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Livro- Texto - Unidade I (1)

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Prévia do material em texto

Autora: Profª Ma. Janaína Arruda da Silva
Colaboradoras: Profª Cielo Festino
Profª Joana Ormundo
Literatura Brasileira: Prosa
Professora conteudista: Janaína Arruda da Silva
Janaína Arruda da Silva é bacharel em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas (FFLCH) da 
Universidade de São Paulo (USP), mestre em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC‑SP) 
e licenciada em língua portuguesa e literaturas de língua portuguesa. Tem se especializado em literatura, mais 
especificamente em literatura brasileira, desde a conclusão do mestrado em filosofia, em 2000. Atualmente, é 
doutoranda em literatura brasileira pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas (FFLCH) da Universidade de 
São Paulo (USP).
Leciona no Ensino Superior desde 2000 e é professora de literatura no curso presencial da Universidade Paulista 
(UNIP) desde 2003. Em 2010, foi responsável pela elaboração de alguns materiais de teoria literária para a modalidade 
de educação a distância da UNIP Interativa e, hoje, apresenta a vocês o produto do processo de elaboração do livro‑texto 
Literatura Brasileira: Prosa.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S586 Silva, Janaina Arruda da
Literatura brasileira: prosa. / Janaina Arruda da Silva 
– São Paulo: Editora Sol, 2014.
180 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2‑083/14, ISSN 1517‑9230.
1. Literatura 2. Língua portuguesa 3. Prosa I.Título
CDU 869.0(81)
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Amanda Casale
 Virgínia Bilatto
Sumário
Literatura Brasileira: Prosa
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 DAS ORIGENS AO BARROCO: LITERATURA INFORMATIVA E JESUÍTICA.......................................9
1.1 Literatura informativa ...........................................................................................................................9
1.2 Literatura jesuítica ................................................................................................................................11
2 O BARROCO ....................................................................................................................................................... 16
2.1 O Barroco no Brasil .............................................................................................................................. 16
2.2 A ambiguidade: o alicerce do barroco ......................................................................................... 17
2.3 Padre Antônio Vieira (Lisboa, 1608 – Bahia, 1697) ................................................................ 18
2.4 O estilo de Vieira ................................................................................................................................... 20
Unidade II
3 O ROMANTISMO .............................................................................................................................................. 24
3.1 O Romantismo no Brasil .................................................................................................................... 26
3.2 O projeto de literatura nacional ..................................................................................................... 27
3.2.1 A prosa romântica .................................................................................................................................. 28
3.2.2 Autores ........................................................................................................................................................ 29
4 REALISMO‑NATURALISMO .......................................................................................................................... 41
4.1 Características do Realismo‑Naturalismo .................................................................................. 44
4.2 O Realismo‑Naturalismo no Brasil ................................................................................................ 45
4.2.1 A prosa realista ........................................................................................................................................ 46
4.3 Autores ..................................................................................................................................................... 47
Unidade III
5 PRÉ‑MODERNISMO .........................................................................................................................................71
5.1 Características ....................................................................................................................................... 72
5.2 Autores ..................................................................................................................................................... 72
6 MODERNISMO .................................................................................................................................................. 88
6.1 As vanguardas ....................................................................................................................................... 88
6.1.1 Cubismo (1907) ........................................................................................................................................ 89
6.1.2 Futurismo (1909)..................................................................................................................................... 90
6.1.3 Expressionismo (1910) .......................................................................................................................... 94
6.1.4 Dadaísmo (1916) ..................................................................................................................................... 95
6.1.5 Surrealismo (1924) ................................................................................................................................. 96
6.2 A Semana de Arte Moderna de 1922 e o Modernismo no Brasil ..................................... 97
6.3 A primeira fase do Modernismo no Brasil e o regionalismo.............................................103
6.4 A segunda fase do Modernismo no Brasil................................................................................ 118
6.4.1 O romance de 1930 .............................................................................................................................118
6.5 Terceira fasemodernista .................................................................................................................134
6.5.1 Autores ..................................................................................................................................................... 136
Unidade IV
7 A CONTEMPORANEIDADE ..........................................................................................................................148
8 O QUE É PÓS‑MODERNO E PÓS‑HUMANO ........................................................................................156
8.1 Literatura latino‑americana e a literatura contemporânea no Brasil...........................157
8.1.1 Tendências da prosa contemporânea .......................................................................................... 158
8.1.2 A nova geração de escritores .......................................................................................................... 159
8.1.3 Tendências contemporâneas do teatro brasileiro ....................................................................161
7
APRESENTAÇÃO
Caro aluno, bem‑vindo à disciplina Literatura Brasileira: Prosa.
Este livro‑texto contém quatro unidades e, em cada uma delas, estudaremos as características dos 
movimentos literários, os autores mais importantes desses movimentos e sua técnica e estilo. Todos os 
autores serão vistos por meio do estudo de textos selecionados com os quais se farão os trabalhos de 
leitura, análise e interpretação.
Primeiramente, na unidade I, estudaremos das primeiras manifestações literárias no Brasil, 
que datam da época do descobrimento, até o período do Barroco. Deteremo‑nos sobre alguns 
textos da literatura de viagem e, posteriormente, sobre alguns textos dos padres jesuítas. No final 
dessa unidade, veremos o Barroco e o maior expoente da literatura em prosa nesse período: padre 
Antônio Vieira.
