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1 CLAUDIO JOSÉ EVANGELISTA DE ANDRADE CPF 126.189.708-02 A DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO CONTEXTO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL Artigo apresentado como requisito para a Aprovação na Graduação Licenciatura em Historia pela Faculdade Campos Elíseos sob orientação do(a) Prof(a). Orientador(a) Marcia Leite Sorocaba - SP 2023 2 A DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO CONTEXTO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL CLAUDIO JOSE EVANGELISTA DE ANDRADE Sorocaba-SP/2023 RESUMO Abordamos aqui a interferência do regime militar brasileiro no ensino de história durante seu período de governo. O regime controlava diretamente os conteúdos abordados nas aulas, suprimindo ou distorcendo informações que não estivessem alinhadas com sua ideologia. Temas relacionados às lutas sociais, movimentos de resistência, direitos humanos e debates políticos eram omitidos ou apresentados de forma distorcida. O objetivo era controlar a formação da consciência crítica dos estudantes e promover uma visão positiva e legitimadora do regime. Essa censura também se estendia aos livros didáticos, obras literárias e materiais pedagógicos utilizados nas escolas. Muitos livros didáticos passaram por revisões e edições que eliminavam ou alteravam informações consideradas indesejáveis. Até mesmo a história do período republicano anterior à ditadura foi alvo de manipulação, com a apresentação simplista e parcial de eventos e figuras históricas. Além da censura, os professores e estudantes enfrentaram restrições e vigilância por parte do regime. Muitos professores foram perseguidos, demitidos ou afastados de suas atividades por se posicionarem contra a ditadura ou por adotarem métodos de ensino considerados "subversivos". A liberdade acadêmica e a autonomia dos professores foram severamente cerceadas. Apesar dessas limitações e manipulações impostas pelo regime, houve resistência por parte de alguns professores de história e estudantes. Eles adotaram estratégias de ensino criativas e subversivas, buscando transmitir uma visão crítica da história e estimulando o pensamento reflexivo nos alunos. Grupos de estudo, rodas de conversa e atividades extracurriculares foram formas de resistência e de manutenção de uma educação crítica durante a ditadura. Com o processo de redemocratização do país nos anos 1980, a disciplina de história passou por mudanças significativas, com a revisão dos currículos e a incorporação de uma abordagem mais crítica e pluralista. O ensino de história passou a valorizar a diversidade, os direitos humanos, as lutas sociais e a construção de uma consciência histórica comprometida com a democracia e a justiça social. No entanto, as marcas deixadas pelo período da ditadura militar ainda se fazem presentes no ensino de história até os dias atuais, exigindo um trabalho contínuo de revisão e reflexão sobre esse período da história do Brasil. Palavras-chave: Ditadura Militar. Livro Didático. Ensino de História. Educação. 3 INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho foi identificar a importância de compreender a história da educação brasileira em diferentes situações, destacando que algumas reflexões sobre a ditadura militar foram utilizadas como mecanismos de controle do Estado. É necessário promover uma aprendizagem crítica entre alunos e professores para evitar que ideologias políticas autoritárias prejudiquem as estratégias de ensino. O período da ditadura militar no Brasil é objeto de extensa pesquisa e inúmeras publicações, com elementos centralizadores como a opressão e a repressão, que puniam aqueles que se opunham ao governo militar. Além disso, a censura, as torturas e assassinatos representam o resultado de opiniões contrárias aos líderes do Estado. Algumas abordagens bibliográficas, em menor número, mencionam o processo que determinou a vitória contra os militares, proporcionando análises acerca dos sentidos que refletiram em impactos políticos e econômicos, dentro deste período no pais (ARANHA, 2006). A expansão das disciplinas científicas reafirmou-se durante o período militar e, para compreender os conteúdos abordados nos livros didáticos de história, faz-se necessária uma análise acerca do início do Período Militar de 1964, seguindo para interpretação de como as políticas determinaram a exclusão do povo, na participação da tomada de decisão ou expressão social, diante de uma cultura renovada em aspectos repressivos, pois após o do- mínio do regime militar no país, os professores de histórias receberam restrições em relação ao ensino político, reduzindo a autonomia, devido à vigilância nos processos educativos da época (COUTO, 2007). Os objetivos do estudo incluem analisar a forma como o governo ditatorial é abordado nos livros didáticos, que são recursos pedagógicos que exigem uma reflexão sobre as ideologias do período militar devido à sua influência no processo de ensino-aprendizagem. O estudo também visa estudar a abordagem da disciplina de história na Educação Básica antes do período da ditadura militar, identificar a ditadura militar e sua influência nos sistemas educacionais e analisar os livros de história utilizados durante o regime militar no Brasil. Assim, a relevância deste estudo reside na necessidade de compreender como os livros de história abordam o período da ditadura militar no Brasil, considerando sua influência na formação do conhecimento humano, uma vez que os livros são recursos didáticos disciplinares. A metodologia utilizada no trabalho foi um levantamento bibliográfico para embasar teoricamente o estudo. 4 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DITADURA MILITAR NO BRASIL Durante o período imperial, a história era tratada, nas escolas, como a identidade do povo brasileiro, mas dedicada aos valores morais, históricos e sociais da elite. A disciplina tornou- se indispensável para todas as faixas etárias e classes sociais, devido à formação de sentimentos patrióticos, configurando a construção da identidade do país (GASPARELLO, 2014). A ditadura militar no Brasil teve início em 1964 e durou até 1985. Para entender o contexto histórico que levou ao golpe militar, é necessário examinar alguns eventos e características importantes das décadas de 1930 a 1960 no País. Após a Revolução de 1930, o ensino religioso, de obrigatório, passou a ser facultativo e houve a fixação mínima de investimentos públicos na educação. Além disso, o sistema básico foi ampliado, seguindo os preceitos das reivindicações liberais, separando as classes, levando o ensino de qualidade com direito ao acesso da elite, enquanto as classes mais baixas permaneciam trabalhando, acima dos estudos. A Educação musical, física, moral e cívica, foram inseridas nos currículos escolares, centralizando a política no controle dos conteúdos de História, por meio de intervenções na elaboração dos livros didáticos (MEDEIROS E AGOSTINO, 2005). Durante o período da Guerra Fria, o Brasil vivia uma polarização política e social, agravada por crises econômicas e instabilidade política. Na década de 1950, o presidente Getúlio Vargas governou o país de forma populista, adotando medidas intervencionistas na economia e buscando apoio das massas trabalhadoras. No entanto, em 1954, Vargas cometeu suicídio, o que gerou comoção nacional e evidenciou as tensões políticas existentes. O final da 2a. Guerra (1945) e a queda de Vargas anunciam um tempo de democracia, surgindo uma nova abordagem para os conteúdos de História sob a ótica humanística e através de uma educação para a paz. (MILLAVIL, 2007, p.271). Nos anos seguintes, o Brasil passou por uma série de governos democráticos, com eleições presidenciais que refletiam a disputa entre forças políticas diversas. Em 1961, Jânio Quadros foi eleito presidente com uma plataforma nacionalista e moralizadora, mas renunciou abruptamenteapós sete meses de governo, gerando uma crise política. A renúncia de Quadros levou à posse de seu vice-presidente, João Goulart, conhecido como Jango, que assumiu o cargo em setembro de 1961. Goulart era considerado um líder mais à esquerda, ligado a movimentos trabalhistas e apoiado por setores populares. Sua ascensão ao poder gerou tensões e resistências por parte de setores conservadores da sociedade brasileira, incluindo militares e elites empresariais. A crise política se intensificou em 1964, com manifestações, greves e movimentos sociais em todo o país. Alegando a ameaça comunista e a instabilidade política, setores militares se 5 rebelaram e realizaram um golpe de Estado em 31 de março de 1964. Esse golpe derrubou o presidente João Goulart, que buscou refúgio no Uruguai. No ano de 1964, em meados do mês de abril, os militares derrubaram o então presidente do Brasil, João Goulart, ocupando o poder do Estado e estabelecendo a repressão social e o controle da população, que passou a policiar-se nas atitudes e escolhas, devido à repressão sofrida. Após Goulart ser deposto, a substituição sucessiva não seguiu os princípios democráticos, levando a novas eleições abertas, mas a liderança das Forças Armadas à presidência do país, por meio de uma eleição indireta realizada no poder Legislativo (COUTO, 2007). Segundo Couto (2007), no dia 11 de abril o Congresso elegeu como novo presidente da República, o marechal Humberto de Alencar Castello Branco, com o propósito de finalizar o mandato de João Goulart. O