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Direito Recuperacional A nova legislação falimentar como já dito no início deste capítulo, tem por objetivo a preservação da empresa. Neste aspecto, são formas de recuperação aquela requerida em juízo, denominada recuperação judicial, podendo ainda ser a recuperação na modalidade extrajudicial além da recuperação especial para Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (ME e EPP). Recuperação Judicial Conceito A recuperação judicial é procedimento judicial que tem por objetivo proporcionar ao empresário ou à sociedade empresária, a superação de uma crise econômico-financeira, com o intuito maior de preservação da empresa, como fonte produtora, além da preservação e manutenção dos empregos e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a continuidade da sua função social e do estímulo à atividade econômica. Para Alexandre Alves Lazzarini: “O princípio da preservação da empresa, acolhido na Lei n° 11.101/2005, dá uma nova característica à empresa, deslocando-a de uma condição limitada ao interesse de seus sócios, para a elevar ao patamar de interesse público, ou seja, passa a ser considerada como uma instituição e não mais uma relação de natureza contratual. Deixa de ter a dependência da vontade dos sócios para, no caso, passar a atender outros interesses (a função social, os empregados, os credores etc.) que sobrepõe ao interesse dos sócios”. (Alexandre Alves Lazzarini, Reflexos sobre a Recuperação Judicial de Empresas, p. 124. Direito Recuperacional, Aspectos teóricos e práticos) Corroboramos com os ensinamentos de Fábio Ulhoa Coelho quando estabelece que “Nem toda empresa merece ou deve ser recuperada”. (Fabio Ulhoa Coelho, Curso de Direito Comercial, Vol. I, p. 382) . Todavia, defendemos nessa obra que o princípio da preservação da empresa deverá ser observado como forma de preservação da empresa como atividade, e não apenas como preservação do empresário em si. Em nosso modesto entender, o devedor (empresário ou sociedade empresária) será evidentemente o primeiro beneficiado de um processo recuperacional juntamente com a sua comunidade de credores, parceiros, empregados, colaboradores dentre outros, todavia, caso não exista possibilidade de este devedor dar continuidade a sua atividade, esta poderá ainda assim ser continuada, porém com a titularidade de outro empresário que não será declarado seu sucessor. Para Sérgio Campinho: “...Enfatiza-se a figura da empresa sob a ótica de uma unidade econômica que interessa manter, como um centro de equilíbrio econômico-social. É, reconhecidamente, fonte produtora de bens, serviços, empregos e tributos que garantem o desenvolvimento econômico e social de um país. A sua manutenção consiste em conservar o “ativo social” por ela gerado. A empresa não interessa apenas a seu titular – o empresário -, mas a diversos outros atores do palco econômico, como os trabalhadores, investidores, fornecedores, instituições de crédito, ao Estado, e, em suma, aos agentes econômicos em geral...”. (Sérgio Campinho, Falência e Recuperação de empresa: O novo regime da insolvência empresarial, p. 122). Assim, a recuperação judicial demonstra-se importante avanço do direito brasileiro, que vê e classifica a empresa como ente de total importância ao desenvolvimento econômico e social. Em termos, a sua preservação, desde que preenchidos requisitos, acaba por garantir e gerar maior segurança jurídica para aqueles que exploram e dependem da atividade empresarial. Requisitos – Capacidade para requerer recuperação judicial Tal modalidade de recuperação poderá ser utilizada pelo empresário e pela sociedade empresária, desde que cumpra aos requisitos descritos legais para legitimação, quais sejam (Art. 48 LFR): I) exercer regularmente as suas atividades há mais de 2 (dois) anos; II) não seja falido, ou se o foi, que suas obrigações já estejam extintas; III) não ter, há menos de 5 anos, obtido concessão da recuperação judicial; IV) não ter, há menos de 8 anos, obtido a concessão da recuperação especial, para micro e pequenas empresas; V) não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por crime falimentar. Créditos incluídos Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido de recuperação judicial, mesmo que tais créditos ainda não estejam vencidos. (Art. 49 LFR) Não estão sujeitos à recuperação judicial (Art. 49, § 3° LFR): a) os créditos titularizados pelo proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis; b) o crédito do arrendador mercantil; c) o crédito de proprietário do promitente vendedor de imóvel onde contenham os contratos cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias; d) o crédito do proprietário do bem em contrato de reserva de domínio; Nesses casos não teremos a inclusão desses créditos na recuperação judicial, pois os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais não serão alterados, além, os citados créditos contém legislação específica que os regulamenta. Também não estará incluso na recuperação judicial os valores decorrentes