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EDUCERE- PROJETO DE EXTENSÃO ESTUDAR, UMA AÇÃO SAUDÁVEL

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ISSN 2176-1396 
 
 
PROJETO DE EXTENSÃO ESTUDAR, UMA AÇÃO SAUDÁVEL: 
ANÁLISE DA CONTRIBUIÇÃO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR NO 
COTIDIANO DAS CRIANÇAS INTERNADAS NO HOSPITAL 
UNIVERSITÁRIO DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO 
 
Marilize de Morais Silva
1
 - UFMA 
Francy Sousa Rabelo
2
 - UFMA 
 
Grupo de Trabalho – Educação, Saúde e Pedagogia Hospitalar 
Agência Financiadora: não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
O presente trabalho visa compreender o processo ensino-aprendizagem em espaços não-
escolares, tendo como foco central uma análise do projeto Estudar, Uma ação saudável, 
promovido pela Universidade Federal do Maranhão em parceria com um Hospital 
Universitário de São Luís do Maranhão. O aporte teórico-metodológico subsidia-se pela 
pesquisa bibliográfica, com base em documentos de cunho legal como a Constituição Federal 
(1988), Lei de Diretrizes e Bases (1996), Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), entre 
outros, e em autores como Fonseca (2003), Santos (2012), Oliveira et al (2009) e na pesquisa 
de campo com enfoque qualitativo no estudo exploratório. Utilizou-se como instrumento de 
coleta de dados a observação participante, por atuar como voluntária no referido projeto. A 
pedagogia hospitalar tem contribuído no que refere-se a aprendizagem e desenvolvimento da 
crianças internada, promovendo a interação e participação das mesmas nas atividades 
proporcionada pelo projeto que objetivam estimulá-la, interferindo assim no seu processo de 
recuperação e garantindo o direito a educação. Constatou-se que o desenvolvimento do 
projeto tem surtido efeitos positivos no cotidiano das crianças internadas. A partir das 
atividades propostas na classe hospitalar há a participação e interação das mesmas com o 
conhecimento e com o meio, possibilitando assim a aprendizagem significativa. No 
desenvolvimento das contações de histórias, produções escritas e de desenhos percebeu-se o 
interesse das crianças e o envolvimento, resultando na aproximação das mesmas com o 
conhecimento que tinham contato nas instituições de ensino regulares. Observou-se que o 
projeto possibilita o acesso das crianças internadas a educação, onde influencia diretamente 
em seu desenvolvimento. 
 
Palavras-chave: Pedagogia Hospitalar. Atendimento pedagógico. Aprendizagem. 
 
1
 Discente do curso de Pedagogia da UFMA e voluntária no projeto Estudar, uma ação Saudável, 
mari_lize21@hotmail.com 
2 Professora Assistente do Departamento de Educação I da Universidade Federal do Maranhão e Coordenadora 
do projeto de extensão Estudar, uma ação saudável, franrabelo@hotmail.com 
30253 
 
Introdução 
O desenvolvimento e a aprendizagem dos indivíduos acontecem quando eles 
interagem com o meio em que vivem e tem contato com conhecimentos construídos ao longo 
dos anos. A infância é o período em que os sujeitos estão no início desse processo, 
oportunizando assim, o momento para potencializar habilidades e competências a fim de 
permitir uma aprendizagem significativa e desenvolver as funções psicológicas superiores 
(VYGOTSKY, 1991). Esse processo educativo deve ocorrer em ambientes que proporcionem 
a interação e socialização na presença de um pedagogo, onde o mesmo irá dispor de 
estratégias que possibilitem que o indivíduo participe das atividades e projetos. 
A pedagogia hospitalar surge no intuito tornar eficaz a garantia do direito de todos 
terem a possibilidade de participar do processo educativo, de forma que o pedagogo presente 
nos hospitais proporcione projetos e atividades lúdicas e recreativas planejadas afim de 
promover a interação das crianças que estão na maioria das vezes passando por intervenções 
medicas dolorosas e traumatizantes. 
A pesquisa se deu no projeto Estudar, Uma Ação Saudável, no Hospital Universitário 
de São Luís do Maranhão, onde utilizou-se estudo de caso, referindo-se a uma realidade 
específica, usou-se também observação participante, no que tange a autora ser uma das 
voluntárias do projeto. 
