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Plano de estudos - exec civil - 1 sem 2019 - aula 5

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Plano de estudos
Aula 5
Fraude contra credores, fraude à execucão e atos atentatórios à dignidade da justiça
De acordo com o princípio da responsabilidade patrimonial, todos os
bens do devedor (presentes e futuros) respondem pela obrigação. Tais bens permanecem, contudo, na esfera de disponibilidade do de
vedor, que é seu proprietário. O legislador brasileiro optou por construir um sistema de controle da disponibilidade dos bens do devedor, assegurando-lhe o direito de livre disposição, desde que não cause danos aos seus credores. 
De nada adiantaria dizer que o patrimônio do devedor é garantia do credor se o devedor estiver arruinado, sem qualquer bem que integre seu patrimônio. Para que a ruína do devedor não faça desaparecer essa garantia, a lei limita a esfera de negociação dos seus bens.
A fraude do devedor é expressão que se refere a uma categoria ampla que abrange três diferentes figuras: a) fraude contra credores; b) fraude à execução; e c) os atos disposição de bem já constrito.
1.1. Fraude contra credores (arts. 158 a 165, Código Civil)
A fraude contra credores é instituto de Direito material, regrado pelo
Código Civil, que revela grande interesse para o Direito Processual; diz respeito à responsabilidade patrimonial e pode repercutir na execução.
O devedor, para livrar-se de suas dívidas, reduz seu ativo, indevidamente, tornando-se insolvente. Esse desfalque patrimonial pode ocorrer de diversas maneiras, por exemplo, com a doação de bens para filho, com a sua venda a preço vil e simbólico para um “laranja, com pagamento de dívida não-vencida para credor quirografário, com a concessão de uma garantia para um dos credores, onerando bens que serviriam de garantia para todos, com renúncia à herança ou outros direitos, impedindo o incremento do seu ativo, ou qualquer outro negócio que se possa criar com objetivo semelhante.
A fraude contra credores é, portanto, a diminuição patrimonial do devedor que o conduz à insolvência (ou a agrava), em prejuízo dos seus credores. O seu passivo torna-se maior do que seu ativo, não dispondo de bens para responder pela obrigação.
1.1.1. Pressupostos
Pressuposto objetivo: O pressuposto objetivo é a exigência de redução patrimonial, que conduza à insolvência ou a agrave. É o dano (eventus damni) causado pela fraude.
Pressuposto subjetivo: O pressuposto subjetivo, que se costuma invocar em doutrina, é a ciência do devedor de causar dano com a operação praticada (consilium fraudis). Na doutrina, resta pacifcada a discussão sobre a necessidade de prova do animus nocendi (intenção direta de prejudicar credores). Basta que se revele que o devedor tinha ciência de que o ato por ele praticado provocava ou intensificava seu o estado de insolvência.
Cabe definir a quem incumbe comprovar a existência ou não de frau-
de, o preenchimento de seus pressupostos objetivo e subjetivo. Como tais pressupostos são fatos constitutivos do direito potestativo do credor de invalidar ou neutralizar (a depender da concepção adotada) a eficácia do negócio jurídico fraudulento, o ônus da prova é, a princípio, do credor (artigo 373 do CPC).
No tocante ao pressuposto subjetivo, diz-se, tradicionalmente, que se
o ato fraudulento foi gratuito, há presunção absoluta de fraude e má-fé (Código Civil, art. 158) em benefício do credor; mas se foi oneroso, é ônus do credor provar que o devedor tinha ciência de produzir dano (consilium fraudis) e o terceiro adquirente sabia (conhecimento real ou presumido) da condição de insolvência a que será conduzido com a alienação (scientia fraudis).
A repercussão prática disso é que, para a configuração de fraude em
negócio gratuito, não se impõe a prova de que o terceiro estava ciente da insolvência, havendo presunção absoluta de fraude e má-fé em benefício do credor. Por sua vez, para a configuração de fraude em negócio oneroso, exige-se do credor prova de que o terceiro tinha ciência da insolvência, ou de que, em razão da situação concretamente apresentada, tinha o terceiro o dever de conhecê-la.
1.1.2. A ação pauliana (artigo 161 do Código Civil)[footnoteRef:0] [0: Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé. (...) Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.] 
Ao credor lesado, assegura-se a ação pauliana para invalidar o ato de alienação/oneração do bem, em razão do vício social que o acomete (a fraude contra credores). Com isso, promove-se o retorno do bem alienado ao patrimônio do devedor, para que responda pela obrigação e pela eventual execução (art. 790, VI, CPC).