da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação. (Art. 49, § 4°, c/ art. 86, II, LFR) Não estarão sujeitos à recuperação judicial os créditos tributários, como impostos, taxas e contribuições. (Art. 191-A do CTN) Créditos excluídos da recuperação judicial • Tributários; • Créditos decorrentes da alienação fiduciária; • Créditos decorrentes do arrendamento mercantil; • Créditos decorrentes da promessa de compra e venda; • Créditos do bem em contrato de reserva de domínio; • Créditos decorrentes de adiantamento de câmbio para exportação Processo de Recuperação Judicial Na visão de Fábio Ulhoa Coelho (Curso de Direito Comercial, Vol. I, p. 406), o processo de recuperação judicial divide-se em três períodos: I) Fase postulatória; II) Fase deliberativa; III) Fase de execução. Fase Postulatória Pedido de Recuperação O empresário que atravessa crise econômico-financeira poderá requerer recuperação judicial, que poderá ocorrer como contestação do pedido de falência, ou a qualquer momento, desde que preenchidos os requisitos estudados acima. O pedido de recuperação judicial deverá estar elaborado dentro de petição inicial que deve conter todos os requisitos do art. 51 da LFR, assim a petição deverá conter: I – A exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira; II – As demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; IV – A relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; V – Certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; VI – Arelação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor; VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras; VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; IX – A relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados. A petição inicial, como já mencionado deverá conter todos os documentos especificados acima, devendo ser ingressado tal pedido no juízo do principal estabelecimento do devedor, como já no princípio do capítulo. A recuperação judicial tem como um dos princípios primordiais que a norteia o princípio da transparência. Sobre a quantidade de documentos que o pedido de recuperação judicial determina, aduz Alexandre Alves Lazzarini: “...as exigências constantes do artigo 51 da Lei n° 11.101/2005 não representa o formalismo excessivo, mas afirma a necessidade de que a empresa, que busca a renegociação de sua dívida, apresente aos seus credores a sua situação real. Isso para que estes possam analisar se o plano de recuperação tem substância real e efetiva ou se trata de simples retórica técnica de modo a protelar uma decretação da falência, como costumeiramente se fazia na concordata”. (Alexandre Alves Lazzarini, Reflexos sobre a Recuperação Judicial de Empresas, p. 127) Corroboramos com esse entendimento, visto que os credores, como veremos, são aqueles que efetivamente vão deliberar sobre aprovação ou rejeição do plano de recuperação judicial, para isso entendemos ser necessária a existência de segurança, sendo esta adquirida a partir do momento que detém o credor todas as informações pertinentes ao devedor em recuperação. Todavia, o empresário em crise econômico-financeira, tende a não ter toda a documentação pertinente totalmente em ordem, assim importante os aspectos fundados em nossa jurisprudência a respeito da falta dos documentos previstos no artigo 51 da LFR. “Art. 51 da Lei n. 11.101/2005. O legislado estabeleceu rigorosa e completa instrução da petição inicial, admitindo, por força da aplicação subsidiária das normas do CPC (art. 189), a dilação prevista no art. 284 do Diploma Processual para emenda ou complementação”. TJSP. (Ap. Cív. N. 581.807-4/6-00, rel. Des. Boris Kauffmann, j. 27.8.2008). Despacho de deferimento da recuperação judicial Se o pedido de recuperação judicial demonstrar que o empresário preenche todos os requisitos para obtenção da recuperação judicial (art. 48 LFR) e estiver em plena conformidade com a determinação legal (art. 51 LFR) o juiz através de despacho deverá deferir o processamento da recuperação judicial. O despacho que autoriza o processamento da recuperação judicial deverá conter obrigatoriamente (Art. 52 LFR): a) nomeação do administrador judicial; b) determinação para dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios; c) ordem de suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6o desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1o, 2o e 7o do art. 6o desta Lei (processamento de demandas ainda ilíquidas, pedidos de habilitações e divergências de crédito e execuções de natureza fiscal) e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei (credores excluídos da recuperação judicial, já visto no item 8.3 deste capítulo); d) determinação para que o devedor efetue a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores; e) ordem de intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento. f) o juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão oficial, que conterá (Art. 52 § 1o LFR) I – O resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da recuperação judicial; II – A relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a classificação de cada crédito; III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art. 7o, § 1o, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei. A suspensão das ações e execuções que descrevemos acima como item “c”, em hipótese alguma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação. (Art. 6° §1° LFR) Sobre o mencionado prazo, manifesta-se Sergio Campinho no sentido de que: “...Em nenhuma hipótese permite a lei seja ele excedido. Automaticamente, ante sua consumação, fica restabelecido o direito dos credores de iniciar ou prosseguir em suas ações e execuções, independentemente de qualquer pronunciamento judicial a respeito”. (Sérgio Campinho, Falência e Recuperação de empresa: O novo regime da insolvência empresarial, p. 148). Caberá ao devedor comunicar os respectivos juízos do qual figuram as ações e execuções suspensas em virtude da recuperação judicial (Art. 52, § 3° LFR) A suspensão das ações e execuções pelo período de 180 (cento e oitenta) dias deverá contemplar literalmente todas as ações, inclusive as ações de natureza trabalhista. Neste enfoque julgados recentes do STJ já apontam o entendimento sobre a matéria neste sentido mencionado, pois o a recuperação judicial terá como objetivo fazer com que o empresário possa superar a crise, sendo competente o juízo da recuperação para definir qual melhor destinação terá o patrimônio do devedor. (CC 68173/SP, Conflito de competência 2006/0176543-8, Relator Ministro Luís Felipe Salomão). Os credores que porventura não constarem da relação de credores publicada na imprensa oficial, deverão então habilitar ou impugnar os seus créditos, obedecendo o procedimento de habilitação e divergência de crédito que estudaremos mais a frente quando tratarmos da falência. Fase deliberativa Plano de recuperação judicial O despacho que deferi o processamento da recuperação judicial é de suma importância ao empresário não apenas pela concessão em si, mas por ser a partir da publicação deste na imprensa oficial que se inicia a contagem de prazo para apresentação do plano de recuperação judicial. O mencionado plano deverá ser apresentado em juízo no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias contados da publicação do despacho de deferimento da recuperação judicial. (Art. 53 LFR) Para Fábio Ulhoa Coelho: “A mais importante peça do processo de recuperação judicial é, sem sombra de dúvidas, o plano de recuperação judicial (ou de “reorganização da empresa”)...” “...se o plano de recuperação é consistente, há chances de a empresa se reestruturar e superar a crise em que mergulha...”. (Fábio Ulhoa Coelho, Comentários à nova Lei de Falências e de recuperação de empresas, p. 158). O prazo de 60 (sessenta) dias é muito criticado pela doutrina, pois, o citado período é improrrogável, e sua falta implica na convolação da recuperação judicial em falência. (Art. 53 cumulado com art.73, II LFR) Corroboramos de tal crítica, e defendemos a alteração legislativa que poderia estabelecer um prazo mais razoável para a entrega do plano, ou alteração que estabelecesse a possibilidadede prorrogação do mencionado prazo quando do preenchimento de certos requisitos, como capacidade econômica e amplitude do devedor. Todavia, na atualidade não existe essa possibilidade, visto ser taxativa a legislação ao mencionar o citado prazo e não existir possibilidades de sua prorrogação. Conteúdo técnico do plano de recuperação judicial A legislação determina que o plano de recuperação seja apresentado naquele prazo já descrito, devendo o plano conter obrigatoriamente (Art. 53 LFR): I – discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, conforme o art. 50 desta Lei, e seu resumo; II – demonstração de sua viabilidade econômica; e III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada. Como já supracitado, preza a recuperação judicial pelo princípio da transparência, sendo assim a explicação detalhada de sua aplicabilidade se demonstra condição necessária para boa compreensão do plano junto à comunidade de credores. Já a demonstração de sua viabilidade econômica tem por objetivo demonstrar que tecnicamente o plano tem condições de viabilizar a continuidade daquela atividade empresarial. O laudo econômico-financeiro e de avaliação de bens subscrito por profissional habilitado tem a função de comprovar a valoração do patrimônio do devedor, buscado dar segurança aos credores no sentido de que, mesmo não havendo recuperação os créditos destes estarão garantidos de forma total ou parcial em virtude daqueles bens patrimoniais. Conteúdo do plano quanto aos meios de recuperação O artigo 50 da legislação recuperacional contém rol meramente exemplificativo de modalidades de planos que o devedor poderá se utilizar. São formas que se valem de atributos administrativos, financeiros e jurídicos que o devedor poderá se utilizar. Todavia, como dito, trata-se de rol exemplificativo, que poderá o devedor se valer de uma daquelas modalidades, de um conjunto delas, ou de nenhuma delas, visto