A unidade II se concentra totalmente no século XIX, por isso, veremos dois grandes períodos 
literários, o Romantismo e o Realismo. Verificaremos as características específicas de ambos e como 
se dá a passagem de um movimento, cuja ênfase é subjetiva, para outro, que possui um olhar mais 
objetivo sobre a realidade. Por fim, ainda no século XIX, abordaremos o período de transição chamado 
Pré‑modernismo. Neste tópico, o exercício da prática de leitura e interpretação literária serão mais 
frequentes.
A unidade III dá início à modernidade nas artes e na literatura, por isso, essa parte principia 
com uma breve exposição das vanguardas europeias e sua influência, sobretudo na primeira fase 
do Modernismo no Brasil, que começa com a Semana de Arte Moderna, em 1922. Como a maior 
parte da produção literária da primeira fase foi poética, falaremos aqui dos dois mais importantes 
autores desse período e de suas obras em prosa de maior relevância para nossos estudos. Em seguida, 
apresentaremos a segunda fase do Modernismo, que, ao contrário da primeira, é essencialmente 
em prosa, uma literatura politizada e de conscientização social que reflete as agruras do Brasil em 
meio ao governo militar. Como a produção literária mais importante dessa fase está concentrada no 
gênero do romance, exaltaremos alguns fragmentos e, a partir deles, chegaremos às características 
dos autores mais expressivos desse momento. Por fim, retomaremos o Modernismo em sua última 
fase, ressaltando a produção literária dos autores que inauguram a literatura intimista e o fluxo de 
consciência, inovando os gêneros em prosa, sobretudo o romance, ao romper com as características 
tradicionais dessas estruturas.
Na unidade IV, discorrermos sobre a contemporaneidade, as influências da literatura latino‑americana 
e de alguns autores selecionados que compõem o quadro da nova geração de escritores em prosa da 
literatura brasileira.
É importante dizer que os conceitos, as análises e os estudos apresentados neste livro‑texto advêm 
de bases teóricas e críticas reconhecidas que estão relacionadas nas bibliografias presentes no final 
deste trabalho.
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INTRODUÇÃO
Dentro de uma abordagem diacrônica da literatura brasileira e a partir das leituras, a disciplina 
Literatura Brasileira: Prosa estuda autores e obras decisivas para a formação da cultura da prosa literária 
no Brasil, desde o período colonial até a pós‑modernidade. No decorrer deste estudo, analisaremos 
textos e exercitaremos práticas de ensino da prosa literária correlacionando teoria e prática.
Este material tem a finalidade de proporcionar o reconhecimento do desenvolvimento e das 
características específicas da literatura brasileira por meio do estudo de autores e de algumas obras, a 
partir da consideração da forma‑mentis, isto é, do contexto histórico, cultural e social de cada período 
e as peculiaridades específicas dos escritores pesquisados. Além disso, possui também a intenção de 
proporcionar ao aluno a capacidade de reconhecer a estrutura e a operação estética realizada nos textos 
literários considerados canônicos para a formação e constituição da literatura brasileira, bem como 
igualmente realizada nos textos contemporâneos. Desse modo, será possível criar caminhos para que 
se possa debater o ainda precário conceito de literatura pós‑moderna no país e o modo de articulação 
desse juízo estético com a sociedade brasileira contemporânea.
Assim, o que buscamos, caro aluno, é mostrar a cultura brasileira, suas obras e seus autores como 
um processo cultural contínuo e consolidado da consciência nacional e cultural do país dentro e fora 
das culturas de massa. A intenção é proporcionar‑lhe uma boa reflexão sobre a relação entre a literatura 
brasileira e a sociedade local e a situação destas no contexto em que se inserem os movimentos literários, 
fornecendo‑lhe subsídios específicos para que, posteriormente, possa lecionar literatura brasileira no 
Ensino Médio.
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LITERATURA BRASILEIRA: PROSA
Unidade I
1 DAS ORIGENS AO BARROCO: LITERATURA INFORMATIVA E JESUÍTICA
Para começarmos nossos estudos acerca da literatura em prosa no Brasil, considere o texto a seguir, 
que aborda um trecho da famosa carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, por ocasião do 
descobrimento do Brasil:
Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até 
outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, 
será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte cinco léguas por costa [...].
Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, 
não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa.
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa 
alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito 
bons ares [...]. Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, 
querendo‑a aproveitar, dar‑se‑á nela tudo, por bem das águas que tem 
(CAMINHA, 1500).
1.1 Literatura informativa
Figura 1 – O desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, em 1500
As primeiras manifestações de literatura em prosa no Brasil acontecem no século XVI e visavam, como 
se pode perceber pelo texto anterior, descrever a terra e, mais tarde, converter os índios ao cristianismo 
professado pela Igreja Católica. A essas manifestações damos o nome de Quinhentismo e elas estão 
relacionadas à introdução da cultura europeia na Américaportuguesa.
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Os primeiros textos, que levariam à formação da Literatura Brasileira, obedeceram a finalidades 
práticas: informações sobre a terra, para facilitar a exploração colonialista; ou, ainda, à dominação 
religiosa, também motivada por razões políticas. Essas produções refletem a ambiguidade do 
Renascimento português, de um lado, muito prático, e de outro, ainda preso à religiosidade (ABDALA e 
CAMPEDELLI, 2004).
