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1EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR 1EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR ANTECEDENTES O Regime militar foi o período da política brasileira em que militares conduziram o país. Essa época fi cou marcada na história do Brasil através da prática de vários Atos Institucionais que colocavam em prática a censura, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais, a falta total de democracia e a repressão àqueles que eram contrários ao regime militar. A Ditadura militar no Brasil teve seu início com o golpe militar de 31 de março de 1964, resultando no afastamento do Presidente da República, João Goulart, e tomando o poder o Marechal Castelo Branco. Este golpe de estado, caracterizado por personagens afi nados como uma revolução instituiu no país uma ditadura militar, que durou até a eleição de Tancredo Neves em 1985. Os militares na época justifi caram o golpe, sob a alegação de que havia uma ameaça comunista no país. GOVERNO DE CASTELO BRANCO (1964 – 1967) Nos primeiros anos após o golpe, que coincidem com o mandato presidencial do Marechal Humberto Castello Branco (1964-1967), nem as oposições democráticas nem mesmo os grupos políticos e segmentos sociais que integravam a aliança golpista que depôs Jango (inclusive os próprios militares), tinham absoluta clareza dos rumos que a política nacional tomaria. A expectativa geral era de que a intervenção militar na política fosse breve e que, em pouco tempo, o regime democrático seria restabelecido. Mas isso não ocorreu. Os militares se sucederam no governo e consolidaram sua posição no poder por meio de atos institucionais, que foram decretos promulgados para sustentar todas as mudanças e medidas políticas colocadas em prática durante o período. Indicado como presidente da República pela junta militar golpista, o marechal Humberto Castello Branco era considerado um militar de tendência moderada. Em seu governo, porém, Castello Branco foi pressionado por militares direitistas radicais para realizar uma série de Inquéritos Policiais Militares (IPMs). Com a queda de Jango, o Presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzili assumiu a presidência em caráter provisório. A cúpula militar, formada por Costa e Silva, Correia de Melo e Augusto Rademaker prepara o AI-1 (Ato Institucional nº 1) e Castelo Branco é eleito indiretamente pelo Congresso Nacional em 11 de Abril de 1964. AI-1 (Ato Institucional nº 1): • O Presidente teria amplos poderes para suspender por 10 anos os direitos políticos de qualquer cidadão e cassar mandatos parlamentares. • Os servidores públicos perderam a estabilidade por 6 meses. • O Presidente poderia decretar Estado de Sítio por 30 dias e apresentar emendas constitucionais que só poderiam ser rejeitadas por maioria absoluta do Congresso Nacional. Com esses poderes em mãos, Castelo iniciou a “operação limpeza”, prendendo e cassando mandatos de cerca de 30 mil pessoas. Algumas dessas pessoas eram apenas interrogadas, outras chegavam a ser torturadas. Interessante é que Castelo Branco afi rmou na sua posse que “não tinha vocação para ser ditador”. Dentro das Forças Armadas existiam dois grupos predominantes: os moderados ou “castelistas” e os radicais ou “linha dura”. Estes queriam um regime mais violento, mais repressor, enquanto os primeiros não queriam fi car muito tempo no poder e não pretendiam apelar para a violência descabida. Diante da possibilidade dos “duros” tomarem o poder, Castelo preferiu prorrogar seu mandato até 1967. AI-2 (Ato Institucional nº 2): • Todas as eleições presidenciais seriam indiretas. • Todos os partidos seriam extintos. • O Presidente poderia decretar Estado de Sítio por 6 meses. • As medidas tomadas pelos militares não precisariam de uma aprovação judicial. • O Presidente poderia decretar recesso em todas as esferas do Poder Legislativo. OBS: Uma emenda complementar ao AI-2 estabeleceu o bipartidarismo: nasciam a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). 11 10 28 14 14 01 APLICAÇÕES DAS LEIS DE NEWTONB CAPÍTULO 3.4 DITADURA MILITAR HISTÓRIA 14 00 52 54 56 24 2 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR2 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR Essas medidas tomadas pelos militares provocaram várias reações dos civis que haviam apoiado o golpe, como Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek. Estes acreditavam que os militares não ficariam muito tempo no poder e que em breve o país voltaria à normalidade constitucional. Em 5 de fevereiro de 1966, o governo militar, temendo uma derrota nas eleições estaduais para governador, decreta o AI-3 AI-3 (Ato Institucional nº 3): • Os governadores seriam eleitos indiretamente pelas Assembleias Estaduais. • Estabelecia o voto vinculado de Presidente e vice-presidente, bem como nas outras esferas do executivo. • Os prefeitos das capitais e de cidades de segurança nacional seriam nomeados pelos governadores estaduais. A Frente Ampla: Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek procuraram o ex- presidente João Goulart no exílio e lhe propuseram a criação de uma Frente Ampla de oposição à Ditadura, pretendendo recorrer a organismos internacionais em defesa da restauração da ordem democrática no Brasil. Lacerda passou a defender até as “reformas de base” que um dia Jango pregou e a UDN condenou. AI – 4 (Ato Institucional nº 4) Convoca o Congresso Nacional para discutir e aprovar a nova Constituição. A Constituição de 1967 A sexta constituição brasileira institucionalizou o regime militar, deixando o Poder Executivo em posição soberana em relação aos outros poderes e transformando-os junto com a população brasileira em meros espectadores das medidas tomadas pelos militares. Como foi debatida e votada pela Assembleia Nacional Constituinte, a Constituição de 1967, muito embora tenha sido amplamente elaborada de acordo com os interesses de quem estava no poder, pode ser considerada uma Carta Constituinte semi-outorgada. Desta forma, os militares garantiam a imagem na política internacional de um país de certo modo democrático, mas a prática mostraria que o regime estabelecido no Brasil se tratava mesmo de uma ditadura. De suas principais medidas, podemos destacar que a Constituição de 1967: • Concentra no