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Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.1 CAPÍTULO 2 SUPRIMENTO ENERGÉTICO PARA TERMELÉTRICAS Flávio Neves Teixeira Electo Eduardo Silva Lora 2.1- -INTRODUÇÂO 1 2.2- CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS 1 2.3- PROPRIEDADES, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E PODER CALORÍFICO DOS COMBUSTÍVEIS 1 2.4- COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS 7 2.5- PETRÓLEO 8 2.6- ÓLEO COMBUSTÍVEL 17 2.7- GÁS NATURAL 25 2.8- CARVÃO MINERAL 36 2.9- COMBUSTÍVEL NUCLEAR 46 2.10- BIOMASSA 48 2.11- COMBUSTÍVEIS SIDERÚRGICOS RESIDUAIS 50 2.12- TERMOS TÉCNICOS 53 2.13- REFERÊNCIAS 59 2.1- INTRODUÇÃO Este capítulo apresenta o conceito de combustível, os principais tipos utilizados no Brasil, detalhando-se a composição química, o poder calorífico dos mesmos, suas reservas e consumo. Na seqüência, detalham-se as características técnicas de alguns combustíveis brasileiros, tais como petróleo e seus derivados, gás natural e carvões minerais, incluindo-se as especificações técnicas de acordo com as normas brasileiras. Também se explana sobre a biomassa e o combustível nuclear, além de gases siderúrgicos residuais. No final do capítulo apresenta-se uma descrição técnica de alguns termos utilizados na tecnologia de combustíveis e adotados pela Agência Nacional do Petróleo. 2.2- CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS Combustível é toda a substância que em contato com uma fonte de ignição e um agente oxidante (geralmente o oxigênio do ar) sofre reações químicas liberando energia térmica. As reações químicas ocorrem com altas velocidades e com grande conversão de energia química em energia térmica. Os combustíveis podem ser classificados segundo sua origem ou método de obtenção (Tabela 2.1) e segundo seu estado físico (Tabela 2.2). 2.3- PROPRIEDADES, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E PODER CALOR ÍFICO DOS COMBUSTÍVEIS Os produtores e distribuidores de combustíveis devem fornecer aos consumidores os dados correspondentes às características de seus produtos concernentes às análises laboratoriais de campo. Essas características devem ser contratualmente acertadas e conferidas pelo consumidor a fim de garantir o desempenho correto da central termelétrica, além de permitir o manuseio, Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.2 transporte e armazenagem adequados. Tratando-se de um combustível da mesma fonte, admite- se que estas características (propriedades) permaneçam inalteradas ou com pequenas alterações. Algumas propriedades são comuns a todos os combustíveis, enquanto outras são específicas. Dentre as propriedades comuns se destacam o poder calorífico, a composição química elementar e aproximada. Dentre as propriedades específicas pode-se destacar, para o gás natural (e outros combustíveis gasosos), a densidade relativa ao ar, o índice de Wobbe e a velocidade de chama. Para os óleos combustíveis, a viscosidade, o ponto de fulgor, a densidade relativa e o ponto de fluidez. Para os carvões minerais, a lavabilidade, a moabilidade e a fusibilidade das cinzas. As propriedades específicas serão definidas quando se analisar os respectivos combustíveis. A fim de se determinar a potencialidade de um combustível, e, portanto, saber se este está sendo utilizado dentro de sua plena capacidade, deve-se primeiramente conhecer as suas características fundamentais: composição química elementar e imediata. Além disso, como característica importante, o tipo de base que se efetuou a análise. A Tabela 2.3, a seguir, apresenta as relações entre as diversas bases. Tabela 2.1 - Classificação dos combustíveis segundo a origem. Origem Combustível natural Combustíveis derivados Fóssil Petróleo Gás liquefeito de petróleo (GLP), gasolina, óleo Diesel, óleo combustível e óleo residual Carvão mineral Gases manufaturados, coque Gás natural Gás natural liquefeito (GNL) Xisto Turfa Renovável Resíduos agroindustriais Bagaço de cana, casca de arroz Lenha Carvão vegetal, gases manufaturados, metanol, serragem, cavacos, resíduos florestais Resíduos animais Biogás Resíduos urbanos (lixo) Etanol (álcool) Óleos vegetais Nuclear Urânio U-235, U-238 Tório Th-232 Tabela 2.2 - Classificação dos combustíveis segundo o estado físico. Estado físico Combustíveis Sólido Carvão mineral, carvão vegetal, xisto, turfa, lenha Líquido Gasolina, querosene, Diesel, óleos combustíveis Gasoso Gás natural, GLP, biogás 2.3.1 - Composição química elementar: A composição química elementar de uma amostra de combustível é o conteúdo, em percentagem de massa ou volume, dos elementos que formam parte da composição química do combustível, ou seja, carbono (C), hidrogênio (H2), enxofre (S), oxigênio (O2), nitrogênio (N2), cinzas (A) e umidade (W). É a característica técnica mais importante do combustível e constitui a base para a análise dos processos de combustão (cálculo do volume de ar necessário para a combustão, da quantidade de gases gerada e da sua entalpia). Conhecendo-se esta característica pode-se também determinar o poder calorífico do combustível, além de permitir avaliar o impacto ambiental da queima do mesmo. Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.3 2.3.2 - Composição química imediata: A composição química imediata de uma amostra de combustível é o conteúdo, em percentagem de massa ou volume, de carbono fixo (F), voláteis (V), cinzas (A) e umidade (W). O conhecimento da composição química imediata é importante para o cálculo do projeto da fornalha e das quantidades de ar primário e secundário necessários em função da percentagem de voláteis. Também o teor de voláteis tem um papel importante durante a ignição e as etapas iniciais da combustão de combustíveis sólidos. O teor de umidade da amostra deve ser determinado por secagem, antes das respectivas análises e pode ser realizado colocando-se a amostra até que a massa permaneça constante em uma estufa calibrada para 105 ± 4 oC, segundo o Método ASTM D3173-73 (ASTM, 1983). 2.3.3 - Tipos de base para os dados da composição elementar e imediata: 2.3.3.1 - Base úmida ou de trabalho: identifica o combustível no seu estado natural, considerando-se a umidade e os componentes químicos que ele possui no momento da queima. Aqui se denota esta base com o subscrito ‘t’. • elementar: C H O N S A Wt t t t t t t+ + + + + + = 100% • imediata: F V A Wt t t t+ + + = 100% 2.3.3.2 - Base seca: é o combustível sem umidade, após ter sido colocado na estufa conforme descrito anteriormente. Aqui se denota esta base com o subscrito ‘s’. • elementar: C H O N S As s s s s s+ + + + + = 100% • imediata: F V As s s+ + = 100% 2.3.3.3 - Base analítica: é o combustível tal qual é analisado no laboratório, sem umidade externa (Wext). Aqui se denota esta base com o subscrito ‘a’. • elementar: C H O N S A Wa a a a a a a+ + + + + + = 100% • imediata: F V A Wa a a a+ + + = 100% sendo: W W Wt ext a= + A umidade externa é aquela que a amostra perde no trajeto até o laboratório, apenas sendo exposta ao ar ambiente de menor umidade. 2.3.3.4 - Base combustível: é o combustível sem cinzas e sem umidade, considerando apenas os principais componentes a serem oxidados. Esta base é importante para o carvão mineral, onde amostras de uma mesma jazida diferenciam-se apenas pelo teor de cinzas e umidade. Aqui se denota esta base com o subscrito ‘c’. • elementar: C H O N Sc c c c c+ + + + = 100% • imediata: F Vc c+ = 100% Na prática, geralmente a composição do combustível está disponível como composição química imediata, base úmida ou seca. Dessa forma, a Tabela 2.3 permite a conversão entre as diferentes bases. 2.3.4 - Poder calorífico: Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.4 O poder calorífico de um combustível é a quantidade de energia que é liberada durante a combustão completa da unidade de massa (1 kg) ou unidade de volume (1 Nm3) do combustível podendo ser medida em kJ/kg (kcal/kg) ou kJ/Nm3 (kcal/Nm3). Quando se considera o calor latentede vaporização do vapor de água gerado pela reação de combustão durante a queima do combustível com o ar seco, refere-se ao poder calorífico superior (PCS) e quando não se considera este calor latente está se referindo ao poder calorífico inferior (PCI). Entretanto, em instalações industriais, geralmente a temperatura dos gases de saída é maior que a temperatura de condensação, portanto o calor latente não é possível de ser recuperado. Devido a esta consideração, o PCI é de maior aplicação para os cálculos de rendimento e viabilidade econômica. Tabela 2.3 - Conversões da composição elementar de uma base para outra. Base do combustível conhecida Base do combustível que se deseja obter (multiplicar vezes) Úmida (de trabalho) Seca Combustível Úmida (de trabalho) 1 100 100− W t 100 100− −W At t Seca 100 100 − W t 1 100 100− A s Combustível 100 100 − −W At t 100 100 − A s 1 A determinação do poder calorífico pode ser feita de duas maneiras: em laboratórios, mediante o emprego de aparelhos denominados calorímetros ou analiticamente, a partir da composição do combustível. Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.5 Figura 2.1- Representação de um calorímetro A norma brasileira para a determinação do poder calorífico de gases combustíveis é a MB 133, para produto líquido de petróleo é a MB 454 e para o carvão mineral a NBR 8628 e MB 2063. Vários autores têm-se dedicado a estabelecer relações entre a composição elementar e o poder calorífico de um combustível. O cientista russo Mendeliev apresentou, já em 1897, uma fórmula geral para a determinação analítica do PCI (kJ/kg), base úmida, a partir da composição química elementar de qualquer combustível. tttttt W24)S(O109H1.030C339PCI ⋅−−⋅−⋅+⋅= [kJ/kg] Conhecido o PCI de um combustível qualquer, pode-se determinar o valor de seu PCS de acordo com a própria definição de poder calorífico, ou seja, a diferença entre o PCS e o PCI de um combustível é obtida subtraindo o calor de vaporização da água nos produtos, ou seja vap comb agua h m m PCSPCI ⋅−= [kJ/kg] sendo hvap (calor latente de vaporização da água) a 25 °C cerca de 2.400 kJ/kg. Por exemplo, para a combustão do metano tem-se que um mol de metano (CH4) produz dois moles de água (H2O). A massa de 1 kmol de CH4 é 16 kg e a de 2 kmol de H2O vale 36 kg. Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.6 Culp (1991) apresenta uma fórmula para o cálculo do PCS (kJ/kg) em função do PCI (kJ/kg) e da fração em massa do hidrogênio e da umidade do combustível (base úmida) para qualquer tipo de combustível, em base mássica. )H9W.(400.2PCIPCS t+=− [kJ/kg] Mason e Gandhi (1983 - apud Tomeczek, 1994) apresentam uma equação para o cálculo do PCS (kJ/kg), em base seca, do carvão mineral com composição química elementar conhecida. Nesta equação, deve-se utilizar a fração decimal dos constituintes do combustível. )NO(996.11A531.1S848.6H298.132C095.34PCS sssssss +⋅−⋅−⋅+⋅+⋅= [kJ/kg] Também para os combustíveis líquidos existem equações empíricas para o cálculo do PCS. Por exemplo, Lloyd e Davenport (apud Lozano, 1980) apresentam uma equação onde o PCS (cal/kg) pode ser determinado a partir da análise elementar em base seca: 6ssssss 10)S2,674+N1,42+O2,02-H27,144+C552,8(PCS ⋅⋅⋅⋅⋅⋅= [cal/kg] A determinação do PCS ou PCI de uma mistura de gases combustíveis é igual a soma do produto da fração mássica ou volumétrica de um componente individual pelo respectivo PCS ou PCI do componente. Dessa forma, se a composição conhecida está em base mássica, o PCS ou PCI deve estar nas unidades kJ/kg ou kcal/kg ou outra unidade equivalente. Por outro lado, se a composição conhecida está em base volumétrica, o PCS ou PCI deve estar nas unidades kcal/Nm3 ou kJ/Nm3 ou outra unidade equivalente, ou seja: ∑ = ⋅= n 1i ii s xPCSPCS ou ∑ = ⋅= n 1i ii s xPCIPCI Sendo: PCSi = é o PCS de cada componente (Tabela 2.4); PCIi = é o PCI de cada componente (Tabela 2.4); xi = é a fração mássica ou volumétrica de cada componente. Tabela 2.4 - Poder calorífico de alguns gases em base volumétrica (Borman e Ragland, 1998 e Grigoriev e Zorin, 1982) Gás PCS (MJ/Nm3) PCI (MJ/Nm3) Metano (CH4) 37,06 33,38 Etano (C2H6) 64,94 59,39 Propano (C3H8) 92,40 85,06 Butano (C4H10) 119,82 110,62 Pentano (C5H12) 158,20 146,00 Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.7 Etileno (C2H4) 58,72 55,03 Propileno (C3H6) 92,10 86,01 Butileno (C4H8) 121,12 113,20 Penteno (C5H10) 150,80 141,00 Benzeno (C6H6) 146,10 140,00 Acetileno (C2H2) 54,06 52,24 Monóxido de carbono (CO) 11,77 11,77 Hidrogênio (H2) 11,90 10,06 P = 1 atm e T = 20 °C Ravich (1977) sugere as seguintes equações para o cálculo do poder calorífico de combustíveis gasosos em kcal/Nm3, sendo o valor dos gases considerados estando em porcentagem. s 66 s 105 s 84 s 63 s 42 s 125 s 104 s 83 s 62 s 4 s 2 s 2 s HC350HC360HC290HC220 HC150HC377HC307HC237 HC166CH95SH61H5,30CO2,30PCS ⋅+⋅+⋅+⋅+ ⋅+⋅+⋅+⋅+ ⋅+⋅+⋅+⋅+⋅= e s 66 s 105 s 84 s 63 s 42 s 125 s 104 s 83 s 62 s 4 s 2 s 2 s HC335HC337HC271HC205 HC141HC349HC283HC218 HC152CH5,85SH56H8,25CO2,30PCI ⋅+⋅+⋅+⋅+ ⋅+⋅+⋅+⋅+ ⋅+⋅+⋅+⋅+⋅= 2.4- COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS Todos os combustíveis fósseis são resultados da fossilização da matéria orgânica, podendo ser de origem vegetal ou animal (o carvão é de origem predominantemente vegetal). A maior parte deles são hidrocarbonetos, e as composições típicas são: carbono, hidrogênio e oxigênio (Tabela 2.5). Esses compostos com fórmula química geral Cx(H2O)y, são produzidos pelas plantas nos processos de fotossíntese. A maior parte dos combustíveis fósseis foi gerada no período carbonífero da Era Paleozóica (por volta de 325⋅ milhões de anos atrás). Após a morte das plantas e animais, os compostos carboníferos foram convertidos, sob a ação de altas pressões e temperaturas, em compostos hidrocarbonetos com fórmula geral CnHm. Tabela 2.5 - Composição típica de alguns combustíveis.(percentual em massa) C H O N, S, etc. Petróleo ~ 75 ~ 25 - - Gás Natural 84 ~ 86 11 ~ 14 0 ~ 3 0 ~ 5 Carvão Mineral 78 ~ 95 ~ 7 1 ~ 15 1 ~ 5 Lenha 49 6 43 ~ 1 Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.8 Conforme apresentado na Tabela 2.1, os combustíveis fósseis podem ser divididos em cinco classes gerais: petróleo (e seus derivados), gás natural, carvão mineral, xisto e turfa. Devido a menor utilização do xisto e da turfa devido principalmente a questões econômicas, a seguir é feita apenas um breve comentário sobre suas formações, enquanto que para os três primeiros, uma descrição mais abrangente é realizada posteriormente. O xisto pode ser definido como um resíduo fóssil energético, de natureza sedimentar e formação mais recente do que a do petróleo. Neste resíduo predomina a rocha de natureza argilosa ou calcárea impregnada com substâncias orgânicas e inorgânicas, que em geral afloram na superfície terrestre. Há dois tipos de xisto: o denominado xisto betuminoso (permite remover o betume por simples ação de solvente) e o xisto piro-betuminoso (exige aquecimento através do qual se extrai alcatrões, óleo e outros produtos de menor importância). Suas reservas são consideráveis e o Brasil comparece com a maior reserva do planeta, com incidências distribuídas por toda a sua extensão territorial (Pera, 1990). Para fins de queima direta, as características mais importantes são o poder calorífico, teor de enxofre, natureza da matéria orgânica que impregna a rocha e sua umidade. Quanto ao poder calorífico, testes realizados no Brasil apresentaram valores superiores aos encontrados nas demais ocorrências mundiais, sendo os valores encontrados no xisto brasileiro situando entre 8.370 kJ/kg e 14.440 kJ/kg, enquanto que da média mundial situa-se entre 5.860 kJ/kg e 6.280 kJ/kg. A turfa é umproduto resultante da transformação parcial de vegetais e arbustos por ação prolongada de microorganismos e de agentes climáticos ou de grande precipitação pluvial, o que a torna um produto heterogêneo, a ponto de se distinguir três aflorações básicas: turfa hídrica (formada em regiões aquosas), turfa fibrosa (ocorrência em terrenos contendo resíduos vegetais plantados pelo homem) e turfa lenhosa (resultantes da decomposição parcial de arbustos ou árvores de grande porte). Sua ocorrência no Brasil também se estende a praticamente todo o território. Para fins energéticos, as propriedades de maior importância são a sua análise imediata, poder calorífico e umidade. Segundo Pera (1990), o PCS da turfa brasileira situa-se entre 16.890 kJ/kg e 27.630 kJ/kg. A Figura 2.1 apresenta as reservas de combustíveis fósseis para os diferentes continentes e regiões do mundo, podendo-se observar que estas reservas estão distribuídas de uma maneira extremamente desigual. Na Tabela 2.6 são apresentadas as reservas mundiais dos combustíveis fósseis, enfocando a relação reservas/consumo. Deve-se lembrar que estas reservas são limitadas e sua duração está relacionada com o consumo e à descoberta de novas jazidas e do estado da arte, o que leva a uma constante mudança a partir de novas descobertas ou da variação na taxa de consumo; observe-se ainda que para aumentar as reservas são necessários investimentos e isto é feito aos poucos. Pode-se constatar que as reservas de petróleo e gás, mantida a relação entre a produção e o consumo existentes, se esgotariam em 39,0 e 63,7 anos, respectivamente (ANP, 1999). O carvão mineral poderá ser o combustível mais utilizado nos próximos séculos, pois com o ritmo de consumo atual, suas reservas devem durar 236 anos (OLADE, 1994). Porém, cabe ressaltar que o carvão mineral, entre os combustíveis fósseis, é o mais poluente, daí o esforço no desenvolvimento de tecnologias limpas para consumo de carvão. Tabela 2.6 - Reservas comprovadas de petróleo e gás natural (ANP, 1999) e carvão mineral (OLADE, 1994) no mundo. Tipo de combustível Reservas Reservas/Consumo (ano base 1998), anos Petróleo (109 Barris) 1.053,1 39,0 Gás natural (1012 m3) 146,4 63,7 Carvão mineral (109 tons) 1.039,2 236,0 Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.9 0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0 Am ér ica d o No rte Am ér ica L at ina e C ar ibe Eu ro pa An tig a Un ião S ov iét ica Or ien te M éd io Áf ric a Ás ia e Au str áli a R es er va s em b ilh õe s de T E P Gás Natural Petróleo Carvão Mineral Figura 2.1 - Distribuição das reservas de combustíveis fósseis pelos diferentes continentes e regiões do mundo (OLADE, 1999). A seguir serão apresentadas as principais características de cada um dos principais combustíveis fósseis, bem como um panorama do consumo e das reservas no Brasil e no mundo. 