O referencial teórico apoiou-se em documentos legais como a Constituição Federal 
(1988), Lei de Diretrizes e Bases (1996), Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), Classe 
hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações (2002), entre outros, 
e em autores como Fonseca (2003), Santos (2012), Oliveira (2009). 
O Projeto objetiva promover atendimentos pedagógicos para as crianças em processo 
de hospitalização, contribuindo com seu desenvolvimento e recuperação. Observou-se que as 
crianças puderam participação e interagir com o conhecimento e das crianças nas atividades 
desenvolvidas no mesmo, onde permitiu a elas a construção do conhecimento, possibilitando 
assim o acesso das mesmas a educação. 
O atendimento escolar no âmbito hospitalar: breve considerações 
A educação é um processo mutável e dinâmico que implica em construção e 
reconstrução dos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos. Ela nos permite ampliar e 
aprimorar habilidades e competência por meio da apropriação do conhecimento sistematizado 
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promovendo a liberdade de expressão e o desenvolvimento interno e externo. No processo de 
educação passa-se por diversas fases ou níveis de ensino, como por exemplo, a educação 
infantil, ensino fundamental e médio, educação superior, entre outros. Se faz direito a 
educação a partir da Constituição Federal Brasileira (1988), onde em seu artigo 6º determina 
que a mesma é um direito social garantido por lei, e quando se trata deste direito relativo as 
crianças e aos adolescentes outro documento reforça tal direito, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente em seu Capítulo IV artigo 53º, que diz: 
a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno 
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e 
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: 
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
II - direito de ser respeitado por seus educadores; 
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias 
escolares superiores; 
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; 
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. (BRASIL, 1990, p. 
18, grifo nosso) 
Portanto, a educação é sem dúvida garantida à sociedade e respaldada por lei, como 
está vigente também na Lei de Diretrizes e Bases (1996) em seu título II, artigo 2º, “A 
educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de 
solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo 
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. ”. Porém apontar que a 
educação é um direito não é o mesmo que garantir a permanência e o acesso de todos a ela, 
porque existem indivíduos que não tem acesso à educação ofertada nas instituições de ensino 
regulares, necessitando assim de um atendimento educacional especializado. 
A LDB em seu artigo 58, inciso 2 aponta que, “O atendimento educacional será feito 
em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições 
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino 
regular. ”. Então respaldado por lei, indivíduos deverão ter acesso ao atendimento 
especializado se não tiver condições de estar presente nas instituições de ensino regular. 
Instituiu-se as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (2001), que 
veio reafirmar a necessidade de promover esse atendimento especializado para as crianças que 
não tem acesso a permanência a educação oferecida por instituições de ensino regular. 
(RABELO, 2014) 
Segundo Teles (2014, p. 2) “A preocupação com as crianças afastadas da escola por 
motivo de saúde e internação levou ao surgimento de um novo campo pedagógico que se trata 
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da Pedagogia Hospitalar”. Visando disponibilizarpara os indivíduos um atendimento que 
possibilite o contato com o conhecimento sistematizado. “Fundamentada em uma Pedagogia 
Hospitalar, temos a Classe Hospitalar que é uma modalidade de atendimento pedagógico-
educacional no contexto do hospital” (LIMA, 2011, p. 14), caracterizando-se assim um 
espaço que permite ao indivíduo internado a possibilidade de aprendizado e desenvolvimento. 
Para implantação da referida classe, em 2002, foi elaborado o documento Classe 
hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações (BRASIL, 2002), 
pelo Ministério da Educação através de Secretaria de Educação Especial, onde busca 
disponibilizar estratégias e orientações para esse atendimento e estruturar a prática 
pedagógica, portanto: 
Denomina-se classe hospitalar o atendimento pedagógico-educacional que ocorre 
em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de internação, como 
tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-dia e 
hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental. (BRASIL, 2002, 
p. 13) 
As classes hospitalares permitem que o indivíduo enfermo possa ter acesso a um 
processo de ensino-aprendizagem sistematizado mesmo estando ausente do ambiente escolar 
formal, dando continuidade na sua formação e desenvolvimento e fazendo presente atividades 
e projetos que deem o suporte para o mesmo. Esta classe proporciona a socialização dos 
indivíduos que na maioria das vezes estão isolados uns dos outros, ou seja, cada um tende a 
ficar em seu leito vivenciando as angustias e ansiedades do tratamento e dos procedimentos 
invasivos. 
