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ELABORAÇÃO DE PARECERES E RELATÓRIOS 01 ELABORAÇÃO DE PARECERES E RELATÓRIOS Brasília 2019 02 SUMÁRIO Sumário MÓDULO I – LINGUAGEM TÉCNICA..................................................................................8 1. Características da linguagem técnica.................................................................................8 1.1 Comunicação...............................................................................................................9 1.2 Comunicação oficial: pareceres e relatórios (comunicações técnicas).....................11 1.3 A linguagem técnica na correspondência oficial ......................................................12 2. Competência textual.........................................................................................................20 2.1 Texto ........................................................................................................................20 2.2. Coesão e coerência..................................................................................................22 2.3 Competência textual em pareceres e relatórios institucionais..................................23 3. Níveis de linguagem........................................................................................................25 4. O que deve ser evitado.....................................................................................................28 MÓDULO II – PADRONIZAÇÕES........................................................................................30 1. Elementos normativos......................................................................................................32 2. Pontuação com elementos normativos.............................................................................36 3. Datas.................................................................................................................................37 4. Siglas, abreviaturas e símbolos........................................................................................39 5. Citação..............................................................................................................................46 6. Normas para indicação de fonte.......................................................................................47 7. Referência........................................................................................................................49 8. Maiúscula ou minúscula...................................................................................................50 9. Números..........................................................................................................................53 10. Itálico ou negrito............................................................................................................59 11. Referência a folhas (indicação de páginas e folhas de documentos)..............................61 12. Anexos, tabelas, gráficos e quadros...............................................................................62 13. Formatação.....................................................................................................................65 14. Itemização......................................................................................................................67 MÓDULO III – EXPRESSÕES E VOCABULÁRIO............................................................69 1. Vocabulário.....................................................................................................................69 2. Expressões a evitar e expressões de uso recomendável...................................................75 MÓDULO IV – TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO DE PARECER E RELATÓRIO.........86 1. Estrutura do texto técnico ...............................................................................................86 2. Estrutura de Parecer..........................................................................................................86 2.1 Denominação.............................................................................................................87 2.2 Identificação e elementos do Parecer........................................................................88 2.3 Ementa......................................................................................................................90 2.4 Texto.........................................................................................................................91 2.5 Formatação e estruturação........................................................................................95 2.6 Cabeçalho..................................................................................................................97 2.7 Rodapé.......................................................................................................................98 2.8 Fechamento...............................................................................................................99 2.9 Local e data...............................................................................................................99 03 2.10 Assinatura.............................................................................................................100 2.11 Anexos e Apêndices...............................................................................................100 2.12 Modelo de Relatório do Ministério Público Federal ...........................................101 2.13 Modelo de Parecer do Ministério Público Federal ..............................................103 3. Técnicas de redação.......................................................................................................105 4. Técnicas de argumentação..............................................................................................109 REFERÊNCIAS......................................................................................................................113 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................115 04 Prezado cursista, Meu nome é Wagnoell Martins Araújo. Com grande entusiasmo recebi a incumbência de produzir o conteúdo do presente curso ELABORAÇÃO DE PARECERES E RELATÓRIOS. Possuo graduação em Letras, com habilitação em Português e Inglês, pela UNIP – Universidade Paulista. Atualmente, sou aluno de pós-graduação em Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Nutro verdadeira paixão pelo universo das palavras (escritas e faladas) e da comunicação, buscando compreender a estrutura da língua, a linguagem e a comunicação humanas. Servidor do Ministério Público Federal desde 2016, ora atuo como Agente de Segurança Institucional da Procuradoria da República no Maranhão. Este material é o resultado de um trabalho desenvolvido para ser atual, contextualizado, interessante e visivelmente atraente. O objetivo é abordar os conhecimentos indispensáveis e ter valor prático. Não tenho a pretensão de ser exaustivo, ou formar experts em produção textual. O que quero dizer com isso? Quero dizer que o que importa é que o conteúdo seja útil, solucionando os principais questionamentos na hora de produzir pareceres e relatórios, no contexto do serviço público. Buscando ser útil, sem ser complicado, pretendendo oferecer conhecimento e auxiliar no desenvolvimento de habilidades para redigir documentos oficiais em consonância com as normas e manuais de redação oficial, de maneira clara, objetiva e direta. E você, reconhece a importância do texto e da linguagem na atividade da instituição a que pertencemos? É improvável que a sua resposta seja “não”, ainda que eventualmente não socorram argumentos precisos e sólidos quanto ao tema, de suma relevância no âmbito do Ministério Público da União e que consubstancia o objeto desta capacitação. Com efeito, o reconhecimentoem questão reside na consciência lógica de que a atuação do Ministério Público Federal pressupõe a produção e o uso de textos de caráter documental e jurídico, os quais, por suas essências e finalidades, exigem 05 a adequação da linguagem e, portanto, o conhecimento de regras e a aplicação de técnicas de redação. Você concorda ser indispensável ao leitor acesso a uma produção textual exposta em linguagem clara e objetiva, sobretudo quando diz respeito a oportunizar comunicação que servirá como recurso para a atuação profissional, não é mesmo? Conforme evidenciam a experiência humana, os nossos estudos e as nossas qualificações, a comunicação profissional eficiente exige, necessariamente, o domínio de um conjunto de conhecimentos e habilidades. Nesse aspecto, por seu caráter didático intimamente relacionado ao tema, é interessante a afirmação do Manual de Redação e Padronização de Atos Oficiais do Ministério Público Federal: “As pessoas que têm relações de trabalho buscam linguagem compreensível para que se estabeleça o entendimento comum. Comunicação é isto: participação, transmissão, troca de conhecimentos e experiências. A falta de precisão na linguagem acarreta problemas para o desempenho de tarefas e, às vezes, prejudica as relações humanas, gerando desentendimentos, discussões e até redução da produtividade.” Esta capacitação é voltada para a redação de documentos oficiais, especificamente a elaboração de pareceres e relatórios com clareza e argumentação eficiente, de acordo com as normas de redação oficial e padronização adequadas. Assim sendo, para uma melhor compreensão do assunto, as