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ISSN 2176-1396 PROJETO DE EXTENSÃO ESTUDAR, UMA AÇÃO SAUDÁVEL: ANÁLISE DA CONTRIBUIÇÃO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR NO COTIDIANO DAS CRIANÇAS INTERNADAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO Marilize de Morais Silva 1 - UFMA Francy Sousa Rabelo 2 - UFMA Grupo de Trabalho – Educação, Saúde e Pedagogia Hospitalar Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente trabalho visa compreender o processo ensino-aprendizagem em espaços não- escolares, tendo como foco central uma análise do projeto Estudar, Uma ação saudável, promovido pela Universidade Federal do Maranhão em parceria com um Hospital Universitário de São Luís do Maranhão. O aporte teórico-metodológico subsidia-se pela pesquisa bibliográfica, com base em documentos de cunho legal como a Constituição Federal (1988), Lei de Diretrizes e Bases (1996), Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), entre outros, e em autores como Fonseca (2003), Santos (2012), Oliveira et al (2009) e na pesquisa de campo com enfoque qualitativo no estudo exploratório. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados a observação participante, por atuar como voluntária no referido projeto. A pedagogia hospitalar tem contribuído no que refere-se a aprendizagem e desenvolvimento da crianças internada, promovendo a interação e participação das mesmas nas atividades proporcionada pelo projeto que objetivam estimulá-la, interferindo assim no seu processo de recuperação e garantindo o direito a educação. Constatou-se que o desenvolvimento do projeto tem surtido efeitos positivos no cotidiano das crianças internadas. A partir das atividades propostas na classe hospitalar há a participação e interação das mesmas com o conhecimento e com o meio, possibilitando assim a aprendizagem significativa. No desenvolvimento das contações de histórias, produções escritas e de desenhos percebeu-se o interesse das crianças e o envolvimento, resultando na aproximação das mesmas com o conhecimento que tinham contato nas instituições de ensino regulares. Observou-se que o projeto possibilita o acesso das crianças internadas a educação, onde influencia diretamente em seu desenvolvimento. Palavras-chave: Pedagogia Hospitalar. Atendimento pedagógico. Aprendizagem. 1 Discente do curso de Pedagogia da UFMA e voluntária no projeto Estudar, uma ação Saudável, mari_lize21@hotmail.com 2 Professora Assistente do Departamento de Educação I da Universidade Federal do Maranhão e Coordenadora do projeto de extensão Estudar, uma ação saudável, franrabelo@hotmail.com 30253 Introdução O desenvolvimento e a aprendizagem dos indivíduos acontecem quando eles interagem com o meio em que vivem e tem contato com conhecimentos construídos ao longo dos anos. A infância é o período em que os sujeitos estão no início desse processo, oportunizando assim, o momento para potencializar habilidades e competências a fim de permitir uma aprendizagem significativa e desenvolver as funções psicológicas superiores (VYGOTSKY, 1991). Esse processo educativo deve ocorrer em ambientes que proporcionem a interação e socialização na presença de um pedagogo, onde o mesmo irá dispor de estratégias que possibilitem que o indivíduo participe das atividades e projetos. A pedagogia hospitalar surge no intuito tornar eficaz a garantia do direito de todos terem a possibilidade de participar do processo educativo, de forma que o pedagogo presente nos hospitais proporcione projetos e atividades lúdicas e recreativas planejadas afim de promover a interação das crianças que estão na maioria das vezes passando por intervenções medicas dolorosas e traumatizantes. A pesquisa se deu no projeto Estudar, Uma Ação Saudável, no Hospital Universitário de São Luís do Maranhão, onde utilizou-se estudo de caso, referindo-se a uma realidade específica, usou-se também observação participante, no que tange a autora ser uma das voluntárias do projeto. O referencial teórico apoiou-se em documentos legais como a Constituição Federal (1988), Lei de Diretrizes e Bases (1996), Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações (2002), entre outros, e em autores como Fonseca (2003), Santos (2012), Oliveira (2009). O Projeto objetiva promover atendimentos pedagógicos para as crianças em processo de hospitalização, contribuindo com seu desenvolvimento e recuperação. Observou-se que as crianças puderam participação e interagir com o conhecimento e das crianças nas atividades desenvolvidas no mesmo, onde permitiu a elas a construção do