Uma “rotina nova” acontece para os hospitalizados porque atividades desenvolvidas 
antes da internação foram substituídas por processos de intervenção médica. Para as crianças 
hospitalizadas, deixar seus hábitos e costumes cotidianos e serem introduzidas em uma rotina 
que não é semelhante a anterior vivenciada, pode provocar desestímulo no período da 
internação, prejudicando assim, o desenvolvimento das mesmas, de acordo com Oliveira et al 
(2009, p. 307): 
o ambiente hospitalar é, geralmente, desconhecido para a criança, tanto em seu 
aspecto físico quanto em sua rotina. Ele possui normas e regras específicas, e a 
criança e sua família precisam se adaptar a estas condições, como o horário e 
cardápio para as refeições [...] Estas condições hospitalares podem gerar uma 
despersonalização do paciente e dificultar no enfrentamento da doença. Todas essas 
mudanças causam um impacto na criança e podem alterar seu comportamento 
durante e depois da internação. Assim, a hospitalização e o adoecimento podem ser 
fatores de risco para o desenvolvimento infantil. 
30256 
 
Visando o melhor desenvolvimento de cada indivíduo, as classes hospitalares 
interferem nessa “nova realidade” proporcionando um ambiente que eles possam ser sujeitos 
participantes, construindo e reconstruindo o conhecimento, tendo acesso a atividades lúdicas e 
recreativas planejadas que disponibilizam o direito a socialização e expressão do que pensam 
e sentem, a fim de transformar um período do seu cotidiano que seria ocioso, agora disposto 
por atividades e projetos educativos. 
O afastamento do indivíduo da escola, de seu lar, ocasiona em algumas crianças a 
criação de traumas e presença do medo, fazendo com que ela possa te um desequilíbrio 
emocional, por estar longe de tudo o que fazia. Algumas crianças que estão enfermas não 
podem nem sair de seu leito para andar um pouco, ficando assim enclausuradas entre quatro 
paredes. Nota-se que essa situação pode acarretar danos à saúde psicológica da mesma, nesse 
momento o pedagogo se faz presente, no que refere a amenizar o sofrimento que as crianças 
sentem. Elas encontram na classe uma oportunidade de se “desprender” de seu leito e de sua 
enfermidade e se permitirem sentir alegria enquanto aprendem e se desenvolvem, se 
percebendo assim sujeitos. (SILVA. MATOS, 2009) 
Assim, percebe-se que a pedagogia ultrapassou os limites da sala de aula de uma 
escola regular e se permitiu estar presente em outros ambientes, disseminando os 
atendimentos pedagógicos a fim de tornar eficaz o a garantia do acesso de todos a educação. 
Projeto Estudar, uma Ação Saudável: Uma Análise de sua Atuação no Hospital 
Universitário da Universidade Federal do Maranhão 
O referido projeto foi aprovado em 2009 pela Pró-Reitoria de Extensão da UFMA e 
visa promover atendimento pedagógico a partir de atividades escolares lúdicas para as 
crianças em processo de hospitalização. Participam do mesmo, discentes do curso de 
pedagogia da UFMA, sendo bolsistas e voluntárias, com acompanhamento de duas docentes 
da mesma instituição, pesquisadoras da área de pedagogia hospitalar e duas professoras 
pedagogas do Hospital Universitário. 
A observação participante foi fundamental para perceber o desenvolvimento do 
projeto e os reflexos das ações pedagógicas na criança hospitalizada, o uso de tal técnica se 
fez pela autora ser participante do referido projeto como voluntária. Tal técnica é utilizada 
segundo Queiroz et al (2007), 
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Os observadores participantes se inserem na situação de pesquisa e na vida das 
pessoas que estudam [...]. Essa técnica é utilizada para estudar fenômenos que 
ocorram naturalmente e os observadores não manipulam tratamentos estatísticos de 
dados nem distribuem pessoas aleatoriamente por situações, mas ocasionalmente 
tentam fazer análises causais. 