aulas estão dispostas de forma temática, divididas em quatro módulos, contemplando um total de 40 horas-aula. Aprofundaremos o estudo de alguns aspectos gramaticais para possibilitar a correta utilização da Língua Portuguesa. Ao passo que teremos informações técnicas acerca do processo de produção de texto, analisando conceitos e a estrutura, discorrendo sobre suas qualidades e os defeitos a serem evitados. Nosso 06 objetivo é desenvolver competências fundamentais e aprimorar a elaboração de pareceres e relatórios. Tendo em vista a importância da padronização de pareceres e relatórios e da aplicação correta da linguagem técnica, este curso oferece conhecimentos essenciais para a elaboração da comunicação, promovendo o desenvolvimento de competências, com a finalidade de assegurar aos interessados técnicas de redação e argumentação e favorecer a uniformização de documentos oficias. Durante nossa jornada, você poderá explorar muitos conhecimentos! Realize os exercícios propostos e pratique bastante o conhecimento adquirido. É importante lembrar que a produção textual em foco requer dedicação e esforço. Animado para começar? Bons estudos e resultados! O Autor. “Não se assuste com as palavras. Elas estão aí para serem domadas”. (Antonio Carlos Viana) 07 MÓDULO I – LINGUAGEM TÉCNICA Notadamente, documentos técnicos apresentam estrutura padronizada e linguagem técnica adequada. A elaboração de textos técnicos requer domínio dos conhecimentos e padronizações pertinentes, peculiares à linguagem técnica exigida, para garantir que que o texto produzido seja fiel à capacidade do autor, privilegiando o caráter profissional da comunicação exarada. Vamos adiante, estudar a linguagem técnica de interesse do Ministério Público Federal! 1. Características da linguagem técnica A comunicação humana abrange diversos níveis de linguagem, diretamente relacionados à intenção e ao contexto comunicativo. Você já notou que, muitas vezes, a linguagem técnica é entendida como sinônimo de temas científicos, e a sua menção remete ao excesso no uso do vocabulário comum a certas classes e profissões, até mesmo sugerindo que o seu uso, em vez de afirmar competência, revela superficialidade do autor? A despeito dessa famigerada vertente, a linguagem técnica que estudaremos aqui diz respeito à forma de normatizar o texto oficial, para que, no âmbito do serviço público, todos leitores saibam do que ele se trata. Preocupando-se com a citada vertente famigerada, o Manual de Redação da Presidência da República esclarece que a linguagem técnica deve ser empregada apenas em situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso indiscriminado, 08 apontando que certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vocabulário próprio a determinada área, são de difícil entendimento por quem não esteja com eles familiarizado. Para que possamos divisar com praticidade os principais elementos caracterizadores da linguagem técnica do serviço público, no âmbito do interesse do nosso curso, linguagem técnica pode ser definida como um processo construído a partir da necessidade humana de estabelecer uma modalidade de comunicação profissional. Desse modo, constitui-se em habilidade de comunicação refinada, encerrando características específicas. Está relacionada ao uso de recursos indispensáveis na produção de textos meticulosamente adequados às relações profissionais, que possibilitem uma comunicação mais criteriosa, persuasiva e eficiente. Uma vez que o grande objetivo da linguagem técnica (institucional) é esclarecer e informar, há nela o predomínio de linguagem denotativa, aplicando-se o sentido literal das palavras. Clareza, concisão, precisão, formalidade, simplicidade, objetividade, correção gramatical, uniformidade, padronização, competência textual e argumentação são características essenciais. Bem assim, para uma linguagem clara e objetiva, o texto utiliza linguagem formal e culta, sendo construído na 3ª pessoa, isento de expressões que evidenciem a opinião fora do âmbito profissional do emissor. 1.1 Comunicação No que você pensa imediatamente, quando questionado sobre diferenças entre o ser humano e os demais animais? Certamente, na capacidade de pensamento e raciocínio inerente ao homem. Mas percebe que, efetivamente, é a comunicação que torna os humanos seres diferenciados, sendo primordial o seu papel no desenvolvimento da espécie? 09 Dentre as aptidões natas do ser humano, notadamente, a incrível arte da comunicação é o que tem levado às mais importantes conquistas da humanidade. A necessidade de estabelecer contato com as pessoas, seja por meio da fala, seja por meio da escrita, conduz à interação capaz de fornecer instrumentos para darmos respostas aos desafios que nos são impostos, ensejando prodígios. A etimologia da palavra comunicação revela que ela deriva do latim “communicare”, que corresponde a partilhar, tornar comum. Portanto, é correto afirmar que a comunicação é o processo pelo qual o indivíduo partilha mensagens, seja qual for o cunho. O processo de comunicação é constituído por seis elementos, a saber: Emissor: envia a mensagem; Receptor ou destinatário: a quem se destina a mensagem; Mensagem: o conteúdo, aquilo que se deseja comunicar; Canal de comunicação: meio de transmissão (Internet, TV, etc.); Código: conjunto de signos por cujo uso a mensagem é elaborada (a Língua Portuguesa, etc); Contexto: situação à qual a mensagem se refere. SUGESTÃO DE LEITURA 10 JAKOBSON, Roman. Linguística e poética. In: Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1971, pp. 118-62. Esse ensaio de Jakobson traz pela primeira vez as funções da linguagem como as estudamos hoje. Partindo do esquema da comunicação construído por seis fatores, o autor mostra que, dependendo de para qual desses fatores a linguagem se volta, configura-se uma determinada função. 1.2 Comunicação oficial: pareceres e relatórios (comunicações técnicas) Tendo anteriormente discorrido sobre a comunicação de um modo geral, neste tópico é necessário delimitara abordagem e a abrangência do nosso curso no quesito comunicação, para que possamos prosseguir, sem desvios ou ruídos, aprofundando nossos estudos sobre a elaboração de pareceres e relatórios. É claro que você já sabe que há diversas modalidades de comunicação (comunicação escrita, comunicação oral, por exemplo), não é mesmo? E também sabe que a escrita pode ser dirigida para fins de correspondência, dentre suas muitas finalidades. Assim sendo, no que diz respeito ao nosso curso, tenha em mente que correspondência é qualquer forma de comunicação escrita entre duas pessoas ou entidades, incluindo-se um simples bilhete informal, despreocupado e íntimo, até o ofício com suas formalidades e seu tom grave, conforme leciona o Doutor Agnaldo Martino (2018, pág. 425), na sua obra publicada pela Editora SARAIVA JUR, Português Esquematizado: Gramática, Interpretação de Texto, Redação Oficial, Redação Discursiva. Pois bem. Nossos estudos cingem-se à modalidade de comunicação do tipo correspondência oficial, que está entre os inúmeros tipos de correspondência existentes, como a correspondência comercial e a correspondência particular. Ocorre que existem diversas divisões sobre os tipos de correspondência oficial. Em uma palavra, muitas! Nesse sentido, para fins didáticos, podemos destacar alguns tipos muito frequentes no âmbito da nossa realidade profissional: 11 protocolo, notificação, citação, requisição, recomendação, decisão, certificado e a comunicação (relatórios, pareceres etc.). Compreenda que a correspondência oficial que nos interessa diz respeito a uma das suas várias divisões: comunicação. É precisamente nessa divisão que estão inseridos os tipos de comunicações oficiais denominados pareceres e relatórios, documentos esses também chamados de comunicações técnicas. Os relatórios servirão de suporte à gestão e à decisão institucional. Os pareceres são utilizados para expressar opinião fundamentada, de ordem jurídica ou técnico-administrativa, sobre determinado assunto. Notadamente, esses documentos devem configurar um relato (documental e/ou jurídico) sistematizado e abrangente do conhecimento possível de ser fornecido no contexto em que se inserem, contribuindo para qualificar as decisões às quais darão arrimo. Então, de posse dos conhecimentos até aqui discutidos, já conhecemos o básico sobre as comunicações técnicas denominadas pareceres e relatórios. Principalmente, fixamos que a correspondência oficial se efetiva pela influência mútua de três elementos: emissor (alguém que comunique), mensagem (algo a ser comunicado) e receptor (alguém que receba a comunicação). Por fim, importa apreender que, no relatório e no parecer, a mensagem é sempre algum assunto relativo às atribuições da instituição que representamos e, além disso, que o tema das comunicações se restringe a questões que dizem respeito ao interesse público. 