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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA Caderno Didático CONFORMAÇÃO MECÂNICA DOS METAIS Volume III ORGANIZADOR: Prof. Inácio da Fontoura Limberger COLABORADOR: Acad.: Rodrigo de Souza Pagnossin Santa Maria 2009 2 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA CONFORMAÇÃO MECÂNICA DOS METAIS (Série Cadernos Didáticos) Volume III ORGANIZADOR: Prof. Inácio da Fontoura Limberger COLABORADOR: Rodrigo de Souza Pagnossin UFSM SANTA MARIA 2009 3 C748 Conformação mecânica dos metais / organizador: Inácio da Fontoura Limberger ; colaborador: Rodrigo de Souza Pagnossin. – Santa Maria : Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Tecnologia, Departamento de Engenharia Mecânica, 2009. 261 p. : il. ; 30 cm. – (Série Cadernos didáticos ; v. 3 ). 1. Ciência dos materiais 2. Engenharia mecânica 3. Engenharia dos materiais 4. Materiais metálicos 5. Metais 6. Conformação mecânica I. Limberger, Inácio da Fontoura II Pagnossin, Rodrigo de Souza III. Série. CDU 620.18 621.7 Ficha catalográfica elaborada por Maristela Eckhardt CRB-10/737 Biblioteca Central – UFSM 4 Apresentação A elaboração deste Caderno Didático teve como finalidade oportunizar aos alunos dos Cursos de Engenharia, principalmente aos de Engenharia Mecânica, o acesso ao conteúdo básico sobre os processos de conformação mecânica dos metais, de forma abrangente, rápida e dirigida, para os processos de corte, dobramento, embutimento e estiramento. Os temas abordados neste Caderno Didático são o resultado de pesquisa realizada nos conteúdos programáticos das disciplinas que tratam do tema Conformação Mecânica nos cursos de Engenharia Mecânica de várias Universidades do País. O texto apresentado é o resultado de uma extensa revisão bibliográfica e do aprendizado diário com os alunos em sala de aula. O conteúdo dos diversos capítulos deste Caderno Didático foi extraído em sua grande parte dos seguintes Livros: Metals Handbook. Forming. Volume 4. ASM. Metals Park. Ohio, 1969. STANLEY, A. F. Estampado y Matrizado de Metales. Barcelona: José Monteró. NABORRO, T. L. Traquelado y Estampación. Barcelona: Gustavo Gili. CETLIN, P. R. & HELMANN, H. Fundamentos de Conformação Mecânica dos Metais. Rio de Janeiro: Guanabara Dois. MIRA, F. M., & COSTA, H. B. Processos de Fabricação. Volume Conformação de Chapas. Florianópolis: UFSC. DIETER, George E. Metalurgia Mecânica. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1981. BRESCIANI FILHO, E. Conformação Plástica dos Metais. Volumes 1 e 2. Campinas: UNICAMP. KONINCK, J. & CUTTER, D. Manual do Ferramenteiro. São Paulo: Mestre Jou, 1971. PROVENZA, Francesco. Estampos I. São Paulo: Centro de Comunicação Gráfica “Pro-Tec”, 1986. Espera-se que este material, aqui apresentado, auxilie na formação dos alunos dos Cursos de Engenharia e também possibilite uma posterior aplicação na utilização prática na vida profissional. 5 Sumário Unidade 1 – ASPECTOS GERAIS .................................................................. 10 1.1 Introdução .......................................................................................... 10 1.2 Fundamentos de Projeto de Conformação ..................................... 10 1.3 Fundamentos da Técnica da Conformação Mecânica ................... 11 1.3.1 Diagrama Tensão x Deformação (σ x ε) ...................................... 11 1.4 Operações de Conformação ............................................................. 16 1.6 Máquinas e Ferramentas Utilizadas ................................................. 18 1.7 Processos de Conformação Mecânica de Chapas ......................... 21 1.7.1 Sem Remoção de Material .......................................................... 21 1.7.2 Com Remoção de Material .......................................................... 24 Unidade 2 – O CORTE .................................................................................... 31 2.1 Características Gerais ....................................................................... 31 2.1.1 Conceituação Simples de um Estampo ....................................... 31 2.1.2 Ação do Corte do Material ........................................................... 32 2.1.3 Folgas .......................................................................................... 34 2.1.4 Dimensões das Peças Obtidas .................................................... 41 2.2 Elementos Constituintes da Ferramenta ......................................... 43 2.2.1 Espiga de Fixação ....................................................................... 49 2.2.2 Cabeçote, Base Superior ou Placa Superior ............................... 55 2.2.3 Placa de choque .......................................................................... 55 2.2.4 Placa Porta-Punção ..................................................................... 56 2.2.5 Punção ........................................................................................ 56 2.2.7 Colunas de Guia .......................................................................... 62 2.2.8 Buchas......................................................................................... 64 2.2.9 Pinos de Fixação ......................................................................... 65 6 2.2.10 Parafusos .................................................................................. 65 2.2.11 Extrator ...................................................................................... 66 2.2.12 Guias da Tira ............................................................................. 66 2.2.13 Matriz ......................................................................................... 67 2.2.14 Base inferior .............................................................................. 76 2.2.15 Topes......................................................................................... 76 2.2.16 Facas de Avanço ....................................................................... 80 2.3 Fixação de Matrizes e Punções ........................................................ 85 2.4 Tipos de Corte ................................................................................... 86 2.4.1 Corte Simples .............................................................................. 86 2.4.2 Corte Guiado ............................................................................... 86 2.4.3 Corte Global ou “de Bloco” .......................................................... 87 2.4.4 Corte Progressivo ........................................................................ 89 2.5 Fatores a Considerar na Escolha do Tipo de Ferramenta de Corte101 2.5.1 Fatores Econômicos .................................................................. 101 2.5.2 Fatores Técnicos ....................................................................... 101 2.6 Fatores a Considerar no Dimensionamento das Ferramentas de Corte ................................................................................................................ 101 2.6.1 Economia de Material ................................................................101 2.6.2 Operações Posteriores de Dobramento .................................... 102 2.6.3 Facilidade e Economia na Confecção da Ferramenta de Corte - Regras Gerais ................................................................................................. 102 2.6.4 Fatores que Influem na Limpeza do Corte e Estética da Peça Cortada ........................................................................................................... 103 2.6.5 Força e Trabalho de Corte ......................................................... 103 2.6.6 Franjas e Largura de Chapas .................................................... 105 2.6.7 Folga entre Punção e Matriz ...................................................... 116 7 Unidade 3 – DOBRAMENTO ........................................................................ 117 3.1 Características Gerais ..................................................................... 117 3.1.1 Ferramentas .............................................................................. 118 3.1.2 Operações ................................................................................. 118 3.1.3 Fatores Importantes .................................................................. 119 3.2 Alongamento das Fibras da Chapa ................................................ 120 3.3 A Linha Neutra no Dobramento ...................................................... 123 3.3.1 Cálculo de Desenvolvimento de Peças Dobradas ..................... 124 3.3 Recuperação Elástica - Efeito Mola (Spring Back) ....................... 126 3.4 Raio de Dobramento ........................................................................ 131 3.5 Esforços de Dobra (𝑭𝑫) .................................................................. 132 3.5.1 Esforço de Dobra - Caso “I” ....................................................... 132 3.5.3 Esforço de Dobra - Caso “III” ..................................................... 137 3.6 Ferramentas de Dobramento .......................................................... 137 3.6.1 Dimensionamento da Ferramenta de Dobra .............................. 139 Unidade 4 – EMBUTIMENTO (ESTAMPAGEM PROFUNDA) ..................... 