As ações pedagógicas desenvolvidas têm como foco a leitura, produção escrita e 
artística, buscando contribuir com o desenvolvimento de cada criança e se fazendo presente 
no tocante as áreas de conhecimento, ou seja, trabalhando com linguagem, ciências humanas, 
exatas e da natureza. As atividades se concretizam em uma sala especifica (brinquedoteca), 
com cadeiras, mesas, uma lousa, pincel, tintas, lápis de cor, hidrocor, instrumentos capazes de 
dar suporte ao processo de mediação. São realizadas atividades de leitura e escrita, pintura, 
desenho, utiliza-se letras móveis a fim de permitir a apropriação das crianças a língua 
materna, faz-se presente semanas temáticas com o objetivo de possibilitar uma discussão e 
propiciar o conhecimento do significado real do tema trabalhado. 
Com o desenvolvimento do projeto observou-se que uma criança internada conhece 
uma realidade de injeções, medicamentos, tratamentos, visitas médicas que na maioria das 
vezes tornam-se dolorosos e ofensivos para as mesmas, o indivíduo perde sua identidade 
pessoal, seu fazeres cotidianos são tolhidos, seu nome é a partir do diagnóstico presente no 
prontuário. 
Segundo Mitre e Gomes (2004, p. 153), “os pacientes são tratados de forma 
padronizada (sem espaço para suas experiências pessoais), fragmentada e distanciada. [...] O 
sujeito vai gradativamente sendo destituído de seus papéis sociais e acaba por tornar-se um 
“caso”. O ambiente hospitalar contribui assim, para descaracterização de identidade pessoal 
dos indivíduos, onde pode interferir nas relações internas e externas que os mesmos dispõem, 
como o ato de confiar em desconhecidos, sendo que a criança no período da internação tem 
contato constantemente com diferentes profissionais de diversas áreas. Então torna-se muito 
complicado para os mesmos, se o indivíduo se apresenta arredio e distante. 
É por essa razão que se destaca a relevância do atendimento pedagógico e no referido 
projeto, busca propiciar para as crianças ações permitam uma relação professor-aluno afetiva 
diferente de algumas das relações estabelecidas entre os profissionais da saúde e as crianças, 
que se caracterizam pela impessoalidade e distância. Fazendo assim o sujeito desenvolver a 
sua autoconfiança. As atividades desenvolvidas pelas crianças com a mediação das alunas e 
das pedagogas favorecem o desabrochar artístico, porque criam, constroem, se envolvem 
como sujeitos produtores de um saber, por isso otrabalho pedagógico realizado em âmbito 
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hospitalar apresenta diversas formas de atuação e consegue conceber um universo que faz 
parte da formação do profissional da educação. Sem dúvida, o trabalho do professor é ensinar, 
mas isso será feito de fato tendo-se em vista um objetivo maior: a recuperação da saúde, pela 
qual trabalham todos os profissionais de um hospital, desta forma, o profissional da educação 
deve criar: 
estratégias que favoreçam o processo ensino-aprendizagem, contextualizando-o com 
o desenvolvimento e experiências daqueles que o vivenciam. Mas, para uma atuação 
adequada, o professor precisa estar capacitado para lidar com as referências 
subjetivas das crianças, e deve ter destreza e discernimento para atuar com planos e 
programas abertos, móveis, mutuantes, constantemente reorientados pela situação 
especial e individual de cada criança, ou seja, o aluno da escola hospitalar. 
(FONSECA, 2003, p. 26) 
A pratica pedagógica concretizada nos hospitais deve preconizar a aproximação da 
criança à aquilo que lhe é próprio, ou seja, permitir que na classe hospitalar a mesma possa 
agir de forma espontânea gozando do direito de ser criança, de viver sua infância, na qual na 
maioria das vezes ela perde nos ambientes hospitalares. 