Vemos que os textos iniciais de nossa literatura em prosa não estão propriamente vinculados à arte, 
posto que possuíam intenção informativa e atendiam aos interesses econômicos do reino de Portugal, 
além de terem um objetivo doutrinário e pedagógico. Entretanto, eles constituem relevantes documentos 
históricos para o estudo do início do período da colonização do Brasil.
Esses textos, como veremos, conservam características medievais, como uma visão edênica da 
terra descoberta, por exemplo, embora seja perceptível também a presença de valores renascentistas, 
principalmente quando se torna evidente a preocupação com a estética literária.
Os primeiros textos
Os textos produzidos à época do descobrimento são registros a respeito da terra e de seus habitantes, 
cenário que traz à tona um mundo extremamente diferente e exótico e que cunha as raízes do 
nacionalismo brasileiro. Possuem, na maioria das vezes, linguagem simples e cheia de adjetivações.
O primeiro documento em prosa escrito no Brasil foi a carta de Pero Vaz de Caminha, em 1500, 
que tinha o intuito de informar El Rei, Dom Manuel, das condições geográficas e etnográficas da terra 
recém‑descoberta.
Quadro 1
Datas Textos
1500
A Carta, de Pero Vaz de Caminha a Dom Manuel, rei 
de Portugal, em que relata o descobrimento e suas 
impressões sobre a terra.
1530
O diário de navegação, de Pedro Lopes e Souza, 
escrivão do grupo colonizador de Martim Afonso 
de Souza.
?
O Tratado da Terra do Brasil e a História da 
província de Santa Cruz, a que vulgarmente 
chamamos Brasil, de Pero de Magalhães Gândavo.
1587 O Tratado do Brasil, de Gabriel Soares de Souza.
1618 Os Diálogos das grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão.
Os autores dos textos que formam essa literatura de viagem são muito diferentes: escrivães, religiosos, 
aventureiros, historiadores e navegadores. Dessa forma, não podemos dizer que eles compartilhem de 
uma mesma visão de mundo, apenas de um mesmo contexto de produção, já que todos têm por intenção 
relatar a experiência de conhecer o novo mundo.
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LITERATURA BRASILEIRA: PROSA
Tomemos agora um trecho da Carta de Caminha:
E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto 
que ele começou a ir‑se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos 
três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam 
dezoito ou vinte.
Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam 
arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao 
batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os 
depuseram. [...] arremessou‑lhe um barrete vermelho e uma carapuça 
de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles 
lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma 
copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe 
deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer 
de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza 
(CAMINHA, 1500).
Nesse trecho da carta, percebemos que o primeiro contato entre índios e portugueses não foi 
conturbado, pelo contrário, pareceu bastante amistoso, visto que os nativos baixaram suas armas e se 
dispuseram a imitar o comportamento dos portugueses.
É o primeiro olhar do estrangeiro sobre as terras brasileiras e essa descrição que aproxima o índio 
ao homem puro e ingênuo, distante do processo de civilização, deixa evidente a visão de mundo ainda 
estruturada pelo teocentrismo. Por outro lado, é essa mesma visão do índio e da natureza exuberante 
que irá defini‑los como símbolos da nacionalidade brasileira, símbolos esses que serão resgatados no 
movimento romântico e também no Modernismo.
1.2 Literatura jesuítica
Os missionários jesuítas chegaram ao Brasil em 1549 e aqui ficaram até 1605. Sua presença 
marca, sobretudo, a literatura de cunho pedagógico e moral, pois tinha a função de doutrinar os 
índios e convertê‑los à religião católica. Essa produção literária ficou conhecida como literatura de 
catequese.
Observe o trecho a seguir:
Gonçalo Álvares – Estes têm alma como nós?
Mateus Nogueira – Isso é claro, pois a alma tem três potências, entendimento, 
memória, vontade, que todos têm. Eu cuidei que vós éreis mestre já em 
Israel, e vós não sabeis isso! [...] que tão ruim entendimento tendes vós para 
entender o que vos queira dizer, como este gentio para entender as coisas 
de nossa fé (NÓBREGA, 2006).
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Os textos jesuíticos compreendem poemas e peças teatrais escritos em versos que competem mais 
ao estudo da poesia brasileira. Entretanto, há uma pequena produção em cartas, diálogos, peças, poemas 
épicos e alguns tratados sobre a terra que revelam certo planejamento literário e interessam ao estudo 
da literatura em prosa.
Quadro 2
Datas Textos
1583 Narrativa epistolar e os Tratados da terra e da gente do Brasil, do jesuíta Fernão Cardim.
1588 Diálogos sobre a conversão dos gentios, do padre Manuel da Nóbrega.
? Cartas dos missionários jesuítas, escritas nos dois primeiros séculos de catequese.
1627 História do Brasil, de frei Vicente do Salvador.
Leremos a seguir um trecho da peça Os feitos de Mem de Sá, escrita pelo padre José de 
Anchieta. Observe como o texto faz parte de um discurso que exalta o homem branco e a coroa 
portuguesa.