157 4.1 Características Gerais ..................................................................... 157 4.2 Comportamento das Fibras do Material ........................................ 160 4.2.1 Estados de Deformação no Embutimento de um Copo Cilíndrico162 4.3.1 Peças Cilíndricas ....................................................................... 163 4.3.1 Peças Retangulares .................................................................. 163 4.4 Descrição de um Estampo de Embutimento ................................. 164 4.4.1 Embutimento Sem Prensa-chapas ............................................ 165 4.4.3 Particularidades da Matriz ......................................................... 167 4.4.4 Extrator ...................................................................................... 168 4.4.5 Punção ...................................................................................... 169 4.5 Influência do Material da Peça sobre o Resultado do Embutimento172 8 4.5.1 Materiais de Uso Corrente no Embutimento .............................. 172 4.6 Lubrificação no Embutimento ........................................................ 172 4.7 Tratamento Térmico e Químico da Peça Durante o Embutimento173 4.8 Cálculo do Desenvolvimento do Recorte ...................................... 175 4.8.1 Determinação das Operações de Embutimento ........................ 176 4.8.2 Embutimentos Sucessivos ou Direto de Peças Cilíndricas........ 178 4.9 Forças Necessárias no Embutimento ............................................ 189 4.9.1 Força no Embutimento de um Copo Cilíndrico .......................... 191 4.9.2 Força no Embutimento de uma Peça de Seção Retangular ...... 192 4.9.3 Força no Embutimento de uma Peça de Seção Qualquer......... 192 4.10 Trabalho Total de Embutimento ................................................... 193 4.11 Defeitos no Embutimento ............................................................. 195 4.12 Velocidades de Embutimento ....................................................... 199 4.13 Exemplos de Aplicação de Estampagem Profunda .................... 199 4.13.1 Lubrificador ............................................................................. 199 4.13.2 Dedal de Costura ..................................................................... 199 4.14 Estudo de Caso.............................................................................. 200 4.15 Especificações técnicas ............................................................... 204 Unidade 5 – ESTIRAMENTO ........................................................................ 217 5.1 Definição .......................................................................................... 217 5.1.1 Ferramentas Utilizadas .............................................................. 219 5.1.2 A Estricção no Estiramento ....................................................... 219 5.2 Embutimento com Estiramento ...................................................... 220 5.3 Forças de estiramento .................................................................... 221 5.4 Desenvolvimento da chapa ............................................................ 222 5.5 Aplicações do Processo de Estiramento ...................................... 222 9 Unidade 6 – PROCESSOS NÃO CONVENCIONAIS ................................... 225 6.1 Processo “Hydroforming” ou Conformação hidrostática ............ 225 6.2 Processo de Extrusão ..................................................................... 229 6.3 Procedimento Hooker ..................................................................... 230 6.4 Reembutimento................................................................................ 230 Unidade 7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................... 232 10 Unidade 1 – ASPECTOS GERAIS 1.1 Introdução O termo Conformação Mecânica dos Metais envolve os processos de fabricação em que os metais são transformados nos produtos desejados através de uma série de operações, sem formação de cavacos, envolvendo máquinas especiais. Devido ao bom aproveitamento da matéria-prima, rapidez na execução, possibilidade de melhoria e controle das propriedades mecânicas do material, bem como homogeneização da microestrutura do mesmo, os processos de conformação mecânica são bastante empregados nas indústrias de transformação. Figura 1.1 - Exemplo de peças metálicas conformadas mecanicamente. 1.2 Fundamentos de Projeto de Conformação As técnicas de manufatura dos materiais consistem nos métodos segundo os quais os materiais, sejam eles metais ou não metais são transformados em produtos de utilidade. Essas técnicas, ou, mais simplesmente, qualquer projeto de engenharia, requer, para sua viabilização, um vasto conhecimento das características, propriedades e comportamento dos materiais disponíveis. As classificações das técnicas de fabricação incluem vários métodos de transformação dos materiais, como deformação mecânica, fundição, metalurgia do pó, soldagem e usinagem. 11 Geralmente, duas ou mais dessas técnicas devem ser usadas antes que uma peça esteja completamente terminada. Os métodos selecionados dependem de diversos fatores, e os mais importantes referem-se às propriedades do material, o tamanho e a forma da peça acabada e, obviamente, o custo. 1.3 Fundamentos da Técnica da Conformação Mecânica Antes de apresentarmos o princípio operacional dos principais processos ou técnicas de fabricação de materiais, um estudo sobre o mecanismode conformação dos metais que seja capaz de explicar como se processa o fenômeno das deformações elásticas e plásticas é imprescindível neste momento. 1.3.1 Diagrama Tensão x Deformação (σ x ε) O presente estudo, portanto, restringe-se às técnicas de deformação convencionais. Para a definição da tensão e deformação convencionais, pega-se uma barra cilíndrica e uniforme que é submetida a uma carga de tração uniaxial crescente, semelhante ao procedimento aplicado para um ensaio de tração normalizado, conforme mostra a Figura 1.2. A tensão convencional, nominal ou de engenharia, 𝜎𝐶 , é dada por: 𝜎 = 𝑃 𝐴𝑂 onde, 𝜎 é a tensão (Pa), 𝑃 é a carga aplicada e 𝐴𝑂 é seção transversal original. A deformação convencional ou nominal (𝜀) é dada por: 𝜀 = 𝐼 − 𝐼𝑂 𝐼𝑂 onde, 𝜀 é a deformação, 𝐼𝑂 e 𝐼 são, respectivamente, os comprimentos inicial e final da peça metálica. 12 Figura 1.2 - Curva tensão-deformação convencional. Na curva da Figura 1.2 observam-se quatro regiões de comportamentos distintos, quais são: OA – região de comportamento elástico; AB – região de escoamento de discordância; BU – região de encruamento uniforme; UF – região de encruamento não-uniforme (o processo de ruptura tem início em U, e é concluído no ponto F). Para um material de alta capacidade de deformação permanente, o diâmetro do corpo-de-prova começa a decrescer rapidamente ao se ultrapassar a carga máxima (ponto U). Assim, a carga necessária para continuar a deformação diminui até a ruptura do material. Observa-se, na prática, uma grande variação nas características das curvas tensão/deformação para diferentes tipos de materiais. A Figura 1.3 mostra curvas tensão-deformação para algumas ligas metálicas comerciais. 13 Figura 1.3 - Relação do comportamento entre tensão-deformação para algumas ligas comerciais. (Garcia, pp.10, 2000). 1.3.2 Parâmetros da mudança de forma Quando, na solicitação mecânica de um corpo metálico, atingi-se a tensão limite de escoamento (𝜎𝑃 do diagrama apresentado na Figura 1.2), a peça metálica inicia um processo de deformação permanente ou deformação plástica. O principal mecanismo de deformação plástica é o de escorregamento de discordância. Quando a conformação se propaga, por escorregamento, nas diferentes direções de escorregamento, o volume do corpo conformado permanece constante. Na deformação de uma peça metálica, com forma de um paralelepípedo, por exemplo, de dimensões iniciais ℎ0, 𝑙0 e 𝑏0, para as dimensões finais ℎ1, 𝑙1 e 𝑏1, a mudança de forma é expressa pelas seguintes relações: 14 𝑉𝑖 = ℎ0. 𝑙0. 𝑏0 𝑉𝑓 = ℎ1. 𝑙1. 𝑏1 onde, 𝑉𝑖 e 𝑉𝑓 são, respectivamente, os volumes iniciais e finais da peça metálica. Na conformação mecânica por deformação plástica 𝑉𝑖 = 𝑉𝑓, logo: ℎ0. 𝑙0. 𝑏0 ℎ1. 𝑙1. 𝑏1 = 1 As deformações absoluta, relativa e logarítmica podem, respectivamente, ser escritas na seguinte forma: Δℎ = ℎ1 − ℎ0 Δ𝑙 = 𝑙1 − 𝑙0 Δ𝑏 = 𝑏1 − 𝑏0 Δℎ (%) = ℎ1 − ℎ0 ℎ0 𝑥100 Δ𝑙 (%) = 𝑙1 − 𝑙0 𝑙0 𝑥100 Δ𝑏 (%) = 𝑏1 − 𝑏0 𝑏0 𝜀ℎ = ln ℎ1 ℎ0 𝜀𝑙 = ln 𝑙1 𝑙0 𝜀𝑏 = ln 𝑏1 𝑏0 a soma de todas as deformações logarítmica é nula. 1.3.3 Resistência à Mudança de Forma ou Resistência à Conformação (𝐾𝑓) Essa tensão é medida na região de deformação plástica, zona BU na curva da Figura 1.2, definida pela relação entre a força aplicada e a área da seção reduzida. Para manter a deformação permanente, a mesma deve ser sempre superada a cada instante para se conseguir uma deformação adicional. A relação entre 𝐾𝑓 e a deformação logarítmica permite obter a curva de encruamento do metal, conforme mostra a Figura 1.4. 15 Figura 1.4 – Curva de encruamento e resistência média a mudança de forma. 1.3.4 Força de conformação (𝐹𝐶) A força de conformação é dada por: 𝐹𝐶 = 𝐴0. 𝐾𝑓 onde 𝐴0 é área da seção inicial da peça. 1.3.5 Trabalho na conformação (W) Na deformação de um corpo cilíndrico, por exemplo, de altura ℎ0 até uma altura ℎ1, é consumido certo trabalho e que o mesmo pode ser determinado pela multiplicação do volume (V) do material deformado e da área varrida sob a curva de encruamento (a), ou seja: 𝑊 = 𝑉. 