conhecimento, possibilitando assim o acesso das mesmas a educação. O atendimento escolar no âmbito hospitalar: breve considerações A educação é um processo mutável e dinâmico que implica em construção e reconstrução dos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos. Ela nos permite ampliar e aprimorar habilidades e competência por meio da apropriação do conhecimento sistematizado 30254 promovendo a liberdade de expressão e o desenvolvimento interno e externo. No processo de educação passa-se por diversas fases ou níveis de ensino, como por exemplo, a educação infantil, ensino fundamental e médio, educação superior, entre outros. Se faz direito a educação a partir da Constituição Federal Brasileira (1988), onde em seu artigo 6º determina que a mesma é um direito social garantido por lei, e quando se trata deste direito relativo as crianças e aos adolescentes outro documento reforça tal direito, o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu Capítulo IV artigo 53º, que diz: a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. (BRASIL, 1990, p. 18, grifo nosso) Portanto, a educação é sem dúvida garantida à sociedade e respaldada por lei, como está vigente também na Lei de Diretrizes e Bases (1996) em seu título II, artigo 2º, “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. ”. Porém apontar que a educação é um direito não é o mesmo que garantir a permanência e o acesso de todos a ela, porque existem indivíduos que não tem acesso à educação ofertada nas instituições de ensino regulares, necessitando assim de um atendimento educacional especializado. A LDB em seu artigo 58, inciso 2 aponta que, “O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. ”. Então respaldado por lei, indivíduos deverão ter acesso ao atendimento especializado se não tiver condições de estar presente nas instituições de ensino regular. Instituiu-se as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (2001), que veio reafirmar a necessidade de promover esse atendimento especializado para as crianças que não tem acesso a permanência a educação oferecida por instituições de ensino regular. (RABELO, 2014) Segundo Teles (2014, p. 2) “A preocupação com as crianças afastadas da escola por motivo de saúde e internação levou ao surgimento de um novo campo pedagógico que se trata 30255 da Pedagogia Hospitalar”. Visando disponibilizarpara os indivíduos um atendimento que possibilite o contato com o conhecimento sistematizado. “Fundamentada em uma Pedagogia Hospitalar, temos a Classe Hospitalar que é uma modalidade de atendimento pedagógico- educacional no contexto do hospital” (LIMA, 2011, p. 14), caracterizando-se assim um espaço que permite ao indivíduo internado a possibilidade de aprendizado e desenvolvimento. Para implantação da referida classe, em 2002, foi elaborado o documento Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações (BRASIL, 2002), pelo Ministério da Educação através de Secretaria de Educação Especial, onde busca disponibilizar estratégias e orientações para esse atendimento e estruturar a prática pedagógica, portanto: Denomina-se classe hospitalar o atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental. (BRASIL, 2002, p. 13) As classes hospitalares permitem que o indivíduo enfermo possa ter acesso a um processo de ensino-aprendizagem sistematizado mesmo estando ausente do ambiente escolar formal, dando continuidade na sua formação e desenvolvimento e fazendo presente atividades e projetos que deem o suporte para o mesmo. Esta classe proporciona a socialização dos indivíduos que na maioria das vezes estão isolados uns dos outros, ou seja, cada um tende a ficar em seu leito vivenciando as angustias e ansiedades do tratamento e dos procedimentos invasivos. Uma “rotina nova” acontece para os hospitalizados porque atividades desenvolvidas antes da internação foram substituídas por processos de intervenção médica. Para as crianças hospitalizadas, deixar seus hábitos e costumes cotidianos e serem introduzidas em uma rotina que não é semelhante a anterior vivenciada, pode provocar desestímulo no período da internação, prejudicando assim, o desenvolvimento das mesmas, de acordo com Oliveira et al (2009, p. 307): o ambiente hospitalar é, geralmente, desconhecido para a criança, tanto em seu aspecto físico quanto em sua rotina. Ele possui normas e regras específicas, e a criança e sua família precisam se adaptar a estas condições, como o horário e cardápio para as refeições [...] Estas condições hospitalares podem gerar uma despersonalização do paciente e dificultar no enfrentamento da doença. Todas essas mudanças causam um impacto na criança e podem alterar seu comportamento durante e depois da internação. Assim, a hospitalização e o adoecimento podem ser fatores de risco para o desenvolvimento infantil. 