marechal, tornando-se chefe do Estado, passou a conspirar e coordenar os movimentos de revolta, as greves e manifestações sociais, punindo aqueles que apresentavam qualquer oposição à opinião do poder maior. O período da Ditadura Militar caracterizou o final da democracia, declinando o ensino a debates políticos, implantando uma educação que perseguia e cassava aqueles que não obedeciam às legalidades estabelecidas pelos militares. Os estudantes tiveram suas vozes abafadas, alguns professores foram perseguidos e as salas de aulas vigiadas pelos militares, que fiscalizavam o processo de ensino, afastando o currículo da formação crítica dos alunos, disseminando a carga da disciplina de História entre História e Geografia, Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política do Brasil (BITTENCOURT, 2003). A ditadura militar no Brasil teve diversas fases e períodos de maior ou menor repressão, mas em geral foi marcada por violações dos direitos humanos, tortura, desaparecimentos forçados e censura. A resistência ao regime também foi forte, com movimentos estudantis, greves operárias, organizações armadas e a atuação da Igreja Católica desempenhando papéis importantes na luta pela democracia. Neste contexto, as repressões às lutas da população aumentaram de maneira significativa, determinando uma severa punição àqueles que não seguiam as ordens do governo, além de estabelecer a censura em jornais, revistas, livros, filmes, músicas e demais manifestações artísticas e sociais (ARNS, 2011). “Muitos professores, políticos, músicos, artistas e escritores foram investigados, presos, torturados ou exilados do país” (BUENO, 2003, p.145). Ainda, segundo as afirmações de Chiavenato (2005), entre os anos de 1964 e 1984, momento em que a ditadura tratou do regime político do Brasil, houve a destruição da economia e a institucionalização da corrupção, levando a torturas àqueles que estavam contrários às práticas políticas. Além disso, a nação brasileira ficou abalada, prejudicando a interpretação social das gerações seguintes. O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) venceu as eleições de 1978, proporcionando a redemocratizacão do país. O general João Baptista Figueiredo concedeu, por meio da Lei 6 da Anistia, o direito aos exilados de retornarem ao Brasil, além dos condenados por crimes políticos. Os partidos políticos passaram a seguir as normas e leis, como antes da ditadura militar, com Geisel derrubando o AI-5, restabelecendo o pluripartidarismo no país. O partido ARENA passou a ser conhecido como PDS e o MDB como PMDB. Assim também, permitiu-se a criação de novos partidos, como o PT e o PDT (HABERT, 2012). O regime militar só chegou ao fim em 1985, com a eleição indireta de Tancredo Neves como presidente e a posterior posse de José Sarney. Esse período de transição e redemocratização marcou o início de um processo de reconciliação nacional e de revisão da história, visando construir uma memória coletiva sobre os anos de ditadura militar no Brasil. DESCRIÇÃO DO CONTEXTO EDUCACIONAL DURANTE O REGIME MILITAR Durante o regime militar no Brasil, o contexto educacional passou por diversas transformações que refletiram o autoritarismo e os interesses do governo na condução da educação. O regime militar viu na educação um importante meio de controle e influência ideológica, buscando moldar a formação dos estudantes de acordo com os princípios e valores do regime. O período entre 1964 e 1985, marcando a Ditadura Militar, refletiu de maneira direta na educação, trazendo consequências na construção e preparação dos alunos, diante de um Estado que buscava a formação ideal e o desenvolvimento da nação por meio do apelo político, determinando a necessidade de uma modernização educacional após a fase do governo militar. Deste modo, o texto a seguir aborda as mudanças do ensino, especialmente na disciplina de História, pós-militarismo. Romanelli (2001) afirma que, durante o período da Ditadura Militar, o propósito era a erradicação do analfabetismo, estabelecido por meio de um programa nacional que visava o fim das diferenças sociais, econômicas e culturais nas principais regiões do país. Diante desta realidade, o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) foi criado com a finalidade de alcançar os objetivos do governo, mas que não obteve sucesso, sendo extinto posteriormente. O mercado de trabalho, direcionado pela política militar, exigiam a formação profissional dos alunos, direcionando as escolas a moldarem-se conforme os princípios militares, pois a sociedade precisava acompanhar o desenvolvimento econômico, estrutural e industrial, mesmo que em desacordo com as formas das leis estabelecidas. Os sujeitos recebiam uma educação que valorizava o patriotismo, estando capacitados a um mercado enquadrado na evolução das causas de defesas políticas da época (ARANHA, 2006). “Institui-se então, um século de diplomados. O crescimento industrial, as mudanças na economia exigem a importância para a formação de uma sociedade enquadrada à especialização profissional" (ROMANELLI, 2001, p.69). 