𝑎 [J] 𝑉 = 𝐴0. (ℎ1 − ℎ0) [mm 3] A Figura 1.5 apresenta as curvas para determinação de “Kf” e “a” em função da deformação logarítmica. 16 Figura 1.5 – Curva de encruamento para o aço Ck 10. 1.4 Operações de Conformação Entende-se, então, como conformação dos metais a modificação de um corpo metálico para outra forma definida. Os processos de conformação podem ser divididos em dois grupos: processos mecânicos, nos quais as modificações de forma são provocadas pela aplicação de tensões externas, e processos metalúrgicos. Os processos mecânicos são constituídos pelos processos de conformação plástica, para os quais as tensões aplicadas são geralmente inferiores ao limite de resistência à ruptura do material. Os processos de conformação para os quais as tensões aplicadas são sempre superiores ao limite resistência à ruptura do material, como por exemplo a usinagem, sendo a forma final, portanto, por retirada de material. 17 É importante o estudo dos processos de conformação plástica dos metais porque mais de 80% de todos os produtos metálicos produzidos são submetidos, em um ou mais estágios, a tais processos. Os processos de conformação plástica dos metais permitem a obtenção de peças no estado sólido, com características controladas, através da aplicação de esforços mecânicos em corpos metálicos iniciais que mantêm os seus volumes constantes. De uma forma resumida, os objetivos desses processos são a obtenção de produtos finais com especificação de: a) dimensão e forma; b) propriedades mecânicas; c) condições superficiais Os processos de conformação plástica podem ser classificados de acordo com vários critérios: a) quanto ao tipo de esforço predominante; b) quanto à temperatura de trabalho; c) quanto à forma do material trabalhado ou do produto final; d) quanto ao tamanho da região de deformação (localizada ou geral); e) quanto ao tipo de fluxo do material (estacionário ou intermitente); f) quanto ao tipo de produto obtido (semi-acabado ou acabado). Quanto aos processos, a conformação subdivide-se em (norma DIN 8582): a) Conformação por cisalhamento. Ex.: corte de chapas; b) Conformação por flexão. Ex.: dobra de chapas; c) Conformação por tração. Ex.: embutimento e repuxamento de chapas; d) Conformação por compressão. Ex.: laminação, forjamento e extrusão; e) Conformação por tração e compressão simultâneas. Ex.: trefilação. A disciplina Conformação Mecânica dos Metais 1 (DEM 1018) trata dos processos a, b e c, que envolvem o trabalho em chapas metálicas, também conhecido como estamparia ou estampagem. Os dois últimos tipos serão estudados na disciplina Conformação Mecânica dos Metais 2. A Figura 1.6 apresenta de forma esquemática esses processos. 18 Figura 1.6 – Processos de Conformação Mecânica dos Metais 1.6 Máquinas e Ferramentas Utilizadas Conjunto de operações em que se submete uma chapa plana a uma ou mais operações, com a finalidade de obter uma peça de forma geométrica qualquer, plana ou tridimensional acontecem mediante dispositivos chamados matrizes ou estampos e máquinas chamadas prensas. As prensas são máquinas robustas, capazes de exercer forças de até centenas de toneladas. Os tipos mais comuns são as prensas mecânicas de simples e duplo efeito, prensas de fricção e as prensas hidráulicas de simples, duplo e triplo efeito, capazes de exercer mais de uma força compressiva independente. 19 A maior parte da produção seriada de partes conformadas a partir de chapas finas é realizada em prensas mecânicas ou hidráulicas,figura 1.7. Figura 1.7 - Prensas mecânica ou hidráulica usadas em processos de conformação. Nas prensas mecânicas a energia é geralmente armazenada num volante e transferida para o cursor móvel no êmbolo da prensa. As prensas mecânicas são quase sempre de ação rápida e aplicam golpes de curta duração, enquanto que as prensas hidráulicas são de ação mais lenta, mas podem aplicar golpes mais longos. Atualmente, tanto as prensas hidráulicas como as mecânicas podem ser controladas por CNC dando maior versatilidade ao processo produtivo, figuras 1.8 e 1.9. Figura 1.8 – Prensa hidráulica CNC, força nominal de 4000 kN, 50 golpes por minuto. 20 Figura 1.9 – Linha de produção automática com prensa hidráulica CNC, força de 14000 kN. As prensas podem ser de efeito simples ou de duplo efeito. Algumas vezes pode ser utilizado o martelo de queda na conformação de chapas finas. O martelo não permite que a força seja tão bem controlada como nas prensas, por isso não é adequado para operações mais severas de conformação. As ferramentas básicas utilizadas em uma prensa de conformação de peças metálicas são o punção e a matriz. O punção, normalmente o elemento móvel, é a ferramenta convexa que se acopla com a matriz côncava, como mostra a figura 1.10. Figura 1.10 – Matriz 21 Como é necessário um alinhamento acurado entre a matriz e o punção, é comum mantê-los permanentemente montados em uma sub-prensa, ou porta matriz, que pode ser rapidamente inserida na prensa. Geralmente, para evitar a formação de rugas na chapa a conformar usam-se elementos de fixação ou a ação de grampos para comprimir a chapa contra a matriz. A fixação é conseguida por meio de um dispositivo denominado prensa-chapas, ou ainda, em prensas de duplo efeito por um anel de fixação. A preparação da tira metálica para as operações de estampagem é feita em máquinas chamadas guilhotinas ou cisalhas, que transformam a matéria-prima na forma de bobinas ou chapas em tiras. 1.7 Processos de Conformação Mecânica de Chapas 1.7.1 Sem Remoção de Material É a operação pela qual o material é completamente deformado, por uma solicitação superior a sua tensão de escoamento e inferior a de ruptura. 1.7.1.1 Estampagem (Stamping): Figura 1.11 - Estampagem É a mudança de forma de uma chapa plana ou pré-formada, de modo que não haja variação intencional de sua espessura, e de modo que corresponda sempre a uma reentrância de um lado e uma saliência de outro, e vice-versa. Máquinas utilizadas: prensas em geral. Emprego: prensagens em geral, nervuras de reforços, ornamentos, letreiros, etc. 22 1.7.1.2 Cunhagem (Coining) É a variação de forma superficial e da espessura produzida por deslocamento de material superficial, preenchendo-se todas as reentrâncias do estampo superior e da matriz, os quais formam um espaço oco completamente fechado. Figura 1.12 - Cunhagem. Máquinas utilizadas: prensas em geral. Emprego: cunhagem de moedas e medalhas, em materiais ou ligas relativamente moles, como ouro, prata, latão, alumínio, etc. 1.7.1.3 Dobramento (Bending) É mudança de forma de uma peça produzida pela flexão, além do limite elástico, em torno de um canto, entre um estampo superior e outro inferior, de superfícies em geral paralelas entre si, mas inclinadas em relação a peça original, sem que a espessura do material seja significativamente alterada. Figura 1.13 - Dobramento. Máquinas utilizadas: viradeiras, dobradeiras de guilhotinas, prensas em geral e máquinas de dobrar. Utilização: dobramento de peças em geral, dos mais diversos ângulos e formas. 23 1.7.1.4 Calandragem ou Curvamento (Roll Bending) É um caso particular de dobramento, em que a flexão se dá em torno de cantos infinitamente próximos uns dos outros, produzindo-se um segmento de círculo ou cilindro. Figura 1.14 - Calandragem. Máquinas utilizadas: calandras, viradeiras e prensas em geral. Utilização: execução de tubos, reservatórios e caldeiras. 1.7.1.5 Enrolamento (Curling) É a mudança de forma de uma chapa plana, entre um estampo e uma matriz, em que a pressão de apoio obriga um bordo ou extremidade da peça a escorregar ao longo da parede interna cilíndrica da matriz, formando-se um olhal, rebordo ou rolo. Figura 1.15 - Enrolamento. Máquinas empregadas: máquinas de enrolar, em rolo giratório e prensas em geral. Emprego: execução de dobradiças, reforços e bordos. 24 1.7.1.6 Nervuramento (Beading) É a execução de canaletas de pequena profundidade, usualmente arredondadas, em chapas, tubos ou recipientes, com o objetivo de reforço, decoração ou apoio. Figura 1.16 - Nervuramento. Máquinas empregadas: prensas em geral, com matriz de nervuramento e roletes. 1.7.2 Com Remoção de Material É a operação pela qual o material é completamente cisalhado, ou separado, por uma solicitação superior a sua resistência a ruptura. Figura 1.17 - Processo com remoção de material. 25 1.7.2.1 Recorte (Blanking) É uma operação de corte, segundo uma linha fechada, de forma qualquer, em que a parte interna separada é a peça a ser utilizada. Figura 1.18 - Recorte. Máquinas utilizadas: prensas de excêntrico, de joelho, de fricção e hidráulicas. Emprego: obtenção de peças de chapas, metálicas, de forma final, ou para utilização em posteriores operações. 1.7.2.2 Puncionamento (Punching) É a operação de corte, de forma qualquer segundo uma linha fechada, em que a parte interna separada é o refugo. Figura 1.19 - Puncionamento. Máquinas empregadas: puncionadoras em prensas em geral. Emprego: puncionamento de furos para rebites, furos em geral e obtenção de rasgos. 