O polo passivo dessa demanda é composto pelo devedor (ou por seus sucessores) e pelos terceiros beneficiados (ou por seus sucessores) com o negócio fraudulento (que pode ser um terceiro adquirente, que recebe um bem em garantia especial, pagamento de dívida não vencida etc.), em litisconsórcio passivo necessário unitário.
1.2. Fraude à execução 
Tanto quanto a fraude contra credores, a fraude à execução decorre da limitação da disponibilidade de bens do devedor, com rejeição a diminuições fraudulentas.
A fraude à execução é manobra do devedor que causa dano não apenas ao credor (como na fraude pauliana), mas também à atividade jurisdicional executiva. Trata-se de instituto tipicamente processual.
É considerada mais grave do que a fraude contra credores, vez que
cometida no curso de processo judicial executivo ou apto a ensejar futura execução, frustrando os seus resultados. Isso deixa evidente o intuito de lesar o credor, a ponto de ser tratada com mais rigor pelo legislador.
A legislação considera a alienação/oneração do bem para terceiro ineficaz para o exequente (artigo 792, § 1º, CPC[footnoteRef:1]), sem necessidade de ação própria para neutralizar a eficácia do ato fraudulento. A fraude pode ser reconhecida incidentalmente no processo executivo, ou alegada como matéria de defesa em sede de embargos de terceiro, opostos pelo beneficiário do ato fraudulento. [1: Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução:I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver;
II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do art. 828; III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a fraude; IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência; V - nos demais casos expressos em lei. § 1o A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente. § 2o No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem. § 3o Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar. § 4o Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias.] 
É possível mesmo o seu reconhecimento de ofício pelo órgão jurisdicional. Mas em qualquer caso, é necessária a intimação do terceiro adquirente antes da decretação da fraude.
Reconhecida a fraude e subtraído o bem do terceiro beneficiário, caberá a esse, por ação de regresso contra o devedor,se for o caso,
pleitear a restituição do que pagou e uma indenização por perdas e danos eventualmente sofridos.
1.2.1. Pressupostos: De maneira genérica, a configuração da fraude à execução depende da demonstração do evento danoso (eventus danmi) e da má-fé do terceiro adquirente. Em se tratando de ações reais ou reipersecutórias, o direito material, a quem cabe reger a hipótese, parece exigir, para a incidência do §3º do art. 109 do CPC (e do inciso I do art. 792, que expressamente cuida da pendência de uma ação real ou reipersecutória), o conhecimento pelo terceiro adquirente da litispendência. Havendo a averbação da execução junto ao registro do bem, o exequente tem o benefício da presunção absoluta de conhecimento pelo terceiro da pendência do processo. Não havendo, recairá sobre ele, exequente, o ônus de demonstrar que o adquirente tinha conhecimento da pendência do processo, prova bastante difícil. Quando se trata de bem móvel não sujeito a registro, a prova da ciência pelo terceiro da litispendência é mais difícil ainda. Nesse caso, é do terceiro adquirente o ônus de provar que tomou as providências e cautelas necessárias para a aquisição do bem, apresentando as certidões negativas pertinentes, inclusive aquelas obtidas junto aos cartórios de distribuição de demandas (e outros), no domicílio do devedor-alienante e no local onde se encontra o bem (art. 792, § 2º, CPC).
1.2.2. Hipóteses
- Alienação ou oneração na pendência de ação fundada em direito
real ou pretensão reipersecutória (artigo 792, I, CPC): O artigo 792, I, CPC, dispõe haver fraude à execução quando a alienação ou oneração do bem ocorrer na pendência de demanda fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória (que verse sobre obrigação de entrega de coisa, como, por exemplo, a decorrente do contrato de comodato) que o tenha como objeto, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver.
A alienação/oneração fraudulenta é aquela que recai sobre a coisa litigiosa a ser entregue. 
A fraude à execução, nessa hipótese do inciso I do art. 792, independe da demonstração de insolvência.
É indispensável a averbação da pendência de processo executivo no registro público do bem.[footnoteRef:2] Não tendo sido realizado esse registro, será ônus do exequente demonstrar que o terceiro adquirente tinha ciência da pendência da ação. Todavia, não sendo o bem passível de registro, será ônus do terceiro adquirente demonstrar que estava de boa-fé e que, mesmo adotando todas as cautelas dele exigíveis e esperadas - com exibição das certidões cabíveis, tais como as negativas de débitos e de demandas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem -, não teria como saber da pendência do processo. [2: Súmula 375, STJ: “O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente”. ] 
- Averbação de processo de execução (ou cumprimento de sentença) no registro do bem (art. 792, II, CPC): Trata-se de caso mais grave de fraude à execução, que se observa quando a alienação ou oneração ocorre na pendência de execução de título extrajudicial (e não de qualquer processo) - ou, também, por analogia, de cumprimento de sentença[footnoteRef:3] - , que já tenha sido averbada no registro do bem, na forma do artigo 828 do CPC. [3: Enunciado 529 FPPC: “As averbações previstas nos arts. 799, IX e 828 são aplicáveis ao cumprimento de sentença”.] 