ser o plano de conteúdo livre. São modalidades contempladas pela legislação como forma de recuperação judicial (Art. 50, LFR): a) concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas; b) cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente; c) alteração do controle societário; d) substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos administrativos; e) concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em relação às matérias que o plano especificar; f) aumento de capital social; g) trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios empregados; h) redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva; i) dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de terceiros; j) constituição de sociedade de credores; k) venda parcial dos bens; l) equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica; m) usufruto da empresa; n) administração compartilhada; o) emissão de valores mobiliários; p) constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos, os ativos do devedor. Algumas das formas de recuperação judicial prescindem do atendimento de algumas especificações legais contidas em outras normas. Assim, se o plano contiver as operações societárias como forma recuperacional, devem ser obedecidos os requisitos previstos nos artigos 226 a 229 da LSA, além dos artigos 1.113 a 1.122 do Código Civil. Já quando versar o plano sobre o aumento de capital social deverá ser então obedecido o disposto nos artigos 166 e seguintes da LSA, quando tratar-se a sociedade devedora de uma sociedade por ações, ou os dispositivos dos artigos 1.081 a 1.084 do Código Civil. Proteção do plano aos credores trabalhistas No que se refere ao plano de recuperação, os credores trabalhistas e provenientes de acidente do trabalho são detentores uma proteção dada pela legislação. O plano de recuperação judicial poderá contemplar o pagamento dos credores trabalhistas e provenientes de acidente do trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação, admitindo inclusive a modalidade de parcelamento, todavia, caso estes credores estejam contemplados no plano de recuperação, o prazo para pagamento deles não poderá exceder ao período de 1 (um) ano. Como aludido por Fábio Ulhoa Coelho: “A contrário sensu, o plano pode estabelecer quaisquer condições para as obrigações trabalhistas que se vencerem após a distribuição do pedido de recuperação judicial, mesmo desconsideradas as balizas acima. Se forem aprovadas pelas instâncias da Assembleia Geral de Credores, elas valem como se integrassem o contrato de trabalho”. (Fábio Ulhoa Coelho, Comentários à nova Lei de Falências e de recuperação de empresas, p. 163). Já os créditos referentes a salários em atraso, relativos aos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial, podem ser contemplados no plano, desde que pagos no prazo de no máximo 30 (trinta) dias, desde que obedecido limite de até 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador. Manifestação dos credores quanto ao plano de recuperação judicial Apresentado em juízo o plano de recuperação judicial, qualquer dos credores, independentemente da classificação do seu crédito ou de seu valor poderá manifestar-se em juízo quanto à eventual objeção do plano de recuperação judicial. O prazo para a referida objeção quanto ao plano será o de 30 (trinta) dias. (Art. 55 LFR). Ocorrendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz convocará a assembleia geral de credores que deverá deliberar sobre o plano, determinando ainda a legislação, que tal assembleia não poderá exceder a 150 dias do deferimento do processamento da recuperação judicial. (Art. 56 § 1º LFR) A assembleia geral de credores deverá ser realizada nas condições já estudadas anteriormente (item 6.7.), sendo tal assembleia competente para aprovar ou rejeitar o plano de recuperação, podendo inclusive alterar tal plano, desde que haja o consentimento expresso do devedor, e que não venha a diminuir algum direito de credores ausentes. Importe a observação prevista no item quanto à forma alternativa de aprovação do plano de recuperação judicial (cram down). (item 6.7.8.) Aprovação do Plano de Recuperação Judicial A recuperação judicial será concedida, caso venha a ser aprovada por seus credores. A aprovação poderá ocorrer de forma tácita, ou seja, quando os credores, devidamente cientes de que o plano de recuperação foi apresentado silenciaram no que tange as objeções que poderiam apresentar. Todavia, como já explicitado, em havendo objeções, os credores serão convocados para a assembleia-geral de credores, e em havendo aprovação, com obediência de quóruns já estudados, teremos então a denominada aprovação expressa da recuperação judicial. Concessão da Recuperação Judicial Havendo aprovação do plano, tanto na modalidade tácita quanto na expressa, o devedor para que exista a sua concessão mediante sentença deverá apresentar em juízo, após a juntada do plano devidamente aprovado pela assembleia-geral de credores, ou da comprovação do decurso de prazosem manifestação em contrário, certidões