26 1.7.2.3 Perfuração (Perforating) É uma operação de puncionamento múltiplo, em que um grande número de furos de forma qualquer, muitas vezes próximos uns dos outros, são feitos na chapa. Figura 1.20 - Furação. Máquinas utilizadas: puncionadoras, prensas em geral, com uso de matriz progressiva. Emprego: peneiras, filtros de chapa para indústria química, chapas para evaporadores, condensadores, caldeiras, etc. 1.7.2.4 Endentamento (Notching) É a operação de separar completamente uma parte do bordo, segundo uma linha aberta de forma qualquer, em que a parte separada é considerada refugo. Figura 1.21 - Endentamento. Máquinas empregadas: prensas em geral. Emprego: lâminas de rotores e motores elétricos, execução de porta roletes e esferas. 27 1.7.2.5 Seccionamento É uma operação de separar completamente uma peça, por meio de ferramentas de corte, segundo duas linhas abertas de forma qualquer, balanceando as forças e deixando um retalho. Figura 1.22 – Seccionamento. Máquinas empregadas: prensas em geral. Emprego: corte de pedaços de peças, em que se dá valor especial ao bom aspecto do corte. 1.7.2.6 Cisalhamento (Shearing) É a operação de corte com lâminas formando ângulo entre si como numa tesoura, onde as peças são separadas completamente segundo uma linha de forma qualquer sem deixar retalho. Figura 1.23 - Cisalhamento. Máquinas empregadas: as mesmas da operação de corte, tesoura. Emprego: corte de chapas e peças em geral. 28 1.7.2.7 Entalhamento (Slitting) É a operação de separar parcialmente por meio de ferramenta de corte, uma peça, segundo uma linha aberta de forma qualquer. Figura 1.24 - Entalhamento. Máquinas utilizadas: máquina de corte em geral. Emprego: união de peças. 1.7.2.8 Lanceado (Lancing) É uma operação de corte especial, segundo três lados, combinados com um dobramento segundo uma linha aberta de forma qualquer. Figura 1.25 - Lanceado. Máquinas utilizadas:prensas em geral. Emprego: união de peças e chapas estampadas. 29 1.7.2.9 Aparado (Trimming) É a operação de cortar todo o excesso de material, proveniente de operações de conformação mecânica, em que é difícil predizer a natureza exata, e a extensão do escoamento do material. Figura 1.26 - Aparado. Máquinas utilizadas: tesouras e prensas em geral. Emprego: corte de bordos retos em prensas estampadas, repuxadas e estiradas. 1.7.2.10 Repasse É uma operação de acabamento, para aumentar a precisão das formas, medidas e bordos em operações anteriores de corte. Máquinas empregadas: prensas em geral com matriz e estampo sem folga. Emprego: corte de cavacos, com espessura menor que 15% da espessura da chapa, garantindo precisão de acabamento. Figura 1.27 - Repasse de um furo. 30 1.7.2.11 Embutimento Passante (Burring) É uma operação de corte e dobramento executada por um punção pontiagudo, forçado a romper e a dobrar uma chapa. Pode ser combinado com execução prévia de um furo por broca ou punção quando se deseja bordos lisos. Figura 1.28 - Embutimento passante. Máquinas utilizadas: prensas em geral, com punção pontiagudo. Emprego: união de peças rebitando os bordos, “Tipo Ilhós”, obtenção de maior área de apoio para parafusos e rebites, ou abertura de roscas. 31 Unidade 2 – O CORTE 2.1 Características Gerais 2.1.1 Conceituação Simples de um Estampo Quando desejasse produzir uma série de arruelas de pequena espessura em relação ao diâmetro, dependendo da quantidade desejada, pode-se obtê-las por vários processos diferentes, por exemplo, usinando um furo num pedaço de chapa e torneando o diâmetro externo da arruela, fixando-a num mandril que a suportasse no torno. Evidentemente que este processo seria muito demorado e, conseqüentemente, muito caro, servindo somente para os casos em que a quantidade fosse muito pequena. Se a demanda forçasse uma produção mensal de 200.000 unidades deve-se recorrer a processos mais rápidos e baratos. Poder-se-ia, então, pensar em construir um “dispositivo” que destacasse o disco da chapa através da penetração de um cilindro no interior de um furo feito numa peça plana (Figura 2.1). Figura 2.1 - Ilustração do mecanismo de corte. Esta seria a conceituação mais simples do que se denomina de matriz ou estampo: uma ferramenta de base plana, punção P, que penetra na chapa apoiada sobre uma base convenientemente furada, matriz M, obrigando o disco a se destacar quando o punção houver completado seu curso descendente. 32 2.1.2 Ação do Corte do Material O corte é um processo de grande capacidade produtiva (peças intercambiáveis) no qual o material se mantém entre os dois contornos de corte (punção e matriz), até que seja ultrapassada sua máxima resistência ao cisalhamento, quando ocorre o destacamento (Figura 2.2). Figura 2.2 – Ilustração do mecanismo de corte com puncionamento. A peça destacada pode estar na forma final ou será utilizada em operações posteriores. O corte deve ter um bom aspecto, obtido através da escolha correta da folga entre matriz e punção e da afiação das arestas de corte. O metal é, inicialmente, submetido a tensões de tração e compressão até que ultrapasse o regime elástico e penetre no regime plástico (Figura 2.3). Com o prosseguimento do movimento descendente do punção dá-se uma redução de área útil resistente do material, devido ao cisalhamento, até que se esgote sua capacidade de resistir e deixe-se destacar completamente. 33 Figura 2.3 - Tensões no corte de um material. No primeiro estágio o punção está tão somente encostado na chapa. No segundo, a pressão aplicada pelo punção deforma o metal para o interior da matriz, fazendo com que certa quantidade de material se acumule na parte inferior da chapa e uma depressão se forme na sua parte superior. A esta deformação segue-se um corte da chapa por cisalhamento, entre as arestas de corte do punção e matriz, e uma subsequente redução da secção resistente do material. Quando essa área útil não for mais suficiente para suportar o esforço aplicado pelo punção aparecem os primeiros sinais de fratura, tanto no contorno superior como inferior do material, os quais prosseguem aumentando até causar o destacamento completo (Figura 2.4). Figura 2.4 - Vários estágios durante o corte de um material. 34 2.1.3 Folgas Pelo que foi posto no item anterior, fica claro que, ao ser cortado, o material apresenta, no perfil do corte, três faixas bem distintas (Figura 2.5). Figura 2.5 - Características do contorno de corte. Um canto arredondado, no contorno em contato com um dos lados planos da chapa, e que corresponde à deformação do material no regime plástico (trecho A). Uma faixa brilhante, ao redor de todo o contorno de corte, com espessura quase constante, e que corresponde a um cisalhamento no metal cortado (trecho B). Uma faixa áspera, devido à granulação do material, levemente inclinada que corresponde ao trecho onde ocorreu o destacamento, visto que a área útil resistente vai diminuindo até que se dê a separação total das partes. A figura 2.6 mostra um desenho esquemático das regiões de corte e uma peça cortada. Figura 2.6 - Perfil de corte de um material. 35 Nada foi dito até aqui sobre as medidas relativas entre punção e matriz. A diferença entre a medida de um furo da matriz e a medida externa correspondente do punção será denominada “folga do estampo”. A experiência mostra que existem valores apropriados para esta folga, e que eles dependem diretamente da qualidade do material e da sua espessura. Pode-se ver pela figura 2.7b que, quando a folga é excessiva, dá-se uma formação de rebarba no contorno da peça e que, quando a folga não é suficiente, forma-se uma faixa brilhante muito larga, ou mesmo, duas faixas. Com a folga apropriada o que se pode notar é uma faixa de destacamento limpa e nítida, porque as fraturas que aparecem no perfil superior e inferior caminham uma em direção à outra e se encontram num único ponto. Figura 2.7 - O processo de corte e o aspecto da superfície cortada em (a) folga ótima; (b) folga insuficiente, e (c) folga excessiva (exagerada). Em casos especiais de corte de alta precisão o uso de uma folga muito pequena possibilita o corte da chapa em toda a sua espessura pelo cisalhamento, sem que ocorra a região de destacamento, como pode ser visto na figura 2.8. 36 Figura 2.8 - Superfícies de corte de uma chapa. Tudo o que foi visto até aqui é válido se raciocinarmos em termos de um único material, cuja espessura seja considerada constante. Deve-se, então, concluir que a folga correta será dada em função da espessa da chapa e da sua resistência. Os dados recomendados pela ASTE (American Society of Tool Engineers) são calculados com base em porcentagem da espessura da chapa, dividindo-se os materiais metálicos em três grupos: Grupo I: Ligas de Alumínio 2S e 52S, com todas as têmperas. Folga total de 9% da espessura do material cortado. Grupo II: Ligas de Alumínio 24ST e 61ST, latões, todas as têmperas. Aços doces laminados a quente e inoxidáveis moles. Folga total de 12% da espessura do material cortado. Grupo III: Aços duros laminados a frio, inoxidáveis, duros e extra-duros. Folga total de 15% da espessura do material cortado. O gráfico da figura 2.9 dá esses valores já determinados em função da espessura da chapa: 37 Figura 2.9 - Variação da folga total em função do material e da espessura da chapa. Figura 2.10 - Gráfico para determinar o jogo entre punção e matriz, em função da qualidade do material e da espessura da chapa. 38 2.1.3.1 Valores das folgas entre punções e matrizes A folga varia em função do material e da espessura dachapa. Para peças pequenas e chapas finas praticamente não há folga, porém para chapas grossas a folga é apreciável. Em geral: 𝑓 = 𝑒 20⁄ - para aço doce, latão e similares. 