No projeto Estudar, uma ação saudável se faz presente atividades que utilizam filmes 
como instrumento para o desenvolvimento da oralidade, expressão e interpretação, permitindo 
construção do conhecimento, uma vez que esta vivência acontecia fora do hospital. Após o 
filme, as crianças se expressam através de suas falas e da produção escrita ou desenhos sobre 
o que elas aprenderam no filme. 
Utiliza-se esse recurso de acordo com o conteúdo que foi trabalhado durante a semana 
proporcionando que as crianças percebam que os conteúdos trabalhados se fazem presentes na 
sociedade de, possibilitando assim uma apropriação significativa. 
O trabalho nas classes hospitalares demanda do profissional saberes específicos, pois 
se trata de um ambiente diferente das escolas regulares, então o pedagogo deve agir 
inicialmente de forma cautelosa com as crianças, pois elas podem se apresentar um pouco 
amedrontadas e não participarem das atividades agindo de forma agressiva ou tímida. Para 
que as mesmas possam interagir de forma espontânea nesse ambiente: 
o atendimento pedagógico deverá ser orientado pelo processo de desenvolvimento e 
construção do conhecimento correspondentes à educação básica, exercido numa 
ação integrada com os serviços de saúde. A oferta curricular ou didático-pedagógica 
deverá ser flexibilizada, de forma que contribua com a promoção de saúde e ao 
melhor retorno e/ou continuidade dos estudos pelos educandos envolvidos 
(BRASIL, 2002, p.17). 
30259 
 
A criança hospitalizada necessita de um ambiente que a permita ser estimulada e 
confiante, por isso o pedagogo deve condições para o seu desenvolvimento, tendo em vista 
que as mesmas estão enfermas e possuem limitações. O currículo planejado para trabalhar em 
classes hospitalares, deve dispor de atividades e projetos que propicie a participação de todos 
os sujeitos e desperte a curiosidade. 
As atividades desenvolvidas no projeto pesquisado se focam no desenvolvimento 
integral da criança, envolvendo conteúdos do currículo escolar voltado para as áreas de 
conhecimento da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. No cotidiano observa-se que o 
pedagogo em sua prática deve fazer a relação entre os conteúdos das diferentes áreas de 
conhecimento, para que as crianças percebam que há relação entre os mesmos. 
Tendo em vista que a prática pedagógica influencia diretamente na assimilação das 
crianças, a pedagogia hospitalar visa proporcionar para as crianças um ambiente propicio para 
a assimilação e apropriação de conhecimentos de uma maneira lúdica. 
Com a experiência desenvolvida pelo projeto pesquisado percebe-se que o processo 
ensino-aprendizado objetiva permitir a produção de conhecimento, observou-se que a classe 
hospitalar não é um ambiente reprodutor ou transmissor de conhecimento, ela é uma forma de 
intervenção social. O conhecimento propicia às crianças a autonomia, reflexão, respeito, 
diversidade cultural, bem comum, ludicidade, criatividade, entre outros. 
A metodologia utilizada através de contação de histórias promove a criatividade, 
curiosidade, interação e a imaginação, além de favorecer a socialização e a interação das 
crianças com as outras, proporcionando a elaboração de significados e reconstrução dos 
conhecimentos. 
Inicialmente os conhecimentos elaborados das crianças são representados em forma de 
desenhos, onde permite que a mesma utilize sua imaginação e criatividade para expressar 
conhecimentos construídos e reconstruídos. Para as crianças torna-se uma atividade 
instigante, porque envolve sua criatividade e produzir um desenho é uma forma de se 
apropriar da cultura existente na sociedade e desenvolver o domínio da língua materna. 
Outro momento observado foi o de leituras na classe, sendo um momento de exercer 
relações com o ambiente. Algumas leituras foram feitas com as crianças em roda, sentadas em 
tapetes, possibilitando assim que interagissem com o meio. Após a roda de leitura as crianças 
produziram desenhos e textos referentes ao que fora lido propiciando uma aprendizagem 
significativa. 
A leitura em coletivo traz um papel para o professor, o de mediar a relação das 
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crianças com as outras e com o conhecimento. A partir desta atividade é que o professor irá 
compartilhar os conhecimentos, valores e concepções construídos na interpretação do que foi 
lido e no envolvimento com conteúdo evidenciado no texto (FONTANA; CRUZ, 1997). 
