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Apostila V 
A Salvação 
 
Esta apostila é uma montagem do site Teologia Calvinista. Todos os estudos aqui são do acervo do site e 
nossa atenção aqui é voltada àqueles que se propuseram a iniciar os estudos das Escrituras e querem dar seus 
primeiros passos no estudo da Teologia Reformada Calvinista. Aqui selecionamos os autores e estudos 
cuidadosamente, para que se possa expor esta fé com conteúdo e simplicidades. Nesta apostila V vamos 
estudar sobre a Salvação. 
www.teologiacalvinista.v10.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição : 16 de Julho de 2007 
 2 
Índice 
 
A Salvação - 05 
R. C. Sproul 
 
O LIVRE-ARBÍTRIO 
 
O Livre-Arbítrio - 06 
R. C. Sproul 
 
Livre-arbítrio: Afinal, temos ou não temos? - 07 
Rev. Waldemar Alves da Silva Filho 
 
FÉ 
 
A Fé - 12 
R. C. Sproul 
 
A Fé Salvadora - 13 
R. C. Sproul 
 
Os elementos, objeto e base da Fé - 14 
Louis Berkhof 
 
O CHAMADO 
 
O chamado do evangelho - 17 
Wayne Grudem 
 
A Vocação Eficaz - 20 
R. C. Sproul 
 
ARREPENDIMENTO 
 
O Arrependimento - 21 
R. C. Sproul 
 
Arrependimento - 22 
Bíblia de Estudo de Genebra 
 
A REGENERAÇÃO 
 
O Novo Nascimento - 23 
R. C. Sproul 
 
A Regeneração - 24 
Wayne Grudem 
 
Regeneração e Novo Nascimento - 28 
Bíblia de Estudo de Genebra 
 
A Regeneração Precede a Fé - 29 
R.C. Sproul 
 
A conversão (fé e arrependimento) - 30 
Wayne Grudem 
 
ADOÇÃO 
 
Adoção - 34 
Bíblia de Estudo de Genebra 
 
 3 
 
PREDESTINAÇÃO (Eleição e Reprovação) 
 
A Predestinação - 35 
R. C. Sproul 
 
Predestinação e Reprovação - 36 
R. C. Sproul 
 
A Doutrina da Reprovação - 38 
Wayne Grudem 
 
A doutrina da Predestinação - 39 
João Calvino 
 
Eleição - 42 
J. I. Packer 
 
Eleição e Reprovação - 43 
Bíblia de Estudo de Genebra 
 
A JUSTIFICAÇÃO 
 
A Justificação pela Fé - 43 
R.C. Sproul 
 
Justificação e Mérito - 44 
Bíblia de Estudo de Genebra 
 
Diferença entre Justificação e Santificação - 45 
Desconhecido 
 
A EXPIAÇÃO 
 
A Expiação - 46 
R. C. Sproul 
 
A Expiação - 47 
Bíblia de Estudo de Genebra 
 
Mais sobre a Expiação - 48 
Desconhecido 
 
Expiação Limitada / Definida - 50 
R. C. Sproul 
 
A SANTIFICAÇÃO 
 
A Santificação - 52 
J. I. Packer 
 
A Santificação é obra sobrenatural de Deus, mas cooperamos - 53 
Louis Berkhof 
 
A PERSEVERANÇA 
 
A Perseverança dos Santos - 54 
R. C. Sproul 
 
A perseverança dos santos (permanecer cristão) - 55 
Wayne Grudem 
 
 4 
A Explicação para os Aparentes Casos de Perda de Salvação - 63 
Wayne Grudem 
 
 
A CERTEZA DE SALVAÇÃO 
 
A Certeza da Salvação - 68 
R. C. Sproul 
 
 
LEI, GRAÇA E AS OBRAS 
 
A Lei de Deus - 70 
N.Mascolli F. 
 
A Graça e a Lei - 71 
J. I. Packer 
 
Lei e Graça - 72 
Mauro Fernando Meister 
 
O Tríplice uso da Lei - 82 
R. C. Sproul 
 
Mérito e Graça - 83 
R. C. Sproul 
 
A Fé e as Obras - 84 
R. C. Sproul 
 
A LIBERDADE 
 
Liberdade - A Salvação traz Liberdade - 85 
J. I. Packer 
 
A RESSURREIÇÃO FINAL E A GLORIFICAÇÃO 
 
A Ressurreição Final - 86 
R. C. Sproul 
 
A Glorificação - 87 
R.C. Sproul 
 
Capítulo 8 e 20 da Confissão de Westminster - 88 
 
 
 
 
 
 
 
 5 
A Salvação 
Ez 36.26,27; Sf 1; Jo 3.16,17; Rm 1.16-17; 1 Co 1.26-31; 1 Ts 1.6-10 
Certa vez me defrontei com um jovem, na Filadélfia, que me perguntou: "Você está salvo?" Minha resposta 
foi: "Salvo do quê?" Mina pergunta pegou-o de surpresa. Obviamente não tinha pensado muito 
profundamente sobre o significado da pergunta que estava fazendo às pessoas. Certamente eu não estava 
salvo das pessoas que me paravam na rua e me importunavam com a pergunta: "Você está salvo?" 
A questão sobre estar salvo é a suprema questão da Bíblia. O tema principal das Sagradas Escrituras é a 
salvação. Jesus, quando foi concebido no ventre de Maria, foi anunciado como o Salvador. Salvador e 
salvação caminham junto. O papel do Salvador é salvar. 
Perguntamos novamente, salvos de quê? O significado bíblico de salvação é amplo e variado. Em sua forma 
mais simples, o verbo salvar significa "ser resgatado de uma situação perigosa ou ameaçadora". Quando 
Israel escapava das derrotas nas mãos de seus inimigos em batalhas, dizia-se que fora salvo. Quando as 
pessoas se recuperam de uma enfermidade grave, experimentam salvação. Quando a colheita é poupada das 
pragas e das secas, o resultados se chama salvação. 
Usamos a palavra salvação de maneira semelhante. Dizendo que um boxeador foi "salvo pelo gongo" se o 
assalto termina antes que o juiz possa fazer a contagem que determina o nocaute. Salvação significa ser 
resgatado de alguma calamidade. Entretanto, a Bíblia também usa o termo salvação num sentido específico 
para referir-se à nossa redenção suprema do pecado e à nossa reconciliação com Deus. Neste sentido, somos 
salvos da pior de todas as calamidades - o juízo de Deus. A salvação suprema é concretizada por Cristo, o qual 
"nos livra da ira vindoura" (1 Ts 1.10). 
A Bíblia anuncia claramente que haverá um dia de julgamento quando todos os seres humanos prestarão 
contas diante do tribunal de Deus. Para muitos, este "dia do Senhor" será um dia de trevas, sem luz alguma. 
Será o dia quando Deus derramará sua irá sobre o ímpio e impenitente. Será o holocausto supremo, a hora 
mais triste, a pior calamidade da história da humanidade. Salvação suprema significa ser poupado da ira 
divina que certamente virá sobre o mundo. Esta é a operação que Cristo realiza por seu povo como seu 
Salvador. 
A Bíblia usa o termo salvação não só em muitos sentidos, mas também em muitos tempos verbais. O verbo 
salvar aparece em praticamente todos os tempos verbais possíveis da língua grega. Existe um sentido no qual 
nós fomos salvos (desde a fundação do mundo); estávamos sendo salvo (pela obra de Deus na História); 
somos salvos (por estarmos num estado justificado); estamos sendo salvos (sendo santificados ou sendo 
feitos santos); e seremos salvos (experiência da consumação da nossa redenção no céu). A Bíblia fala da 
salvação em termos de passado, presente e futuro. 
Às vezes relacionamos a salvação presente em termos de justificação, a qual é presente. Ouras vezes vemos a 
justificação como um passo específico na ordem total ou plano da salvação. 
Finalmente, é importante notar outro aspecto central no conceito bíblico de salvação. A salvação procede do 
Senhor. Salvação não é um empreendimento humano. Os seres humanos não podem salvar a si próprios.A 
salvação é uma obra divina; é concretizada e aplicada por Deus. A salvação pertence ao Senhor e provém do 
Senhor. É o Senhor quem nos salva da ira do Senhor. 
Sumário 
1. O sentido geral de salvação é "ser regatado de uma situação ameaçadora". 
2. A salvação suprema significa ser poupado da calamidade suprema da ira de Deus. 
3. A Bíblia fala da salvação em vários tempos verbais, referindo-se à obra de redenção feita por Deus, no 
presente, no passado e no futuro. 
4. A justificação ás vezes é usada como sinônimo de salvação; em outras ocasiões é vista como aspecto no 
esquema geral da salvação. 
 6 
5. A salvação pertence ao Senhor e provém do Senhor. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. 
O LIVRE-ARBÍTRIO 
O Livre-Arbítrio 
Dt 30.19,20; Jp 6.44,65; Jo 8.34-36; Jo 15.5; Rm 8.5-8; Tg 1.13-15 
Neste exato momento você está lendo estas palavras porque você decidiu, por sua própria vontade, lê-las. 
Você pode protestar e dizer: "Não! Eu na decidi ler estas palavras. Fui incumbido de ler este livro. Realmente 
não quero lê-lo". Tal vez esse seja o caso. No entanto, você o está lendo. Pode ser que haja outras coisas que 
você preferia estar fazendo neste momento, mas de qualquer forma você decidiu lê-lo. Você decidiu lê-lo e, 
vez de decidir não lê-lo. 
Não sei por que você esta lendo isto. Mas sei que você deve ter uma razão para lê-lo. Se você não tivesse 
razão para lê-lo, simplesmente não teria decidido lê-lo. 
Toda escolha que fazemos na vida, fazemos por alguma razão. Nossas decisões baseadas sobre o que parece 
bom para nós no momento, considerando-setodas as implicações. Fazemos algumas coisas movidos por 
intenso desejo. Fazemos outras sem termos consciência de nenhum desejo. Mesmo assim, o desejo está lá, ou 
então não escolheríamos fazer tais coisas. Essa é a própria essência do livre-arbítrio - escolher de acordo com 
nosso desejos. 
Jonathan Edwards, em seu livro The Freedom of the Will [A Liberdade de Vontade], define a vontade como 
"o instrumento pelo qual a mente escolhe". Não há dúvida de que os seres humanos de fato fazem escolhas. 
Eu estou escolhendo escrever e você está escolhendo ler. Eu quero escrever e a escrita é acionada. Quando a 
idéia de liberdade é acrescentada, entretanto, o assunto torna-se terrivelmente complicado. Temos de 
perguntar: liberdade para fazer o quê? Até mesmo o calvinista mais ardoroso não pode negar que a vontade é 
livre para escolher qualquer coisa que ela deseja. Até mesmo arminiano mais convicto concordaria qual a 
vontade não é livre para escolher aquilo que não deseja. 
Com respeito à salvação, a questão é: o que o ser humano deseja? Os arminianos crêem que alguns desejam 
arrepender-se e ser salvos. Outros desejam fugir de Deus, e assim colher a condenação eterna. Por que 
pessoas diferentes têm desejos diferentes nunca foi esclarecido pelos arminianos. Os calvinistas sustentam 
qual todo ser humano deseja fugir da presença de Deus a menos e até o Espírito Santo opere a obra de 
regeneração, a qual muda nossos desejos, para que livremente nos arrependamos e sejamos salvos. 
É importante notar que mesmo as pessoas não regeneradas nunca são forçadas contra sua vontade. Sua 
vontade é transformada sem sua permissão, mas são sempre livres para escolher conforme queiram. Assim, 
de fato somos livres para fazer segundo queremos. Não somos livres, contudo, para escolher ou selecionar 
nossa natureza. Ninguém pode declarar simplesmente: "De agora em diante vou desejar só o bem"; da 
mesma maneira que Cristo não poderia ter declarado: "De agora em diante vou desejar só o mal". É aquele 
que termina nossa liberdade. 
A Queda deixou a vontade humana intacta no sentido em que ainda temos a faculdade de escolher. Nossa 
mente foi obscurecida pelo pecado e nossos desejos presos a impulsos ímpios. Mas ainda podemos pensar, 
escolher e agir. Mesmo assim, algo terrível nos aconteceu. Perdemos todo anseio por Deus. Os pensamentos e 
desejos de nossos corações são continuamente maus. A liberdade de nossa vontade tornou-se uma maldição. 
Visto que ainda podemos escolher segundo nossos desejos, escolhermos pecar e assim nos tornamos 
passíveis do juízo de Deus. 
Agostinho disse que ainda temos livre-arbítrio, mas perdemos nossa liberdade. A liberdade real sobre a qual 
a Bíblia fala é a liberdade ou o poder de escolher Cristo como nosso. Entretanto, até que nosso coração seja 
mudado pelo Espírito Santo, não sentimos nenhum desejo por Cristo. Sem esse desejo, nunca o 
escolheremos. Deus tem de despertar nossa alma e nos dar uma aspiração por Cristo antes que sejamos 
inclinados a escolhê-lo. 
 7 
Edwards disse que, como seres humanos caídos, retemos nossa liberdade natural (o poder de agir de acordo 
com nossos desejos), mas perdemos nossa liberdade moral. A liberdade moral inclui disposição, inclinação e 
desejo da alma em relação à justiça. Foi esta inclinação que se perdeu na Queda. 
Toda escolha que faço é determinada por algo. Há uma razão para ela, um desejo por trás dela. Isso soa como 
determinismo? De maneira nenhuma! O determinismo ensina que nossa ações são completamente 
controlados por fatores que nos são externos, que nos obrigam a fazer o que não queremos. Isso é coerção e 
se opões à liberdade. 
Como nossas escolhas podem ser determinadas, mas não coagidas? Porque são determinadas por algo 
interior - pelo que nós somos e pelo que desejamos. São determinadas por nós mesmos. Isso é 
autodeterminação, que é a própria essência da liberdade. 
Para escolhermos a Cristo, Deus tem de mudar nosso coração, e é precisamente isto que ele faz. Ele muda 
nosso coração por nós. Dá-nos aspiração por ele, que de outra maneira não teríamos. Então o escolhermos a 
partir do desejo que está dentro de nós. Nós o escolhemos livremente porque queremos escolhê-lo. Esta é a 
maravilha de sua graça. 
Sumário 
1. Toda escolha que fazemos e motivada. 
2. Nós sempre escolhemos segundo nossa inclinação mais forte no momento em que fazemos a escolha. 
3. A vontade é a faculdade de escolher. 
4. Seres humanos caídos possuem livre-arbítrio, mas carecem de liberdade. Temos liberdade natural, mas 
não liberdade moral. 
5. A liberdade é autodeterminação. 
6. Na regeneração, Deus muda a disposição de nosso coração e implanta em nós o desejo por ele. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. 
Livre-arbítrio: Afinal, temos ou não temos? 
Nota:CFW = Confissão de Fé de Westminster 
 
Neste estudo, iremos procurar entender a questão que envolve o termo “Livre-arbítrio”. 
Trata-se de um tema que trouxe grande discussão durante alguns períodos da História. O entendimento 
diferente acerca deste tema, ou seja a defesa da existência de um “livre-arbítrio” ou a sua negação, tem divido 
pessoas até hoje. 
Mas, afinal temos ou não temos livre-arbítrio? É isto mesmo que iremos verificar, não só analisando as 
posições teológicas acerca do assunto, mas, buscando luz da Bíblia para clarear nosso entendimento. Antes 
de mais nada precisamos definir o que seja esse tal “Livre-arbítrio”: 
1. Livre-arbítrio 
“Livre-arbítrio”, tem sido definido, como a capacidade dada ao homem, por ocasião de sua criação, para 
escolher entre o bem e o mal, entre agradar a Deus ou desobedecê-Lo. Seria o “livre poder de eleger o bem ou 
o mal”. 
Héber Carlos de Campos também a define como tendo sido a capacidade que o homem teve, “de escolher as 
coisas que combinavam com a sua natureza santa, mas que, mutavelmente, pudesse escolher aquilo que era 
contrário à sua natureza santa”. 
Vejam que tais definições, estão de acordo com o que prescreve a nossa Confissão de Fé: 
 8 
O homem em seu estado de inocência , tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e 
agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder. 
É importante dizermos que quanto a definição, não existe dificuldade. O problema todo que envolve o tema, é 
se o homem hoje, depois da queda , possui ou não esse tal de livre-arbítrio. 
Antes mesmo de entrar propriamente na discussão, se o homem ainda dispõe dessa capacidade, precisamos 
dizer algo acerca de uma faculdade natural e inalterada no homem, mesmo depois da queda, chamada de 
“livre agência” ou “capacidade de escolha”. 
2. Livre Agência ou Capacidade de Escolha 
Existe no homem uma capacidade tal que lhe dá condições de fazer escolhas, de acordo com o que lhe é 
agradável. O homem sempre e em qualquer condição, faz as suas escolhas, de tal forma que ele é 
responsabilizado por elas. “Essa capacidade ou aptidão é um aspecto inalienável da natureza humana 
normal”. Ele é livre para escolher o que lhe agrada, de acordo com suas inclinações. 
Sobre este aspecto da existência humana a CFW diz o seguinte: 
Deus dotou a vontade do homem com tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o 
mal, nem a isso determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza. Ref. Tiago 1:14; Deut. 
30:19; João 5:40; Mat. 17:12; At.7:51; Tiago 4:7. 
Comentando acerca desta seção da CFW, A. A. Hodge diz o seguinte: 
...que a alma humana, inclusive todos os seus instintos, idéias, juízos, emoções e tendências, tem o poder de 
decidir por si mesma; isto é, a alma decide em cada caso como geralmente lhe agrade. 
O homem é livre para escolher, sendo que nada externamente pode forçar suas escolhas. Isto é essencial no 
homem, faz parte da sua criação a imagem e semelhança de Deus. “À parte dela, não pode haver qualquer 
responsabilidade, confiança ou planejamento. À parte dela, nãopode haver educação, religião ou adoração. À 
parte dela, não pode haver qualquer arte, ciência ou cultura. A capacidade de escolher é uma condição sine 
qua non de toda a vida humana”. 
A definição de Campos sobre este assunto é também esclarecedora: 
Livre Agência, por outro lado, poderia ser definida como a capacidade que todos os seres racionais têm de 
agir espontaneamente, sem serem coagidos de fora, a caminharem para qualquer lado, fazendo o que querem 
e o que lhes agrada, sendo, contudo, levados a fazer aquilo que combina com a natureza deles. 
Campos ainda falando sobre este aspecto, enfatizando a responsabilidade humana em suas escolhas diz: 
É importante que o ser racional que ele aja sempre movido pelo seu ego. A responsabilidade dele sempre 
estará diretamente ligada à voluntariedade do seu ato. Todos os atos dele devem ser auto-inclinados e auto-
determinados. 
Portanto, para que haja responsabilidade, não é necessário que haja o poder de escolha contrária, mas sim, 
que haja o poder de auto-determinação, que a ação seja nascida nas inclinações do ser racional. 
Pelo que ficou demonstrado, em qualquer época o homem é livre para agir conforme sua condição, sua 
natureza, ou seja, ele sempre faz o que quer conforme a sua inclinação. 
3. A queda do homem: O que aconteceu ao livre-arbítrio? 
Como dissemos acima, na criação o homem recebeu a capacidade de fazer escolhas e possuía também a 
liberdade de fazer escolhas certas, ou seja podia escolher agradar a Deus, de tal forma que pudesse cair desse 
estado em que foi criado. O homem foi criado totalmente santo, integro, contudo podia escolher algo que 
fosse contrário a essa sua natureza. E foi isso o que aconteceu, ou seja, escolheu pecar. “No princípio, 
portanto, o homem não era um ser neutro, nem bom nem mau, mas um ser bom que era capaz de, com a 
ajuda de Deus, viver uma vida totalmente agradável a Deus”. Como dizia Agostinho, o homem tinha a 
“capacidade de não pecar” (posse non peccare). 
Neste sentido, até antes de sua queda podemos dizer, o homem possuía o livre-arbítrio, contudo com a 
desobediência, ele perdeu tal capacidade, sendo que não mais consegue fazer escolhas certas, não consegue 
agradar a Deus. Suas escolhas serão sempre determinadas pelo estado em que caiu. Suas escolhas serão de 
acordo com a sua natureza. 
É neste ponto que surgem então discussões, pois, diferente da posição Reformada Calvinista, os Arminianos 
irão afirmar que o homem ainda possui o livre-arbítrio. Ele pode sem a intervenção de Deus, em seu estado 
natural, fazer escolhas espirituais acertadas. 
 9 
Para os arminianos a queda do homem, embora tenha trazido algum prejuízo não afetou totalmente o 
homem, sendo que, continua em seu estado natural a ter habilidades para escolher a salvação, para escolher 
agradar a Deus. Desta forma, a depravação não foi total. 
Vejam mais detalhadamente a posição dos arminianos quanto a depravação do homem: 
Embora a natureza humana tenha sido seriamente afetada pela queda, o homem não ficou reduzido a um 
estado de incapacidade total. Deus, graciosamente, capacita todo e qualquer pecador a arrepender-se e crer, 
mas o faz sem interferir na liberdade do homem. Todo pecador possui uma vontade livre (livre arbítrio), e 
seu destino eterno depende do modo como ele usa esse livre arbítrio. A liberdade do homem consiste em sua 
habilidade de escolher entre o bem e o mal, em assuntos espirituais. Sua vontade não está escravizada pela 
sua natureza pecaminosa.. O pecador tem o poder de cooperar com o Espírito de Deus e ser regenerado ou 
resistir à graça de Deus e perecer. O pecador perdido precisa da assistência do Espírito, mas não precisa ser 
regenerado pelo Espírito antes de poder crer, pois a fé é um ato deliberado do homem e precede o novo 
nascimento. A fé é o dom do pecador a Deus, é a contribuição do homem para a salvação. 
O ensino arminiano segue o raciocínio de Pelágio, com diferença apenas no fato de que este, dizia que a 
queda não afetou em nada a humanidade, de tal forma que “o homem continua nascendo na mesma condição 
em que Adão estava antes da queda. Esta isento não só de culpa, como também de polução.” Por isso, os 
arminianos são considerados semi-pelagianos, pois pensam que o homem depois da queda tenha capacidade 
para fazer escolhas certas. 
Os reformados calvinistas, em contra partida, afirmam que a queda incapacitou totalmente o homem, 
afetando todas as suas faculdades. O homem após a queda perdeu tal liberdade, sendo agora escravo do 
pecado, morto espiritualmente. 
Vejam mais detalhadamente o pensamento calvinista sobre a depravação total 
Devido à queda, o homem é incapaz de, por si mesmo, crer de modo salvador no Evangelho. O pecador está 
morto, cego e surdo para as coisas de Deus. Seu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Sua 
vontade não é livre, pois está escravizada à sua natureza má; por isso ele não irá - e não poderá jamais - 
escolher o bem e não o mal em assuntos espirituais. Por conseguinte, é preciso mais do que simples 
assistência do Espírito para se trazer um pecador a Cristo. É preciso a regeneração, pela qual o Espírito 
vivifica o pecador e lhe dá uma nova natureza. A fé não é algo que o homem dá (contribui) para a salvação, 
mas é ela própria parte do dom divino da salvação. É o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador 
para Deus. 
Os calvinistas neste sentido, seguem os ensinos de Agostinho, que por sua vez combateu os ensinamentos de 
Pelágio. Agostinho ensinou que quando os seres humanos “pecaram, embora não perdessem a sua 
capacidade de fazer escolhas, perderam a sua capacidade de servir a Deus sem o pecado – em outras 
palavras, a sua verdadeira liberdade. O homem tornou-se, então, um escarvo do pecado; ele passou ao estado 
de ‘não ser capaz de não pecar’ (non posse non peccare).” 
A CFW afirma o seguinte acerca disso: 
O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer 
bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem 
e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso. Ref. 
Rom. 5:6 e 8:7-8; João 15:5; Rom. 3:9-10, 12, 23; Ef.2:1, 5; Col. 2:13; João 6:44, 65; I Cor. 2:14; Tito 3:3-5. 
Calvino também disse o seguinte acerca desta situação do homem: 
As Escrituras atestam que o homem é escravo do pecado; o que significa que seu espírito é tão estranho à 
justiça de Deus que não concebe, deseja, nem empreende coisa alguma que não seja má, perversa, iníqua e 
impura; pois o coração, completamente cheio do veneno do pecado, não pode produzir senão os frutos do 
pecado. 
O homem, após a queda não possui mais o livre-arbítrio, não pode mais escolher algo que é contrário a sua 
natureza pecaminosa. Ele está morto, cego, é escravo do pecado. 
Esta doutrina defendida pelos calvinistas, pelos reformados, que por sua vez é negada pelos arminianos, não 
se trata apenas de uma posição teológica diferente, e sim de afirmação bíblica. Nega-la é o mesmo que 
renunciar a Palavra de Deus neste assunto. 
São inúmeros os textos que afirmam tal verdade, falando que o homem está incapacitado totalmente de 
atender ao convite de salvação, de atender as exigências divinas. Isto acontece por seu próprio pecado, por 
sua própria inclinação e desejo. À parte da graça de Deus o homem, por sua própria iniciativa não pode 
salvar-se, ou escolher isto. 
Vejamos textos que servem de base para a doutrina calvinista: 
 10 
1. O homem está morto, incapaz de qualquer bem, precisando da intervenção divina: Jr 13.23; Ef. 2.1-10; Rm 
3.9-18, 23; Cl 2.13; Tt 3.3-5. 
2. O homem não consegue ir até Jesus, senão com a ajuda somente de Deus: Jo 6.44, 65; Rm 9.16. 
3. O homem precisa nascer de novo, contudo, isto só aconteça através da atuação do Espírito Santo, que age 
soberanamente: Jo 3.1-15. 
4. O homem não pode compreender as coisas espirituais, senão pelo Espírito: I Co 2.14-16.5. A Bíblia declara que o homem está cego, é escarvo do pecado. Não pode fazer outra coisa senão pecar, a 
não ser que Deus mude seu estado: Ef. 4.18; Jo 8.31-36; Jo 9.35-41; Rm 6.15-23; 2 Tm 2.26. 
6. O homem não pode apresentar um fruto diferente daquilo que ele é: Mt 7.16-18; Tg 1.16-18. 
Percebam que, afirmar que o homem tem o livre-arbítrio, é o mesmo que ignorar tais textos da Bíblia. 
É importante enfatizar que, o homem mesmo neste estado, continua ser um agente livre, ou seja, ele exerce 
“a livre agência”. Isto quer dizer que continua a fazer as suas escolhas, contudo, não escolhe nada que seja 
contrário a sua natureza pecaminosa (Jo 5.40; Tg 1.14; Mt 17.12; At 7.51; Ef 2.3). O homem nunca é forçado a 
fazer algo que não deseja. Faz sempre aquilo que lhe traz prazer. 
Sobre isto, diz Calvino: 
Não pensemos, entretanto, que o homem peca como que impelido por uma necessidade incontrolável; pois 
peca com o consentimento de sua própria vontade continuamente e segundo sua inclinação. Mas, visto que, 
por causa da corrupção de seu coração, odeia profundamente a justiça de Deus; e, por outro lado, atrai para 
si toda sorte de maldade, por isso afirmamos que não tem o livre poder de eleger o bem ou o mal – que é o 
que chamamos livre-arbítrio. 
Campos diz também o mesmo: 
Originalmente, antes da queda, o homem teve tanto o livre arbítrio como a livre agência. Depois da queda o 
homem ficou somente com a livre agência, pois perdeu tanto o desejo quanto a capacidade de fazer o bem, 
isto é, o poder de agir contrariamente à sua natureza. 
Assim, é o homem quem escolhe continuar no pecado, contudo, não tem capacidade, por causa do seu 
próprio pecado e maldade, para escolher coisa diferente a não ser que suas inclinações e vontade sejam 
transformadas por Deus, recebendo habilidade para escolher o que é bom e reto. Por isso o homem é sempre 
responsabilizado por seus atos, pois, sempre escolhe o que lhe agrada. 
4. Na Redenção do Homem: O que acontece ao livre-arbítrio? 
Quando Deus em sua livre graça, resolvendo salvar o homem, age em seu coração, pela ação do Espirito lhe 
implanta vida, o que acontece é que o homem recebe habilidade para escolher o que é reto e bom. A Bíblia 
descreve este ato, como o da libertação de um escravo, dando-lhe liberdade para escolher o que é agradável a 
Deus, contudo, muito embora liberto, pode ainda inclinar-se para o pecado. O homem passa a desejar o que é 
bom. Isto não significa que não deseje o pecado, pois, ainda permanece nele a imperfeição. 
Sobre isto diz a CFW: 
Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta da sua natural 
escravidão ao pecado e, somente pela sua graça, o habilita a querer e fazer com toda a liberdade o que é 
espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da corrupção, ainda nele existente, o pecador não 
faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau. Ref. Col.1: 13; João 
8:34, 36; Fil. 2:13; Rom. 6:18, 22; Gal.5:17; Rom. 7:15, 21-23; I João 1:8, 10. 
Estaria o homem regenerado na mesma condição de Adão antes da queda, ou seja, teria ele agora novamente 
o livre-arbítrio? Não, pois, não voltamos a ser como era Adão. Ele era perfeitamente reto, santo, e podia 
escolher algo que fosse contrário ao que era a sua natureza. O homem regenerado, recebe liberdade para 
escolher o que é bom, contudo, não tem o livre arbítrio, pois não escolhe algo contrário ao que ele é. Ou seja, 
quando escolhe o que é bom, faz isso de acordo com a sua nova natureza criada em Cristo e quando escolhe 
pecar, faz isso, conforme a sua natureza carnal. Esta é a luta que reside dentro do homem restaurado. Ele não 
pode dar lugar ao velho homem (Ef 4.17-24; Cl 3.1-11). 
É importante ressaltar que, sendo regenerado o homem recebe habilidade, que antes não tinha, para escolher 
a Deus. Conforme Agostinho, o homem recebe a capacidade de não pecar (posse non peccare). Por isso, e 
somente assim, pode atender ao convite do Evangelho para a sua salvação. O homem na regeneração, 
continua a exercer a sua “livre agência”. 
Vejam como a CFW, fala da condição que o homem para fazer escolhas espirituais, como um ser ativo: 
Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e 
aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado 
de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação. Isto ele o faz, 
 11 
iluminando os seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a 
salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de carne, renovando as suas vontades 
e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas 
de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça. Ref. João 15:16; At. 13:48; 
Rom. 8:28-30 e 11:7; Ef. 1:5,10; I Tess. 5:9; 11 Tess. 2:13-14; IICor.3:3,6; Tiago 1:18; I Cor. 2:12; Rom. 5:2; II 
Tim. 1:9-10; At. 26:18; I Cor. 2:10, 12: Ef. 1:17-18; II Cor. 4:6; Ezeq. 36:26, e 11:19; Deut. 30:6; João 3:5; Gal. 
6:15; Tito 3:5; I Ped. 1:23; João 6:44-45; Sal. 90;3; João 9:3; João6:37; Mat. 11:28; Apoc. 22:17. 
Esta vocação eficaz é só da livre e especial graça de Deus e não provem de qualquer coisa prevista no homem; 
na vocação o homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, fica 
habilitado a corresponder a ela e a receber a graça nela oferecida e comunicada. 
Ref. II Tim. 1:9; Tito 3:4-5; Rom. 9:11; I Cor. 2:14; Rom. 8:7-9; Ef. 2:5; João 6:37; Ezeq. 36:27; João5:25. 
É o homem que diz sim a Deus, que diz sim ao chamado do Evangelho, depois de Ter sido habilitado, 
libertado do pecado. O abrir do olhos, a nova criação, o nascer de novo, é obra da livre graça de Deus e se não 
for assim, ninguém poderá crer em Cristo. Se não recebermos a fé que vem do Senhor, nunca poderemos 
crer. Maravilhosa graça! 
5. Na glorificação do Homem: Terá o livre-arbítrio? 
Quando formos glorificados, por ocasião da vinda de Cristo e completação de nossa salvação, teremos de 
volta o livre-arbítrio? Não, na glorificação, não voltaremos a ser como Adão, estaremos à frente dele, pois, ele 
quando criado não gozava de uma perfeição permanente, ou seja, podia cair de tal estado. Ele podia escolher 
algo contrário a sua natureza, contudo, se tivesse sido obediente poderia Ter alcançado a perfeição 
permanente. Os crente glorificados alcançarão o que Adão não pode alcançar. Teremos perfeita liberdade 
para servir a Deus. Continuaremos a ser agentes livres, pois, escolheremos o que estará de acordo com a 
nossa natureza perfeita. Nunca escolheremos pecar, pois, não haverá tal possibilidade, então, nunca mais 
teremos o livre-arbítrio. 
Desta forma, como disse Agostinho, alcançaremos o estado “não posso pecar” (non posse peccare). 
Diz a CFW: 
É no estado de glória que a vontade do homem se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só. Ref. Ef. 
4:13; Judas, 24; I João 3:2. 
Comentando a CFW, Hodge diz: 
Quanto ao estado dos homens glorificados no céu, nossa Confissão ensina que continuam, como antes, 
agentes livres; contudo, os restos de suas velhas tendências morais corruptas, sendo extirpadas para sempre, 
e as graciosas disposições implantadas na regeneração, sendo aperfeiçoadas, e o homem todo, sendo 
conduzido à medida da estatura do varão perfeito, à semelhança da humanidade glorifica de Cristo, 
permanecem para sempre perfeitamente livres e imutavelmente dispostos à perfeita santidade. Adão era 
santo e instável. Os homens não regenerados são impuros e estáveis; isto é, são permanentes na impureza. Os 
homens regenerados possuem duas tendências morais opostas, digladiando-se pelo domínio em seus 
corações. São lançadas entre elas, contudo a tendência graciosamente implantada gradualmente por fim 
prevalece perfeitamente. Os homens glorificados são santos e estáveis.São todos livres e, portanto, 
responsáveis. 
Portanto na glorificação, seremos para sempre livres, sem também o livre-arbítrio para sempre. 
Conclusão: 
Os reformados, os calvinistas crêem no livre-arbítrio, como tendo sido uma habilidade concedida a Adão e 
perdida na queda. Desde então o homem ficou desprovido de qualquer habilidade para fazer escolhas santas, 
agradáveis a Deus. Não lhe resta outro desejo senão o de pecar, conforme as inclinações de seu próprio 
coração, sendo assim, um agente livre e responsável. 
Cremos que, nunca mais tal habilidade fará parte da existência humana. O fato de Deus nos libertar do 
pecado nos habilitando a fazer escolhas acertadas, não é o mesmo que dizer que temos o livre-arbítrio. As 
escolhas sempre estarão de acordo com a nossa natureza, ou naturezas. 
Nem antes, nem depois, voltaremos a ser como era Adão. Na glorificação estaremos à frente dele, num estado 
em que o pecado não será possível. 
Dizermos que existe um tal de livre-arbítrio, seria o mesmo que dizer que Deus não é soberano sobre a 
salvação do pecador, que Ele está sujeito ao querer do homem. 
Se não fosse Deus, sua graça o que seria de nós, nunca escolheríamos a Ele. 
 12 
Que o estudo acerca desse tema, possa-nos motivar a glorificar a Deus por causa da sua graça que, agindo em 
nós mudou nos inclinações e vontade, fazendo-nos querer, desejar, o que não queríamos nem desejávamos. 
Sola Gratia! 
Soli Deo Gloria! 
Autor: Rev. Waldemar Alves da Silva Filho 
Fonte: Portal IPB - http://www.ipb.org.br 
FÉ 
A Fé 
Rm 1.16-32; Rm 5.1-11; Rm 10.14-17; Gl 3.1-14; Ef 2.8,9; Tg 2.14-26 
O cristianismo freqüentemente é chamado de religião. Mais apropriadamente, é chamado de "fé". 
Costumamos, falar de fé cristão. O cristianismo é chamado de fé porque há um conjunto de conhecimento 
que é afirmado ou no qual seus aderentes devem crer. Também é chamado de fé porque a virtude da fé é 
central para sua compreensão da redenção. 
O que fé significa? Em nossa cultura, às vezes fé é confundida com uma crença cega em alguma coisa 
irracional. Chamar a fé cristã de "fé cega", entretanto, não só denigre os cristãos, mas também ultraja a Deus. 
Quando a Bíblia fala sobre cegueira, ela usa esta imagem para descrever pessoas que, por seus pecados, 
andam nas trevas. O cristianismo chama as pessoas das trevas, e não para trevas. A fé é o antídoto para a 
cegueira e não a causa dela. 
Em sua raiz, o termo fé significa "confiança". Confiar em Deus não é um ato de crença irracional. Deus se 
revela para ser eminentemente confiável. Ele nos dá amplas razões para confiarmos nele, provando que 
somente ele é fiel e digno de nossa confiança. 
Existe uma enorme diferença entre a fé e credulidade.Ser crédulo é acreditar em algo sem uma sólida razão. 
Este é o material do qual as superstições são feitas e prosperam. A fé estabelecida sobre o raciocínio coerente 
e consistente e sobre sólidas evidências empíricas. Pedro escreve: "Porque não vos fizemos saber a virtude e 
a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos 
a sua majestade." (2 Pe 1.16). 
O cristianismo não se apóia em mitos e fábulas, mas no testemunho daqueles que viram e ouviram com seus 
próprios olhos e ouvidos. A verdade do evangelho se baseia em eventos históricos. Se o relatos desse eventos 
não é confiável, então nossa fé seria em vão. Deus, porém, não nos pede para crermos em alguma coisa que 
seja baseada em mitos. 
O livro de Hebreus nos dá uma definição de fé: "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e 
a prova das coisas que se não vêem." (Hb 11.1) A fé compreende a essência de nossa esperança para o futuro. 
Em termos simples, significa que confiamos em Deus quanto ao futuro baseados em nossa fé no que ele fez 
no passado. Crer que Deus continuará a ser digno de confianção não é uma fé gratuita. Há muitas razões para 
se crer que Deus está tão fiel ás suas promessas no futuro quanto foi no passado. Há uma razão concreta, 
para a esperança que está dentro de nós. 
A fé, que é a evidência de fatos que não se vêem, tem uma referência primária, mas não exclusiva, ao futuro. 
Ninguém tem uma bola de cristal que funcione. Todos nós caminhamos para o futuro pela fé e não pelo que 
vemos. Podemos planejar a fazer projetos, mas ainda as melhoras previsões que temos se baseiam em nossas 
elaboradas conjunturas. Nenhum de nós tem conhecimento experimental do amanhã.Vemos o presente e 
podemos nos lembrar do passado. Somos especialistas em avaliar os eventos depois que acontecem. A única 
evidência sólida que temos do nosso próprio futuro é extraída das promessas de Deus. Neste ponto, a fé 
oferece evidência de coisas não vistas. Confiamos em Deus quanto ao amanhã. 
Também confiamos ou cremos que Deus existe. E embora o próprio Deus não seja visto, a Bíblia deixa claro 
que o Deus invisível se manifesta através das coisas visíveis (Rm 1.20). Embora Deus não seja visível, cremos 
que ele está porque se tem manifestado de maneira tão clara na criação e na História. 
 13 
A fé inclui crer que Deus existe, embora esse tipo de fé não seja particularmente digno de aplausos. Thiago 
escreve: "Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem." (Tg 2.19). 
Aqui podemos ver sarcasmo nas palavras de Thiago! Crer na existência de Deus simplesmente nos qualifica a 
sermos demônios. Uma coisa é crer que Deus existe; outra é crer em Deus. Crer em Deus, ou seja, confiar 
nele e confiar a ele a nossa vida é a própria essência da fé cristã. 
Sumário 
1. O cristianismo é uma fé porque se baseia num conjunto de conhecimentos revelados por Deus. 
2. Fé não é um salto no escuro de olhos fechados, mas a confiança em Deus que nos move para fora das 
trevas em direção à Luz. 
3. A fé é simples, mas não é simplista. 
4. Fé não é o mesmo que credulidade. Baseia-se em razões sólidas e em evidências históricas. 
5. A fé fornece a substância para nossa esperança futura. 
6. A fé envolve confiar naquilo que não é visto. 
7. A fé significa mais do que acreditar que Deus existe, significa crer em Deus e confiar nele. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno, Verdades Essenciais da Fé Cristã, Editora Cultura Cristã. 
A Fé Salvadora 
Mt 18.3; Rm 10.5-13; Ef 2.4-10; 1 Ts 2.13; Tg 2.14-26 
Certa vez Jesus destacou que, a menos que tivéssemos fé como uma criança, de maneira alguma entraríamos 
no Reino do céu. A fé como de uma criança é um pré-requisito para sermos membros do Reino de Deus. Há 
certa diferença, contudo, entre ter fé como de uma criança e ter uma fé infantil. A Bíblia nos chama a sermos 
crianças quanto ao mal, mas maduros em nosso entendimento. A fé salvadora é simples, mas não simplista. 
Visto que a Bíblia ensina que a justificação é somente pela fé, e que a fé é uma condição necessária para a 
salvação, é imperativo que entendemos o que compreende a fé salvadora. Thiago explica claramente o que a 
fé salvadora não é: "De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé 
pode salvá-lo?" (Tg 2.14 - NVI). Aqui Thiago faz distinção entre uma confissão de fé e a realidade da fé. 
Qualquer um pode dizer que tem fé. Embora certamente sejamos chamados a professar nossa fé, a simples 
profissão de fé por si mesma não salva ninguém. A Bíblia deixa claro que as pessoas são capazes de honrar a 
Cristo com seus lábios enquanto seus corações estão longe dele. Aquilo que os lábios dizem, sem nenhuma 
manifestação do fruto da fé, não é a fé salvadora. 
Thiago prossegue e diz: "Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta."(Tg 
2.17 - NVI). A fé morta é descrita por Thiago como algo sem proveito. É fútil, vã e não justifica ninguém. 
Quando Lutero e os reformadores declararam que justificação é pela fé somente, perceberam que era preciso 
apresentar um declaração cuidadosa de fé salvadora. Definiram a fé salvadora como incluindo os elementos 
constituintes necessários. A fé salvadorase compõe de informações, assentimento intelectual e confiança 
pessoal. 
A fé salvadora envolve um conteúdo. Não somos justificados por simplesmente cremos em qualquer coisa. 
Alguns dizem: "Não importa no que você creia, desde que seja sincero". Este sentimento é radicalmente 
oposto ao ensino da Bíblia, a qual ensina que aquilo em que cremos é profundamente importante. A 
justificação não ocorre simplesmente pro meio da sinceridade. Podemos estar sinceramente errados. A 
doutrina certa, pelo menos nas verdades essenciais do evangelho, é um ingrediente necessário da fé 
salvadora. Cremos no evangelho, na pessoa e obra de Cristo. Isso é parte integrante da fé salvadora. Se nossa 
 14 
doutrina é herética quanto à essência, não seremos salvos. Se, por exemplo, dissermos que cremos em 
Cristo, mas negamos sua divindade, não possuímos a fé que justifica. 
Embora seja necessário termos um entendimento correto das verdades essenciais do evangelho para sermos 
salvos, o entendimentos correto da verdade de teologia cristã, demonstrando que conhece as verdades do 
Cristianismo, sem que ele próprio afirme que são verdadeiras. A fé salvadora inclui o assentimento mental 
da verdade do evangelho. 
Mesmo que uma pessoa entenda o evangelho e afirme ou concorde que seja verdade, ainda pode estar longe 
da fé salvadora. O diabo sabe que o evangelho é verdade, mas o odeia com toda as fibras do seu ser. Existe 
um elemento de confiança na fé salvadora. Envolve a confiança pessoal e a dependência do evangelho. 
Podemos crer que uma cadeira suportará nosso peso, mas não demonstramos confiança pessoal na cadeira 
até que nos sentemos nela. 
A confiança envolve a vontade tanto quanto a mente. Ter fé salvadora exige que amemos a verdade e 
desejamos viver de acordo com ela. Abraçamos com nosso coração a doçura e o amor de Cristo. 
Tecnicamente falando, a confiança pessoal pode ser considerada um subponto ou um acréscimo do 
assentimento intelectual. O diabo pode assentir quanto à verdade de certos fatos sobre Jesus, mas não 
assente a todos eles. Ele não assente ao amor ou à aspiração de Cristo. Entretanto, quer distingamos ou 
combinamos assentimento intelectual com confiança pessoal, o fato que permanece é que a fé salvadora 
requer o que Lutero chamou de fé viva - uma vital e pessoal confiança em Cristo como Salvador e Senhor. 
 *Assentir: Dar assentimento ou aprovação; consentir, permitir. Conjug.: como 
Sumária 
1. A fé salvadora á a fé como de criança, mas não fé infantil. 
2. Uma pessoa não é justificada por uma mera profissão de fé. 
3. A fé salvadora requer assentimento intelectual a verdade do evangelho. 
4. A fé salvadora envolve confiança pessoal e amor a Cristo. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro 
em http://www.cep.org.br 
 