𝑓 = 𝑒 16⁄ – para aço médio. 𝑓 = 𝑒 14⁄ – para aço duro. Onde, 𝑒 é a espessura da chapa e 𝑓 é a folga (para cada lado). A folga é maior para chapas de aço duro. 2.1.3.1.1 Folga em função da resistência ao corte 2.1.3.1.2 Folga em função de 𝜏 e da qualidade de trabalho 39 2.1.3.1.3 Tolerâncias admissíveis entre punções e placas 40 2.1.3.2 Classificação dos materiais em função da folga e da resistência ao corte – folga radial 41 2.1.4 Dimensões das Peças Obtidas As dimensões externas da peça destacada e as medidas internas do contorno que restou da chapa não coincidem. Assim, vê-se que as dimensões externas da peça destacada correspondem, no seu valor máximo, às medidas do furo usinado na matriz. Da mesma forma, a menor medida interna do furo que restou na chapa corresponde à medida do punção. Este fato é importante e deve ser levado em consideração ao projetar um estampo, motivo pelo qual é mostrado um exemplo de aplicação prática. Quer se obter, numa chapa de aço ABNT 1010, laminado a quente com espessura 3/16” (±4,8 mm), uma série de furos com 40,0 mm de diâmetro. Especificar as medidas do punção e da matriz. Solução: No gráfico da figura 2.9 com material do grupo II, de espessura 4,8 mm tem-se para a folga o valor: 𝑓 = 0,58 𝑚𝑚 Assim, estando interessados na medida do furo, devesse usinar o punção de acordo com a especificação dada, ou seja: Punção: ∅punção = 40,00 𝑚𝑚 Matriz: ∅matriz = 40,58 𝑚𝑚 Se, por outro lado, desejasse obter discos com diâmetro de 40,0 mm, devesse usinar a matriz de acordo com esta exigência, fazendo: Matriz: ∅matriz = 40,00 𝑚𝑚 Punção: ∅punção = 39,42 𝑚𝑚 O exemplo acima tem como finalidade fixar as ideias sobre a utilização correta das folgas nos estampos. Entretanto, num caso mais geral a peça, o punção e a matriz não poderiam ter uma única “dimensão exata”, devido a imprecisões próprias do processo de conformação da chapa e da usinagem dos elementos do 42 estampo. Suas medidas estariam sujeitas a variações, que estão prescritas pela padronização ISO de tolerâncias. Assim, o próximo exemplo aborda, de maneira mais completa, o caso da obtenção de um disco de diâmetro 50 mm, com tolerância h11, numa chapa semelhante à do exemplo anterior. De acordo com a padronização fixada, a medida do disco seria: ∅𝑑𝑖𝑠𝑐𝑜 = 50ℎ11 Como a medida do disco corresponde à medida da matriz, uma questão de durabilidade do estampo nos indica que a mesma deverá ser fixada em 49,84 mm, no mínimo. De fato, um desgaste do perfil de corte da matriz ocasionará um aumento de seu diâmetro interno, e ainda o disco obtido estará dentro das especificações do projeto. O punção deverá ser fixado pela folga recomendada no gráfico da figura 2.7. Desta forma: ∅𝑚á𝑥 𝑝𝑢𝑛çã𝑜 = 49,84 − 0,58 = 49,26 𝑚𝑚 Finalmente, recomenda-se a qualidade 6 para usinagem do punção e da matriz. Aplicando-se esta recomendação no exemplo proposto temos: ∅𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 = 49,840 𝐻6 ∅𝑝𝑢𝑛çã𝑜 = 49,260 ℎ6 O furo executado numa chapa tem as dimensões do punção, enquanto o retalho tem as dimensões da matriz; portanto, se o que se deseja é a chapa furada, a folga deve ser colocada na matriz (maior que a dimensão nominal do furo). Se a peça desejada é o retalho, a folga deverá ser colocada no punção (menor que a dimensão nominal do retalho). ∅𝑚í𝑛 𝑑𝑖𝑠𝑐𝑜 = 49,84 𝑚𝑚 ∅𝑚á𝑥 𝑑𝑖𝑠𝑐𝑜 = 50,00 𝑚𝑚 ∅𝑚í𝑛 𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 = 49,840 𝑚𝑚 ∅𝑚á𝑥 𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 = 49,856 𝑚𝑚 ∅𝑚í𝑛 𝑝𝑢𝑛çã𝑜 = 49,260 𝑚𝑚 ∅𝑚á𝑥 𝑝𝑢𝑛çã𝑜 = 49,244 𝑚𝑚 43 Deseja-se obter discos de chapa de aço duro com diâmetro 20 ± 0,1 mm. A espessura da chapa é 2 mm. Qual é a folga? Quais os diâmetros de punção e matriz? Resolução: Para aços duros: folga 𝑓 = 𝑒 14 , para cada lado. “e” é a espessura da chapa. Portanto a folga total é 𝑓 = 1 7 𝑚𝑚 O disco se expande após o corte, portanto: ∅𝑚í𝑛 𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 = 19,9 𝑚𝑚 ∅𝑝𝑢𝑛çã𝑜 = 19,9 − 2. 1 7 = 19,614 𝑚𝑚 Obs.: note que a folga foi multiplicada por dois (pois é uma folga radial). Deseja-se projetar ferramentas para realizar furos de diâmetro 20 ± 0,1 mm em uma chapa de aço duro, com 2 mm de espessura. Resolução: O furo se contrai após o corte, portanto: ∅𝑚á𝑥 𝑝𝑢𝑛çã𝑜 = 20,1 mm ∅𝑚í𝑛 𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 = 20,1 mm + 2. 1 7 = 20,386 𝑚𝑚 2.2 Elementos Constituintes da Ferramenta Tecnicamente, Estampo é a parte superior (punção, cabeçote, placa de choque, etc.), fixada ao cabeçote da prensa. Matriz é a parte inferior, fixada à mesa ou base da prensa. Observação: na indústria os termos, estampo ou matriz podem representar o conjunto. 44 Figura 2.11.a – Detalhamento de um estampo. 45 Figura 2.11.b 1 – Espiga 6 - Colunas de Guia 11 - Guias da Chapa 2 – Cabeçote 7 – Buchas 12 - Matriz 3 - Placas de Choque 8 - Pinos de Fixação 13 - Base Inferior 4 - Porta Punção 9 – Parafusos 5 – Punção 10 – Extrator 46 Figura 2.11.c 47 Denominação Material Função 1 ESPIGA Aço 1010 cementado Aço 1020/40 Fixar o cabeçote ao martelo da prensa. Obs.: a rosca da espiga não é cementada. 2 CABEÇOTE ou BASE SUPERIOR Ferro fundido Aço laminado 1010/20 Aço fundido 3430 AF Aço Villares VFC Zinc-Alloy Suportar toda a parte superior do estampo. Espessura: ≥ 20 𝑚𝑚 3 PLACA DE CHOQUE Aço 1040/50 Aço 1010 cementado 5135 Distribuir a pressão dos punções, evitando a penetração dos mesmos no cabeçote. Espessura: ≥ 5 𝑚𝑚 4 PORTA- PUNÇÕES Aço 1010/40 Fixar os punções no cabeçote. 5 PUNÇÕES Sverker – RT60 Triumph – RCC Hatori – Ve130 VET3 – VND – VC130 VC131 – VW1 – VW3 VT131 (temp. e ret. 62-64 HCR) (trab. a quente) VW9 - VPCW Elementos fundamentais que junto com a matriz conformam a chapa plana em produtos. ∅𝑝𝑢𝑛çã𝑜 ≥ 𝑒𝑐ℎ𝑎𝑝𝑎 6 COLUNAS DE GUIA Aço alto teor de C, sem têmpera Aço 1010/20 temperado cementado e retificado Guiar os punções para a matriz. Obs.: 𝑒𝑛𝑐𝑎𝑖𝑥𝑒 ≥ 1,5. ∅ 48 7 BUCHAS Arne VM40 Statos-extra VND Aço 1020 temperado cementado e retificado Bronze ou ferro fundido Gaiola de esfera Favorecer o deslizamento do cabeçote sobre as colunas. 8 PINOS Aço prata Aço 1040/50 temperado e retificado Além de serem elementos de referência e posicionamento, são também de fixação e aguentam grandes esforços provenientes dos impactos operacionais. Devem ser superdimensionados. 9 PARAFUSO DE FIXAÇÃO Aço liga Unir os vários elementos entre si e com as bases. Sextavado, cabeça com fenda. 10 EXTRATOR Aço laminado Extrair o produto ou a tira dos punções ou das matrizes. 11 GUIAS DAS CHAPAS Aço 1010 Guiar a chapa dentro do estampo. 12 MATRIZ Mesmo material dos punções Peça importante que, juntamente com o punção, conforma o produto. 13 BASE INFERIOR Aço 3430 AF Aço 1010 Aço 1020 Zinc-Alloy Servir de apoio à matriz. Espessura: ≥ 25 𝑚𝑚 49 2.2.1 Espiga de Fixação Elemento de fixação da parte superior ao martelo da prensa. Tem dimensões padronizadas. A fixação da parte móvel ao martelo da prensa é feita aplicando-se um pino com rosca, o qual denominasse de espiga. A espiga é introduzida no furo existente no martelo e, por intermédio de um parafuso, fixa-se o conjunto. A espiga é um elemento de forma cilíndrica e o seu diâmetro, assim como o comprimento, deverá ser de acordo com o furo do martelo já existente na prensa, onde será montado o estampo. Geralmente, a espiga é construída com aço comum como, por exemplo, ABNT1010 ou 1020; exceto em casos especiais, nunca receberá tratamento térmico. Figura 2.12 - Formas de espiga. A espiga será fixada no estampo utilizando a sua própria rosca ou acrescentando parafusos. Em algumas empresas a espiga costuma ser considerado um acessório comum para todos os estampos, ou seja, procura-se desenvolver o estampo na medida do possível, com roscas para espiga de dimensões iguais podendo-se assim utilizar uma mesma espiga para vários estampos e facilitar também o seu armazenamento. As espigas na indústria geralmente são normalizadas, mas mesmo assim é bom que tenhamos conhecimentos quanto ao seu dimensionamento. 50 Para se poder calcular uma espiga, deve-se saber que, quando o estampo estiver trabalhando no sentido positivo, ou seja, o martelo estiver pressionando para produzir a peça, nenhuma força atua na espiga. Entretanto, quando o estampo estiver operando no sentido negativo, ou seja, o martelo retornando ao ponto de repouso, a espiga sofrerá os esforços referentes ao peso da parte móvel do conjunto, e muitas vezes também é acrescida de esforços de extração para sacar o punção do produto. Evidentemente a espiga deve ser suficientemente robusta para poder resistir ao peso do móvel mais o esforço de extração. Assim, em uma espiga, a sua parte mais fraca é o menor diâmetro; considerando o diâmetro do núcleo da rosca como o mais crítico. Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝑛ú𝑐𝑙𝑒𝑜 𝑑𝑎 𝑟𝑜𝑠𝑐𝑎 = Força de extração + peso da parte superior Tensão à tração material da espiga × S O peso da parte superior é calculado sempre para este caso de uma maneira aproximada, considerando-o até por estimativa. A letra “S” encontrada logo após a fórmula será o coeficiente de segurança que normalmente é adotado como sendo 2,5 para a área do núcleo da rosca. Depois que calculada a área do núcleo da rosca, pode-se encontrar o diâmetro do mesmo com a fórmula a seguir: ∅𝑑𝑖â𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 𝑑𝑜 𝑛ú𝑐𝑙𝑒𝑜 𝑑𝑎 𝑟𝑜𝑠𝑐𝑎 = √ 4. (área do núcleo) π A montagem da espiga deverá ser feita no centro de aplicação das forças de corte da peça, ou seja, a força de corte transmitida ao estampo deve-se repartir em cada um dos punções, determinando assim um ponto de aplicação. Para esta condição ser preenchida é necessário calcular o centro de aplicação das forças onde a espiga será montada. O cálculo do centro de aplicação das forças pode ser desenvolvido de duas maneiras: Método Analítico; Método Gráfico. 