Não basta a existência do processo de execução, pois é necessário que a execução tenha sido admitida e a sua existência tenha sido averbada no registro do bem fradulentamente alienado (ou onerado), na forma do art. 828 do CPC. 
O legislador estabelece uma presunção absoluta de fraude à execução se houver alienação ou oneração de bens após a averbação.
Mesmo que o devedor ainda não tenha sido validamente citado e não seja possível falar formalmente em litispendência em relação a ele, a fraude ficará configurada, pois a pendência da execução foi publicizada no registro do bem, presumindo-se, de modo absoluto, que é de conhecimento dos envolvidos em qualquer transação em torno dele.
- Averbação, no registro do bem, de hipoteca judiciória ou constrição judicial originória do processo em que se arguiu a fraude (art. 792, III, CPC): Trata-se de hipótese de fraude que se configura com a alienação/oneração de bem em cujo registro já foi averbada hipoteca judiciária ou outro tipo de constrição judicial (como a penhora ou arresto) decorrente do processo em que fora suscitada a fraude.
Já há uma individualização da responsabilidade patrimonial.
A hipoteca judiciária é direito real de garantia sobre coisa alheia, por meio do qual um bem pertencente ao devedor passa a garantir o cumprimento de uma obrigação pecuniária. Trata-se de efeito anexo de decisão judicial que condena o devedor em obrigação pecuniária, sendo medida eficiente para assegurar a efetividade de futura execução desse tipo de decisão judicial. Confere direito de sequela e direito de preferência (artigo 495, § 4º do CPC). 	
A hipoteca judiciária será realizada mediante simples apresentação de cópia da sentença ao cartório de registro imobiliário (art. 495, § 2º, CPC), quando, uma vez averbada, ficará automaticamente publicizada. A penhora e o arresto, de móveis ou imóveis, por exemplo, devem ser averbados no registro competente, mediante apresentação de cópia do respectivo auto ou termo, independentemente de mandado judicial, para que sejam oponíveis a terceiros, estabelecendo a lei uma presunção absoluta de conhecimento por terceiros de tais constrições (art. 844, CPC).
- Quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência (792, IV): Trata-se de hipótese em que se protege crédito pecuniário. A alienação/oneração
fraudulenta não é sobre a "coisa litigiosa", mas sobre qualquer bem penhorável e que possa ser empregado na satisfação da obrigação pecuniária.
Os pressupostos são i) a exigência de que o ato seja danoso, apto a
reduzi-lo à insolvência (eventus damni), e ii) que tenha sido praticado na pendência de uma ação contra o devedor (litispendência), que pode ser condenatória, cautelar, executiva, penal60 -61, arbitral 62, probatória autônoma etc.; não há fraude na iminência de processo, só na sua pendência.
A partir daí (citação), atos de diminuição patrimonial que o reduzam ou possam reduzi-lo à insolvência serão considerados fraudulentos.
É necessária, ainda, a demonstração do eventus damni, isto é, que do
ato de disposição decorreu um estado de insolvência. Para tanto basta ao credor comprovar que não há outros bens penhoráveis ou que os existentes são insuficientes. Isso se revela com a devolução do mandado, com certidão do oficial de que não encontrou bens penhoráveis (art. 836, § 1º, CPC).
Se, apesar do ato de disposição, o credor ainda encontra bens para sua satisfação no patrimônio do devedor, não há fraude: a movimentação patrimonial foi lícita. O dano só existe se os bens restantes do devedor não bastarem para a satisfação do credor. Não se exige a intenção ou ciência da fraude pelo próprio devedor-executado-alienante: há presunção absoluta de que sabia não poder movimentar o seu patrimônio nessas circunstâncias.
O ato fraudulento é válido e eficaz para o devedor alienante e tercei-
ro adquirente, mas não é oponível ao credor exequente. É ineficaz para ele e a para a execução (art. 792, § 1º, CPC[footnoteRef:4]) que, ainda assim, recairá sobre o bem transferido/onerado fraudulentamente. O bem, agora pertencente ao terceiro adquirente, responderá pela execução. [4: Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução: (...) § 1o A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente.] 