O excerto desse texto pode ser considerado o primeiro poema épico da literatura brasileira. 
Possui 3.058 versos divididos em quatro livros (ou cantos), além de uma introdução de caráter 
laudatório, como é característico dos textos que têm seu modelo na retórica clássica. Escrito em 
versos decassílabos, é possível perceber a influência de Virgílio. O poema narra, na figura de Mem 
de Sá, as lutas contra os índios e os franceses levadas a cabo pelo governador. Os índios são 
apresentados como terríveis e pecadores, corroborando a visão medievalista da Igreja. Mas, quando 
os índios se rendem e se entregam, são tratados sob outro ponto de vista: como almas pecadoras 
que pedem perdão, e a fé presente na ação de Mem de Sá está pronta para mostrar sua caridade e 
compaixão.
O Livro I faz uma apresentação geral da situação do Brasil antes da chegada de Mem de Sá, o que 
revela as condições caóticas da terra, tentando estabelecer uma dicotomia entre a perdição e a salvação 
que será alcançada posteriormente:
Ó que faustoso sai, Mem de Sá, aquele em que o Brasil
te contemplou! quanto bem trarás a seus povos
abandonados! com que terror fugirá a teus golpes
o inimigo fero, que tantos horrores e tantas ruínas
lançou nos cristãos, arrastado de furiosa loucura! (ANCHIETA, 1972).No Livro II, começa a luta de Mem de Sá contra os índios. A narrativa enfatiza a descrição da 
ferocidade das lutas. Ao vencer os indígenas, destaca‑se o processo de conversão e de abandono dos 
costumes anteriores pelos índios:
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LITERATURA BRASILEIRA: PROSA
Assim se expulsou a paixão de comer carne humana,
a sede de sangue abandonou as fauces sedentas;
e a raiz primeira e causa de todos os males,
a obsessão de matar inimigos e tomar‑lhes os nomes,
para glória e triunfo do vencedor, foi desterrada.
Aprendem agora a ser mansos e da mancha do crime
afastam as mãos os que há pouco no sangue inimigo
tripudiavam, esmagando nos dentes membros humanos.
Há pouco a febre do impuro lhes devora as entranhas:
imersos no lodaçal, aí rebolavam o fétido corpo,
preso à torpeza de muitas, à maneira dos porcos.
Agora escolhem uma, companheira fiel e eterna,
vinculada pelo laço do matrimônio sagrado
que lhe guarda sem mancha o pudor prometido (ANCHIETA, 1972).
Um bom momento épico aparece quando Anchieta faz uma analogia entre a luta em canoas travada 
pelos índios no litoral e a luta de baleias, comparando, assim, os índios a animais:
Como quando as baleias sobem do fundo do abismo
e se acolhem às enseadas do litoral brasileiro
na quadra em que se entregam ao serviço da espécie:
então travam combates ferozes ao soçobro das ondas
e lançam até as nuvens jatos de água espumante:
Atônitos na praia os homens assistem à luta gigante
dos monstros descomunais entre as vagas encapeladas.
Elas desfecham golpes tremendos e horrendas feridas
com as caudas e dentes agudos, até que as ondas vomitem
os cadáveres monstruosos às areias da praia.
Assim nossos índios, em pleno mar, a braços com as ondas
vibram golpes terríveis: a uns despedaçam, a outros
já semimortos puxam‑nos, enlaçando‑lhes os longos cabelos
com a mão esquerda, enquanto com a direita cortam as vagas
e vitoriosos arrastam até as praias a presa,
indo depor aos pés do Chefe os corpos de seus inimigos,
e despedaçando aos semivivos os crânios com os rijos tacapes (ANCHIETA, 1972).
Mem de Sá, o herói, destaca‑se por seus valores cristãos, embora se apresente na luta com grande ferocidade.
No trecho a seguir, o herói reconhece sua ferocidade e busca amenizá‑la com a compaixão para com 
o índio vencido, revelando assim sua superioridade cristã:
O Governador ouviu com bondade essas palavras
e respondeu: “Se vos fiz guerra cruel de extermínio,
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devastando os campos e lançando em vossas moradas
o incêndio voraz, levou‑me a isso vossa audácia somente.
Já agora, esquecidos os ódios, vos concedemos contentes
a aliança e a paz que quereis e sentimos vossa desgraça.
Porém, deveis vós observar as leis que vos dito.”
Manda então que refreiem suas rixas contínuas
que expulsem do peito a crueldade e o hábito horrendo
de saciarem o ventre, à maneira de feras raivosas,
com carnes humanas. Também lhes ordena que guardem
os mandamentos do Pai celeste e a lei natural
e ergam igrejas ao eterno Senhor das alturas
em seu torrão natal; aí serão instruídos
na lei divina e de vontade abraçarão com os filhos
a fé de Cristo, porta única do caminho do céu,
além disso, tudo quanto roubaram dos Cristãos às ocultas
ou por assalto, em tantos anos, os próprios escravos
mortos ou devorados, tudo pagarão e mais os tributos
(ANCHIETA, 1972).