51 Determina-se o centro de aplicação das forças (CF) pelo método analítico, seguindo as orientações a seguir: 1º) Traçam-se dois eixos Ox e Oy quaisquer perpendiculares entre si e com O comum. 2º) Decompõe-se o perímetro de corte em trechos. 3º) Marca-se o ponto médio de cada trecho. 4º) Multiplica-se o comprimento de cada trecho pela distância de seu ponto médio ao eixo Ox e Oy, respectivamente. 5º) Somam-se todos os produtos calculados e divide-se o resultado pelo perímetro de corte total; o valor encontrado será a distância do centro de aplicação das forças aos eixos Ox e Oy, conforme o eixo de referência utilizado. Para se determinar o ponto médio do 3° item é conveniente utilizar a tabela a seguir. 52 2.2.1.1 Posição da Espiga de Fixação A espiga transmite a força compressiva da prensa para realizar as operações desejadas. Portanto, deve situar-se na linha de ação da resultante de todas as forças que atuam no corte. A posição de espiga é calculada considerando-se os momentos das forças de corte em relação a dois eixos de referência X e Y conforme mostra a figura 2.13. A figura a seguir mostra as posições de três punções de corte. As coordenadas de posição da força resultante (e da espiga) podem ser calculadas usando as equações abaixo: 𝑋𝑒 = ∑ 𝑝𝑖 . 𝑥𝑖 ∑ 𝑝𝑖 𝑌𝑒 = ∑ 𝑝𝑖 . 𝑦𝑖 ∑ 𝑝𝑖 em que 𝑝 é o perímetro de corte e 𝑥 e 𝑦 são coordenadas de posição. Figura 2.13 – Sistema de coordenadas para posicionamento da espiga 53 Exemplo 2.4: Supondo um estampo que tenha que furar conforme a figura 2.14, determinar o CF. Figura 2.14 – Figura referente ao exemplo 2.4 Resolução: Desenvolvendo o método analítico partindo direto para o 4º e 5º itens temos: 𝐺𝑥 = (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 a).41+(comp. de b). 50 + (𝑐𝑜𝑚𝑝. 𝑑𝑒 c).25+(comp. de d). 9 (𝑐𝑜𝑚𝑝. 𝑑𝑒 a)+(𝑐𝑜𝑚𝑝. 𝑑𝑒 b)+(𝑐𝑜𝑚𝑝. 𝑑𝑒 c)+(𝑐𝑜𝑚𝑝. 𝑑𝑒 d) 𝐺𝑦 = (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 a).6+(comp. de b). 25 + (𝑐𝑜𝑚𝑝. 𝑑𝑒 c).16+(comp. de d). 21 (𝑐𝑜𝑚𝑝. 𝑑𝑒 a)+(𝑐𝑜𝑚𝑝. 𝑑𝑒 b)+(𝑐𝑜𝑚𝑝. 𝑑𝑒 c)+(𝑐𝑜𝑚𝑝. 𝑑𝑒 d) Considerando: ∅𝑎 = 5 ⇒ 𝑝𝑒𝑟í𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 = 15,7 ∅𝑏 = 12 ⇒ 𝑝𝑒𝑟í𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 = 37,7 ∅𝑐 = 2 ⇒ 𝑝𝑒𝑟í𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 = 6,3 𝑑 ⇒ 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑒 𝑙𝑎𝑑𝑜 = 6 ⇒ 𝑝𝑒𝑟í𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 = 24 Portanto, desenvolvendo a fórmula, tem-se: 𝐺𝑥 = 15,7𝑥41 + 37,7𝑥50 + 6,3𝑥25 + 24𝑥9 15,7 + 37,7 + 6,3 + 24 = 34,67 𝐺𝑦 = 15,7𝑥6 + 37,7𝑥25 + 6,3𝑥16 + 24𝑥21 15,7 + 37,7 + 6,3 + 24 = 19,61 54 Exemplo 2.5: Na figura 2.15 tem-se um exemplo muito comum, pois a peça é totalmente recortada e precisa-se determinar um centro das forças para seus cortes. Figura 2.15 – Figura referente ao Exemplo 2.5 Resolução: Desenvolvendo pelo método analítico temos sempre que considerar todos os perímetros de corte que estejam com centros médios igualmente distantes do eixo- base e somá-los. Para dimensão CGx deve-se calcular a medida que vai do eixo y até o centro médio dos perímetros somados e considerados, esta distância será nula quando o perímetro considerado coincidir com o eixo que servirá de base. 𝐺𝑥 = 4,5𝑥(9 + 9) + 9𝑥(13 + 20) + 14𝑥10 + 21,5𝑥25 + 19𝑥(20 + 8) + 26,5𝑥(15 + 15 + 15) + 34𝑥(5 + 5) 5 + (9 + 9) + (13 + 20) + 10 + 25 + (20 + 8) + (15 + 15 + 15) + (5 + 5) 𝐺𝑥 = 17,93 Para se determinar CGy segue-se o mesmo processo de CGx, somente que utiliza-se o eixo de base x. 𝐺𝑦 10𝑥(20 + 20) + 20𝑥(9 + 15) + 22,5𝑥(5 + 5) + 25𝑥(9 + 15) + 29𝑥8 + 31,5𝑥13 + 33𝑥15 + 35,5𝑥5 + 38𝑥25 10 + (20 + 20) + (9 + 15) + (5 + 5) + (9 + 15) + 8 + 13 + 15 + 5 + 25 𝐺𝑦 = 22,81 55 2.2.2 Cabeçote, Base Superior ou Placa Superior É o elemento onde se montam (com parafusos) os outros elementos da parte superior (ver Figura 2.11.b) 2.2.3 Placa de choque A Placa de Choque é uma placa de aço endurecido com espessura máxima de 5 mm, colocado entre a cabeça do punção e o cabeçote do estampo. Serve para evitar que as cabeças dos punções transmitam o esforço de corte diretamente para o cabeçote do estampo, impedindo que o punção penetre no cabeçote. Figura 2.16 - Placa de choque. A Placa de Choque é dimensionada para pressão específica 𝑝 = 4 𝐾𝑔 𝑚𝑚2⁄ . ∅ = √ 4. 𝐹 𝜋. 𝑝 𝑜𝑢 □ = √ 𝐹 𝑝 Onde 𝐹 é a força que atua no punção. 56 Figura 2.17 – Punções cujas cabeças se apóiam contra uma placa de aço duro. 2.2.4 Placa Porta-Punção Placa porta-punções é uma placa de aço 1020 a 1030, situada logo abaixo da placa de choque ou da placa superior. É fixada por parafusos e tem como função sustentar punções, cortadores e cunhas. Garante a posição do punção no estampo e facilita a montagem. 2.2.5 Punção Ferramenta de corte usada em conjunto com a matriz. Nas peças de pequenas dimensões, os punções são fabricados geralmente em uma só peça. Nas peças de dimensões médias, os punções podem ser fabricados em duas peças. Nas peças de grandes dimensões, os punções são fabricados geralmente com facas acopladas. O corpo do punção será em aço semiduro ou de fundição. As facas terão no Maximo 250 mm de comprimento (para evitar deformação na têmpera) 57 2.2.5.1 Dimensionamento dos Punções de Corte Durante a operação de corte o punção é comprimido axialmente,necessitando, portanto, que seja dimensionado de modo a resistir aos esforços de compressão. A figura 2.18 mostra um punção carregado. Figura 2.18 – Esquema representativo de um punção para efeito de dimensionamento. A tensão de trabalho do punção não deve ultrapassar a tensão admissível 𝜎𝐶 do material com que é confeccionado. Logo: 𝜏𝐶 = 𝑃 𝑆 ≤ 𝜎𝐶 [𝑘𝑔 𝑚𝑚 2]⁄ Sendo o punção carregado axialmente, o mesmo pode flambar. Para evitar este inconveniente, limita-se o comprimento do punção ao valor dado pela fórmula de Euller (Pro-Tec, Estampos II, 1985): 𝑙0 = √ 𝜋2. 𝐸. 𝐼𝑚í𝑛 𝑃 [𝑚𝑚] 𝐼𝑚í𝑛 = momento de inércia mínimo da seção do punção 𝐸 = módulo de elasticidade normal. onde, 𝑙 e 𝑙0 são, respectivamente, os comprimentos real e de flambagem do punção, estimados por: 𝑙0 = { 2,00. 𝑙 − 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑝𝑢𝑛çã𝑜 𝑠𝑖𝑚𝑝𝑙𝑒𝑠 0,75. 𝑙 − 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑝𝑢𝑛çã𝑜 𝑔𝑢𝑖𝑎𝑑𝑜 58 Observa-se que os punções guiados podem ter maior comprimento real que os punções simples. A figura 2.19 apresenta fórmulas para o dimensionamento das diferentes geometrias de punções, com e sem placa guia. Figura 2.19 – Geometrias de punções e dimensionamento. (a) Punção de seção transversal redonda sem placa guia-punção. (b) Punção de seção transversal redonda com placa guia- punção. (c) Punção de seção transversal quadrada sem placa guia-punção. (d) Punção de seção transversal quadrada com placa guia-punção. 𝑙𝑡 → Comprimento teórico do punção 𝐸 → Módulo de elasticidade longitudinal do material do punção 𝛿 → Espessura da chapa a ser cortada 𝜎𝑟 → Tensão de ruptura do material a ser cortado 𝑑 → Diâmetro do punção, caso o punção tenha seção circular 𝑏 → Comprimento da base da seção transversal do punção, caso o punção tenha seção retangular ℎ→ Altura da seção transversal do punção, caso o punção tenha seção retangular. É possível evitar a flexão (flambagem) dos punções redondos de pequeno diâmetro, prevendo dois diâmetros no punção. A parte que tem o diâmetro a ser puncionado terá um comprimento de 8 a 10 mm e será continuada pelo corpo do 59 punção fabricado com diâmetro bem maior. Às vezes são fabricados em duas peças, uma bucha exterior que reforça o punção. Figura 2.20 - Tipos de punções. Características: Elevada resistência mecânica e dureza; Resistência a choques e desgaste; Boa temperabilidade e fácil usinagem; Indeformável durante tratamento térmico; Materiais: aços indeformáveis de alta liga. Colunas de guia: guiam o movimento descendente dos punções. São 2 em estampos pequenos e 4 em estampos grandes. 2.2.5.2 Tipos de Punções de Corte O tipo mais usado é o retificado em esquadro (1); é o mais barato e sempre usado para corte de chapas com 𝑒 ≤ 2 𝑚𝑚. Os punções de diâmetro relativamente grande são comumente feitos côncavos ou com fio de corte inclinado (2, 3, 4, 5). O número 2 é usado para ∅ = 40 ÷ 200 𝑚𝑚. 60 Figura 2.21 - Tipos de Punções de Corte. 2.2.5.3 Fixação dos Punções Se o punção está usinado em todo o seu comprimento, pode ser fixado na placa suporte por um encaixe na parte superior. Nos punções usinados em uma parte de sua altura, a fixação pode ser feita diretamente na placa por parafusos e pinos de centragem. Nos punções de seção circular pode ser prevista uma saliência na usinagem. Se o punção deve ser orientado, um rebaixo plano na saliência impedirá qualquer movimento. Para punções de grandes dimensões a fixação pode ser feita diretamente sobre a prensa (ferramenta simples) prevendo o lugar da espiga ou saliências adequadas para fixação, por meio de bridas. Obs.: A fixação dos punções pode igualmente se feita com Cerromatrix. Figura 2.22 - Fixação de punções. 61 Figura 2.23 - Alguns sistemas de fixação de punções. Figura 2.24 - Exemplos de mecanismos de fixação de punções. 