7 A censura também atingiu as instituições de ensino. Livros, revistas, jornais e materiais pedagógicos passaram por um rigoroso controle, com obras consideradas "subversivas" sendo proibidas ou alteradas para se adequarem à visão oficial do regime. A liberdade de expressão e a autonomia intelectual foram amplamente restringidas, e a produção de conhecimento acadêmico sofreu interferências diretas por parte do governo. Outro aspecto importante foi a intervenção na estrutura curricular das escolas. O regime militar buscou promover uma visão conservadora da educação, enfatizando valores como disciplina, obediência, hierarquia e nacionalismo. A disciplina de Educação Moral e Cívica foi implantada como obrigatória em todas as escolas, com o objetivo de transmitir valores e princípios considerados adequados ao regime militar (BITTENCOURT, 2003). Além disso, foram realizadas mudanças nos conteúdos escolares. A história do Brasil foi reinterpretada de acordo com a visão oficial do regime, enfatizando a ideia de uma nação pacífica, ordeira e progressista. Eventos e figuras históricas que pudessem causar questionamentos ou reflexões críticas foram minimizados ou distorcidos. Temas como lutas sociais, direitos humanos e movimentos políticos foram silenciados ouapresentados de forma parcial e enviesada. Somente com o processo de redemocratização, a partir da década de 1980, foi possível promover mudanças significativas na educação, buscando resgatar a pluralidade, a autonomia intelectual e o espírito crítico no ambiente escolar. INFLUÊNCIAS POLITICAS E IDEOLÓGICAS NA ELABORAÇÃO DOS CURRICULOS ESCOLARES Durante o período da ditadura militar no Brasil, as influências políticas e ideológicas tiveram um papel significativo na elaboração dos currículos escolares. O regime militar buscava utilizar a educação como um instrumento de propaganda e de controle ideológico, direcionando a formação dos estudantes de acordo com os princípios e valores do regime. Uma das principais influências foi a imposição de uma visão conservadora e nacionalista nos currículos. O regime militar buscava promover uma ideologia de ordem, disciplina e patriotismo, enfatizando a valorização da história e da cultura nacional, mas de forma seletiva e distorcida, de acordo com os interesses do regime. Eventos históricos e figuras que poderiam causar questionamentos ou reflexões críticas foram minimizados ou omitidos. Nesse sentido, ocorreu uma seleção e manipulação dos conteúdos curriculares. Temas relacionados a lutas sociais, movimentos políticos, direitos humanos e democracia foram deixados de lado ou apresentados de forma superficial e enviesada. A história do Brasil era reinterpretada para se adequar à narrativa oficial do regime, com ênfase em momentos de grandeza nacional e avanço econômico, enquanto aspectos negativos ou problemáticos eram ignorados ou minimizados. 8 Além disso, disciplinas como Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira foram incorporadas aos currículos como obrigatórias, com o objetivo de transmitir os valores e princípios do regime militar. Essas disciplinas reforçavam a ideologia do regime, enfatizando o nacionalismo, o respeito à hierarquia e a obediência ao Estado (BITTENCOURT, 2003). Sendo assim, além das práticas cívicas, a escola ensinava os sujeitos à importância da moralidade, determinando a necessidade de obedecer às leis sem questionamentos ou revoltas. A finalidade do trabalho, época da ditadura, concentrava-se no discurso do crescimento econômico do país, levando à geração de capital aos empresários, enquanto a população sofria com instabilidade inflacionária (FONSECA, 2003). A DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO PERÍODO DA DITADURA MILITAR Durante o período da ditadura militar no Brasil, a disciplina de história passou por significativas transformações e influências por parte do regime autoritário. O governo militar buscou controlar o ensino e utilizar a educação como um instrumento de propaganda e legitimação do regime. Dessa forma, o ensino de história sofreu intervenções e manipulações para se adequar aos interesses do regime. Uma das principais características do ensino de história nesse período foi a imposição de uma narrativa oficial, que buscava enaltecer os feitos e realizações do regime, enquanto suprimia ou distorcia informações consideradas indesejáveis ou contrárias à