30256 Visando o melhor desenvolvimento de cada indivíduo, as classes hospitalares interferem nessa “nova realidade” proporcionando um ambiente que eles possam ser sujeitos participantes, construindo e reconstruindo o conhecimento, tendo acesso a atividades lúdicas e recreativas planejadas que disponibilizam o direito a socialização e expressão do que pensam e sentem, a fim de transformar um período do seu cotidiano que seria ocioso, agora disposto por atividades e projetos educativos. O afastamento do indivíduo da escola, de seu lar, ocasiona em algumas crianças a criação de traumas e presença do medo, fazendo com que ela possa te um desequilíbrio emocional, por estar longe de tudo o que fazia. Algumas crianças que estão enfermas não podem nem sair de seu leito para andar um pouco, ficando assim enclausuradas entre quatro paredes. Nota-se que essa situação pode acarretar danos à saúde psicológica da mesma, nesse momento o pedagogo se faz presente, no que refere a amenizar o sofrimento que as crianças sentem. Elas encontram na classe uma oportunidade de se “desprender” de seu leito e de sua enfermidade e se permitirem sentir alegria enquanto aprendem e se desenvolvem, se percebendo assim sujeitos. (SILVA. MATOS, 2009) Assim, percebe-se que a pedagogia ultrapassou os limites da sala de aula de uma escola regular e se permitiu estar presente em outros ambientes, disseminando os atendimentos pedagógicos a fim de tornar eficaz o a garantia do acesso de todos a educação. Projeto Estudar, uma Ação Saudável: Uma Análise de sua Atuação no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão O referido projeto foi aprovado em 2009 pela Pró-Reitoria de Extensão da UFMA e visa promover atendimento pedagógico a partir de atividades escolares lúdicas para as crianças em processo de hospitalização. Participam do mesmo, discentes do curso de pedagogia da UFMA, sendo bolsistas e voluntárias, com acompanhamento de duas docentes da mesma instituição, pesquisadoras da área de pedagogia hospitalar e duas professoras pedagogas do Hospital Universitário. A observação participante foi fundamental para perceber o desenvolvimento do projeto e os reflexos das ações pedagógicas na criança hospitalizada, o uso de tal técnica se fez pela autora ser participante do referido projeto como voluntária. Tal técnica é utilizada segundo Queiroz et al (2007), 30257 Os observadores participantes se inserem na situação de pesquisa e na vida das pessoas que estudam [...]. Essa técnica é utilizada para estudar fenômenos que ocorram naturalmente e os observadores não manipulam tratamentos estatísticos de dados nem distribuem pessoas aleatoriamente por situações, mas ocasionalmente tentam fazer análises causais. As ações pedagógicas desenvolvidas têm como foco a leitura, produção escrita e artística, buscando contribuir com o desenvolvimento de cada criança e se fazendo presente no tocante as áreas de conhecimento, ou seja, trabalhando com linguagem, ciências humanas, exatas e da natureza. As atividades se concretizam em uma sala especifica (brinquedoteca), com cadeiras, mesas, uma lousa, pincel, tintas, lápis de cor, hidrocor, instrumentos capazes de dar suporte ao processo de mediação. São realizadas atividades de leitura e escrita, pintura, desenho, utiliza-se letras móveis a fim de permitir a apropriação das crianças a língua materna, faz-se presente semanas temáticas com o objetivo de possibilitar uma discussão e propiciar o conhecimento do significado real do tema trabalhado. Com o desenvolvimento do projeto observou-se que uma criança internada conhece uma realidade de injeções, medicamentos, tratamentos, visitas médicas que na maioria das vezes tornam-se dolorosos e ofensivos para as mesmas, o indivíduo perde sua identidade pessoal, seu fazeres cotidianos são tolhidos, seu nome é a partir do diagnóstico presente no prontuário. Segundo Mitre e Gomes (2004, p. 153), “os pacientes são tratados de forma padronizada (sem espaço para suas experiências pessoais), fragmentada e distanciada. [...] O sujeito vai gradativamente sendo destituído de seus papéis sociais e acaba por tornar-se um “caso”. O ambiente hospitalar contribui assim, para descaracterização de identidade pessoal dos indivíduos, onde pode interferir nas relações internas e externas que os mesmos dispõem, como o ato de confiar em