1.3 A linguagem técnica na correspondência oficial 12 É deveras frequente entre órgãos públicos e entre pessoas/empresas e órgãos públicos a correspondência oficial do tipo comunicação, na qual estão inseridos os pareceres e relatórios, conforme aprendemos. Agora, conheceremos a importância da linguagem técnica, sua configuração e a necessidade do seu emprego nos expedientes oficiais. Como você pode notar facilmente, linguagem é o sistema de símbolos adotados pelo homem para fins de comunicação com seus semelhantes, para expressar ideias, emoções e o raciocínio. Em suma, linguagem é o código que proporciona a comunicação. É claro que a comunicação só é viável quando os envolvidos conhecem o código (linguagem) usado. Portanto, linguagem e comunicação são inseparáveis. E o domínio adequado e equilibrado da linguagem e da comunicação é imprescindível para o uso eficiente. Como já tratamos da comunicação, chegou a hora de abordar a linguagem. Conhece as suas divisões? A linguagem divide-se em: Linguagem verbal: utiliza a palavra, seja na oralidade ou na escrita; Linguagem não verbal: engloba todos os outros recursos que servem para comunicar, mas que não envolvem a palavra, como mímica, imagens, símbolos, gestos, expressão facial e corporal, tom de voz e muitos outros. Geralmente, em nosso cotidiano, usamos uma combinação de linguagem verbal e não verbal, uma vez que são complementares. Guarde essa dica especial! 13 Outra classificação existente para a linguagem, muito importante, é a seguinte: Linguagem padrão/padrão culto: é a formal, que tem mais prestígio social, usada em textos oficiais, artigos científicos, jornais, artigos, conferências e outros contextos que exijam a utilização da norma culta da Língua Portuguesa. Linguagem não padrão: aquela que foge da linguagem padrão, espontânea, envolvendo uso de regionalismos, neologismos, gírias e outros recursos mais típicos da oralidade. Mas, atenção! No que se refere às divisões e as classificações da linguagem, não existe uma linguagem errada. Para deixar isso claro, ocorre que alguém que utiliza a língua padrão em seu cotidiano não está mais correto do que uma pessoa que, ao conversar com um amigo, adota a linguagem típica da sua região de origem. Nesse sentido, entenda que o interessante é a adequação da linguagem ao contexto. Pois bem. Neste ponto, tendo abordado a linguagem e a comunicação de um modo geral, voltaremos nossa atenção às especificidades da comunicação oficial, para compreendermos a configuração da linguagem técnica, sua importância e a necessidade do seu emprego nos expedientes oficiais, ou seja, para assimilarmos a linguagem técnica na correspondência oficial. E você sabe o que é a redação oficial? Ela é a nossa premissa. Ela pressupõe a linguagem técnica. A redação oficial diz respeito a normas utilizadas pelo serviço público para redigir seus documentos. A finalidade precípua é comunicar tecnicamente, com impessoalidade e clareza, para que a mensagem transmitida seja compreendida por 14 todos os cidadãos. Tecnicamente, a redação oficial é clara, concisa, impessoal, formal e padronizada. A linguagem técnica não concebe que a correspondência oficial (correspondência oficial/comunicação/pareceres e relatórios. Lembre-se!) seja redigida de forma obscura, que dificulte ou impossibilite sua compreensão. Pois a transparência do sentido dos atos normativos, bem como sua inteligibilidade, são requisitos do próprio Estado de Direito. Vale insistir, é inaceitável que um texto oficial não seja entendido pelos cidadãos, daí a importância da técnica no uso da linguagem. Desse modo, resta claro que, tratando-se da elaboração de pareceres e relatórios, a linguagem técnica inerente à redação oficial é exigida e indispensável, pois, além de representar outras virtudes, é fator de uniformidade. Veja que a uniformidade da correspondência oficial é imprescindível, uma vez que haverá sempre um único emissor, qual seja, o Serviço Público, e dois possíveis receptores, isto é, o próprio Serviço Público ou os cidadãos. Outro aspecto importante é a interpretação do texto oficial, que deve ser sempre impessoal e uniforme, para que possa ser adequado, qualidade relacionada à adoção do padrão culto da linguagem, o qual também é atributo da linguagem técnica. Agora, pergunte-se: Na elaboração de pareceres e relatórios, de alguma forma, em algum momento, dá para fugir da linguagem técnica, aqui compreendida como o conjunto de técnicas constituintes da redação oficial? A resposta é não. Observe que, dado o aspecto profissional e oficial inerente aos pareceres e relatórios, esses documentos contemplam preceitos elencados no artigo 37 da Constituição Federal, conforme se aponta: CAPÍTULO VII 15 DA ADMINISTRAÇÃOPÚBLICA Seção I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (…). Constituição Federal de 1988 (GRIFOS NOSSOS) Ora, a comunicação oficial deverá ser entendida por qualquer cidadão, como você bem sabe. E esse atributo é diretamente relacionado ao princípio da publicidade, consagrado na Carta Magna. Mas não se assuste! A redação oficial não está condenada a ser estéril e contrária à evolução da língua. Entretanto, precisa ficar claro que comunicar com impessoalidade e máxima clareza exige certas regras, privilegiadas nos preceitos da linguagem técnica, cujo conceito contextualizamos neste tópico. Para comunicar com impessoalidade e máxima clareza na elaboração dos nossos pareceres e relatórios, o que nos interessa é compreender a principal característica da comunicação oficial, que, evidentemente, é a linguagem técnica, daí a sua grande importância. Formalidade, padronização, padrão culto da linguagem, impessoalidade, clareza e concisão caracterizam a linguagem técnica. Todos esses elementos configuram a correspondência oficial. Note que o grande objetivo da linguagem técnica é esclarecer e informar. Desse modo, há predomínio de linguagem denotativa, aplicando-se o sentido literal das palavras. O discurso é construído na 3ª pessoa, isento de expressões que 16 evidenciem a opinião fora do âmbito profissional do emissor, para uma linguagem clara e objetiva. Por fim, também importante a respeito da aplicação da linguagem técnica é o entendimento das denominadas funções da linguagem. Pois quando se recorre ao processo comunicativo para transmitir uma mensagem, há sempre uma intenção, a qual se relaciona diretamente a uma das seis funções da linguagem (função referencial, função apelativa ou conativa, função expressiva ou emotiva, função poética, função fática, função metalinguística) e a um dos elementos da comunicação (emissor, mensagem e receptor). Dentre as funções da linguagem utilizadas na linguagem técnica, tem destaque a função referencial, cujo conceito foi delimitado pela teoria do linguista russo Roman Jakobson, também conhecida como função informativa ou denotativa. Porquanto é voltada a dados concretos, imparcial e precisa, para culminar na eficácia da linguagem. Veja o texto abaixo, um exemplo do uso da função referencial da linguagem: Escrever sempre foi uma habilidade vital nos negócios. Em 1988 uma pesquisa feita no EUA mostrou que 79% dos executivos entrevistados citaram a escrita como uma das habilidades mais negligenciadas no mundo empresarial, contudo uma das mais importantes para produtividade. Em 1992, uma pesquisa feita pela Associated Press com 402 companhias mostrou que os executivos identificaram a redação como a habilidade mais valorizada em um empregado, mas disseram que 80% dos seus empregados em todos os níveis precisavam melhorar seus textos. 17 Uma pesquisa feita em 2003 mostrou que muitos vestibulandos encontram grandes dificuldades em passar a resolução dos exercícios para o papel, muitas vezes são ótimos em questões de múltipla escolha, mas possuem baixo desempenho em questões dissertativas, pois conhecem a matéria, sabem as respostas dos exercícios, mas não conseguem respondê-las de forma clara. Pesquisas atuais dão resultados semelhantes – a mensa- gem é, se você quiser ter sucesso, você tem de saber escrever bem. Disponível em: [https://www.mundovestibular.com.br/articles/344/1/A- IMPORTANCIA-DA-COMUNICACAO-ESCRITA/Paacutegina1.html.] Acesso em: 05 jun. 2018. Vale ressaltar que os textos não apresentam uma única função da linguagem. Há sempre uma função que predomina, mas ela não é exclusiva. Por motivos óbvios, para não dizer técnicos!, a função referencial predomina em pareceres e relatórios. O sentido da função referencial ou denotativa é ser objetiva e imparcial. O foco da comunicação é o referente, ou seja, o objeto da mensagem ou a situação nela abordada. Pronto, já conhecemos o que nos basta da linguagem técnica para a aplicação na elaboração de parecer e relatório! Veja que não é difícil assimilar o conjunto de informações expendidas, ainda que extensas. É só lembrar sempre que, conforme explicitado, a linguagem técnica tem suas características (formalidade, padronização, padrão culto da linguagem, impessoalidade, clareza e concisão) centradas na necessidade de transmitir ao 18 https://www.mundovestibular.com.br/articles/344/1/A-IMPORTANCIA-DA-COMUNICACAO-ESCRITA/Paacutegina1.html https://www.mundovestibular.com.br/articles/344/1/A-IMPORTANCIA-DA-COMUNICACAO-ESCRITA/Paacutegina1.html interlocutor dados da realidade, direta, concisa e objetivamente, com ênfase no contexto, em consequência lógica, evitando a elasticidade interpretativa do discurso literário, afeto a outras funções da linguagem, como a poética e emotiva. Enfim, tudo isso está diretamente relacionado ao ditame constitucional que assegura que a administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Segue uma esquematização sucinta e prática sobre os elementos essenciais que caracterizam a linguagem técnica, isto é, formalidade, padronização, padrão culto da linguagem, impessoalidade, clareza e concisão. FORMALIDADE E PADRONIZAÇÃO: correto emprego do pronome de tratamento para uma autoridade de certo nível; polidez; civilidade; urbanidade. PADRÃO CULTO DA LINGUAGEM: correção gramatical; regras da gramática formal; vocabulário comum ao conjunto dos usuários do idioma; afastamento do jargão burocrático. IMPESSOALIDADE: ausência de impressões individuais de quem comunica; impessoalidade de quem recebe a comunicação; caráter impessoal do próprio assunto tratado. CLAREZA E CONCISÃO: coesão; coerência; objetividade; correção gramatical; economia linguística; relevância. DICA RÁPIDA! Sentido denotativo: sentido real. Sentido conotativo: sentido figurado. 