2.5- PETRÓLEO O petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos que apresenta composição variável e dependente de fatores geológicos tais como a localização da jazida, a idade, a profundidade, etc. É uma substância líquida fóssil natural, de origem orgânica mista vegetal/animal, formada no subsolo ao longo de milhares de anos pela ação da temperatura e pressão. Os principais constituintes orgânicos do petróleo são os alcanos (ou parafinas - CnH2n+2), ciclanos (ou naftênicos - CnH2n), aromáticos (anel benzênico), compostos sulfurados, nitrogenados, oxigenados e metálicos e impurezas inorgânicas. Até que o petróleo alcance os consumidores finais ele deve passar por, pelo menos, 5 atividades: • Exploração: o ponto de partida na busca do petróleo é a exploração, que realiza os estudos preliminares para a localização de uma jazida. Nesta fase é necessário analisar muito bem o solo e o subsolo, mediante aplicações de conhecimentos de Geologia e de Geofísica, entre outros. A geologia realiza estudos na superfície que permitem um exame detalhado das camadas de rochas onde possa haver acumulação de petróleo. Quando se esgotam as fontes de estudos e pesquisas de Geologia, iniciam-se, então, as explorações Geofísicas no subsolo; • Perfuração: a perfuração é a segunda fase na busca do petróleo. Ela ocorre em locais previamente determinados pelas pesquisas Geológicas e Geofísicas. Para tanto, perfura-se um poço - o poço pioneiro - mediante o uso de uma sonda, que é o equipamento utilizado para perfurar poços. Esse trabalho é feito através de uma torre que sustenta a coluna de perfuração, formada por vários tubos. Na ponta do primeiro tubo encontra-se a broca, que, triturando a rocha, abre o caminho das camadas subterrâneas. Comprovada a existência de petróleo, outros poços são perfurados para se avaliar a extensão da jazida. Essa avaliação é que vai determinar se é comercialmente viável, ou não, produzir o petróleo descoberto. Caso positivo, o número de poços perfurados forma um campo de petróleo; Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.10 • Produção: revelando-se comercial, começa a fase da produção naquele campo. Nesta fase, o óleo pode vir à superfície espontaneamente, impelido pela pressão interna dos gases. Nesses casos temos os chamados poços surgentes. Quando, entretanto, a pressão fica reduzida, são empregados processos mecânicos, como, por exemplo, o cavalo-de-pau, equipamento usado para bombear o petróleo para a superfície, além de outros. Os trabalhos em mar seguem os mesmos critérios aplicados em terra, mas utilizam equipamentos especiais de perfuração e produção: as plataformas e os navios-sonda. Junto à descoberta do petróleo pode ocorrer, também, a do gás natural. Nas bacias sedimentares brasileiras, o gás natural, muitas vezes, encontra-se dissolvido no petróleo sendo separado durante as operações de produção. Tecnicamente chama-se a isto de gás associado ao petróleo. O petróleo e o gás descobertos não são totalmente extraídos (isto depende do nível de desenvolvimento tecnológico e da implantação ou não de métodos de estimulação de poços. Em geral, a média de extração num poço é de 40 % da reserva total). Boa parte deles pode ficar em disponibilidade para futura produção, em determinado momento estratégico. Dos campos de produção, seja em terra ou mar, o petróleo e o gás seguem para o parque de armazenamento, onde ficam estocados. Este parque é uma grande área onde se encontram instalados diversos tanques que se interligam por meio de tubulações; • Refino: Refinar petróleo é separar suas frações, processá-lo, transformando-o em produtos de grande utilidade: os derivados de petróleo. A instalação de uma refinaria obedece a diversos fatores técnicos, dos quais destacam-se a sua localização nas proximidades de uma região onde haja grande consumo de derivados e/ou nas proximidades das áreas produtoras de petróleo. A Petrobrás possui 11 refinarias, estrategicamente localizadas do norte ao sul do País (Figura 2.2). Responsáveis pelo processamento de milhões de barris diários de petróleo, essas refinarias suprem nosso mercado com todos os derivados que podem ser obtidos a partir do petróleo nacional ou importado: gasolina, óleos combustíveis e outros. Nesta figura também se incluem a LUBNOR (lubrificantes), a FAFEN-SE e FAFEN-BA (fertilizantes) e a SIX (xisto); • Transporte: o transporte na indústria petrolífera se realiza por oleodutos, gasodutos, navios petroleiros e terminais marítimos. Oleodutos e gasodutos são sistemas que transportam, respectivamente, o óleo e o gás, por meio de dutos (tubos) subterrâneos. Navios petroleiros transportam gases, petróleo e seus derivados e produtos químicos. Terminais marítimos são instalações portuárias para a transferência da carga dos navios para a terra e vice-versa. Segundo Regulamento Técnico N° 001/2000 da Portaria da ANP nº 009 de 21 de janeiro de 2000 (PANP 009/2000), o Petróleo é definido como todo e qualquer hidrocarboneto líquido em seu estado natural, a exemplo do óleo cru e condensado.Quanto às características físico- químicas, o Petróleo pode ser considerado como toda mistura de hidrocarbonetos existentes na fase líquida nas condições originais de reservatório e que permanece líquido nas condições normais de pressão e temperatura na superfície, possuindo viscosidade absoluta menor ou igual a 10 [kg/m⋅s] (10.000 centipoises), medida nas condições de temperatura original do reservatório e pressão de superfície. Quanto à densidade, referida a 20°C/20°C (temperatura petróleo/água), pode ser classificado em (PANP 009/2000): • Petróleo Leve - todo petróleo com densidade igual ou inferior a 0,87 (ou grau API igual ou superior a 31°); • Petróleo Mediano - todo petróleo com densidade superior a 0,87 e igual ou inferior a 0,92 (ou grau API igual ou superior a 22° e inferior a 31°); • Petróleo Pesado - todo petróleo com densidade superior a 0,92 e igual ou inferior a 1,00 (ou grau API igual ou superior a 10° e inferior a 22°); Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.11 • Petróleo Extrapesado - todo petróleo com densidade superior a 1,00 (ou grau API inferior a 10°). Figura 2.2 - Localização das refinarias da Petrobrás (1999). O petróleo tal qual é extraído do subsolo é inadequado ao uso industrial, devendo ser submetido a um processo de destilação fracionada separando produtos de emprego distintos (Figura 2.3). A qualidade e característica do petróleo determinam a faixa de extração de cada componente principal, embora existam processos, como o craqueamento, que permitem pequena variação no ajuste. A Figura 2.4 mostra típicos produtos finais a partir do petróleo bruto americano (Borman e Ragland, 1998) e brasileiro (ANP, 1999). O petróleo por ser um composto de ampla utilização tanto como combustível como também em indústrias químicas onde se constitui matéria prima de vários produtos, tem sido na história mundial, fonte de conflitos. Uma das principais razões desse problema reside na distribuição demográfica não homogênea das reservas mundiais, conforme pode ser verificado na Tabela 2.7. Estes conflitos geraram várias guerras e fizeram com que o preço do petróleo tenha atingido altos valores históricos, conforme mostra a Figura 2.5. No Brasil, segundo ANP (1999), o valor das reservas totais de petróleo para o ano de 1998 era de 2,296⋅109 m3 (ou 14,441⋅109 barris), enquanto que o valor das reservas provadas situa-se em 1,170⋅109 m3 (ou 7,357⋅109 barris). Portanto, pode-se concluir que somente cerca de metade das reservas totais descobertas são confirmadas. A produção nacional, segundo ainda dados da ANP, no ano de 1998, estava por volta de 56,587⋅106 m3 (ou 355,921⋅106 barris) o que resulta em 40 anos para se esgotar, considerando as reservas totais atuais ou por volta de 20 anos considerando apenas as reservas provadas; isto só é aplicado no caso de não existir quaisquer outras descobertas no futuro, o que é pouco provável. A Tabela 2.8 apresenta os dados de reservas totais, provadas, e o consumo de petróleo para cada região do Brasil, considerando ainda Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.12 a sua procedência (mar ou terra). A Tabela 2.9 mostra os dados da produção de derivados de petróleo nas refinarias nacionais. Ambas as tabelas foram baseadas nos dados fornecidos pelo anuário da ANP (1999). 0 100 200 300 400 500 600 0 20 40 60 80 100 Volume pe rce ntual acumulativ o T e m p e ra tu ra d e e v e p o ra çã o ( C ) Butano e compostos mais leves Gasolina Nafta Querosene Gas-óleo Resíduos Figura 2.3 - Curva de destilação do óleo cru e suas frações segundo a temperatura de evaporação dos produtos (Leffler, 1985). Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.13 GLP (3,7%) / [7,8%] Gás de refinaria (2,9%) Nafta (1,3%) / [8,3%] Gasolina automotiva (38,9%) / [22,7%] Gasolina de avião (0,2%) / [0,1%] Querosene de aviação (5,6%) / [4,4%] Diesel e óleo combustível (18,2%) Diesel [34,0%] e óleo combustível [18,7%] Querosene iluminante (0,8%) / [0,1%] Óleo combustível residual (16,6%) Matéria prima para petroquímica (5,9%) Graxas e lubrificantes (0,9%) / [0,9%] Asfalto (2,3%) / [2,3%] Coque, cera (2,5%) / Parafina [0,1%] Perdas brutas e gás (0,2%) / Solvente [0,5%] Figura 2.4 - Típicos produtos finais do petróleo bruto. Uma simples refinaria produz apenas alguns dos produtos acima. As porcentagens entre parênteses referem-se à produção global de uma refinaria americana, segundo Borman e Ragland (1998), e aquelas entre colchetes, a uma brasileira (ANP,1999). Tabela 2.7 - Distribuição das reservas e da produção de petróleo no mundo. (ANP, 1999) Reservas mundiais provadas de petróleo Produção mundial de petróleo 109 barris % 103 barris/dia % Am. Latina e Caribe 137,5 13 10.290 14 África 75,4 7 7.713 10 Oriente Médio 673,7 64 22.464 31 Antiga União Soviética 65,4 6 7.660 10 América do Norte 37,3 4 10.691 15 Ásia e Oceania 43,1 4 8.368 11 Europa 20,7 2 6.853 9 Mundo 1.053,1 100 74.039 100 Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.14 Tabela 2.8 - Dados de reservas totais, provadas e consumo de petróleo no Brasil. (ANP, 1999) Reservas nacionais totais 103 m3 (106 barris) Reservas nacionais provadas 103 m3 (106 barris) Produção nacional 103 m3 (106 barris) Terra 186.393,0 (1.172,4) 124.627,0 (783,9) 12.351,4 (77,7) Amazonas 25.546,0 (160,7) 20.287,0 (127,6) 1.891,0 (11,9) Ceará 4.469,0 (28,1) 838,0 (5,3) 186,1 (1,2) Rio Grande do Norte 62.730,0 (394,6) 37.215,0 (234,1) 5.011,4 (31,5) Alagoas 2.961,0 (18,6) 2.001,0 (12,6) 247,5 (1,6) Sergipe 34.393,0 (216,3) 30.235,0 (190,2) 1.432,0 (9,0) Bahia 43.994,0 (276,7) 28.921,0 (181,9) 2.867,0 (18,0) Espírito Santo 12.300,0 (77,4) 5.130,0 (32,3) 515,9 (3,2) Mar 2.109.462,0 (13.268,1) 1.045.083,0 (6.573,4) 44.235,6 (278,2) Ceará 14.392,0 (90,5) 10.341,0 (65,0) 664,5 (4,2) Rio Grande do Norte 19.017,0 (119,6) 9.425,0 (59,3) 477,4 (3,0) Alagoas 527,0 (3,3) 439,0 (2,8) 34,6 (0,2) Sergipe 10.013,0 (63,0) 5.000,0 (31,4) 609,6 (3,8) Bahia 1.990,0 (12,5) 1.727,0 (10,9) 96,8 (0,6) Espírito Santo 131,0 (0,8) 87,0 (0,5) 32,1 (0,2) Rio de Janeiro 2.053.686,0 (12.917,3) 1.011.513,0 (6.362,2) 41.647,2 (262,0) São Paulo 1.139,0 (7,2) 1.139,0 (7,2) 199,1 (1,3) Paraná 8.567,0 (53,9) 5.412,0 (34,0) 474,3 (3,0) Brasil 2.295.855,0 (14.440,5) 1.169.710,0 (7.357,3) 56.587,0 (355,9) Obs: inclui óleo e condensado. Tabela 2.9 - Produção de derivados de petróleo nas refinarias nacionais em 1998. (ANP, 1999) Descrição 103 m3 106 barris Gasolina automotiva 19.585,7 123,2 Gasolina de aviação 108,9 0,7 Querosene iluminante 75,7 0,5 Querosene de aviação 3.765,4 23,7 Óleo Diesel 29.336,3 184,5 Óleo lubrificante 772,8 4,9 Solvente 426,3 2,7 Nafta 7.158,6 45,0 Óleo combustível 16.099,5 101,3 Gás liquefeito de petróleo 6.735,7 42,4 Parafina 126,5 0,8 Asfalto 2.009,4 12,6 Total 86.200,9 542,3 Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.15 1 - ‘Boom’ do petróleo na Pensilvânia; 2 - Início das exportações de petróleo na Rússia; 3 - Início de produção na Sumatra; 4 - Descoberta de jazidas em Spindletop, Texas, 5 - Medo de escassez nos EUA, 6 - Crescimento da produção na Venezuela; 7 - Descoberta de campos no leste do Texas; 8 - Reconstrução pós-guerra; 9 - Perda do fornecimento Iraniano; 10 - Crise no canal de Suez; 11 - Guerra de Yom-Kippur - 1a crise (1973); 12 - Revolução Iraniana - 2a crise (1979); 13 - Netback pricing introduced; 14 - Invasão do Kuwait pelo Iraque. Figura 2.5 - Comportamento do preço do petróleo a partir de 1861 até 1998. (adaptado de BP Amoco, 1999) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 7 2 3 4 5 6 1 8 9 10 12 11 14 13 US$ por barril 1861 - 69 1870 - 79 1880 - 89 1890 - 99 1900 - 09 1910 - 19 1920 - 29 1930 - 39 1940 - 49 1950 - 59 1960 - 69 1970 - 79 1980 - 89 1990 - 98 Dólar de 1998 Dólardo dia Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.17 2.6- ÓLEO COMBUSTÍVEL Entende-se por óleo combustível as frações residuais da destilação do petróleo. Quimicamente, os óleos combustíveis são constituídos de hidrocarbonetos de peso molecular elevado, apresentando constituintes parafínicos, naftênicos, aromáticos e oleofínicos, cujas proporções dependem do petróleo e dos processos utilizados. Os óleos combustíveis industriais no Brasil são produzidos basicamente a partir do resíduo de destilação a vácuo. Em algumas refinarias, o resíduo de vácuo é ainda processado em unidades de desasfaltação a propano, produzindo uma corrente denominada resíduo asfáltico (RASF) que é também a base para a fabricação dos óleos combustíveis. Os resíduos de vácuo e asfáltico são extremamente viscosos, sendo necessário adicionar a eles óleos mais leves de modo a enquadrar a viscosidade do óleo combustível na faixa exigida pela legislação vigente. O óleo combustível é um dos principais derivados do petróleo, sendo muito utilizado na indústria, na geração de energia elétrica e em sistemas de aquecimento, devido principalmente ao seu baixo preço. A Portaria da ANP nº 80, de 30 de abril de 1999 (PANP 080/99) especifica os óleos combustíveis de origem nacional ou importada a serem comercializados em todo o território nacional, e cujas especificações de que trata a portaria aplicam-se tanto aos óleos combustíveis de origem nacional como aos importados. Ou seja, os óleos combustíveis comercializados em todo o território nacional deverão estar de acordo com as especificações estabelecidas pelo regulamento técnico mencionado. Os óleos combustíveis, especificados no presente Regulamento, são óleos residuais de alta viscosidade, obtidos do refino do petróleo ou através da mistura de destilados pesados com óleos residuais de refinaria. São utilizados como combustível pela indústria de modo geral, em equipamentos destinados a geração de calor tais como fornos, caldeiras e secadores, ou indiretamente em equipamentos destinados a produzir trabalho a partir de uma fonte térmica (turbinas ou geradores). A utilização do óleo combustível para a geração de calor em fornos e caldeiras exige, inicialmente, o seu aquecimento para reduzir a viscosidade, favorecendo o seu escoamento e a sua nebulização. A atomização, ou seja, a redução do óleo a pequenas gotículas para propiciar o máximo de mistura com o ar e sua vaporização, é feita através de sistemas auxiliares, utilizando- se queimadores ou maçaricos. Para se obter uma boa combustão do óleo é necessário que haja uma atomização adequada do mesmo. Esta atomização pode ser feita mecanicamente ou através do uso de um fluido dispersor como vapor ou ar comprimido. O parâmetro fundamental para uma maior ou menor dificuldade de atomização do óleo é a sua viscosidade. A faixa usual de viscosidade que permite obter uma queima eficiente é de 32 a 45 cSt (centistokes) no bico queimador (ANP, 2000). Assim, para qualquer óleo, inclusive os ultraviscosos, basta aquecê-lo até uma temperatura específica para que a sua viscosidade caia nesta faixa onde se terá uma boa queima. Além de serem manuseados aquecidos, devem ser homogêneos, livres de ácidos inorgânicos e isentos, tanto quanto possível, de partículas sólidas ou fibrosas, partículas estas que determinam a freqüência necessária da limpeza ou troca dos filtros de combustíveis. As características contempladas pela portaria PANP 080/99 são aquelas de maior importância para a determinação do melhor desempenho deste produto e seu menor impacto ambiental, para as finalidades em que são mais comumente utilizados. Na seqüência é feita uma breve descrição das mesmas: • Viscosidade - a viscosidade de um fluido é a medida da sua resistência ao escoamento a uma determinada temperatura. É uma das características de maior importância do óleo combustível, que determinará as condições de manuseio e transporte (alimentação). Também é um parâmetro importante no estudo da intercambiabilidade de combustíveis líquidos, permitindo definir o diâmetro da gota quando necessário substituir por outro combustível. A viscosidade de um Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.18 líquido pode mudar apreciavelmente com uma mudança na temperatura do líquido, porém varia pouco com a pressão. Por exemplo, sabe-se que um óleo quente está mais ‘fino’ do que um óleo frio. Assim, é necessário conhecer sempre a temperatura do fluido quando a viscosidade é medida. Pode ser medida diretamente por alguns aparelhos como o viscosímetro de Ostwald de Covette. Na prática, geralmente mede-se a viscosidade relativa, referida a um fluido padrão, visto obter resultados menos sensíveis a erros. O valor da viscosidade, neste caso, é expressa em unidades arbitrárias, como é o caso da viscosidade em graus Engler, viscosidade Saybolt e graus Redwood (Pera, 1990). A viscosidade Engler mede-se pelo tempo que certa quantidade de óleo (200 ml), mantido à temperatura constante, escoa através de um orifício calibrado, em condições padrões. Dividindo-se este tempo, pelo obtido no escoamento de mesmo volume de água, mantido a 20 °C, pelo mesmo orifício, obtém-se a viscosidade Engler, cujas temperaturas usuais são 20, 50 e 100 °C. A viscosidade Saybolt corresponde ao tempo, em segundos, necessário para escoar uma amostra de 60 ml, a uma determinada temperatura mantida constante durante o ensaio, através de um orifício calibrado. As temperaturas de ensaio mais comuns são 10, 38 e 99 °C. Se o orifício for universal, a viscosidade será denominada Viscosidade Saybolt Universal. Se o orifício for chamado Furol, o valor obtido fornecerá a Viscosidade Saybolt Furol. O orifício Furol é 10 vezes maior que o orifício Universal e geralmente aplicado nas determinações para derivados de petróleo que apresentam viscosidades maiores que do que 1.000 segundos Saybolt Universal. A palavra Furol é a abreviação de “Fuel and Road Oils” (Pera, 1990). A Tabela 2.10 mostra a conversão das unidades de viscosidade para bases diferentes. Tabela 2.10 - Conversão de unidades de viscosidade. De para multiplicar por Centipoise N⋅s/m2 10-3 Poise N⋅s/m2 0,1 kgf⋅s/m2 N⋅s/m2 9,80665 °Engler N⋅s/m2 410)0631,0E073,0( −⋅−°⋅ °Engler Poise 610) E 0631,0 E073,0( −⋅ ° −°⋅ °Engler Redwood 30,75 °Engler Saybolt 34,55 Stokes (cm2/s) m2/s 10-4 Redwood °Engler 0,03254 Saybolt °Engler 0,02395 N⋅s/m2 kgf⋅s/m2 0,10197 • Enxofre - o teor de enxofre de um óleo combustível depende da origem do petróleo e do processo através do qual foi produzido. Deve ser limitado por atuar nos processos de corrosão na fornalha (ou câmara de combustão) e causar emissões poluentes (SOX); • Água e Sedimentos - o excesso desses contaminantes poderá causar problemas nos filtros e queimadores bem como formar emulsões de difícil remoção. A presença de água é também uma das responsáveis pela corrosão nos tanques de estocagem. Na presente especificação (PANP 080/99) ela é determinada somando-se os resultados obtidos nos ensaios de Água por Destilação e Sedimentos por Extração; • Ponto de Fulgor - é definido como a menor temperatura na qual o produto se vaporiza em quantidades suficientes para formar com o ar uma mistura capaz de inflamar-se Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.19 momentaneamente quando se aplica uma centelha sobre a mesma. É um dado de segurança para o manuseio do produto e uma ferramenta utilizada para detectar a contaminação do óleo combustível por produtos mais leves; • Densidade Relativa a 20/4ºC - é a relação entre a massa específica do produto a 20°C e a massa específica da água a 4°C. Como dado isolado tem pouco significado no que diz respeito ao desempenho de queima do óleo combustível. No entanto, associado a outras propriedades pode- se determinar o poder calorífico superior e desta maneira permitir a determinação da eficiência dos