62 2.2.5.4 Embuchamento dos Punções Serve para evitar o fenômeno da flambagem dos punções delgados, aumenta-se a sua robustez por meio de embuchamento. Figura 2.25 - Punção delgado com embuchamento. 2.2.7 Colunas de Guia As Colunas de Guia com ou sem buchas, garantem o alinhamento da base e do cabeçote. Figura 2.26 - Ferramenta com colunas. 63 As colunas podem ser de aços com alto teor de carbono (Aço 1040/50) temperados, revenidos e retificadas, ou de aços 1010/20, cementados, temperados, revenidos e retificadas. Em certos casos, as colunas de guias são substituídas por outros artifícios que também garantem o alinhamento entre as bases inferior e superior. Figura 2.27 - Colunas de guias. As colunas devem ser no mínimo duas, e possuir: Comprimento suficiente para impedir a separação do cabeçote e da base durante o funcionamento; Diâmetro bastante grande para dar rigidez ao conjunto; Encaixe na base maior ou igual a 1,5∅. Para satisfazer a condição acima, às vezes recorre-se a elementos suplementares soldados. Para as bases com mais de duas colunas, observam-se os mesmos critérios. Para evitar montagem errada das ferramentas, costuma-se escolher as duas colunas com ∅ diferentes. 64 2.2.8 Buchas Se a ferramenta de colunas é fabricada com uma armação de aço semiduro, é necessário utilizar buchas, com ou sem dispositivos de lubrificação. Figura 2.28 – Diferentes tipos de buchas utilizadas Reduzem o atrito e o desgaste nas colunas de guia. As Buchas representam um aperfeiçoamento das ferramentas, são confeccionadas com material mais mole que as colunas: Aço 1010 cementado, temperado e retificado, ou bronze em alguns casos. Figura 2.29 - Colunas de guia com buchas deslizantes sobre esferas. Em casos especiais, as buchas deslizam sobre as colunas por meio de gaiolas de esferas, em ferramentas que devem trabalhar com cadência muito rápida. Para este efeito utilizam-se buchas de guias formadas por: Uma bucha de aço duro montado a pressão na armação superior e que serve de pista de rodagem às esferas. Uma coroa de esferas que se movimenta livremente na bucha interna e no interior da qual se movimenta a coluna. Tem a vantagem de guiar mais precisamente, mais suave e com menor desgaste. 65 2.2.9 Pinos de Fixação São responsáveis pelo correto posicionamento entre as partes. Semi-cego Cego Passante Figura 2.30 - Pinos de fixação. 2.2.10 Parafusos Os parafusos são responsáveis pela força de fixação. 66 2.2.11 Extrator Serve para extrair a chapa perfurada dos punções. Também chamado placa ou ponte extratora. Podem ser aplicados à matriz ou ao punção. Figura 2.31 - Extrator de mola. 2.2.12 Guias da Tira Evitam que a tira saia da posição correta. Para evitar a deformação da chapa, usa-se o prensa-chapas. Figura 2.32 - Ferramenta de corte com guia. 67 2.2.13 Matriz Ferramenta de corte usada em conjunto com o punção, a figura 2.33 mostra uma matriz com geometria complexa. Figura 2.33 – Exemplo de matriz. É uma placa de aço com elevado teor de carbono, temperada, revenida e retificada, com cavidades que têm a mesma secção dos punções. Tem a função de reproduzir peças pela ação dos punções. Observe que a matriz apresenta, nas arestas internas de corte, uma parte cônica para facilitar a passagem da peça ou do retalho como mostra a figura 2.34. Figura 2.34 - Forma das matrizes. As placas-matrizes podem ser inteiriças, quando constituídas de uma única peça, ou seccionadas, quando constituídas de várias peças utilizadas nos estampos de grandes dimensões. São possíveis 3 tipos de fabricação: Em uma peça Com placa acoplada Com peças acopladas 68 2.2.13.1 Fabricação com Placa de Corte Fracionada Pode ser feita de dois modos:2.2.13.1.1 Com Placa de Corte Fracionada - Normal O suporte da matriz, de aço semiduro, é fabricado com um encaixe para receber as peças acopladas, fixadas por parafusos e pinos de guia. A divisão da placa de corte será feita de modo a facilitar a usinagem e evitar as deformações na têmpera. Nunca se deve secionar no ângulo ou no alinhamento de uma secção de facas acopladas do punção. Nos furos redondos, podem ser previstas buchas ajustadas; estas serão encaixadas a pressão na matriz, ou montadas sem folga e retidas por uma presilha. 2.2.13.1.2 Com Placa de Corte Fracionada - de Blocos A matriz é formada por: Um suporte em aço semiduro, este tem a forma de uma placa furada que tem, nos dois lados, parafusos de pressão (a dimensão do encaixe será superior em 3 mm às dimensões totais dos blocos). Blocos de aço duro temperado. São peças segmentadas das quais todas as partes são retificadas, e que, unidas por parafusos de pressão, formam a placa de corte da matriz. (Figura 2.35) Figura 2.35 - Matrizes compostas ou de segmentos. 69 2.2.13.2 Determinação das Uniões Neste caso, a matriz é acabada independentemente dos punções. As uniões serão feitas de preferência no alinhamento das arestas cortantes, figura 2.36. Todos os blocos devem encaixar entre si e se manter fixos mutuamente sob o aperto dos parafusos de pressão. Figura 2.36 - Montagem de matrizes de segmento. 2.2.13.3 Duração de uma Matriz Pode ser admitido que uma ferramenta bem fabricada possa cortar de 30000 a 50000 peças sem ser afiada. Cada afiação necessita em média da retirada de 0,15 mm de material sobre a matriz. Será possível então cortar de 1.200.000 a 2.000.000 de peças antes de serem retirados 6 mm da matriz. 70 2.2.13.4 Dimensionamento da Matriz O furo da matriz é formado por uma parte cilíndrica, de perfil e dimensões constantes, continuada por uma conicidade chamada saída. A parte cilíndrica deve ser igual a 3 ou 4 vezes a espessura da chapa até 2 mm (1,5 vezes se e>2 mm). Se a ferramenta deve ser utilizada para uma série muito grande, a altura da parte cilíndrica pode ser verificada, tendo em conta o material retirado de cada vez que a ferramenta é afiada e o número de peças cortadas entre estas operações. 𝐻 = 0,15𝑥(𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑝𝑒ç𝑎𝑠) 30.000 𝑎 50.000 0,15 representa a espessura retirada em cada retificação. 30000 a 50000 representa o número de peças que podem ser cortadas entre 2 retificações. O ângulo de saída varia entre 1 e 3°. Em alguns casos a saída é prolongada até a face de corte, mas então é preferível fazer esta saída com um ângulo menor na parte superior (0,5°), Nos furos redondos é possível fazer continuar a parte de corte por um furo cilíndrico que tenha pouco mais ou menos 2 mm de diâmetro a mais que o furo de corte, porém é preferível continuar em forma cônica (evita que os retalhos fiquem presos). As matrizes devem ser projetadas de modo a facilitar a sua confecção e minimizar os custos com materiais especiais na hora da fabricação, quanto nas eventuais substituições de partes quebradas. Se necessário, usar matrizes compostas em 2, 3 ou 4 partes (também chamadas matrizes de segmentos) que facilitam a confecção, diminuem o custo e facilita a têmpera, figura 2.37. A eficiência da ferramenta depende de um bom projeto, da escolha criteriosa dos materiais empregados na sua confecção, do grau de acabamento e dos tratamentos dados aos seus elementos. 71 Figura 2.37 - Matrizes para pequenas peças ou pequenos furos. O uso de incertos de materiais duros pode facilitar a manufatura da matriz e reduzir consideravelmente o valor da ferramenta, figura 2.38. Figura 2.38 - Matriz com inserto. 2.2.13.4.1 Espessura da Matriz A força proveniente do punção se distribui ao longo dos gumes de corte da matriz de forma tal que se esta não tiver espessura suficiente, acabará estourando. Em geral são deixados de 25 a 30 mm entre a aresta cortante e o canto externo. Tem uma espessura de 18 a 28 mm (20 a 30 antes de usinar, conforme as dimensões). A espessura das placas ou facas acopladas fica entre 8 e 23 mm (idem para os punções) e as facas acopladas têm um comprimento limitado a 250 mm. Para a fabricação das ferramentas das peças acopladas, o suporte da matriz terá de 28 a 67 mm (30 a 70 mm antes de usinar) conforme as dimensões da peça a ser cortada. 72 Figura 2.39 - Matriz. A experiência aconselha (fórmula empírica): Em que: Obs.: É comum prever uma espessura extra de 6 a 8 mm para afiação das matrizes. Neste caso, existe uma parte cilíndrica, como mostra a figura 2.40. Figura 2.40 Formato da abertura da matriz de corte conforme o material a ser cortado 73 A distância Z entre a borda do furo e a borda da matriz deve ser de uma a duas vezes a espessura E para matrizes menores que 200 x 200 mm e de duas a três vezes a espessura para matrizes maiores. Abertura das matrizes: Os pinos de guia devem ser posicionados a mais de 7mm das bordas, par evitar quebras; Usar cantos arredondados (r ≥ 3 mm), sempre que isto for possível, pois os cantos vivos produzem concentração de tensões; Evitar marcas de usinagem e arranhões profundos, devido à alta sensibilidade do aço ao entalhe, que produz perda de resistência mecânica; Distribuir uniformemente o material, a fim de que o calor gerado no processo se dissipe uniformemente na matriz; Evitar furos cegos (não passantes), para obter distribuição uniforme de material e para evitar acúmulo de sujeira; A forma da matriz deve prever a operação de têmpera. Para isto, devem- se evitar partes pontiagudas e partes com comprimentos muito diferentes. Após a têmpera, a matriz deve ser afiada, nunca ao contrário; Punções com formas complexas podem ser feitos em partes que, posteriormente, serão unidas. A distância de uma aresta de corte com as laterais da matriz depende do tipo de aresta: Circular (raio ou circunferência); Face paralela; Encontro de arestas em ângulo. Também existem valores para as distâncias entre os furos de parafusos, pinos de guia e arestas de corte. As diferentes distâncias entre elementos da matriz são apresentadas nos desenhos da Figura 2.41. 