19 2. Competência textual Ao escrever, você busca ser coeso, apresentando uma ideia completa, correta gramaticalmente, clara, objetiva, portanto coerente, sobre o tema proposto. Ao fazer isso, você está, necessariamente, investindo em competência textual, que, em suma, diz respeito a escrever um texto de forma adequada, direcionando a linguagem ao público e ao contexto situacional da mensagem, mediante o esforço de evitar vícios de linguagem, os quais afetam a credibilidade do emissor da comunicação e, consequentemente, da instituição que representa. Destarte, na produção de textos, é importante assimilarmos os fundamentos linguísticos básicos, dentre eles, o conceito de texto, a importância, as funções e os níveis da linguagem. 2.1 Texto Anteriormente, estudamos a “comunicação” e a “linguagem”, para, finalmente, abordarmos as variantes de ambas: “oficial” e “técnica”, respectivamente. Mas você saberia dizer o que é texto? Decerto, entender o que seria um texto é o primeiro passo a ser dado na direção da “competência textual”. A premissa de que a atuação do Ministério Público Federal pressupõe a produção e o uso de textos de caráter documental e jurídico, os quais, por suas características e finalidades, exigem a adequação da linguagem e, portanto, o conhecimento de regras e a aplicação de técnicas de redação, evidencia a importância do texto e da linguagem na atividade da instituição a que pertencemos. De modo geral, o texto é entendido como umconjunto de frases, uma construção que foi feita para ser lida e interpretada. Porém, definir o que é texto não 20 é tão simples. Saiba que a noção de texto é ampla e, ainda, aberta a uma definição mais precisa. Considerando a amplitude, a abrangência do tema, texto será aqui tratado, simplesmente, como a formalização estruturada de elementos com sentido, como a coesão e coerência, que, estabelecendo relação entre si, ensejam interpretação, adquirindo significado. Conforme leciona Agnaldo Martino (2018, Pág. 291), o texto não é qualquer aglomerado de frases. É constituído de vários componentes estilísticos, esquemáticos, retóricos, não se limitando, assim, a componentes simplesmente gramaticais. Portanto, o texto pode ser uma palavra ou um artigo científico completo. Pode ser literário, o qual possui uma dimensão estética, plurissignificativa e dinâmica, que enseja a criação de variadas relações de sentido. Ou pode ser não literário, no qual os significados são mais restritos, tendo em vista a pertinência de uma informação mais eficiente no processo de documentação da realidade. Pareceres e relatórios são textos não literários. SUGESTÃO DE LEITURA MARCHIONI, Rubens. Escrita criativa: da ideia ao texto. São Paulo: Contexto, 2018. Esse livro estuda o texto, mostrando como usar conhecimentos e técnicas de diversas áreas para aprimorar a escrita, tanto para quem já é escritor quanto para quem quer começar a escrever. 21 2.2. Coesão e coerência Coerência e coesão são fundamentais na tessitura de um texto. Desse modo, não podemos nos furtar de prestar absoluta atenção a elas. Em resumo, coerência exige coesão. Por isso, é fácil perceber que o texto, para existir, depende de coerência e coesão, não é mesmo? E o que seria coesão? A coesão textual é uma relação semântica. Refere-se a conexões de elementos como palavras, expressões e frases, permitindo amarrar as ideias no texto. Decorre da continuidade exigida pelo texto. Ocorre quando, para fins de interpretação, os elementos do discurso são interdependentes, caso em que um pressupõe o outro, no sentido de que não podem ser decodificados a não ser por recurso ao outro. A coerência está relacionada com a possibilidade de compreensão do que foi dito ou escrito, resultando da não contradição entre as partes do texto e, além disso, do texto em relação aos fatos, à realidade. Responsável por construir os sentidos do texto, como resultado de uma complexa rede de fatores de ordem linguística, cognitiva e interacional, a coerência é o que faz ele funcionar como comunicação. No caso, interessa assimilar que coesão e coerência são aspectos formais que dão forma e sentido ao texto, evidenciando competência textual do autor, isto é, a efetiva capacidade de produção de um texto eficiente. Mas, em meio a tantos detalhes sobre o texto, você também já ouviu ou leu a máxima generalizante de que é necessário “dom” para escrever, principalmente no caso de literatura ou poesia, e isso provoca certa insegurança?! 22 Pois bem. O que efetivamente precisamos é desenvolver e aprimorar a capacidade de elaborar pereceres e relatórios, documentos (textos) essencialmente técnicos. E essa produção é do nosso alcance, uma vez adquirida a necessária competência textual, assunto que a partir de agora, depois de estudar coesão e coerência, aprofundaremos de forma bem prática, voltados aos recursos institucionais disponíveis. SUGESTÃO DE LEITURA KOCH, I. G. V.; TRAVAGLIA, L. C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 2011. 2.3 Competência textual em pareceres e relatórios institucionais Entende-se como competência textual a capacidade do usuário de, em situações de interação comunicativa, produzir, compreender, transformar e classificar textos que se mostrem adequados à interação comunicativa pretendida, utilizando regularidades e princípios de organização e construção dos textos e do funcionamento textual, já que os textos são a unidade da língua em uso, conforme ensinamento do professor Doutor Luiz Carlos Travaglia, em GLOSSÁRIO CEALE*, disponível no endereço eletrônico abaixo: [http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/compete ncia-comunicativa]. Acesso 24 de jun. de 2019. A competência textual, no que concerne à atividade do Ministério Público da União, diz respeito à capacidade de elaborar textos institucionais que possibilitem comunicação oficial eficiente, persuasiva e adequada às diferentes situações 23 decorrentes das relações com o público (interno e externo), visando suprir plenamente às necessidades informacionais do receptor da mensagem em relação à praticidade e à clareza das informações prestadas. Naturalmente, essa competência é adquirida pela prática consciente, habitual e obstinada, já que escrever bem é sobretudo uma questão técnica. Técnica que, no nosso caso, envolve o conhecimento das normas e padronizações institucionais. Dito isso, note que, para ajudar com a competência textual relacionada à elaboração de relatórios e pareceres, dispomos de ferramentas institucionais como o Manual de Redação e Padronização de Atos Oficiais do Ministério Público Federal, instituído pela Portaria PGR/MPF nº 543, de 9 de julho de 2014. Esse manual, estabelecendo diretrizes e princípios de redação oficial, confere maior segurança à instituição, na medida em que se trata de ferramenta teórico referencial, que permite maior clareza e padronização na produção de comunicação oficial. Desse modo, assegura maior assertividade e acessibilidade à correspondência oficial, traduzindo-se em excelente recurso de competência textual. O Manual existe em versão impressa e pode ser encontrado no endereço eletrônico abaixo: [http://bibliotecadigital.mpf.mp.br/bdmpf/bitstream/handle/11549/5372 /manual_atos_oficiais_200_ONLINE.pdf?sequence=7&isAllowed=y] Outro recurso bastante interessante, no que diz respeito ao desenvolvimento da competência textual que buscamos, é o Manual de Redação da Presidência da República, em sua 3a edição, revista, atualizada e ampliada, de 2018, que trata de Redação Oficial do ponto de vista da administração pública federal. Esse manual apresenta as características fundamentais da redação oficial; procede à análise pormenorizada de cada um de seus atributos; esclarece que a redação das comunicações oficiais deve, antes de tudo, seguir preceitos; revela características específicas de cada tipo de expediente; e apresenta os aspectos comuns a quase todas as modalidades de comunicação oficial. Diante disso, a Secretaria de Administração Federal baixou a Instrução Normativa n. 4, tornando obrigatória, nos órgãos da administração federal, a observação das modalidades de comunicação 24 oficial, constantes no manual em apreço. Veja o Manual no endereço eletrônico abaixo: [http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de- redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdf] Vale destacar que o Próprio Manual de Redação e Padronização de Atos Oficiais do Ministério Público Federal adota, como referência bibliográfica, o Manual de Redação da Presidência da República editado em 2002. Tenhamos sempre em vista que a competência textual que efetivamente nos interessa diz respeito à elaboração de pareceres e relatórios, em conformidade com a norma culta, atendendo aos princípios de clareza, objetividade, precisão e concisão, com consciência de que comunicação é um processo. Pois bem. Abandone de vez o medo de escrever! E se convença de que a competência textual para a elaboração de pareceres e relatórios, que nos interessa, é bastante acessível e fácil de desenvolver, haja vista especialmente as orientações obtidas em manuais oficiais aqui referidos, os quais são ricos e valiosos instrumentospara auxiliar a redigir a comunicação oficial com maior segurança e eficiência. 