equipamentos onde esta sendo consumido; • Ponto de Fluidez- é a menor temperatura na qual o óleo combustível flui quando sujeito a resfriamento sob condições determinadas de teste. Ele estabelece as condições de manuseio e estocagem do produto. Especificam-se limites variados para esta característica, dependendo das condições climáticas das regiões, de modo a facilitarem as condições de uso do produto; • Teor de Vanádio - metal encontrado com freqüência no petróleo, sendo o seu limite máximo especificado para o óleo combustível, a fim de se prevenir a formação de depósitos por incrustação nas superfícies externas de tubos aquecidos. Estes depósitos causam a corrosão e a perda da eficiência térmica dos equipamentos. A verificação das características do óleo combustível far-se-á mediante o emprego de Normas Brasileiras Registradas - NBR e Métodos Brasileiros - MB da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT e dos métodos da American Society for Testing and Materials - ASTM, observando-se sempre os de publicação mais recente. A análise do produto deverá ser realizada em amostra representativa do produto segundo método ASTM D 4057 - Practice for Manual Sampling of Petroleum and Petroleum Products. As Tabelas 2.11, 2.12, 2.13, 2.14 2.15, 2.16 e 2.17 a seguir apresentam as normas específicas para cada uma das propriedades descritas anteriormente, ou seja, viscosidade cinemática, ponto de fulgor, densidade, água e sedimentos, enxofre, ponto de fluidez e teor de vanádio, respectivamente. Tabela 2.11 - Viscosidade cinemática. NBR 10441:1998 Produtos de petróleo - Líquidos transparentes e opacos - Determinação da viscosidade cinemática e cálculo da viscosidade dinâmica. NBR 5847:1973 Material betuminoso - Determinação da viscosidade absoluta. MB 326 Método de ensaio para determinação da viscosidade de produtos de petróleo. ASTM D 2171 Test Method for Viscosity of Asphalts by Vacuum Capillary Viscometer. ASTM D 445 Test Method for Kinematic Viscosity of Transparent and Opaque Liquids (and the Calculation of Dynamic Viscosity). ASTM D 88 Test Method for Saybolt Viscosity. Tabela 2.12 - Ponto de fulgor. MB 48 Determinação do Ponto de Fulgor (Método pelo vaso fechado Pensky Martens). ASTM D 93 Test Method for Flash Point by Pensky - Martens Closed Cup Tester. Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.20 Tabela 2.13 - Densidade. NBR 7148:1992 Petróleo e Derivados - Determinação da densidade - Método do densímetro. NBR 14065:1998 Destilados de petróleo e óleos viscosos - Determinação da massa específica e da densidade relativa pelo densímetro digital. ASTM D 1298 Practice for Density, Relative Density (Specific Gravity) or API Gravity of Crude Petroleum and Liquid Petroleum Products by Hydrometer Method. ASTM D 4052 Test Method for Density and Relative Density of Liquids by Digital Density Meter. Tabela 2.14 - Água e sedimentos. NBR 14236:1998 Produtos de petróleo e materiais betuminosos - Determinação do teor de água por destilação. ASTM D 95 Test Method for Water in Petroleum Products and Bituminous Materials by Distillation. MB 294 Método de ensaio para a determinação de sedimentos em petróleos e óleos combustíveis -Método por Extração. ASTM D 473 Test Method for Sediment in Crude Oils and Fuel Oils by the Extraction Method. Tabela 2.15 - Enxofre. MB 902 Determinação de enxofre em produtos de petróleo-Método de alta temperatura. ASTM D 1552 Test Method for Sulfur in Petroleum Products (High -Temperature Method). ASTM D 2622 Test Method for Sulfur in Petroleum Products by X - Ray Spectrometry. ASTM D 4294 Test Method for Sulfur in Petroleum Products by Energy Dispersive X - Ray Fluorescence Spectroscopy Tabela 2.16 - Ponto de fluidez. NBR 11349:1990 Produtos de petróleo - Determinação do ponto de fluidez. ASTM D 97 Test Method for Pour Point of Petroleum Products. Tabela 2.17 - Teor de Vanádio. ASTM D 5863 Test Method for Determination of Nickel, Vanadium, Iron, and Sodium in Crude Oils, and Residual Fuels by Flame Atomic Absorption Spectrometry. ASTM D 5708 Test Method for Determination of Nickel, Vanadium, and Iron in Crude Oils and Residual Fuels by Inductively Coupled Plasma Atomic Emission Spectrometry A partir de 1986 os óleos combustíveis no Brasil passaram a ser classificados em dois grandes grupos: o grupo “A” e o grupo “B”. No grupo “A” concentravam-se aqueles com alto teor de enxofre (maiores do que 1 % e menores do que 5,5 %), e no grupo “B” concentravam-se aqueles de baixos teores de enxofre (menores ou iguais a 1 %). Cada um destes grupos dividia-se em nove tipos de óleos, de acordo com suas viscosidades. Existia ainda o óleo tipo “C”, de Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.21 viscosidade muito baixa e sem especificação do teor de enxofre. Portanto, eram especificados dezenove tipos de óleo. A Tabela 2.18 apresenta alguns deles (os mais utilizados para a geração de calor e energia elétrica) bem como as suas principais características. Tabela 2.18 - Características dos Óleos Combustíveis produzidos pela Petrobras. (CSN, 2000) Óleo combustível (Tipo) Viscosidade (SSF) 50 oC (máx.) Densidade (20 oC/4 oC) Enxofre (% peso) Ponto de fulgor (oC) Ponto de fluidez (oC) PCS (kcal/kg) PCI (kcal/kg) 1 A 600 1,003 2,20 85 13 10.221 9.663 2 A 900 1,007 2,80 105 6 10.088 9.552 3 A 2.400 1,010 2,85 103 14 10.079 9.552 4 A 10.000 1,013 3,50 100 > 50 10.218 9.663 7 A 300.000 1,027 4,30 160 > 50 10.140 9.597 8 A 1.000.000 1,030 4,90 240 > 50 9.716 9.419 1 B 600 0,965 0,80 82 7 10.428 9.838 2 B 900 0,976 0,74 85 12 10.107 9.819 3 B 2.400 0,979 1,00 80 32 10.628 10.008 4 B 10.000 0,980 1,00 92 > 50 10.534 9.919 7 B 300.000 1,015 0,91 240 > 50 10.224 9.686 Tabela 2.18 (continuação) - Características dos Óleos Combustíveis produzidos pela Petrobras. (CSN, 2000) Óleo combustível (Tipo) Cinzas (% peso) Asfalteno (% peso) Resíduo carbono (% peso) Metais (ppm) Composição (% peso) Sódio Vanádio Cálcio Potássio Ferro Carbono Hidrogênio 1 A 0,07 6,5 11,7 33 94 6,0 3,0 15 85,2 10,8 2 A 0,05 5,7 11,3 22 77 2,6 3,2 19 85,3 10,4 3 A 0,06 6,5 8,7 22 122 7,7 2,2 30 85,8 10,3 4 A 0,06 7,3 9,5 23 192 5,0 3,0 25 86,2 10,2 7 A 0,09 8,4 12,4 56 235 8,0 5,0 24 86,5 10,7 8 A 0,05 8,5 6,2 15 170 8,0 7,0 21 86,9 11,0 1 B 0,04 7,0 12,5 16 40 2,2 0,1 15 85,6 11,3 2 B 0,02 5,7 9,8 26 39 4,6 2,2 13 87,3 11,1 3 B 0,04 7,8 8,2 100 41 9,0 6,0 23 87,1 11,4 4 B 0,05 8,1 10,3 27 46 7,0 4,0 18 87,4 11,2 7 B 0,05 8,2 15,5 41 53 8,0 0,6 23 86,1 11,1 1) - Os valores representam a média dos produtos produzidos pelas refinarias; 2) - Por se tratarem de produtos residuais os valores são garantidos conforme Regulamento Técnico no 09/82 - Rev.1 da Resolução CNP 03/86. Dos dezenove tipos de óleo especificados, apenas quatro (1 A, 1 B, 2 A e 2 B) respondem por cerca de 65 % do mercado. Os demais óleos são de distribuição regional, restritos às áreas de influência das refinarias. Este fato, aliado à necessidade de adequação da especificação do óleo combustível aos padrões internacionais e à nova política de preços, fez com que fosse realizada uma nova especificação para este produto, publicada na Portaria da ANP nº 80, de 30 de abril de 1999 (PANP 080/99). De acordo com esta portaria, apenas quatro tipos de óleo foram especificados, conforme Tabela 2.19. As siglas OCB1 e OCA1 significam, respectivamente, óleo combustível com baixo teor de enxofre e baixa viscosidade e óleo combustível com alto teor de enxofre e baixa viscosidade. As siglas OCB2 e OCA2 significam, respectivamente, óleo combustível com baixo teor de enxofre e alta viscosidade e óleo combustível com alto teor de enxofre e alta viscosidade. Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.22 Tabela 2.19 - Especificação de óleos combustíveis. (PANP 080/99) CARACTERÍSTICA UNIDADE MÉTODO TIPO ABNT ASTM OCB1 OCA1 OCB2 OCA2Viscosidade Cinemática a 60°C, máxima mm²/s (cSt) NBR 10441 / NBR 5847 D445 / D2171 620 620 960 960 Viscosidade Saybolt Furol a 50°C, máxima SSF MB 326 D88 600 600 900 900 Enxofre, máximo % massa MB 902 D1552 / D2622 / D4294 1,0 2,5 1,0 2,5 Água e Sedimentos, máximo (3) % volume MB 37 / MB294 D95 e D473 2,0 2,0 2,0 2,0 Ponto de Fulgor, mínimo °C MB 48 D93 66 66 66 66 Densidade 20/4°C - NBR 7148 / NBR 14065 D1298 / D4052 Anotar Anotar Anotar Anotar Ponto de Fluidez Superior, máximo °C NBR 11349 D97 (4) (4) Vanádio, máximo mg/kg D5863 / D5708 200 200 200 200 Observações: (1) Todos os limites especificados são valores absolutos, de acordo com a norma ASTM E 29. (2) A comercialização de óleos combustíveis com viscosidades e teores de enxofre diferentes dos indicados nesta tabela deve atender ao disposto no artigo 4º desta Portaria. (3) É reportado como teor de água e sedimentos a soma dos resultados dos ensaios de água por destilação e sedimentos por extração. Uma dedução no volume fornecido deverá ser feita para toda a água e sedimentos que exceder a 1% vol. (4) O ponto de fluidez superior deverá ser, no máximo, igual ao indicado na Tabela que se segue: Ponto de fluidez superior, [°C]. (PANP 080/99) Unidades da Federação Dez, Jan, Fev, Mar Abr, Out, Nov Mai, Jun, Jul, Ago, Set DF-GO-MG-ES-RJ 27 24 21 SP-MS 24 21 18 PR-SC-RS 21 18 15 Demais regiões 27 27 24 Com relação ao teor de enxofre, ficaram vedadas a comercialização e a utilização, em todo o território nacional, de óleos combustíveis com teores superiores aos estabelecidos abaixo, observando as datas limites: • 1,0% em massa: nas regiões metropolitanas de São Paulo, Baixada Santista, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, conforme o seguinte cronograma: a partir de 01/05/1999 - São Paulo e Baixada Santista; a partir de 01/07/1999 - Belo Horizonte; a partir de 01/11/1999 - Rio de Janeiro; a partir de 01/01/2000 - Porto Alegre e Curitiba • 2,5% em massa: nas demais regiões do País; Esta nova