74 Figura 2.41 – Posicionamento dos elementos de fixação da matriz Matrizes acima de 200 mm são necessariamente construídas em partes (postiços), em função tanto de distorções provenientes de tratamento térmico quanto da diminuição da altura necessária para suportar o esforço de corte. Isto porque o dimensionamento da altura do postiço é feito em função da força de corte incidente sobre ele. Ou seja, cada postiço deverá suportar os esforços correspondentes ao perímetro de corte que ele possui. As Figuras 2.42, 2.43 e 2.44 mostram exemplos de matrizes construídas com postiços (insertos). 75 Figura 2.42 - Exemplo de construção de matrizes. Figura 2.43 – Matrizes construídas em partes. 76 Figura 2.44 – Concepções de matrizes construídas em partes 2.2.14 Base inferior Pertence à prensa. É onde se monta a matriz. Serve de apoio à placa-matriz e fixada a ela por meio de parafusos e pinos de guia. É construída em aço 1020 a 1030. Quando a peça já cortada sai pela parte inferior da matriz, a placa-base tem sempre uma cavidade com dimensão maior para facilitar a saída. 2.2.15 Topes São dispositivos de retenção, colocados no estampo, para posicionar a tira, obter uniformidade nas peças e relacionar-se diretamente com a economia de material. São constituídos de aço temperado com formato e dimensões de acordo com as necessidades do trabalho. Sua posição no estampo depende do formato do produto e do sistema de corte. 772.2.15.1 Topes Fixos São os que se colocam no conjunto inferior do estampo. Utilizam-se para baixa produção. Classificam-se em: a) Os que permitem avançar a tira, dando-lhe posição, ao encontrar-se com o corte anterior (Figura 2.45). Figura 2.45 – Tope fixo, trava a peça pelo lado interno do corte. b) Os que permitem a tira avançar diretamente até o tope montado na parte exterior do estampo, mediante um suporte (Figura 2.46). Figura 2.46 – Tope fixo, trava a tira fora do estampo. Observação: Para aplicar este sistema é necessário que as peças sejam da mesma largura que a tira. (Figura 2.47). Figura 2.47 – Esquema de tope fixo no lado externo do estampo e tira. 78 2.2.15.2 Topes Móveis São utilizados no conjunto inferior do estampo e se empregam para alta produção. 2.2.15.2.1 Tope de balancim/trinco Consiste num tope basculante e é acionado pelo movimento da prensa, figura 2.48. Esse sistema permite obter maior produção que o anterior. Utilizam-se geralmente nos estampos nos quais a alimentação da tira se faz de forma automática. Figura 2.48 - Tope de balancim. Funcionamento: a) Ao empurrar a tira contra o tope “A”, este se apoia na face anterior da sua cavidade. b) Ao descer o punção, depois de fixar a tira, obriga o tope “A” a levantar-se por meio do acionador “P”. c) Efetuado o corte, o tope volta à sua posição pela ação da mola e se apóia sobre a tira. d) Ao empurrar a tira, que agora está livre, o tope “A” cai na cavidade recém-cortada e se apoia novamente na face anterior desta e o ciclo recomeça. 79 As figuras 2.49 e 2.50 mostram exemplos de topes com sistemas de trinco, com avanço automático e manual, respectivamente. Esses sistemas apresentam como vantagem o fato de ser suficiente empurrar a tira, com movimento uniforme, para obter bom rendimento no estampo. Figura 2.49 - Sistema de tope por trinco com avanço automático. Figura 2.50 - Sistema de tope por trinco com avanço manual. 2.2.15.2.1 Estampo com Topes Móveis ou Auxiliares A figura 2.51 mostra um estampo utilizando-se topes móveis para os dois primeiros passos e o tope fixo para os passos sucessivos. Figura 2.51 - Estampo com topes móveis. 80 Utiliza-se em combinação com outros sistemas, para evitar perdas de material no começo e no final da tira. a) Para aproveitar a primeira peça, aciona-se manualmente a tira (Figura 2.52); Figura 2.52 – Sistema de tope auxiliar onde a primeira peça é obtida com o avanço manual da tira. b) Para aproveitar as últimas peças com movimento lateral e efeito central (Figura 2.53). Figura 2.53 – Sistema de tope auxiliar para aproveitamento das últimas peças da tira. 2.2.16 Facas de Avanço A faca de avanço tem a mesma finalidade do encosto que é de limitar o passo da tira, com a vantagem na rapidez e precisão, e a desvantagem de se ter que acrescentar material na tira para que se possa cortar este material equivalente ao o avanço; quanto a esta quantidade de material, pode-se seguir a tabela referente à figura 2.54. 81 Figura 2.54 – Dimensões da faca de avanço. Na figura 2.55 tem-se uma faca de avanço, uma chapa introduzida na matriz vai livremente até o ponto A, encontra o obstáculo que estreita a passagem da tira impedindo o seu avanço. Acionando o estampo, efetua-se o corte referente à faca reduzindo a largura da tira com comprimento igual ao passo; a tira com a largura reduzida pode ser conduzida para dentro do estampo até encontrar novamente o obstáculo do ponto A; novamente se aciona o estampo, e assim sucessivamente. Figura 2.55 – Esquema de funcionamento de faca de avanço. 82 As facas de avanço se aplicam comumente em peças de espessura de 0,2 até 4 mm, e de preferência quando a alimentação for automática compensando assim a perda de material provocada pelo acréscimo na tira. As facas de avanço devem estar localizadas no estampo de tal modo a evitar regiões fracas na matriz, figura 2.56. Figura 2.56 – Posicionamento adequado das facas de avanço. Geralmente, as facas de avanço sofrem desgaste nos cantos vivos, dando origem a pequenas saliências na tira, figura 2.57, impedindo depois o livre deslizamento da mesma dentro da guia. Pode-se eliminar estes inconvenientes fazendo na própria faca de avanço, dois ressaltos para que, ao cortar o passo, a saliência indesejável não venha interferir. Figura 2.57 – Compensação do desgaste em facas de avanço. 83 A casos de facas de avanço que não perdem nada, simplesmente aproveitam o corte da faca para o corte da peça desejada, figura 2.58, sendo comum este tipo de aplicação. Figura 2.58 – Sistema de faca de avanço em que não há desperdício de material. Existem facas de avanço que podem ser chamadas de facas auxiliares, figura 2.59, que têm como objetivo cortar um entalhe lateral na tira, sendo que este entalhe permite avançar a tira e encaixar em um encosto previsto; consequentemente, este sistema tem a vantagem de não permitir perda de material. Figura 2.59 – Facas de avanço auxiliares. No caso de tiras com muita largura ou acima de 200 mm, assim como espessura maior que 2 mm utilizam-se duas facas para garantir realmente a precisão da peça, figura 2.60a. Para permitir o aproveitamento da tira, pode ser utilizada a disposição indicada na figura 2.60b. 84 Figura 2.60 – Utilização de facas de avanço. Para estampos de produzem um grande número de peças, deve-se aplicar pastilhas temperadas nas réguas laterais do lado das facas de avanço. A utilização deste material nas réguas permite uma vida útil maior para a matriz e garante a precisão no alinhamento da tira. Observe que as facas de avanço, seja de que tipo for, devem ser escoradas na parte de trás para evitar consequências desastrosas. A faca de avanço cortando lateralmente da tira um retalho igual ao passo, lhe proporciona um avanço exato. Figura 2.61 – Tipos de encostos para facas de avanço. Centradores e facas de avanço em conjunto, proporcionam produto de maior precisão. Na figura 2.62 observa-se o uso de centradores montados nos punções de corte (pilotos). 85 Figura 2.62 – Montagem com centradores e facas de avanço em conjunto. 2.3 - Fixação de Matrizes e Punções Muitas matrizes se rompem porque estão mal fixadas ou não alinhadas com o punção. As matrizes devem ser fixadas no porta-matriz através de parafusos, por interferência ou por anéis de fixação cônicos, aparafusados ou com rosca. Nos punções, deve-se prevenir a sua rotação. As vantagens são: Economia de aços especiais; Possibilidade de regular o alinhamento com o punção; Troca rápida da matriz (substituição ou afiação). 86 2.4 Tipos de Corte 2.4.1 Corte Simples O estampo não é guiado. Usado para peças de contorno simples e fabricação em pequena quantidade. Principalmente para chapas grandes e operações de puncionamento. Precisão: ± 0,2 mm. Figura 2.63 – Exemplo de corte não guiado. 2.4.2 Corte Guiado O estampo é guiado através de uma chapa “máscara” ou “placa guia-punção”, figura 2.64. É usado para grandes quantidades de peças obtidas a partir de tiras ou chapas estreitas. Precisão: ± 0,08 mm. Figura 2.64 - Exemplos de corte guiado. 87 2.4.3 Corte Global ou “de Bloco” As operações de puncionamento e recorte são realizados de uma só vez, sem necessitar de avanço da tira metálica para completar a peça. O produto tem como característica, a presença de rebarbas de um só lado, figura 2.65. Precisão: ± 0,025 mm. Figura 2.65 - Perfil de uma peça confeccionada por corte global. As figuras 2.66, 2.67 e 2.68 mostram exemplos de matrizes para corte global. Figura 2.66 - Estampo para corte global. 88 Figura 2.67
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