Os elementos, objeto e base da Fé 
 
Os Elementos da fé 
Ao falarmos dos diferentes da fé, não devemos perder de vista o fato de que a fé é uma atividade do homem 
como um todo, e não de alguma parte dele. Além, no exercício da fé,a alma funciona através das suas 
faculdades comuns, e não através de alguma faculdade especial. É um exercício da alma que tem isto em 
comem com todos os exercícios similares, que parece simples, e, contudo, num exame mais chagado, vê-se 
que é complexo e intrincado. E portanto, para se obter uma apropriada concepção a fé, é necessário 
distinguir entre os vários elementos que ela compreende. 
a. Um elemento intelectual (notitia, conhecimento). Há um elemento de conhecimento na fé, com relação ao 
qual, os seguintes pontos devem ser considerados: 
 15 
(1) O caráter deste conhecimento. 
O conhecimento que caracteriza a fé consiste de um reconhecimento positivo da verdade, em que o homem 
aceita como verdadeiro tudo quanto Deus diz em Sua Palavra, e especialmente o que Ele diz a respeito da 
profunda depravação do homem e da redenção que há em Cristo Jesus. Contrariamente a Roma, deve-se 
manter a posição de que este seguro conhecimento pertence à essência da fé; e em oposição a teógolos tais 
como Sandeman, Wardlaw, Alexander, Chalmers e outros, devemos afirmar que a aceitação intelectual da 
verdade não é a fé completa. De um lado, seria valorizar exageradamente o conhecimento próprio da fé, se 
fosse considerado como uma compreensão completa dos objetos da fé. Mas, de outro lado, seria também uma 
depreciação dele, se fosse considerado como um simples tomar conhecimento das coisas em que se crê, se a 
convicção de elas são verdadeiras. Alguns “liberais” modernos têm este conceito e, conseqüentemente, 
gostam de falar da fé como uma aventura. É um discernimento espiritual das verdades da religião cristã que 
acha resposta no coração do pecador. 
 
(2) A certeza desde conhecimento. 
O conhecimento próprio da fé não deve ser considerado como menos certos que outras modalidades de 
conhecimento. O nosso Catecismo de Heidelberg nos assegura que a fé verdadeira é, entre outras coisas, “um 
conhecimento certo (seguro, incontestável)”[1] Isto se harmoniza com Hb 11.1, que fala dela como “certeza 
de cousas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”. Ela torna subjetivamente reais e certas para 
o crente as coisas futuras e invisíveis. O conhecimento próprio da fé é-nos mediado e comunicado pelo 
testemunho de Deus em Sua Palavra, e é aceito por nós como certo e confiável, com base na veracidade de 
Deus. A certeza deste conhecimento tem sua garantia em Deus mesmo e, conseqüentemente, nada pode ser 
mais certo. E é absolutamente essencial que seja assim, pois a fé tem que ver com coisas espirituais e eternas, 
em que a fé é necessária, mais qye em qualquer outra circunstância. É preciso haver certeza quando à 
realidade do objeto da fé; se não houver, a fé será vã. Machen deplora o fato de que muitos não enxergam 
este fato nos dia atuais. Diz ele: “O problema todo é que a fé está sendo considerada como uma benéfica 
qualidade da alma, sem se levar em conta a realidade ou irrealidade do seu objeto. E no momento em que se 
passa a considerar a fé nestes termos, nesse momento ela é destruída”.[2] 
(3) A medida deste conhecimento. 
É impossível determinar com precisão quanto conhecimento se requer absolutamente na fé salvadora. Se a fé 
salvadora é a aceitação de Cristo como Ele é oferecido no Evangelho, naturalmente surge a questão: Quanto 
do Evangelho o homem precisa conhecer para ser salvo? Ou, colocada nas palavras do dr. Machen: “Quais 
são, para dizê-lo em termos rústicos, as exigências doutrinárias mínimas para que um homem posa ser 
cristão?”[3] Em geral se pode dizer que deve ser suficiente dar ao crente alguma idéia sobre o objeto da fé. A 
verdadeira fé salvadora deve conter pelo menos algum conhecimento, não tanto da revelação geral de Deus, 
como do Mediador e das operações da Sua graça. Quanto maior conhecimento real a pessoa tiver das 
verdades da revelação, mais rica e mais completa será a sua fé, se todas as outras circunstâncias forem iguais. 
Naturalmente, aquele que aceita a Cristo pela verdadeira fé, estará igualmente pronto a aceitar o testemunho 
completo de Deus, e o desejará. É da máxima importância, principalmente em nossos dias, que as igrejas 
vejam que os seus membros tenham uma boa compreensão da verdade, e não apenas um entendimento 
nebuloso dela. Particularmente nesta era antidogmática, elas deveram ser muito mais diligentes do que têm 
sido na instrução doutrinária da sua juventude. 
 
b. Um elemento emocional (assensus, assentimento). 
Barth chama a atenção para o fato de que a hora em que o homem aceita a Cristo pela fé é o momento 
existencial da sua vida, quando ele pára de considerar de modo desligado e desinteressado o objeto da fé, e 
começa a sentir vívido interesse por ele. Não é necessário adotar a peculiar elaboração que Barth faz da 
doutrina da fé, para admitir a verdade do que ele diz sobre este ponto. Quando alguém abraça a Cristo pela 
fé, tem uma profunda convicçãoda veracidade e da realidade do objetivo da fé, sente que ele preenche uma 
importante necessidade da sua vida, e tem consciência de um absorvente interesse por ele – e isto é 
assentimento. É muito difícil distinguir este assentimento do conhecimento próprio da fé recém-descrito, 
 16 
porque, como vimos, exatamente a característica distintiva do conhecimento própria da fé salvadora está em 
que leva consigo uma convicção da verdade e da realidade do seu objeto. Daí alguns teólogos terem mostrado 
certa inclinação para limiar o conhecimento característico da fé a um mero tomara conhecimento do objeto 
da fé; mas (1) isto contraria a experiência, pois na verdadeira fé não há conhecimento que não inclua uma 
sincera convicção de verdade e da realidade do seu objeto e um interesse por ele: e (2) isto tornaria o 
conhecimento que he na fé salvadora idêntico ao que se vê numa fé puramente histórica, sendo que a 
diferença entre a fé histórica e a fé salvadora está em parte exatamente neste ponto. Porque é tão difícil fazer 
clara distinção, alguns teólogos preferem falar de apenas dois elementos da fé salvadora, o conhecimento e a 
confiança pessoal. São estes dois elementos mencionados no Catecismo de Heidelberg, quando afirma que a 
verdadeira fé “não é apenas um certo conhecimento pelo qual eu tenho como verdadeiro tudo que Deus nos 
revelou em Sua Palavra, mas também uma confiança sincera que o Espírito Sato produz em mim pelo 
Evangelho”[4] Provavelmente é preferível considerar o conhecimento e o assentimento simplesmente como 
dois aspectos do mesmo elemento da fé. Caso em que o conhecimento poderá ser considerado como a sua 
faceta mais passiva e receptiva, e o assentimento como a sua faceta mais ativa e transitiva. 
c. Um elemento volitivo (fidúcia, confiança). 
Este é o elemento culminante da fé. A fé não é apenas questão de intelecto, nem de intelecto e sentimentos 
combinados: também é questão de vontade, determinada a direção da alma, um ato da alma que parte rumo 
ao seu objeto e dele se apropria. Sem esta atividade, o objeto da fé, que o pecador reconhece como verdadeira 
e real, e como inteiramente aplicável às suas necessidades presentes, permanece fora dele. E na fé salvadora é 
questão de vida ou morte que a pessoa se apropria do objeto da fé. Este terceiro elemento consiste de uma 
confiança pessoal em Cristo como Salvador e Senhor, incluindo a rendição da alma, culpa e corrupta, a 
Cristo, e o recebimento e apropriação de Cristo como a fonte de perdão e da vida espiritual. Levando todos 
este elementos em consideração, fica mais que evidente que a sede da fé não pode ser colocada nem no 
intelecto, nem nos sentimentos, nem na vontade, de modo exclusivo, mas unicamente no coração, o órgão 
central do ser espiritual, do qual procedem as fontes da vida. 
Em resposta à indagação se esta fiducia (confiança) inclui necessariamente um elemento de segurança 
pessoal, pode-se dizer, em oposição aos católicos romanos e aos arminianos, que este é indubitavelmente o 
caso. Ela leva consigo, naturalmente, um certo sentimento de segurança e certeza, de gratidão e alegria. A fé, 
que em si mesma é certeza, tende a despertar na alma um senso de garantia e um sentimento de segurança. 
Na maioria dos casos, a princípios isto é mais implícito e mais chega a penetrar na esfera do pensamento 
consciente: é algo sentido vagamente, e não claramente percebido. Mas, à medida que a fé se desenvolve e 
que as atividades da fé aumentam, a consciência da garantia e segurança que ela traz também se avoluma. 
Mesmo aquilo que os teólogos geralmente chamam de “confiança que busca refúgio” (toevluchtnemend 
vertrouwen) comunica à alma certa medida de segurança. Isto difere completamente da posição de Barth, 
que salienta o fato de que, segundo ele, a fé é um ato repetido constantemente, é sempre um salto de 
desespero e um salto no escuro, e jamais se torna possessão permanente do homem; e que, portanto, elimina 
a possibilidade de qualquer segurança subjetiva de fé. 
O Objeto da fé 
Ao darmos uma resposta à questão quanto a qual é o objeto da verdadeira fé salvadora, teremos que falar 
com discriminação, desde que é possível falar desta fé em geral e num sentido especial. Existem: 
a. Uma fides generalis (fé geral). Com isto se faz referência à fé salvadora no sentido mais geral da expressão. 
Seu objeto é o conjunto global da revelação divina contida na Palavra de Deus. Tudo que é ensinado 
explicitamente na Escritura ou que pode ser deduzido dela mediante boa e necessária inferência, pertence ao 
objeto da fé, neste sentido geral. De acordo com a igreja de Roma, cabe aos seus membros crer em tudo 
quanto a ecclesia docens (a igreja docente, o magistério eclesiástico) declara que faz parte da revelação de 
Deus, e isto inclui a tradição apostólica, assim chamada. É verdade que a “igreja que ensina” não reivindica o 
direito de produzir novos artigos de fé, mas reivindica, sim, o direito de determinar com autoridade o que a 
Bíblia ensina e o que, de acordo com a tradição, pertence aos ensinos de Cristo e Seus apóstolos. E isto 
propicia amplíssima latitude. 
b. Uma fides specialis (fé especial). É a fé salvadora nos sentido mais limitado da expressão. Embora a 
verdadeira fé na Bíblia como a Palavra de Deus seja absolutamente necessária, esse ainda não é o ato 
específico de fé que justifica e, portanto, salva diretamente o pecador crente. Essa fé deve levar, e de fato 
 17 
leva, a uma fé mais especial. Há certa doutrinas concernentes a Cristo e à Sua obra, e certas promessas nele 
feitas aos pecadores, que o pecador deve receber e que devem levá-lo a pôr sua confiança em Cristo. Então, o 
objeto da fé especial é Jesus Cristo e a promessa de salvação por intermédio dele. O ato especial de fé consiste 
em receber a Cristo e descansar nele como Ele é apresentado no Evangelho, Jo 3.15, 16, 18; 6.40. 
Estritamente falando, não é o ato de fé como tal, mas, antes, aquilo que é recebido pela fé, que justifica e, 
portanto, salva o pecador. 
A base da Fé 
A base última em que se firma a fé, está na veracidade e fidelidade de Deus, em conexão com as promessas do 
Evangelho. Mas, porque não temos conhecimento disto fora da Palavra de Deus, esta também pode ser 
considerada a base última da fé, e freqüentemente o é, Em distinção da anterior, porém poderia ser 
denominada base próxima. O meio pelo qual reconhecemos a revelação incorporada na Escritura como a 
própria Palavra de Deus é, em última análise, o testemunho do Espírito Santo, 1 Jo 5.6: “E o Espírito é o que 
dá testemunho, porque o Espírito é a verdade [5]”. Cf. também Rm 4.20,21; 8.16; Ef 1.13;~1 Jo 4.13; 5.10. Os 
católicos romanos vêem na igreja a base última da fé: os racionalistas só a reconhecem na razão: 
Schleiermacher a busca na experiência cristã; e Kant, Ristchl e muitos teólogos “liberais” modernos a 
colocam nas necessidades morais da natureza humana. 
Autor: Louis Berkhof 
Fonte: Teologia Sistemática, p. 506-509, Ed. Cep. 
 
[1] Perg. 21, [link: 
http://www.teuministerio.com.br/BRSPIGBSDCMCMC/vsItemDisplay.dsp&objectID=628D0BCE-28FE-
4B03-AFD8D9DEE6328603&method=display ] 
[2] What is Faith?, p; 174. 
[3] Op. cit., p. 155. 
[4] Perg. 21, [link: 
http://www.teuministerio.com.br/BRSPIGBSDCMCMC/vsItemDisplay.dsp&objectID=628D0BCE-28FE-
4B03-AFD8D9DEE6328603&method=display ] 
[5] Citada no original a American Reviser Version (1 Jo 5.7), em que se vê tradução igual à da Almeida, 
transcrita no texto acima (1 Jo 5.6). NT 
 
O CHAMADO 
O chamado do evangelho 
 
Qual é a mensagem do evangelho? 
Como ele se torna eficaz? 
 
 
1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA 
 
Quando Paulo fala a respeito do modo em que Deus traz salvação à nossa vida, ele diz: “E aos que 
predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou” 
(Rm 8.30). Aqui Paulo ressalta uma ordem definida na qual as bênçãos da salvação vêm a nós. Embora muito 
tempo atrás, quando o mundo ainda não havia sido feito, Deus nos tenhapredestinado para que fôssemos 
seus filhos e para que nos conformássemos à imagem de seu Filho, aqui Paulo salienta o fato de que, no 
desenvolvimento real do seu propósito em nossa vida, Deus nos “chamou”. Então Paulo imediatamente cita a 
justificação e a glorificação, mostrando que essas coisas vêm após o chamado eficaz. Paulo indica que há uma 
ordem definida no propósito salvador de Deus (embora não em todos aspectos de nossa salvação 
mencionados aqui). Assim, vamos começar a nossa discussão das diferentes partes de nossa experiência de 
salvação com o tópico do chamado. 
 18 
 
 
A. O chamado eficaz 
 
Quando Paulo diz: “aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou” (Rm 8.30), 
ele assinala que o chamado é um ato divino. De fato, é especialmente um ato de Deus Pai, pois é ele quem 
predestina as pessoas “para serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). Outros versículos 
descrevem mais plenamente o que é esse chamado. Quando Deus chama as pessoas desse modo poderoso, 
ele as chama “das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9); ele as chama “à comunhão com seu Filho 
Jesus Cristo, nosso Senhor” (lCo 1.9; cf. At 2.39) e para o seu Reino e glória” (lTs 2.12; cf. lPe 5.10; 2Pe 1.3). 
Os indivíduos que foram chamados por Deus pertencem “a Jesus Cristo” (Rm 1.6). Eles são chamados para 
“serem santos” (Rm 1.7; lCo 1.2) e vieram para o Reino de paz (lCo 7.15; Cl 3.15), liberdade (Gl 5.13), 
esperança (Ef 1.18; 4.4), e santidade (lTs 4.7) suportando com paciência o sofrimento (lPe 2.20,21; 3.9) para 
desfrutar a vida eterna (lTm 6.12). 
 
Esses versículos indicam que esse não é um chamado sem poder ou meramente um chamado humano. Esse 
chamado é antes uma espécie de “convocação” vinda da parte do Rei do universo e tem tal poder que exige 
uma resposta dos corações humanos. É o ato divino que garante a resposta, porque Paulo especifica em 
Romanos 8.30 que todos os que foram chamados foram também justificados. Esse chamado tem a 
capacidade de retirar-nos do reino das trevas e de transportar-nos ao Reino de Deus, atraindo-nos para a 
plena harmonia com ele: “Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso 
Senhor” (lCo 1.9). 
 
Esse poderoso ato de Deus é muitas vezes designado vocação eficaz, para distingui-lo do convite geral do 
evangelho que se dirige a todas as pessoas e que algumas rejeitam. Isso não significa que a proclamação 
humana do evangelho não esteja envolvida. De fato, o chamado eficaz de Deus vem por intermédio da 
pregação humana do evangelho, porque Paulo diz: “Ele os chamou para isso por meio de nosso evangelho, a 
fim de tomarem posse da glória de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Ts 2.14). Naturalmente há muitos que 
ouvem o chamado geral da mensagem do evangelho e não respondem. Mas em alguns casos o chamado do 
evangelho torna-se eficaz pela ação do Espírito Santo no coração das pessoas, de forma que elas respondem; 
podemos dizer que elas receberam a “vocação eficaz”. 
 
Podemos definir a vocação eficaz da seguinte maneira: Vocação eficaz é o ato de Deus Pai, falando por meio 
da proclamação humana do evangelho, pelo qual ele convoca as pessoas para si mesmo de tal modo que elas 
respondem com fé salvadora. 
E importante não dar a impressão de que as pessoas serão salvas pelo poder dessa vocação 
independentemente da resposta deliberada delas ao evangelho (v. cap. 21 sobre a fé pessoal e o 
arrependimento que são necessários à salvação). Embora seja verdade que a vocação eficaz desperta e produz 
a resposta em nós, devemos sempre insistir em que essa resposta ainda tem de ser voluntária, uma resposta 
deliberada na qual o indivíduo coloca sua confiança em Cristo. 
 
Essa é a razão por que a oração é tão importante para a evangelização eficaz. A menos que Deus opere no 
coração das pessoas para tornar a proclamação do evangelho eficaz, não haverá nenhuma resposta salvadora 
genuína. Jesus disse: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair” (Jo 6.44). 
 
Um exemplo do chamado do evangelho operando eficazmente é visto na primeira visita de Paulo a Filipos. 
Quando Lídia ouviu a mensagem do evangelho, “o Senhor abriu seu coração para atender à mensagem de 
Paulo” (At 16.14). 
 
Ao contrário da vocação eficaz, que é inteiramente ato de Deus, podemos falar a respeito do chamado do 
evangelho em geral, que vem por meio da linguagem humana. Esse chamado do evangelho é oferecido a 
todas as pessoas, mesmo às que não o aceitam. Às vezes esse chamado do evangelho refere-se ao chamado 
 19 
externo ou chamado geral. Em contrapartida, a vocação eficaz de Deus que realmente produz a resposta 
deliberada da pessoa que ouve é por vezes chamada vocação interna. O chamado do evangelho é geral e 
externo e muitas vezes é rejeitado, ao passo que a vocação eficaz é particular, interna e sempre é eficaz. 
Contudo, isso não significa diminuir a importância do chamado do evangelho — que é o meio pelo qual a 
vocação eficaz acontecerá. Sem o chamado do evangelho, ninguém poderá responder e ser salvo! “E como 
crerão naquele de quem não ouviram falar?” (Rm 10.14). Portanto, é importante entender exatamente o que 
significa o chamado do evangelho. 
B. Os elementos do chamado do evangelho 
 
Três elementos importantes devem ser incluídos na pregação do evangelho. 
 
1. Explicação dos fatos concernentes à salvação. Qualquer pessoa que vem a Cristo para salvação deve ter ao 
menos o entendimento básico de quem Cristo é e como ele satisfaz a nossa necessidade de salvação. Portanto, 
a explicação dos fatos concernentes à salvação deve incluir ao menos três coisas: 
 
A. Todas as pessoas pecaram (Rm 3.23) 
B. A penalidade do pecado é a morte (Rm 6.23) 
C. Jesus Cristo morreu para pagar a penalidade de nossos pecados (Rm 5.8). 
 
Mas o entendimento desses fatos e mesmo a concordância de que eles são verdadeiros não são suficientes 
para uma pessoa ser salva. Deve haver um convite para uma resposta pessoal da parte do indivíduo que vai se 
arrepender de seus pecados e confiar pessoalmente em Cristo. 
 
2. Convite para responder a Cristo pessoalmente em arrependimento e fé. 
Quando o NT fala a respeito de pessoas vindo à salvação, ele fala em termos da resposta pessoal ao convite do 
próprio Cristo. Esse convite é belamente expresso, por exemplo, nas palavras de Jesus: “Venham a mim, 
todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e 
aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. 
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30). 
 
É importante deixar claro que essas não são apenas palavras faladas muito tempo atrás por um líder religioso 
do passado. Cada não-cristão que ouve essas palavras deve ser encorajado a pensar nelas como palavras que 
Jesus Cristo está dizendo neste momento, falando individualmente ao que ouve. Jesus Cristo é o Salvador 
que está vivo agora no céu, e cada não-cristão deveria pensar em Jesus falando diretamente a ele, dizendo 
“Venham a mim [...] e eu lhes darei descanso” (Mt 11.28). Esse é um convite genuíno e pessoal que espera 
uma resposta pessoal de cada um que o ouve. 
 
João também fala a respeito da necessidade da resposta pessoal quando diz: “Veio para o que era seu, mas os 
seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se 
tornarem filhos de Deus” (Jo 1.11,12). Enfatizando a necessidade de “receber” Cristo, João também destaca a 
necessidade da resposta individual. Àqueles dentro da igreja morna que não percebiam sua cegueira 
espiritual o Senhor Jesus novamente dirige um convite que exige resposta pessoal: “Eis que estou à porta e 
bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3.20). 
 
Porém o que está envolvido nesse ir a Cristo? Embora isso seja explicado mais plenamente no capítulo 23, é 
suficiente por ora observar aqui que, se formos a Cristoe confiarmos nele para que nos salve do pecado, não 
podemos mais nos agarrar ao pecado, mas devemos deliberadamente renunciar a ele com genuíno 
arrependimento. Em alguns casos na Escritura tanto o arrependimento como a fé são mencionados juntos 
quando se referem à conversão inicial de uma pessoa. (Paulo disse que gastou seu tempo testificando “tanto a 
judeus como a gregos, que eles precisam converter-se a Deus com arrependimento e fé em nosso Senhor 
Jesus”, At 20.2 1.) Em outras ocasiões somente o arrependimento dos pecados é mencionado e a fé salvadora 
é suposta como fator de acompanhamento (“que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão 
de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”, Lc 24.47; cf. At 2.37,38; 3.19; 5.31; 17.30; Rm 2.4; 
2Co 7.10; etc.). Portanto, qualquer proclamação genuína do evangelho deve incluir o convite para tomar a 
decisão consciente de abandonar os pecados e vir a Cristo com fé, pedindo-lhe o perdão dos pecados. Se tanto 
 20 
a necessidade de arrependimento de pecados como a necessidade de confiar em Cristo para o perdão forem 
negligenciados, não terá havido uma plena e verdadeira proclamação do evangelho. 
 
Mas o que é prometido para os que vêm a Cristo? Esse é o terceiro elemento do chamado do evangelho. 
 
3. A promessa de perdão e de vida eterna. 
Embora as palavras de Cristo do convite pessoal contenham promessas de descanso, poder para se tornar 
filho de Deus e acesso à água da vida, é útil tornar explícito exatamente o que Cristo promete aos que vêm a 
ele em arrependimento e fé. A principal promessa na mensagem do evangelho é o perdão de pecados e a vida 
eterna com Deus. “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que 
nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).Na pregação do evangelho, Pedro diz: “Arrependam-
se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus pecados sejam cancelados” (At 3.19; cf. 2.38). 
 
Juntamente com a promessa de perdão e de vida eterna deve estar a certeza de que Cristo aceitará todos os 
que vêm a ele em sincero arrependimento e fé na busca da salvação: “... e quem vier a mim eu jamais 
rejeitarei” (Jo 6.37). 
 
C. A importância do chamado do evangelho 
A doutrina do chamado do evangelho é importante porque, se não houvesse o chamado do evangelho, nós 
não poderíamos ser salvos.”E como crerão naquele de quem não ouviram falar?” (Rm 10.14). 
 
O chamado do evangelho é importante também porque por meio dele Deus se dirige a nós na plenitude de 
nossa humanidade. Ele não nos salva simplesmente de forma “automática”, sem procurar uma resposta em 
nós como pessoas completas. Ao contrário, no chamado do evangelho ele se dirige ao nosso intelecto, às 
nossas emoções e à nossa vontade. Ele fala ao nosso intelecto ao nos explicar os fatos da salvação em sua 
Palavra. Ele fala às nossas emoções fazendo-nos um convite pessoal sincero que pede uma resposta. Ele fala à 
nossa vontade por pedir-nos para ouvir o seu convite e responder a ele deliberadamente em arrependimento 
e fé — para que decidamos abandonar nossos pecados e receber Cristo como Salvador, descansando nosso 
coração nele para a salvação. 
Autor: Wayne Grudem 
Fonte: Teologia Sistemática do Autor, Ed. Vida Nova. Compre este livro em http://www.vidanova.com.br 
A Vocação Eficaz 
Ez 36.26,27; Rm 8.30; Ef 1.7-12; 2 Ts 2.13,14; 2 Tm 1.8-12 
Quando eu era menino, minha mãe costumava aparecer à janela e me chamar para jantar. Geralmente eu 
entrava ao primeiro chamado, mas nem sempre. Se eu demorava, ela chamava uma segunda vez, geralmente 
num tom de voz mais alto. Seu primeiro chamado nem sempre surtia efeito; não surtia o efeito desejado. O 
segundo chamado geralmente surtia efeito; eu estava rapidamente em casa. 
Há um chamado de Deus que surte efeito. Quando Deus chamou o mundo à existência, o universo não 
hesitou em atender a voz de comando. O efeito desejado por Deus na criação foi alcançado. 
Semelhantemente, quando Jesus chamou Lázaro para fora do túmulo, Lázaro respondeu voltando à vida. 
Há também um chamado eficaz de Deus na vida do crente. É um chamado que alcança o efeito desejado. O 
chamado eficaz está relacionado com o poder de Deus ao regenerar o pecador da morte espiritual. Às vezes 
esse chamado é referido como "graça irresistível". 
O chamado eficaz refere-se ao chamado de Deus que por seu soberano poder e autoridade produz seu 
designado e ordenado efeito. Quando Paulo ensina que aquele a quem Deus predestinou, a esse ele chama, e 
aqueles a quem chamou também justifica, (Rm 8.30) o chamado a que se refere é a vocação eficaz de Deus. 
A vocação eficaz de Deus é uma vocação interior. E a obra secreta de vivificação ou regeneração realizada na 
alma dos eleitos pela operação imediata e sobrenatural do Espírito Santo. Efetua ou opera a mudança da 
 21 
disposição, inclinação e desejo da alma. Antes da vocação eficaz e interior de Deus ser recebida, nenhuma 
pessoa tem inclinação para aproximar-se dele. Todo aquele que é efetivamente chamado tem uma nova 
disposição para com Deus e reponde com fé. Vemos, então, que a própria Fé é um dom de Deus, tendo sido 
dada na vocação eficaz do Espírito Santo. 
A pregação do evangelho representa a vocação exterior de Deus. Esta vocação é ouvida audivelmente tanto 
pelos eleitos como pelos não-eleitos. Os seres humanos têm a capacidade de resistir e recusar a vocação 
exterior. Ninguém responderá à vocação exterior com fé a menos que esta vocação seja acompanhada pela 
vocação eficaz do Espírito Santo no interior. A vocação eficaz é irresistível no sentido em que Deus 
soberanamente faz com que produza o resultado desejado. Esta obra soberana da graça é resistível no sentido 
em que podemos e realmente a resistimos em nossa natureza caída, mas é irresistível no sentido em que a 
graça de Deus prevalece sobre nossa resistência natural. 
A vocação eficaz se refere ao poder criador de Deus pelo qual somos conduzidos à vida espiritual. O apóstolo 
Paulo escreve: 
"E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, Em que noutro tempo andastes segundo o curso 
deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da 
desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a 
vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também." Ef 2.1-
3 
Nós, que antes éramos filhos da ira e estávamos espiritualmente mortos, nos tornamos os "chamados" pela 
virtude do poder e da eficácia da vocação interior de Deus. Em sua graça, o Espírito nos dá olhos para ver o 
que não veríamos e ouvidos para ouvir o que de outra maneira não ouviríamos. 
Sumário 
1. Os chamados humanos podem ser eficazes ou não. 
2. Deus tem o poder de chamar eficazmente os mundos à existência, chamar corpos para fora do túmulo e 
chamar as pessoas da morte para a vida espiritual. 
3. As pessoas podem ouvir o chamado exterior de Deus, por meio do evangelho e rejeitar. Seu chamado 
interior, entretanto, é sempre eficaz. Sempre produz os resultados desejados. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro 
em http://www.cep.org.br 
ARREPENDIMENTO 
O Arrependimento 
Ez 18.30-32; Lc 24.46-47; At 20.17-21; Rm 2.4; 2 Co 7.8-12 
A mensagem inaugural de João Batista, o qual serviu como arauto de Jesus Cristo foi:" Arrependei-vos. 
porque o Reino de Deus está próximo". Este chamado ao arrependimento foi um apelo urgente aos 
pecadores. Ninguém que se recusa a arrepender-se poderá jamais entrar no Reino de Deus. O 
arrependimento é um pré-requisito, uma condição necessária para a salvação. 
Nas Escrituras, arrependimento significa "experimentar alguém uma mudança de mente". Esta mudança de 
mente não é uma mera questão de mudar opiniões secundárias, mas de toda a direção da vida. Envolve uma 
conversão radical, do pecado para Cristo. 
O arrependimento não é a causado novo nascimento ou regeneração; é o resultado ou fruto da regeneração. 
Apesar de o arrependimento começar com a regeneração, ele é uma atitude que deve se repetir por toda a 
vida cristã. Porque continuamos a pecar, somos chamados a nos arrependermos cada vez que somos 
convencidos de nosso pecado pelo Espírito Santo. 
 22 
Os teólogos fazem certa distinção entre dois tipos de arrependimento. O primeiro é chamado de atrição. 
Atrição é um tipo falso ou espúrio de arrependimento. Envolve o remorso pelo medo da punição ou pela 
perda da bênção. Todos os pais têm testemunhado a atrição num filho, quando ele é pego com a mão na lata 
de biscoito. A criança, temendo a punição chora: "Sinto muito, por favor, não me bata!" Essa súplica, 
acompanhadas por "lágrimas de crocodilo", geralmente não são sinais de arrependimento genuíno pela ação 
errada. É o tipo de arrependimento que Esaú demonstrou (Gn 27.30-46). Ficou triste não porque tinha 
pecado, mas porque tinha perdido seu direito de primogenitura. A atrição, pois, é o arrependimento 
motivado pela tentativa de conseguir um passaporte para fora do inferno ou para evitar outro tipo de 
punição. 
A contrição, por outro lado, é o arrependimento verdadeiro e piedoso.É genuíno. Inclui um profundo 
remorso por ter ofendido a Deus. A pessoa contrita confessa franca e plenamente seu pecado, sem nenhuma 
tentativa de se justificar ou se desculpara. Este reconhecimento do pecado é acompanhado por um desejo 
espontâneo de fazer restituição, sempre que possível, e uma decisão de abandonar o pecado.Este é o espírito 
do arrependimento que Davi demonstrou no Salmo 51:" Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova 
em mim um espírito reto.Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e 
contrito não desprezarás, ó Deus." (Sl 51.10,17). 
Quando o arrependimento é oferecido a Deus num espírito de verdadeira contrição, ele promete nos perdoar 
e restaurar nossa comunhão com ele: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar 
os pecados, e nos purificar de toda a injustiça." (1 Jo 1.9). 
Sumário 
1. Arrependimento é uma condição necessária para a salvação. 
2. Arrependimento é o resultado da regeneração. 
3. Atrição é um falso arrependimento motivado pelo medo. 
4. Contrição é o verdadeiro arrependimento motivado por um remorso piedoso. 
5. O arrependimento inclui a plena confissão, restituição e a decisão de abandonar o pecado. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. 
Arrependimento 
 
