. Além das questões internas, o governo de D. João VI se preocupou com a política externa ao ocupar a Guiana Francesa, em 1809, e ao anexar parte do atual Uruguai, em 1818. V. Com o objetivo de interligar a capital da Colônia com outras regiões, o Governo passou a oferecer créditos bancários para a plantação e para a criação de gado. Assinale a alternativa correta a) Somente I, II e III estão corretas. b) Somente II, III e IV estão corretas. c) Somente III, IV e V estão corretas. d) Somente II, III e V estão corretas. e) Somente II, IV e V estão corretas. GABARITO 1. D 2. D 3. B 4. A 5. C 6. E https://www.alfaconcursos.com.br/ Professor: Thiago Pereira Turma: PMPR 2020 Data: HISTÓRIA 01/07/2020 MUDE SUA VIDA! 8 https://www.alfaconcursos.com.br/
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