especificação para o óleo combustível, cujas características e limites demonstram um avanço na qualidade em relação aos limites anteriormente especificados, foi o início de um processo de qualificação do óleo combustível, a fim de atender aos padrões internacionais. Segundo dados da Petrobrás, o valor da qualidade média dos atuais óleos produzidos por ela, baseados na média de todas as refinarias, pode ser observado na Tabela 2.20. Comparando-se a especificação antiga com a atual pode-se notar algumas diferenças: Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.23 com relação ao teor de enxofre foram especificados dois tipos de óleo: 1,0 % e 2,5 %, equivalentes aos anteriores “B” (até 1,0 % S) e “A” (até 5,0 % S), respectivamente. Além disso, a comercialização de óleos com teores de enxofre acima de 2,5 % até o limite de 4,0 % só serão permitidos mediante ao atendimento da legislação ambiental vigente; • quanto a viscosidade, foram especificados dois tipos: 620 e 960 centistokes, equivalentes aos antigos óleos 1 e 2; • o vanádio, um dos metais de maior influência na corrosão nos equipamentos durante o processo de combustão do óleo, foi finalmente contemplado na especificação brasileira, tal e como é feito em vários países; • o limite mínimo especificado para o controle do ponto de fulgor, característica fundamental de segurança para o manuseio do produto, está compatível com os níveis médios internacionais. Tabela 2.20 - Valor da qualidade média dos OC produzidos na Petrobras. (Petrobras, 2000) Tipo Dens. 20/4 Enxofre (% p) P. Fulgor (ºC) Cinzas (% p) BSW (% v) Visc 60ºC (cSt) PCS kcal/kg PCI kcal/kg Asfalteno (% p) V (ppm) C (%p) H (%p) N (%p) A1 1,03 2,8 95 0,05 0,10 568,4 9.981 9.487 7,3 77 87,1 9,5 0,5 B1 0,95 0,6 98 0,02 0,04 524,6 10.340 9.820 4,7 23 87,0 12,0 0,5 A2 1,03 3,1 97 0,06 0,08 823,2 9.988 9.502 8,1 105 86,3 9,4 0,5 B2 0,98 0,8 80 0,05 0,09 899,1 10.150 9.660 6,5 70 87,2 11,2 0,6 3 A 1,04 2,8 102 0,06 0,09 2.055 9.983 9.505 9,4 115 87,3 9,5 0,6 3 B 0,99 0,6 105 0,01 0,01 1.935 10.360 9.840 7,6 22 87,0 10,5 0,4 4 A 1,04 2,9 113 0,05 0,09 6.009 9.998 9.545 9,8 80 86,4 9,6 0,6 6 B 0,99 0,6 106 0,01 0,01 32.857 10.350 9.840 8,6 26 87,4 10,4 0,3 7 A 1,06 2,9 131 0,06 0,09 127.177 9.992 9.544 12,2 144 86,1 10,0 0,8 7 B 1,05 0,9 130 0,05 0,12 140.498 10.100 9.620 9,4 75 87,1 11,1 0,7 9 A 1,07 1,2 128 0,05 0,08 3.688.736 10.042 9.525 15,1 84 87,3 10,2 1,1 Obs: Os valores são uma média dos óleos de um mesmo tipo produzido por todas as Refinarias da Petrobras, não servindo para caracterizar a qualidade produzida por uma Refinaria. As Figuras 2.6, 2.7, 2.8, 2.9, 2.10 e 2.11 apresentam uma comparação entre os dados mencionados na especificação PANP 080/99, com relação a algumas especificações internacionais (ANP, 2000). A sequência entre as barras do gráfico e a legenda é: barras - da esquerda para a direita e legenda - de cima para baixo. Viscosidade a 50 °C (cSt) - máximo 80 180 200 260 432 530 620 630 960 Tailândia Japão/N. Zelândia Austrália Filipinas USA/Canadá R. Dominicana Brasil (OC-A) Argentina Brasil (OC-B) Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.24 Figura 2.6 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais da viscosidade a 50 °C (cSt), considerando os valores máximos. (ANP, 2000) Teor de enxofre (% m) - máximo 0,4 0,8 1 1 1,5 1,5 2,5 3 3,5 4 4,5 Japão Suécia USA/Canadá/Alemanha Brasil (OC-B) Dinamarca Argentina Brasil (OC-A) Tailândia UK/N. Zelândia Filipinas R. Dominicana Figura 2.7 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais do teor de enxofre (% em massa), considerando os valores máximos. (ANP, 2000) Ponto de fulgor (°C) - mínimo 60 62 63 65 66 68 70 101 Argentina/Suécia Filipinas N. Zelândia Austrália Brasil/USA/Canadá UK/Dinamarca Japão Alemanha Figura 2.8 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais do ponto de fulgor (°C), considerando os valores mínimos. (ANP, 2000) Ponto de fluidez (°C) - máximo 18 20 21 24 27 30 40 42 50 Argentina Japão R. Dominicana/Austrália Filipinas/N. Zelândia Brasil/Dinamarca UK/Suécia Alemanha USA/Canadá Japão Figura 2.9 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais do ponto de fluidez (°C), considerando os valores mínimos. (ANP, 2000) Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.25 Vanádio (mg/kg) 120 125 175 200 200 300 450 N. Zelândia USA/Canadá Filipinas Brasil Austrália UK R. Dominicana Figura 2.10 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais do teor de vanádio (mg/kg), considerando os valores máximos. (ANP, 2000) PCI (kcal/kg) - mínimo calculado 9032 9334 9397 9403 9414 9420 9598 9606 9654 Brasil (OC-A) UK Austrália Filipinas N. Zelândia Brasil (OC-B) Suécia Alemanha USA/Canadá Figura 2.11 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais do poder calorífico inferior, considerando os valores mínimos calculados. (ANP, 2000) 2.7- GÁS NATURAL Gás natural é todo hidrocarboneto ou mistura de hidrocarbonetos que permaneça em estado gasoso nas condições atmosféricas normais (PANP 009/2000), resultantes da decomposição da matéria orgânica fóssil no interior da Terra. No seu estado bruto, como encontrado na natureza, o gás natural é composto principalmente por metano, além de apresentar proporções de etano, propano, butano, hidrocarbonetos mais pesados e também, porém em menores proporções, CO2, N2, H2S, água, ácido clorídrico e outras impurezas. É extraído diretamente a partir de reservatórios petrolíferos ou gasíferos, incluindo gases úmidos, secos, residuais e gases raros. A proporção em que o petróleo e o gás natural se encontram misturados na natureza varia muito. Pode ocorrer petróleo com muito pouco gás associado, bem como jazidas em que há quase exclusivamente a presença do gásnatural. Quando há predominância do petróleo, quem define as condições de exploração da jazida é a produção de petróleo e, então, o gás natural associado (gás natural produzido de jazida onde Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.26 ele é encontrado dissolvido no petróleo ou em contato com petróleo subjacente saturado de gás - PANP 009/2000), dissolvido no óleo ou sob forma de capa de gás, é um subproduto da produção do primeiro. Não havendo condições econômicas para o aproveitamento do gás natural, ele é reinjetado na jazida ou queimado em queimadores de segurança (flare), para se evitar uma atmosfera rica em gases combustíveis nas vizinhanças das instalações de produção. Quando o gás é dominante, ou seja, gás natural não associado (gás natural produzido de jazida de gás seco ou de jazida de gás e condensado (gás úmido) - PANP 009/2000), aquele que, no reservatório, está livre ou em presença de quantidades muito pequenas de óleo, o seu aproveitamento econômico é condição essencial ao desenvolvimento da produção. As maiores ocorrências de gás no mundo são de gás não associado ao petróleo. A Figura 2.12 representa cada uma das categorias deste combustível. Figura 2.12 - Reservatórios de gás associado e gás não associado. Até chegar ao consumidor final, o gás natural passa pelos seguintes processos: (CONPET, 2000) • Exploração: a exploração é a etapa inicial do processo e consiste em duas fases: a pesquisa, onde é feito o reconhecimento e o estudo das estruturas propícias ao acúmulo de petróleo e/ou gás natural, e a perfuração do poço, para comprovar a existência desses produtos em nível comercial; • Produção: ao ser produzido, o gás deve passar inicialmente por vasos separadores, que são equipamentos projetados para retirar a água, os hidrocarbonetos que estiverem em estado líquido e as partículas sólidas (pó, produtos de corrosão, etc.). Daí, se estiver contaminado por compostos de enxofre, o gás é enviado para unidades de dessulfurização, onde esses contaminantes serão retirados. Após essa etapa, uma parte do gás é utilizada no próprio sistema de produção, em processos conhecidos como reinjeção e gás lift, com a finalidade de aumentar a recuperação de petróleo do reservatório. O restante do gás é enviado para processamento, que é a separação de seus componentes em produtos especificados e prontos para utilização. A produção do gás natural pode ocorrer em regiões distantes dos centros de consumo e, muitas vezes, de difícil acesso, como, por exemplo, a floresta amazônica e a plataforma continental. Por esse motivo, tanto a produção como o transporte são, normalmente, atividades críticas do sistema. Em plataformas marítimas, por exemplo, o gás deve ser desidratado antes de ser enviado para terra, para evitar a formação de hidratos, que são compostos sólidos que podem obstruir os gasodutos. Outra situação que pode ocorrer é a reinjeção do gás para armazenamento no reservatório se não Capa de gás Gás + Óleo Água Gás livre Gás em solução Reservatório produtor de Óleo e Gás Gás Gás + Óleo Água Gás livre Gás em solução Reservatório produtor de Gás Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.27 houver consumo para o mesmo, como na Amazônia. Atualmente, dez estados da Federação possuem sistemas de produção de gás natural, sendo o Rio de Janeiro o maior deles; • Processamento: nesta etapa, o gás segue para unidades industriais, conhecidas como UPGN (Unidades de Processamento de Gás Natural), onde ele será desidratado (ou seja, será retirado o vapor d'água) e fracionado; • Transporte: no estado gasoso, o transporte do gás natural é feito por meio de dutos ou, em casos muito específicos, em cilindros de alta pressão (como GNC - gás natural comprimido). No estado líquido (como GNL - gás natural liquefeito), pode ser transportado por meio de navios, barcaças e caminhões criogênicos, a -160 °C, e seu volume é reduzido em cerca de 600 vezes, facilitando o armazenamento. Nesse caso, para ser utilizado, o gás deve ser revaporizado em equipamentos apropriados. • Distribuição: a distribuição é a etapa