desconhecidos, sendo que a criança no período da internação tem contato constantemente com diferentes profissionais de diversas áreas. Então torna-se muito complicado para os mesmos, se o indivíduo se apresenta arredio e distante. É por essa razão que se destaca a relevância do atendimento pedagógico e no referido projeto, busca propiciar para as crianças ações permitam uma relação professor-aluno afetiva diferente de algumas das relações estabelecidas entre os profissionais da saúde e as crianças, que se caracterizam pela impessoalidade e distância. Fazendo assim o sujeito desenvolver a sua autoconfiança. As atividades desenvolvidas pelas crianças com a mediação das alunas e das pedagogas favorecem o desabrochar artístico, porque criam, constroem, se envolvem como sujeitos produtores de um saber, por isso otrabalho pedagógico realizado em âmbito 30258 hospitalar apresenta diversas formas de atuação e consegue conceber um universo que faz parte da formação do profissional da educação. Sem dúvida, o trabalho do professor é ensinar, mas isso será feito de fato tendo-se em vista um objetivo maior: a recuperação da saúde, pela qual trabalham todos os profissionais de um hospital, desta forma, o profissional da educação deve criar: estratégias que favoreçam o processo ensino-aprendizagem, contextualizando-o com o desenvolvimento e experiências daqueles que o vivenciam. Mas, para uma atuação adequada, o professor precisa estar capacitado para lidar com as referências subjetivas das crianças, e deve ter destreza e discernimento para atuar com planos e programas abertos, móveis, mutuantes, constantemente reorientados pela situação especial e individual de cada criança, ou seja, o aluno da escola hospitalar. (FONSECA, 2003, p. 26) A pratica pedagógica concretizada nos hospitais deve preconizar a aproximação da criança à aquilo que lhe é próprio, ou seja, permitir que na classe hospitalar a mesma possa agir de forma espontânea gozando do direito de ser criança, de viver sua infância, na qual na maioria das vezes ela perde nos ambientes hospitalares. No projeto Estudar, uma ação saudável se faz presente atividades que utilizam filmes como instrumento para o desenvolvimento da oralidade, expressão e interpretação, permitindo construção do conhecimento, uma vez que esta vivência acontecia fora do hospital. Após o filme, as crianças se expressam através de suas falas e da produção escrita ou desenhos sobre o que elas aprenderam no filme. Utiliza-se esse recurso de acordo com o conteúdo que foi trabalhado durante a semana proporcionando que as crianças percebam que os conteúdos trabalhados se fazem presentes na sociedade de, possibilitando assim uma apropriação significativa. O trabalho nas classes hospitalares demanda do profissional saberes específicos, pois se trata de um ambiente diferente das escolas regulares, então o pedagogo deve agir inicialmente de forma cautelosa com as crianças, pois elas podem se apresentar um pouco amedrontadas e não participarem das atividades agindo de forma agressiva ou tímida. Para que as mesmas possam interagir de forma espontânea nesse ambiente: o atendimento pedagógico deverá ser orientado pelo processo de desenvolvimento e construção do conhecimento correspondentes à educação básica, exercido numa ação integrada com os serviços de saúde. A oferta curricular ou didático-pedagógica deverá ser flexibilizada, de forma que contribua com a promoção de saúde e ao melhor retorno e/ou continuidade dos estudos pelos educandos envolvidos (BRASIL, 2002, p.17). 30259 A criança hospitalizada necessita de um ambiente que a permita ser estimulada e confiante, por isso o pedagogo deve condições para o seu desenvolvimento, tendo em vista que as mesmas estão enfermas e possuem limitações. O currículo planejado para trabalhar em classes hospitalares, deve dispor de atividades e projetos que propicie a participação de todos os sujeitos e desperte a curiosidade. As atividades desenvolvidas no projeto pesquisado se focam no desenvolvimento integral da criança, envolvendo conteúdos do currículo escolar voltado para as áreas de conhecimento da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. No cotidiano observa-se que o pedagogo em sua prática deve fazer a relação entre os conteúdos das diferentes áreas de conhecimento, para que as crianças percebam que há relação entre os mesmos. Tendo em vista que a prática pedagógica influencia diretamente na assimilação das crianças, a pedagogia hospitalar visa proporcionar para as crianças um ambiente propicio para a assimilação e apropriação