Atos 26.20 "Mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos 
gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento". 
Arrependimento significa mudança de mente, de modo que os pontos de vista de uma pessoa arrependida, 
seus valores, objetivos e comportamentos são mudados e toda a sua vida é vivida de um modo diferente. Sua 
mente , seu discernimento, sua vontade, suas afeições, seu comportamento, seu estilo de vida, seus motivos e 
seus planos , tudo está envolvido nessa mudança. Arrepender-se significa começar a viver uma nova vida. 
A chamada ao arrependimento era a convocação fundamental na pregação de João Batista(Mateus 3.2), de 
Jesus(Mateus 4.17), dos Doze(Marcos 6.12), de Pedro no Pentecostes(Atos 2.38), de Paulo aos gentios(Atos 
17.30;26.20) e do Cristo glorificado a cinco das sete igrejas da Ásia(Apocalipse 2.5,16,22;3.3,19). 
Era parte do resumo feito por Jesus do evangelho que devia ser pregado em todo o mundo(Lucas 24.47). 
Corresponde ao constante apelo dos profetas a Israel para que retornasse a Deus, de quem se tinha 
extraviado(p.ex. Jeremias 23.22; 25.4-5; Zacarias 1.3-6). O arrependimento é sempre descrito como o 
caminho para a remissão de pecados e a restauração do favor de Deus, ao passo que a impenitência é o 
caminho para a ruína. 
 23 
A fé e o arrependimento são, em si mesmos, frutos da regeneração. Porém, como uma questão prática, o 
arrependimento é inseparável da fé. Voltar-se para Cristo em fé é impossível sem o abandono do pecado pelo 
arrependimento. A idéia de que pode haver fé salvadora sem arrependimento e de que alguém pode ser 
justificado apenas aceitando a Cristo como Salvador, mas recusando-se a aceitá-lo como Senhor, é um erro 
perigoso. 
A verdadeira fé reconhece a Cristo como o que , de fato, ele é, isto é, nosso Rei escolhido por Deus, bem como 
nosso Sacerdote, que Deus nos deu, e a fé que confia nele como Salvador, se submeterá a ele como Senhor 
também. Recusar isso é procurar justificação com uma fé impenitente, que não é fé nenhuma. 
A Confissão de Westminster declara que no arrependimento, 
"movido pelo reconhecimento e o sentimento não só do perigo, mas também da impureza e odiosidade de 
seus pecados, como contrários à santa natureza e justa lei de Deus, e conscientizando-se da misericórdia 
divina manifestada em Cristo aos que são penitentes, o pecador, pelo arrependimento, de tal maneira sente e 
aborrece seus pecados, que, deixando-os, se volta para Deus, tencionando e procurando andar com ele em 
todos os caminhos de seus mandamentos" (Confissão de Westiminster, XV.2). 
Sentimentos de remorso, auto-reprovação e tristeza pelo pecado gerados pelo temor de punição, sem 
qualquer desejo ou decisão de deixar de pecar, não devem ser confundidos com o arrependimento. Davi 
expressa o verdadeiro arrependimento no Salmo 51, revelando em seu coração o propósito de não pecar mais 
e de viver uma vida justa( Lucas 3.8; Atos 26.20). 
Fonte : Bíblia de Estudo de Genebra, página 1309 
A REGENERAÇÃO 
O Novo Nascimento 
Dt 30.6; Ez 36.26,27; Rm 8.30; Tt 3.4-7 
Quando Jimmy Cater foi eleito presidente do Estados Unidos, descreveu a si mesmo como um "cristão 
nascido de novo". Charles Colson, que fora o homem de confiança do presidente Nixon, escreveu um livro 
intitulado Born Again [Nascido de Novo], no qaul descreve sua própria experiência de conversão ao 
cristianismo. Desde que essas duas personalidades famosas popularizaram a frase nascer de novo, ela tem se 
tornado parte do discurso moderno. 
Descrever alguém como um cristão nascido de novo é, tecnicamente falando, cometer um redundância. Não 
existe algo como um cristão não nascido de novo. Um cristão regenerado (não nascido de novo) é uma 
contradição de termos. Semelhantemente, um não-cristão nascido de novo também é uma contradição. 
Foi Jesus quem declarou que o novo nascimento espiritual era uma absoluta necessidade para se entra no 
reino de Deus. Ele declarou a Nicodemos: "Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que 
aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." (Jo 3.3). A expressão, a menos que, no ensino 
de Jesus, sinaliza uma condição universalmente necessária para ver e entrar no Reino de Deus. O novo 
nascimento, portanto, é uma parte essencial do cristianismo; sem ele, é impossível a entrada no Reino de 
Deus. 
Regeneração é o termo teológico usado para descrever o novo nascimento. Refere-se a uma nova geração, um 
novo gênesis, um novo princípio. É mais do que simplesmente "virar uma página"; marca o início de uma 
nova vida, numa pessoa radicalmente renovada. Pedro fala dos crentes que "fostes regenerados, não de 
semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente" (1 Pe 
1.23). 
A regeneração é obra do Espírito Santo naqueles que estão espiritualmente morto (ver Ef 2.1-10). O Espírito 
recria o coração humano, vivificando-o da morte espiritual para a vida espiritual. Pessoas regeneras são 
novas criaturas. Onde anteriormente nãi havia nenhuma disposição, inclinação ou desejo para as coisas de 
Deus estão dispostos e inclinados para com Deus. Na regeneração, Deus implanta um desejo por ele próprio 
no coração humano, que de outra forma não estaria lá. 
 24 
A regeneração na deve ser confundida com plena experiência de conversão.Assim como nascimento é nossa 
iniciação, nossa primeira entrada na vida fora do ventre materno, assim nosso novo nascimento espiritual é o 
ponto de partida de nossa vida espiritual. Acontece pela iniciativa de deus e é um ato soberano, imediato e 
instantâneo. A conscientização da nossa conversão pode ser gradual. Mesmo assim, o novo nascimento em si 
é instantâneo. Ninguém pode nascer de novo parcialmente, assim como uma mulher não pode ficar 
parcialmente grávida. 
A regeneração não é o fruto ou resultado de fé. Pelo contrário, a regeneração procede a fé, como a condição 
necessária para a fé. Também não temos em nós mesmos participação nenhuma na regeneração, ou seja, não 
cooperamos como colaboradores do Espírito Santo para que ela seja realizada. Não escolhemos ou decidimos 
ser regenerados. Deus nos decide regenerar antes mesmo decidirmos de abraçá-lo. Em suma, depois que 
somos regenerados pela graça soberana de Deus, decidimos agir, cooperar e crer em Cristo. Deus não exerce 
fé por nós. É por meio de nossa própria fé que somos justificados. O que Deus faz é nos injetar a vida 
espiritual, nos resgatando as trevas, da escravidão e da morte espiritual. Deus torna a fé possível e disponível 
a nós. Ele gera a fé em nosso interior. 
Sumário 
1. Todos os que são cristãos autênticos são nascidos de novo. 
2. Todos os que genuinamente nascidos de novo são cristãos. 
3. O Novo nascimento é um pré-requisito para se entrar no Reino de Deus. 
4. A regeneração é obra soberana da graça do Espírito Santo. 
5. A regeneração procede a fé. É a iniciativa divina de Deus na Salvação. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. 
A Regeneração 
 
Que significa nascer de novo? 
 
EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA 
Podemos definir a regeneração da seguinte maneira: Regeneração é o ato secreto de Deus pelo qual ele nos 
comunica nova vida espiritual. Isso é algumas vezes chamado “nascer de novo” (para usar a linguagem de 
João 3.3-8). 
 
A. A regeneração é totalmente obra de Deus 
Em alguns dos elementos da aplicação da redenção que discutiremos nos capítulos subseqüentes, exercemos 
uma parte ativa (isso é verdade, por exemplo, na conversão, na santificação e na perseverança). Mas na obra 
da regeneração não exercemos nenhum papel ativo. Trata-se, ao contrário, de uma obra totalmente de 
Deus.Vemos isso, por exemplo, quando João fala a respeito daqueles a quem Cristo deu o poder de serem 
feitos filhos de Deus — “os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem 
pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus” (Jo 1.13). Aqui João especifica que os filhos de Deus 
são os que “nasceram de Deus”, e a vontade humana (“vontade do homem”) não ocasiona essa espécie de 
nascimento. 
O fato de que somos passivos na regeneração fica também evidente quando a Escritura se refere a ela como 
gerar ou “nascer de novo” (cf. Tg 1.18; 1 Pe 1.3; Jo 3.3-8). Nós não escolhemos nos tornar vivos fisicamente e 
também não escolhemos nascer — isso simplesmente aconteceu; de modo semelhante, essas analogias na 
Escritura sugerem que somos inteiramente passivos na regeneração. 
A obra soberana de Deus na regeneração também é predita na profecia de Ezequiel. Por meio dele Deus 
prometeu um tempo futuro no qual daria nova vida espiritual ao seu povo: 
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“Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes 
darei um coração de carne. Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem segundo os meus decretos e a 
obedecerem fielmente às minhas leis” (Ez 36.26,27). 
Qual é o membro da Trindade que causa a regeneração? Quando Jesus diz “nascer do Espírito” (cf. Jo 3.8), 
ele indica que é especialmente Deus Espírito Santo que produz a regeneração. Mas outros versículos também 
indicam o envolvimento de Deus Pai na regeneração. Paulo especifica que é Deus que “deu-nos vida com 
Cristo” (Ef 2.5; cf. Cl 2.13). E Tiago diz que é o “Pai das luzes” que nos deu o novo nascimento: “Por sua 
decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos como que os primeiros frutos de tudo o que 
ele criou” (Tg 1.17,18). Finalmente, falando de Deus, Pedro diz que, “conforme a sua grande misericórdia, ele 
nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (lPe 1.3). 
Podemos concluir que tanto Deus Pai como Deus Espírito Santo produzem a regeneração. 
Qual é a conexão entre a vocação eficaz e a regeneração? Como veremos mais tarde neste capítulo, a 
Escritura indica que a regeneração deve vir antes de podermos responder à vocação eficaz com fé salvadora. 
Portanto, podemos dizer que a regeneração vem antes do resultado da vocação eficaz (a nossa fé). Mas é mais 
difícil especificar a relação temporal exata entre a regeneração e a proclamação humana do evangelho por 
meio da qual Deus opera a vocação eficaz. Ao menos duas passagens sugerem que Deus nos regenera ao 
mesmo tempo em que nos fala mediante a vocação eficaz. Pedro diz: “Vocês foram regenerados, não de uma 
semente perecível, mas imperecível,por meio da palavra de Deus, viva e permanente. [...]! Essa é a palavra 
que lhes foi anunciada” (1 Pe 1.23,25). E Tiago diz: “Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade” 
(Tg 1.18). À medida que o evangelho nos chega, Deus fala por meio dele, chamando-nos para si mesmo 
(vocação eficaz), e nos dá vida espiritual (regeneração) de forma que somos capacitados a responder com fé. 
A vocação eficaz é, dessa forma, Deus Pai nos falando poderosamente, e a regeneração é Deus Pai e Deus 
Espírito operando poderosamente em nós para nos dar vida. Essas duas coisas devem ter acontecido 
simultaneamente enquanto Pedro pregava o evangelho à casa de Cornélio, pois, enquanto ele estava 
pregando, “o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a mensagem” (At 10.44). 
Algumas vezes o termo graça irresistível é usado nesse sentido. Ele se refere ao fato de que Deus eficazmente 
chama pessoas e as regenera, e ambas as ações garantem que responderemos com fé salvadora. O termo 
graça irresistível está sujeito ao entendimento errôneo, contudo, visto que parece sugerir que as pessoas não 
fazem uma escolha voluntária e deliberada na resposta ao evangelho — uma idéia errônea e um 
entendimento errôneo do termo graça irresistível. O termo preserva algo valioso, no entanto, porque indica 
que a obra de Deus alcança nosso coração para produzir a resposta que é absolutamente certa — muito 
embora nós respondamos voluntariamente. 
 
B. A natureza exata da regeneração é mistério para nós. 
Exatamente o que acontece na regeneração é mistério para nós. Sabemos de qualquer maneira que nós, que 
estivemos espiritualmente mortos (Ef 2.1), fomos vivificados por Deus e, em um sentido muito verdadeiro, 
“nascemos de novo” (cf. Jo 3.3,7; Ef 2.5; Cl 2.13). Todavia, não entendemos como isso acontece ou como 
exatamente Deus nos dá essa vida espiritual. Jesus diz: “O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não 
pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito” (Jo 3.8). 
A Escritura vê a regeneração como algo que nos afeta como pessoas integrais. Obviamente, nosso “espírito” é 
vivificado em relação a Deus após a regeneração (Rm 8.10), mas isso acontece simplesmente porque nós 
como pessoas integrais somos afetados pela regeneração. Não somente nosso espírito estava morto antes — 
nós estávamos mortos em delitos e pecados (v. Ef 2.1). É incorreto dizer que tudo o que acontece na 
regeneração é que o nosso espírito é vivificado (como alguns costumam ensinar), pois cada parte de nós é 
afetada pela regeneração:”Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; 
eis que surgiram coisas novas!” (2Co 5.17). 
Porque a regeneração é obra de Deus dentro de nós na qual ele nos dá nova vida, é correto concluir que ela é 
um ato instantâneo. Ele acontece uma só vez. Em dado momento estamosespiritualmente mortos, e no 
momento seguinte recebemos vida espiritual da parte de Deus. No entanto, nem sempre sabemos 
exatamente quando essa mudança instantânea ocorre. 
Especialmente quando se trata de crianças crescidas em lar cristão ou de pessoas que freqüentam uma igreja 
evangélica ou um estudo bíblico por um grande período de tempo e gradualmente crescem no seu 
entendimento do evangelho, normalmente não acontece uma crise dramática acompanhada de uma 
mudança radical de conduta de ”um pecador endurecido” para “um santo”. 
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Apesar disso, no entanto, há uma mudança instantânea, quando Deus, por meio do Espírito Santo e de modo 
invisível, desperta vida espiritual dentro do indivíduo. A mudança se tornará evidente no tempo próprio em 
padrões de conduta e de desejos que são agradáveis a Deus. Em outras ocasiões (de fato, provavelmente a 
maioria dos casos em que pessoas adultas se tornam cristãs), a regeneração acontece em um tempo 
claramente detectável no qual a pessoa percebe que anteriormente era separada de Deus e espiritualmente 
morta, mas logo após surgiu sem dúvida a nova vida espiritual dentro dela. Os resultados podem ser 
normalmente vistos de uma só vez — o coração sensível confiando em Cristo para a salvação, a certeza de 
pecados perdoados, o desejo de ler a Bíblia e de orar (e a percepção de que essas são atividades espirituais 
significativas), o prazer na adoração, a vontade de ter comunhão cristã, o desejo sincero de ser obediente à 
Palavra de Deus na Escritura e de contar a outros a respeito de Cristo. Essas pessoas podem dizer algo mais 
ou menos assim: “Não sei exatamente o que aconteceu, mas antes daquele dia eu não confiava em Cristo para 
a salvação. Estava ainda pensando e questionando em minha mente. Mas, a partir daquele momento, percebi 
que confiava em Cristo e que ele era meu Salvador. Alguma coisa aconteceu em meu coração”. Todavia, 
mesmo nesses casos, não podemos estar totalmente certos sobre o que aconteceu exatamente em nosso 
coração. É como Jesus disse com respeito ao vento — ouvimos a sua voz, vemos os resultados, mas não 
podemos realmente ver o próprio vento. Assim também acontece com a operação do Espírito em nosso 
coração. 
 
C. Nesse sentido de “regeneração”, ela precede a fé salvadora. 
Usando os versículos citados anteriormente, definimos a regeneração como o ato de Deus despertar vida 
espiritual dentro de nós, trazendo-nos da morte espiritual para a vida espiritual. Com base nessa definição, é 
natural entender que a regeneração antecede a fé salvadora. É de fato essa obra de Deus que nos dá a 
capacidade espiritual de responder a Deus com fé. Contudo, quando dizemos que a regeneração vem “antes” 
da fé salvadora, é importante lembrar que elas normalmente estão tão próximas que parecerão acontecer ao 
mesmo tempo. Assim que Deus nos envia o chamado eficaz do evangelho, nos regenera, e respondemos com 
fé e arrependimento a esse chamado. Portanto, de nossa perspectiva, é difícil perceber qualquer diferença 
temporal entre elas, especialmente porque a regeneração é uma obra espiritual que não podemos perceber 
com nossos olhos ou mesmo entender com a mente. 
Todavia, há diversas passagens que nos dizem que essa obra secreta e misteriosa de Deus em nosso espírito 
acontece antes de respondermos a Deus com fé salvadora (embora muitas vezes ela possa se dar apenas 
alguns segundos antes de nossa resposta). Ao falar a respeito da regeneração com Nicodemos, Jesus disse: 
“Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito” (Jo 3.5). Entramos no Reino 
de Deus quando nos tornamos cristãos na conversão. Mas Jesus diz que temos de “nascer do Espírito” antes 
de nos convertermos. (“Nascer da água” com freqüência se refere à limpeza espiritual do pecado, que é 
simbolizada pela água na profecia de Ezequiel capítulo 36.25,26). Nossa incapacidade de ir a Cristo por nós 
próprios, sem a obra inicial de Deus dentro de nós, é também enfatizada quando Jesus diz: “Ninguém pode 
vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair” (Jo 6.44), e “ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe 
seja dado pelo Pai” (Jo 6.65). Esse ato interior da regeneração é belamente descrito quando Lucas diz de 
Lídia: “O Senhor abriu seu coração para atender à mensagem de Paulo” (At 16.14). Primeiro o Senhor abriu o 
coração de Lídia, então ela foi capaz de dar ouvidos à pregação de Paulo e responder com fé. 
De modo contrastante, Paulo nos diz: “Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de 
Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las,porque elas são discernidas espiritualmente” (1 Co 
2.14). Ele também diz, sobre pessoas que estão separadas de Cristo: “não há ninguém que entenda, ninguém 
que busque a Deus” (Rm 3.11). 
A solução para essa morte e incapacidade espiritual de responder vem somente quando Deus nos dá a nova 
vida interior: “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida 
com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos” (Ef 2.4,5). 
Paulo também diz: “Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os 
vivificou com Cristo” (Cl 2.13). 
A idéia de que a regeneração antecede a fé salvadora não é sempre entendida pelos evangélicos de hoje. As 
vezes as pessoas dizem algo mais ou menos assim: “Se você crer em Cristo como seu Salvador, então (depois 
de crer) você nascerá de novo”. Mas a Escritura não diz nada semelhante. 
O novo nascimento é visto pela Escritura como algo que Deus faz em nós a fim de nos capacitar a crer. 
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A razão pela qual os evangélicos sempre pensam que a regeneração vem após a fé salvadora é que eles vêem 
os resultados (como o amor por Deus e por sua Palavra e o abandono do pesado) após as pessoas virem à fé e 
pensam que a regeneração deve, portanto, ter vindo após a fé salvadora. De fato, algumas afirmações 
evangélicas de fé contêm palavras que sugerem que a regeneração vem após a fé salvadora. Nessas 
afirmações, a palavra regeneração certamente significa a evidência exterior da regeneração que é vista em 
uma vida mudada, evidência que certamente vem após a fé salvadora. Assim, ”nascer de novo” tem sido 
entendido não em termos de comunicação inicial da nova vida, mas em termos da mudança total de vida que 
resulta dessa comunicação. Se o termo regeneração for compreendido desse modo, então é verdade que a 
regeneração vem após a fé salvadora. 
Todavia, se usarmos a linguagem que combina com o ensino geral da Escritura, será melhor restringir a 
palavra regeneração para a obra inicial instantânea de Deus na qual ele nos comunica vida espiritual. Assim, 
podemos enfatizar que não vemos a regeneração propriamente, mas somente os resultados dela em nossa 
vida, e que a fé em Cristo para a salvação é o primeiro resultado que vemos. De fato, não podemos saber que 
fomos regenerados até que venhamos à fé em Cristo, porque essa é a evidência exterior dessa obra divina 
interior e secreta. Uma vez que alcancemos a fé salvadora em Cristo, podemos saber que nascemos de novo. 
Aplicando essa verdade, percebemos que a explicação da mensagem do evangelho na Escritura não aparece 
em forma de mandamento: “Nasça de novo e seja salvo”, mas antes: “Creia em Jesus Cristo e será salvo”. 
Esse é o padrão consistente na pregação do evangelho segundo todo o livro de Atos e também nas descrições 
do evangelho fornecidas nas cartas. 
 
D. A regeneração genuína deve trazer resultados na vida. 
Na seção anterior, observamos que a capacidade de responder a Deus com fé salvadora é o primeiro 
resultado da regeneração. Assim, João diz: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus”(lJo 
5.l).Mas há também outros resultados da regeneração, muitos dos quais são especificados na primeira 
epístola de João. Por exemplo, João diz: “Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado” (lJo 3.9). 
Aqui João explica que a pessoa que nasceu de novo tem a “semente”espiritual (que se mostra em vida 
mudada e crescente em poder) dentro dela que a livra de viver continuamente em pecado. Obviamente isso 
não significa que a pessoa terá uma vida perfeita, mas apenas que o padrão de vida não será o de indulgência 
contínua com relação ao pecado. Devemos perceber que o que João diz é verdadeiro em relação a cada um 
que realmente nasceu de novo: “Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado”. Outra maneira de 
dizer isso seria: “todo aquele que pratica a justiça é nascido dEle” (lJo 2.29). 
O amor genuíno, semelhante ao de Cristo, apresentará um resultado específico na vida: “Aquele que ama é 
nascido de Deus e conhece a Deus” (lJo 4.7). Outro efeito do novo nascimento é a vitória sobre o mundo: “E 
os seus [de Deus] mandamentos não são pesados. O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória 
que vence o mundo: a nossa fé” (lJo 5.3,4). Aqui João explica que a regeneração capacita a vencer as pressões 
e as tentações do mundo que, de outra forma, nos impediriam de obedecer aos mandamentos de Deus e de 
seguir os seus caminhos. João diz que nos venceremos essas pressões, e, portanto, não será pesado obedecer 
aos mandamentos de Deus, pelo contrário, subentende-se que essa obediência será algo que faremos com 
alegria. 
Finalmente, João observa que outro resultado da regeneração é a proteção que ela nos dá em relação ao 
próprio Satanás: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado; aquele que nasceu de 
Deus o protege, e o Maligno não o atinge” (lJo 5.18). Embora possa haver ataques de Satanás, João 
reassegura a seus leitores: “aquele que está em vocês é maior é aquele que está no mundo” (lJo 4.4), e esse 
poder maior do Espírito Santo dentro de nós nos guarda em segurança do prejuízo espiritual que o Maligno 
poderia nos causar. 
Devemos perceber que João enfatiza todas essas coisas como resultados necessários na vida dos que 
nasceram de novo. Se há regeneração genuína na vida de uma pessoa, ela crerá que Jesus é o Cristo, e isso a 
refreará de viver continuamente em pecado, ela amará seus irmãos na fé, vencerá as tentações do mundo e 
será guardada segura do prejuízo definitivo causado pelo Maligno. Essas passagens mostram que é 
impossível a pessoa ser regenerada e não se converter verdadeiramente. 
Outros resultados da regeneração são mencionados por Paulo quando fala do “fruto do Espírito”, a saber, o 
resultado na vida que é produzido pelo poder do Espírito Santo trabalhando na vida de cada crente: “Mas o 
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fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio 
próprio” (Gl 5.22,23). Se há regeneração verdadeira, esses elementos do fruto do Espírito serão mais e mais 
evidentes na vida da pessoa. Todavia, por outro lado, os descrentes, incluindo os que se imaginam crentes, 
mas não são, claramente mostrarão a falta dessas qualidades de caráter em suas vidas. Jesus disse aos 
discípulos: Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são 
lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou 
figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos 
ruins.A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não 
produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão! (Mt 7.15-
20).Nem Jesus nem Paulo nem João destacam a atividade na igreja ou os milagres como evidência da 
regeneração. Ao contrário, ressaltam as qualidades do caráter na vida. De fato, logo após os versículos citados 
anteriormente, Jesus adverte que no dia do juízo muitos lhe dirão: “‘Senhor, Senhor, não profetizamos em 
teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi 
claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mt 7.22,23). Profecia, 
exorcismo e muitos milagres e atos poderosos em nome de Jesus (para não falar de outras espécies de 
intensas atividades da igreja na força da carne durante décadas na vida de uma pessoa) não proporcionam 
evidência convincente de que uma pessoa verdadeiramente nasceu de novo. Aparentemente essas coisas 
podem ser produzidas pela força do próprio homem natural ou com a ajuda do Maligno. Mas o amor genuíno 
a Deus e a seu povo, a obediência sincera aos seus mandamentos e as qualidades do caráter semelhante ao de 
Cristo que Paulo chama fruto do Espírito, demonstrados firmemente por longo tempo na vida de uma pessoa, 
não podem simplesmente ser produzidos por Satanás ou pelo homem natural trabalhando em sua força. 
Essas coisas só podem acontecer pelo Espírito de Deus trabalhando interiormente em nós, dando-nos nova 
vida. 
Autor: Wayne Grudem 
Fonte: Teologia Sistemática do autor, Ed. Vida Nova 
Regeneração e Novo Nascimento 
 
 
 
João 3:3: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de 
Deus”. 
Regeneração é o ato realizado só por Deus, no qual ele renova o coração humano, fazendo-o reviver depois de 
estar morto. Na regeneração, Deus age no âmago, no ponto mais fundamental da pessoa humana. Isso 
significa que não há preparação nem disposição precedente da parte do pecador que solicite ou contribua 
para a nova vida que lhe é dada por Deus. 
A regeneração é necessária porque todos os descendentes de Adão e Eva herdaram o pecado deles e são 
moralmente incapazes de fazer o que é bom. Paulo escreveu aos efésios que as pessoas estão mortas em seus 
delitos e pecados. Nesse estado, estão sem Deus e sem esperança no mundo. Não como recompensa ao 
mérito deles, mas livremente e em amor, Deus pronuncia a palavra que faz o morto reviver. 
Os versículos clássicos de Jo 3, que usam a linguagem do “novo nascimento” ou “nascer de cima”, dão ao 
perfil da regeneração seus pormenores mais nítidos. Jesus diz que, a menos que se nasça de novo, não se 
pode ver o Reino do céu. Sem a graça de Deus, os pecadores não podem encontrar a porta, muito menos 
entrar por ela. Em outro lugar, Jesus disse: “Sem mim nada podeis fazer”, e, em se tratando da salvação, 
“sem Deus nada é possível”. 
Jesus mostrou-se surpreso pelo fato de Nicodemos ficar perplexo com a exigência de um novo nascimento. 
Nicodemos devia ter compreendido, com base no Antigo Testamento, que ele era um pecador e necessitava 
de uma nova vida; e ele deve ter reconhecido os profetas, que prometeram que Deus haveria de remover os 
corações de carne e substituí-los por corações prontos para fazer a vontade de Deus. Deus ressuscitaria os 
mortos, daria vida aos cegos e pregaria as boas-novas àqueles que não podiam salvar-se a si mesmos. 
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A regeneração é o dom da graça de Deus; é a obra imediata, sobrenatural do Espírito Santo, realizada em nós. 
Seu efeito é fazer com que nós, da morte espiritual, passemos à vida espiritual. Muda a disposição de nossa 
alma, inclinando nosso coração para Deus. O fruto da regeneração é a fé. A regeneração antecede a fé. 
As crianças podem nascer de novo, ainda que a fé, exercida por elas, não possa ser tão visível como a dos 
adultos. Para muitos cristãos, o momento em que nasceram de novo é claramente reconhecido; porém, para 
outros, não, especialmente se receberam o novo nascimento na infância. Somos responsáveis por saber se 
somos espiritualmente renascidos, não por conhecer a ocasião e o lugar em que nascemos de novo. 
 Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra, Nota Teológica, página 1233. 
 
A Regeneração Precede a Fé 
Um dos momentos mais dramáticos em minha vida, na formação de minha teologia, ocorreu em uma sala de 
aula de um seminário. Um de meus professores foi ao quadro negro e escreveu estas palavras em letras 
garrafais: 
A REGENERAÇÃO PRECEDE A FÉ 
Aquelas palavras foram um choque para o meu sistema. Eu tinha entrado no seminário crendo que a obra 
principal do homem para efetivar o novo nascimentoera a fé. Eu pensava que nós tínhamos que primeiro 
crer em Cristo, para então nascermos de novo. Eu uso as palavras "para então" aqui por uma razão. Eu estava 
pensando em termos de passos que deviam ocorrer em uma certa seqüência. Eu colocava a fé no princípio. A 
ordem parecia algo mais ou menos assim: 
"Fé - novo nascimento -justificação." 
Eu não tinha pensado sobre esse assunto com muito cuidado. Nem tinha atentado cuidadosamente às 
palavras de Jesus a Nicodemus. Eu presumia que mesmo sendo um pecador, uma pessoa nascida da carne e 
vivendo na carne, eu ainda tinha uma pequena ilha de justiça, um pequeno depósito de poder espiritual 
remanescente em minha alma para me capacitar a responder ao Evangelho sozinho. Possivelmente eu tinha 
sido confundido pelo ensino da Igreja Católica Romana. Roma, e muitos outros ramos do Cristianismo, tem 
ensinado que a regeneração é graciosa; ela não pode acontecer aparte da ajuda de Deus. 
Nenhum homem tem o poder para ressuscitar a si mesmo da morte espiritual. A divina assistência é 
necessária. Esta graça, de acordo com Roma, vem na forma do que é chamado graça preveniente. 
"Preveniente" significa que ela vem antes de outra coisa. Roma adiciona a esta graça preveniente o 
requerimento de que devemos "cooperar com ela e assentir diante dela", antes que ela possa atuar em nossos 
corações. 
Esta concepção de cooperação é na melhor das hipóteses uma meia verdade. Sim, a fé que exercemos é nossa 
fé. Deus não crê por nós. Quando eu respondo a Cristo, é a minha resposta, minha fé, minha confiança que 
está sendo exercida. O assunto, contudo, se aprofunda. A questão ainda permanece: "Eu coopero com a graça 
de Deus antes de eu nascer de novo, ou a cooperação ocorre depois?" Outro modo de fazer esta pergunta é 
questionar se a regeneração é monergista ou sinergista. Ela é operativa ou cooperativa? É eficaz ou 
dependente? Algumas destas palavras são termos teológicos que requerer maior explanação. 
MONERGISMO E SINERGISMO 
Uma obra monergística é uma obra produzida por uma única pessoa. O prefixo mono significa um. A palavra 
erg refere-se a uma unidade de trabalho. Palavras como energia são construídas com base nessa raiz. Uma 
obra sinergística é uma que envolve cooperação entre duas ou mais pessoas ou coisas. O prefixo sun significa 
"juntamente com". 
Eu faço esta distinção por um razão. O debate entre Roma e Lutero foi travado sobre este simples ponto. A 
questão era esta: A regeneração é uma obra monergística de Deus ou uma obra sinergística que requer 
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cooperação entre homem e Deus? Quando meu professor escreveu "A regeneração precede a fé" no quadro 
negro, ele estava claramente tomando o lado da resposta monergística. Depois de uma pessoa ser regenerada, 
esta pessoa coopera pelo exercício de sua fé e confiança. Mas o primeiro passo é a obra de Deus e de Deus 
tão-somente. 
A razão pela qual não cooperamos com a graça regeneradora antes dela agir sobre nós e em nós é que nós não 
podemos. Não podemos porque estamos mortos espiritualmente. Não podemos assistir o Espírito Santo na 
vivificação de nossas almas para a vida espiritual, da mesma forma que Lázaro não podia ajudar Jesus a 
ressuscitá-lo dos mortos. 
Quando comecei a lutar com o argumento do Professor, fiquei surpreso ao descobrir que o estranho som de 
seu ensino não era novidade. Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, Jonathan Edwards, George 
Whitefield - até o grande teólogo medieval Tomás de Aquino ensinaram esta doutrina. Tomás de Aquino é o 
Doctor Angelicus da Igreja Católica Romana. Por séculos seu ensino teológico era aceito como dogma oficial 
pela maioria dos Católicos. Então, ele era a última pessoa que eu esperava sustentar tal visão da regeneração. 
Todavia Aquino insistiu que a graça regeneradora é uma graça operante, e não uma graça cooperativa. 
Aquino falou da graça preveniente, mas ele falou de uma graça que vem antes da fé, que é a regeneração. 
Estes gigantes da história Cristã derivaram a visão deles das Sagradas Escrituras. A frase chave na Carta de 
Paulo aos Efésios é esta: "estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo 
(pela graça sois salvos)" (Efésios 2:5). Aqui Paulo localiza o tempo em que a regeneração ocorre. Ela ocorreu 
"quando estávamos ainda mortos". Com um único raio de revelação apostólica foram esmagadas, total e 
completamente, todas as tentativas e entregar a iniciativa na regeneração aos homens. Novamente, homens 
mortos não cooperam com a graça. A menos que a regeneração ocorra primeiro, não há possibilidade de fé. 
Isso não diz nada de diferente do que Jesus disse a Nicodemus. A menos que um homem nasça de novo 
primeiro, ele não pode ver ou entrar no reino de Deus. Se nós cremos que a fé precede a regeneração, então 
nós colocamos nossos pensamentos, e, portanto, nós mesmos, em direta oposição não só aos gigantes da 
história Cristã, mas também ao ensino de Paulo e do nosso próprio Senhor Jesus Cristo. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: O Mistério do Espírito Santo, Tyndale House, 1990 
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto 
Cuiabá-MT, 18 de Março de 2003 www.monergismo.com 
 
A conversão (fé e arrependimento) 
 
Que é o verdadeiro arrependimento? 
Que é fé salvífica? 
Podem as pessoas aceitar Jesus como Salvador, mas não como Senhor? 
 
1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA 
Os dois capítulos anteriores explicaram como o próprio Deus (por meio da pregação humana da Palavra) 
promulga o chamado do evangelho a nós e, pela obra do Espírito Santo, nos regenera, comunicando-nos 
nova vida espiritual interior. Neste capítulo vamos examinar nossa resposta ao chamado do evangelho. 
Podemos definir a conversão da seguinte maneira: A conversão é a nossa resposta deliberada ao chamado do 
evangelho, pela qual sinceramente nos arrependemos dos pecados e colocamos a nossa confiança em Cristo 
para sermos salvos. 
A palavra conversão significa “voltar-se” — aqui ela significa a volta espiritual, a volta do pecado para Cristo. 
Esse retorno do pecado é chamado arrependimento, e o voltar-se para Cristo é chamado fé. Podemos olhar 
para cada um desses elementos da conversão e, em certo sentido, não importa qual deles vamos discutir 
primeiro, porque nenhum pode ocorrer sem o outro, e eles devem ocorrer juntos quando a verdadeira 
conversão acontece. Para os propósitos deste capítulo, examinaremos a fé salvadora primeiro e a seguir o 
arrependimento. 
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A. A verdadeira fé salvadora inclui conhecimento, aprovação e confiança pessoal. 
1. Apenas o conhecimento não é suficiente. 
A fé salvadora pessoal, da maneira como a Escritura a entende, envolve mais que mero conhecimento. É 
necessário que tenhamos algum conhecimento de quem Cristo é e o que ele fez, pois “como crerão naquele de 
quem não ouviram falar?” (Rm 10.14). Porém o conhecimento a respeito dos fatos da vida, morte e 
ressurreição de Jesus por nós não é suficiente, pois as pessoas podem conhecer fatos, mas podem se rebelar 
contra eles ou não gostar deles. Por exemplo, Paulo nos diz que muitas pessoas conheciam as leis de Deus, 
mas não as apreciavam: “Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais 
coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as 
praticam” (Rm 1.32). Mesmo os demônios sabem quem Deus é e conhecem os fatos a respeito da vida de 
Jesus e de sua obra salvadora, pois Tiago diz: “Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os 
demônios crêem—e tremem!” (Tg 2.19). 
Mas esse conhecimento certamente não significa que os demônios são salvos. 
 
2. Conhecimento e aprovação não são suficientes. 
Além disso, o mero conhecimento dos fatos e a aprovação deles ou a concordância de que eles são 
verdadeiros não é suficiente. Nicodemos sabia que Jesus tinha vindo de Deus, porque ele disse: “Mestre, 
sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais miraculosos que estás fazendo, 
se Deus não estiver com ele” (Jo 3.2). Nicodemosavaliara os fatos da situação, incluindo os ensinos de Jesus 
e os seus milagres notáveis, e havia tirado a conclusão correta daqueles fatos: Jesus era o mestre vindo da 
parte de Deus. Mas isso somente não significava que Nicodemos tinha fé salvadora, pois ele tinha ainda de 
colocar sua confiança em Cristo para ser salvo; ele ainda precisava “crer nele” O rei Agripa proporciona outro 
exemplo de conhecimento e aprovação sem fé salvadora. Paulo percebeu que o rei Agripa conhecia e 
aparentemente via com aprovação as Escrituras dos judeus (o que hoje chamados AT). Quando Paulo estava 
no tribunal perante Agripa, ele disse: “Rei Agripa, crês nos profetas? Eu sei que sim” (At 26.27). Todavia, 
Agripa não tinha a fé salvadora, pois ele disse a Paulo: “Você acha que em tão pouco tempo pode convencer-
me a tornar-me cristão?” (At 26.28). 
 