final do sistema, quando o gás chega ao consumidor, que pode ser residencial, comercial, industrial ou automotivo. Nesta fase, o gás já deve estar atendendo a padrões rígidos de especificação e praticamente isento de contaminantes, para não causar problemas aos equipamentos onde será utilizado como combustível ou matéria-prima. O manuseio do gás natural requer alguns cuidados, pois ele é inodoro, incolor, inflamável e asfixiante quando aspirado em altas concentrações. Geralmente, para facilitar a identificação de vazamentos, compostos à base de enxofre são adicionados ao gás em concentrações suficientes para lhe dar um cheiro marcante, mas sem lhe atribuir características corrosivas, num processo conhecido como odorização. Por já estar no estado gasoso, o gás natural não precisa ser atomizado para queimar. Isso resulta numa combustão limpa, com reduzida emissão de poluentes e melhor rendimento térmico, o que possibilita redução de despesas com a manutenção e melhor qualidade de vida para a população. Quanto à fase em que se encontra em subsuperfície, o gás natural pode ser classificado em (PANP 009/2000): • Gás Livre - todo gás natural que se encontra na fase gasosa nas condições originais de pressão e temperatura do reservatório; • Gás em Solução - todo gás natural que se encontra em solução no petróleo nas condições originais de pressão e temperatura do reservatório. Quanto à existência em um sistema monofásico ou bifásico, o gás natural pode ser classificado em (PANP 009/2000): • Gás Seco - todo hidrocarboneto ou mistura de hidrocarbonetos que permaneça inteiramente na fase gasosa em quaisquer condições de reservatório ou de superfície; • Gás Úmido - todo hidrocarboneto ou mistura de hidrocarbonetos que, embora originalmente na fase gasosa, venha a apresentar a formação de líquidos em diferentes condições de reservatório ou de superfície. O gás natural é o insumo básico da indústria da Gasoquímica, similar à Petroquímica. Para a Gasoquímica, os componentes do gás natural podem ser agrupados em material não hidrocarbonado (inertes), gás seco (metano, etano, propano), gases liquefeitos de petróleo (propano, iso-butano e n-butano) e gasolina natural (iso-butano e n-heptano). Esta separação é feita de acordo com a demanda de mercado. O gás natural extraído de uma jazida precisa ser tratado inicialmente para que apresente condições comercialmente adequadas e/ou especificadas para o uso. Tanto o gás natural não associado extraído, quanto o gás associado recuperado, constituem-se no que se costuma denominar de gás natural úmido, já que contêm em suspensão, pequenas quantidades de hidrocarbonetos que são líquidos nas condições atmosféricas. Este último é composto predominantemente de metano, etano e, em menores proporções, de propano e outros hidrocarbonetos de maior peso molecular, apresentando contaminantes como nitrogênio, dióxido de carbono, água e compostos de enxofre. Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.28 O tratamento inicial, também denominado secagem do gás natural, normalmente realizado junto à jazida, é feito em unidades de processamento de gás natural (UPGN), resultando, de um lado, gás natural seco e de outro, líquidos de gás natural (LGN) (Figura 2.13). Durante o processo de secagem do gás natural nas UPGN, são também removidos contaminantes ou reduzidos seus teores, para atender às especificações do mercado. Esses tratamentos são muito eficazes, razão pela qual o gás natural seco (que forma o gás processado ou residual e sob a qual é normalmente comercializado e, simplificadamente, chamado de gás natural) é composto de uma mistura de metano e etano, com reduzidas proporções de outros hidrocarbonetos e contaminantes. Os líquidos de gás natural (LGN) correspondem às frações que se liquefazem facilmente,como o propano e o butano (gasosos nas condições ambientes; eles se liquefazem quando pressurizados) e apresentam alto valor comercial, sendo aproveitados como gás liquefeito de petróleo (GLP - utilizado no Brasil como combustível doméstico) e um produto na faixa de gasolina, denominado C5+ ou gasolina natural (utilizada para a formulação de gasolinas automotivas e como matéria prima para as unidades petroquímicas). Os processos de tratamento de gás vêm-se tornando mais complexos e mais caros, para atender às exigências cada vez maiores do ponto de vista ambiental (qualidade do ar). Ao mesmo tempo, para permitir o aproveitamento de reservas onde o gás apresenta maior teor de impurezas (Abreu e Martinez, 1999). Figura 2.13 - Esquema de uma UPGN. (www.petrobras.com.br) O uso do gás natural como combustível em substituição a praticamente todos os demais combustíveis, especialmente pela facilidade de seu manuseio e pelo efeito ambiental limitado de sua queima, é dominante. Enumerar as vantagens desta utilização pode ser um exercício bastante complexo, mas fundamental para a escolha dos diversos tipos de combustíveis disponíveis no mercado. Uma listagem das vantagens do uso do gás natural, aplicada às condições brasileiras, é apresentada a seguir: (adaptado de Abreu e Martinez, 1999) 1) - Vantagens macroeconômicas: • diversificação da matriz energética; • disponibilidade ampla, crescente; • redução do uso do transporte rodo-ferro-hidroviário; • atração de capitais de riscos externos; • geralmente leva a uma melhoria do rendimento energético; • maior competitividade das indústrias; • geração de energia elétrica junto aos centros consumidores. Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.29 2) - Vantagens ambientais e de segurança: • baixíssima presença de contaminantes; • combustão mais limpa; • não emissão de particulados (cinzas); • tratamento apenas de NOX, caso sua emissão ultrapasse os limites de emissão vigentes do local da instalação; • rápida dispersão de vazamentos; 3) - Vantagens diretas para o usuário: • fácil adaptação das instalações existentes (porém existem exceções; como por exemplo, caldeiras projetadas para uso de óleo combustível possuem uma adaptação delicada para o gás natural, caso se deseje manter altas eficiências); • menor investimento em armazenamento/uso de espaço; • menor corrosão dos equipamentos e menor custo de manutenção; • menor custo de manuseio do combustível; • combustão facilmente regulável; • geralmente, elevado rendimento energético; • custo competitivo com outras alternativas. Porém, para poder usufruir destas vantagens, algumas características próprias devem ser avaliadas, as quais constam na Portaria No 128 de 28/08/2001, (PANP 128/2001), as quais revogam as Portarias No 41 e 42 de 15/03/1998. O Regulamento Técnico ANP N° 3/2001, anexo a PANP 128/2001, estabelece a especificação do gás natural, de origem nacional ou importado, a ser comercializado no País, definindo as características mais importantes a serem avaliadas: • Poder Calorífico Superior: Quantidade de energia liberada na forma de calor, na combustão completa de uma quantidade definida de gás com o ar, à pressão constante e com todos os produtos de combustão retornando à temperatura inicial dos reagentes, sendo que a água formada na combustão está no estado líquido. • Poder Calorífico Inferior: Quantidade de energia liberada na forma de calor, na combustão completa de uma quantidade definida de gás com o ar, à pressão constante e com todos os produtos de combustão retornando à temperatura inicial dos reagentes, sendo que todos os produtos inclusive a água formada na combustão estão no estado gasoso. O poder calorífico superior difere do poder calorífico inferior pela entalpia de condensação da água. • Estado de Referência: Os valores de poder calorífico de referência das substâncias puras empregados no Regulamento Técnico ANP N° 3/2001 foram extraídos da ISO 6976, sob condições de temperatura e pressão equivalentes a 273,15 K, 101,325 kPa, respectivamente e base seca. • Densidade Relativa: Quociente entre a massa do gás contida em um volume arbitrário e a massa de ar seco com composição padronizada pela ISO 6976 que deve ocupar o mesmo volume sob condições normais de temperatura e pressão. • Número de Metano: Para definir o número de metano, é oportuno definir preliminarmente o poder antidetonante que é um parâmetro necessário ao desenvolvimento e ajuste dos motores. O poder antidetonante é a capacidade do combustível resistir, sem detonar, aos níveis de temperatura e pressão reinantes na câmara de combustão do motor, proporcionados pela compressão a que é submetida a mistura ar/combustível. O poder antidetonante de combustíveis líquidos é usualmente medido através do número de octano (MON ou RON). Os valores típicos do número de octano do gás natural encontram-se entre 115 e 130, sendo que o metano apresenta 140, aproximadamente. No intuito de obter uma melhor representação do poder antidetonante dos combustíveis gasosos, desenvolveu-se a nova escala denominada número de metano - NM que utiliza como referências o metano puro (NM=100) e o hidrogênio (NM=0). É empregado o Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.30 procedimento disposto na ISO 15403 para o cálculo do número de metano a partir da composição do gás. O número de metano indica a capacidade antidetonante do gás natural resultante de suas características, sendo seus limites passíveis de comparação com a octanagem da gasolina. • Composição: Frações ou percentagens mássicas, volumétricas ou molares dos principais componentes, componentes associados, traços e outros componentes determinados pela análise do gás natural. Para gases ideais a fração volumétrica equivale à fração molar. O propano e os hidrocarbonetos mais pesados apresentam poder calorífico, na base volumétrica, superior ao metano. Embora adequados aos motores de combustão, são indesejáveis em teores elevados no uso veicular por apresentarem poder antidetonante