3. Níveis de linguagem Você utiliza a mesma linguagem, na escrita ou na fala, em qualquer situação? É claro que ninguém usa a mesma linguagem o tempo inteiro. Seja na escrita ou na fala, você se comunica em situações cotidianas de diversas maneiras, já que a linguagem sofre variações conforme o assunto, o ambiente, os interlocutores (emissor e receptor) e a intencionalidade. Trata-se, pois, de adequação linguística. 25 http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdf http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdf O processo de interação comunicativa é heterogêneo. Não se escreve para uma autoridade no exercício de suas funções conforme se escreveria para um parente próximo. Bem como não se fala em uma reunião de trabalho conforme se expressaria em uma roda de amigos festejando. Isso ocorre porque existem níveis de linguagem adequados para cada situação e contexto, a favor da adaptação da comunicação. Portanto, a adequação linguística é a habilidade comunicativa de adaptar a linguagem a um determinado nível, de acordo com a necessidade do momento. Nesse sentido, um conceito notável define língua como lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos, que vão exigir dos semelhantes reações, levando ao estabelecimento de vínculos e compromissos anteriormente inexistentes (KOCH, 1996). A língua varia com, pelo menos, quatro parâmetros básicos: segundo a escolaridade; segundo a situação de comunicação; no tempo; no espaço. Precisamos compreender é que nossa língua possui níveis de linguagem, funcionando como uma entidade em constante transformação. De modo que palavras novas são criadas ou assimiladas de outros idiomas, para dizer o mínimo necessário, em acompanhamento aos hábitos, comportamentos e conhecimentos que surgem no decorrer do tempo. Uma noção muito conhecida aponta que a capacidade da língua de se transformar e se adaptar decorre de componentes históricos, regionais, sociais e de estilos, abaixo em destaque. Histórico: a língua evolui de acordo como o tempo. Exemplo clássico: vossa mercê, vosmecê, você. 26 Regional: diferentes regiões utilizam palavras distintas que significam a mesma coisa. Exemplo: aipim, mandioca, macaxeira. Social: os diferentes grupos sociais aderem a formas diversas de linguagem, por exemplo, de acordo com a idade, sexo e classe social. Estilo: a situação do uso da língua define a adoção do nível de linguagem (formal e informal; padrão e não padrão; coloquial; culta). Desse modo, o nível de linguagem que eventualmente adotamos observa a situação de interlocução, aspectos socioculturais e a intenção do discurso. A rigor, para a elaboração de pareceres e relatórios, interessa o nível de linguagem denominado formal ou culto (ordenada, metódica, coerente; utilização rigorosa das normas gramaticais; pronúncia clara e correta das palavras; utilização de vocabulário rico e diversificado; registro cuidadoso, prestigiado, complexo e erudito), no qual se subsume a linguagem técnica, e cujo oposto é a variação informal ou coloquial. Utilizando o nível de linguagem formal ou culto na redação de correspondências oficiais, você estará regido por princípios que favorecem a existência de uma única interpretação para o texto do expediente, assim como asseguram impessoalidade e uniformidade no trato dos assuntos concernentes à instituição que representa. SUGESTÃO DE LEITURA CHALHUB, Samira. Funções da Linguagem. 11. ed. São Paulo: Ática, 2003. 27 Livro que explica de modo claro e simples as funções da linguagem propostas por Jakobson. 4. O que deve ser evitado Até aqui, você já aprendeu que são peculiaridades da redação oficial, cujas regras são utilizadas para a tessitura de pareceres e relatórios no âmbito do serviço público, a impessoalidade, o padrão culto da língua, a formalidade, a padronização, a concisão e a clareza. Agora, passaremos a tratar, de forma prática e objetiva, do que deve ser evitado no texto, para assegurar a propriedade na elaboração da comunicação oficial. Você percebe que a mera troca de letras pode ocasionar alteração no sentido da palavra, até mesmo de todo um período, prejuízo esse que deve ser evitado a todo custo, não é mesmo?! Pois é. A correção ortográfica é requisito básico de todo texto, imprescindível quando se trata de textos oficiais. Portanto, os erros de grafia devem ser a primeira coisa a ser evitada. Na produção de comunicação oficial, pode-se dizer que esses erros são de dois tipos: os que surgem da inadequação no emprego de determinada letra, por desconhecimento de como grafar uma palavra, e aqueles decorrentes de lapso de digitação. Assim, há necessidade de revisar o documento, sempre levando em conta a correta escrita. Também devem ser evitados os erros de sintaxe, deslizes como problemas com o sujeito, frases fragmentadas, erros de paralelismo, erros de comparação, ambiguidade, ausência de concordância e falha na pontuação. 28 Sintaxe diz respeito ao estudo da palavra em consideração às outras que com ela se unem para exprimir o pensamento. Notadamente, é a parte mais importante da Gramática, porquanto contribui de modo especial para a clareza da exposição e para a ordenação do pensamento, afastando obscuridades. Geralmente, a obscuridade, a incorreção na pontuação, a ambiguidade das expressões, os erros de comparação etc. ocorrem pelo desconhecimento ou pela negligência na ordem das palavras na frase. Outro fator que merece atenção é a Semântica. Ela estuda o sentido das palavras e os significados que lhe são atribuídos nas expressões, frases e unidades maiores da comunicação verbal. Deve-se verificar sempre o contexto em que as palavras estão sendo utilizadas e procurar sinônimos, ou termos mais precisos para evitar a repetição viciosa de palavras, buscando-se por vocábulos já de uso consolidado, sem prejuízo do sentido pretendido. Por fim, devem ser evitados coloquialismos ou expressões de uso restrito a determinados grupos, como os jargões e as gírias, na medida em que comprometeriam a compreensão do texto. Seguem algumas recomendações, as quais evidenciam as melhores práticas redacionais: Busque clareza e concisão; Tenha em mente o objetivo do documento e se atenha a ele; Domine o tema sobre o qual escreve; 29 Evite a linguagem rebuscada; Elimine os adjetivos supérfluos. E evite advérbios desnecessários; Sendo possível, dispense os verbos auxiliares (ser, ter e haver); Não formule figuras de linguagem ou frases ambíguas. E evite redundância. MÓDULO II – PADRONIZAÇÕES Conforme já estudamos, parecer e relatório pressupõem a adoção de formatos padronizados, com características peculiares. O Manual prático de padronização de atos do Conselho Nacional do Ministério Público (2016) afirma que a padronização de documentos é um importante parâmetro de avaliação do nível de organização de uma instituição. Destacando que ao assegurar a boa apresentação do documento, a padronização impacta positivamente o destinatário, transmitindo-lhe a mensagem de que o ato foi elaborado com zelo e seriedade, ao mesmo tempo em que realça o sentido de unidade e coesão do órgão. Perceba que a uniformização e a correta diagramação das comunicações técnicas, aliadas às qualidades do texto já estudadas, culminarão na adequada transmissão da mensagem. Não resta dúvida, portanto, de que texto produzido no decurso das atividades institucionais deve ser unívoco, preciso e completo, e que a sua redaçãodeve ser simples e estilisticamente elegante, mas sem abdicar da clareza, da precisão e da completude, de forma a não dificultar a compreensão, não é mesmo?! 30 Dessa forma, a elaboração de pareceres e relatórios institucionais deve se orientar pelos elementos normativos que conduzirão à padronização perseguida, observando o mecanismo de comunicação pelo qual a Administração Pública formula suas correspondências: redação oficial. Nesse contexto, é clara a importância do Manual de Redação e Padronização de Atos Oficias do Ministério Público Federal, que foi citado diversas vezes em nossa capacitação, concorda? Pois ele foi desenvolvido justamente com o objetivo de uniformizar e simplificar o processo de elaboração das comunicações oficiais no âmbito da instituição que representamos. Ora, o estudo minucioso da uniformização de parecer e relatório prescrita pelo MPF se reveste da praticidade conveniente ao nosso curso. Contemplando a padronização, ele prima por clareza, precisão, objetividade, coesão, coerência, impessoalidade, formalidade e uso da norma-padrão da língua. Note, portanto, que estamos falando de um precioso material voltado aos atributos da redação. Veja que, submetido à consulta pública entre membros e servidores e compilado pela Secretaria-Geral, o Manual reúne temas de redação oficial como: aspectos gramaticais, regras para elaboração da correspondência oficial, forma e estrutura e modelos de documentos técnicos (relatórios, pareceres etc.). Assim, tendo em vista o seu caráter institucional e, sobretudo, que cumpre satisfatoriamente o compromisso a que se destina, ele será de consulta recorrente por todos os que primarem pela melhor escrita institucional. É isso. Preciso deixar claro que, tratando-se de padronizações, o Manual de Redação e Padronização de Atos Oficias do Ministério Público Federal é o nosso paradigma, constituindo diretrizes e métodos a serem adotados, em suma, abrangendo o rol de elementos normativos que nos interessa. 