Poder Executivo a maior parte do poder de decisão; • Confere somente ao Executivo o poder de legislar em matéria de segurança e orçamento; • Estabelece eleições indiretas para presidente, com mandato de cinco anos; • Tendência à centralização, embora pregue o federalismo; • Estabelece a pena de morte para crimes de segurança nacional; • Restringe ao trabalhador o direito de greve; • Ampliação da justiça Militar; • Abre espaço para a decretação posterior de leis de censura e banimento. Aspectos Econômicos Do Governo Castelo Branco: PAEG Logo após o Golpe Militar, que se seguiu em abril de 1964, no início do governo Castelo Branco, foi criado um primeiro Programa de Ação Econômica do Governo - PAEG, com dois objetivos básicos: formular políticas conjunturais de combate à inflação, associadas a reformas estruturais, que permitiram o equacionamento dos problemas inflacionários causados pela política de substituição de importações e das dificuldades que se colocavam ao crescimento econômico; o que requeria, agora, que fosse dado um segundo passo no processo: a expansão da então pequena indústria de base (siderurgia, energia, petroquímica) para evitar que o aumento da produção de bens industriais de consumo final, ampliada pela política de substituição de importações, provocasse um aumento insustentável nas importações brasileiras de insumos básicos, que a indústria nascente consumia de forma crescente. Após um período de ajuste inicial recessivo, de março de 1964 até fins de 1967, marcado pela reorganização do sistema financeiro do Brasil, pela recuperação da capacidade fiscal do Estado e maior estabilidade monetária, iniciou-seem 1968 um período de forte expansão econômica no Brasil. GOVERNO DE COSTA E SILVA (1967 – 1969) O governo Arthur da Costa e Silva (Arena), que durou de 1967 a 1969, se caracterizou pelo avanço do processo de institucionalização da ditadura. O que era um regime militar difuso transformou-se numa ditadura que eliminou o que restava das liberdades públicas e democráticas. Costa e Silva assumiu a Presidência da República e imediatamente foi intensificando a repressão policial-militar contra todos os movimentos, grupos e focos de oposição política. 3EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR 3EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR Ao longo de seu mandato, o general acenou com a possibilidade de retorno à normalidade institucional, ou seja, da volta da democracia. Mas o presidente justificou a permanência dos militares no poder e a gradual radicalização do regime como uma resposta diante do avanço das oposições. Os movimentos e grupos de oposição, por outro lado, responsabilizaram o próprio governo pela situação de instabilidade política vivenciada pelo país. Havia três principais focos de oposição que incomodaram o governo Costa e Silva: A Frente Ampla liderada por Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Grupos Guerrilheiros de Esquerda O Movimento Estudantil A Frente Ampla não obteve êxito e seus líderes foram presos, exilados ou cassados. Porém, os vários grupos armados e o movimento estudantil deram muitas dores de cabeça ao governo militar. Em 1968, Costa e Silva amplia os poderes do Conselho de Segurança Nacional, que passou a decidir sobre política econômica, educação, política interna e externa, ideologia, artes, ciências, sindicalismo, imprensa, opinião pública, etc. • Os Grupos E Organizações De Esquerda O segundo foco de oposição ao regime militar era composto por vários grupos e organizações políticas de esquerda. Após o golpe militar de 1964, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) deu origem a vários outros grupos e organizações de esquerda. Esses grupos e organizações defendiam um projeto revolucionário socialista para o país em substituição ao sistema capitalista vigente. Enquanto o PCB defendia o caminho pacífico para a implantação do socialismo no país (por meio de reformas estruturais), os grupos e organizações de esquerda dissidentes defendiam o emprego da guerra revolucionária, ou seja, a chamada “luta armada”, para derrubar a ditadura militar e em seguida implantar o socialismo. As esquerdas armadas constituíram núcleos guerrilheiros urbanos e chegaram a realizar: sequestros, atentados, assaltos a bancos. Justificaram a prática como resposta diante da repressão policial-militar desencadeada pelo estado militarizado. Existiram cerca de 30 grupos guerrilheiros no Brasil, dentre os quais destacamos (com seus respectivos líderes): - MNR – Leonel Brizola - AP – José Serra e Herbert de Souza - POLOP – Emir Sader - MR8 – Franklin Martins e Fernando Gabeira - PCBR – Jacob Gorender - ALN – Carlos Marighela, José Dirceu e Frei Beto - VPR – Carlos Lamarca OBS: Você já ouviu falar sobre filmes como “O que é isso, companheiro? ” e “Batismo de Sangue”? Procure assistir, eles são muito bons e retratam a luta armada e a repressão nos anos de chumbo da Ditadura. • O Movimento Estudantil Um dos maiores focos de oposição atuante no período do governo Costa e Silva provinha do meio universitário. Na década de 1960, a progressiva expansão do sistema de ensino superior público ocasionou o aumento das vagas nas universidades e consequente crescimento do número de estudantes universitários. Organizados, os estudantes universitários brasileiros constituíram um importante movimento estudantil que influenciou o cenário da política nacional. As lideranças estudantis eram adeptas das ideologias de esquerda. Por conta disso, depois do golpe militar de 1964 o governo desarticulou e colocou na ilegalidade a mais importante entidade estudantil, a União Nacional dos Estudantes (UNE). Em março deste mesmo ano, o estudante Edson Luís foi morto no Rio de Janeiro pela Polícia do Exército, o que resultou em protestos, como a Passeata dos 100 mil. A Passeata dos 100 mil No dia 26 de junho de 1968, cerca de cem mil pessoas ocuparam as ruas do centro do Rio de Janeiro e realizaram o 4 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR4 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR mais importante protesto contra a ditadura militar até então. A manifestação, iniciada a partir de um ato político na Cinelândia, pretendia cobrar uma postura do governo frente aos problemas estudantis e, ao mesmo tempo, refletia o descontentamento