ideologia dos militares. A censura e a manipulação da história foram utilizadas como estratégias para controlar a formação de consciência crítica dos estudantes e da população em geral. A censura era aplicada aos livros didáticos, às obras literárias, aos materiais pedagógicos e aos conteúdos abordados em sala de aula. Muitos livros didáticos passaram por revisões e edições que eliminavam ou alteravam informações consideradas "subversivas" ou contrárias ao regime. Elementos relacionados às lutas sociais, movimentos de resistência, direitos humanos e debates políticos eram omitidos ou apresentados de forma distorcida. Outra influência do regime militar sobre a disciplina de história foi a promoção de uma visão conservadora e patriótica da história do Brasil. Os militares buscaram enfatizar aspectos positivos do passado nacional, ressaltando o heroísmo, o nacionalismo e a ordem, enquanto minimizavam ou ignoravam questões sociais, conflitos, injustiças e violações dos direitos humanos. Os conteúdos relacionados à história do período republicano anterior à ditadura também sofreram manipulações. A Revolução de 1930 e o governo de Getúlio Vargas, por exemplo, eram apresentados de forma simplista, destacando apenas aspectos positivos e omitindo os elementos autoritários e repressivos do período. 9 Além disso, professores e estudantes enfrentaram restrições e vigilância por parte do regime. Muitos docentes foram perseguidos, demitidos ou afastados de suas atividades por se posicionarem contra a ditadura ou por adotarem métodos de ensino considerados "subversivos". A liberdade acadêmica e a autonomia dos professores foram duramente cerceadas. Apesar dessas limitações e manipulações, houve resistência por parte de alguns professores de história e estudantes. Muitos adotaram estratégias de ensino criativas e subversivas, buscando transmitir uma visão crítica da história e estimulando o pensamento reflexivo nos alunos. Grupos de estudo, rodas de conversa e atividades extracurriculares foram formas de resistência e de manutenção de uma educação crítica durante a ditadura. Com o processo de redemocratização do país nos anos 1980, a disciplina de história passou por mudanças significativas, com a revisão dos currículos e a incorporação de uma abordagem mais crítica e pluralista. O ensino de história voltou-se para a valorização da diversidade, dos direitos humanos, das lutas sociais e da construção de uma consciência histórica comprometida com a democracia e a justiça social. No entanto, é importante ressaltar que as marcas deixadas pelo período da ditadura militar ainda se fazem presentes no ensino de história até os dias atuais. A memória coletiva e os debates sobre o passado autoritário continuam sendo fundamentais para a compreensão da história do Brasil e para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. RESTRIÇÕES, LIMITAÇÕES E A ATUAÇÃO DOS PROFESSORES DE HISTÓRIA Durante o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985), os professores de História enfrentaram uma série de restrições e limitações em sua atuação profissional. O regime militar tinha o objetivo de controlar a educação e direcionar a formação dos estudantes de acordo com a ideologia do governo, o que resultou em interferências e ameaças à liberdade acadêmica. Uma das principais restrições impostas aos professores de História foi a censura. Livros didáticos, materiais pedagógicos e até mesmo as aulas eram monitorados e submetidos a um rígido controle. O governo militar buscava eliminar ou modificar informações consideradas "subversivas" ou contrárias à ideologia do regime. Questões relacionadas a lutas sociais, movimentos de resistência, violações dos direitos humanos e debates políticos eram omitidas ou apresentadas de forma distorcida. Os currículos escolares também foram alvo de interferência. O regime militar impôs uma visão oficial e positivista da história do Brasil, destacando o desenvolvimento econômico, o progresso e a ordem, enquanto ocultava ou minimizava eventos e processos relacionados a conflitos sociais, injustiças e violações de direitos. Figuras históricas envolvidas em ações 10 contrárias ao regime eram apagadas ou denegridas, enquanto líderes militares e figuras alinhadas ao governo eram exaltadas. Além disso, as diretrizes e orientações impostas pelo governo restringiam a liberdade acadêmica dos professores. Aqueles que se recusavam a seguir a linha oficial do regime poderiam sofrer perseguições, demissões ou afastamentos de suas atividades. Muitos professores encontravam-se em uma posição delicada, equilibrando-se entre a necessidade de cumprir as diretrizes impostas pelo governo e a tentativa de transmitir uma visão crítica e pluralista da história. Apesar