B. Fé e arrependimento devem vir juntos 
Podemos definir o arrependimento da seguinte maneira: Arrependimento é a tristeza de coração pelo pecado, 
a renúncia ao pecado e o compromisso sincero de abandoná-lo e de andar em obediência a Cristo. 
Essa definição indica que o arrependimento é algo que pode ocorrer em determinado ponto do tempo e não é 
equivalente à demonstração de mudança no padrão de vida de uma pessoa. Semelhantemente à fé, o 
arrependimento é o entendimento intelectual (de que o pecado está errado), a aprovação emocional dos 
ensinos da Escritura com respeito ao pecado (tristeza pelo pecado e o ódio dele) e a decisão pessoal de 
abandoná-lo (a renúncia ao pecado e decisão voluntária de deixá-lo e, em vez disso, de levar uma vida de 
obediência a Cristo). Não podemos dizer que alguém já vive realmente esse tipo de vida mudada antes de 
arrepender-se genuinamente, nem podemos dizer que o arrependimento se torna uma espécie de obediência 
que prestamos para merecer a própria salvação. Obviamente, o genuíno arrependimento resultará na vida 
mudada. De fato, a pessoa verdadeiramente arrependida começará a viver uma vida transformada, e 
podemos chamar essa vida transformada fruto do arrependimento. Mas nunca devemos exigir que haja um 
período de tempo em que uma pessoa realmente viva uma vida mudada antes que possamos lhe dar a certeza 
do perdão. O arrependimento é algo que ocorre no coração e envolve a totalidade da pessoa na decisão de 
abandonar o pecado. 
E importante perceber que a mera tristeza que advém das ações de uma pessoa, ou mesmo o remorso 
profundo por causa dessas ações, não constitui o genuíno arrependimento a menos que ele seja 
acompanhado da decisão sincera de abandonar o pecado que está sendo cometido contra Deus. O 
arrependimento genuíno envolve a profunda convicção de que a pior coisa a respeito de pecado é que ele 
ofende o Deus santo. Paulo pregava a respeito da conversão “a Deus com arrependimento e fé em nosso 
Senhor Jesus” (At 20.21). Ele diz aos coríntios: “Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram 
entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus 
desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus não produz 
remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação, e a tristeza segundo o mundo produz morte” (2Co 
 32 
7.9,10). Uma espécie de tristeza mundana pode envolver pesar da pessoa por suas ações e provavelmente 
também o temor de punição, mas não é a renúncia genuína do pecado ou o compromisso de abandoná-lo. 
Hebreus 12.17 nos diz que Esaú chorou por causa das conseqüências das suas ações, mas não se arrependeu 
verdadeiramente. Além disso, como 2Coríntios 7.9,10 indica, mesmo a tristeza verdadeira e piedosa é apenas 
um fator que conduz ao arrependimento genuíno, mas tal tristeza não é em si mesma a decisão sincera do 
coração na presença de Deus que torna autêntico o arrependimento. 
A Escritura coloca o arrependimento e a fé juntos, como aspectos diferentes do mesmo ato de ir a Cristo para 
ser salvo. O que acontece não é que a pessoa primeiro se volta do pecado e em seguida confia em Cristo, ou 
primeiro confia em Cristo e a seguir se volta do pecado, mas que ambas as coisas ocorrem ao mesmo tempo. 
Quando nos voltamos para Cristo a fim de receber salvação de nossos pecados, estamos simultaneamente nos 
apartando dos pecados dos quais pedimos a Deus que nos salve. Se isso não fosse verdade, o abandono do 
pecado para voltar-nos para Cristo para sermos salvos dificilmente poderia ser a conversão genuína a ele ou 
confiança nele. 
O fato de que o arrependimento e a fé são simplesmente dois lados diferentes da mesma moeda, ou dois 
aspectos diferentes do mesmo evento da conversão, pode ser visto na figura abaixo: 
 
Nesse diagrama, a pessoa que se volta genuinamente para Cristo para a salvação deve ao mesmo tempo ser 
liberta do pecado ao qual está presa a fim de voltar-se para Cristo.Assim, nem o arrependimento nem a fé 
vêm primeiro; eles devem vir juntos. John Murray fala de ”fé penitente” e de “arrependimento confiante”. 
Não-cristão ARREPENDIMENTO + FE = CONVERSÃO 
Conversão é a ação simples de voltar-se do pecado em arrependimento e voltar-se para Cristo em fé. 
Portanto, é claramente contrário à evidência do NT falar a respeito da possibilidade de haver verdadeira fé 
salvadora sem haver arrependimento verdadeiro do pecado. É também contrário ao NT falar a respeito da 
possibilidade de alguém aceitar Cristo “como Salvador” mas não “como Senhor”, se isso significa 
simplesmente depender dele para a salvação, mas sem o compromisso de abandonar o pecado e ser 
obediente a Cristo daquele ponto em diante. 
Quando Jesus convida pecadores: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes 
darei descanso”, imediatamente acrescenta: “Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim” (Mt 
11.28,29). Ira ele inclui tomar o fardo sobre nós, estando sujeitos à sua direção e orientação, aprendendo dele 
e sendo obedientes a ele. Se não temos o desejo de tal comprometimento, então não colocamos 
verdadeiramente nossa confiança nele. 
Quando a Escritura fala em confiar em Deus ou em Cristo, ela muitas vezes conecta tal confiança ao 
arrependimento genuíno. Por exemplo, Isaías dá um testemunho eloqüente que é típico da mensagem de 
muitos profetas do AT: Busquem o SENHOR enquanto é possível achá-lo; clamem por ele enquanto está 
perto. Que o ímpio abandone o seu caminho, e o homem mau, os seus pensamentos. Volte-se ele para o 
SENHOR, que terá misericórdia dele; volte-se para o nosso Deus, pois ele dá de bom grado o seu perdão (Is 
55.6,7). 
 33 
Aqui ambos os elementos, o arrependimento do pecado e a vinda a Deus em busca do perdão, são 
mencionados. No NT, Paulo resume o seu ministério do evangelho como a tarefa de testificar, “tanto a judeus 
como a gregos, que eles precisam converter-se a Deus com arrependimento e fé em nosso Senhor Jesus” (At 
20.21).O autor de Hebreus inclui como os dois primeiros elementos em uma lista de doutrinas elementares o 
“arrependimento de atos que conduzem à morte” e a “fé em Deus” (Hb 6.1). Naturalmente, às vezes a fé é 
mencionada isoladamente como necessária para vir a Cristo para ser salvo (v. Jo 3.16; At 16.31; Rm 10.9; Ef 
2.8,9; etc.). Essas são passagens familiares, e nós as enfatizamos muitas vezes quando explicamos o 
evangelho a outras pessoas. Mas o que não percebemos com freqüência é que há muitas outras passagens 
onde somente o arrependimento é mencionado, pois está simplesmente subentendido que o verdadeiro 
arrependimento também envolverá a fé em Cristo para o perdão dos pecados. Os autores do NT entenderam 
tão bem que o arrependimento genuíno e a fé genuína tinham de estar juntos que muitas vezes mencionaram 
somente o arrependimento, entendendo que a fé já estava incluída, porque voltar-se dos pecados de modo 
genuíno é impossível independentemente do genuíno voltar-se para Deus. Portanto, exatamente antes de 
Jesus retornar ao céu, ele disse aos discípulos: “Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos 
mortosno terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas 
as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.46,47).A fé salvadora está implícita na frase “perdão de 
pecados”, mas não está explicitamente mencionada. 
A pregação registrada no livro de Atos mostra o mesmo padrão. Após o sermão de Pedro no Pentecoste, a 
multidão perguntou: “‘Irmãos, que faremos?’ Pedro respondeu: ‘Arrependam-se, e cada um de vocês seja 
batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados” (At 2.37,38). Em seu segundo sermão, 
Pedro falou aos ouvintes de modo semelhante, dizendo: “Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para 
que os pecados sejam cancelados” (At 3.19). Mais tarde, quando os apóstolos estavam no tribunal diante do 
Sinédrio, Pedro falou de Cristo, dizendo: “Deus o exaltou, colocando-o à sua direita como Príncipe e 
Salvador, para dar a Israel arrependimento e perdão de pecados” (At 5.31). Quando Paulo estava pregando no 
Areópago de Atenas para a assembléia de filósofos gregos, disse: “No passado Deus não levou em conta essa 
ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam” (At 17.30). Ele também diz em suas 
cartas que “a bondade de Deus [...] leva ao arrependimento” (Rm 2.4), e fala do “arrependimento que leva à 
salvação” (2Co 7.10). 
Quando percebemos que a fé salvadora genuína deve ser acompanhada pelo genuíno arrependimento do 
pecado, isso nos ajuda a entender por que algumas pregações do evangelho apresentam resultados 
inadequados hoje. Se não há menção da necessidade de arrependimento, às vezes a mensagem do evangelho 
se torna somente “crê em Jesus Cristo e serás salvo”, sem qualquer menção ao arrependimento. Mas essa 
versão enfraquecida do evangelho não exige o compromisso do coração para com Cristo — o compromisso 
com a pessoa de Cristo. Se o evangelho é genuíno, deve incluir o compromisso de abandonar o pecado. A 
pregação sobre a necessidade de fé sem o arrependimento é a pregação do evangelho pela metade. Resultará 
em muitas pessoas sendo enganadas, pensando que ouviram o evangelho cristão e obedeceram a ele, mas 
nada aconteceu. Podem até dizer algo do tipo: “Aceitei Cristo como Salvadoras várias vezes e isso nunca 
funcionou”. Todavia, nunca realmente receberam Cristo como seu Salvador, porque ele vem a nós em sua 
majestade e convida-nos a recebê-lo como ele é — o único que verdadeiramente merece e exige ser o Senhor 
absoluto de nossa vida. 
Por fim, o que diremos a respeito da prática comum de pedir às pessoas que orem a fim de receber a Cristo 
como seu Salvador pessoal e Senhor? Desde que a fé pessoal em Cristo deve envolver uma decisão da 
vontade, é com freqüência muito útil expressar essa decisão em palavras faladas, e isso poderia muito 
naturalmente tomar a forma de uma oração a Cristo na qual lhe dizemos de nossa tristeza pelos pecados, de 
nosso compromisso de abandoná-los e de nossa decisão de realmente colocar nossa confiança nele. Tal 
oração em si mesma não nos salva, mas a atitude do coração que ela representa se constitui na verdadeira 
conversão, e a decisão de expressar essa oração pode muitas vezes ser o ponto em que a pessoa 
verdadeiramente vem à fé em Cristo. 
 
C. Tanto a fé como o arrependimento continuam pela vida toda 
Embora tenhamos considerado a fé e o arrependimento iniciais os dois aspectos da conversão no começo da 
vida cristã, é importante perceber que a fé e o arrependimento não estão confinados à etapa inicial de nossa 
vida cristã. Antes tratam-se de atitudes do coração que permanecem ao longo de toda a nossa vida como 
cristãos. Jesus diz aos seus discípulos para orar diariamente: 
“Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12), oração que, se autêntica, 
certamente envolverá tristeza diária pelo pecado e arrependimento genuíno. E o Cristo ressuscitado diz à 
 34 
igreja de Laodicéia: “Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se” (Ap 
3.19; cf.2Co 7.10). 
Com relação à fé, Paulo nos diz: “Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior 
deles, porém, é o amor” (lCo 13.13). Ele certamente quer dizer que esses três permanecem em todo o 
transcorrer de nossa vida, mas provavelmente também quer dizer que eles permanecem por toda a 
eternidade: se fé é a confiança em Deus para suprir nossas necessidades, então essa atitude nunca cessará, 
nem mesmo na era por vir. Mas, de qualquer forma, o ponto claramente enfatizado é o de que a fé continua 
no decorrer de toda esta vida. Paulo também diz: “A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de 
Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2.20). 
Portanto, embora seja verdadeiro que a fé salvadora inicial e o arrependimento inicial ocorrem somente uma 
vez na vida, e quando ocorrem constituem a verdadeira conversão, as atitudes do coração de arrependimento 
e fé somente começam na conversão. Essas mesmas atitudes devem continuar no decorrer de toda nossa vida 
como cristãos. A cada dia deveria haver no coração o sentimento de arrependimento pelos pecados que 
cometemos e fé em Cristo para suprir nossas necessidades e capacitar-nos a viver a vida cristã. 
 
Autor: Wayne Grudem 
Fonte: Teologia Sistemática do autor, Ed. Vida Nova 
 
ADOÇÃO 
Adoção 
Gálatas 4:5: “Para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos”. 
O dom da justificação, isto é, a presente aceitação por Deus, o Juiz do mundo, é acompanhada pelo dom da 
adoção, isto é, o dom de a pessoa poder tornar-se filho do Pai Celestial (Gl 3.26; 4,4-7). No mundo de Paulo, 
a adoção se fazia comumente de jovens adultos, homens, de bom caráter, que se tornavam herdeiros e 
mantinham o nome da família de pessoas ricas que, de outro modo, não teriam filhos. Paulo, contundo, 
proclama a adoção graciosa de Deus, que adota indivíduos de mau caráter, para se tornarem “herdeiros de 
Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8.17). 
A justificação é a benção básica sobre a qual se fundamenta a adoção; a adoção é a bênção culminante para a 
qual a justificação abre caminho. O status de adotado pertence a todos os que recebem Cristo (Jo 1.12). Em 
Cristo e através de Cristo, Deus ama seus filhos adotivos, como ama a seu Filho unigênito, e partilhará com 
eles a glória que Cristo usufrui agora (Rm 8.17, 38-39). Os crentes estão sob o cuidado e disciplina paternais 
de Deus (Mt 6.26; Hb 12.5-11). Eles devem orar a Deus que é seu próprio Pai do céu (Mt 6.5-34), expressando 
desse modo o instinto filial que o Espírito Santo implantou neles (Rm 8.15-17; Gl 4.6). 
Adoção e regeneração constituem duas realidades que permanecem juntas, como dois aspectos da salvação 
assegurada por Cristo (Jo 1.12-13), porém são realidades que devem ser distinguidas entre si. A adoção 
resulta num novo relacionamento, enquanto que a regeneração é uma mudança de nossa natureza moral. 
Contudo, a conexão entre elas é clara. Deus quer que seus filhos, a quem ele ama, tenham o seu caráter e, 
para isso, ele toma providências. 
Fonte: Bíblia de Estudos de Genebra, Notas Teológicas, página 1394 
 
 
 
 
 35 
PREDESTINAÇÃO (Eleição e Reprovação) 
A Predestinação 
Provérbios 16.4 
O SENHOR fez todas as coisas para determinados fins e até o perverso, para o dia da calamidade. 
João 13.18 
Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a 
Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar. 
Romanos 8.30 
E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que 
justificou, a esses também glorificou. 
Efésios 1.4-5 
assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; 
e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito 
de sua vontade, 
2 Tessalonicenses 2.13-14 
Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãosamados pelo Senhor, porque Deus vos 
escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também 
vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. 
Poucas doutrinas suscitam tanta polêmica ou provocam tanta consternação como a doutrina da 
predestinação. Trata-se de uma doutrina difícil, que precisa ser discutida com grande cuidado e precaução. 
Apesar disso, trata-se de uma doutrina bíblica, com a qual temos de lidar. Não devemos ousar ignorá-la. 
Praticamente, todas as igrejas cristãs têm algum tipo de doutrina sobre a predestinação. Isso é inevitável, 
visto que o conceito claramente se encontra nas Escrituras. Muitas igrejas, entretanto, discordam—muitas 
vezes veementemente — quanto ao seu significado. O ponto de vista metodista é diferente do ponto de vista 
luterano, o qual discorda do ponto de vista presbiteriano. Embora seus pontos de vista difiram, cada um 
deles está tentando chegar a uma sólida compreensão desta difícil questão de maneira apropriada. 
Em sua forma mais elementar, a predestinação significa que nosso destino final, seja o céu ou o inferno, é 
decidido por Deus não somente antes de irmos para lá, mas até mesmo antes que tivéssemos nascido. A 
predestinação ensina que nosso destino final está nas mãos de Deus. Outra maneira de expressar isso é: 
Desde toda a eternidade, antes mesmo que nós existíssemos, Deus decidiu salvar alguns membros da raça 
humana e permitir que o resto da raça humana perecesse. Deus fez uma escolha— escolheu alguns indivíduos 
para serem salvos na eterna bênção do céu e escolheu passar por sobre outros, permitindo que sofressem as 
conseqüências dos seus pecados no tormento eterno do inferno. 
A aceitação desta definição é comum a muitas igrejas. Para chegar ao âmago da questão, alguém deve 
perguntar: como Deus fez tal escolha? O ponto de vista não-reformado, defendido pela grande maioria dos 
cristãos, é que Deus faz essa escolha com base em sua presciência. Deus escolhe para a vida eterna aqueles 
que sabe que o escolherão. Esse conceito é chamado de visão presciente da predestinação, porque baseia-se 
na presciência de Deus quanto às decisões ou ações humanas. 
A visão reformada difere no fato de que ela vê a decisão final para a salvação nas mãos de Deus, e não nas 
mãos do homem. Segundo este ponto de vista, a eleição de Deus é soberana. Não se baseia em decisões ou 
respostas previstas por parte dos seres humanos. Aliás, vê tais decisões fluindo da graça soberana de Deus. 
O ponto de vista da Reforma afirma que nenhuma pessoa caída jamais escolheria a Deus por iniciativa 
própria. Pessoas caídas ainda têm livre-arbítrio e podem escolher o que desejam. O problema é que não 
nutrem nenhum desejo por Deus e não escolherão a Cristo a menos que sejam antes regeneradas. A fé é um 
dom que procede do novo nascimento. Somente aqueles que foram eleitos responderão com fé ao Evangelho. 
 36 
Os eleitos escolhem a Cristo somente porque antes foram escolhidos por Deus. Como no caso de Esaú e Jacó, 
o eleito foi escolhido exclusivamente com base no beneplácito soberano de Deus e não com base em algo que 
tivessem feito ou desejado fazer. Paulo declara: 
“E não ela somente, mas também Rebeca, ao conceber de um só, Isaque, nosso pai. E ainda não eram os 
gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, 
prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela. O mais velho será servo do mais 
moço... Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.” 
Romanos 9.10-12, 16 
O problema mais incômodo envolvendo a predestinação é que Deus não escolhe ou elege salvar todas as 
pessoas. Ele reserva para si o direito de ter misericórdia de quem quer ter misericórdia. Alguns membros da 
humanidade caída recebem a graça e a misericórdia da eleição. Deus ignora o restante, deixando-os em seus 
pecados. Os não-eleitos recebem justiça. Os eleitos recebem misericórdia. 
Ninguém é tratado com injustiça. Deus não é obrigado a ser misericordioso igualmente com todos. É decisão 
dele o quanto será misericordioso. Mesmo assim, nunca pode ser acusado de ser injusto com qualquer pessoa 
(ver Rm 9.14,15). 
Sumário 
1. A predestinação é uma doutrina difícil e deve ser tratada com cuidado. 
2. A Bíblia ensina a doutrina da predestinação. 
3. Muitos cristãos definem a predestinação em termos de presciência de Deus. 
4. A visão da Reforma não considera a presciência como uma explicação para a predestinação bíblica. 
5. A predestinação baseia-se na escolha de Deus e não na escolha dos seres humanos. 
6. Pessoas não-regeneradas não nutrem nenhum desejo de escolher a Cristo. 
7. Deus não elege todas as pessoas. Reserva para si o direito de ter misericórdia de quem quer. 
8. Deus não trata nenhuma pessoa injustamente. 
 
Autor: R.C. Sproul 
Fonte: Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este Livro em 
http://www.cep.org.br 
Predestinação e Reprovação 
Ex 7.1-5; Pv 16.4; Rm 9; Ef 1.3-6; Judas 1.4 
"Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo 
a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior 
servirá o menor.Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos pois? que há injustiça da 
parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e 
terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que 
corre, mas de Deus, que se compadece.Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para 
em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-
se de quem quer, e endurece a quem quer. Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem 
tem resistido à sua vontade?Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada 
dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma 
massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e 
dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; 
 37 
Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já 
dantes preparou, Os quais somos nós, a quem também chamou" (Rm 9.11-24) 
Toda moeda tem dois lados. Existe também um outro lado da doutrina da eleição. A eleição refere-se a 
apenas a um aspecto da questão mais ampla da predestinação. Outro lado da moeda é a questão da 
reprovação. Deus declarou que amava Jacó mas odiava a Esaú. Como podemos entender essa referência ao 
ódio divino? 
A predestinação é dupla. A única maneira de evitar a doutrina da predestinação dupla é afirma que Deus 
predestinou todos para a eleição ou que não predestina ninguém seja para a eleição seja para a reprovação. 
Visto que a Bíblia ensina claramente a predestinação para a eleição e nega a salvação universal, temos de 
concluir que a predestinação é dupla: inclui tanto a eleição como a reprovação. A dupla predestinação é 
inevitável se tomarmos a Bíblia a sério. O ponto crucial, entretanto, é como entender a predestinação dupla. 
Alguns cristão têm encerado a predestinação dupla como uma questão de causação igual, onde Deus é 
igualmente responsável por fazer com que o réprobo não creia, assim como é responsável por fazer com que 
o eleito creia. Chamamos isso de visão positivo-positivo da predestinação. 
A visão positivo-positivo da predestinação ensina que Deus intervém positiva e ativamente na vida dos 
eleitos para operar a graça em seus corações e levá-los à fé. Semelhantemente, no caso dos réprobos, ele 
opera o mal nos seus corações e impede ativamente que cheguem à fé. Esse pontode vista tem sido 
freqüentemente chamado de "hipercalvinismo", porque vai além do ponto de vista de Calvino, Lutero e 
outros reformadores. 
A visão reformada da predestinação dupla segue e um esquema positivo-negativo. No caso dos eleitos, Deus 
intervém de forma positiva e ativa operando a graça em seus corações e levando-os à fé salvadora. Deus 
regenera de maneira unilateral os eleitos e assegura sua salvação. No caso dos réprobos, ele não opera o mal 
em seus corações ou impedem que cheguem à fé. Pelo contrário, ele os ignora, deixando-os à mercê de seus 
próprios esquemas pecaminosos. Segundo este ponto de vista, não há simetria na ação divina. A atividade de 
Deus é assimétrica entre os eleitos e os réprobos. Existe, contudo, um tipo de igual supremacia. O réprobo, a 
quem Deus ignora, está definitivamente condenado, e sua condenação é tão certa e inevitável quanto a 
salvação final do eleito. 
O problema está ligado a declarações bíblicas tais como aquela concernente ao endurecimento que Deus 
causa no coração do Faraó. É inquestionável que a Bíblia ensina que Deus endureceu Faraó. A questão que 
permanece é: como Deus endureceu o coração de Faraó: Lutero defendia um endurecimento passivo, ao 
invés de ativo; quer dizer. Deus não criou um novo nível de maldade no coração do rei. Já havia mal 
suficiente no coração dele para incliná-lo a resistir a cada estágio da vontade de Deus. Tudo o que Deus tem a 
fazer para endurecer uma pessoa é retirar sua graça dela e deixá-la completamente entregue aos seus 
próprios impulsos malignos. è precisamente isto que Deus faz com os condenados ao inferno. Abandona-os à 
sa impiedade. 
Em que sentido Deus "odeia" a Esaú? Duas explicações diferentes são oferecidas para resolver este problema. 
A primeira define o ódio não como uma paixão negativa voltada contra Esaú, mas simplesmente como a 
ausência de amor redentor. O fato de Deus ter "amado" Jacó significa simplesmente que o fez recipiente de 
sua graça imerecida. Deus deu a Jacó um benefício que este não merecia. Esaú não recebeu o mesmo 
benefício, e nesse sentido Deus o odiou. 
A primeira explicação soa um pouco como uma defesa especial para não permitir que Deus seja surpreendido 
odiando alguém. A segunda explicação dá mais força à palavra ódio. Diz simplesmente que Deus de fato 
odiou a Esaú. Esaú era odioso aos olhos de Deus. Não havia nada nele para Deus amar. Esaú era um vaso 
próprio para destruição e totalmente digno da ira e do ódio santo de Deus. vamos deixar que o leitor decida. 
Sumário 
1. A predestinação é dupla; tem dois lados. 
2. Alguns cristãos ensinam que Deus é igualmente responsável pela eleição e pela reprovação. Esta é uma 
característica do hipercalvinismo. 
 38 
3. A visão reformada da predestinação dupla reflete um esquema positivo-negativo. 
4. Deus endureceu o coração de Faraó passiva e não ativamente. 
5. Deus odiou a Esaú no sentido de não lhe dar a bênção da graça ou no sentido de excrá-lo como vaso 
próprio para a destruição. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro 
em http://www.cep.org.br 
A Doutrina da Reprovação 
Quando entendemos a eleição como ação soberana da parte de Deus de escolher algumas pessoas para serem 
salvas, há então necessariamente outro aspecto dessa escolha, a saber, a decisão soberana de Deus de não 
levar em conta outras e não salvá-las. Essa decisão de Deus na eternidade passada é chamada reprovação. 
Reprovação é a decisão soberana de Deus, antes da criação, de não levar em conta algumas pessoas, 
decidindo em tristeza não salvá-las e puni-las por seus pecados, manifestando por meio disso ua justiça. 
De muitas maneiras, a doutrina da reprovação é o mais difícil de todos os ensinos das Escrituras; difícil de 
entender e difícil de aceitar, porque trata de conseqüências horríveis e eternas para seres humanos feitos à 
imagem de Deus. O amor que Deus nos dá pelos outros seres humanos e também o amor que Ele ordena que 
tenhamos pelo próximo nos fazem recuar diante dessa doutrina, e é compreensível que sintamos tão grande 
terror ao contemplá-la. [23] É algo em que não iríamos querer acreditar, e não acreditaríamos, se as 
Escrituras não o ensinassem claramente. 
Mas há passagens nas Escrituras que falam de tal decisão da parte de Deus? Certamente há algumas. Judas 
fala de alguns indivíduos, “os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta 
condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso 
único Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (Jd 4). 
Além disso, Paulo, na passagem referida acima, fala da mesma maneira do faraó e de outros: “Porque a 
Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome 
seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe 
apraz.[...] Que diremos, pois , se Deus, querendo mostrar sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com 
muita longanimidade os vasos da ira, preparados para a perdição?” (Rm 9.17-22). 
Com referência aos resultados do fato de que Deus deixou de escolher alguns para a salvação, Paulo diz: “A 
eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos” (Rm 11.7). Também Pedro diz a respeito daqueles que 
rejeitaram o evangelho: “… tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos” 
(1Pe 2.8). [24] 
Apesar do fato de recuarmos diante dessa doutrina, devemos ter uma atitude cuidadosa diante de Deus e 
dessas passagens das Escrituras. Nunca devemos começar a desejar que a Bíblia estivesse escrita de outra 
maneira, ou que ela não contivesse determinados versículos. Além disso, se estivermos convencidos de que 
esses versículos ensinam a reprovação, então somos obrigados tanto a acreditar nela quanto a aceitá-la como 
algo legítimo e justo da parte de Deus, mesmo que ela nos faça tremer de pavor quando pensamos sobre ela. 
Nesse contexto podemos nos surpreender ao ver que Jesus pode agradecer a Deus tanto por ocultar de alguns 
o conhecimento sobre a salvação quanto por revelá-lo a outros: “Exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, 
Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. 
Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Mt 11.25-26). 
Além disso, devemos reconhecer que de qualquer maneira, na sabedoria de Deus, a reprovação e a 
condenação eterna de alguns manifestarão a justiça de Deus e também resultarão em Sua glória. Paulo diz: 
“Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder , suportou com muita 
longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição [...]?” (Rm 9.22). Paulo também nota que tão 
grande punição sobre “os vasos de ira” serve para mostrar a grandeza da misericórdia de Deus para conosco: 
Deus fez isso “a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia” (Rm 
9.23). 
 39 
Devemos lembrar, também, que há importantes diferenças entre a eleição e a reprovação apresentadas na 
Bíblia . A eleição para a salvação é vista como uma causa para regozijo e louvor a Deus, que é digno de louvor 
e recebe todo o crédito pela nossa salvação (veja Ef 1.3-6; 1Pe 1.1-3). Deus é visto como quem nos escolhe 
ativamente para salvação, o que Ele faz com amor e prazer. Mas a reprovação é vista como algo que traz 
tristeza a Deus, não deleite (veja Ez 33.11), e a responsabilidade pela condenação dos pecadores é sempre 
lançada sobre as pessoas ou anjos que se rebelam, nunca sobre o próprio Deus (veja Jo 3.18-19; 5.40). Assim, 
pelo que as Escrituras apresentam, a causa da eleição está em Deus, e a causa da reprovação jaz no pecador. 
Outra diferença importante é que o fundamento da eleição é a graça de Deus, ao passo que o fundamento da 
reprovação é a justiça de Deus. Portanto “predestinação dupla” não é uma frase exata nem útil, porque 
negligencia essas diferenças entrea eleição e a reprovação . 
A tristeza de Deus com a morte dos perversos (“não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o 
perverso se converta do seu caminho e viva”, Ez 33.11) ajuda-nos a entender como era adequado que o 
próprio Paulo sentisse grande tristeza quando pensava sobre os judeus incrédulos que tinham rejeitado 
Cristo. Ele diz: “Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha 
própria consciência; tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser 
anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos , meus compatriotas, segundo a carne. São israelitas” 
[...] (Rm 9.1-4). 
Nós igualmente devemos sentir essa grande tristeza, ainda mais quando pensamos a respeito do destino dos 
incrédulos. 
Mas pode-se argumentar nesse ponto: se Deus genuinamente sente tristeza na punição dos perversos, então 
por que a permite ou até mesmo decreta que isso suceda? A resposta deve ser: Deus sabe que isso no final das 
contas resultará em maior glória para si mesmo. Assim mostrará seu poder, ira, justiça e misericórdia de um 
modo que de nenhuma outra forma poderia ser demonstrado. Certamente em nossa própria experiência 
humana, é possível fazer algo que nos cause grande tristeza, mas que sabemos resultará, a longo prazo, num 
bem maior. E assim, depois dessa fraca analogia humana, podemos entender até certo grau que Deus pode 
decretar algo que lhe cause tristeza, mas afinal promoverá sua glória. 
NOTAS: 
[23] - O próprio João Calvino disse com respeito à reprovação: “Decreto, certamente, horrível, confesso”. 
Calvino, Institutas , 3.23.7; mas deve ser notado que sua palavra latina horribilis não significa “detestável” 
mas, antes, “pavoroso, que inspira terror”. 
[24] - Veja a discussão sobre esse versículo em Wayne Grudem, 1 Peter , p. 107-10. O versículo não diz 
simplesmente que Deus determinou que aqueles que desobedecessem tropeçariam, mas, antes, fala sobre 
Deus destinar determinadas pessoas para desobedecer e tropeçar: “para o que também foram postos”. (O 
verbo grego etethesan , “foram postos”, requer um sujeito plural. ) 
Autor: Wayne Grudem 
Grudem, Wayne. Teologia Sistemática Atual e Exaustiva . 1ª edição. Ed. Vida Nova, São Paulo, SP, 2003. 573-
576. 
Fonte:www.monergismo.com.br 
A doutrina da Predestinação 
Consideramos agora o seguinte: tendo-se em vista o fato de que a Aliança da Vida não é pregada igualmente 
por todos, vê-se nessa diversidade um admirável mistério do juízo de Deus. Não há dúvida nenhuma de que 
essa variedade atende ao seu beneplácito, agrada ao se querer. Pois bem, como é evidente que isto é feito pela 
vontade de Deus – que a salvação é oferecida a uns e os outros são deixados de lado – daí decorrem grandes e 
altas questões, as quais só se resolvem ensinando aos crentes o que eles podem compreender da eleição e da 
predestinação de Deus. [...] 
Denominamos predestinação o conselho eterno de Deus pelo qual ele determinou o que deveria fazer com 
cada ser humano. Porque ele não criou todos em igual condição, mas ordenou uns para vida eterna e os 
demais para a condenação eterna. Assim, conforme a finalidade para a qual o homem foi criado, dizemos que 
foi predestinado para a vida ou para a morte. [...] 
 40 
Conforme o que a Escritura mostra claramente, dizendo que o Senhor constituiu uma vez por todas, em seu 
conselho eterno e imutável, aqueles que ele quis tornar para a salvação, e aqueles que ele quis deixar em 
abandono. Quando aos que ele chama para a salvação, dizemos: que ele os recebe por sua misericórdia 
gratuita, sem levar em conta a dignidade deles; que, ao contrário, o acesso à vida é vedado a todos aqueles 
que ele quis deixar entregues à condenação; e que isso é realizado por seu juízo oculto e incompreensível, 
conquanto justo e imparcial. Ensinamos, ademais, que a vocação dos eleitos é como uma demonstração e um 
testemunho da sua eleição. Semelhantemente dizemos que a justificação deles é outro símbolo e sinal dela, 
até quando eles chegarem à glória, na qual se dará o seu cumprimento e a sua consumação. 
Pois bem, assim como o Senhor assinala aqueles que ele escolheu chamando-os e justificando-os, assim 
também, ao contrário, privando os réprobos do conhecimento da sua Palavra, ou da santidade realizada pelo 
seu Espírito, ele demonstra por tal sinal qual será o fim deles, e que julgamento está preparado para eles. 
Deixo de lado, nesta altura, muitas fantasias forjadas por números tolos, na tentativa de derrubar a 
predestinação. Vou restringir-me unicamente a considerar os argumentos deles que têm lugar entre pessoas 
dotadas de saber, ou que poderiam gerar escrúpulos entre os simples, ou, ainda, que têm alguma aparência 
de verdade, podendo fazer crer que Deus não é justo, se assim o considerarmos. 
O que ensinamos sobre a eleição gratuita dos crentes não é dito sem dificuldade. Porque em geral se 
considera que o Senhor distingue entre os homens segundo prevê os méritos de cada um deles. Assim sendo, 
ele adota e introduz no número dos seus filhos aqueles cuja natureza ele prevê que deve ser tal que eles não 
são indignos da sua graça. Ao contrário, dizem os tais mestres, Deus deixa na perdição aqueles que ele sabe 
que devem ser inclinados à maldade oi à impiedade. Essa opinião, comumente aceita nesses termos, não 
pertence somente à gente comum do povo; em todos os tempos, ela tem tido a seu favor grande escritores. O 
que eu declaro francamente, a fim de que não se pense que isso prejudicará muito a nossa causa, se acontecer 
contra nós. 
Porque a verdade de Deus é tão clara neste campo que não poderá ser obscurecida; e tão certa e firme que 
não poderá ser abalada por nenhuma autoridade dos homens. Certamente o apóstolo Paulo, ao nos ensinar 
que “fomos eleitos em Cristo antes da criação do mundo” [Ef 1.4], elimina toda e qualquer consideração por 
nossa dignidade ou merecimento. É como se disse: visto que na semente universal de Adão, o Pai celestial 
não encontrou nada que fosse digno da sua eleição, dirigiu o olhar para o seu Cristo, a fim de eleger, como 
membros do seu corpo, aqueles que ele quis admitir à vida. Fique pois definido e estabelecido este argumento 
entre os crentes: que Deus nos adotou em Cristo para sermos seus herdeiros, porque em nós mesmos não 
tínhamos capacidade para alcançar tão excelente posição. Isso o apóstolo registra igualmente bem noutro 
lugar, quando exorta os colossenses a darem graças a Deus por havê-los feito idôneos para participarem da 
herança dos santos [Cl 1.12]. Se a eleição de Deus precede a esta graça pela qual ele nos torna idôneos para 
obtermos a glória da vida futura, que encontrará ele em nós que o mova a eleger-nos? 
O que pretendo mostrar ficará ainda mais bem expresso por esta outra sentença: Deus nos escolheu, diz ele, 
“antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou 
para ele, para a adoção de filhos, por meios de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade” [Ef 1.4,5]. 
Paulo coloca o beneplácito de Deus em oposição a todos os méritos que se possa mencionar, porque, onde 
quer que reine o beneplácito de Deus, nenhuma obra entra em consideração. É certo que ele não trata disso 
nessa passagem, mas devemos entender essa comparação nos termos em que ele a explica noutro lugar, 
quando diz: Deus “nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme 
a sal própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” [2 Tm 1.9]. 
As palavras que na passagem de Efésios ele acrescenta (“para sermos santos e irrepreensíveis”) não nos 
livram totalmente de inquietação. Sim, pois, se dissermos que Deus nos escolhe porque previu que seríamos 
santos, estaremos invertendo a ordem seguida pelo apóstolo Paulo. 
Podemos então afirmar com segurança: visto que ele nos escolheu a fim de que fôssemos santos, logo não foi 
porque previu que haveríamos de ser santos. Porque as duascoisas são contraditórias entre si: que os crentes 
obtenham a sua santidade graças a sua eleição; e que por essa santidade eles tenham sido eleitos. As astúcias 
sofísticas a que os tais mestres recorrem não têm nenhum valor aqui. No presente caso, eles dizem que, 
embora Deus não recompense os méritos anteriores À graça da eleição, ele os recompensa pelos méritos 
futuros. Mas logo se vê que quando se diz que os crentes foram escolhidos para serem santos, significa que 
toda a santidade que eles haveriam de ter tem sua origem e seu início na escolha. E com que tipo de 
coerência se poderá dizer que o que é produto de eleição seja a causa desta? Além disso, o apóstolo confirma 
com ainda maior firmeza o que tinha dito, acrescentando que Deus nos escolheu conforme decreto da sua 
vontade, que ele determinou em si mesmo. Isso equivale a dizer que ele não considerou coisa alguma fora de 
 41 
si mesmo à qual desse atenção, quando procede a essa deliberação. Por isso Paulo acrescenta, logo a seguir, 
que tudo aquilo em que se resume a nossa eleição tem que ver com este objetivo: “para louvor da glória de 
sua graça”. Certamente a graça de Deus só merece ser exaltada em nossa eleição se for gratuita. Ora, não 
seria gratuita se Deus, ao escolher os seus, atribuísse algum valor às obras de cada pessoas eleita. Daí se vê 
que o que Cristo disse aos seus discípulos é verdade aplicável a todos os crentes. Disse ele: “Não fostes vós 
que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” [Jo 15.16]. Com isso ele não somente 
exclui todos os méritos anteriores, mas também quer dizer que eles não tinham nada em si mesmos que 
desse motivo para serem escolhidos, pois ele se antecedeu a eles com a sua misericórdia. Nesse sentido 
devemos também tomara estes dizeres do apóstolo Paulo: “Quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser 
restituído?” [Rm 11.35] Porque ele quer mostrar que a bondade de Deus de tal maneira se antecipa aos 
homens que ela não encontra nada neles, nem quanto ao passado nem quanto ao futuro, que lhes possibilites 
cooperar com ela. 
Acresce que, na Epístola aos Romanos, onde Paulo começa este argumento do ponto mais alto e depois lhe dá 
seqüência mais ampla, ele trata, sob o exemplo de Jacó e Esaú, da condição dos eleitos e dos reprovados, e o 
faz desta maneira [Rm 9.11-13]: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o 
mal) para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que 
chama), já fora dito a ela: o mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me 
aborreci de Esaú”. Que é que pretende aqueles que, obscurecendo essas palavras, atribuem algum lugar às 
obras em nossa eleição (quer anteriores quer futuras)? Isso é inverter completamente o que o apóstolo diz, 
pois, segundo este, a diferença existente entre os dois irmãos não depende em nenhum aspecto das suas 
obras, mas da pura e simples vocação de Deus. Sim, porquanto Deus determinou o que iria fazer antes de eles 
terem nascido. A sutileza utilizada pelos sofistas não escaparia ao conhecimento de Paulo, se tivesse algum 
fundamento. Mas, como ele sabia que Deus não poderia prever nada de bom no homem, senão o que 
deliberou dar-lhe pela graça da sua eleição, deixou de lado essa opinião perversa, que consiste em preferir as 
boas obras às sua causa e origem. Das palavras do apóstolo, deduzimos que a salvação dos que crêem funda-
se no beneplácito da eleição de Deus, e que esta graça não é adquirida por boas obras, mas lhes vem da sua 
bondade gratuita. Elas nos propiciam também como que um espelho ou um quadro que representa esta 
verdade. Esaú e Jacó são irmãos, gerados dos mesmos pais, de uma mesma gestação, estando juntos no 
ventre de sua mãe antes de nascerem. Todas as coisas são semelhantes num e no outro; todavia, o juízo de 
Deus distingue entre eles, pois escolhe um e rejeitou o outro. Só restava a questão da primogenitura, que 
fazia que um fosse preferido ao outro. Mas mesmo isso foi deixado para trás; foi dado ao que nasceu por 
último o que foi gerado ao que nasceu primeiro. 
Em muitos outros casos se vê que Deus, com deliberado propósito, desprezou a primogenitura a fim de 
extirpar da carne todo elemento de glória. Rejeitando Ismael, ligou o seu coração a Isaque; rebaixando 
Manasses, preferiu Efraim [Gn 17 e 48 (ver Gn21.12)]. Se alguém replicar que não devemos julgar questões 
relacionadas com a vida eterna recorrendo a coisas inferiores e levianas, e que é uma zombaria inferior que 
aquele que exaltado pela honra da primogenitura é adotado como participante da herança celestial (havendo 
alguns que não poupam nem mesmo o apóstolo Paulo, dizendo que abusou dos testemunhos da Escritura, 
aplicando-os a este assunto), respondo que o apóstolo não falou disso inconsideradamente, e não quis torcer 
o sentido dos testemunhos da Escrituras; mas ele enxergava o que esse tipo de gente incapaz de considerar. É 
que Deus quis, por meio de um sinal corporal, representar a eleição espiritual de Jacó, a qual, noutro aspecto, 
estava oculta em seu conselho secreto. Porque, se não aplicássemos à vida futura a primogenitura que foi 
dada a Jaci, a Bênção que ele recebeu seria totalmente ridícula, porque não teria outra coisa senão total 
miséria e calamidade. 
Vendo, pois, o apóstolo Paulo que Deus, por meio dessa bênção exterior testificou sua bênção eterna, que ele 
preparou em seu reino celestial para o seu servo, não teve dúvida nenhuma em tomar o argumento de que 
Jacó recebeu primogenitura para provar que ele foi escolhido por Deus. Portanto, Jacó foi eleito, Esaú tendo 
sido repudiando, e assim é feita distinção entre eles pela eleição de Deus – apesar de não haver diferença em 
seus méritos. 
Se alguém pedir a razão disso, Paulo lhe dará; é o que Deus disse a Moisés: “Terei misericórdia de quem eu 
tiver misericórdia e me compadecerei de quem em me compadecer” [Ex 33.19 (Rm 9.14-16)]. E que será que 
isso quer dizer? Claro está que o Senhor afirma explicitamente que não encontra em nós nenhuma razão pela 
qual deva fazer-nos bem, mas que se baseia totalmente em sua misericórdia, pelo que a salvação dos seus é 
sua obra, de mais ninguém. 
 42 
[Aqui temos apenas uns trechos das Institutas onde Calvino desenvolve maravilhosamente e com muitas 
outras páginas este assunto]. 
Autor: João Calvino 
Fonte: As Institutas da Religião Cristã, edição especial, ed. Cultura Cristã, Vol 3, pg 37, 41-46. Compre este 
maravilho livro em http://www.cep.org.br 
Eleição 
DEUS ESCOLHE OS SEUS 
“Pois Ele (Deus) diz Moisés: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei 
de quem me aprouver ter compaixão.” Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de 
usar Deus a sua misericórdia.” Romanos 9.15,16 
O verbo eleger significa “selecionar ou escolher”. A doutrina bíblica da eleição consiste em que, antes da 
Criação, Deus selecionou da raça humana, antevista como decaída, aqueles a quem Ele redimiria, traria à fé, 
justificaria e glorificaria em Jesus Cristo e por meio dele (Rm 8.28-39; Ef 1.3-14; 2 Ts 2.13,14; 2 Tm 1.9,10). 
Esta escolha divina é uma expressão da graça livre e soberana, porque ela é não constrangida e incondicional, 
não merecida por qualquer coisa naqueles que são seus objetos. Deus não deve aos pecadores nenhuma 
misericórdia de qualquer espécie, mas somente condenação; por isso, é surpreendente, e razão de sempiterno 
louvor, que Ele tenha decidido salvar alguns de nós; e louvor duplicado porque sua escolha incluiu o envio de 
seu próprio Filho para sofrer, como portador do pecado, pelos seus eleitos (Rm 8.32). 
A doutrina da eleição, como toda verdade acerca de Deus, envolve mistério e, algumas vezes, incita à 
controvérsia. Mas na Escritura é uma doutrina pastoral, incluída ali para ajudar os cristãos a verem quão 
grande é a graça que os salva, conduzindo-os à humildade, confiança, alegria, louvor, fidelidade e santidade 
como resposta. Éo segredo de família dos filhos de Deus. Não sabemos quem mais Ele escolheu entre 
aqueles que ainda não crêem, nem tampouco a razão por que nos escolheu em particular. O que de fato 
sabemos é que, primeiro, se não tivéssemos sido escolhidos para a vida, não seríamos crentes agora (pois 
somente o eleito é trazido à fé), e, em segundo lugar, como crentes eleitos podemos confiar que Deus 
completará em nós a boa obra que Ele começou (1 Co 1.8,9; Fp 1.6; 1 Ts 5.23,24; 2 Tm 1.12; 4.18). Assim, o 
conhecimento da eleição por parte de uma pessoa traz conforto e alegria. 
 