crescente com o governo; dela participaram também intelectuais, artistas, padres e grande número de mães. A Operação Lisístrata Márcio Moreira Alves, o deputado rebelde Os trabalhos legislativos corriam em Brasília, mornos e monótonos no fim daquela tarde de 3 de setembro de 1968, quando o deputado Marcio Moreira Alves, falando no ‘’pinga- fogo’’, pronunciou um discurso que bem poderia ter ficado inédito, porque proferido para um plenário vazio e que constaria de um registro sem o menor destaque ou importância no Diário do Congresso. Dizia ele mais ou menos o seguinte: Com a proximidade do 7 de setembro, a ditadura certamente vai determinar que os colégios participem do desfile militar. Apelo para que os pais não permitam aos seus filhos marcharem ao lado dos carrascos que os agridem e os fuzilam nas ruas. E proponho às moças que não dancem com os cadetes no baile da Independência. Por coincidência, justamente naquela semana estava sendo encenada, em São Paulo, a comédia grega Lisístrata, de Aristófanes, com a história das atenienses que fecharam as portas de suas casas para os maridos derrotados na volta de uma batalha. Interpretou-se o discurso como uma insinuação para que as brasileiras se fechassem (sic) aos oficiais, seus maridos, numa interpretação absurdamente sexual. Os militares da linha ‘’dura’’ estavam precisando de um pretexto e aquele era simplesmente ótimo. O discurso foi reproduzido em milhares de cópias mimeografadas e distribuídas em todos os quartéis e guarnições. Os militares exigiram a cassação do Deputado Márcio Moreira, mas o Congresso Nacional não obedeceu, o que levou Costa e Silva a decretar o AI-5 AI – 5 (Ato Institucional nº 5) O Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, marcou o início do período mais duro da ditadura militar (1964-1985). Editado pelo então presidente Arthur da Costa e Silva, ele deu ao regime uma série de poderes para reprimir seus opositores: fechar o Congresso Nacional e outros legislativos (medida regulamentada pelo Ato Complementar nº 38), cassar mandatos eletivos, suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer cidadão, intervir em Estados e municípios, decretar confisco de bens por enriquecimento ilícito e suspender o direito de habeas corpus para crimes políticos. O ministro da Justiça, Gama e Silva, anunciou as novas medidas em pronunciamento na TV à noite. Os primeiros efeitos do AI-5 foram percebidos naquela mesma noite. O Congresso é fechado. O presidente Juscelino Kubitschek, ao sair do Teatro Municipal do Rio –onde tinha sido paraninfo de uma turma de formandos de engenharia– foi levado para um quartel em Niterói, onde permaneceu preso num pequeno quarto por vários dias, sem roupa para trocar e nada para ler. O governador Carlos Lacerda foi preso no dia seguinte pela PM da Guanabara. Após uma semana em greve de fome, conseguiu ser libertado. Para driblar a censura, o “Jornal do Brasil” tenta dar a dimensão dos acontecimentos na sua seção de meteorologia: “Previsão do tempo: Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx.: 38º, em Brasília.Mín.5º, nas Laranjeiras. Publicado no Jornal do Brasil, no dia seguinte à decretação do AI-5 Em 30 de dezembro saiu a primeira listade cassações, com 11 deputados federais _dentre eles Márcio Moreira Alves (MDB- RJ), Hermano Alves (MDB-RJ) e Renato Archer (MDB-MA). A segunda lista, de 19 de janeiro de 1969, incluiu dois senadores _Aarão Steinbruck e João Abraão_, 35 deputados federais, três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) –Hermes Lima, Vítor Nunes Leal e Evandro Lins e Silva– e um ministro do STM (Superior Tribunal Militar) –Peri Constant Bevilacqua, que, segundo escreveu o porta-voz de Costa e Silva, Carlos Chagas, era acusado de “dar habeas corpus demais”. Três meses desde a edição do AI-5, encarregados dos inquéritos políticos passaram a poder prender quaisquer cidadãos por 60 dias, dez dos quais deveriam permanecer incomunicáveis. “Em termos práticos, esses prazos destinavam- se a favorecer o trabalho dos torturadores”, conta Elio Gaspari no livro “A Ditadura Envergonhada”. Sessenta e seis professores foram expulsos das universidades –dentre eles Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior. Emissoras de televisão e de rádio e redações de jornais foram ocupadas por censores. Artistas como Marília Pêra, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram apenas os primeiros a conhecer as carceragens da polícia política. Ao todo, 333 políticos têm seus direitos políticos suspensos em 1969 (dos quais 78 deputados federais, cinco senadores, 151 deputados estaduais, 22 prefeitos e 23 vereadores). O Congresso permanece fechado até outubro, quando é reaberto para eleger Médici. O AI-5 –que foi seguido por mais 12 atos institucionais, 59 atos complementares e oito emendas constitucionais– duraria até 17 de outubro de 1978. Sobre ele disse Costa e Silva, em discurso transmitido por rádio e TV, no último dia de 1968: “Salvamos o nosso programa de governo e salvamos a democracia, voltando às origens do poder revolucionário”. Em 13 de janeiro de 1969, 5EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR 5EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR o coronel João Batista Figueiredo, ex-chefe da Agência Central do SNI (Serviço Nacional de Informações) e ex-presidente da República (1979-1985), mandava carta a Heitor Ferreira, secretário de Geisel e Golbery: “Os erros da Revolução foram se acumulando e agora só restou ao governo ‘partir para a ignorância’”. No início de 1969, Costa e Silva deixa o governo por motivos de saúde e uma junta militar assume o governo, impedindo a posse do vice-presidente Pedro Aleixo (que havia criticado os excessos do AI-5). O Congresso foi reaberto e elegeu o General Emílio G. Médici para Presidente. Aspectos Econômicos Do Governo Costa E Silva: I PND (1º Plano Nacional De Desenvolvimento) Planejado pelos ministros João Paulo dos Reis Velloso e Mário Henrique Simonsen, tinha como meta um crescimento econômico de 8% a 9% ao ano, inflação anual abaixo de 20% e um aumento de US$ 100 milhões nas reservas cambiais3. O principal objetivo do PND era preparar a infraestrutura necessária para o desenvolvimento do Brasil nas décadas seguintes, com ênfase em setores como transportes e telecomunicações, além de prever