No Livro III, destaca‑se também o episódio que envolveu o bispo Pero Fernandes Sardinha. Em 1556, 
este resolve retornar à Lisboa para relatar e condenar o modo como o padre Manoel da Nóbrega e 
José de Anchieta levavam o processo de catequese, tido por ele como muito complacente. Porém, sua 
caravela naufraga nas costas de Alagoas e o bispo, chegando à praia, é devorado por índios canibais.
O episódio histórico foi depois reaproveitado por Oswald de Andrade no seu manifesto 
antropofágico:
[...] Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as 
ordenações e o rapé de Maria da Fonte.
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a 
realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias 
do matriarcado de Pindorama.
Oswald de Andrade
Em Piratininga
Ano 374 da deglutição do Bispo Sardinha (ANDRADE, 1928, p. 07).
Na obra de José de Anchieta, convém destacar que, apesar das diferenças entre Anchieta e o bispo, 
o personagem é apresentado como virtuoso e de boas intenções, ainda que a morte do bispo Sardinha 
soe como uma punição por uma denúncia vã.
No momento da morte, a última fala do bispo:
Sou eu, sou eu mesmo
o grande abaré! porque procurais dar‑me a morte?”
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mas que suspiros lhes dobrariam os loucos intentos,
que queixumes ou lágrimas? seria mais fácil
comover leões da África ou leopardos ferozes
do que com rios de prantos dobrar esses selvagens
acostumados a fartar o ventre com carnes humanas (ANCHIETA, 1972).
Os franceses entram na história como vilões. Representam a Igreja Protestante de Lutero e Calvino, 
portanto, os verdadeiros infiéis do poema. A luta contra os franceses começa a ser destacada a partir 
do Livro III. 
No Livro IV, a luta entre franceses e índios finda com a vitória de Mem de Sá. No trecho a seguir, 
lemos os preparativos para a batalha final:
O sol mergulha seu carro luzente nas ondas,
e Vésper desdobrara seu manto noturno de trevas
e na abóbada celeste brilhavam mil luzes de estrelas.
Não se dormia no acampamento; cada qual preparava
suas armas. Da colina das palmeiras o falcão continuava
a bater o alto da torre, arrotando bolas de fogo.
Ressoam vozes e gritos de mulheres nas casas.
Manda entretanto o governador fortificar por inteiro
as trincheiras. Uns contra as balas enchem de pedra e terra
grandes canastras tecidas de vime flexível.
Outros retiram das naus os canhões e os arrastam
com o fragor gigantesco de suas rodas pesadas,
e os colocam em postos escolhidos erguendo em redor
um parapeito de terra. Depois esperam impaciente
as batalhas temerosas do dia seguinte.
Já os primeiros clarões afastavam as trevas da noite
e a aurora tingia o mar com seus raios serenos,
já o sol da orla do horizonte se lançava à corrida
que espalharia mais uma vez a luz pelo mundo:
quando refulgem no alto as falanges francesas
armadas de espadas e longas lanças; os corpos
cobertos de reluzentes couraças. Armados de flechas
aí se acham também os selvagens que tinham voado
à aguada, para derramar o sangue dos lusos,
quando nossas naus voltaram e deixaram as praias
com as águas, ajuntando‑se aos seus e enganado
o inimigo cruel que nutria feliz esperança (ANCHIETA, 1972).
Como vimos, os textos jesuíticos têm, em sua maioria, função análoga à dos textos 
informativos.
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2 O BARROCO
O período a que chamamos Barroco pode ser descrito como um período em que a sociedade se vê 
diante das consequênciasda Reforma Protestante, iniciada em 1517 por Martinho Lutero e que dividiu 
a Igreja entre católicos e protestantes.
As ideias protestantes puseram em risco o poder da Igreja e esta respondeu com um movimento de 
reação conhecido como Contrarreforma, que tinha intenção de impedir o avanço do protestantismo. 
Assim, o estilo barroco floresce quando a Igreja Católica busca a consolidação de seu poder.
Entre os atos mais importantes da Igreja Católica nesse período, temos:
• a instituição do Tribunal do Santo Ofício, ou Tribunal da Inquisição, que julgava os atos ditos contra 
a fé, entre os quais figurava professar outro credo ou possuir outra fé que não a da Igreja Católica;
• a criação da Companhia de Jesus, que devia combater os infiéis e expandir a fé cristã nas colônias.
Essas contradições no âmbito religioso tiveram forte influência sobre a arte do período, produzindo o 
desencanto do homem com o próprio homem, assumindo assim uma postura anticlássica que instaura 
um mundo ambíguo. É esse mundo dicotômico dividido e entre o catolicismo e o protestantismo, entre 
a fé e a ciência, que dá espaço à estética barroca.
2.1 O Barroco no Brasil
Somente no período que chamamos de Barroco é que podemos começar a falar de literatura 
brasileira, pois nele encontramos uma produção literária já com evidente preocupação estética, que se 
volta para a realidade brasileira e despe‑se dos valores da corte portuguesa.
Barroco foi o estilo artístico dominante na Europa durante o século XVII e primeira metade do 
século XVIII. É um estilo deslumbrante e caracteriza‑se pela abundância de ornamentos e pela ousada 
elaboração formal, que se vale do uso de recursos retóricos, tais como as alegorias e o uso de figuras de 
linguagem como a antítese e o paradoxo, cujo objetivo é mostrar desconforto.