Pedro nos diz que devemos “confirmar a (nossa) vocação e eleição” (2 Pe 1.10) _ isto é, certifica-la. A eleição é 
conhecida por seus frutos. Paulo sabia da eleição dos tessalonicenses por sua fé, esperança e amor, a 
transformação interna e externa que o evangelho tinha operado em sua vida (virtude, conhecimento, domínio 
próprio, perseverança, piedade, fraternidade, amor: 2 Pe 1.5-7), mais seguros estaremos da própria eleição 
que nos foi concedida. 
Os eleitos são, de um ponto de vista, a dádiva de Deus ao Filho (Jô 6.39; 10.29; 17.2,24). Jesus testifica que 
veio a este mundo especificamente para salva-los (Jô 6.37-40; 10.14-16,26-29; 15.16; 17.6-26; Ef 5.25-27), e 
qualquer relato de sua missão deve enfatizar isto. 
Reprovação é o nome dado à eterna decisão de Deus a respeito dos pecadores que Ele não escolheu para a 
vida. Sua decisão é, em essência, não para muda-los, como os eleitos são destinados a ser mudados, mas 
deixa-los ao pecado, como em seus corações eles já desejam fazer, e finalmente para julga-los como merecem 
pelo que têm feito. Quando em casos particulares Deus os entrega a seus pecados (isto é, remove as restrições 
à prática de coisas desobedientes que desejam fazer), isto já é o começo do julgamento. Ele se chama 
endurecimento” (Rm 9.18; 11.25; cf. Sl 81.12; Rm 1.24,26,28), que leva inevitavelmente culpa maior. 
 
A reprovação é uma realidade bíblica (Rm 9.14-24; 1 Pe 2.8), mas não a que se relaciona diretamente com a 
conduta cristã. Até onde os cristãos saibam, os reprovados não têm face, não nos cabendo tentar identifica-
los. Devendo, antes, viver à luz da certeza de que qualquer um pode ser salvo, se ele ou ela arrepender-se e 
colocar sua fé em Cristo. 
 
Devemos ver todas as pessoas que encontramos como possivelmente incluídas entre os eleitos. 
Autor: J. I. Packer 
Fonte: Teologia Concisa, Ed. Cultura Crista. Compre este livro em http://www.cep.org.br 
 43 
Eleição e Reprovação 
Romanos 9:18: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz”. 
“Eleger” significa selecionar ou escolher. De acordo com a Bíblia, antes da criação, Deus selecionou – dentre 
os da raça humana – aqueles que seriam redimidos, justificados, santificados e glorificados em Jesus Cristo 
(Rm 8.28-29; Ef 1.3-14; 2Ts 2.13-14; 2Tm 1.9-10). A escolha divina é uma expressão da graça livre e soberana 
de Deus. Não é merecida por coisa alguma por parte daqueles que são escolhidos. Deus não deve aos 
pecadores nenhuma espécie de misericórdia, pois eles só merecem condenação. Por isso, é maravilhoso que 
ele escolhesse salvar qualquer um entre nós. 
Como toda a verdade a respeito de Deus, a doutrina da eleição envolve mistério e, às vezes, levanta 
controvérsia. Porém, nas Escrituras, é uma doutrina pastoral, que ajuda os cristãos a verem quão grande é a 
graça que os salva e os move a responder com humildade, confiança e louvor. Não sabemos quais os outros 
que Deus escolheu entre os que ainda não são crentes, nem por que ele nos escolheu, especificamente. 
Sabemos apenas que, se somos crentes agora, é porque fomos escolhidos. Também sabemos que, como 
crentes, podemos confiar em que Deus acabará a boa obra que começou (1Co 1.8-9; Fp 1.6; 1Ts 5.23-24; 2Tm 
1.2; 4.18). Por essas razões, o conhecimento da eleição é uma fonte de gratidão e confiança. 
Pedro nos diz que devemos procurar “com diligência ... confirmar (nossa) vocação e eleição” (2Pe 1.10), isto 
é, devemos tomá-la certa para nós. A eleição é conhecida por seus frutos. Paulo sabia que os tessalonicenses 
tinham sido escolhidos, porque viu sua fé, sua esperança e seu amor, a transformação da vida deles, realizada 
pelo evangelho (1Ts 1.3-6). 
Reprovação é o nome dado à eterna decisão de Deus com relação àqueles pecadores que não foram 
escolhidos para a vida. Não os escolhendo para a vida, Deus determinou que eles não fossem transformados. 
Eles continuarão em pecado e, finalmente, serão julgados por aquilo que tiverem feito. Em alguns casos, 
Deus pode ir mais longe e remover as influências restritivas que protegem uma pessoa da desobediência 
extrema. Esse abandono, chamado de “endurecimento”, é, em si mesmo, uma penalidade do pecado (Rm 
9.18; 11.25 conforme Sl 81.12; Rm 1.24,26,28). 
A reprovação é ensinada na Bíblia (Rm 9.14-24; 1Pe 2.8), porém como uma doutrina, seu significado sobre o 
comportamento cristão é indireto. O decreto de Deus sobre a eleição é secreto; quais pessoas são eleitas e 
quais são reprovadas não será revelado antes do Juízo Final. Até aquele tempo, Deus ordena que o chamado 
ao arrependimento e a fé sejam pregados a todos. 
Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra, Nota Teológica, página 1333. Compre esta Bíblia em 
http://www.cep.org.br 
 
A JUSTIFICAÇÃO 
A Justificação pela Fé 
Rm 3.21-28; 5.12-19; 2 Co 5.16-21; Gl 2.11-21; Ef 2.1-10; Fp 3.7-11 
Martinho Lutero declarou que a justificação pela fé somente é o artigo sobre o qual a igreja permanece ou cai. 
Essa doutrina fundamental da Reforma Protestante tem sido vista como o campo de batalha de nada menos 
do que o próprio evangelho. 
A justificação pode ser definida como o ato pelo qual pecadores injustos são feitos justos aos olhos de um 
Deus santo e justo. A necessidade suprema das pessoas injusta é a justiça. Esta falta de justiça foi suprimida 
por Cristo em favor do pecador que crê. Justificação pela fé somente significa justificação pela justiça ou pelo 
mérito exclusivo de Cristo, e não pela nossa bondade ou pela nossas boas obras. 
A questão da justificação se focaliza na questão do mérito e da graça. Justificação pela fé significa que as 
obras que fazemos não são suficientemente boas para merecer em justificação. Conforme Paulo declara: 
"ninguém será justificado diante dele por obras da lei" (Rm 3.20). A justificação e forense. Isto é, somos 
 44 
declarados, contados ou considerados como justo quando deus computa a justiça de Cristo em nossa conta. A 
condição necessária para isso é a fé. 
A teologia protestante afirma que a fé é a causa instrumental da justificação no sentido em que a fé é o meio 
pelo qual os mérito de Cristo são apropriados por nós. A teologia católica romana ensina que o batismo é a 
causa instrumental primária da justificação, e que o sacramento da penitência é a causa secundária e 
restauradora. (A teologia católica vê a penitência como o segundo suporte da justificação para aqueles que 
sofreram naufrágio de suas almas - aqueles que penderam a graça da justificação por terem cometido um 
pecado mortal.) O sacramento de penitencial requer obras de satisfação, por meio da quais o ser humano 
conquista um mérito congruente para a justificação. A visão católica afirma que a justificação é pela fé, mas 
nega que seja somente pela fé, adicionando as boas obras como uma condição necessária. 
A fé que justifica é uma fé viva, não uma profissão de fé vazia. A fé é uma confiança pessoal que busca a 
salvação somente em Cristo. A fé salvadora é também uma fé penitente, que abraça Cristo como Salvador e 
Senhor. 
A Bíblia diz que não somos justificados por nossa próprias boas obras, mas pelo que nos é acrescentado pela 
fé, ou seja, a justiça de Cristo. Em síntese, algo novo é acrescentado a algo básico. Nossa justificação é 
operada por imputação. Deus transfere a nós, pela fé, a justiça de Cristo. Isso não é uma "ficção jurídica", 
porque Deus nos atribui o mérito real de Cristo, a quem agora pertencemos. É umaimputação real. 
Sumário 
1. A justificação é um ato de Deus, por meio do qual declara pecadores injustos como justos depois de 
imputar-lhes a justiça de Cristo. 
2. Ninguém pode alcançar a justificação por meio de boas obras. 
3. Fé é uma condição necessária para recebermos a imputação dos méritos de Cristo. 
4. Justificação exige uma fé viva e real, e não uma mera profissão de fé. 
Autor: R.C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro 
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Justificação e Mérito 
 
Gálatas 3:11: “E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé”. 
A doutrina da justificação – o núcleo tormentoso da Reforma – era, para Paulo, o âmago do evangelho (Rm 
1:17; 3:21-5:21; Gl 2:15-5:1), dando forma à sua mensagem (At 13.38-39) e à sua devoção (2Co 5.13-21; Fp 
3.4-14). Ainda que outros escritores do Novo Testamento afirmem a mesma doutrina em substância, os 
termos com que os Protestante a têm afirmado e defendido, por quase cinco séculos, são tirados 
essencialmente de Paulo. 
Justificação é o ato de Deus pelo qual ele perdoa pecadores e os aceita como justos por causa de Cristo. Por 
esse ato, Deus endireita permanentemente o anterior relacionamento alienado que os pecadores tinham com 
ele. Essa sentença justificadora é a concessão por Deus de um status de aceitação de pecadores por causa de 
Jesus Cristo (2Co 5.21). 
O juízo justificador de Deus parece estranho, pois declarar justificados os pecadores parece ser exatamente o 
tipo de ação injusta praticada por um juiz, que a própria lei de Deus o proíbe (Dt 25.1; Pv 17.15). Contudo, é 
um julgamento justo, porque sua base é a justiça de Jesus Cristo. Como o ‘último Adão' (1Co 15.45), agindo 
em nosso favor, como nosso Cabeça representativo, Cristo cumpriu a lei que nos prendia e suportou o castigo 
que merecíamos pela desobediência à lei e, assim, ‘mereceu' a nossa justificação. Por isso, nossa justificação 
tem base justa (Rm 3.25-26; 1Jo 1.9), com a justiça de Cristo creditada em nosso favor (Rm 5.18-19). 
A decisão justificadora de Deus é, na prática, o julgamento do Último Dia, com relação ao lugar onde 
devemos estar na eternidade; essa decisão já é trazida para o presente e é pronunciada aqui e agora. É um 
juízo sobre o nosso destino eterno; Deus nunca voltará atrás, por mais que Satanás possa apelar contra o 
veredito (Zc 3.1; Rm 8.33-34; Ap 12.10). Estar justificado é estar eternamente seguro (Rm 5.1-5; 8.30). 
 45 
O meio necessário para a justificação é a fé pessoal em Jesus Cristo como Salvador crucificado e como Senhor 
ressurreto (Rm 4.23-25; 10.8-13). A fé é necessária porque o fundamento meritório de nossa justificação está 
totalmente em Cristo. Ao nos entregarmos a Jesus, em fé, ele nos concede seu dom da justiça, de modo que 
no próprio ato de ‘fechar com Cristo' – como os mais antigos mestres Reformados diziam -, recebemos o 
perdão e a aceitação divinos, que não podemos encontrar em nenhum outro lugar (Gl 2.15-16; 3.24). 
A teologia católica romana histórica inclui a santificação na definição da justificação, considerada como um 
processo, ao invés de um único evento decisivo, e afirma que, embora a fé contribua para a nossa aceitação 
diante de Deus, nossas obras de satisfação e mérito devem contribuir também. Os católicos vêem o batismo 
como portador da graça santificadora, que nos justifica primeiramente. Depois, o sacramento da penitência 
permite que mérito suplementar seja alcançado através das obras, assegurando a justificação se a graça da 
aceitação inicial por Deus se perder por causa de um pecado mortal. Esse mérito suplementar não obriga 
Deus a ser gracioso, embora seja o contexto normal para recebê-lo. Segundo o conceito católico romano, os 
fiéis efetuam sua própria salvação com a ajuda da graça que procede de Cristo através do sistema 
sacramental da Igreja. Os Reformados ressaltaram que esse conceito da salvação solapa o sentido de 
confiança que só a livre graça pode oferecer àqueles que não têm méritos. Paulo já tinha mostrado que todos 
os seres humanos, seja qual for o grau de sua piedade, estão sem méritos e necessitam da livre justificação 
para serem salvos. Uma justificação que precisa ser completada pelo beneficiado não oferece repouso sólido. 
 Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra 
Diferença entre Justificação e Santificação 
 
Compreender a diferença entre Justificação e Santificação pode ser tão importante quanto entender a 
diferença entre salvação e condenação. Saber separar as duas coisas é de importância fundamental para o 
cristão. Quando você entende o que elas são, você pode finalmente dizer: "Isto é o que salva. Isto não é o que 
salva". 
A Justificação é a obra de Deus na qual a retidão de Jesus é imputada ao pecador e assim, o pecador é 
declarado por Deus como sendo íntegro diante da Lei (Rm 4:3; 5:1,9; o Gl 2:16; 3:11). Esta retidão não é 
obtida nem retida por qualquer esforço dos salvos. A Justificação é uma ocorrência instantânea que tem 
como resultado a vida eterna. É completamente e somente baseada no sacrifício de Jesus na cruz (1 Pe 2:24) 
e é recebida por fé somente (Ef 2:8-9). Nenhuma obra é necessária para se obter a Justificação. Caso 
contrário, ela não seria um presente (Rm 6:23). Então, nós somos justificados pela fé (Romanos 5:1). 
Por outro lado, a Santificação envolve o trabalho da pessoa salva. Mas, ainda assim, é Deus quem trabalha no 
cristão para produzir mais do Seu caráter e vida na pessoa que já está justificada (Fp 2:13). A Santificação 
não é instantânea, porque não é só trabalho de Deus. A pessoa justificada é ativamente envolvida no 
processo, submetendo-se a Deus, resistindo ao pecado, buscando santidade e trabalhando para ser mais 
santo (o Gl 5:22-23). Significativamente, a Santificação não tem nenhuma implicação na justificação. Ou seja, 
até mesmo se nós não vivemos uma vida perfeita, nós ainda estamos justificados. 
Onde a Justificação é uma declaração legal que é instantânea, a Santificação é um processo. Enquanto a 
Justificação vem de fora de nós, de Deus, a Santificação vem de Deus para dentro de nós, pelo trabalho do 
Espírito Santo, conforme a Bíblia. Em outras palavras, nós contribuímos para a Santificação com nossos 
esforços. Em contrapartida, nós não contribuímos para nossa Justificação por nossos esforços. 
 
Isto significa que os justificados pela graça 
podem pecar tanto quanto quiserem? 
 
Em Romanos 6:1-2 lemos: Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais 
abundante? 
De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? 
1Ts. 4:7 diz: porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação. 
As Escrituras ensinam que nós devemos viver vidas santas e evitar o pecado (Cl 1:5-11). Só porque nós somos 
salvos e eternamente justificados diante de Deus (Jo 10:28), isso não é nenhuma desculpa para continuar no 
pecado do qual nós fomos salvos. Claro que, todos nós pecamos (1 Jo 1:8). Mas a guerra entre os salvos e o 
pecado é contínua (Rm 7:14-20) e não será antes do retorno de Jesus que nós seremos libertados deste corpo 
de morte (Rm 7:24). Buscar o pecado continuamente e usar a graça de Deus para desculpar-se é o mesmo 
que pisotear o sangue de Cristo sob os pés (Hb 10:29) e revela a verdadeira natureza de pecado da pessoa, 
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uma natureza de uma pessoa não-salva. (1 Jo 2:4; 2:19). (Outro versos que confirmam isso são: Hb 12:14; 1 
Pe 1:14-16; e 1 Pe 2:21-22.) 
 
O que as seitas fazem com justificação e santificação? 
 
As seitas toldam os significados das duas condições constantemente e desviam as verdades ensinadas na 
Palavra de Deus. O resultado é uma teologia de retidão de obras, de salvação como recompensa, que na 
verdade só conduz à condenação. Isto porque pelas obras da Lei nenhuma carne será justificada (Gl 2:16). O 
homem não pode contribuir para sua salvação(Gl 5:1-8). Porque o homem é pecador emesmo suas melhores 
ações estão manchadas e imundas diante de Deus (Is 64:6). Então, para uma pessoa se corrigir diante de 
Deus, o trabalho só pode ser do próprio Deus (Gl 2:20). 
Tipicamente, nas teologias das seitas, uma pessoa não é justificada (declarada íntegra aos olhos de Deus) até 
o dia final de julgamento, quando os trabalhos dela serão pesados e será verificado se ela foi achada 
merecedora de um lugar com Deus. Assim, uma pessoa com esta teologia errante não pode reivindicar 1 Jo 
5:13 que diz, Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em 
o nome do Filho de Deus. 
Contextualmente, "Estas coisas" referem-se a amar a Deus e ser obediente a Ele, crer em Cristo, e na vida 
eterna em Jesus. Então, 1 Jo 5:13 pode ser considerado um teste. Se você está crendo e está fazendo as coisas 
certas, então você saberá se você tem a vida eterna. Um membro de uma seita pode saber que ele tem a vida 
eterna? Não. Ele não pode. Mas um Cristão pode. 
As pessoas que estão em seitas não entendem a diferença entre Justificação e Santificação. Por isso elas têm 
que depender de um esforço cooperativo com Deus para ter seus pecados perdoados, o que é, essencialmente, 
combinar os trabalhos imundos de homem (Is 64:6) com o trabalho santo de Deus. Mas as obras de Deus e 
do homem não se misturam. Conseqüentemente, a salvação é por Graça e por Fé, somente. Acreditar em 
qualquer outra coisa é perder a salvação. 
 
A EXPIAÇÃO 
A Expiação 
Rm 3.21-28; Rm 5.17-19; Ef 1.7; Fp 3.8,9; Tt 3.1-7 
O apóstolo Paulo declarou que estava determinado a não saber nada, exceto Cristo, e este crucificado. Esta foi 
sua maneira de enfatizar a extrema importância da Cruz para o cristianismo. A doutrina da expiação é central 
em toda a teologia cristã. Lutero chamou o cristianismo de teologia da cruz. A figura de uma cruz é o símbolo 
universal do cristianismo. O conceito de expiação o retrocede ao Antigo Testamento, onde Deus estabeleceu 
um sistema pelo qual o povo de Israel pudesse fazer expiação por seus pecados. Expiar é fazer emendas, é 
acertar as coisas; Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento deixam bem claro que todos os seres humanos 
são pecadores. Como nossos pecados são contra um Deus santo e infinito, que não pode nem mesmo olhar 
para o pecado, a expiação deve feita a fim de podermos ter comunhão com Deus. O pecado afeta até mesmo 
nosso melhores atos, e por isso somos incapazes de fazer sacrifício satisfatório. Mesmo nosso sacrifícios são 
corrompidos e exigiriam um outro sacrifício para conrir essa imperfeição, ad infinitum. Não temos nenhuma 
oferta suficientemente valiosa, nenhuma obra suficientemente justa para fazer expiação por nossos próprios 
pecados. Somos devedores que não têm como pagar sua dívida. 
Ao receber a ira de Deus na cruz, Cristo pôde fazer expiação por seu povo. Ele carregou, ou recebeu sobre si o 
castigo pelos pecados da humanidade. Jesus fez expiação por eles aceitando o justo castigo devido por seus 
pecados. A Aliança do Antigo Testamento pronunciou uma maldição sobre qualquer pessoas que quebrasse a 
Lei de Deus. Na cruz, Jesus não somente tomou essa maldição sobre si, mas tornou-se "ele próprio maldição 
em nosso lugar" (Gl 3.13). Foi abandonado pelo Pai e experimentou a plena medida do inferno na cruz. 
O cristianismo ortodoxo tem insistido em que a expiação envolve substituição e satisfação. Tomando a 
maldição de Deus sobre si, Jesus satisfez as exigências da santa justiça (1 Ts 1.10). 
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Uma frase-chave na Bíblia, concernente à expiação, é "em nosso favor". Jesus não morreu por si mesmo, mas 
por nós. Seu sofrimento foi vicário; ele foi o nosso substituto. Ele tomou nosso lugar assumindo o papel do 
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. 
Embora a ira de Deus seja real, devemos notar que a expiação que Cristo fez não era uma questão do Filho 
operando contra a vontade do Pai. Não era como se Cristo estivesse arrebatando seu povo das mãos do Pai. O 
Filho não persuadiu o Pai a salvar aqueles a quem o Pai não estava disposto a salvar. Pelo contrário, ambos, 
Pai e Filho, queriam a salvação dos eleitos e trabalharam juntos para sua concretização. Conforme o apóstolo 
Paulo escreveu, " Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus 
pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação." (2 Co 5.19) 
Sumário 
1. Expiação envolve pagamento para quitar um débito. 
2. Os seres humanos não podem fazer expiação por seus próprios pecados. 
3. A perfeição de Jesus o qualificou para fazer a expiação. 
4. Cristo cumpriu a maldição da Antiga Aliança. 
5. A expiação de Cristo foi uma obra de substituição e de satisfação. 
6. O Pai e o filho trabalharam juntos em harmonia para efetuar nossa reconciliação. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro 
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A Expiação 
Romanos 8:30: “A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a 
sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos”. 
A expiação é uma reconciliação de partes alienadas entre si, a restauração de um relacionamento rompido. A 
expiação é realizada por ressarcir os danos, apagando-se os delitos e oferecendo satisfação pelas injustiças 
cometidas. 
Segundo as Escrituras, toda pessoa peca e precisa fazer expiação de suas culpas, porém faltam o poder e os 
recursos para isso. Temos ofendido o nosso Criador, cuja natureza é odiar o pecado (Jr 44.4; Hc 1.13) e punir 
o mesmo (Sl 5.4-6; Rm 1.18; 2.5-9). Os que têm pecado não podem ser aceitos por Deus e não podem ter 
comunhão com ele, a menos que seja feita expiação. Uma vez que há pecado mesmo nas melhores ações das 
criaturas pecadoras, qualquer coisa que façamos na esperança de ressarcir os danos só pode aumentar a 
nossa culpa ou piorar a nossa situação, porque “o sacrifício dos perversos é abominável ao SENHOR” (Pv 
15.8). Não há modo de a pessoa poder estabelecer a própria justiça diante de Deus (Jó 15.14-16; Is 64.6; Rm 
10.2-3); isso simplesmente não pode ser feito. 
Porém, contra esse fundo de desesperança humana, as Escrituras revelam a graça e a misericórdia de Deus, 
que, pessoalmente, providencia a expiação que o pecado torna necessária. A maravilhosa graça de Deus é o 
enfoque da fé bíblica; do Gênesis ao Apocalipse, a graça brilha com glória maravilhosa. 
Quando Deus tirou Israel do Egito, ele estabeleceu, como parte do relacionamento da aliança, um sistema de 
sacrifícios, que tinha seu âmago no derramamento de sangue de animais “para fazer expiação por vossa 
alma” (Lv 17.11). Esses sacrifícios eram “típicos”, isto é, como “tipos”, prenunciavam alguma coisa melhor. 
Pecados eram perdoados quando os sacrifícios eram fielmente oferecidos, mas não era o sangue dos animais 
que apagava os pecados (Hb 10.4); era o sangue do “antítipo”, Jesus Cristo, cuja morte na cruz expiou os 
pecados já cometidos, bem como os pecados que seriam cometidos posteriormente (Rm 3.25-26; 4.3-8; Hb 
9.11-15). 
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De acordo com o Novo Testamento, o sangue de Cristo foi derramado como sacrifício (Rm 3.25; 5.9; Ef 1.7; 
Ap 1.15). Cristo redimiu os seu povo por meio de um resgate; sua morte foi o preço que nos livrou da culpa e 
da escravidão ao pecado (Rm 3.24; Gl 4.4-5; Cl 1.14). Na morte de Cristo, Deus nos reconciliou consigo 
mesmo, vencendo a sua própria hostilidade causada por nossos pecados (Rm 5.10; 2Co 5.18-19; C 1.20-22). A 
cruz aplacou Deus. Isso significa que ela aplacou a ira de Deus contra nós, expiando nossos pecados e, desse 
modo, removendo-os de diante de seus olhos (Rm 3.25; Hb 2.17j; 1Jo 2.2; 4.10). A cruz produziu esse 
resultado porque, em seu sofrimento, Cristo assumiu nossa identidade e suportou o juízo retributivo que 
pesava contra nós, isto é, “a maldição da lei” (Gl 3.13). Ele sofreu como nosso substituto, com o registro 
condenatório de nossastransgressões pregado por Deus na sua cruz, como a lista de crimes pelos quais ele 
morreu (Cl 2.14; conforme Mt 27.37; Is 53.4-6; Lc 22.37). 
Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra, Nota Teológica, página 1322. 
MAIS SOBRE A EXPIAÇÃO 
Podemos definir a expiação como segue: “Expiação é a obra, que Cristo realizou em sua vida e morte para 
obter nossa salvação” (Wayne Grudem). Geralmente a palavra “expiação” é usada em referência ao fato de 
Jesus morrer e pagar pelos nossos pecados. Grudem inclui em seu conceito os benefícios salvíficos que 
chegam até nós também pela vida de Cristo. 
I- A CAUSA DA EXPIAÇÃO 
A) O amor de Deus (Jo 3:16) 
B) A justiça de Deus (Rm 3:25-26). A justiça de Deus exigia que ele encontrasse um meio pelo qual a pena 
pelos nossos pecados fosse paga. Deus perdoava os pecados no A.T., mas nenhuma pena havia sido paga. 
Deus não seria justo se perdoasse os pecados sem nenhum castigo; por isso Cristo recebeu o castigo pelos 
nossos pecados. 
II- A NECESSIDADE DA EXPIAÇÃO 
Haveria alguma outra maneira de Deus salvar os seres humanos além de enviar seu Filho para morrer em 
nosso lugar? 
Uma vez que Deus em seu amor, decidiu salvar alguns seres humanos isso só poderia ser feito através da 
morte de Jesus. A expiação não era absolutamente necessária, mas como conseqüência da decisão divina de 
salva, a expiação era absolutamente necessária. 2Pe 2:4; Lc 24:27; Hb 2:17 ; 9:25 -26. 
III- A NATUREZA DA EXPIAÇÃO 
1- A OBEDIÊNCIA DE CRISTO POR NÓS. 
Ele foi perfeitamente obediente à vontade de Deus Pai como nosso representante e satisfez às exigências da 
lei em nosso lugar (Fp 3:9; 1 Co 1:10; Rm 5:19; Mt 3:15). 
2- OS SOFRIMENTOS DE CRISTO POR NÓS. 
Ele recebeu o castigo pelos nossos pecados e, em conseqüência, morreu pelos nossos pecados. 
a) Sofrimento por toda a sua vida. Não foi só na morte que cristo sofreu, mas em ter vivido com todas as 
implicações num mundo caído (Hb 5:8). 
b) A dor da cruz (a física, a de carregar o pecado, a do abandono, a de suportar a ira de Deus). 
IV- TERMOS DO NT QUE DESCREVEM DIFERENTES ASPECTOS DA EXPIAÇÃO 
1- SACRIFÍCIO (Hb 9:26) 
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Cristo é tanto a vítima como o sacerdote que oferece o sacrifício. 
2- PROPICIAÇÃO (1Jo 4:10). 
A palavra significa “sacrifício que sofre a ira de Deus até o fim e, dessa maneira, transforma a ira de Deus 
contra nós em favor”. Na santidade e na justiça de Deus há uma exigência eterna e imutável de que o pecado 
seja pago (Lv 4:35). 
3- SUSBTITUIÇÃO (IS 53:5,6,12; 1Pe 2:24). Jesus levou nossos pecados; os nossos pecados foram 
colocados sobre ele ou transferidos de nós para ele. 
4- RECONCILIAÇÃO (2Co 5:18-19). A morte de cristo põe fim à inimizade e alienação entre Deus e a 
humanidade. Nossa hostilidade contra Deus é removida. 
5- REDENÇÃO – Como pecadores estávamos escravizados ao pecado e a Satanás, precisávamos de alguém 
que nos proporcionasse redenção. Cristo veio e nos redimiu (1Jo 5:19; Cl 1:13; Hb 2:15). 
V- AS TEORIAS SOBRE A EXPIAÇÃO 
1- A TEORIA DO RESGATE 
Era a forma pela qual Agostinho compreendia a expiação. O primeiro formulador importante dessa teoria foi 
Orígenes, teólogo de Alexandria. Segundo esse ponto de vista, o resgate que Cristo pagou para nos redimir foi 
dado a Satanás, em cujo reino se encontravam todas as pessoas devido ao pecado. Orígenes baseia-se em Mt 
20:28; Mc 10:45. Mas a quem esse resgate foi pago? , perguntava Orígenes. Deus não poderia pagar resgate a 
si mesmo. Antes pagou a Satanás. 
Essa teoria não encontra confirmação bíblica. A morte de Cristo não foi pagamento de resgate e sim 
propiciação oferecida a Deus Pai pelos nossos pecados. 
2- A TEORIA DA INFLUÊNCIA MORAL 
Desenvolvida inIcialmente por Pedro Aberlado, essa teoria não recebeu muito apoio até ser popularizada por 
Horace Bushnell (1802-1876), nos Estados Unidos e por Hastings Rashdall na Grã-Bretanha. Essa teoria 
sustenta que Deus não exige o pagamento de um castigo pelo pecado, mas que a morte de Cristo era 
simplesmente um modo pelo qual Deus mostrou o quanto amava os seres humanos ao identificar-se, até a 
morte, como os sofrimentos deles. A morte de cristo, então, torna-se um grande exemplo didático que mostra 
o amor de Deus por nós, amor que nos extrai uma resposta agradecida, de modo que somos pecadores ao 
amá-lo. 
A grande dificuldade desse ponto de vista é que ele vai contra muitas passagens das Escrituras que falam em 
Cristo morrendo pelo pecado, carregando nosso pecado ou morrendo como propiciação. Se Cristo não 
morreu para pagar nossos pecados, não temos nenhum direito de confiar nele no que se refere ao perdão dos 
pecados. 
3- A TEORIA SOCINIANA (DO EXEMPLO) 
Ensinada pelos seguidores de Fausto Socino (1539-1604), tem seus melhores representantes nos unitaristas. 
Ela rejeita qualquer idéia de uma satisfação vicária e diz que a morte de Cristo simplesmente nos provê de 
exemplo de como devemos confiar em Deus e obedecer-lhe de modo perfeito, mesmo que essa confiança e 
obediência nos levem a uma morte horrível. Eles se apóiam em 1Pe 2:21. 
Embora seja verdade que Cristo é um exemplo para nós mesmo em sua morte, isto não encerra o resgate, 
sacrifício, sacerdócio, expiação e coisas semelhantes na sua morte. Cf. 1Pe 2:22. 
 