investimentos em ciência e tecnologia e a expansão das indústrias naval, siderúrgica e petroquímica. Para isso, articulava empresas estatais, bancos oficiais e outras instituições públicas na elaboração de políticas setoriais. Assim, segundo economistas como Roberto Campos, o período ficou marcado como o ponto alto da intervenção do Estado na economia brasileira. Fizeram parte do plano grandes obras de infraestrutura, como a usina hidrelétrica de Itaipu, a Ponte Rio-Niterói e a rodovia Transamazônica. Nos primeiros anos, as metas propostas por Velloso e Simonsen foram atingidas, com crescimento médio de 11,2% ao ano (chegando a 13,9% em 1973), e inflação média abaixo de 19%. A crise do petróleo de 1974, porém, interrompeu o ciclo e forçou uma mudança de rumo na economia, levando o general Ernesto Geisel, sucessor de Médici, a lançar o II Plano Nacional de Desenvolvimento O GOVERNO DE EMÍLIO MÉDICI (1969 – 1974) Médici e o apogeu da Ditadura O período de cinco anos que corresponde ao mandato do presidente Emílio Garrastazu Médici (Arena), de 1969 a 1974, foi o único momento em que o regime conquistou estabilidade política. Médici conseguiu apaziguar os quartéis ao permitir que as aspirações e interesses dos militares direitistas radicais, que defendiam o emprego sistemático da repressão policial- militar contra todos os opositores da ditadura, se expressassem em seu governo. Por esse motivo o governo Médici correspondeu ao período da maior onda de repressão política da história do país. O “Milagre Econômico” O desenvolvimento e crescimento econômico advindos da estabilização da economia contribuíram para estabilidade governamental. O governo Médici entrou para a história como o período em que se registraram os maiores índices de desenvolvimento e crescimento econômico do país. Entre 1969 e 1973, a economia brasileira registrou taxas de crescimento que variavam entre 7% e 13% ao ano. O setor industrial se expandia e as exportações agrícolas aumentaram significativamente, gerando milhões de novos postos de trabalho. A oferta de emprego aumentou de tal modo que os setores industriais mais dinâmicos concorriam na contratação de trabalhadores assalariados. A fim de sustentar e ampliar o desenvolvimento e crescimento da economia, o governo investiu grandes somas de recursos financeiros em infraestrutura (construção de grandes estradas, pontes, hidrelétricas, etc.). A maior parte desses recursos financeiros era de empréstimos estrangeiros. Euforia E Ufanismo O petróleo, comprado a preços baixos dos países exportadores na época, impulsionava ainda mais a economia nacional. Regiões pouco conhecidas e habitadas do país, como a Amazônia e o Centro-Oeste, receberam estímulo governamental para serem exploradas economicamente. Esse período de prosperidade da economia brasileira ficou conhecido como o “milagre econômico”. O “milagre” gerou um clima de euforia e ufanismo geral na sociedade. A propaganda oficial do governo elaborou slogans que expressavam nitidamente o contexto. Além da tortura e da repressão, o governo Médici usou a propaganda como arma política. O presidente Médici era apresentado como um «homem do povo» e «apaixonado por futebol». A vitória da seleção brasileira sobre a seleção italiana por 4 a 1, na final, foi bastante explorada pela propaganda do governo Médici em slogans do tipo “Ninguém segura este país” ou “Brasil: ame-o ou deixe-o”. 6 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR6 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR O técnico que classificou o Brasil para a Copa de 1970 foi João Saldanha, que acabou substituído por Mario Zagalo durante a competição. Alguns acreditam que a substituição de Saldanha por Zagalo teria sido resultado de uma suposta interferência de Médici. O então presidente da República teria dado palpite na escalação do time feita por Saldanha. O técnico teria respondido que Médici mandava nos ministérios, mas que quem mandava na seleção era ele (Saldanha). Fim Da Prosperidade O governo Médici se vangloriava do “milagre econômico”, apontando-o como uma conquista do regime militar. Porém, a fase de prosperidade da economia brasileira tinha muito mais causas externas (internacionais) do que internas. Por isso, quando a situação da economia mundial se tornou adversa, o “milagre” brasileiro chegou ao fim. O “milagre econômico” teve um custo social e econômico altíssimo para o país. A brutal concentração da renda impediu que as camadas populares melhorassem sua condição de vida. As desigualdades sociais e a pobreza aumentaram neste período. Além disso, o controle governamental dos sindicatos impediu a livre organização dos trabalhadores e, consequentemente, a conquista de direitos e compensações salariais. Os empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa tão elevada e custosa,que bloqueou por décadas o crescimento e desenvolvimento sustentável do país. A primeira crise internacional do petróleo, em 1973, provocou a ruína do Milagre Econômico Brasileiro. Grupos Guerrilheiros Depois do AI-5 as manifestações estavam proibidas, o que levou muitos jovens a optarem pela luta armada. Os grupos guerrilheiros agiam nas cidades e no campo. As ações incluíam roubo de armas nos quartéis, assaltos a bancos e casas de empresários, além de sequestros, como foi o caso do embaixador dos Estados Unidos Charles Elbrick em 1969. O embaixador foi usado “como moeda de troca” por prisioneiros políticos. Estes presos políticos foram trocados pela libertação do embaixador norte-americano. Entre eles temos um sergipano (Agonalto Pacheco), o segundo agachado (da esquerda). No campo, a mais notória guerrilha foi a do Araguaia. No início dos anos 70, um grupo de jovens ligados ao PCdoB, tentando imitar Fidel Castro e Che Guevara, embrenha-se nas florestas do Rio Araguaia (Tocantins e Pará) e tenta recrutar camponeses para a luta armada, tendo como principal objetivo a tomada de Brasília. Foram quase todos mortos. O Sistema Repressivo Quando o presidente Médici assumiu o governo, todos os órgãos que compunham o sistema repressivo da ditadura militar se encontravam em pleno funcionamento. De 1964 até 1968, o trabalho de repressão política ficou sob exclusiva jurisdição civil, destacando-se neste período as atuações do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) em