31 A seguir serão abordados elementos normativos que deverão ser observados na elaboração de relatórios e pareceres, de acordo com o que é recomendado pela padronização institucional. Em casos omissos, as informações serão complementadas pelas regras gerais de estilo e formatação trazidas no conteúdo das normas da ABNT, ou considerando os ensinamentos devidamente autorizados de Marcelo Paiva, no abrangente curso Elaboração de relatório e parecer (2012). Perceba que estamos abordando regras, com pouco ou nenhum espaço para originalidade e inovação, até mesmo no modo de apresentação, sob pena de prejuízo dos conceitos e das aplicações práticas. Vamos lá! 1. Elementos normativos Artigo O artigo é a unidade básica para apresentação, divisão ou agrupamento de assuntos em um texto normativo. É a parte que forma divisão ou subdivisão em uma norma e que tem relação de conjunto com a que a precede ou com a que a segue. De acordo com a Lei Complementar nº 95/1998 (alterada pela Lei Complementar nº 107/2001) e com o Decreto nº 9.191/2017, que estabelecem normas e diretrizes para a elaboração, redação, alteração e consolidação – entre outros aspectos – de atos normativos, são as seguintes as regras fundamentais em relação ao artigo: A unidade básica de articulação será o artigo, indicado pela abreviatura Art., seguida de numeração ordinal até o nono, inclusive, e cardinal a partir deste. No primeiro caso, a numeração do artigo é separada do texto por dois espaços em branco, sem traços ou outros sinais. A partir do décimo artigo, utiliza-se um ponto separando o numeral do texto que o segue: 32 Art. 9º Os objetivos do Planejamento Estratégico do MPF são: (...) Art. 10. Os objetivos do Projeto Wiki MPF são: (...) Os artigos se desdobram em parágrafos ou em incisos e, dentro deles, os parágrafos se desdobram em incisos, os incisos em alíneas e as alíneas em itens. Em remissões a artigos de um texto normativo, deve-se empregar a forma abreviada art. seguida do número correspondente. Por outro lado, usa-se a palavra artigo, por extenso, se vier empregada em sentido genérico ou não vier expresso o respectivo numeral: A Lei Complementar nº 75, no seu art. 37, trata (...); A norma faz referência ao artigo anterior; O artigo da Resolução que trata (...). O texto de um artigo se inicia sempre por maiúscula e termina por ponto, salvo nos casos em que contiver incisos, quando deverá terminar por dois-pontos. Parágrafo Os parágrafos constituem, na técnica legislativa, a imediata divisão de um artigo ou, ainda, uma disposição secundária que explica ou modifica a disposição principal. Os parágrafos são representados pelo sinal gráfico §, seguido de numeração ordinal até o nono, inclusive, e cardinal a partir deste (da mesma forma que os artigos). Deve-se, ainda, observar: Até o § 9º, é dispensado o uso de ponto e é indicada a inclusão de dois espaços brancos entre o numeral e o texto; a partir do § 10, emprega-se o ponto. 33 Nas citações e referências bibliográficas em um texto corrido, usa-se o sinal gráfico (§). Quando a referência for a mais de um parágrafo, usa-se o referido sinal duplicado (§§). Usa-se a palavra parágrafo, por extenso, quando o parágrafo for único ou quando o sentido for vago, indeterminado, e estiver desacompanhado do número respectivo: Art. 18. O Subcomitê Gestor de Tabelas será constituído (...) Parágrafo único. O SGT será coordenado (...) A norma contida no parágrafo anterior (...) O texto de um parágrafo inicia-se por maiúscula e encerra-se por ponto final, exceto quando se subdivide em incisos, situação em que se empregam dois-pontos antes das subdivisões. Incisos Os incisos são utilizados como elementos discriminativos de um artigo ou de um parágrafo se o assunto nele tratado não puder ser condensado no próprio artigo ou não se mostrar adequado a constituir parágrafo. Os incisos são indicados por algarismos romanos, seguidos de travessão e separados por ponto e vírgula, salvo o último, que se encerra em ponto; o inciso que contiver desdobramento em alíneas se encerra por dois-pontos. O texto de um inciso é iniciado por letra minúscula, a menos que a primeira palavra seja nome próprio: Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho: I – o Tribunal Superior do Trabalho; e II – os Tribunais Regionais do Trabalho. 34 Alíneas As alíneas são desdobramentos dos incisos e vêm indicadas por letras minúsculas seguidas de parênteses. Quanto às iniciais e à pontuação dos textos das alíneas, empregam-se as mesmas regras dos incisos: Art. 14. (…) § 1º O alistamento eleitoral e o voto são: I – obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II – facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (Constituição Federal). Quando citada em ordem direta, a alínea deve ser grafada por extenso: A alínea c do inciso V (...). Na ordem indireta, o nome alínea pode ser suprimido: O art. 67, IX, c, do Regimento Interno. Itens 35 Os itens são desdobramentos das alíneas e vêm indicados por algarismos arábicos. As letras iniciais e a pontuação dos textos dos itens seguem o padrão dos incisos: Art. 1º Atribuir à Comissão de Implantação do Sistema Único as seguintes atividades: I – realizar testes no Sistema: a) até 6 (seis) meses após implantação definitiva nas seguintes Unidades: 1. nas Coordenadorias Jurídicas; 2. nos Protocolos Jurídicos de cada Unidade. 2. Pontuação com elementos normativos Citar referências de elementos articulados geralmente causa dúvidas em relação ao uso de vírgulas. Veja as regras: a) ordem direta crescente, ligada pela preposição “de”, não recebe vírgula: O processo está baseado nos incisos I e II do artigo 226 do Código Penal. O advogado recorreu com base na alínea“d” do inciso III do artigo 593 do Código de Processo Penal. A autorização está fundamentada corretamente com base na alínea “b” do inc. II do art. 10 da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Observe que, no último exemplo, a vírgula aparece somente por causa da data. 36 b) sequência de ordem indireta, mesmo com a preposição “de”, é separada por vírgula. Tal situação é regulada no art. 302, inc. III, do Código de Processo Penal. O art. 5º, inc. XXXVI, da Constituição de 1988 repete a regra do art. 153, § 3º, da Constituição de 1967. Erros comuns: A art. 14, “b” do Código de Processo Penal (faltou a vírgula após a alínea). O art. 14, do Código de Processo Penal (não existe a vírgula após o número do artigo, pois está na ordem crescente). 3. Datas As datas devem ser grafadas com as seguintes normas, institucionalmente consagradas: 1. A localidade não pode sofrer abreviatura. 2. A unidade da federação não é obrigatória. 3. O primeiro dia é sempre ordinal. Não existe zero antes do número 2 ao 9. 4. O mês é minúsculo e por extenso. 5. Não existe ponto entre o milhar e a centena no ano: 2012 (não: 2.012). 37 6. Nos casos em que for cabível o uso da data abreviada (nunca na data do documento), não se deve pôr zero à esquerda do número no dia e no mês: 5/6/2012 (não: 05/06/2012). 7. No interior do texto, as datas e os anos podem ser escritos de forma plena ou abreviada. No entanto, em órgãos públicos, a preferência é pela forma extensa. O primeiro dia do mês é designado com ordinal também. O Brasil proclamou a independência em 7 de setembro de 1822. Entre 1986 e 1988, o Congresso elaborou a atual Constituição brasileira, assinada em 8 de outubro de 1988. O Brasil foi campeão mundial de futebol em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. O documento foi assinado em 1º de abril de 2004. 8. Se a data não estiver centralizada, indica-se o uso de ponto final. Brasília, 1º de junho de 2010. Brasília, 2 de junho de 2010. Brasília-DF, 27 de junho de 2010. 9. Datas que se tornaram efemérides são escritas por extenso: O Sete de Setembro, o Quinze de Novembro, o Dois de Julho. Mas (dia 1º): o 1º de Janeiro, o 1º de Maio. 10. As décadas podem ser mencionadas sem a referência ao século (salvo quando houver possibilidade de confusão). 38 O “milagre econômico” da década de 70. Os anos 20 foram fortemente influenciados pela Semana de Arte Moderna de 1922. Na década de 1850. 4. Siglas, abreviaturas e símbolos Siglas As siglas são empregadas para evitar a repetição de palavras e expressões no texto. Na primeira citação, a expressão designada deve vir escrita por extenso, de forma completa e correta, sempre antes da sigla ou do acrônimo respectivo, que deve estar entre parênteses ou travessões e em letras maiúsculas. Exemplos: O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou ontem mais uma medida restritiva; A discussão do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) pela Câmara ainda promete alongar-se por muito tempo. Observações: Pode-se dispensar a parte por extenso apenas para a representação do nome dos partidos políticos, das empresas privadas ou quando a forma abreviada já se tornou sinônimo do próprio nome: PSDB, Bradesco, FGTS. Em caso de dúvida, prefira transcrever o significado da sigla. Não se usam aspas nem pontos de separação entre as letras que formam a sigla. Com sigla empregada no plural, admite-se o uso de “s” (minúsculo) de plural, sem apóstrofo: os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais), 300 UPCs, 850 Ufirs (não: 39 TRE’s, Ufir’s). Essa regra não se aplica a sigla terminada com a letra s, caso em que o plural é definido pelo artigo: os DVS (Destaques para Votação em Separado). O plural também pode ser feito pela duplicação das letras. Ex.: EEUU (Estados Unidos), HHCC (Habeas Corpus), RREE (Recursos Extraordinários). Siglas formadas por até três letras são grafadas com maiúsculas: ONU, PIS, OMC. Não se deve fazer divisão silábica de sigla grafada em letras maiúsculas. Siglas formadas por quatro ou mais letras cuja leitura seja feita letra por letra são grafadas com maiúsculas: PMDB, INPC, INSS. Siglas formadas por quatro ou mais letras que formem palavra pronunciável são grafadas preferencialmente como nome próprio (apenas a primeira letra é maiúscula): Otan, Unesco, Petrobras. Siglas em que haja leitura mista (parte é pronunciada pela letra e parte como palavra) são grafadas com todas as letras em maiúsculas: HRAN (Hospital Regional da Asa Norte). No caso de siglas consagradas que fogem às regras descritas, deve-se obedecer à sua grafia própria: MinC (Ministério da Cultura); UnB (Universidade de Brasília). Siglas que não mais correspondam com exatidão ao nome por extenso também devem ser acatadas, se forem as siglas usadas oficialmente: Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo); MEC (Ministério da Educação). 