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4- A TEORIA GOVERNAMENTAL 
Ensinada pela primeira vez por Hugo Grotius (1583-1645). Essa teoria sustenta que Deus não tinha 
realmente de exigir castigo pelo pecado, mas, uma vez que ele era Deus onipotente, poderia deixar de lado 
essa exigência e simplesmente perdoar os pecados sem o pagamento de uma pena. Grotius viu a morte de 
Cristo apenas como um substituto da pena. O que deus fez por meio da morte de Cristo foi demonstrar aquilo 
que a justiça de Deus exigirá de nós caso continuemos pecando. Por causa da morte de Cristo, Deus tem 
condições de perdoar pecados sem romper a fibra moral do universo. 
Nesse caso, qual foi o propósito da morte de Cristo? 
a) não explica de modo adequado todas as passagens bíblicas que falam em cristo carregando nossos pecados 
sobre a cruz. b) Retira o caráter objetivo da expiação por tornar o seu propósito não a satisfação de Deus, mas 
apenas a influência sobre nós a fim de nos fazer perceber que Deus tem leis que devem ser guardadas. c) 
Implica em não podermos confiar de modo correto na obra completa de Cristo quanto ao perdão dos 
pecados, pois de fato não foram pagos por ele. Ela faz com que a conquista efetiva do perdão por nós seja algo 
que aconteceu na mente do próprio deus à parte da morte de Cristo sobre a cruz – ele já tinha decidido nos 
perdoar sem exigir de nós nenhum castigo e então puniu Cristo apenas para demonstrar que ainda era o 
governador moral do universo. 
5- A TEORIA DA SATISFAÇÃO 
Cristo morreu para satisfazer um princípio na própria natureza de Deus Pai. Anselmo coloca-a da seguinte 
maneira: O pecado é em essência deixar de render a Deus o que lhe é devido, tomar de Deus o que é dele por 
direito e desonrá-lo. Nós, pecadores, precisamos devolver a Deus o que tomamos dele. Mas não basta apenas 
devolver a Deus o que lhe tomamos, pois, ao tomar dele, nós o injuriamos; e mesmo depois de devolver-lhe o 
que foi tomado, ainda é preciso que haja alguma compensação complementar ou reparação pela injúria 
cometida. 
Cristo, sendo tanto deus como homem sem pecado, não merecia a morte. Portanto, a oferta de sua vida a 
Deus, em favor da raça humana da qual ele fazia parte, ultrapassou aquilo que se exigia dele. O pagamento 
foi satisfatório, pois a morte do Deus-homem, considerando que ele, sendo deus, tinha poder sobre sua 
própria vida (Jo 10:18) e não precisava morrer, possui valor infinito. 
Fonte: IPTC 
http://www.geocities.com/ipbtc/estudos.html?UserID=%40iptc%2Eorg%2Ebr 
 
Expiação Limitada / Definida 
Mt 1.21; Jo 3.16; Jo 10.27-30; Jo 17.9-12; At 20.28; Rm 8.30 
Ás vezes, as doutrinas distintivas da teologia reformada são resumidas em inglês pelo uso de acróstico 
T.U.L.I.P. [em Português seria D.E.E.G.P.]: 
Total depravity = Depravação total 
Unconditionalelection = Eleição incondicional 
Limited atonement = Expiação limitada 
Irresistible grace = Graça irresistível 
Perseverance of the saints = Perseverança dos santos 
Embora o acróstico seja útil para ajudar na memorização, também pode gerar confusão com respeito as 
doutrinas por causa da maneira como foi organizado para formar o acróstico "TULIP" [em inglês]. Isso é 
especialmente verdadeiro com referência ao terceiro ponto, ou seja, expiação limitada. Muitos, que se 
consideram calvinistas "de quatro pontos", estão dispostos a confirmar todos os pontos, menos a expiação 
limitada. Tiram o L do "TULIP". 
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Prefiro o termo expiação definida ao termo expiação limitada (embora tenha que converter tulip em tudip). A 
doutrina da expiação definida focaliza a questão no desígnio de Cristo. Isso tem a ver com o propósito de 
Deus em enviar Jesus à cruz. 
Qualquer um que não seja universalista[aqueles que crêem que todos os homens do universo podem ser 
salvos] está disposto a concordar que o efeito da obra de Cristo na cruz é limitado aos que crêem. Isso é, a 
expiação de Cristo não tem validade para os não crentes. Nem todas as pessoas são salvas através de sua 
morte. Todos também concordam que o mérito de morte de Cristo é suficiente para pagar pelos pecados de 
toda a humanidade. Alguns colocam desta maneira: a expiação de Cristo é suficiente para todos, mas é 
eficiente somente para alguns. 
Isso, entretanto, não é o âmago da questão da expiação definida. Os que negam a expiação definida insistem 
em que a obra expiatória de Cristo foi destinada por Deus para expiar os pecados de todo mundo. Tomou 
possível a salvação de todas as pessoas, mas não tomou certa a salvação de ninguém. Este desígnio, portanto, 
é ilimitado e indefinido. 
A visão reformada sustenta que a expiação de Cristo foi destinada e tencionada só para eleitos. Cristo deu sua 
vida por sua ovelhas - é só por suas ovelhas. Além disso, a expiação garantiu a salvação para todos os eleitos. 
A expiação foi uma obra real de redenção e não simplesmente potencial. Nesta visão, não há possibilidade de 
que o desígnio e intenção de Deus para a expiação sejam frustrados. O propósito de Deus na salvação é 
infalível. 
Os teólogos reformados diferem na questão da oferta da expiação para a raça humana. Alguns insistem em 
que a oferta do evangelho é universal. A Cruz e seus benefícios são oferecidos a todo aquele que crê. Outros 
insistem em que este conceito de uma oferta universal é equivocado e que envolve um tipo de jogo de 
palavras. Visto que só os eleitos de fato irão crer, na verdade a oferta é voltará só para eles. O beneficio da 
expiação de Cristo nunca é oferecido por Deus ao impenitente ou incrédulo. Já que fé e arrependimento são 
condições satisfeitas só pelos eleitos, em última análise a expiação é oferecida só a eles. 
O apóstolo João escreve "E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas 
também pelos de todo o mundo." (1 Jo 2.2). Este texto, mais que qualquer outro, é citado como a prova das 
Escrituras contra a expiação definida [ou também chamada expiação limitada]. à primeira vista, o teto parece 
argumentar que a morte de Cristo foi destinada a todas as pessoas (o mundo inteiro). Entretanto, se for 
tomado nesse sentido, o texto prova mais do que os cristãos não reformados querem que ele prove. Torna-se 
um texto prova para o universalismo. Se Cristo de fato propiciou ou satisfez as exigências de Deus para a 
punição dos pecados de todas as pessoas, logo fica claro que todas as pessoas seriam salvas. Se Deus punisse 
pecados que já foram propiciados, então ele seria injusto. Se o texto for interpretado como significado como 
significando que os pecados de todos foram condicionalmente expiados (dependentes de fé e 
arrependimento, então voltamos à questão original de que somente os eleitos satisfazem tais condições. 
A outra maneira de interpretar este texto é vendo o contraste entre nossos pecados e os do mundo inteiro. 
Quem são as pessoas incluídas na palavra nossos? Se João está falando somente das pessoas crentes, então a 
interpretação anterior do texto se aplacaria. Mas esse é o único significado possível de nosso? 
No Novo Testamento, com freqüência se faz um contraste entre a salvação experimentada pelos judeus e a 
experimentada pelos não-judeus. Um ponto crucial do evangelho é que ele não se limita aos judeus, mas se 
estende às pessoas de todo o mundo, às pessoas de todas as tribos e nações. Deus ama o mundo todo, mas 
não salva o mundo todos; ele salva pessoas de todas as partes do mundo. Neste texto, não pode estar 
simplesmente dizendo que Cristo não é a propiciação só pelos nossos pecados (dos crentes judeus), mas pelos 
eleitos que se encontram também em todas as partes do mundo. 
Em qualquer caso, o plano de Deus foi decido antes de qualquer pessoas estivesse no mundo. A expiação de 
cristo não foi um pensamento divino de última hora. O propósito de Deus na morte de Cristo foi determinado 
desde a fundação do mundo. O desígnio não foi estabelecido por acaso, mas de acordo com um plano e um 
propósito específicos, os quais Deus está cumprindo soberanamente. Todo aquele por quem Cristo morreu é 
redimido por seu ato sacrifical. 
 
 52 
Sumário 
1. Expiação definida substitui o termo expiação limitada. 
2. Expiação definida refere-se ao alcance do designo de Deus na redenção e no propósito da cruz. 
3. Todos os cristãos que não são universalistas concordam que a expiação de Cristo é suficiente para todos, 
mas eficaz somente para aqueles que crêem. 
4.A expiação de Cristo foi uma propiciação real pelo pecado, e não uma propiciação potencial ou condicional. 
5. A expiação, num sentido amplo, é oferecida a todos; num sentido mas restrito, é oferecida só aos eleitos. 
6. O ensino de João de que Cristo morreu pelos pecados do mundo inteiro significa que os eleitos não estão 
confinados a Israel, mas se encontram em todas as partes do mundo. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro 
em http://www.cep.org.br 
A SANTIFICAÇÃO 
A Santificação 
O Cristão cresce em graça 
"Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? E é o que alguns têm sido; mas haveis sido 
lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo 
Espírito do nosso Deus." 1 Co 6.9,11 
Santificação, diz o Breve Catecismo de Westminister (P. 35), é "a obra da livre graça de Deus, pela qual 
somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, e habilitados a morrer cada vez mais 
para o pecado e a viver para a retidão". O conceito não é de ser o pecado totalmente erradicado (o que seria 
exigir de demasiado) ou meramente contrabalançado (o que seria muito pouco), mas de uma mudança do 
caráter divinamente forjado, libertando-nos de hábitos pecaminosos e formando em nós afeições, 
disposições e virtudes cristãs. 
A santificação é uma transformação progressiva dentro de uma consagração que se mantém, e que produz 
uma justiça real emoldurada pela santidade relacional. A santificação relacional, o estado de estar 
permanentemente separado para Deus, emana da cruz, onde Deus por meio de Cristo nos comprou e 
reivindicou para si mesmo (At 20.28; 26.18; Hb 10.10). A renovação moral, pela qual estamos mudando de 
modo crescente em relação àquilo que fomos, decorre da agência do Espírito Santo em nosso coração (Rm 
8.13; 12.1,2; 1 Co 6.11,19,20; 2 Co 3.18; Ef 4.22-24; 1 Ts 2.13; Hb 13.20,21). Deus chama seus filhos para a 
santidade e dá-lhes graciosamente o que Ele ordena (1 Ts 4.4; 5.23). 
Regeneração é nascimento; santificação é crescimento. Na regeneração, Deus implanta desejos onde antes 
não havia: desejo de Deus, de santidade, e de santificação e glorificação do nome de Deus neste mundo; 
desejo de orar, adorar, amar, servir, honrar e agradar a Deus, desejo de demonstras amor e prestar benefícios 
aos outros. Na santificação,o Espírito Santo "efetua em vós tanto o querer como o realizar", de acordo com 
o propósito de Deus; o que Ele faz é inspirar a "desenvolver a vossa salvação" (isto é, expressá-la em ações) 
pela realização desses novos desejos (Fp 2.12,13). Os cristãos se tornam cada vez mais identificados com 
Cristo à medida que o perfil moral de Jesus (o "fruto do Espírito") se forma progressivamente neles (2 Co 
3.18; Gl 4.19; 5.22-25). O uso que Paulo faz da palavra glória em 2 Coríntios 3.18 mostra que para ele 
santificação do caráter é glorificação iniciada. Depois, a transformação física que nos dá um corpo como o de 
Cristo, o qual se identificará com nosso caráter totalmente transformado e será um meio perfeito de 
expressá-lo, será completada a glorificação (Fp 3.20,21; 1 Co 15.49-53). 
A regeneração foi um ato monergista momentâneo para despertar os espiritualmente mortos. Como tal, foi 
uma obra exclusiva de Deus. A santificação, contudo, é em certo sentido sinérgica - é um processo 
 53 
cooperativo em progressão, no qual as pessoas regeneradas, vivas para Deus e libertas do domínio do pecado 
(Rm 6.11,14-18), são solicitadas a manifestar sólida obediência. O método de Deus para a santificação não é 
nem ativismo (atividade autoconfiante) nem apatia (passividade confiante em Deus). mas sim esforço 
dependente de Deus (2 Co 7.1; Fp 3.10-14; Hb 12.14). Sabendo que se não nos tornar aptos, nada poderemos 
fazer, moralmente falando, como deveríamos, e que Ele está pronto a nos fortalecer em tudo o que temos por 
fazer (Fp 4.13), permanecemos em Cristo, suplicando constantemente sua ajuda, e a receberemos (Cl 1.11; 1 
tm 1.12; 2 Tm 1.7; 2.1). 
O padrão para o qual se dirige a obra divina de santificação os santos é sua própria lei moral revelada, como 
foi exposta e moldada pelo próprio Cristo. O amor, humildade e paciência de Cristo sob pressão devem ser 
conscientemente imitados ( Ef 5.2; Fp 2.5-11; 1 Pe 2.21), pois um espírito e atitude cristãos são parte do que a 
guarda da lei envolve. 
Os crentes encontram dentro de si mesmo desejos que se opõem. O Espírito mantém seus desejos e 
propósitos regenerados; seus instintos adâmicos degenerados (a "carne"), que, embora destronados, não 
estão ainda destruídos, constantemente os desviam de executar a vontade de Deus e os fascinam ao longo dos 
caminhos que levam à morte (Gl 5.16,17; Tg 1.14,15). Para esclarecer a relação entre a lei e o pecado, Paulo 
analisa de forma pessoal e dramática a sensação de impotência para a completa guarda da lei, e a 
escravização ao comportamento reprovável, que a tensão Espírito-carne produz (Rm 7.14-25). Este conflito e 
frustração estarão com os cristãos enquanto eles estiverem no corpo. Entretanto, vigiando e orando contra a 
tentação, e cultivando virtude opostas, eles podem com a ajuda do Espírito "mortificar" (isto é, exaurir a 
vida, enfraquecer como meio de matar) maus hábitos particulares, e neste sentido morre cada vez mais para 
o pecado (Rm 8.13; Cl 3.5). Eles experimentarão muitos livramentos e vitória particulares em sua infindável 
batalha contra o pecado, além de nunca serem expostos a tentações que são impossíveis de resistir (1 Co 
10.13). 
Autor: J. I. Packer 
Fonte: Teologia Concisa, pg. 159, Ed. Cultura Crista. Compre este livro em http://www.cep.org.br. 
A Santificação é obra sobrenatural de Deus, mas cooperamos. 
 
Alguns têm a equivocada noção de que a Santificação consiste meramente em induzir a nova vida implantada 
na alma pela regeneração, de maneira persuasiva, mediante a apresentação de motivos à vontade. Mas isto 
não está certo. Ela consiste, fundamental e primariamente, de uma operação divina na alma pela qual a Santa 
disposição nascida na Regeneração é fortalecida e os seus santos exercício são aumentados. 
 
É essencialmente uma obra de Deus, embora, na medida em que Deus emprega meios, podemos esperar que 
o homem coopere, pelo uso adequado desses meios. [Cooperamos em obediência à Palavra de Deus, na 
oração, na participação dos sacramentos.]* 
 
 A Escritura mostra claramente o caráter sobrenatural da Santificação de diversas maneiras. Descreve-a 
como Obra de Deus 1 Ts 5.23; Hb 13.20,21, como obra da união vital com Jesus Cristo, Jo 15.4; Gl 2.20; 4.19, 
como uma Obra que é realizada no homem por dentro e que, por essa mesma razão, não pode ser obra do 
homem Ef 3.16; Cl 1.11, e fala da sua manifestação nas virtudes Cristãs como sendo Obra do Espírito, Gl 5.22 
[Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, 
temperança.]. Jamais deverá ser descrita como um processo meramente natural de desenvolvimento 
Espiritual do homem, nem tampouco deverá ser rebaixada ao nível de uma simples, realização humana, 
como se faz em grande parte da Teologia "liberal" moderna. 
 
Autor: Louis Berkhof 
Fonte: Teologia Sistemática do autor, p. 536,537 Ed Cultura Cristã (CEP) compre este livro em 
http://www.cep.org.br. 
* Acrescemo do editor do site, base no que Berkhof diz mais andiante em sua Teologia. 
 
 
 54 
A PERSEVERANÇA 
A Perseverança dos Santos 
Jo 6.35-40; Rm 8.31-39; Fp 1.6; 2 Ts 2.14-19; Hb 9.11-15 
A maioria de nós conhece pessoas que fizeram uma profissão de fé em Cristo e que provavelmente tiveram 
uma forte manifestação de fé, envolvendo-se ativamente na vida e no ministério da Igreja, e que mais tarde 
repudiaram a fé e se tornaram "afastados" espirituais. Tais evidências sempre suscitam a pergunta: pode uma 
pessoa, uma vez salva, perder a salvação? A apostasia é um presente e claro perigo para o crente? 
A igreja Católica Romana ensina que as pessoas podem perder e perdem a sua salvação. Se cometem um 
pecado mortal, tal pecado mata a graça da justificação que habita sua alma. Se a pessoa morre antes de ser 
restaurada ao estado de graça por meio do sacramento e penitência, irá para o inferno. 
Muitos protestantes também crêem que é possível alguém perder a salvação. As advertências de Hebreus 6 e 
a preocupação de Paulo sobre tornar-se "desqualificado" (1 Co 9.27), bem como os exemplos do rei Saul e 
outros, tudo isso tem levado à conclusão de que as pessoas podem cair total e definitivamente da graça. A 
teologia reformada, por outro lado, ensina a doutrina da perseverança dos santos, a qual às vezes é chamada 
também a doutrina da "segurança eterna". Em essência, essa doutrina ensina que se você possui a fé 
salvadora, nunca irá perdê-la; se você a perde, é porque nunca teve. Conforme João escreve:"Saíram de nós, 
mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que 
não são todos de nós."(1 Jo 2.19). 
Sabemos que é possível as pessoas ficarem enamoradas de certos elementos do cristianismo sem jamais 
abraçar o próprio Jesus Cristo.Um jovem pode ser atraído a uma divertida e estimulante reunião de jovens 
na igreja, com uma atraente programação. Ele pode se "converter" à programação da igreja sem se converter 
a Jesus Cristo. Tal pessoa pode ser como aquelas ilustradas na parábola do semeador . 
"Um semeador saiu a semear a sua semente e, quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi 
pisada, e as aves do céu a comeram; E outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se, pois que não tinha 
umidade; E outra caiu entre espinhos e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram; E outra caiu em boa 
terra, e, nascida, produziu fruto, a cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos 
para ouvir, ouça." Lc 8.5-8 
A parábola pode referir-se àquelas pessoas que a principio crêem, mas depois fracassam, ou pode significar 
que os que "creram" tinham uma fé falsa ou espúria[não genuína], como a teologia reformada afirma. Só a 
semente que cai na terra boa pode produzir frutos de obediência. Jesus descreve tais pessoas como as que 
ouvem a palavra "de bom e reto coração" (Lc 8.15). Essa fé procede de uma coração verdadeiramente 
regenerado. 
A doutrina da preservação não se baseia em nossa capacidade para perseverança, mesmo sendo regenerados.Pelo contrário, descansa na promessa de Deus de nos preservar. Paulo escreve aos Filipenses: "Tendo por 
certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;" 
(Fp 1.6). É pela graça, e tão-somente pela graça, que o cristão persevera. Deus termina o que começa.Ele 
assegura que seus propósitos na eleição não serão frustrados. 
O texto áureo de Romanos 8 fornece um testemunho adicional desta esperança: "E aos que predestinou a 
estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também 
glorificou." (Rm 8.30).Paulo prossegue e declara que nada "nos poderá separar do amor de Deus, que está 
em Cristo Jesus nosso Senhor." (Rm 8.39). 
Temos segurança porque a salvação é do Senhor e somos feitura sua. Ela dá o Espírito Santo a todo crente 
como uma garantia de que completará o que começou. Semelhantemente, Deus selou todo crente com o 
Espírito Santo. Ele nos marcou de maneira indelével e nos deu um pagamento antecipado ou sinal que 
garante que concluirá a transação. 
Uma base final de confiança se encontra na obra sacerdotal de Cristo, que intercede por nós. Assim como 
Jesus orou pela restauração de Pedro (e não pela da Judas), ele também ora pela nossa restauração quando 
tropeçamos e caímos. Podemos permanecer caídos por algum tempo, mas nunca total ou definitivamente. 
 55 
Jesus orou no Cenáculo :"Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado 
aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se 
cumprisse." (Jo 17.12). Somente Judas Iscariotes, que era filho da perdição desde o princípio, cuja profissão 
de fé oi espúria, se perdeu. Aqueles que são verdadeiramente crentes não podem ser arrebatados das mãos de 
Deus. 
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e 
nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é 
maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um."(Jo 
10.27-30). 
Sumário 
1. Muitas pessoas fazem uma profissão de fé em Jesus Cristo e depois o repudiam. 
2. A perseverança dos santos nas promessas de Deus de preservar os santos. 
3. Deus completará a salvação dos eleitos. 
4. Aqueles que se desviam da fé nunca foram verdadeiramente crentes. 
5. Podemos ter certeza de nossa salvação porque fomos selados com o Espírito Santo. Ele é a garantia de 
Deus de que nossa salvação será completada. 
6. A intercessão de Cristo visa nossa preservação. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este Livro 
em http://www.cep.org.br 
A perseverança dos santos (permanecer cristão) 
 
Nota: AT = Antigo Testamento; NT = Novo Testamento 
 
Pode o verdadeiro cristão perder a salvação? 
Como podemos saber se verdadeiramente nascemos de novo? 
 
1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA 
Em nossa discussão anterior tratamos de muitos aspectos da salvação plena que Cristo obteve para nós e que 
o Espírito agora aplica à nossa vida. Mas como sabemos que continuaremos a ser cristãos por toda a vida? Há 
algo que nos impede de abandonar Cristo, algo que nos garante que sempre haveremos de permanecer 
cristãos até que morramos e que de fato viveremos com Deus no céu para sempre? Ou poderá acontecer de 
chegarmos a nos separar de Cristo e de perdermos as bênçãos de nossa salvação? O tópico da perseverança 
dos santos responde a essas perguntas.A perseverança dos santos significa que todos os que verdadeiramente 
nasceram de novo serão guardados pelo poder de Deus e perseverarão como cristãos até o fim da vida, e que 
somente os que perseverarem até o fim verdadeiramente nasceram de novo. 
Essa definição tem duas partes. Ela indica primeiro que há uma certeza concedida aos que verdadeiramente 
nasceram de novo, pois ela lhes recorda que o poder de Deus os guardará como cristãos até o dia em que 
vierem a morrer e que eles certamente viverão com Cristo no céu para sempre. Por outro lado, a segunda 
metade da definição deixa claro que a permanência na vida cristã é uma das evidências de que a pessoa 
verdadeiramente nasceu de novo. É importante registrar também esse aspecto da doutrina na mente, para 
que evitemos passar falsa segurança às pessoas que nunca foram realmente crentes. 
 56 
Devemos observar que esse é um assunto sobre o qual os cristãos evangélicos vêm discordando há longo 
tempo. Muitos dentro da tradição arminiana/wesleyana sustentam que é possível alguns que 
verdadeiramente nasceram de novo virem a perder a salvação, ao passo que os cristãos reformados defendem 
que isso não é possível. A maioria dos batistas segue a tradição reformada nesse ponto; contudo, muitas 
vezes usam o termo segurança eterna ou segurança eterna do crente em vez do termo perseverança dos 
santos. 
“A doutrina da perseverança dos santos é representada pela letra “p” no acróstico TULIP, que muitas vezes é 
usado para sintetizar os chamados “cinco pontos do calvinismo” 
 
A. Todos os que verdadeiramente nasceram de novo perseverarão até o fim 
Muitas passagens ensinam que os que verdadeiramente nasceram de novo, os genuinamente cristãos, 
continuarão na vida cristã até a morte e, a seguir, ficarão com Cristo no céu. Jesus diz: “Pois desci dos céus, 
não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele 
que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. Porque a 
vontade de meu Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o 
ressuscitarei no último dia” (Jo 6.38-40). Aqui Jesus diz que todo o que crê nele terá vida eterna. Diz que 
ressuscitará essa pessoa no último dia — o que, nesse contexto de crer no Filho e ter vida eterna, claramente 
significa que Jesus ressuscitará a pessoa para a vida eterna com ele (não apenas a ressuscitará para ser 
julgada e condenada). Parece difícil evitar a conclusão de que quem verdadeiramente crê em Cristo 
permanecerá cristão até o dia da ressurreição final com bênçãos de vida na presença de 
Deus. Além disso, esse texto enfatiza que Jesus faz a vontade do Pai, que é não perder nenhum dos que o Pai 
lhe dera (Jo 6.39). Uma vez mais, os que foram dados ao Filho pelo Pai não se perderão. 
Outra passagem que salienta essa verdade é João 10.27-29, na qual Jesus diz: “As minhas ovelhas ouvem a 
minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida 
eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é 
maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai”. 
Aqui Jesus diz que os que o seguem, que são suas ovelhas, recebem vida eterna. Além disso, ele diz que 
“ninguém as poderá arrancar da minha mão” (v. 28). Ora, alguns têm argumentado que, mesmo que 
ninguém possa ser arrebatado da mão de Cristo, nós podemos escapar por nós mesmos das mãos de Cristo. 
Mas essa parece apenas uma disputa de palavras — a expressão “ninguém” não inclui também a pessoa que 
está nas mãos de Cristo? Além disso, sabemos que nosso coração está longe de ser digno de confiança. 
Portanto, se a possibilidade de nós próprios abandonarmos Cristo permanecesse, a passagem dificilmente 
daria a segurança que Jesus pretende transmitir nela. 
Mais importante ainda, a frase mais vigorosa na passagem é “e elas jamais perecerão” (v. 28). A construção 
grega (ou mē mais o aoristo subjuntivo) é especialmente enfática e poderia ser traduzida mais explicitamente 
por: ”e eles com certeza não perecerão eternamente”. Isso enfatiza que os que são “ovelhas” de Jesus e o 
seguem, e a quem ele deu vida eterna, nunca perderão a salvação ou serão separados de Cristo — jamais 
“perecerão”. 
Há muitas outras passagens que dizem que os que crêem têm “vida eterna”. Um exemplo é João 3.36: “Quem 
crê no Filho tema vida eterna” (v. tb. Jo 5.24; 6.4-7; 10.28; 1Jo 5.13). Ora, se essa é verdadeiramente a vida 
eterna que os crentes possuem, então é a vida que dura para sempre com Deus. Ela é muitas vezes colocada 
em contraste com a condenação e com o juízo eterno (Jo 3.16,17,36; 10.28), e a ênfase nesse texto com o 
adjetivo eterna mostra adicionalmente que essa é a vida que dura para sempre na presença de Deus. 
A evidência nos escritos de Paulo e em outras cartas do NT também indica que quem verdadeiramente 
nasceu de novo perseverará até o fim. Neles se ressalta igualmente que “agora já não há condenação para os 
que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Portanto, seria injusto Deus atribuir qualquer espécie de punição eterna 
aos que são cristãos — nenhuma condenação permanece para eles, pois a penalidade total de seus pecados já 
foi paga. 
Então, em Romanos 8.30, Paulo enfatiza a conexão clara entre os propósitos eternos de Deus na 
predestinação e o desenvolvimento desses propósitos na vida, juntamente com a realização final desses 
propósitos em “glorificar” ou dar corpos ressuscitados a quem ele colocou em união com Cristo: “E aos que 
predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou”. 
Aqui Paulo vê o evento futuro da glorificação como uma certeza nos propósitos que Deus estabeleceu, de 
forma que ele pode falar sobre ele como se já houvesse se realizado (“também glorificou”). Isso é verdade a 
respeito de todos os que são chamados e justificados — ou seja, todos os que verdadeiramente se tornaram 
 57 
cristãos. 
Evidência adicional de que Deus guarda os que nasceram de novo de modo seguro por toda a eternidade é o 
“selo” que Deus coloca sobre eles. Esse “selo” é o Espírito Santo dentro deles, que também atua como 
“garantia” de Deus de que receberemos a herança que nos foi prometida: 
“Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em 
Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que 
pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (Ef 1.13,14). A palavra grega traduzida por “garantia” nessa 
passagem (arrabōn) é um termo legal e comercial que significa “primeiro pagamento, depósito, entrada, 
prestação inicial” e representa “um pagamento que obriga a parte contratante a fazer os pagamentos 
restantes”. Quando Deus enviou o Espírito Santo para habitar em nós, ele se comprometeu a dar todas as 
bênçãos restantes da vida eterna e uma grande recompensa no céu com ele. Essa é a razão por que Paulo 
pode dizer que o Espírito Santo é a “garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a 
Deus” (Ef 1.14). Todos os que têm o Espírito Santo dentro de si, todos os que verdadeiramente nasceram de 
novo, têm a promessa imutável e a garantia de que a herança da vida eterna no céu certamente será deles. A 
própria fidelidade de Deus o obriga a fazer isso. 
Pedro diz a seus leitores que eles estão “protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser 
revelada no último tempo”(lPe 1.5).A palavra ”protegidos” (gr.,phroureō) pode significar tanto “guardados de 
escapar” quanto “protegidos de ataque”, e talvez esses dois significados estejam presentes aqui: Deus 
preserva os crentes de escaparem do seu Reino como os protege dos ataques externos. “Salvação” é usada 
aqui não em relação à justificação passada ou à santificação presente (falando em categorias teológicas), mas 
em referência à plena posse futura de todas as bênçãos de nossa redenção — ao cumprimento completo e 
final da salvação (cf. Rm 13.11; 1 Pe 2.2). Embora a salvação já esteja preparada ou pronta, ela não será 
“revelada” por Deus à raça humana em geral até o “último tempo”, o tempo do juízo final. Se essa proteção de 
Deus tem como propósito a preservação dos crentes até que recebam a plena salvação celestial, então é certo 
concluir que Deus cumprirá esse propósito e que eles, de fato, alcançarão a salvação final. Essa obtenção da 
salvação final em última instância depende do poder de Deus. 
 
B. Somente os que perseverarem até o fim é que verdadeiramente nasceram de novo 
Ao mesmo tempo em que a Escritura repetidamente enfatiza que quem verdadeiramente nasceu de novo 
perseverará até o fim e certamente terá a vida eterna no céu com Deus, há também outras passagens que 
falam sobre a necessidade de permanecer na fé no decorrer da vida. Elas nos fazem compreender que o que 
Pedro disse em lPedro 1.5 (“mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus“) é verdadeiro, a saber, que 
Deus não nos guarda independentemente de nossa fé nele. Desse modo, quem continua a confiar em Cristo 
recebe a segurança de que Deus opera nele e o guarda. 
Um exemplo dessa espécie de passagem é João 8.31,32: “Disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: ‘Se 
vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a 
verdade, e a verdade os libertará”’. Jesus está aqui advertindo que uma evidência da fé genuína é a 
permanência na sua Palavra, isto é, a contínua confiança no que ele diz e uma vida de obediência aos seus 
mandamentos. Semelhantemente, Jesus diz: “aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 10.22), como 
um meio de advertir as pessoas a não desistir nos tempos de perseguição. 
Paulo diz aos cristãos de Colossos que Cristo os havia reconciliado com Deus “para apresentá-los diante dele 
santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação, desde que continuem alicerçados e firmes na fé, sem se 
afastarem da esperança do evangelho, que vocês ouviram e que tem sido proclamado a todos os que estão 
debaixo do céu” (Cl 1.22,23). É natural que Paulo e outros escritores do NT falem desse modo, pois embora 
estejam se dirigindo a grupos de pessoas que professam ser cristãs, não estão aptos a saber o real estado do 
coração das pessoas. Pode ser que houvesse pessoas em Colossos que se uniram na comunhão da igreja, 
professaram que tinham fé em Cristo e foram batizados na igreja, mas que nunca tiveram a verdadeira fé 
salvadora. Como Paulo distinguiria tais pessoas dos verdadeiros crentes? Como ele pode evitar dar-lhes a 
falsa segurança, a segurança de que eles serão salvos eternamente, quando na verdade eles não o serão, a 
menos que venham ao arrependimento e à fé? Paulo sabe que aqueles cuja fé não é real finalmente acabarão 
por abandonar a participação na comunhão da igreja. Portanto, ele diz a seus leitores que, em última análise, 
eles serão salvos se continuarem “alicerçados e firmes na fé” (Cl 1.23). Quem persevera mostra, desse modo, 
que é crente genuíno. Mas quem não persevera na fé demonstra que não houve nenhuma fé genuína em seu 
coração. 
Ênfase similar é vista em Hebreus 3.14: “pois passamos a ser participantes de Cristo, desde que, de fato, nos 
apeguemos até o fim à confiança que tivemos no princípio”. Esse versículo proporciona uma perspectiva 
 58 
excelente da doutrina da perseverança. Como sabemos se passamos a ser participantes de Cristo? Como 
sabemos se essa união com Cristo realmente aconteceu em algum momento do passado? Um meio de 
sabermos que possuímos tal fé genuína em Cristo é se perseveramos com fé até o fim da vida. 
Devemos nos lembrar de que há outras evidências em outras partes da Escritura que dão aos cristãos a 
segurança da salvação. Dessa forma, não devemos pensar que a segurança de que pertencemos a Cristo é 
impossível até que morramos. Contudo, a perseverança na fé é um meio de segurança que é mencionado aqui 
pelo autor de Hebreus. Além disso, nessa e em todas as outras passagens a respeito da necessidade de 
continuar na fé, o propósito nunca é deixar os que estão presentemente confiando em Cristo preocupados 
com o fato de que, em algum tempo, no futuro, possam cair. Nunca devemos usar essas passagens com tal 
intenção, pois seria criar uma causa injusta para preocupação de uma forma que a Escritura não pretende. Ao 
contrário, o propósito é sempre advertir os que estão pensandoem abandonar a fé ou que já a abandonaram 
de que, se eles se portam assim, essa é uma forte indicação de que nunca foram salvos. Portanto, a 
necessidade de perseverar na fé deveria ser usada apenas como advertência contra abandonar a fé, 
advertência de que quem a abandona dão evidência de que sua fé nunca foi real. 
 