muito inferior ao metano, assim reduzindo o número de metano. No que se refere ao emprego do gás natural em turbinas a gás e indústrias, esses componentes acarretam problemas de qualidade de combustão. • Enxofre Total: É o somatório dos compostos de enxofre presentes no gás natural. Alguns compostos de enxofre na presença de água ocasionam a corrosão de aços e ligas de alumínio. O gás sulfídrico (H2S) é o componente mais crítico no que se refere à corrosão e será tratado separadamente. • Gás Sulfídrico: Sua presença depende da origem bem como do próprio processo empregado no tratamento do gás e pode acarretar problemas nas tubulações e nas aplicações finais do gás natural. O gás sulfídrico, na presença de oxigênio, pode causar corrosão sob tensão, especialmente em cobre, podendo ser nocivo aos sistemas de transporte e utilização do gás natural. • Ponto de Orvalho: O ponto de orvalho é a temperatura na qual ocorre a formação da primeira gota de líquido quando o gás sofre resfriamento ou compressão. Os líquidos normalmente encontrados são água, hidrocarbonetos ou glicol, que apresentam pontos de orvalho distintos. O requerimento de segurança mais importante do gás natural quando comprimido é a temperatura no ponto de orvalho para evitar formação de água líquida. A água no estado líquido é precursora da formação de compostos corrosivos através da combinação de componentes do gás natural, especificamente CO2 e H2S. A combinação de agentes corrosivos e a pressão variável, durante o armazenamento de combustível, pode resultar em rachaduras metálicas e causar obstruções nos sistemas de gás. Os hidratos formados quando a água livre reage com hidrocarbonetos, se apresentam em estado semisólido e podem obstruir linhas de instrumentação, válvulas de controle e filtros. • Inertes: Os principais compostos inertes presentes no gás natural são o dióxido de carbono (CO2) e o nitrogênio (N2). Sua presençaem misturas gasosas reduz o poder calorífico, além de aumentar a resistência à detonação no caso do uso veicular e, portanto, o número de metano. A presença do dióxido de carbono se deve à técnica de extração do gás natural ou à ocorrência natural na origem do produto. O dióxido de carbono tem ação corrosiva quando na presença de água. • Oxigênio: Presente em baixas concentrações. Nestas condições atua como diluente do combustível e é crítico na presença de água, mesmo em baixas concentrações, pois pode provocar corrosão de superfícies metálicas. • Partículas sólidas: Causam problemas de contaminação, obstrução e erosão dos sistemas de alimentação de combustível dos veículos e orifícios injetores de queimadores industriais. Quando o GN é destinado a combustível de turbina, provocam erosão nas partes em que circula o gás quente. • Partículas líquidas: Causam alterações bruscas na temperatura da chama e na carga da turbina à gás, retorno de chama nas chamas pré-misturadas e podem nuclear a condensação de frações mais pesadas do GN. Quando a presença de líquido é identificada no GN destinado a turbinas, são empregados separadores e o fluxo é aquecido para vaporizar a fase líquida. Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.31 • Índice de Wobbe: Quociente entre o poder calorífico e a raiz quadrada da densidade relativa sob as mesmas condições de temperatura e pressão. O índice de Wobbe é uma medida da quantidade de energia disponibilizada em um sistema de combustão através de um orifício injetor. A quantidade de energia disponibilizada é uma função linear do índice de Wobbe. Dois gases que apresentem composições distintas, mas com o mesmo índice de Wobbe disponibilizarão a mesma quantidade de energia através de um orifício injetor à mesma pressão. Portanto, o índice de Wobbe: é o parâmetro mais importante para os combustíveis gasosos serem intercambiáveis. Ou seja, se o índice de Wobbe de um combustível substituto é significantemente diferente do combustível de projeto, o queimador deve ser modificado. Observe que o número de Wobbe tem a ver com a quantidade de energia por volume que é possível passar por determinado orifício para uma queda de pressão correspondente. Assim, se dois combustíveis gasosos forem fornecidos com a mesma pressão e tiverem o mesmo índice de Wobbe, a potência fornecida será a mesma para os dois combustíveis. A grande maioria dos sistemas de combustão de gases de aplicação industrial requer que os gases tenham o mesmo índice de Wobbe e a relação PCI / VolTot iguais para que possam ser intercambiáveis. A relação PCI / VolTot representa a razão entre o poder calorífico de um gás e o volume de gases de combustão gerados (N2, CO2 e H2O) pela queima estequiométrica. Na Figura 2.14 apresenta-se esta relação para alguns gases de aplicação industrial, adaptado de IPT (1995). Nesta, CO significa monóxido de carbono, CH4 metano, C2H6 etano, C3H8 propano, C4H10 butano, GN gás natural, COG gás de coqueria, GAF gás de alto-forno e GLP gás liquefeito de petróleo. Analisando-se a Figura 2.14 observa-se que alguns destes gases podem ser intercambiáveis sem que seja necessária a substituição do queimador, constituindo-se numa propriedade importante na hora de escolher o tipo de combustível a ser adotado. 2 2,5 3 3,5 4 4,5 CO CH 4 C2 H6 C3 H8 C4 H1 0 G N CO G G AF G LP + a r P C I / V o lT o t Figura 2.14 - Relação PCI / VolTot para alguns gases de aplicação industrial. (IPT, 1995) A composição do gás natural pode variar conforme a origem, influindo, além das características próprias do campo de origem, o fato do mesmo estar associado ou não ao óleo e também de ter sido ou não processado em unidades industriais. Para um gás associado, define-se como RGO a razão entre os volumes produzidos de gás associado e óleo, conhecendo-se, desta forma, a característica do reservatório. A Tabela 2.21 apresenta o valor da razão gás/óleo de alguns estados brasileiros e de alguns campos. Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.32 Tabela 2.21 - Razão gás óleo para algumas regiões brasileiras. Região / Campo RGO (m3 gás/m3 óleo) Brasil 137 Amazonas 500 Ceará / Rio Grande do Norte 120 Alagoas / Sergipe 280 Bahia 220 Espírito Santo 260 Rio de Janeiro 100 Juruá > 10.000 Merluza 4.100 Urucu 500 Tubarão 400 Albacora 120 Marlim 90 Equivalência energética: 1 m3 de óleo = 1.000 m3 de gás De acordo com o departamento de produção da Petrobrás, a composição média típica do gás natural brasileiro, segundo o tipo de reservatório ou processamento, caracteriza-se conforme a Tabela 2.22. A Tabela 2.23 apresenta a composição média e algumas características do gás natural para diferentes países e a Tabela 2.24 apresenta as características do gás natural em outros estados brasileiros. Tabela 2.22 - Composições típicas do gás natural brasileiro e do Rio de Janeiro. Elementos % Molar Brasileiro (média) Diferentes campos Associado Não- Associado Processado Associado1 Não- Associado2 Processado3 Metano 68,07 91,98 87,59 81,57 87,12 88,56 Etano 16,29 3,24 9,13 9,17 6,35 9,17 Propano 9,36 1,15 0,36 5,13 2,91 0,42 Iso-Butano 1,57 0,25 - 0,94 0,52 - N-Butano 2,11 0,29 - 1,45 0,87 - Iso-Pentano 0,49 0,11 - 0,26 0,25 - N-Pentano 0,40 0,07 - 0,30 0,23 - Hexano 0,22 0,06 - 0,15 0,18 - Heptano e Superiores 0,08 0,04 - 0,12 0,20 - Nitrogênio 0,69 1,34 1,18 0,52 1,13 1,20 Dióxido de Carbono 0,72 1,47 1,74 0,39 0,24 0,65 Densidade relativa 0,82 0,62 0,62 0,71 0,66 0,61 PCS (MJ/Nm3) - - - 45,80 42,80 39,98 PCI (MJ/Nm3) 46,73 35,06 35,53 41,52 38,72 36,09 1- Campo de Garoupa, Bacia de Campos-RJ; 2- Campo de Merluza, Bacia de Santos-SP; 3- UPGN, Candeias-BA. Além de sua composição e pureza, são características técnicas fundamentais: a densidade relativa ao ar, o poder calorífico, o índice de Wobbe, o ponto de orvalho de água, o ponto de orvalho dos hidrocarbonetos, o teor de compostos sulfurosos, o teor de CO2, o teor de CO, o teor Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.33 de hidrogênio e o teor de oxigênio. A Tabela 2.25 apresenta algumas destas características do gás natural fornecido pela Comgás proveniente da Bolívia (www.comgas.com.br). Também nesta tabela foram incluídos os dados de composição do gás natural a ser fornecido para a Usina Termelétrica de Uruguaiana pela YPF através do gasoduto Argentina - Brasil via entrada em Uruguaiana/RS (dados fornecidos pela AES Uruguaiana Empreendimentos Ltda.). Finalmente, ainda contemplando as características de gases, a Tabela 2.26 apresenta um quadro comparativo entre o gás natural e outros gases. Tabela 2.23 - Composição bruta de alguns tipos de gás natural no mundo. (www.gasnet.com.br) Composição Pérsia Mar do Norte Holanda Venezuela Argentina Chile Metano (% vol) 66,0 94,7 81,2 78,1 95,0 90,0 Etano (% vol) 14,0 3,0 2,9 9,9 4,0 6,6 Propano (% vol) 10,5 0,5 0,4 5,5 - 2,1 Butano (% vol) 5,0 0,2 0,1 2,8 - 0,8 > C4 (% vol) 2,0 0,2 0,1 2,1 - - CO2 (% vol) 1,5 0,1 0,9 0,4 - - N2 (% vol) 1,0 1,3 14,4 1,2 1,0 - Densidade relativa 0,87 0,59 0,64 0,702 0,578 0,64 PCS (MJ/Nm3) 52,3 38,6 31,4 47,7 40,7 45,2 Índice de Wobbe (MJ/Nm3) 56,1 50,2 39,3 56,9 53,5 56,6 Tabela 2.24 - Composição bruta de alguns tipos de gás natural brasileiros (www.gasnet.com.br) Composição Rio de Janeiro Bahia Nordeste Espírito Santo Ceará Metano (% vol) 86,4 85,5 87,15 84,8 76,05 Etano (% vol) 9,6 8,4 9,2 8,9 8,0 Propano (% vol) 1,9 0,3 0,5 3,0 7,0 Butano (% vol) 0,25 - - 0,9 2,5 > C4 (% vol) 0,23 - - - 1,8 CO2 (% vol) 0,49 0,7 1,15 0,3 1,08 N2 (% vol) 1,14 1,86 2,02 1,58 1,53 Densidade 0,82 0,64 0,624 0,66 - PCS (MJ/Nm3) 43,9 41,6 41,8 45,4 52,4 Índice de Wobbe (MJ/Nm3) 48,4 52,1 52,9 55,7 - Tabela 2.25 - Algumas das importantes características do gás natural da Bolívia distribuído pela Comgás (www.comgas.com.br) e do gás natural da Argentina fornecido pela YPF (AES, 2000).
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