- Outros casos de fraude à execução (792, V): O inciso V do art. 792 cria uma cláusula geral, ao dizer que haverá fraude à execução "nos demais casos expressos em lei", tais como no art. 4º, Lei n. 8.009 /1990[footnoteRef:5], e art. 185do CTN.[footnoteRef:6] [5: Art. 4º Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga. § 1º Neste caso, poderá o juiz, na respectiva ação do credor, transferir a impenhorabilidade para a moradia familiar anterior, ou anular-lhe a venda, liberando a mais valiosa para execução ou concurso, conforme a hipótese. § 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos bens móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso XXVI, da Constituição, à área limitada como pequena propriedade rural.] [6: Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita.] 
1.3. Atos atentatórios à dignidade da justiça[footnoteRef:7] [7: Art. 772. O juiz pode, em qualquer momento do processo: I - ordenar o comparecimento das partes; II - advertir o executado de que seu procedimento constitui ato atentatório à dignidade da justiça; III - determinar que sujeitos indicados pelo exequente forneçam informações em geral relacionadas ao objeto da execução, tais como documentos e dados que tenham em seu poder, assinando-lhes prazo razoável. Art. 773. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias ao cumprimento da ordem de entrega de documentos e dados. Parágrafo único. Quando, em decorrência do disposto neste artigo, o juízo receber dados sigilosos para os fins da execução, o juiz adotará as medidas necessárias para assegurar a confidencialidade.
Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou omissiva do executado que: I - frauda a execução; II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; III - dificulta ou embaraça a realização da penhora; IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais; V - intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus. Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz fixará multa em montante não superior a vinte por cento do valor atualizado do débito em execução, a qual será revertida em proveito do exequente, exigível nos próprios autos do processo, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material.] 
Não são incomuns as manobras protelatórias e abusivas que embaraçam ou frustram os resultados práticos de execução. É o caso da esquiva do executado de receber a citação/intimação inicial; do ato do executado, quando já citado/intimado, de desfazimento ou ocultamento de seus bens penhoráveis ou de sua omissão em indicar outros bens passíveis de penhora (quando não indica bem sem valor ou bem inexistente); da atitude do terceiro ou do próprio executado que se recusa ou se omite em exibir dados e documentos relevantes para execução etc.
Diante desse quadro, o art. 772 do CPC, muniu o juiz de poderes de direção da execução. O art. 772 é uma manifestação específica do art. 139, CPC, que já atribui poderes gerais para o magistrado dirigir qualquer processo - também aplicáveis subsidiariamente à execução. O objetivo do art. 772 é especializar o regramento geral, conferindo três poderes específicos para o magistrado diretor da execução, que poderão ser exercidos a qualquer tempo, de ofício ou a requerimento.
O art. 772, I, CPC, atribui ao magistrado o poder de determinar o comparecimento das partes, a qualquer momento, para obter esclarecimentos, para tentar conciliá-las, e, até mesmo, para adverti-las, em caso de deslealdade. O art. 772, II, CPC, confere ao juiz o poder de advertir o executado (ou qualquer outro sujeito que participe do processo, ressalve-se) de que sua conduta é atentatória à dignidade da jurisdição, o que deve fazer por decisão expressa e fundamentada. A regra concretiza o princípio do contraditório e a regra que proíbe a decisão surpresa (art. 10, CPC). Essa advertência é pressuposto indispensável para que o sujeito admoestado sofra a punição do art. 774, parágrafo único, CPC (ou outras sanções), sob pena de nulidade. 
O art. 772, III, do CPC, inova ao prever o poder de o juiz ordenar que "sujeitos indicados pelo exequente" (que podem ser o executado e/ou terceiros)[footnoteRef:8] forneçam informações e documentos de interesse para a execução, dentro de prazo razoável judicialmente fixado. Para adoção da medida, o magistrado deve observar as regras do procedimento de concessão de tutela específica de obrigação de fazer (fornecer dados e informações) e entregar coisa (documento), (arts. 497 a 500 do CPC), e da exibição de coisa ou documento (art. 396, do CPC), aplicáveis subsidiariamente. Será preciso observar, ainda, a regra do art. 773. [8: Art. 380. Incumbe ao terceiro, em relação a qualquer causa: I - informar ao juiz os fatos e as circunstâncias de que tenha conhecimento; II - exibir coisa ou documento que esteja em seu poder. Parágrafo único. Poderá o juiz, em caso de descumprimento, determinar, além da imposição de multa, outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias.] 