de conhecimentos de uma maneira lúdica. Com a experiência desenvolvida pelo projeto pesquisado percebe-se que o processo ensino-aprendizado objetiva permitir a produção de conhecimento, observou-se que a classe hospitalar não é um ambiente reprodutor ou transmissor de conhecimento, ela é uma forma de intervenção social. O conhecimento propicia às crianças a autonomia, reflexão, respeito, diversidade cultural, bem comum, ludicidade, criatividade, entre outros. A metodologia utilizada através de contação de histórias promove a criatividade, curiosidade, interação e a imaginação, além de favorecer a socialização e a interação das crianças com as outras, proporcionando a elaboração de significados e reconstrução dos conhecimentos. Inicialmente os conhecimentos elaborados das crianças são representados em forma de desenhos, onde permite que a mesma utilize sua imaginação e criatividade para expressar conhecimentos construídos e reconstruídos. Para as crianças torna-se uma atividade instigante, porque envolve sua criatividade e produzir um desenho é uma forma de se apropriar da cultura existente na sociedade e desenvolver o domínio da língua materna. Outro momento observado foi o de leituras na classe, sendo um momento de exercer relações com o ambiente. Algumas leituras foram feitas com as crianças em roda, sentadas em tapetes, possibilitando assim que interagissem com o meio. Após a roda de leitura as crianças produziram desenhos e textos referentes ao que fora lido propiciando uma aprendizagem significativa. A leitura em coletivo traz um papel para o professor, o de mediar a relação das 30260 crianças com as outras e com o conhecimento. A partir desta atividade é que o professor irá compartilhar os conhecimentos, valores e concepções construídos na interpretação do que foi lido e no envolvimento com conteúdo evidenciado no texto (FONTANA; CRUZ, 1997). Neste tipo de atividade, há uma socialização dos saberes por todos no processo ensino- aprendizagem, objetivando assim, que as crianças expressem seus conhecimentos interagindo com o meio e os sujeitos. O processo de ensino-aprendizagem é uma troca, onde o educador e o educando aprendem e ensinam um para o outro de forma a promover a emancipação e a modificação de realidade. O pedagogo age como um indivíduo crítico e reflexivo, onde a sua prática pedagógica favorece às crianças o suporte para a libertação e emancipação da realidade que se encontram. Acredita-se que a criança é um indivíduo ativo, onde participa do processo de ensino- aprendizagem, de acordo com Vygotsky (1991) o aluno constrói o seu próprio significado para o conhecimento que lhe é compartilhado. As crianças são elaboradoras de significados, a partir da socialização, internalização e da mediação que o pedagogo deverá fazer. É a partir da relação, com o outro e com o conhecimento, que as crianças apropriam e reconstroem o que há de mais elaborado na cultura, onde a aprendizagem é um processo que acontece no âmbito interpessoal, sendo uma atividade que antecede o desenvolvimento, que o mesmo é entendido como um processo de internalização. Tendo isso em vista entende-se que: a intervenção pedagógica em ambientes hospitalares pode ser imprescindível no caso da criança, uma vez que sua formação ainda não está completa. Suas capacidades são, por hora, meras potencialidades a formar todo um projeto de vida e pode depender de uma ação positiva da intervenção pedagógica para que não venha a sofrer sequelas no futuro da criança. (SANTOS, 2012, p. 21). No projeto pesquisado, observou-se que as crianças sentiam necessidade de aprender, iam diariamente na sala onde funciona a classe hospitalar, em busca de conhecimento. No projeto, o atendimento pedagógico é planejado e focado em atividades lúdicas e que possibilite a interação e socialização das crianças, a fim de contribuir da melhor forma possível para a continuidade de seu contato com as atividades escolares. Observa-se que a pedagogia hospitalar contribui com o desenvolvimento das crianças hospitalizadas, pois através das classes hospitalares há presençade atividades dinâmicas e estimulantes que visam a participação efetiva da criança como um ser dotado saberes e habilidades. 