Assim, no Barroco, a forma é encantadora e erudita, mas é apenas uma roupagem para um conteúdo repleto 
de tensão e conflito, na maioria das vezes abordado com ironia ou malícia, o que espelha uma época angustiada 
que assiste à crise do renascimento e ao final do otimismo que levara a Europa às grandes descobertas.
No Brasil, a estética barroca teve influência direta da coroa portuguesa que, mantida sob o jugo 
espanhol até 1640, não acompanhou as descobertas científicas ocorridas entre os séculos XVII e XVIII no 
resto da Europa e, por conseguinte, permaneceu no obscurantismo medieval.
O Barroco brasileiro coincide com um momento de grande exploração da colônia pelos portugueses. 
Dessa forma, a aristocracia colonial brasileira, ou aristocracia crioula, revela nesse período um sentimento 
de independência que transparece nos textos literários da época. Por isso, diz‑se que o Barroco no Brasil 
foi “crioulizado”, isto é, misturou a tendência com a visão local, nativista e negra.
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As invasões estrangeiras do Rio de Janeiro ao Maranhão, nos séculos XVI e XVII, foram responsáveis 
pelo despertar de uma consciência colonial que, somada à decadência da cana‑de‑açúcar, posiciona‑se 
contrariamente ao absolutismo monárquico.
No Brasil, o Barroco se inicia em 1601, com o poema épico de Bento Teixeira, chamado Prosopopéia, 
e atinge seu apogeu com o poeta Gregório de Matos e com o orador Padre Antônio Vieira.
Trataremos apenas deste último mais adiante, posto que nossos estudos se concentrarão na literatura 
feita em prosa, embora esses dois escritores tenham sido os melhores escritores do Barroco em língua 
portuguesa e ambos tenham surgido na Bahia, onde se concentravam os principais centros urbanos à 
época, com destaque para Salvador, que foi capital do país de 1549 a 1763.
2.2 A ambiguidade: o alicerce do barroco
A estética literária do Barroco opõe‑se diretamente ao racionalismo clássico. O rigor formal, antes 
usado para produzir clareza, soma‑se aqui à ambiguidade de figuras que culminam em tensão e 
conflito.
Assim, a linearidade renascentista é substituída pelo pictórico das antíteses, contradições e paradoxos, 
bem como a sintaxe simples é substituída pelo rebuscamento que se apoia no anacoluto e na inversão 
sintática.
Todo esse exagero reflete o desconforto de um homem dividido entre o céu e as coisas terrenas, um 
conflito entre os valores da tradição, ligados à consciência medieval e defendidos pelos jesuítas, e os 
valores gerados pelo avanço do racionalismo.
O quadro A dúvida de São Tomé, do pintor italiano Caravaggio, ilustra bem esse panorama do mundo 
Barroco, mostrando a religiosidade na figura de Cristo, de quem vem toda a luz da cena composta pelo 
jogo do Claro/Escuro, característico da pintura barroca, em oposição ao racionalismo presente na dúvida 
de São Tomé, que chega a tocar a ferida de Jesus para se certificar. Observe a tela:
Figura 2 – A dúvida de São Tomé, de Caravaggio
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Segundo Benjamim Abdala Júnior e Samira Youssef Campedelli (2004), é possível perceber vários 
estilos dentro do Barroco. Alguns dizem respeito à forma, outros, ao conteúdo.
Observe o quadro a seguir, no qual esses estilos são descritos:
Quadro 3
Estilos Características
Maneirismo É o elo entre o Renascimento e o Barroco e registra a incerteza das formas.
Culteranismo, 
Cultismo ou 
Gongorismo
Cultivou construções obscuras, repletas de preciosismo 
formal que se vê tanto na poesia quanto na prosa barroca.
Conceptismo
Ligado à prosa barroca e contrária ao culteranismo. Buscou 
o domínio das palavras, valendo‑se do conhecimento 
conceitual e da concisão.
Barroquismo Originou o Rococó. Possui construções rebuscadas e decorativas.
2.3 Padre Antônio Vieira (Lisboa, 1608 – Bahia, 1697)
No século XVII, o discurso religioso que falava sobre a doutrina cristã, conhecido como sermão, foi 
uma importante arma da Igreja Católica em sua disputa com os protestantes por fiéis.
O sermão é um discurso de caráter edificante, cujo tema deve ser ilustrado por imagens e 
metáforas.
O mais importante orador do Barroco no Brasil foi o padre Antônio Vieira, que desempenhou 
missões jesuíticas no Maranhão e no Grão‑Pará. Foi professor de retórica no Colégio de Pernambuco e 
participou ativamente do reinado de D. João IV em Portugal e no Brasil.
Antônio Vieira chegou ao Brasil aos seis anos de idade e, pouco depois, ingressou no Colégio dos 
Jesuítas. Como noviço na Companhia de Jesus, em 1623, foi encarregado de escrever a Carta Ânua, 
relatando os sucessos da ocupação da Bahia pelos holandeses.
Em 1625, fez seu voto de castidade, pobreza e obediência, deixando a condição de noviço para 
iniciar os estudos de teologia. Foi professor de retórica em Olinda no ano de 1627, pregador na Bahia 
em 1633, ordenando‑se em 1638.