cada estado, Secretarias Estaduais de Segurança Pública (SESPS) e Departamento de Política Federal (DPF). A partir de 1969, entraram em funcionamento os centros de informações de cada ramo das Forças Armadas: Centro de Inteligência do Exército (CIE), Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) e Centro de Informações da Marinha (CENIMAR). Também foram criados o Destacamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) e órgãos paramilitares clandestinos como a Operação Bandeirante (OBAN). OBS: No ano de 2012, tivemos um intenso debate sobre a formação da Comissão da Verdade, uma comissão formada por membros designados pelo governo federal para investigar os crimes cometidos pelo Estado durante o século XX. Contudo, quais seriam esses crimes que eles investigaram? Que verdade é essa a ser exposta? Enfim, de que modo essa comissão teria a possibilidade de aparecer nos vestibulares de 2012? A primeira questão óbvia é que a Comissão da Verdade tinha como grande meta investigar os crimes de tortura, prisão arbitrária e assassinato acontecidos na Ditadura Militar (1964 - 1985). Desse modo, o vestibulando precisa ficar atento aos métodos de coerção e repressão que aconteceram durante o regime militar. Nesse aspecto, sugerimos aquela “revisada especial” no Ato Institucional nº 5, nas propagandas oficiais que pretendiam acobertar a repressão daquele tempo e o processo de formação das guerrilhas daquele período. GOVERNO DE ERNESTO GEISEL (1974 – 1979) Abertura Lenta, Gradual e Segura Geisel assumiu o governo prometendo retorno à democracia por meio de um processo gradual e seguro. Também denominado de “distensão”, o projeto de redemocratização concebido por Geisel 7EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR 7EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR previa a adoção de um conjunto de medidas políticas liberalizantes, cuidadosamente controladas pelo Executivo Federal. Isso incluía a suspensão parcial da censura prévia aos meios de comunicação e a revogação gradativa de alguns dos mecanismos mais explícitos de coerção legal presentes no conjunto das leis em vigor, que cerceavam as liberdades públicas e democráticas e os direitos individuais e constitucionais. É preciso salientar, porém, que o projeto de distensão não refletia a crença na democracia, tanto por parte de Geisel como dos militares que participavam de seu governo. Na verdade, a distensão era um projeto preconizado como uma «saída» para que as Forças Armadas se retirassem do poder. Depois de dez anos de ditadura militar, período em que três generais governaram o país, as Forças Armadas se desgastaram. Situação Insustentável Das Forças Armadas A violência repressiva e o controle policial imposto sobre todos os setores da sociedade, além da ausência de liberdades civis e públicas, haviam conduzido o país a uma situação insustentável do ponto de vista da manutenção do regime de força que caracterizava a ditadura militar. Além disso, o fato de os militares terem assumido diretamente o governo, ocasionou uma politização negativa dentro das Forças Armadas, desvirtuando os propósitos constitucionais da instituição militar. A “anarquia” e a “desordem”, promovida por setores militares radicais, permearam todos os governos da ditadura, e tinham sua origem justamente na politização no interior da instituição militar. Portanto, é apropriado interpretar a distensão como um sinal da impossibilidade de os militares se manterem indefinidamente no poder. Porém, a distensão foi concebida de modo que a saída das Forças Armadas do governo não deveria ameaçar a ordem vigente e os interesses das classes dominantes. De qualquer modo, no transcurso do mandato de Geisel, ocorreram tentativas de golpe contra o governo, promovidas por setores militares radicais que se posicionaram contrariamente ao projeto de distensão. A maior ameaça ao projeto de redemocratização veio dos oficiais que controlavam o aparato de repressão policial-militar. Violência E Violação Dos Direitos Humanos Quando Geisel assumiu a presidência da República, em março de 1974, a ditadura militar já havia derrotado todas as organizações guerrilheiras armadas. Já não existia ameaça subversiva ao regime proveniente das esquerdas armadas, mas, mesmo assim, o aparato repressivo continuou funcionando. O sucesso do projeto de liberalização política dependia, em grande medida, da contenção das atividades dos órgãos de repressão policial-militar. Porém, as tentativas do governo de conter a repressão esbarraram em reações articuladas de setores militares ligados aos órgãos repressivos. Interessados na manutenção de suas prerrogativas, os órgãos de repressão continuaram a praticar ações violentas que geraram graves crises políticas, chegando a ameaçar o mandato presidencial de Geisel. Para evitar crises políticas, Geisel fez concessões ao aparato repressivo ao impedir pressões provenientes das oposições - em particular, do MDB, da Igreja Católica e também de setores da imprensa - no sentido de cobrar do governo esclarecimentos sobre cidadãos mortos, desaparecidos e torturas contra presos políticos. Em alguns episódios públicos de violações dos direitos humanos praticados pelos agentes dos órgãos de repressão, no entanto, Geisel tomou medidas enérgicas contra militares radicais. O Assassinato de Vladimir Herzog O episódio mais grave ocorrido no mandato de Geisel foi a morte sob tortura do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna) do 2º Exército em São Paulo. A morte de Herzog gerou uma grande comoção social de segmentos da classe média. Políticos da oposição, setores progressistas da Igreja Católica, estudantes universitários e parte da imprensa se aliaram e realizaram um culto ecumênico na Catedral da Sé, em São Paulo, com a participação de milhares de pessoas. Geisel nada fez neste caso para enquadrar e punir os responsáveis. Em janeiro de 1976, uma outra morte, a do operário Manoel Fiel Filho, em condições idênticas às de Herzog, fez com que Geisel destituísse do comando do 2º Exército, general Ednardo D’Avilla Melo. A demissão representou a primeira ofensiva governamental contra os militares radicais. Mas o episódio que garantiu a supremacia do presidente da República sobre os setores radicais que eram contrários ao projeto de liberalização ocorreuem outubro de 1977, com a demissão do ministro do Exército, general Sylvio Frota, que pretendia se impor como próximo presidente da República. Crise Da Economia Em 1974, o ciclo de prosperidade da economia brasileira chegou ao fim. O grande salto desenvolvimentista e o crescimento industrial e produtivo (o chamado “milagre econômico”) duraram enquanto as condições internacionais eram favoráveis. O ciclo se encerrou quando os empréstimos estrangeiros se tornaram mais escassos, e quando o preço do petróleo aumentou significativamente. A crise se agravou e setores da burguesia industrial começaram a discordar dos rumos da política econômica. Em 1974, industriais paulistas lideraram a campanha pela desestatização da economia, a fim de que os recursos que o governo destinava às empresas estatais fossem transferidos para o setor privado. 