negativas de débitos tributários. (Art. 57 LFR) As certidões negativas de tributos podem ser substituídas, se for o caso, por certidões positivas com efeito de negativas. Todavia, se demonstra o requisito processual um exagero, que em muitas vezes poderá impedir que exista a recuperação judicial e a preservação da empresa. Em virtude de crise econômico-financeira, o empresário por vezes acaba tornando-se impontual com suas obrigações, isso ocorre nas relações comerciais (com fornecedores) e nas relações trabalhistas (com empregados), todavia, na maioria dos casos, o primeiro credor que é “abandonado” pelo devedor é o fisco. Sendo assim, necessário se faz a existência de refinanciamento tributário, o que não existe de forma permanente em nosso ordenamento. Com base nisso, de grande valia os entendimentos jurisprudenciais sobre o assunto no sentido de que não havendo essa possibilidade permanente de parcelamento quanto aos débitos tributários, o princípio da preservação da empresa acaba sendo prejudicado. Neste enfoque manifestou-se a jurisprudência: “A recuperação judicial deve ser concedida, a despeito da ausência de certidões fiscais negativas, até que seja elaborada Lei Complementar que regule o parcelamento do débito tributário procedente de tal natureza, sob risco de sepultar a aplicação do novel instituto e, por consequência, negar vigência ao princípio que lhe é norteador” (AI n. 1.0079.06.288873-4/0001 (I), rel. Des. Dorival Guimarães Pereira, j. 29.5.2008) Também neste sentido: “Recuperação judicial – Certidões negativas de débitos tributários (Art. 57 da Lei 11.101/2005) – Inadmissibilidade – Exigência abusiva e inócua – Meio coercitivo de cobrança – Necessidade de se aguardar, para o cumprimento do disposto no art. 57, a legislação específica a que faz referência o art. 68 da Nova Lei, a respeito do parcelamento de crédito da Fazenda Pública e do INSS. Dispensa da juntada de tais certidões” (AI n. 507.990-4/8-00, rel. Des. Romeu Ricupero, j. 1.8.2007). Comprovada a aprovação do plano de recuperação judicial, superada a fase de apresentação das certidões (cuja dispensa poderá ocorrer), o juiz mediante sentença irá conceder a recuperação judicial ao devedor. Qualquer credor, ou o Ministério Público poderá da decisão que conceder a recuperação judicial, interpor recurso de agravo, que ao nosso entendimento, não pode ser outro, senão por instrumento. (Art. 59 §2º LFR) “O objeto do recurso só pode dizer respeito ao desatendimento das normas legais sobre convocação e instalação da Assembleia ou quórum de deliberação. Nenhuma outra matéria pode ser questionada nesse recurso, nem mesmo o mérito do plano de recuperação aprovado”. (Fábio Ulhoa Coelho, Comentários à nova Lei de Falências e de recuperação de empresas, p. 169). Sentenciada a concessão da recuperação judicial teremos o término da fase deliberativa e o início da fase executiva de uma recuperação judicial. Na sentença o juiz também determinará a expedição de ordem para que a Junta Comercial do Estado para que proceda a anotação da recuperação judicial no registro correspondente, assim, o empresário terá ao final do seu nome empresarial a inclusão da expressão “em recuperação”. (Art. 69 LFR) Fase Executiva Após a concessão da recuperação judicial mediante sentença, permanecerá o devedor em recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial. (Art. 61 LFR) Durante esse período de 2 (dois), eventual descumprimento do pactuado no plano de recuperação judicial acarreta a convolação em falência, de acordo com o art. 73, IV da LFR. (Art. 61 §1º LFR) Em caso de convolação em falência, os credores terão seus direitos reconstituídos nas condições originalmente contratadas, devendo os valores pagos serem deduzidos. (Art. 61 §2º LFR) Todavia, decorrido o período acima citado, o descumprimento do plano de recuperação judicial enseja ao credor a possibilidade de execução específica de seu crédito em procedimento próprio (ação de execução), ou o pedido de falência com base no art. 94, III, “g”. (Art. 62 LFR) Encerramento ou decretação da falência. Cumprido o plano de recuperação judicial no lapso citado (dois anos), juiz mediante sentença determinará o encerramento da recuperação judicial. A sentença além de encerrar a recuperação determinará: I – O pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial, após a devida aprovação de suas contas, assim como aprovação de relatório sobre a execução do plano de recuperação; II – A apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas; III – a apresentação de relatório circunstanciado do administrador judicial, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, versando sobre a execução do plano de recuperação pelo devedor; IV – A dissolução do Comitê de Credores (caso exista) e a exoneração do administrador judicial; V – A comunicação ao Registro Público de Empresas para as providências cabíveis, como a retirada da expressão “em recuperação” de seu nome empresarial. Paulo Roberto Bastos Pedro
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