Como pregador, defendia os interesses portugueses no Brasil e teve ação importantíssima na luta 
contra os invasores holandeses protestantes calvinistas.
Seus sermões, publicados entre 1679 e 1748, suas ideias e as causas que defendeu eram propagadas 
principalmente nos púlpitos das igrejas.
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Vieira procurava não só convencer o público por meio de um discurso inflamado, mas também 
conscientizá-lo.Em sua obra, predomina o conceptismo, ou seja, desenvolvimento da ideia no intuito de persuadir. 
Ele usa a retórica como alicerce de seu discurso.
Para ilustrar sua própria concepção acerca de seu estilo leia a seguir um trecho do Prólogo do Autor, 
da primeira edição dos Sermões:
Se gostas de afetação e pompa de palavras, e do estilo que chama culto, 
não leias.
Quando este mais florescia, nasceram as verduras do meu (que perdoarás 
quando as encontrares), mas valeu‑me tanto sempre a clareza, que só porque 
me entendiam comecei a ser ouvido; e o começaram também a ser os que me 
reconheceram o seu engano, e mal se entendiam a si mesmos (VIEIRA, s. d.).
No Sermão da Sexagésima (1655), um dos mais importantes textos de padre Vieira para o estudante 
de literatura, proferido na Capela Real de Lisboa, Vieira critica o gongorismo que, como vimos no 
quadro anterior, era repleto de construções obscuras e preciosistas. Ao elaborar sua crítica constrói 
um texto metalinguístico que apresenta um tratado acerca da oratória religiosa. Vejamos abaixo um 
trecho desse sermão:
[...] Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos (a causa de 
não frutificar a palavra de Deus?) um estilo tão empeçado, um estilo tão 
dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda parte e 
a toda a natureza? O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Compara 
Cristo o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de 
natureza que de arte. Nas outras artes tudo é arte: na música tudo se faz por 
compasso, na arquitetura tudo se faz por regra, na aritmética tudo se faz por 
conta, na geometria tudo se faz por medida. O semear não é assim. É uma 
arte sem arte; caia onde cair [...] la o trigo caindo e nascendo.
Assim há de ser o pregar. Hão de cair as coisas e hão de nascer, tão naturais 
que vão caindo, tão próprias que venham nascendo [...].
Quem semeia ventos, colhe tempestades. Se os pregadores semeiam ventos, 
se o que se prega é vaidade, se não se prega a palavra de Deus, como não há 
a Igreja de Deus de correr tormenta, em vez de colher fruto? (VIEIRA, s. d.).
Vieira foi condenado pelo Tribunal da Inquisição, que o manteve preso por duas vezes e lhe cassou o 
uso da palavra em Portugal por desenvolver temerariamente a temática do sebastianismo, por escrever 
sermões que davam ideia de ataque a algumas posturas da Igreja e, sobretudo, pela defesa aos cristãos 
novos e aos nativos, como podemos observar no texto a seguir.
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As injustiças e tiranias, que se têm executado nos naturais destas terras, 
excedem muito às que fizeram na África. Em espaço de quarenta anos se 
mataram e se destruíram por esta costa e sertão mais de dois milhões de 
índios e mais de quinhentas povoações [...] (VIEIRA, 1963).
2.4 O estilo de Vieira
Já dissemos acima que os sermões de Vieira têm seus alicerces na retórica clássica. No século XVII, todo 
orador deveria conhecer as regras da arte de escrever, advindas da retórica grega e romana e que ensinavam 
sobre a arte de elogiar ou louvar (ars laudand) e sobre a arte de ofender ou vituperar (ars vituperandi).
No que concerne a Vieira, a relevância está no louvor, pois, ainda que o clima de luta favorecesse seu 
gênio combativo e dialético, o vitupério não é apropriado aos discursos proferidos em púlpitos de igrejas.
A tradição greco‑latina divide a retórica em cinco partes, a saber: inventio, dispositio, elocutio, actio 
e mneme, cujas características estão dispostas na tabela a seguir:
Quadro 4
Partes da retórica Características
Inventio Refere‑se ao repertório de ideias, as tópicas, às quais os escritores recorriam para realizar seu discurso.
Dispositio Trata‑se da ordenação do discurso.
Elocutio Refere‑se à organização e ornamentação.
Actio A da teatralização do ato discursivo: o tom de voz adequado, os gestos oportunos etc.
Mneme Refere‑se às técnicas de memorização do discurso.
Valendo‑se da retórica, era preciso estruturar a argumentação em quatro passos, por meio dos quais 
se percebe as ideias que marcaram a corrente conceptista do Barroco.
Quadro 5
Exórdio O orador expõe o plano a que vai submeter‑se e as ideias que defenderá.
Invocação É um apelo no qual o orador pede ajuda ao divino para expor suas ideias.
Confirmação É o desenvolvimento do tema, que deve ser realçado por alegorias e exemplos.
Peroração
Ou conclusão, na qual o orador recapitula tudo o que foi dito e termina 
com um desfecho vibrante, que impressiona os fiéis e os estimula a seguir 
os ensinamentos bíblicos.