8 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR8 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR As Greves no ABC paulista O aumento do custo de vida e a contenção dos salários aumentaram o descontentamento dos trabalhadores. Nesse contexto, em 1978, os operários metalúrgicos da região do ABC paulista desencadearam o maior ciclo grevista da história do país. Não havia mais possibilidade de o governo conter as reivindicações dos trabalhadores e as exigências dos industriais. Reorganização Das Oposições No transcurso do governo Geisel, diversos setores da sociedade brasileira começaram a se reorganizar e se opor frontalmente à ditadura. O primeiro sinal de descontentamento popular ocorreu com a vitória expressiva do MDB nas eleições legislativas de novembro de 1974. Com 72% dos votos válidos, o MDB conseguiu eleger 16 senadores, e aumentar sua bancada na Câmara Federal de 87 para 160 deputados. A vitória política do MDB, mesmo em condições de ausência de regras democráticas, deixou claro que, se o processo eleitoral fosse livre, a oposição conquistaria o poder. Para evitar que o MDB avançasse nesta direção, em abril de 1977, o governo editou o Pacote de Abril* que, entre outras medidas, alterava as regras eleitorais em benefício do governo. A Lei Falcão E O Pacote De Abril De 1977 • A Lei Falcão (Lei nº 6339/76) Foi criada em 1 de julho de 1976 e recebeu o nome de seu criador, o então Ministro da Justiça, Armando Falcão. Esta lei foi criada durante o governo Geisel (vigente de 15 de março de 1974 a 15 de março de 1979) e visava implementar mudanças em relação às propagandas eleitorais transmitidas por televisão e rádio no território brasileiro. A partir da promulgação da lei, que propôs uma nova redação ao art. 250 do Código Eleitoral, candidatos de quaisquer partidos estavam proibidos de anunciar, em suas propagandas, outras informações além de breves dados sobre sua trajetória de vida. Também era vetada a veiculação de músicas com letra - bem como discursos ou imagens. A única exceção era em relação à foto do candidato, que poderia ser exibida na televisão, juntamente com seu respectivo nome, partido e a leitura de seu currículo. Era permitido, ainda, a menção do horário e local dos comícios. Outra determinação da lei era em relação ao tempo de duração do mandato presidencial, que passava de cinco para seis anos • Pacote de Abril de 1977 O Pacote de Abril foi um conjunto de leis outorgado em 13 de abril de 1977 pelo Presidente da República) do Brasil, Ernesto Geisel, que dentre outras medidas fechou temporariamente o Congresso Nacional. A imprensa chamou este conjunto de leis de Pacote de Abril. As alterações na Constituição foram feitas pelo que se denominou “a Constituinte do Alvorada”, em alusão ao Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente do Brasil, deixando claro que tais alterações não teriam sido feitas por uma Assembleia Constituinte, nem pelos titulares do Poder Legislativo, mas pelo chefe do Poder Executivo, o que seria, portanto, ilegítimo. Este pacote representava uma emenda constitucional e de seis decretos-lei, que, uma vez outorgados, alteravam as futuras eleições. Para o pleito de 1978 seriam renovados dois terços do Senado, porém, o temor do governo por um novo revés, como ocorrido em 1974, quando perdeu na maioria dos estados da federação, fez com que uma nova regra garantisse a maioria governista na Câmara Alta do país. Assim, um terço dos senadores não foram sufragados pelo voto direto e sim referendados após uma indicação do presidente da República, os chamados senadores biônicos. Esta medida visava garantir aos militares uma maior bancada no Congresso Nacional. O “pacote” também estabelecia a extensão do mandato presidencial de cinco para seis anos, a manutenção de eleições indiretas para presidente da república, governadores dos estados e de prefeitos dos municípios em áreas de segurança nacional, bem como o aumento da representação dos estados menos populosos no Congresso Nacional. A Volta Do Movimento Estudantil Outro importante setor oposicionista se originou do movimento estudantil. A partir de 1975, os estudantes universitários começaram a reconstruir as entidades e organizações estudantis representativas. Até 1976, as atividades e manifestações estudantis se mantiveram restritas ao interior das universidades. A partir de 1977, porém, os estudantes saíram às ruas promovendo passeatas, atos públicos e manifestações exigindo “liberdades democráticas”. A Igreja Católica também teve atuação de destaque. Os setores progressistas do clero católico sempre incomodaram os governos dos generais. Em pleno governo Médici, influentes membros da hierarquia Católica, como o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, e o bispo de Olinda e Recife, dom Hélder Câmara, entre outros, denunciaram publicamente casos de tortura, desaparecimento de cidadãos e prisões políticas. No governo Geisel, a oposição de setores da hierarquia da Igreja contra a ditadura militar cresceu significativamente. Já não era possível ao governo reprimir com desmesurada violência os movimentos oposicionistas que afloravam. 9EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR 9EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR A Sucessão Presidencial Quando Geisel demitiu o ministro do Exército, general Sylvio Frota, em outubro de 1977, o presidente reafirmou seu predomínio sobre os setores radicais das Forças Armadas que não desejavam a redemocratização do país. Para sucedê-lo na presidência da República, Geisel escolheu o general João Baptista Figueiredo (PDS), chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), comprometido com o projeto de liberalização política. Figueiredo prosseguiu com a abertura política e a redemocratização do país. Em 1978, Geisel Revogou O Ai-5, demonstrando que a abertura do regime teria continuidade. Aspectos Econômicos Do Governo Geisel No que se refere à política econômica, as principais metas do governo Geisel foram estabelecidas no II Plano Nacional de Desenvolvimento, que priorizava os investimentos no setor energético e em indústrias básicas, com o intuito de adequar a economia à crise internacional do petróleo e ao estágio de desenvolvimento industrial do país, e de reduzir o capital estrangeiro em setores considerados infra estruturais. Nesse sentido, foi lançado, em 1975, o Programa Nacional do Álcool (Pro-álcool) e assinado o acordo nuclear Brasil-Alemanha. O plano econômico do governo ressentiu-se, entretanto, do impacto da crise do petróleo, do aumento da dívida externa e do desequilíbrio da balança de pagamentos. Nesse contexto, uma das medidas defendidas pelo governo, em outubro de 1975, foi a adoção de contratos de risco entre a Petrobras e empresas estrangeiras para a prospecção de petróleo no país. Foi Geisel também que construiu grande parte da Usina Hidrelétrica de Itaipu. GOVERNO DE JOÃO BAPTISTA DE FIGUEIREDO (1979 – 1985) Com a escolha do general João Baptista de Oliveira Figueiredo para governar o país, ficou assegurada a continuidade do processode abertura política. O mandato presidencial de Figueiredo durou seis anos e encerrou 21 anos de ditadura militar no Brasil. Ao longo do governo Figueiredo, a ditadura militar perdeu legitimidade social e sofreu desgaste político. Mas ainda assim houve ameaças de retrocesso devido à radicalização de setores das Forças Armadas que tentaram barrar o processo de redemocratização. Militares radicais ligados ao aparato de repressão política promoveram atos terroristas com objetivo de desestabilizar o governo e amedrontar a sociedade. O presidente Figueiredo, porém, teve condições de conter o radicalismo militar e encaminhar a transição da ditadura para o regime democrático. A Campanha pela Anistia A anistia era um passo imprescindível ao processo de redemocratização. Com ela, os presos políticos ganhariam liberdade e os exilados puderam retornar ao país. Em fevereiro de 1978 foi criado, no Rio de Janeiro, o primeiro Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA). O CBA foi o resultado da agregação de várias correntes políticas de oposição (liberais e de esquerdas democráticas), de familiares de presos, mortos, desaparecidos e exilados políticos, e também de setores progressistas da Igreja Católica. Em diversos estados brasileiros surgiram novos comitês e por todo o país a campanha pela anistia obteve expressivo apoio popular. A fim de desarticular o movimento pró-anistia, o então presidente Geisel promulgou, em 1978, vários decretos- leis revogando a maior parte das leis de exceção, inclusive o Ato Institucional nº 5 (AI-5). Lei De Anistia De 1979 Desse modo, gradualmente os presos políticos foram sendo libertados e os exilados pouco a pouco puderam retornar ao país. A Lei de Anistia de 1979 serviu para dar continuidade a este processo, mas ela desagradou os movimentos de oposição que reivindicavam uma anistia “ampla, geral e irrestrita”. A Lei de Anistia deixava de solucionar a questão mais polêmica do período da ditadura, isto é, os atos terroristas de autoria das organizações guerrilheiras de esquerda armada e as violações dos direitos humanos praticadas pelos agentes dos órgãos de repressão policial-militar que cometeram assassinatos e tortura. A Lei excluía de seus benefícios os guerrilheiros condenados por atos terroristas envolvendo “crimes de sangue” (ou seja, crimes contra a vida humana), mas concedia perdão aos agentes da repressão envolvidos em assassinatos e prática de tortura. Por esse motivo, a Lei de Anistia de 1979 representou um claro sinal de que os militares não admitiriam qualquer tentativa de punição legal às Forças Armadas. 10 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR10 EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR A Reforma Partidária Com o crescimento dos movimentos de oposição à ditadura, o governo Figueiredo avaliou, corretamente, que a manutenção do bipartidarismo ocasionaria um desgaste ainda maior das bases de sustentação política do regime. Na conjuntura da redemocratização, era esperada uma polarização política cada vez mais acentuada em favor do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido da oposição legal; contra o partido governista, a Aliança Nacional Renovadora (ARENA). A fim de provocar uma divisão no bloco oposicionista, o governo Figueiredo forçou uma reforma partidária. A ARENA e MDB foram extintos. Os políticos governistas criaram o Partido Democrático Social (PDS), enquanto que o MDB se transformou no PMDB. Surgiu também o Partido Democrático Trabalhista (PDT), liderado por Leonel Brizola; o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), composto por uma ala de políticos arenistas menos influentes. Partido Dos Trabalhadores (PT) Os partidos comunistas continuaram na ilegalidade. A maior novidade no cenário político-partidário foi o surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT). Defendendo uma proposta socialista, o PT se originou do novo e combatente movimento sindical do ABC paulista, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva. Em novembro de 1982, foram realizadas eleições diretas para governador (o que não ocorria desde 1967), para deputados estaduais e federais, prefeitos e vereadores. O governo promulgou uma lei proibindo alianças partidárias com objetivo de evitar que as oposições se unissem. O PDS conseguiu eleger 12 governadores, enquanto as oposições conseguiram eleger dez. Foram vitoriosas, no entanto, nos Estados mais populosos e desenvolvidos do país, como no Rio de Janeiro (elegendo Leonel Brizola do PDT) e em São Paulo (elegendo Franco Montoro do PMDB). A Crise Econômica E O Novo Movimento Sindical O governo Figueiredo herdou uma grave crise econômica. Neste contexto, a insatisfação dos trabalhadores