O art. 773, CPC, tem como preocupação central assegurar a efetivação da determinação judicial de que parte ou terceiro forneça dados e documentos relevantes para a execução, prevista no art. 772, III. De acordo com o dispositivo, o juiz, de ofício ou mediante provocação da parte, poderá valer-se das medidas necessárias para dar cumprimento a essa obrigação de fazer (fornecer dados e informações) e/ou de entregar coisa certa (exibir documento), aplicando-se, pois, nesse particular, os arts. 139, IV, 380, parágrafo único, 400, parágrafo único, 403, parágrafo único, e 536 a 538, todos do CPC. Por essa razão, é possível empregar, na atividade de execução, medidas executivas de coerção direta e indireta, tais como
multa e busca e apreensão - ou outras, mesmo atípicas, desde que o
faça por decisão fundamentada.
O art. 774, por sua vez, traz várias hipóteses de conduta atentatória à dignidade da jurisdição.
O inciso I do art. 774 reputa atentatório o ato do executado que frauda a execução. Muitos concordam que o inciso prevê conduta que corresponde à fraude à execução tipificada nas hipóteses do art. 792; outros dizem que a ela corresponde a toda a conduta do devedor que priva de efeito a execução, frustrando os seus resultados. A melhor interpretação parece ser aquela que remete à fraude à execução do artigo 792.
Também se reputa atentatório o comportamento do executado que se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos (art. 774, II, CPC). Opor-se à execução é direito do executado. O que a lei rechaça é oposição maliciosa, ardilosa, artificiosa, pois extrapola os limites do exercício regular de tal direito. A conduta deixa de ser regular para ser abusiva.É o que ocorre, por exemplo, quando o executado se recusa a assinar o auto de depósito, só para gerar um incidente e atrasar o feito, ou, astuciosamente, esvazia contas bancárias para evitar penhora online de dinheiro em depósito ou aplicação financeira. 
O inciso III do dispositivo considera atentatória a conduta do executado de dificultar ou embaraçar a realização da penhora - o que não deixa de ser uma oposição maliciosa à execução (art. 774, II, CPC), consistindo em uma especialização da regra do inciso anterior. A ilicitude da conduta é reiterada no âmbito do requerimento do executado de substituição do bem penhorado, previsto no art. 847, §
2º do CPC, quando se exige que o executado não adote atitude que dificulte ou embarace a realização da nova penhora.
É igualmente ilícita a conduta do executado que resiste injustificadamenteàs ordens judiciais (art. 774, IV, CPC). Seria caso de resistência injustificada, por exemplo, a retenção indevida dos autos.
Finalmente, reputa-se ilícito o comportamento do executado que, in-
timado, não indica ao juiz quais são e onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus (art. 774, V, CPC). São exigências que também recaem sobre o executado no contexto do seu requerimento de substituição do bem penhorado, previsto no art. 847, § 2º, quando se lhe impõe que indique "onde se encontram os bens sujeitos à execução", bem como exiba "a prova de sua propriedade e a certidão negativa ou positiva de ônus". A indicação de bens à penhora tornou-se, como se vê, prestação devida
pelo executado. Há o dever de o executado indicar o bem à penhora.
Em qualqur caso, a ofensa à dignidade da justiça é presumida, não sendo necessária a demonstração de nenhum resultado danoso. A conduta, por si só, já constitui um atentado ao órgão jurisdicional, devendo ser punida pela sanção específica.
Acerca da punição, constatando o juiz que o executado incorre em uma das condutas atentatórias à dignidade da justiça, deve adverti-lo sobre tal fato, de ofício (art. 139, III) ou por provocação. É o que exige o art. 772, II, CPC. Se, advertido, o devedor não apresenta defesa convincente, ou simplesmente insiste na prática ilícita, será punido na forma do art. 774, parágrafo único, com multa fixada pelo juiz em montante não superior a 20% do valor atualizado do débito em execução. Em execução que não seja de quantia certa, a base de cálculo deve ser o valor da causa atualizado; se o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser arbitrada em até 10 vezes o valor do salário mínimo vigente, por analogia aos arts. 77, § 5º, e 81, § 3º, do CPC. Seu valor será revertido para o exequente e poderá ser objeto de execução (art. 777, CPC); poderá ser cobrado "nos próprios autos do processo" (art. 774, parágrafo único, e 777, CPC).[footnoteRef:9] [9: Art. 777. A cobrança de multas ou de indenizações decorrentes de litigância de má-fé ou de prática de ato atentatório à dignidade da justiça será promovida nos próprios autos do processo.]

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