30261 Considerações Finais A perspectiva de educação para todos, é um lema muito discutido e apoiado na sociedade, advindo do ideal de inclusão social visando a integração e participação de todos os cidadãos em sociedade mais justa e crítica. Em se tratando de crianças e adolescentes hospitalizados que tem seu direito a educação tolhido pelo tratamento de saúde, tem-se apresentado a pedagogia hospitalar, e apresenta como proposta, a classe hospitalar que oferece uma orientação pedagógica aos indivíduos internados em processo de tratamento médico a longo ou curto espaço de tempo. Buscando promover subsídios para que esse atendimento acontecesse no hospital de São Luís, o Projeto Estudar, Uma Ação Saudável surge como uma proposta de classe hospitalar, tal iniciativa possibilita um acompanhamento pedagógico dos hospitalizados, bem como favorece na formação do pedagogo a vivência em espaços não escolares. Constatou-se que a promoção de atividades foi bem aceitas pelos hospitalizados e estas privilegiaram a interação e socialização das crianças hospitalizadas, a fim de contribuir para o desenvolvimento cognitivo, afetivo motor e social. Entende-se então que as crianças hospitalizadas buscam conhecimento, e se não fosse a classe hospitalar as mesmas permaneceriam em seus leitos sem acesso ao que tanto querem, que é aprender. Então verifica-se a contribuição da pedagogia hospitalar no processo de desenvolvimento no que tange, a promoção do que é de direito de todos os indivíduos que é a educação, em sua forma a dispor de chances para as crianças de não interromper por tempo indeterminado o seu contato com o conhecimento elaborado, tendo em vista atividades e projetos que possam contribuir com a apropriação significativa das mesmas. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm>. Acessado em: 08 dez. 2014. _____. Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil. Lei nº 8.069, de 13 de julho de1990. _____. [Lei Darcy Ribeiro (1996)]. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional [recurso eletrônico]. – 8. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2013. https://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/viwTodos/509f2321d97cd2d203256b280052245a?OpenDocument&Highlight=1,constituição&AutoFramed http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm 30262 ______. Ministério da Educação. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: MEC/SEESP, 2001. _____. MEC. Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Brasília, 2002. FONSECA, Eneida Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. São Paulo: Memnon, 2003. FONTANA, Roseli; CRUZ, Maria Nazaré da. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997. LIMA, Maria da Penha Almeida. Pontos e contrapontos: a legislação educacional, a classe hospitalar e o atendimento pedagógico. Dissertação (Especialização em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar). Brasília, 2011. MITRE. Rosa Maria de Araújo; GOMES, Romeu. A promoção do brincar no contexto da hospitalização infantil como ação de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 9(1):147-154, 2004. OLIVEIRA, Lecila Duarte Barbosa.et al. A brinquedoteca hospitalar como fator de promoção no desenvolvimento infantil: relato de experiência. Revista Brasileira Crescimento Desenvolvimento Hum. 2009. QUEIROZ, Danielle Teixeira. et al. Observação participante na pesquisa qualitativa: conceitos e aplicações na área da saúde. Revista Enferm. UERJ, abr/jun, Rio de Janeiro, 2007. RABELO, Francy Sousa. Educação não escolar e saberes docentes na formação do pedagogo: análise de uma experiência no espaço hospitalar. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual do Ceará, 2014. SANTOS, Silvana Divaneide Paz Dos. A influência do lúdico no ambiente hospitalar infantil. Trabalho de conclusão de curso. Paraná, 2012. SILVA, Tania Melissa Archangelo Da; MATOS, Elizete Lúcia Moreira. Brinquedoteca hospitalar: uma realidade de humanização para atender crianças hospitalizadas. 2009. Disponível em: www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3276_1464.pdf. Acessado em: 16 jul 2015. TELES, Fabricia Pereira. A pedagogia hospitalar como prática humanística: relato de uma experiência exitosa no município de Oeiras-PI. UESPI. 2014. Disponível em: http://editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Modalidade_2datahora_25_05_2014_22_ 15_49_idinscrito_1102_b3f6687478cbfaad9ba4bcaac810e533.pdf. Acessado em: 16 jul 2015. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. ed. 4. São Paulo, SP: Ltda, 1991. http://editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Modalidade_2datahora_25_05_2014_22_15_49_idinscrito_1102_b3f6687478cbfaad9ba4bcaac810e533.pdf http://editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Modalidade_2datahora_25_05_2014_22_15_49_idinscrito_1102_b3f6687478cbfaad9ba4bcaac810e533.pdf
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