cresceu. As primeiras greves foram deflagradas pelo operariado do setor metalúrgico do ABC paulista, região de maior concentração fabril do país. Inicialmente, as reivindicações dos operários se concentraram em reajustes salariais. Contudo, à medida que o movimento grevista adquiriu força, os trabalhadores ampliaram suas reivindicações exigindo mudanças políticas, entre elas a abolição do controle governamental sobre os sindicatos, restabelecimento do direito de greve e a livre negociação com os empregadores. Outras categorias de trabalhadores do setor industrial e do funcionalismo público também deflagraram greves. O governo reprimiu com violência os movimentos grevistas, principalmente dos operários do ABC paulista. Mas já não era possível ao governo manter sob rígido controle estatal e policial os sindicatos e impedir a reorganização da classe trabalhadora. Os trabalhadores foram um dos mais importantes segmentos da sociedade brasileira a contribuir, com suas greves e reivindicações, para o avanço do processo de redemocratização. O Terrorismo De Estado E O Atentado Do Riocentro O processo de abertura política levada adiante pelo governo Figueiredo não esteve a salvo de tentativas de retrocesso. Militares radicais ligados aos órgãos de repressão espalharam o pânico através de atos terroristas. Igrejas, editoras, órgãos de imprensa, bancas de jornal, sedes de partidos políticos e de entidades democráticas, foram alvos de atentados a bomba. O terrorismo proveniente de setores radicais das Forças Armadas tinha por objetivo amedrontar a população e as oposições, e desestabilizar o governo, a fim de provocar um endurecimento do regime. A sociedade, porém, reagiu. Foram organizados inúmeros atos e manifestações públicas em que se exigia do governo medidas contra a violência. O ato terrorista mais grave ocorreu em abril de 1981, no Rio de Janeiro. Antecipando uma comemoração do Dia do Trabalho, trabalhadores estavam realizando um show no Centro de Convenções do Riocentro. Um sargento e um capitão do Exército planejaram detonar uma bomba no local, mas um acidente provocou a explosão da bomba quando eles ainda estavam de posse do artefato. O atentado do Riocentro provocou uma grave crise militar devido às pressões das oposições para o governo investigar o caso. Figueiredo, porém, cedeu aos interesses dos militares ao impedir que o inquérito policial aberto chegasse a apontar os responsáveis. Não houve punições e nem mesmo investigações. Porém, o atentado do Riocentro foi o último ato terrorista praticado por militares radicais. O episódio ocasionou um maior desgaste e perda de legitimidade política e social do governo e do regime. 11EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR 11EXPLICAEOFICIAL | .COM.BR HISTÓRIA - MÓDULO - 3 - REPÚBLICA - 3.4 - DITADURA MILITAR As Diretas Já! A Constituição previa que o sucessor do presidente Figueiredo seria eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Em março de 1983, porém, o deputado federal do PMDB, Dante de Oliveira, apresentou uma emenda constitucional que estabelecia eleições diretas para presidência da República. A partir daí as oposições mobilizaram a população com objetivo de pressionar os parlamentares a aprovarem a emenda constitucional. Por todo o país, grandes comícios, atos emanifestações públicas foram realizadas. O lema da campanha era “Diretas Já”. Estudantes, líderes sindicais e políticos, setores da Igreja católica, artistas e personalidades da sociedade civil e milhares de populares compunham as forças que reivindicavam eleições diretas. Mas o governo ainda tinha força parlamentar suficiente para barrar a aprovação da emenda constitucional que estabelecia eleições diretas. Foi o que aconteceu, em abril de 1984: o Congresso Nacional rejeitou a emenda Dante de Oliveira. Tancredo Neves e Paulo Maluf Na corrida pela sucessão presidencial, o partido governista, PDS, lançou o nome do paulista Paulo Maluf. Discordando dessa indicação, líderes políticos nordestinos, como Antonio Carlos Magalhães e Marco Maciel não a aceitaram e abandonaram o PDS, fundando o Partido da Frente Liberal (PFL). A oposição lançou o nome de Tancredo Neves, do PMDB. Tancredo era um político oposicionista de tendência moderada, e por conta disso conseguiu o apoio do PFL. Em 15 de janeiro de 1985, foi eleito pelo colégio eleitoral presidente da República. Do ponto de vista institucional, contudo, o país completaria a transição para democracia somente quando o povo pôde votar livremente para presidente, em 1989. Tancredo eleito Tancredo foi eleito por 480 votos (69%) contra 180 (26%) recebidos por Maluf. Foram registradas nove ausências --cinco do PT, duas do PMDB, uma do PDS, e de Júlio Caruso (PDT), que estava acidentado. Também houve 17 abstenções, entre elas a do líder do PDS na Câmara, Nelson Marchezan, que foi vaiado. Maluf não venceu em nenhum Estado Fim Da Ditadura Os militares se exauriram no controle governamental, mas se retiraram da política de modo a garantir suas prerrogativas. A transição democrática no Brasil foi pacífica e se pautou por um processo de negociação entre as elites, envolvendo acordos para que não houvesse qualquer tipo de punição legal às Forças Armadas diante de todas as violações dos direitos humanos a que foram vítimas os opositores da ditadura. A eleição de Tancredo Neves não representou ameaça aos interesses dos militares e nem mesmo a ordem social estabelecida por eles desde 1964. Mas a tentativa de esquecer o passado, ou seja, de impedir que viessem a público os crimes cometidos pelos agentes da repressão, fracassou. DOM PAULO EVARISTO ARNS e seu livro “Brasil: Nunca Mais” A Igreja Católica de São Paulo, sob a liderança do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, realizou uma pesquisa secreta baseada no exame dos processos judiciais militares. A pesquisa deu origem à monumental obra “Brasil: Nunca Mais”, coleção composta por vários volumes que descreve e analisa minuciosamente a repressão policial militar ao longo da ditadura. Com a publicação do “Brasil: Nunca Mais”, tornaram-se públicas as atrocidades da ditadura militar e a identificação de todos os torturadores. Foi um importante e ousado passo no sentido de elucidação do passado histórico do país.
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