Neste tipo de atividade, há uma socialização dos saberes por todos no processo ensino-
aprendizagem, objetivando assim, que as crianças expressem seus conhecimentos interagindo 
com o meio e os sujeitos. 
O processo de ensino-aprendizagem é uma troca, onde o educador e o educando 
aprendem e ensinam um para o outro de forma a promover a emancipação e a modificação de 
realidade. O pedagogo age como um indivíduo crítico e reflexivo, onde a sua prática 
pedagógica favorece às crianças o suporte para a libertação e emancipação da realidade que se 
encontram. 
Acredita-se que a criança é um indivíduo ativo, onde participa do processo de ensino-
aprendizagem, de acordo com Vygotsky (1991) o aluno constrói o seu próprio significado 
para o conhecimento que lhe é compartilhado. As crianças são elaboradoras de significados, a 
partir da socialização, internalização e da mediação que o pedagogo deverá fazer. É a partir da 
relação, com o outro e com o conhecimento, que as crianças apropriam e reconstroem o que 
há de mais elaborado na cultura, onde a aprendizagem é um processo que acontece no âmbito 
interpessoal, sendo uma atividade que antecede o desenvolvimento, que o mesmo é entendido 
como um processo de internalização. Tendo isso em vista entende-se que: 
a intervenção pedagógica em ambientes hospitalares pode ser imprescindível no 
caso da criança, uma vez que sua formação ainda não está completa. Suas 
capacidades são, por hora, meras potencialidades a formar todo um projeto de vida e 
pode depender de uma ação positiva da intervenção pedagógica para que não venha 
a sofrer sequelas no futuro da criança. (SANTOS, 2012, p. 21). 
No projeto pesquisado, observou-se que as crianças sentiam necessidade de aprender, 
iam diariamente na sala onde funciona a classe hospitalar, em busca de conhecimento. No 
projeto, o atendimento pedagógico é planejado e focado em atividades lúdicas e que 
possibilite a interação e socialização das crianças, a fim de contribuir da melhor forma 
possível para a continuidade de seu contato com as atividades escolares. 
Observa-se que a pedagogia hospitalar contribui com o desenvolvimento das crianças 
hospitalizadas, pois através das classes hospitalares há presençade atividades dinâmicas e 
estimulantes que visam a participação efetiva da criança como um ser dotado saberes e 
habilidades. 
30261 
 
Considerações Finais 
A perspectiva de educação para todos, é um lema muito discutido e apoiado na 
sociedade, advindo do ideal de inclusão social visando a integração e participação de todos os 
cidadãos em sociedade mais justa e crítica. 
Em se tratando de crianças e adolescentes hospitalizados que tem seu direito a 
educação tolhido pelo tratamento de saúde, tem-se apresentado a pedagogia hospitalar, e 
apresenta como proposta, a classe hospitalar que oferece uma orientação pedagógica aos 
indivíduos internados em processo de tratamento médico a longo ou curto espaço de tempo. 
Buscando promover subsídios para que esse atendimento acontecesse no hospital de 
São Luís, o Projeto Estudar, Uma Ação Saudável surge como uma proposta de classe 
hospitalar, tal iniciativa possibilita um acompanhamento pedagógico dos hospitalizados, bem 
como favorece na formação do pedagogo a vivência em espaços não escolares. Constatou-se 
que a promoção de atividades foi bem aceitas pelos hospitalizados e estas privilegiaram a 
interação e socialização das crianças hospitalizadas, a fim de contribuir para o 
desenvolvimento cognitivo, afetivo motor e social. 
Entende-se então que as crianças hospitalizadas buscam conhecimento, e se não fosse 
a classe hospitalar as mesmas permaneceriam em seus leitos sem acesso ao que tanto querem, 
que é aprender. Então verifica-se a contribuição da pedagogia hospitalar no processo de 
desenvolvimento no que tange, a promoção do que é de direito de todos os indivíduos que é a 
educação, em sua forma a dispor de chances para as crianças de não interromper por tempo 
indeterminado o seu contato com o conhecimento elaborado, tendo em vista atividades e 
projetos que possam contribuir com a apropriação significativa das mesmas. 
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