das restriçõese limitações, houve casos de resistência por parte dos professores de História. Alguns utilizavam estratégias criativas para contornar as limitações impostas, como o uso de recursos pedagógicos alternativos, como a literatura e o cinema, para abordar temas considerados proibidos. Outros promoviam discussões críticas e estimulavam o pensamento reflexivo nos estudantes, mesmo enfrentando riscos. A atuação dos professores de História nesse período era desafiadora, exigindo coragem e comprometimento com a educação e a formação cidadã. Muitos enfrentaram perseguições e repressões por parte do regime, mas também contribuíram para a resistência e para a preservação da memória histórica. O trabalho desses professores foi fundamental para manter viva a consciência crítica e o interesse pela história em um contexto repressivo. Somente com o processo de redemocratização, a partir dos anos 1980, foi possível promover mudanças significativas no ensino de História, buscando uma abordagem mais pluralista, crítica e comprometida com a formação cidadã. A história do período da ditadura militar passou a ser estudada de forma mais ampla e aprofundada, buscando-se compreender as violações dos direitos humanos e os impactos sociais e políticos desse período sombrio da história brasileira. A RECONFIGURAÇÃO DO ENSINO DE HISTORIA PÓS DITADURA MILITAR Após o fim da ditadura militar no Brasil, ocorreu uma reconfiguração significativa no ensino de história, visando romper com a narrativa oficial e promover uma abordagem mais crítica, pluralista e comprometida com a formação cidadã. Com a redemocratização do país, a partir dos anos 1980, foram estabelecidos novos direcionamentos para o ensino de história. A Constituição de 1988 estabeleceu a garantia do direito à liberdade de expressão e de pensamento, o respeito à pluralidade cultural e a valorização dos direitos humanos, diretrizes fundamentais para a construção de um ensino de história mais democrático e inclusivo. Uma das principais mudanças ocorreu na forma como a ditadura militar era abordada. Ao contrário do período anterior, quando a história do regime era reinterpretada de acordo com 11 os interesses do governo, passou-se a promover uma análise crítica dos acontecimentos e das violações dos direitos humanos durante esse período. A ditadura militar passou a ser estudada como um momento de repressão política, violência, censura e restrição das liberdades individuais e coletivas. Além disso, a história do Brasil passou a ser estudada de forma mais ampla e plural. Temas antes negligenciados ou omitidos, como a participação das mulheres, dos povos indígenas, dos negros e das minorias sociais, passaram a receber maior atenção e relevância. A diversidade étnica, cultural e social passou a ser valorizada, e a história do Brasil foi contada a partir de múltiplas perspectivas. Outro aspecto importante foi a ampliação da participação dos estudantes no processo de aprendizagem. Aulas expositivas deram lugar a metodologias mais participativas, como debates, pesquisas, projetos e análise de fontes históricas. A ideia era estimular o pensamento crítico, a reflexão e o desenvolvimento de habilidades de análise e interpretação. Ademais, houve uma preocupação crescente em relacionar o ensino de história com a atualidade e os problemas sociais contemporâneos. A disciplina passou a abordar questões como desigualdade, discriminação, direitos humanos, democracia e cidadania, buscando a formação de estudantes conscientes de seu papel na sociedade e capazes de atuar de forma ativa e responsável na construção de um país mais justo e igualitário. A reconfiguração do ensino de história pós-ditadura militar no Brasil foi um processo gradual e complexo, marcado por debates e disputas de interpretação. No entanto, o objetivo central era superar as imposições e manipulações do regime militar, promovendo uma educação histórica que estimulasse o pensamento crítico, o respeito à diversidade e a consciência dos direitos e deveres dos cidadãos. Cabe ressaltar que essa reconfiguração do ensino de história é um processo contínuo, sujeito a avanços e retrocessos, e demanda o engajamento de educadores, pesquisadores e da sociedade em geral para a construção de uma educação histórica cada vez mais plural, reflexiva e comprometida com a formação de uma sociedade democrática e igualitária. A abordagem acerca das prisões da época, tratadas como forma de controle político, direciona a disciplina de história à formação de pressupostos de como agir na educação, levando em consideração a necessidade de vigiar as maneiras como o militarismo é mencionado, para que não ocorram injustiças diante dos fatores históricos da época (FOUCAULT, 