Ligado à escola da Ratio Studiorum, em seus textos prevalece o conceptismo e, embora tivesse 
combatido o obscurantismo do gongorismo, não é possível dizer que tenha por completo se livrado dele 
em seus textos. Vieira transcende os princípios da Escolástica pela genialidade da linguagem enérgica 
e vigorosa, disciplinada pelo estilo de Sêneca, o que implica uma antinomia diante da agudeza do 
engenho e do espírito especulativo que, não raro, o levaram além do permitido.
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Habilidoso, Vieira tinha o poder de acomodar em analogias suas ideias e a história aos episódios do 
Velho Testamento ou do Novo Testamento.
Observe a imagem construída no trecho abaixo, do Sermão de Santo Antônio aos peixes:
Descendo ao particular, direi agora, peixes, o que tenho contra alguns de vós. E 
começando aqui pela nossa costa: no mesmo dia em que cheguei a ela, ouvindo os 
roncadores e vendo o seu tamanho, tanto me moveram o riso como a ira. É possível 
que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?! Se, 
com uma linha de coser e um alfinete torcido, vos pode pescar um aleijado, porque 
haveis de roncar tanto? Mas por isso mesmo roncais. Dizei‑me: o espadarte porque 
não ronca? Porque, ordinariamente, quem tem muita espada, tem pouca língua. 
Isto não é regra geral; mas é regra geral que Deus não quer roncadores e que tem 
particular cuidado de abater e humilhar aos que muito roncam (VIEIRA, s. d.).
Aqui, quando deixa de falar aos homens e passa a falar aos peixes, Vieira vale‑se da ironia e do 
questionamento retórico para recriminar o comportamento dos pregadores, apontando neles a vaidade 
como causa de suas falhas, isto é, a vaidade dos pregadores os afasta de sua verdadeira doutrina e os 
fiéis, seguindo esse exemplo, se afastam da fé verdadeira.
 Exercícios
Questão 1. Leia o trecho da carta de Pero Vaz de Caminha e o poema de Oswald de Andrade:
“À quinta‑feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos até meia légua da terra, onde todos lançamos 
âncoras em direito da boca dum rio. E dali houvemos vista de homens, que andavam pela praia, obra de sete 
ou oito. E o capitão mandou no batel, à terra, Nicolau Coelho, para ver aquele rio. E tanto que ele começou 
para lá ir, acudiram pela praia homens, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, eram ali dezoito 
ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma coisa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas 
mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pusessem os arcos; 
e eles os puseram. Ali não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar 
na costa. Somente deu‑lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho, que levava na cabeça, e um 
sombreiro preto. E um deles lhe deu um sombreirode penas de aves compridas com uma copazinha pequena 
de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu continhas brancas, miúdas”.
Fonte: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/historia/descobrimento/pero‑vaz‑de‑caminha.shtml>. Acesso em: 31 mar. 2014.
Erro de Português
Oswald de Andrade
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
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Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Fonte: Disponível em: <http://brasilcoloniaall.blogspot.com.br/2012/05/erro‑de‑portugues‑oswald 
‑de‑andrade.html>. Acesso em: 30 mar. 2014.
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, analise as afirmativas que seguem.
I – A carta de Caminha mostra o conflito armado que logo de início se instaurou entre portugueses e índios.
II – O poema de Oswald de Andrade afirma que os portugueses erraram ao escravizarem os índios, o 
que se confirma na carta de Caminha.
III – Apesar dos diferentes estilos, os dois textos mostram a mesma visão sobre a colonização do Brasil.
IV – Na carta e no poema observa‑se a referência ao hábito dos índios de andarem nus.
Está correto o que se afirma apenas em:
A) IV.
B) I e IV.
C) III e IV.
D) II e III.
E) I, II e IV.
Resposta correta: alternativa A.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a carta não menciona conflitos, mas sim a troca de “coisas” e a falta de entendimento pela fala.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: o poema, em tom de humor, não menciona a escravização.
III – Afirmativa incorreta.
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Justificativa: as visões são diferentes; a do poema é evidentemente satírica.
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: na carta menciona‑se que os índios não cobrem as suas “vergonhas”; Oswald de 
Andrade “lamenta” que o português tenha vestido o índio e que o índio não tenha despido o português.
Questão 2. Leia o texto a seguir:
Trecho de Sermão da Sexagésima, de Padre Antônio Vieira
Fazer pouco fruto da palavra Deus no Mundo pode proceder de um de três princípios: ou da parte 
do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um 
sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de 
concorrer o ouvinte com entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. 
Para um homem ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é 
cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é noite, não se pode ver por falta de 
luz. Logo, há mister luz, há mister espelhos e há mister olhos.
Fonte: Disponível em: <http://quimeradeneptuno.blogspot.com.br/2008/07/ 
trecho‑de‑sermo‑da‑sexagsima‑de‑padre.html>. Acesso em: 1 abr. 2014.
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, analise as afirmativas que seguem:
I – Para defender sua ideia, o autor faz uma comparação com outra situação: o ato de ver a si mesmo.
II – O Barroco é considerado o Movimento da Contrarreforma, uma vez que reflete o homem em 
conflito e teve maior expressão nos locais em que a Igreja Católica mais atuou.
III – O Barroco foi um movimento exclusivamente brasileiro, estimulado pela colonização e pela 
catequização.
Está correto o que se afirma em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) I e III.
Resolução desta questão na plataforma.

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