C. Os que finalmente se afastam podem dar muitos sinais externos de conversão. 
Sempre fica claro quais pessoas na igreja possuem a genuína fé salvadora e quais as possuem somente uma 
persuasão intelectual da verdade do evangelho, mas sem a genuína fé em seu coração? Nem sempre é fácil 
dizer isso, e a Escritura menciona em diversos lugares que descrentes em comunhão com a igreja visível 
podem apresentar alguns sinais externos ou indicações que os fazem parecer crentes genuínos. Por exemplo, 
Judas, que traiu Cristo, deve ter se comportado quase exatamente como os outros discípulos durante os três 
anos que esteve com Jesus. Tão convincente era a sua conformidade com a conduta padrão dos outros 
discípulos que, no fim dos três anos de ministério de Jesus, quando ele disse que um dos seus discípulos o 
haveria de trair, eles não suspeitaram de Judas, antes “começaram a dizer-lhe, um após outro: ‘Com certeza 
não sou eu, Senhor!”’ (Mt 26.22; cf. Mc 14.19; Lc 22.23; Jo 13.22). Contudo, Jesus sabia que não havia fé 
genuína no coração de Judas, porque ele disse a determinada altura: “Não fui eu que os escolhi, os Doze? 
Todavia, um de vocês é um diabo!” (Jo 6.70). João registrara anteriormente que “Jesus sabia desde o 
princípio quais deles não criam e quem o iria trair” (Jo 6.64), mas os discípulos não sabiam disso. 
Paulo também fala que “falsos irmãos infiltraram-se em nosso meio” (Gl 2.4) e diz que em suas jornadas 
estivera em “perigos dos falsos irmãos” (2Co 11.26). Também diz dos servos de Satanás: “não é surpresa que 
os seus servos finjam que são servos da justiça” (2Co 11.15). Isso não significa que todos os descrentes na 
igreja que dão alguns sinais de verdadeira conversão são servos de Satanás que estão secretamente minando 
a obra da igreja, porque alguns realmente podem estar no processo de considerar as afirmações do evangelho 
e se dirigir à fé real, outros podem ter ouvido a explicação do evangelho de modo inadequado, e outros 
podem não ter vindo ainda à genuína convicção do Espírito Santo. Mas as afirmações de Paulo realmente 
significam que alguns descrentes na igreja serão falsos irmãos enviados para romper a comunhão, enquanto 
outros simplesmente serão descrentes que finalmente poderão vir à fé salvífica. Em ambos os casos, contudo, 
eles apresentam diversos sinais externos que os fazem parecer crentes genuínos. 
Podemos ver isso também na afirmação de Jesus a respeito do que vai acontecer no julgamento final: “Nem 
todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de 
meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? 
Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: 
Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mt 7.21-23). 
Embora essas pessoas tenham profetizado, expelido demônios e feito muitos milagres no nome de Jesus, a 
capacidade de fazer tais obras não era garantia de que fossem cristãos. Jesus diz: “Nunca os conheci”. Ele não 
diz: “Eu conheci vocês por um tempo, mas agora não os conheço mais”, ou “Eu conheci vocês por um tempo, 
mas vocês se extraviaram de mim”. Antes, ele diz: “Eu nunca conheci vocês”. Eles nunca haviam sido crentes 
genuínos. 
Ensino semelhante é encontrado na parábola do semeador em Marcos 4. Jesus diz: “Parte dela caiu em 
terreno pedregoso, onde não havia muita terra; e logo brotou, porque a terra não era profunda. Mas quando 
saiu o sol, as plantas se queimaram e secaram, porque não tinham raiz” (Mc 4.5,6). Jesus explica que a 
semente semeada no solo pedregoso representa as pessoas que “ouvem a palavra e logo a recebem com 
alegria. Todavia, visto que não têm raiz em si mesmas, permanecem por pouco tempo. Quando surge alguma 
tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandonam” (Mc 4.16,17). O fato de que elas “não têm 
raiz em si mesmas” indica que não há nenhuma fonte de vida dentro dessas plantas; semelhantemente, as 
pessoas representadas por elas não possuem vida genuína em seu interior. Elas possuem uma aparência de 
conversão e aparentemente se tornaram cristãs, porque recebem a palavra “com alegria”, mas, quando a 
 59 
dificuldade vem, elas não são encontradas — a conversão delas não era genuína e não havia sinal nenhum de 
fé salvadora em seu coração. 
A importância de perseverar na fé é afirmada também na parábola de Jesus sobre a vinha, na qual os cristãos 
são retratados como ramos (Jo 15.1-7). Jesus diz: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo 
ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto 
ainda. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são 
apanhados, lançados ao fogo e queimados” (Jo 15. 1,2,6). 
Os arminianos argumentam que os ramos que não dão fruto são ainda verdadeiros ramos da videira — Jesus 
se refere a “todo ramo que, estando em mim, não dá fruto” (v. 2). Portanto, os ramos que são juntados, 
lançados no fogo e queimados devem se referir a verdadeiros crentes que em determinado tempo foram parte 
da videira, mas caíram e se tornaram sujeitos ao juízo eterno. Mas essa não é a implicação necessária do 
ensino de Jesus nesse ponto.A figura da videira usada nessa parábola é limitada na quantidade de detalhes 
que ensina. De fato, se Jesus tivesse querido ensinar que havia verdadeiros e falsos crentes associados com 
ele, então o único modo pelo qual ele poderia referir-se às pessoas que não possuíam vida genuína em si 
mesmas seria falar dos ramos que não davam fruto (logo após a analogia das sementes que caíram em solo 
pedregoso e não tinham “raiz em si mesmas”, em Mc 4.17). Aqui em João l5 os ramos que não dão fruto, 
embora estejam de algum modo relacionados com Jesus e tenham a aparência exterior de serem ramos 
genuínos, indicam seu verdadeiro estado pelo fato de que não produzem fruto. Isso é demonstrado de forma 
semelhante pelo fato de que, se uma pessoa “não permanecer” em Cristo (Jo 15.6), é cortada como um ramo e 
se seca. Se tentarmos pressionar a analogia para além disso, dizendo, por exemplo, que todos os ramos da 
videira são realmente vivos ou não estariam lá, então estamos simplesmente tentando forçar a figura a ir 
além do que ela é capaz de ensinar — e nesse caso não haveria nada na analogia que pudesse representar os 
falsos crentes. O ponto afirmado pela figura é simplesmente que os que produzem fruto desse modo dão 
evidência de que permanecem em Cristo; os que não produzem fruto, não estão permanecem nele. 
Finalmente, há duas passagens em Hebreus que também afirmam que os que acabam caindo podem dar 
muitos sinais externos de conversão e podem parecer de muitas maneiras iguais aos cristãos. O primeiro 
deles, Hebreus 6.4-6, é muito usado pelos arminianos como prova de que crentes podem perder a salvação. 
Mas a análise mais criteriosa mostra que tal interpretação não é convincente. O autor escreve: “Ora, para 
aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito 
Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, e caíram, é 
impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o 
Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública” (Hb 6.4-6). 
Neste momento podemos perguntar que espécie de pessoa é descrita por todos esses termos. Esse texto 
descreve alguém que genuinamente nasceu de novo? Tratavam-se sem dúvida de pessoas que estavam 
associadas intimamente com a comunhão da igreja. Haviam tido alguma espécie de tristeza pelo pecado(arrependimento). Haviam entendido claramente o evangelho (haviam sido iluminadas). Chegaram a 
apreciar o encanto da vida cristã e a mudança que acontece na vida das pessoas pelo fato de se tornarem 
cristãs, provavelmente obtiveram respostas de oração e sentiram o poder do Espírito Santo em operação, 
talvez até usando alguns dons espirituais do mesmo modo que os descrentes em Mateus 7.22 (haviam se 
associado à obra do Espírito Santo ou tinham se tornado “participantes” do Espírito, e tinham provado o dom 
celestial e os poderes vindouros). Elas haviam sido expostas à verdadeira pregação da Palavra e tinham 
aprovado muito dos seus ensinos (elas provaram a boa Palavra de Deus). 
Mas, a despeito de tudo isso, se elas “caíram” em apostasia, “crucificando de novo o Filho de Deus” para si 
mesmas (Hb 6.6), então elas estão deliberadamente rejeitando todas essas bênçãos e se voltando 
decididamente contra elas. O autor nos diz que, se isso ocorre, será impossível restaurar essas pessoas 
novamente a qualquer espécie de arrependimento ou tristeza pelo pecado. O seu coração será endurecido e 
sua consciência, amortecida. A familiaridade repetida que elas tiveram com as coisas de Deus e sua 
experiência da influência do Espírito Santo em diversas ocasiões simplesmente serviram para endurecê-las 
para a verdadeira conversão. 
É claro que houve alguns na comunidade aos quais essa carta foi escrita que estavam em perigo de cair da 
mesma maneira (v. Hb 2.3; 3.8,12,14,15; 4.1,7,11; 10.26,29,35,36,38,39; 12.3,15-17). O autor quer adverti-los 
de que, embora tenham participado da comunhão da igreja e experimentado muitas das bênçãos de Deus em 
sua vida, se caírem após tudo isso, não há salvação para eles. Ele quer usar a linguagem mais forte possível 
para dizer: “Neste caso, não importa o quanto uma pessoa experimente bênçãos temporárias, ela ainda não 
foi realmente salva”. Ele os está advertindo a serem cuidadosos, porque depender das bênçãos e experiências 
temporárias não é suficiente. Isso não quer dizer que ele pensa que os verdadeiros cristãos poderiam cair — 
[Para a discussão muito mais abrangente dessa passagem, v. Perseverance of the saints: a case study from 
Hebrews 6.4-6 and the other warning passages in Hebrews, de Wayne Grudem. In: Thomas Schreiner & 
Bruce Ware, orgs. The grace of God e the bondage ofthe will (Grand Rapids: Baker, 1995), 1:133-82.] 
 60 
Hebreus 3.14 sugere exatamente o oposto. Antes ele quer dar-lhes a certeza da salvação por meio da 
perseverança na fé e dessa forma subentende que, se eles caírem, isso demonstrará que eles nunca foram 
realmente povo de Deus. 
Por essa razão, imediatamente ele passa dessa descrição dos que cometem apostasia para uma analogia 
posterior que mostra que essas pessoas que caem nunca tiveram qualquer fruto genuíno em suas vidas. Os 
versículos 7 e 8 falam dessas mesmas pessoas em termos de “espinhos” e “ervas daninhas”, uma espécie de 
colheita que é produzida na terra que não tem vida que valha a pena em si mesma, muito embora receba 
repetidamente bênçãos de Deus (em termos da analogia, embora chova freqüentemente sobre ela). Devemos 
observar aqui que as pessoas que cometem apostasia não são comparadas a um campo que uma vez produziu 
bom fruto e que agora não produz, mas que são iguais à terra que nunca produziu bom fruto, mas somente 
espinhos e ervas daninhas. A terra pode parecer boa antes da colheita começar a aparecer, mas o fruto dá a 
evidência genuína, e ele é mau. 
Forte apoio para essa interpretação de Hebreus 6.4-8 é encontrado no versículo imediatamente seguinte. 
Embora o autor tenha falado muito a respeito da possibilidade de cair, ele a seguir volta a falar sobre a 
situação da grande maioria de ouvintes que ele pensa que são cristãos genuínos. Ele diz: “Quanto a vós 
outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda 
que falamos desta maneira” (Hb 6.9, RA). Mas a questão é: Essas “coisas que são melhores” são melhores do 
que quais outras? As “coisas melhores” no plural formam um contraste apropriado às “coisas boas” que 
haviam sido mencionadas nos versículos 4-6; o autor está convencido de que a maioria de seus leitores 
experimentou as coisas que são melhores do que simplesmente as influências parciais e temporárias do 
Espírito Santo e da igreja mencionadas nos versículos 4-6. 
De fato, o autor fala a respeito dessas coisas por dizer (literalmente) que elas são “coisas que são melhores e 
pertencentes à salvação” (gr., kai echomena sōtērias): Essas não são somente as bênçãos temporárias 
mencionadas nos versículos 4-6, mas são coisas melhores, que não têm apenas influência temporária, mas 
são “pertencentes à salvação”. Desse modo, a palavra grega kai, “e”, mostra que a salvação é algo que não 
fazia parte dos itens mencionados nos versículos 4-6. Portanto, a palavra kai — que é traduzida 
explicitamente na RA, na ECA e na ARC 
— proporciona uma chave crucial para o entendimento da passagem. Se o autor quisesse dizer que as pessoas 
mencionadas nos versículos 4-6 eram verdadeiramente salvas, seria muito difícil entender por que ele diria 
no versículo 9 que está convencido de que há coisas melhores para eles e pertencentes à salvação. Essas 
coisas incluem a ”salvação” como um item adicional às coisas mencionadas anteriormente. Ele mostra, 
portanto, que pode dizer em uma frase breve que as pessoas “têm salvação”, caso queira (ele não precisa 
utilizar muitas frases), e, além disso, que as pessoas de quem ele fala nos versículos 4-6 não são salvas. 
Quais são exatamente essas “coisas melhores?”. Em acréscimo à salvação mencionada no versículo 9, tratam-
se de coisas que dão evidência real da salvação — um fruto genuíno na vida deles (v. 10), plena certeza de 
esperança (v. 11) e fé salvadora,do tipo mostrado por quem herda as promessas (v. 12). Desse modo, ele 
fortalece a certeza dos que são crentes genuínos — os que demonstram fruto em sua vida e amor por outros 
cristãos, que revelam esperança e fé genuína que persevera no tempo presente, que não abandonam o 
caminho. Ele quer dar segurança a esses leitores (que certamente são a grande maioria daqueles a quem 
escreve) ao mesmo tempo que lança uma forte advertência contra os que podem estar em perigo de 
apostasia. 
Um ensino semelhante é encontrado em Hebreus 10.26-31. Ali o autor diz: “Se continuarmos a pecar 
deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados” (v. 
26). Alguém que rejeita a salvação de Cristo e ”profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado” (v. 
29) merece a punição eterna. Essa é novamente uma forte advertência contra a apostasia, mas não deveria 
ser tomada como prova de que alguém que verdadeiramente nasceu de novo possa perder a salvação. 
Quando o autor fala a respeito do sangue do pacto “pelo qual ele foi santificado”, a palavra santificado é 
usada simplesmente para referir-se à “santificação externa, igual à dos antigos israelitas, pela ligação exterior 
com o povo de Deus”. A passagem não fala a respeito de alguém que é genuinamente salvo, mas de alguém 
que recebeu certa influência moral benéfica por meio do contato com a igreja. 
 
D. O que pode dar ao crente segurança genuína? 
Se é verdade, como foi explicado na seção anterior, que os descrentes que finalmente deixarão a fé podem 
apresentar muitos sinais externos de conversão, então o que poderá servir de evidência da conversão 
genuína? O que pode dar segurança real ao verdadeiro crente? Podemos citar três categorias de perguntas 
que uma pessoa pode fazer a respeito de si mesma. 
 61 
 
1. Posso ter no presente confiança em Cristo para ser salvo? 
Paulo diz aos colossenses que eles seriam salvos no último dia, se continuassem “alicerçados e firmes na fé, 
sem se afastarem da esperança do evangelho, que [...] ouviram e que tem sido proclamado a todos os que 
estão debaixo do céu” (Cl 1.23). Além de dizer que “passamos a ser participantes de Cristo,desde que, de fato, 
nos apeguemos até o fim à confiança que tivemos no princípio” (Hb 3.14), o autor de Hebreus encoraja seus 
leitores a serem imitadores dos que “por meio da fé e da paciência, recebem a herança prometida” (Hb 6.12). 
De fato, o versículo mais famoso da Bíblia inteira usa o verbo no tempo presente, que pode ser traduzido por 
“para que todo aquele que continua crendo nele possa ter vida eterna” (Jo 3.16). 
Portanto, cada um deveria perguntar a si mesmo: “Tenho hoje confiança em Cristo de que ele perdoou os 
meus pecados e que vai me levar inculpável para o céu para sempre? Tenho confiança em meu coração de 
que ele me salvou? Se eu morresse hoje à noite e comparecesse diante de Deus e ele me perguntasse a razão 
pela qual deveria me deixar entrar no céu, será que eu começaria a pensar a respeito de minhas boas ações e 
depender delas, ou sem hesitação diria que sou dependente dos méritos de Cristo e confio que ele é o 
Salvador suficiente?”. 
Essa ênfase sobre a fé em Cristo no presente permanece em contraste com a prática de alguns “testemunhos” 
de igreja nos quais as pessoas repetidamente recitam detalhes de uma experiência de conversão acontecida 
mais de vinte ou trinta anos atrás. Se um testemunho de fé salvadora é genuíno, ele deve ser um testemunho 
de fé que é ativo no dia de hoje. 
 
2. Há evidência da obra regeneradora do Espírito Santo em meu coração? 
A evidência da obra do Espírito Santo em nosso coração vem de muitas formas diferentes. Embora não 
devamos colocar nossa confiança na demonstração de obras miraculosas (Mt 7.22) ou de longas horas e anos 
de trabalho em alguma igreja local (que pode simplesmente ser uma construção como madeira, feno ou palha 
“nos termos de lCo 3.12 para promover o poder ou o próprio ego ou tentar ganhar mérito com Deus), há 
muitas outras evidências de obra real do Espírito Santo no coração de uma pessoa. 
Primeiro, há o testemunho subjetivo do Espírito Santo no nosso coração testificando que somos filhos de 
Deus (Rm 8.15,16; lJo 4.13). Esse testemunho regularmente será acompanhado pela percepção de ser 
conduzido pelo Espírito Santo nos caminhos da obediência à vontade de Deus (Rm 8.14). 
Além disso, se o Espírito Santo está trabalhando genuinamente em nossa vida, ele haverá de produzir uma 
espécie de características de caráter que Paulo chama ”fruto do Espírito” (Gl 5.22). Ele menciona diversas 
atitudes ou características do caráter que são produzidas pelo Espírito Santo: “amor, alegria, paz, paciência, 
amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gl 5.22,23). Obviamente, a questão não é: 
“Exemplifico perfeitamente todas essas características em minha vida?”, e sim: “Essas coisas são 
características gerais de minha vida? Sinto essas atitudes em meu coração? Outras pessoas (especialmente as 
que estão mais próximas de mim) vêem essas características em minha vida? Elas têm se desenvolvido em 
minha vida nos últimos anos?”. Não há qualquer indício no NT de que qualquer pessoa não-regenerada ou 
não-cristã possa convincentemente fingir essas características de caráter, especialmente para os que a 
conhecem bem de perto. 
Relacionada a essa espécie de fruto, há ainda outra: os resultados da vida e do ministério de uma pessoa 
segundo sua influência sobre outros e sobre a igreja. Há pessoas que professam ser cristãs, mas cuja 
influência sobre outros é para desencorajá-los, deprimi-los, trazer dano à sua fé e provocar controvérsias e 
divisões. O resultado da vida e do ministério dessas pessoas não é edificar os outros e a igreja, mas derrubar 
ou destruir. Em contraposição, há os que parecem edificar outras pessoas em cada conversa, em cada oração 
e em cada obra de ministério na qual colocam as mãos. Jesus disse, em relação aos falsos profetas: “Vocês os 
reconhecerão por seus frutos. [...] Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá 
frutos ruins. [...] Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão!” (Mt 7.16,17,20). 
Outra evidência da obra do Espírito Santo é a perseverança na fé e a aceitação do ensino sadio na igreja. Os 
que começam a negar as principais doutrinas da fé dão sérias indicações negativas a respeito de sua salvação: 
“Todo o que nega o Filho também não tem o Pai [...] Quanto a vocês, cuidem para que aquilo que ouviram 
desde o princípio permaneça em vocês. Se o que ouviram desde o princípio permanecer em vocês, vocês 
também permanecerão no Filho e no Pai” (1 Jo 2.23,24). João também diz: “Nós viemos de Deus, e todo 
aquele que conhece a Deus nos ouve” (lJo 4.6). Já que os escritos do NT são a autoridade que substitui a 
presença de apóstolos como João, podemos também dizer que quem quer que conheça a Deus continuará a 
 62 
ler e a se deleitar na Palavra de Deus, e continuará a crer nela plenamente. Os que não crêem e não têm 
prazer na Palavra de Deus dão evidência de que não são “de Deus”. 
Outra evidência da salvação genuína é um relacionamento contínuo no presente com Jesus Cristo. Jesus diz: 
“Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês”, e”Se vocês permanecerem em mim, e as minhas 
palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (Jo 15.4,7). Essa 
permanência em Cristo incluirá não somente a confiança diária nele em várias situações, mas com certeza 
também a comunhão regular com ele na oração e na adoração. Essa permanência também incluirá 
obediência aos mandamentos de Deus. João diz: 
“Aquele que diz: ‘Eu o conheço’, mas não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está 
nele. Mas, se alguém obedece à sua palavra, nele verdadeiramente o amor de Deus está aperfeiçoado. Desta 
forma sabemos que estamos nele: aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou” (lJo 
2.4-6). Uma vida perfeita não é necessária, naturalmente. João antes está dizendo que em geral nossa vida 
deve ser de imitação de Cristo e de semelhança a ele naquilo que fazemos e dizemos. Se temos a genuína fé 
salvadora, haverá resultados claros de obediência em nossa vida (v.tb. lJo 3.9,10,24; 5.18). 
 
3. Consigo ver o padrão de crescimento constante em minha vida cristã? 
As primeiras duas áreas de certeza lidam com a fé atual e a evidência atual da obra do Espírito Santo em 
nossa vida. Mas Pedro nos dá mais uma espécie de teste que podemos usar para perguntar se somos 
genuinamente crentes. Ele nos diz que há algumas características de caráter que, se continuamos a crescer 
nelas, garantirão que nós “jamais” tropeçaremos (2Pe 1.10). Ele diz aos seus leitores para se empenharem 
“para acrescentar à sua fé a virtude [...] o conhecimento [...] o domínio próprio [...] a perseverança [...] a 
piedade [...] a fraternidade [...] o amor” (2Pe 1.5-7). A seguir ele diz que essas coisas devem pertencer aos 
seus leitores e estar continuamente crescendo na vidas deles (2Pe 1.8). Acrescenta que eles devem se 
empenhar “em consolidar o chamado e a eleição”, e então continua: “pois se agirem dessa forma [referindo-
se à prática das características mencionadas nos versículos 5-7], jamais tropeçarão” (2Pe 1.10). 
O modo pelo qual confirmamos nossa vocação e eleição, então, é continuar a crescer nesse processo. Isso 
sugere que a certeza de salvação pode ser algo que aumenta com o tempo em nossa vida. Cada ano que 
acrescentamos essas características em nossa vida, ganhamos segurança cada vez maior de nossa salvação. 
Assim, embora crentes novos na fé possam ter uma confiança muito firme em sua salvação, essa segurança 
pode aumentar em certeza ainda mais profunda com o passar dos anos, à medida que eles caminham para a 
maturidade cristã. Se continuam a acrescentar essas coisas, confirmarão a sua vocação e eleição, e “jamais 
tropeçarão”. 
O resultado dessas três perguntas que podemos fazer a nós próprios deveria dar uma forte certeza para os 
que são genuinamente crentes. Desse modo, a doutrina da perseverança dos santos será uma doutrina 
tremendamente confortadora. Ninguém que tenha tal certeza deveria perguntar: “Serei capazde perseverar 
até o fim da minha vida e, portanto, ser salvo?”. Cada pessoa que ganha segurança por meio desse auto-
exame deveria antes pensar: “Eu verdadeiramente nasci de novo,portanto certamente perseverarei até o fim, 
porque estou sendo guardado ‘pelo poder de Deus’ operando por meio de minha fé (cf. IPe 1.5) e, portanto, eu 
nunca me perderei. Jesus vai me ressuscitar no último dia e eu vou entrar no seu Reino para sempre” (cfJo 
6.40). 
Por outro lado, a doutrina da perseverança dos santos, se corretamente entendida, deve causar preocupação 
genuína, e até mesmo temor, no coração de qualquer um que esteja “apostatando” ou se desviando de Cristo. 
Tais pessoas devem ser claramente advertidas de que somente quem persevera até o fim é que 
verdadeiramente nasceu de novo. Se elas se afastam de sua profissão de fé em Cristo e de uma vida de 
obediência a ele, elas podem realmente não ser salvas — de fato, a evidência que elas estão dando é de que 
não são salvas e nunca realmente foram salvas. Uma vez que parem de confiar em Cristo e de obedecer-lhe, 
elas não têm nenhuma certeza genuína de salvação, e devem considerar-se não-salvas, voltando-se para 
Cristo em arrependimento e pedindo-lhe perdão pelos pecados. 
Neste momento, em termos de cuidado pastoral com os que se afastaram de sua profissão de fé em Cristo, 
devemos perceber que calvinistas e arminianos (os que crêem na perseverança dos santos e os que pensam 
que os cristãos podem perder a salvação) iriam aconselhar um “apóstata” do mesmo modo. Conforme o 
arminiano, esse indivíduo foi cristão durante certo tempo, mas agora não é mais. Conforme o calvinista, tal 
pessoa nunca foi realmente cristã e ainda não é. Mas em ambos os casos o conselho bíblico dado seria o 
mesmo: “Você não parece ser cristão agora —você deve se arrepender de seus pecados e confiar em Cristo 
para ser salvo”. Embora o calvinista e o arminiano discordem sobre a interpretação da história anterior dessa 
pessoa, hão de concordar sobre o que deve ser feito no presente. 
 63 
Porém vemos aqui por que o termo segurança eterna, quando usado impropriamente, pode ser muito 
enganoso. Em algumas igrejas evangélicas, em vez de ensinarem a apresentação equilibrada e total da 
doutrina da perseverança dos santos, alguns pastores freqüentemente ensinam uma versão diluída dela, que 
de fato diz às pessoas que todos os que fizeram uma profissão de fé e foram batizados estão “eternamente 
seguros”. O resultado é que algumas que realmente não são genuinamente convertidas podem “ir à frente” no 
final de uma reunião evangelística para professar a fé em Cristo e serem batizadas pouco tempo depois, mas 
acabam deixando a comunhão da igreja e vivendo de modo que não é diferente da que tiveram antes de 
ganhar essa “segurança eterna”. Desse modo, uma falsa segurança é dada a essas pessoas, e elas estão sendo 
cruelmente enganadas por pensarem que estão indo para o céu quando, de fato, não estão. 
 
Autor: Wayne Grudem 
Fonte: Teologia Sistemática do Autor; Ed. Vida Nova. Compre este livro em http://www.vidanova.com.br 
A Explicação para os Aparentes Casos de Perda de Salvação 
por 
Wayne Grudem 
 
Será sempre fácil distinguir os membros da igreja que têm autêntica fé salvífica daqueles que tem apenas um 
convencimento intelectual da verdade do Evangelho, mas não a autentica fé no coração? Não, nem sempre é 
fácil, e a Bíblia afirma em várias passagens que descrentes em aparente comunhão com a igreja podem dar 
alguns sinais ou indicações exteriores que os façam parecer crentes verdadeiros. Por exemplo, Judas, que 
traiu Cristo, deve ter agido quase exatamente como os outros discípulos durante os três anos em que esteve 
com Jesus. Tão convincente era a sua conformidade à conduta dos outros discípulos, que, ao final dos três 
anos de ministério de Jesus, quando ele declarou que um dos seus discípulos o trairia, nem todos 
suspeitaram de Judas, mas “começaram um por um a perguntar-lhe: Porventura, sou eu, Senhor?” (Mt 
26.22; cf. Mc 14.19; Lc 22.23; Jo 13.22). Porém, Jesus sabia que não havia fé genuína no coração de Judas, 
pois disse a certa altura: “Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo” (Jô 6.70). 
João mais tarde escreveu no seu evangelho que “Jesus sabia, desde o principio, quais eram os que não criam 
e quem o havia de trair” (Jo 6.64). Mas os discípulos mesmos não sabiam. 
Paulo fala dos “falsos irmãos que se entremeteram” (Gl 2.4), e afirma que nas suas viagens esteve “em 
perigos entre falsos irmãos” (2 Co 11.26). Afirma também que os servos de Satanás se transformam “em 
ministros de justiça” (2 Co 11.15). Isso não significa que todos os descrentes da igreja que dão alguns sinais de 
verdadeira conversão sejam servos de Satanás agindo secretamente para minar a obra da igreja, pois alguns 
podem estar ainda ponderando as declarações do Evangelho e avançando rumo à verdadeira fé, outros 
podem ter ouvido uma explicação incorreta da mensagem evangélica, e outros podem não ter ainda 
alcançado a verdadeira convicção do Espírito Santo. Mas as declarações de Paulo significam que alguns 
descrentes dentro da igreja são falsos irmãos e irmãs enviados para perturbar a comunhão, enquanto outros 
são simplesmente descrentes que acabarão alcançando a genuína fé salvífica. Nos dois casos, porém, eles 
podem dar diversos sinais exteriores que os façam parecer crentes autênticos. 
Podemos ver isso também na declaração de Jesus sobre o que acontecerá no juízo final: 
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu 
Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de me dizer: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós 
profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos 
milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a 
iniqüidade.” (Mateus 7.21-23) 
Embora essas pessoas profetizassem, expulsassem demônios e fizessem “muitos milagres” em Nome de 
Jesus, a capacidade de fazer tais obras não garantia que eram cristãs. Diz Jesus: “Nunca vos conheci”. Não 
diz: “Eu vos conheci um dia, mas já não vos conheço” nem “Eu vos conheci um dia, mas vos afastastes de 
mim”, e sim: “Nunca vos conheci”. Nunca foram crentes de verdade. 
 64 
Ensinamento semelhante se encontra na parábola do semeador em Marcos 4. Diz Jesus: “Outra caiu em solo 
rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porem, o Sol, a 
queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se” (Mc 4.5-6). Jesus explica que a semente plantada em solo 
rochoso representa aqueles que “ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não têm raiz em si 
mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da 
palavra, logo se escandalizam” (Mc 4.16-17). O fato de eles não terem “raiz em si mesmos” indica que não 
avia fonte de vida dentro dessas plantas; do mesmo modo, as pessoas representadas por tais plantas não têm 
vida genuína em si. Exibem uma aparência de conversão e aparentemente se tornam cristas, pois aceitaram a 
palavra “com alegria”, mas, quando vem a dificuldade, elas não são mais encontradas em lugar nenhum – a 
sua conversão aparente não foi genuína fé salvífica no seu coração. 
A importância de persistir na fé é também confirmada na parábola de Jesus como videira, na qual os cristãos 
são retratados como ramos (Jo 15.1-7). Diz Jesus: 
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o 
corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Se alguém não permanecer em mim, 
será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam.” (João 
15.1,2,6) 
Os arminianos alegam que os ramos que não dão fruto são ainda assim ramos genuínos da videira – Jesus 
fala de “todo ramo que, estando em mim, não der fruto” (v.2). Portanto, os ramos que são apanhados,lançados no fogo e queimados devem representar crentes autênticos que foram um dia parte da videira, mas 
caíram e ficaram sujeitos à condenação eterna. Mas essa questão não é uma implicação necessária do 
ensinamento de Jesus sobre essa questão. O símile da videira usado nessa parábola é limitado quanto ao 
volume de detalhes que pode dar. Na verdade, se Jesus quisesse ensinar que associados a ele havia crentes 
verdadeiros e falsos, e se quisesse usar a analogia da videira e seus ramos, então o único modo de se referir às 
pessoas que não tinham vida genuína em si seria falar de ramos que não dão fruto (lembrando a analogia das 
sementes que caíram no solo rochoso: “eles não têm raiz em si mesmos” [Mc 4.17]). Aqui em João 15, os 
ramos que não dão fruto, embora estejam de certo modo ligados a Jesus e exibam uma aparência de ramos 
legítimos, assim mesmo dão indicação da sua verdadeira condição pelo fato de não dar fruto. Isso é 
igualmente indicado pelo fato de a pessoa “não permanecer” em Cristo (Jo 15.6) e ser lançada fora para secar 
como ramo arrancado da videira. Se tentamos esticar a analogia um pouco mais, dizendo – por exemplo – 
que todos os ramos de uma videira estão de fato vivos, senão nem estaria ali, então o que fazemos é estender 
a metáfora além daquilo que ela é capaz de ensinar – e nesse caso nada haveria na analogia que pudesse 
representar os falsos crentes. O objetivo da metáfora é simplesmente dizer que aqueles que dão fruto, dão, 
portanto, provas de que permanecem em Cristo; aqueles que não dão fruto, não permanecem nele. 
Finalmente, há duas passagens de Hebreus que também afirmam que aqueles que acabam se afastando 
podem dar muitos sinais exteriores de conversão e parecer cristãos em muitos aspectos. A primeira delas, 
Hebreus 6.4-6, foi muitas vezes usada pelos arminianos como prova de que os crentes podem perder a 
salvação. Mas num exame mais detido essa interpretação não se revela convincente. Escreve o autor: 
“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram 
participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e 
caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando 
para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia.” (Hebreus 6.4-6) 
O autor continua com um exemplo extraído da agricultura: 
“Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por 
quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e 
perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada.” (Hebreus 6.7-8) 
Nessa metáfora agrícola, os condenados no juízo final são comparados à terra que não produz vegetação ou 
fruto útil, mas só espinhos e abrolhos. Quando lembramos outras metáforas bíblicas em que o bom fruto é 
sinal de verdadeira vida espiritual e a ausência de frutos denuncia os falsos crentes (por exemplo: Mt 3.9-10; 
7.15-20; 12.33-35), já temos uma indicação de que o autor está falando de pessoas cuja prova mais confiável 
da sua condição espiritual (o fruto que produzem) é negativa, sugerindo que o autor fala de pessoas que não 
são verdadeiramente cristãs. 
 65 
Alguns já objetaram que a longa descrição de coisas que aconteceram a essas pessoas que se afastaram 
significa que elas devem ter nascido de novo. Mas essa não é uma objeção convincente quando se examinam 
os termos usados. O autor diz que “uma vez foram iluminados” (Hb 6.4). Mas essa iluminação significa 
simplesmente que eles compreenderam as verdades acerca do Evangelho, não que tenham respondido a 
essas verdades com genuína fé salvífica. 
Do mesmo modo, a expressão uma vez, usada para falar daqueles que “uma vez foram iluminados”, traduz o 
termo grego hapax, que é usado, por exemplo, em Filipenses 4.6 (quando os filipenses enviam doações a 
Paulo “não somente uma vez, mas duas”) e em Hebreus 9.7 (que fala da entrada no Santo dos Santos “uma 
vez por ano”. Portanto, essa palavra não significa que algo acontece “uma vez” somente e não pode ser 
repetida, mas simplesmente que aconteceu uma vez, sem especificar se será ou não repetida. 
O texto diz ainda que essas pessoas “provaram o dom celestial” e que “provaram a boa palavra de Deus e os 
poderes do mundo vindouro” (Hb 6.4-5). Inerente à idéia de provar é o fato de ser esse provar algo 
temporário e de a pessoa poder ou não decidir aceitar a coisa provada. Por exemplo, a mesma palavra grega 
(geuomai) é usada em Mateus 27.34 para dizer que aqueles que crucificaram Jesus “deram-lhe a beber vinho 
com fel; mas ele, provando-o, não o quis beber”. A palavra também é usada em sentido figurado com o 
significado de “vir a conhecer algo”. Se interpretamos a palavra nesse sentido figurado, como deve ser 
entendida aqui, pois a passagem não fala de provar comida de verdade, então isso significa que essas pessoas 
compreenderam o dom celestial (o que provavelmente significa que experimentaram parte do poder do 
Espírito Santo em ação) e conheceram parte da Palavra de Deus e parte dos poderes do mundo vindouro. 
Não significa necessariamente que tiveram (ou não) genuína fé salvífica, mas pode significar simplesmente 
que a compreenderam e tiveram alguma evidência do seu poder espiritual. 
O texto também diz que essas pessoas “se tornaram participantes do Espírito Santo” (Hb 6.4). A questão é o 
significado exato da a palavra metochos, que é aqui traduzida como “participante”. Nem todos os leitores das 
traduções da Bíblia sabem que esse termo tem uma ampla gama de significados e pode sugerir participação e 
apego bem íntimos, ou então meramente uma associação mais tênue com a outra pessoa ou pessoas citadas. 
Por exemplo, o contexto mostra que Hebreus 3.14 torna-se participante de Cristo significa ter uma 
participação bem íntima com ele numa relação salvífica. Por outro lado, a palavra metochos pode também ser 
usada num sentido muito mais livre, referindo-se meramente a associados ou companheiros. Lemos que 
quando os discípulos pegaram grandes quantidades de peixes, a ponto de as redes estarem já se rompendo, 
“fizerem sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los” (Lc 5.7). Aqui, o termo define 
os que eram meramente parceiros ou companheiros de Pedro e dos outros discípulos na pesca. Efésios 5.7 
usa uma palavra muito próxima (symmetochos, composta de metochos e da preposição syn [“com]) quando 
Paulo exorta os cristãos a ficar atentos aos atos pecaminosos dos descrentes: “... Não sejais participantes com 
eles” (Ef 5.7). Ele não está preocupado com a possibilidade de a própria natureza deles se transformar pelo 
contato com os descrentes, mas simplesmente com a hipótese de o testemunho deles ficar comprometido, de 
a própria vida deles vir a ser influenciada pelos descrentes. 
Por analogia, Hebreus 6.4-6 fala das pessoas que “se associaram ao” Espírito Santo e que, portanto, tiveram 
a vida influenciada por ele, mas isso não implica que eles vivenciaram a obra redentora do Espírito Santo, 
nem que foram regenerados. Aplicando analogia semelhante ao exemplo dos companheiros de pesca de 
Lucas 5.7, Pedro e os discípulos poderiam estar associados a eles e até ser influenciados por eles, sem sofrer 
uma completa mudança de vida por conta dessa associação. A própria palavra metochos possibilita uma 
gama de influencia que vai da razoavelmente fraca à razoavelmente forte, pois significa somente “aquele que 
participa de, partilha de ou acompanha alguém numa atividade”. Foi aparentemente isso que aconteceu a 
essas pessoas mencionadas em Hebreus 6, que participaram da igreja e portanto tiveram contato com a obra 
do Espírito Santo, sendo sem dúvida nenhuma influenciados por ele de algum modo. 
Por outro lado, diz o texto que é impossível renovar “para arrependimento” as pessoas que experimentaram 
essas coisas e depois cometeram apostasia. Alguns já argumentaram que se esse é um arrependimento aoqual elas precisam ser renovadas, então deve ser um arrependimento autêntico. Mas isso não é 
necessariamente verdadeiro. Primeiro, é preciso que esse “arrependimento” (gr. metanoia) não implica 
necessariamente arrependimento íntimo do coração para a salvação. Por exemplo, Hebreus 12.17 usa essa 
palavra para falar da mudança de idéia que fez Esaú buscar desfazer a venda do seu direito de primogenitura 
e refere-se a ela com o termo “arrependimento” (metanoia). Esse não seria um arrependimento para 
salvação, mas simplesmente uma mudança de idéia e o cancelamento da venda do direito de primogenitura. 
(Repare também o exemplo do arrependimento de Judas, em Mateus 27.3 – conquanto com uma palavra 
grega distinta.) 
 66 
O verbo cognato “arrepender-se” (gr. metanoeó) é às vezes usado para indicar não arrependimento salvífico, 
mas meramente pesar por ofensas individuais, em Lucas 17.3-4: “Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; 
se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, 
dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe”. Concluímos que “arrependimento” significa simplesmente pesar 
por atos realizados ou pecados cometidos. Nem sempre será possível dizer se é ou não genuíno 
arrependimento salvífico, “arrependimento para salvação”. O autor de Hebreus não se preocupa em 
especificar se se trata ou não de arrependimento genuíno. Diz simplesmente que se alguém sente pesar pelo 
pecado, compreende o Evangelho e experimenta as várias bênçãos da obra do Espírito Santo (se dúvida em 
comunhão com a igreja), mas depois se afasta, não será possível restaurar tal pessoa novamente a uma 
atitude de pesar pelo pecado. Mas isso não implica que o arrependimento foi genuíno arrependimento 
salvífico. 
A esta altura podemos perguntar que tipo de pessoa se define com todos esses termos. São sem dúvida 
pessoas que estiveram intimamente ligadas à comunhão da igreja. Sentiram algum pesar pelo pecado 
(arrependimento). Compreenderam claramente o Evangelho (foram iluminadas). Apreciaram os atrativos da 
vida cristã e a mudança que acontece na vida das pessoas quando se tornam cristãs, e provavelmente foram 
atendidas nas suas orações e sentiram o poder do Espírito Santo em ação, talvez até usando alguns dons 
espirituais, como os descrentes de Mateus 7.22 (“uniram-se” à obra do Espírito Santo, ou se tornaram 
“participantes” do Espírito Santo e provaram o dom celestial e os poderes do mundo vindouro). Ouviram a 
verdadeira pregação da Palavra e apreciaram muitos dos seus ensinamentos (provaram a bondade da Palavra 
de Deus). 
Mas, depois, apesar de tudo isso, se “caíram [...] crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à 
ignomínia” (Hb 6.6), então rejeitaram deliberadamente todas essas bênçãos e se voltaram decididamente 
contra elas. É possível que todos conheçamos (às vezes pela sua própria confissão) pessoas que estão há 
muito tempo na comunhão da igreja sem ser cristãs nascidas de novo. Há muito tempo ponderam o 
Evangelho, mas continuam a resistir ao chamado do Espírito Santo, talvez por causa da relutância em 
entregar a sua soberania a Jesus, preferindo apegar-se a si mesmas. 
Ora, o autor nos diz que se essas pessoas deliberadamente rejeitam todas essas bênçãos temporárias, então 
é impossível renová-las para algum tipo de arrependimento ou pesar pelo pecado. O seu coração estará 
endurecido, a sua consciência, insensível. Que mais se poderia fazer para trazê-las à salvação? Se lhes 
dissermos que a Bíblia é a verdade, elas dirão que já a conhecem, mas que resolveram rejeitá-la. Se lhes 
dissermos que Deus atende a oração e transforma a vida do crente, elas responderão que também já sabem 
disso, mas que não querem nada disso. Se lhes dissermos que o Espírito Santo tem poder para agir nas 
pessoas e que o dom da vida eterna é indescritivelmente bom, elas dirão que compreendem, mas não querem 
nada disso. A sua constante familiaridade com as coisas de Deus e a forte influencia do Espírito Santo só 
serviu para endurecê-las contra a conversão. 
Ora, o autor de Hebreus sabe que na comunidade à qual ele escreve há alguns em perigo de cair dessa 
maneira (ver Hb 2.3; 3.8,12,14015; 4.1,7,11; 10.26,29,35-36,38-39; 12.3,15-17). Ele quer alertá-los de que, 
embora tenham participado da comunhão da igreja e experimentado várias bênçãos divinas, ainda assim, se 
caírem depois de tudo isso não haverá salvação para eles. Isso não implica que ele pense que os verdadeiros 
cristãos possam se perder – Hebreus 3.14 implica bem o contrário. Mas ele quer que essas pessoas alcancem 
a certeza da salvação mediante a persistência na fé, e, portanto, sugere que, se vierem a cair, isso mostraria 
que jamais foram pessoas de Cristo (ver Hb 3.6: “...mas Cristo é fiel como filho sobre a casa de Deus; e esta 
casa somos nós, se nos apegarmos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos). Portanto o 
autor quer fazer um grave alerta àqueles em perigo de cair da fé cristã. Ele quer usar a linguagem mais forte 
possível para dizer: “Vejam aqui até onde a pessoa pode chegar na experiência das bênçãos temporárias, sem 
no entanto realmente estar salvas”. Ele os exorta a vigiar, pois não basta depender de bênçãos e experiências 
temporárias. Para isso, ele fala não de uma verdadeira mudança no coração ou de algum bom fruto, mas 
simplesmente das bênçãos e experiências temporárias que essas pessoas tiveram e que lhes deram uma 
compreensão parcial do Cristianismo. 
Por essa razão, ele imediatamente passa da descrição desses que cometem apostasia a outra analogia que 
mostra que tais pessoas que se afastam jamais deram fruto autêntico. Como já explicamos acima, os 
versículos 7-8 falam dessas pessoas usando a metáfora dos “espinhos e abrolhos”, tipo de frutos que nascem 
no solo que não tem em si vida prestável, ainda que receba repetidas bênçãos de Deus (nos termos da 
analogia, ainda que a chuva freqüentemente o regue). Convém notar aqui que as pessoas que cometem 
apostasia não são comparadas a um campo que um dia deu bom fruto e agora já não dá, mas sim a uma terra 
 67 
que jamais deu bom fruto, porém apenas espinhos e abrolhos. A terra pode parecer boa antes do surgimento 
dos brotos, mas o fruto dá a prova incontestável de que a terra é ruim. 
Forte apoio a essa interpretação de Hebreus 6.4-8 se encontra no versículo imediatamente seguinte. Embora 
o autor venha falando com muita dureza sobre a possibilidade de apostasia, ele agora volta a falar da situação 
da grande maioria dos leitores, que ele julga serem cristãos de verdade. Diz: “Quanto a vós outros, todavia, ó 
amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos 
desta maneira” (Hb 6.9). Mas a questão é: “coisas que são melhores” que o quê? O plural “coisas que são 
melhores” forma um contraste apropriado com “boas coisas” mencionadas nos versículos 4-6: o autor está 
convencido de que a maioria dos seus leitores experimentou coisas melhores que as meras influências 
parciais e temporárias do Espírito Santo e da igreja, mencionadas nos versículos 4-6. 
De fato, o autor fala dessas coisas dizendo (literalmente) que se trata de “coisas que são melhores e 
pertencentes à salvação” (gr. kai echomena sótérias). Essas não são somente as bênçãos temporárias 
mencionadas nos versículos 4-6, mas coisas melhores, coisas que não têm somente influência temporária, 
mas que são também “pertencentes à salvação”. Assim, a palavra grega kai (“também”) mostra que a salvação 
é algo que não fazia parte das coisas mencionadas nos versículos 4-6 acima. Portanto, a palavra kai, que não é 
traduzida explicitamente nas versões RSV e NVI (mas a NASB chega perto), proporciona uma chave vital à 
compreensão da passagem. Se o autor quisesse dizer que as pessoas mencionadas nos versículos 4-6 estavam 
realmente salvas, então seria muito difícil compreender por que ele diria no versículo 9 que estava 
persuadido de coisas que são melhores para elas, coisas pertencentesà salvação, ou que carregam em si a 
salvação além das coisas mencionadas acima. Ele assim mostra que, se quiser, pode usar uma curta 
expressão para dizer que as pessoas “têm salvação” (ele não precisa enfileirar muitas expressões) e mostra, 
além do mais, que as pessoas de quem fala nos versículos 4-6 não estão salvas. 
O que são exatamente essas “coisas que são melhores”? Além da salvação mencionada no versículo 9, são 
coisas que dão real prova de salvação – fruto genuíno (v. 10), plena certeza de esperança (v. 11) e fé salvífica, 
do tipo exibido por aqueles que herdam as promessas (v. 12). Dessa forma ele tranqüiliza os verdadeiros 
crentes – aqueles que dão fruto e demonstram amor pelos outros cristãos, que exibem esperança e fé genuína 
que perdura até o tempo presente, e que não estão prestes a se perder. Ele quer tranqüilizar esses leitores 
(que certamente são a maioria), ao mesmo tempo lançando um forte alerta aos que dentre eles possam estar 
em perigo de perdição. 
Ensinamento semelhante se encontra em Hebreus 10.26-31. Ali diz o autor: “Se vivermos deliberadamente 
em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos 
pecados” (v. 26). A pessoa que rejeita a salvação de Cristo e que “profanou o sangue da aliança com o qual foi 
santificado” (v. 29) merece castigo eterno. Isso, novamente, é um grave alerta contra a apostasia, mas não 
deve ser tomado como prova de que alguém que verdadeiramente nasceu de novo possa perder a salvação. 
Quando o autor fala sobre o sangue da aliança “com o qual foi santificado”, a palavra santificado é usada 
simplesmente para denotar a santificação exterior, como a dos antigos israelitas, por uma ligação exterior 
com o povo de Deus. A passagem não fala de alguém genuinamente salvo, mas de alguém que recebeu 
alguma influencia moral benéfica mediante o contato com a igreja. 
Outra passagem, esta dos escritos de João, é usada para sustentar a possibilidade da perda da salvação. Em 
Apocalipse 3.5, diz Jesus: “O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum 
apagarei o seu nome do Livro da Vida”. Alguns sustentam que, dizendo isso, Jesus sugere que é possível que 
ele venha a apagar os nomes de algumas pessoas do Livro da Vida, pessoas que já tinham seus nomes escritos 
ali e que portanto já estavam salvas. Mas o fato de Jesus afirmar enfaticamente que não fará algo não pode 
ser usado para pregar que fará a mesma coisa nos outros casos! O mesmo tipo de construção grega é usada 
para exprimir uma negação enfática em João 10.28, onde Jesus diz: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais 
perecerão”. Isso não significa que algumas das ovelhas de Jesus não ouvem a sua voz nem o seguem, e por 
isso perecerão; afirma simplesmente que as suas ovelhas com certeza não perecerão. Do mesmo modo, 
quando Deus diz – “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5) – não sugere que 
deixará ou abandonará outras pessoas; apenas declara enfaticamente que não deixará nem abandonará o seu 
povo. Ou, numa analogia ainda mais próxima, de Mateus 12.32, Jesus diz: “Se alguém falar contra o Espírito 
Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir”. Isso não significa que alguns pecados 
serão perdoados no porvir (como alegam os católicos romanos para sustentar a doutrina do purgatório) – 
isso não passa de um erro de raciocínio: dizer que algo não irá acontecer no porvir não implica que pode 
acontecer no porvir! Do mesmo modo, Apocalipse 3.5 é apenas uma firme garantia de que aqueles que 
 68 
estiverem trajando vestes brancas e que permanecerem fieis a Cristo não terão os seus nomes apagados do 
Livro da Vida. 
Finalmente, certa passagem do Antigo Testamento é muitas vezes usada para argumentar que as pessoas 
podem perder a sua salvação: a história do Espírito Santo que se aparta do rei Saul. Mas Saul não deve ser 
tido como exemplo de ninguém que perdeu a salvação, pois o “Espírito do Senhor” se retirou de Saul (1 Sm 
16.14) imediatamente depois de Samuel ter ungido Davi rei, ocasião em que o “Espírito do Senhor se apossou 
de Davi” (1 Sm 16.13). na verdade, a descida do Espírito do Senhor até Davi é relatada no versículo 
imediatamente anterior àquele em que se narra que o Espírito saiu de Saul. Esse vínculo estreito significa que 
a Bíblia não fala aqui de perda total da obra do Espírito Santo na vida de Saul, mas simplesmente do 
afastamento do Espírito Santo como meio de consagrar Saul como rei. Porém isso não significa que Saul foi 
condenado por toda a eternidade. É simplesmente muito difícil dizer com base nas páginas do Antigo 
Testamento se Saul, ao longo de sua vida, foi (a) um homem não regenerado que tinha liderança e foi usado 
por Deus como demonstração do fato de que alguém digno de ser rei aos olhos do mundo não era só por isso 
apto para ser rei do povo do Senhor, ou (b) um homem regenerado, mas falto de entendimento, levando uma 
vida que cada vez mais se afastava do Senhor. 
[Título original: “Aqueles Que Acabam Se Afastando Podem Dar Muitos Sinais Exteriores de Conversão”] 
Fonte: Wayne Grudem. Teologia Sistemática. 1ª Edição. São Paulo, Edições Vida Nova, 1999. pp. 664-671 
 