2005). CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a análise dos dados bibliográficos, percebe-se que a disciplina de História é responsável por desenvolver a capacidade investigativa e interpretativa nos indivíduos, por 12 meio de reflexões sobre as relações da sociedade com o ambiente em diferentes espaços, tempos e contextos. Ao estudarem História, as pessoas revisam teorias apoiadas em fontes, fatos, memórias e discursos, reconstruindo de maneira significativa a conexão entre o presente e o passado, por meio de metodologias e práticas inovadoras. Durante o governo dos militares, as ideologias políticas eram evidenciadas nos livros, mas devido à ausência de conhecimento efetivo da população em política e história, as mensagens inseridas no material didático não eram percebidas pelos sujeitos, incluindo professores, consequência da formação curta nos cursos de licenciatura (RAMOS, 2007). Nos autores estudados, é evidente a percepção de que os livros elaborados pelos militares tinham o propósito de controlar e limitar o poder e o profissionalismo nas escolas, já que a ausência do desenvolvimento da capacidade crítica impossibilitava a derrubada do regime vigente. Os alunos, assim como todos os cidadãos, eram controlados e vigiados, e os professores assumiam o papel de expositores de informações propostas pelos militares. Diante dessa realidade, a educação estava restrita às ideologias políticas, levando a população a aceitar a conduta política por meio dos ensinamentos nas escolas. O período da Ditadura Militar é tratado como um momento de centralização do poder, especialmente na educação, como estratégia política para conter comportamentos considerados inadequados por parte dos cidadãos que desconheciam as leis do país. Assim, a importância do militarismo levou ao caos social durante 20 anos, prejudicando a educação devido à falta de formação crítica e à restrição das ações da população, que estava sujeita a perseguições, represálias, repressões e ações opressivas. Compreender a ditadura militar no Brasil é essencial para evitar a repetição de erros do passado e fortalecer os pilares democráticos da sociedade. O conhecimento histórico permite aos estudantes reconhecer os perigos do autoritarismo, valorizar a importância dos direitos humanos, da participação política e da pluralidade de ideias. Além disso, ao estudar a ditadura militar, os alunos têm a chance de compreender as desigualdades e injustiças sociais que persistiram e foram intensificadas durante esse período. Podem refletir sobre a importância da igualdade, da inclusão social e da justiça como pilares fundamentais de uma sociedade democrática e comprometida com o bem-estar de todos os seus cidadãos. Ainda, o estudo desse período contribui para a formação de uma consciência crítica sobre os mecanismos de repressão e censura utilizados pelo regime militar. Os alunos aprendem a identificar e questionar as manipulações e o controle da narrativa histórica, compreendendo a importância da liberdade de expressão, do acesso à informação e do pensamento crítico para a construção de uma sociedade livre e democrática. O ensino de história desempenha um papel fundamental na compreensãoda ditadura militar no Brasil e na formação cidadã dos estudantes. Ao estudar esse período histórico, os alunos têm a oportunidade de desenvolver uma consciência crítica sobre as violações de direitos humanos, as restrições às liberdades individuais e coletivas e as consequências políticas, sociais e culturais dessa experiência autoritária. O ensino de história também proporciona a oportunidade de conhecer e valorizar a resistência e a luta contra a ditadura militar. Os estudantes têm contato com histórias de indivíduos e grupos que se posicionaram contra o 13 regime, lutaram por direitos e liberdades, e contribuíram para a construção de um país mais justo e igualitário. Esses exemplos inspiradores estimulam a participação cidadã e a defesa dos valores democráticos. Portanto, o ensino de história desempenha um papel central na formação cidadã, permitindo que os estudantes analisem criticamente o passado, compreendam o presente e se engajem ativamente na construção de um futuro mais justo e democrático. É através do conhecimento histórico que os jovens adquirem as ferramentas para se tornarem cidadãos conscientes, informados e capazes de tomar decisões fundamentadas, respeitando os direitos humanos e contribuindo para a consolidação de uma sociedade mais justa e igualitária. REFERÊNCIAS ARANHA, M. L. A. História da educação. 2a ed. rev. e atual. São Paulo: Ed. Moderna, 2006. ARNS, P. E. Brasil: nunca mais. 32ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. 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