40 Siglas de órgãos estrangeiros formam-se com as letras da tradução do nome do órgão em português, quando essa denominação é usual: ONU (Organização das Nações Unidas); FMI (Fundo Monetário Internacional); Bird (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento). Caso a denominação não seja usual em nosso idioma, a sigla de órgãos estrangeiros forma-se com as letras do nome do órgão na língua estrangeira quando a tradução portuguesa não é usual: Nafta (North America Free Trade Agreement/Acordo de Livre Comércio da América do Norte); Unesco (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization/Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). As letras minúsculas são abreviaturas e não devem ser confundidas com as letras das siglas. A identificação de siglas pode ser pesquisada na obra Siglas brasileiras, publicada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia – IBICT. Abreviatura A abreviatura é a escrita reduzida de uma palavra ou locução e pertence ao estudo de processo de formação de palavras de nosso idioma. Trata-se de corte na palavra, com ou sem a omissão de alguma letra anterior, aceito nos casos em que há interesse máximo na síntese dos dados. Apesar do uso cada vez mais frequente, 41 a prática da abreviação vocabular ainda não deixou de gerar controvérsias. O manual de redação do Supremo Tribunal Federal orientar a evitar sempre que possível o uso de palavras abreviadas, sobretudo no interior de uma frase; abreviaturas são mais usadas em textos específicos, como dicionários e formulários. 1. Admite flexão de gênero, número e grau: Sr. ou Sra.; prof. ou profs.; D. ou DD. 2. O termo “S. A.”, embora tenha a aparência de sigla, constitui a abreviatura das palavras “sociedade” e “anônima”. Por isso, exige o uso do ponto, que não pode ser substituído por barra. 3. Para abreviar, sempre que possível termine a abreviatura em consoante. Ex.: ac. (acórdão), rel. (relator). Se a palavra é cortada em um grupo de consoantes, todas estas devem aparecer na abreviatura. Ex.: inst. (instituição), secr. (secretaria). Independentemente de a abreviatura terminar em vogal ou consoante, coloque sempre o ponto final. Ex.: ago. (agosto), téc. (técnica). 4. Há palavras cujas abreviaturas podem ser formadas pela combinação de suas consoantes ou de suas iniciais e suas últimas consoante e vogal. Ex.: dz. (dúzia), vl. (valor). 5. Se, na parte constante da abreviatura, aparece o acento gráfico da palavra, deve ele permanecer. Ex.: pág. (página), déb. (débito). 6. Em palavras compostas ligadas por hífen, deve ele ser mantido na abreviatura. Ex.: secr.-ger. (secretaria-geral), proc.-ger. (procurador-geral). 7. A inicial poderá ser maiúscula ou minúscula de acordo com as normas da ortografia oficial do atual Acordo Ortográfico em relação à palavra por extenso. Ex.: R. (Rua) das Laranjeiras ou r. (rua) das Laranjeiras, Dr. (Doutor) Albert Einstein, tel. (telefone),fl. (folha). 42 8. O ponto abreviativo, quando coincide com o ponto-final, acumula a função deste, por isso deve-se evitar a repetição: Foram convidados para o debate: políticos, professores, engenheiros etc. 9. Os meses são abreviados com as três letras iniciais. Se for escrito todo em letras maiúsculas, dispensa-se o ponto. Se for escrito apenas com a inicial maiúscula ou todo em letras minúsculas, deverá aparecer o ponto abreviativo. Não se abrevia o mês de maio. Ex.: JAN, Jan., jan. 10. Existem abreviaturas que podem ser reduzidas com variações: a.C. ou A.C. (antes de Cristo); f., fl. ou fol. (folha). 11. Existem abreviaturas que representam mais de uma palavra: p. (página, pé, palmo). 12. Não se abreviam nomes geográficos, a não ser os estados da Federação e casos mundialmente aceitos: DF (Distrito Federal), SP (São Paulo), USA (Estados Unidos da América), UK (Reino Unido). Portanto, as cidades brasileiras são sempre grafadas por extenso: Rio de Janeiro, São Paulo etc. 13. Por praticidade, as abreviaturas podem ser grafadas sem sobrelevação, seguidas de ponto (Cia., Dra., V. Exma.), desde que não formem palavras inadequadas, como profa. (professora), amo. (amigo), no. (número). Tal recurso não é muito empregado em textos jurídicos. 14. Também não se abreviam palavras com menos de cinco letras. Exceções: h (hora), id. (idem), S. (São), t. (tomo), v. (ver, veja, vide), S (Sul). 15. As unidades de peso e medida são abreviadas quando seguem os numerais: 10 g, 24 ml. Abreviaturas das unidades de medida não têm plural nem ponto: centímetro (cm), metro (m), segundo (s), grama (g), milímetro (mm), quilograma (kg), quilômetro (km). Quando apresentadas isoladamente, devem ser gradas por extenso: grama, mililitro. 43 16. Os plurais também comportam abreviatura, sendo geralmente indicados pelo acréscimo da letra “s” antes do ponto que indica o corte. Todavia, alguns plurais são indicados pela duplicação da letra. Exemplos: sécs. XV e XVI; págs. 54 e 55; fls. 56 e segs.; srs.; dras.; S. Sas.; V. Exas.; AA. (autores); EE. (editores). Observe que o “S.” de “Sua Senhoria” e o “V.” de “Vossa Excelência” ficam invariáveis nos exemplos acima. Isso porque não há forma abreviada plural para os possessivos integrantes dos pronomes de tratamento. Tampouco se pluraliza a abreviatura de “dons” ou “donas”. Além do plural, a duplicação da letra pode também indicar o superlativo: D. (digno), DD. (digníssimo). 17. Ressalte-se, a propósito, que não se usa a abreviatura “n°” antes do numeral que discrimina o logradouro, mas sim a vírgula, nem se marca a separação das ordens ou classes com espaço ou ponto. No caso de referência a caixa postal, é vedado o uso tanto da abreviatura de “nº” quanto da vírgula: Caixa Postal 4352. 18. As abreviaturas do sistema de unidades de medida, ao contrário das demais, não recebem ponto nem plural, são grafadas com letras minúsculas e separadas por espaço do número que normalmente acompanham. Exemplos: 289 t; 3 kg; 45 g; 130 m; 12 km; 1 h; 22 h; 7 min, 18 s; 50 l; 600 ml; 27 ha. Observações: Só se suprime o espaço entre a abreviatura e o número diante da possibilidade de fraude e no caso de transcrição completa de horário (hora e minutos ou hora, minutos e segundos). Exemplos: 9h57min; 1h20min; 18h16min14s. Não se abrevia unidade de medida não determinada e tampouco se misturam abreviaturas com medidas transcritas por extenso. 19. As abreviaturas de colendo, egrégio e eminente ainda não foram registradas, contudo são frequentes no meio jurídico. Símbolos 44 São abreviaturas fixadas por convenções quase sempre internacionais. Geralmente, não recebem ponto abreviativo, não admitem plural nem são escritos com letra maiúscula: 200 g (200 gramas); 5 km (5 quilômetros); 2 min (dois minutos). 1. Alguns casos, no entanto, são escritos com letras maiúsculas: os símbolos que se originam de nomes próprios: W (watt), N (newton); os prefixos gregos: M (mega), G (giga), MHz (megahertz); os símbolos dos elementos químicos: O (oxigênio), Au (ouro), Ag (prata); os símbolos dos pontos cardeais: N (norte), S (sul), L (leste), O (oeste). 2. A representação das horas nunca deverá conter vírgula, pois esta é privativa de decimal. Ex.: 16h15min, 16.15 e jamais 16,15 h. 3. Os símbolos das unidades de medida, com exceção das horas, devem ser escritos depois do número a que se referem e não antes ou intercalados entre a parte inteira e a parte decimal. Ex.: 34,5 km, 1,25 kg, 35 mm e não 34km500m, 1kg250g, mm35. 4. Os símbolos das unidades de ângulo plano são grafados como expoentes. Ex.: 45°, 13°18’20”. 5. O símbolo do real é R$. Fica antes do número que indica a importância e separado deste por um espaço. Se houver possibilidade de fraude, deve-se escrever também por extenso. 6. Recomenda-se observar espaço entre entre o número e o símbolo, exceto na combinação de horas e minutos. Ex.: 10 cm, 22 m, 15 mm, 1.000 kW, 2 kg, 200 Kg, 2h30min, 23 h. 7. Pesos e medidas devem ser escritos por extenso, a não ser em tabelas e gráficos (quilos, metros, hectares, acres etc.). Exceções: abrevia-se quilômetro quando em referência a um ponto determinado de uma rodovia (“Os grevistas bloquearam o tráfego no Km 345 da BR-103”) e peso e altura de pessoas (90 kg; 1,80 m). 45 5. Citação Citação é a menção, no texto, de informação extraída de outra fonte para esclarecer, ilustrar ou sustentar o assunto apresentado. Devem ser evitadas citações referentes a assuntos amplamente divulgados, rotineiros ou de domínio público, bem como aqueles provenientes de publicações de natureza didática, que reproduzem, de forma resumida, os documentos originais, tais como apostilas. As citações podem ser diretas ou indiretas. A citação direta é a transcrição literal de um texto ou parte dele que conserva a grafia, a pontuação, o uso de maiúsculas e os idiomas originais, e que pode ser incluída no texto ou em nota de rodapé. A citação indireta é redigida pelo autor do documento com base em ideias de outro autor ou autores. As citações curtas (de até três linhas) podem ser inseridas no texto, entre aspas duplas, e as citações longas (mais de três linhas) devem constituir um parágrafo independente, recuando 4 cm da margem esquerda, em fonte Times New Roman, tamanho 11, e com o espaçamento 1 entre linhas, dispensando-se as aspas, neste caso. Independentemente do tipo de citação, as fontes das quais foram extraídas deverão ser indicadas no texto. Para tanto, deve-se utilizar o sistema autor-data ou o sistema numérico, adiante descritos, devendo-se cuidar para que o sistema seja o mesmo do início ao final do documento, mantendo-se a uniformidade. Caso o número de citações seja superior a cinco, deve-se adotar, preferencialmente, o sistema autor-data. As omissões de trechos constantes do original são permitidas em citações quando não alteram o sentido do texto ou frase. São indicadas pelo uso de reticências, entre colchetes [...]. Acréscimos e explicações às citações são também apresentados entre colchetes. 46 Para destacar palavra(s) ou frase(s) em citação, deve-se negritá-la(s) e usar a expressão [sem grifo no original] ou [grifo nosso] entre colchetes. 6. Normas para indicação de fonte Indique os dados necessários à identificação da fonte citada. Sistema autor-data O sistema autor-data, ou alfabético, é aquele que apresenta, resumidamente, a fonte da citação no próprio corpo do texto. Para obter os dados completos dos documentos citados, o leitor deve recorrer à lista de referências bibliográficas, que, neste caso, é obrigatória. Devem-se observar as seguintes regras: Quando a referência não está incluída na oração, o nome do autor é escrito com letras maiúsculas, seguido pelo ano de publicação do documento citado e,opcionalmente, da página ou seção da qual foi extraída a citação. A referência deve estar entre parênteses e após o trecho citado. Ex.: A vírgula separa conceitos, ideias, frases (REZENDE, 1981, p. 37-38). Quando a referência está incluída na oração, apenas a letra inicial do nome do autor é escrita em maiúscula e, entre parênteses, informa-se a data da publicação do documento e a paginação (esta opcional). Ex.: Segundo Botelho (1997, p. 365, 369) os nomes de ruas, lugares públicos ou particulares são grafados em maiúscula. Para citação com dois ou três autores, deve-se obedecer à seguinte construção: em citações diretas, informar os respectivos sobrenomes separados por ponto e vírgula, data da obra e, opcionalmente, a página da citação; e, em citações 47 indiretas, informar os sobrenomes dos autores e a data da obra entre parênteses. Ex.: (VALLS; VERGUEIRO, 1998) ou Conforme destacam Vall e Vergueiro (1998). Com mais de três autores, indica-se somente o nome do primeiro autor, seguido da expressão "et al.". Ex.: As pessoas quando estão dormindo não são inativas (CARDOSO et al., 1997). Sistema numérico No sistema numérico, também chamado citação-nota, a obra ou outra fonte da qual foi extraída a citação é indicada em nota de rodapé específica, denominada nota de referência. O número da nota, no texto, pode ser indicado ao final da frase, após algum termo relevante citado ou após o nome do autor. Deve-se observar que a utilização desse sistema dispensa a apresentação da lista de referências bibliográficas no fim do documento. Exemplo: No texto: Para Fenelon³, a estratégia capitalista de dominação do operário fora das fábricas foi complexa. No rodapé: 3 FENELON, D. R. Fontes para o estudo da industrialização no Brasil: 1899-1945. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 3, p. 79-115, mar. 1982. Notas de rodapé As notas de rodapé podem ser de dois tipos: 48 a) notas de conteúdo – evitam explicações longas dentro do texto, prejudiciais à linha de argumentação, e são também usadas para esclarecer termos técnicos ou ajuntar comentários adicionais; e b) notas de referência – vinculadas às citações diretas e indiretas, indicam as fontes consultadas a partir da referência completa no chamado sistema numérico. Devem seguir as orientações indicadas para referências bibliográficas. No texto, a primeira linha começa na margem de parágrafo (após o número da nota) e as linhas seguintes, na margem esquerda do texto, sem recuo. Utiliza-se fonte Times New Roman, tamanho 10 e espaçamento simples entre linhas. 7. Referência Uma referência bibliográfica é um conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um documento, e que permite a identificação individual da fonte citada. (NBR 6023: 2002. Disponível em: [https://www.usjt.br/arq.urb/arquivos/abntnbr6023.pdf]. Acesso em: 24 jun. 2018.) Os elementos das referências bibliográficas dividem-se em dois conjuntos: a) elementos essenciais: autor, título, impressão (local, editor e data); e b) elementos complementares: compilador, organizador (indicação de responsabilidade), tradutor, notas bibliográficas (número de páginas ou volumes, ilustrações, dimensões), série, notas especiais, ISBN e ISSN. Nas referências, as obras são alinhadas em ordem alfabética do nome do autor. 49 https://www.usjt.br/arq.urb/arquivos/abntnbr6023.pdf A lista de referências bibliográficas apenas deve ser elaborada quando se utiliza o sistema autor-data no documento, mas as regras aqui indicadas também se aplicam às notas de referência do sistema numérico. Vale observar que a lista de referências bibliográficas deve ser apresentada em item numerado específico, conforme a sequência adotada no documento, sempre após o campo das assinaturas. 8. Maiúscula ou minúscula Você sabia que O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa orienta o uso do emprego de iniciais maiúsculas e minúsculas em nosso idioma? Veja as regras promulgadas no seguinte endereço eletrônico: [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6583.htm]. Acesso em: 23 de jun. 2018. Apesar de o emprego de letras maiúsculas e minúsculas, aparentemente, ser usado pelas pessoas com diferentes finalidades, principalmente quando se deseja destacar ou não alguma palavra num texto, é fundamental entender que há regras a que esse uso é submetido, de necessária observância na elaboração de documentos técnicos. O Manual do MPF avalia que se observam hoje em dia as seguintes tendências: a) as grandes companhias jornalísticas criam, para vários casos, normas próprias e acabam criando uma tendência; b) o emprego de maiúsculas em excesso, os negritos, os sublinhados ou os destaques estão caindo de moda, já que “poluem” o texto. Dessa forma, verifica-se que: 50 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6583.htm a) mais formalidade, mais deferência, mais ênfase: maiúscula; b) mais modernidade, menos “poluição” gráfica, mais simplicidade: minúscula. Nunca se pode esquecer, no entanto, da regra taxativa que preceitua o emprego obrigatório de letra inicial maiúscula nos substantivos próprios de qualquer natureza. O emprego de letras maiúsculas é obrigatório: a) No início de período ou citação. Exemplos: Ao longo de sua existência, o MPF atingiu uma posição de destaque entre as instituições mais conceituadas do Brasil; O Procurador-Geral da República declarou, ao lançar o Plano Estratégico do MPF 2011-2020: “A missão do MPF é promover a realização da justiça, a bem da sociedade e em defesa do Estado Democrático de Direito”. b) Nas datas oficiais e nomes de fatos ou épocas históricas, de festas religiosas, de atos solenes e de grandes empreendimentos públicos ou institucionais. Exemplos: Sete de Setembro, Quinze de Novembro, Ano Novo, Idade Média, Era Cristã, Antiguidade, Dia das Mães, Dia do Professor, Natal, Corpus Christi, Finados. c) Nos títulos de livros, teses, dissertações, monografias, jornais, revistas, artigos, filmes, peças, músicas, telas etc. Exemplos: O Catecismo ao Alcance de Todos, O Racional e o Mitológico em Wittgenstein, Os Sentidos da Justiça em Aristóteles, Introdução a Estudos de Fonologia do Português Brasileiro. d) Nos nomes dos pontos cardeais e dos colaterais quando indicam as grandes regiões do Brasil e do mundo. Exemplos: 51 Sul, Nordeste, Leste Europeu, Oriente Médio etc. e) Nos nomes de disciplinas de um currículo ou de um exame. Exemplos: Introdução à Bíblia, Teologia Moral V, Língua Portuguesa I, Filosofia II, História da Psicologia, Matemática B, Cirurgia IV, Mecânica Geral etc. f) Nos ramos do conhecimento humano, quando tomados em sua dimensão mais ampla. Exemplos: A Ética, a Linguística, a Filosofia, a Medicina, a Aeronáutica etc. g) Nos nomes de leis, decretos, atos ou diplomas oficiais. Exemplos: Decreto nº 25.794; Portaria nº 1.054, de 17 de setembro de 2013; Lei dos Direitos Autorais nº 9.609; Parecer nº 3/2013; Sessão nº 1/00; Resolução nº 3/87 CSMPF etc. h) Nos nomes de eventos (cursos, palestras, conferências, simpósios, feiras, festas, exposições etc.). Exemplos: Simpósio Internacional de Epilepsia; Jornada Paulista de Radiologia; II Congresso Gaúcho de Educação Médica; Técnicas de Ventilação em Neonatologia etc. i) Nos nomes de diversos setores de uma administração ou instituição que alguém representa. Exemplos: Gabinete do Procurador-Geral da República, Corregedoria do Ministério Público Federal, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, Secretaria Jurídica e de Documentação etc. 52 j) Nos nomes que designam altos cargos, dignidades ou postos. Exemplos: o Presidente da República, o Ministro da Fazenda, o Secretário do Planejamento, o Procurador-Geral da República, o Coordenador Jurídico
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