A CERTEZA DE SALVAÇÃO 
A Certeza da Salvação 
Mt 7.21-23; Jo 3.1-21; Rm 8.15-17; 1 Co 1.12; 1 Jo 2.3-6; 1 Jo 5.13 
É possível alguém ter certeza de que está salvo? Alguém declarar que tem certeza da própria salvação pode 
parecer uma atitude de tremenda arrogância. Mesmo assim, a Bíblia nos desafia a fazer de nossa salvação 
uma questão de certeza absolita. Pedro ordena: "irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa 
vocação e eleição..." (2 Pe 1.10). 
É nosso dever buscar com diligência a certeza de nossa salvação. Isso não é feito a partir de uma curiosidade 
indolente quanto ao estado da alma, mas por meio da promoção de nosso crescimento em santificação. Os 
cristãos que permanecem sem ter certeza da própria salvação estão sujeitos a toda sorte de dívidas que 
paralisam seu caminhar com Cristo. Tropeçam nas dúvidas e ficam vulneráveis aos ataques de Satanás. Por 
isso temos de buscar ter plena certeza de nossa salvação. Existem quatro posições com relação à certeza de 
salvação. 
Posição Um: Há pessoas que não estão salvas e sabem que não estão salvas. Tais pessoas são conscientes da 
inimizade que mantêm em seu coração contra Deus e claramente não querem nenhuma ligação com Cristo 
como seu Salvador. Têm a ousadia de declarar que não precisam de Cristo. Tais pessoas com freqüência são 
fracamente hostis ao evangelho, 
Posição Dois: Há pessoas que estão salvas, mas não sabem que estão salvas. Estão realmente num estado de 
graça, mas não têm certeza disso. Talvez estejam lutando contra o pecado em suas vidas e duvidam de sua 
própria salvação por causa de uma consciência perturbada. Neste grupo estão aqueles que ainda não têm 
certeza de que estão entre os eleitos. 
Posição Três: Há pessoas que estão salvas e sabem que estão salvas. Este é o grupo dos que têm certeza de 
sua eleição e vocação. Têm um entendimento claro e sólido do que a salvação requer e sabem que cumpriram 
as exigências. Elas crêem no testemunho do Espírito Santo quando ele testificou em seu espírito de que são 
filhos de Deus (Rm 8.16) 
Posição Quatro: Há pessoas que não estão salvas, mas confiantemente acreditam que estão salvas. Tais 
pessoas têm certeza sem possuírem a salvação. A segurança delas é falsa. 
 69 
Visto ser possível nutri uma falsa certeza de salvação, como podemos saber se estarmos no grupo três ou no 
grupo quarto? Para responder, temos de olhar mais atentamente para o grupo quatro e perguntar como é 
possível nutrir um falso senso de certeza. 
A maneira mais fácil de nutrir uma falsa certeza de salvação é formar falsa doutrina da salvação. Por 
exemplo. se uma pessoas defende a visão universalista da salvação, pode raciocinar assim: 
Todas as pessoas são salvas. 
Eu sou uma pessoa. 
Portanto, estou salvo. 
Visto que esta doutrina é equivocada, suacerteza não tem um base sólida. 
Outra maneira pela qual as pessoas garantem falsamente a si próprias que têm salvação é acreditando que 
irão para céu pela tentativa de viver uma vida boa. Aqueles que pensam que estão vivendo uma vida 
suficientemente boa para satisfazer as exigências de um Deus santo estão simplesmente se iludindo ao 
pensar que estão salvos. 
E quanto ás pessoas que têm uma sólida doutrina da salvação? Ainda é possível que tenham uma falsa 
certeza? Temos de responder que sim. Uma pessoa pode crer que tem a fé salvadora, sem realmente tê-la. O 
teste para a certeza autêntica é duplo. Por um lado, temos de examinar nosso próprio coração para ver se 
temos a verdadeira fé em Cristo. É preciso ver se temos ou não um amor genuíno pelo Cristo da Bíblia, pois 
sabemos que tal amor por ele seria impossível sem a regeneração. 
Segundo, temos de examinar o fruto de nossa fé. Não precisamos do fruto perfeito para termos certeza, mas é 
preciso haver algumas evidências do fruto da obediência para nossa profissão de fé tenha credibilidade. Se 
não há nenhum fruto presente, não há fé presente. Onde se encontra a fé salvadora o fruto da fé também se 
encontra presente. 
Finalmente buscamos nossa certeza na Palavra de Deus, por meio da qual o Espírito Santo testifica com 
nosso espírito que somos filhos de Deus. 
"O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus." (Rm 8.16) 
Sumário 
1. É nosso dever cultivar diligentemente a certeza de salvação. 
2. A certeza da salvação promove nossa santificação. 
3. Há quatro grupos ou posição possíveis com relação à certeza de salvação: 
(a) Aqueles que não estão salvos e sabem que não estão salvos. 
(b) Aqueles que estão salvos, mas não têm certeza de que estão salvos 
(c) Aqueles que estão salvos e sabem que estão salvos. 
(d) Aqueles que não estão salvos, mas acreditam que estão salvos. 
4. A falsa certeza primariamente se baseia numa falsa doutrina da salvação. 
5. Para adquirir uma certeza autêntica temos de sondar nosso próprio coração e examinar o fruto de nossa fé. 
6. A plena certeza emana da Palavra de Deus juntamente com o testemunho do Espírito Santo. 
 70 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro 
em http://www.cep.org.br 
LEI, GRAÇA E AS OBRAS 
A Lei de Deus 
Êxodo 20. 1-17; Salmo 115.3; Mateus 5.17- 20; Romanos 7.7-25; Gálatas 3.23-29 
Deus governa por meio de leis. A natureza tem leis que mantém a sua perfeita ordem e, estas leis, são as 
maneiras de Deus estabelecer a ordem em seu universo. Elas anunciam Sua soberana vontade. 
Deus é infinitamente Santo, Ele é qualitativamente absoluto em perfeição (Rm 11.33-36). Deus não segue 
nenhuma lei fora de Si mesmo, Deus é a sua própria Lei. Todas a leis partiram do Senhor para organizar as 
coisas criadas por suas mãos. Deus faz sempre as coisas certas, de acordo com Seu perfeito caráter moral. 
Suas criaturas precisam de lei para indicar o caminhão da retidão, porém Sua espontânea ação sempre é 
perfeita e santa em todas suas obras. 
Assim como Ele faz, e o faz naturalmente, também deseja que nós façamos o que é certo. Por isso Deus criou 
leis para que o homem seguisse e vivesse um padrão moral, e criou também as punições aos que não 
seguissem esse padrão. A Sua lei é o padrão supremo de Justiça. Suas leis estão descritas por todas as 
Escrituras Sagradas(Bíblia). 
A Lei de Deus é única, mas com bases morais, sociais e cerimoniais. Os judeus a chamam de "Torá" que quer 
dizer em Hebraico: Lei, ensinamento. A Torá são os cincos primeiros livros da Bíblia: Gêneses, Êxodo, 
Levítico, Numero e Deuteronômio. Por isso também receberam o nome de Pentateuco (cinco volumes). 
 
A parte moral da Lei tem como base o perfeito caráter de Deus. Por ser o caráter Divino a base, esta nunca 
mudará, por que Deus não muda (Mal 3.6).Um exemplo de leis com bases morais contidas na Escrituras é os 
Dez Mandamentos, escritos pelos Seus próprios dedos e entregue a Moises (Êxodo 20; 31.18; Deut. 5.22). 
Nos Dez Mandamentos encontram os princípios de toda a Lei contidas nas Escrituras. 
As partes sociais da lei foram criadas por Deus para organizar a nação de Israel e por isso são exclusivas desta 
nação. Muitos dos princípios sociais (casamento, bens pessoais, herança, criminais...) por todo mundo são 
semelhantes a elas. 
As partes cerimoniais da Lei eram baseadas em cerimônias que simbolizavam a presença de Deus e a obra 
salvadora do Messias. Os símbolos destas cerimônias foram cumpridos em Jesus, o Messias. 
 71 
Atualmente, somente as partes morais da Lei são obrigações dos cristãos. Ainda somos obrigados a fazer a 
vontade de Deus por meio delas. Mas a parte social e cerimonial da Lei de Deus se tornou a cultura de Israel e 
não constituem nenhuma obrigação ou princípios morais para os cristão. 
 
Os seres humanos, assim como tudo o que Deus criou, não podem fazer e nem seguir leis feitas por si mesmo. 
A Bíblia ensina que pecado é não guardar a sua Lei (1º João 3.4), portanto nós somos dependentes da lei de 
Deus. Quando nós guardamos a sua lei, demonstramos que o amamos (João 14.15). 
 
Autor: N.Mascolli F. - Baseado no estudo “A Lei de Deus” de R. C. Sproul, capítulo cinco, 1ª Caderno, 
Verdade essências da fé Cristã, ed. Cep. 
A Graça e a Lei 
Escreveu o apóstolo João: “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por 
meio de Jesus Cristo” (João 1:17). Na economia de Deus, a lei foi exposta em primeiro lugar e a graça 
posteriormente. O Antigo Testamento é dominado pela grande realidade da lei de Deus, tal como o Novo 
Testamento é dominado pela graça de Deus. Porém, como relacionar a graça com a lei, visto que a lei veio 
antes da graça? O Novo Testamento revela dois pontos de vista que erram quanto a isso, a saber: o legalismo 
e o antinomianismo. 
O legalismo (abordado em Romanos 4 e 9-11; Gálatas 2-5 e Colossenses 2) fruta a graça divina, por buscar a 
retidão mediante a religiosidade e as obras da lei, encarando-as como parte do fundamento de nossa 
aceitação diante de Deus, justamente com os méritos de Cristo. Paulo, todavia, insistia contra isso, dizendo 
que a fé em Cristo para a salvação é uma confiança exclusiva, de tal modo que uma professa confiança em 
Cristo que não exclua totalmente a autoconfiança não é fé real, aos olhos de Deus. Por esta causa veio a 
advertência pauliana aos gálatas judaizantes, os quais achavam que precisavam suplementar a sua fé em 
Cristo com o ato de serem circuncidados: “De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei, 
da graça decaístes” (Gálatas 5:4). A observância da lei não desempenha qualquer papel na justificação. Esta 
se realiza exclusivamente pela fé, pois acha-se somente em Cristo e através dEle, e é somente pela graça. 
Confiar nas próprias obras, juntamente com a obra de Cristo, desonra-O, frustra a graça e priva a pessoa da 
vida eterna (cf. Gálatas 2:21 e 5:2). 
No outro extremo o antinomianismo (abordado em Romanos 6; 2Pedro 2 e 1João) erra por transformar “em 
libertinagem a graça de nosso Deus” (Judas 4). Enquanto o legalista exalta de tal modo a lei que chega a 
excluir a graça, o antinomiano é fascinado pela graça ao ponto de perder de vista a lei, como uma regra de 
vida. Ele argumenta que, visto que os crentes estão “libertados da lei” (Romanos 7:6) e não debaixo da lei, e, 
sim, da graça (Romanos 6:15), com o perdão eterno já em sua possessão, não mais importa que tipo de vida 
eles levem. Embora o legalismo e o antinomianismo, segundo certo ponto de vista, sejam pólos opostos de 
erro, há, na teologia, e freqüentemente na experiência, um elo de ligação entre eles: ambos procedem da 
mesma fala suposição de que o único propósito da observância da lei é obter justiça diante de Deus. Assim 
sendo, o legalista ocupa-se em estabelecer sua própria justiça, ao passo que o antinomiano, regozijando-se no 
dom gratuito da justificação pelafé, não vê razão alguma para guardar a lei. Muitos dos antinomianos, na 
história, têm saído do legalismo por reação ao mesmo. Ambos os erros, porém, são respondidos assim que 
 72 
percebemos que a lei moral expressa a vontade de Deus para o homem em sua condição de homem. Jamais 
teve a finalidade de servir como um método de salvação (e, de qualquer forma, é inútil para esse propósito). 
A lei foi dada para guiar os homens na vida de piedade. E a graça, ao mesmo tempo que condena a justiça 
própria, estabelece a lei como regra de conduta. Escreveu Paulo: “Porquanto a graça de Deus se manifestou 
salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, 
vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente” (2 Timóteo 2:11,12). Essa é a resposta final ao 
antinomianismo: a graça estabelece a lei. 
Uma variante do recuo antinomiano em relação à lei é a reivindicação de que os crentes não têm qualquer 
necessidade ou dever de regularem suas vidas pela lei, visto que seus recursos em Cristo são suficientes para 
guiá-los. Assim, Lutero asseverou que a fé cristã naturalmente produz boas obras (ou seja, amor e serviço), 
por meio do impulso instantâneo. J. A. T. Robinson afirmou que o amor cristão traz embutida uma bússola 
moral, de tal modo que não precisa firmar-se sobre regras bíblicas, nem precisa necessariamente ser guiado 
por elas. Muitos têm falado sobre isto como se o impulso do Espírito, na consciência do crente, suplantasse 
inteiramente as instruções da lei. 
Aqueles que tomam essa posição, frisam corretamente a espontaneidade interior da vida cristã genuína, bem 
como a criatividade ética do amor. Porém, eles separam o que Deus uniu, a saber, a obra do Espírito Santo 
em ensinar e a Palavra pela qual Ele o faz. O Espírito continua a gravar a lei de Deus em nossos corações 
durante toda nossa vida, instruindo-nos pelas Escrituras nos padrões de Deus e fazendo-nos julgar quão 
distante temos ficado da perfeição moral e espiritual que esses padrões incorporam. Em suas cartas, Paulo 
não só nos ensina acerca de Cristo e do Espírito Santo, mas, normalmente na segunda metade delas exercita 
crentes nos princípios éticos — isto é, na lei, conforme ela se aplica aos crentes (cf. Romanos 12-15; Gálatas 5-
6; Efésios 4:17-6:9; Colossenses 3:1-4:6). Seria arriscado tentar ser mais sábio do que Paulo, em nossa 
maneira de ensinar a vida cristã. 
Se nos lembrarmos que, como crentes, servimos a Deus não para adquirirmos a vida, mas por já termos a 
vida, como seus filhos e filhas já justificados e adotados, então não cairemos no legalismo que esses mestres 
temem; antes, veremos a lei de Deus como o código de normas da família e nos regozijaremos em procurar 
vivê-la desta forma, agradando ao nosso Pai celeste, que nos amou e nos salvou. 
Paulo escreveu: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não de 
obras para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dEle, criados em Cristo Jesus para boas obras, as 
quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:8-10). A doutrina paulina da graça 
gratuita e soberana tanto humilha a soberba dos legalistas, que são justos aos seus próprios olhos, como 
condena a lassidão preguiçosa e irresponsável dos antinomianos. Entendido corretamente, esse ensino gera 
uma jubilosa segurança e uma incansável energia no serviço de nosso Salvador. Foi dito com muita 
propriedade que, no Novo Testamento, a doutrina é a graça, a ética é a gratidão (Romanos 12:1); e nosso 
Senhor ensinou que a pessoa que mais ama é aquela que é mais consciente do amor por ela demonstrado 
(Lucas 7:40ss.). O mundo veria muito mais piedade prática do que está vendo, se os crentes de nossos dias 
conhecessem mais acerca da graça de Deus. 
Autor: J. I. Packer 
Fonte: Extraído do livro “Vocábulos de Deus” de J. I. Packer, publicado no Brasil pela Editora Fiel. Compre 
este livro em http://www.editorafiel.com.br 
Acervo do site http://www.Monergismo.com 
Lei e Graça 
Autor: Mauro Fernando Meister* 
É quase um paradigma para os cristãos modernos associar o Antigo Testamento à Lei e o Novo Testamento à 
Graça. Em várias oportunidades propus a estudantes de seminário e na escola dominical estabelecer o 
relacionamento entre os termos e, invariavelmente, a resposta tem sido a seguinte relação: 
LEI - Antigo Testamento 
GRAÇA - Novo Testamento 
 73 
I. Estamos sob a Lei ou sob a graça? 
Esse questionamento reflete um entendimento confuso do ensino bíblico acerca da lei e da graça de Deus. 
Muitos associam a lei como um elemento pertencente exclusivamente ao período do Antigo Testamento e a 
graça como um elemento neotestamentário. Isso é muitas vezes o fruto do estudo apressado de textos como: 
...sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, 
também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, 
pois, por obras da lei, ninguém será justificado (Gálatas 2.16). 
Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça (Romanos 6.14). 
E, de fato, uma leitura isolada dos textos acima pode levar o leitor a entender lei e graça como um binômio de 
oposição. Lei e graça parecem opostos, sem reconciliação - o cristão está debaixo da graça e 
conseqüentemente não tem qualquer relação com a lei. No entanto, essa leitura é falaciosa. O entendimento 
isolado desses versos leva a uma antiga heresia chamada antinomismo, a negação da lei em função da graça. 
Nessa visão, a lei não tem qualquer papel a exercer sobre a vida do cristão. O coração do cristão torna-se o 
seu guia e a lei se torna dispensável. (1) O oposto dessa posição é o legalismo ou moralismo, que é a tendência 
de enfatizar a lei em detrimento da graça (neonomismo). Nesse caso, a obediência não é um fruto da graça de 
Deus, uma evidência da fé, mas uma tentativa de agradar a Deus e de se adquirir mérito diante dele. 
Exatamente contra essa idéia é que a Reforma Protestante lutou, apresentando como uma de suas principais 
ênfases a sola gratia. 
No século XVI, os católicos acusavam os reformadores de antinomistas, de serem contrários à lei de Deus. 
Até mesmo o grande reformador Martinho Lutero expressou preocupação quanto a alguns de seus seguidores 
que, em seu zelo de proclamar a graça por tanto tempo desprezada pela Igreja, acabavam por desprezar a Lei. 
Desde a reforma têm aparecido movimentos enfatizando um ou outro desses aspectos, lei ou graça, sempre 
de forma excludente. Um dos mais recentes movimentos nessa linha, enfatizando a graça em detrimento da 
lei, é o dispensacionalismo. Essa forma de abordagem surgiu no século XIX, caracterizando a lei como a 
forma de salvação no período mosaico e o evangelho como a forma de salvação na dispensação da igreja. Esse 
é, possivelmente, o movimento que mais influência exerce atualmente na interpretação do papel da lei e da 
graça entre os evangélicos ao redor do mundo. 
Em uma direção oposta, outro grande movimento foi iniciado por Karl Barth, em seu livro God, Grace and 
Gospel , onde argüi por uma unidade básica entre lei e graça, direcionando seu pensamento para um novo 
moralismo. (2) Para termos uma boa idéia de como o debate ainda é atual, em 1993 foi publicado o livro Five 
Views on Law and Gospel , da coleção Counterpoints, no qual cinco escritores evangélicos contemporâneos 
expressam diferentes pontos de vista sobre a relação entre a lei e o evangelho (graça). (3) Sem sombra de 
dúvida, o assunto ainda está muito longe de apresentar um consenso entre os evangélicos. 
As implicações da forma como entendemos a relação entre lei e graça vão muito além do aspecto puramente 
intelectual. Esse entendimento vai, na verdade, determinar toda a forma como alguém enxerga a vida cristã e 
que tipo de ética esse cristão irá assumir em sua caminhada. John Hesselink, um estudioso sobre a relação 
entre lei e graça, exemplificaque, na década de 1960, os cristãos proponentes da ética situacionista se 
levantaram contra leis, regras e princípios gerais, propondo uma nova moralidade. (4) Esse movimento 
propõe que a ética das Escrituras não é absoluta, mas depende do contexto. Nem mesmo a lei moral de Deus 
é absoluta; ela depende da situação. Essa proposta surgiu e se desenvolveu dentro do cristianismo 
tradicional, alcançando seguidores de todas as bandeiras denominacionais, praticamente sem restrições. A 
lei não tem mais qualquer papel determinante na ética cristã; o que determina a ética cristã é o "princípio do 
amor," conclui o movimento. A conseqüência dessa conclusão é que a graça suplanta a lei. As decisões éticas 
devem ser tomadas levando em consideração o princípio do amor. Tome-se por exemplo a questão do aborto 
no caso de estupro. Aprová-lo nessas circunstâncias é um ato de amor baseado no princípio do amor à mãe 
que foi estuprada. Ou mesmo a questão da pena de morte. Ela não se encaixa no princípio do amor ao 
próximo e, portanto, não pode ser uma prática cristã. Até mesmo situações como o divórcio passam a ser 
aceitáveis pelo princípio do amor. A separação de casais passa a ser aceitável pelo mesmo princípio. O 
mesmo acontece com o homossexualismo. Aceitar o homossexualismo passa a ser um ato de amor, e 
portanto, essa prática não pode ser considerada como pecado, ou, se assim considerada, é um pecado 
aceitável. 
 74 
Mas seria essa a verdadeira conclusão do cristianismo e o verdadeiro ensino das Escrituras sobre a lei? É isso 
que o estudo das Escrituras e o cristianismo histórico nos ensinam? Nas páginas a seguir avaliaremos o 
pensamento de Calvino a respeito dessa questão e a aplicação calvinista refletida na Confissão de Fé de 
Westminster (CFW). 
II. O Uso da Lei 
Para entendermos bem o uso da lei precisamos entender o que são o pacto das obras e o pacto da graça. 
Assim, é prudente começarmos por esclarecer o que são esses pactos e qual o conceito de lei que está 
envolvido na questão. 
Pacto das Obras e Pacto da Graça (5) é a terminologia usada pela Confissão de Fé de Westminster (6) para 
explicar a forma de relacionamento adotada por Deus para com as suas criaturas, os seres humanos. Mais do 
que isso, essa terminologia reflete o sistema teológico adotado pelos reformados, conhecido como teologia 
federal. (7) De forma bem resumida, podemos dizer que o pacto das obras é o pacto operante antes da queda 
e do pecado. Adão e Eva viveram originalmente debaixo desse pacto e sua vida dependia da sua obediência à 
lei dada por Deus de forma direta em Gênesis 2.17 - não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. 
(8) Adão e Eva descumpriram a sua obrigação, desobedeceram a lei e incorreram na maldição do pacto das 
obras, a morte. 
O pacto da graça é a manifestação graciosa e misericordiosa de Deus, aplicando a maldição do pacto das 
obras à pessoa de seu Filho, Jesus Cristo, fazendo com que parte da sua criação, primeiramente representada 
em Adão, e agora representada por Cristo, pudesse ser redimida. Porém, a lei antes da queda não se resume à 
ordem de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A lei não deve ser reduzida a um 
aspecto somente. Existem outras leis, implícitas e explícitas, no texto bíblico. Por exemplo, a descrição das 
bênçãos em Gênesis 1.28 aparece nos imperativos sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e dominai. 
Esses imperativos foram ordens claras do Criador a Adão e sua esposa e, por conseguinte, eram leis. O 
relacionamento de Adão com o Criador estava vinculado à obediência, a qual ele era capaz de exercer e assim 
cumprir o papel para o qual fora criado. No entanto, o relacionamento de Adão com Deus não se limitava à 
obediência. Esse relacionamento, acompanhado de obediência, deveria expandir-se de maneira que nele o 
Deus criador fosse glorificado e o ser humano pudesse ter plena alegria em servi-lo. A Confissão de Fé nos 
fala da lei de Deus gravada no coração do homem (CFW 4.2). Essa lei gravada no coração do ser humano 
reflete o tipo de intimidade reservada por Deus para as suas criaturas. 
Nesse contexto podemos perceber que a lei tinha um papel orientador para o ser humano. Para que o seu 
relacionamento com o Criador se mantivesse, o homem deveria ser obediente e assim cumprir o seu papel. A 
obediência estava associada à manutenção da bênção pactual. A não obediência estava associada à retirada 
da bênção e à aplicação da maldição. A lei, portanto, tinha uma função orientadora. O ser humano, desde o 
princípio, conheceu os propósitos de Deus através da lei. Tendo quebrado a lei, ele tornou-se réu da mesma e 
recebeu a clara condenação proclamada pelo Criador: a morte. 
O que acontece com essa lei depois da queda e da desobediência? Ela tem o mesmo papel? Ela possui 
diferentes categorias? Por que Deus continuou a revelar a sua lei ao ser humano caído? 
III. De que Lei estamos Falando? 
A revelação da lei de Deus, como expressão objetiva da sua vontade, encontra-se registrada nas Escrituras. 
Esse registro, que começou nos tempos de Moisés, fala-nos da lei que Deus deu a Adão e também aos seus 
descendentes. Essa lei foi revelada ao longo do tempo. Dependendo das circunstâncias e da ocasião em que 
foi dada, possui diferentes aspectos, qualidades ou áreas sobre as quais legisla. Assim, é importante observar 
o contexto em que cada lei é dada, a quem é dada e qual o seu objetivo manifesto. Só assim poderemos saber 
a que estamos nos referindo quando falamos de Lei. 
A Confissão de Fé, no capítulo 18, divide esses aspectos em lei moral, civil e cerimonial. Cada uma tem um 
papel e um tempo para sua aplicação: 
(a) Lei Civil ou Judicial - representa a legislação dada à sociedade israelita ou à nação de Israel; por exemplo, 
define os crimes contra a propriedade e suas respectivas punições. 
 75 
(b) Lei Religiosa ou Cerimonial - representa a legislação levítica do Velho Testamento; por exemplo, 
prescreve os sacrifícios e todo o simbolismo cerimonial. 
(c) Lei Moral - representa a vontade de Deus para o ser humano, no que diz respeito ao seu comportamento e 
aos seus principais deveres. 
A. Toda a Lei é aplicável aos nossos dias? 
Quanto à aplicação da Lei, devemos exercitar a seguinte compreensão: 
(a) A Lei Civil tinha a finalidade de regular a sociedade civil do estado teocrático de Israel. Como tal, não é 
aplicável normativamente em nossa sociedade. Os sabatistas erram ao querer aplicar parte dela, sendo 
incoerentes, pois não conseguem aplicá-la, nem impingi-la, em sua totalidade. 
(b) A Lei Religiosa tinha a finalidade de imprimir nos homens a santidade de Deus e apontar para o Messias, 
Cristo, fora do qual não há esperança. Como tal, foi cumprida com sua vinda. Os sabatistas erram ao querer 
aplicar parte da mesma nos dias de hoje e ao mesclá-la com a Lei Civil. 
(c) A Lei Moral tem a finalidade de deixar bem claro ao homem os seus deveres, revelando suas carências e 
auxiliando-o a discernir entre o bem e o mal. Como tal, é aplicável em todas as épocas e ocasiões. Os 
sabatistas acertam ao considerá-la válida, porém erram ao confundi-la e ao mesclá-la com as outras duas, 
prescrevendo um aplicação confusa e desconexa. (9) 
Assim sendo, é fundamental que, ao ler o texto bíblico, saibamos identificar a que tipo de lei o texto se refere 
e conhecer, então, a aplicabilidade dessa lei ao nosso contexto. As leis civis e cerimoniais de Israel não têm 
um caráter normativo para o povo de Deus em nossos dias, ainda que possam ter outra função como, por 
exemplo, ensinar-nos princípios gerais sobre a justiça de Deus. Portanto, a lei que permanece "vigente" em 
nossa e em todas as épocas é a lei moral de Deus. Ela valeu para Adão assim como vale para nós hoje. Isto 
implica que estamos, hoje, debaixo da lei? 
B. Estamos sob a Lei ou sob a Graça de Deus? 
Muitas interpretações erradas podem resultar de um entendimento falho das declarações bíblicas de que 
"não estamos debaixo da lei, e sim da graça"(Romanos 6.14). Se considerarmos que os três aspectos da lei de 
Deus apresentados acima são distinções bíblicas, podemos afirmar: 
(a) Não estamos sob a Lei Civil de Israel , mas sob o período da graça de Deus, em que o evangelho atinge 
todos os povos, raças, tribos e nações. 
(b) Não estamos sob a Lei Religiosa de Israel , que apontava para o Messias, foi cumprida em Cristo, e não 
nos prende sob nenhuma de suas ordenanças cerimoniais, uma vez que estamos sob a graça do evangelho de 
Cristo, com acesso direto ao trono, pelo seu Santo Espírito, sem a intermediação dos sacerdotes. 
(c) Não estamos sob a condenação da Lei Moral de Deus , se fomos resgatados pelo seu sangue, e nos 
achamos cobertos por sua graça. Não estamos, portanto, sob a lei, mas sob a graça de Deus, nesses sentidos. 
Entretanto... 
(a) Estamos sob a Lei Moral de Deus , no sentido de que ela continua representando a soma de nossos 
deveres e obrigações para com Deus e para com o nosso semelhante. 
(b) Estamos sob a Lei Moral de Deus , no sentido de que ela, resumida nos Dez Mandamentos, representa o 
caminho traçado por Deus no processo de santif icação efetivado pelo Espírito Santo em nossa pessoa (João 
14.15). Nos dois últimos aspectos, a própria Lei Moral de Deus é uma expressão de sua graça, representando 
a revelação objetiva e proposicional de sua vontade. (10) 
 
 76 
IV. Os Três usos da Lei (11) 
Para esclarecer a função da lei de Deus dada por intermédio de Moisés (12) nas diferentes épocas da 
revelação, Calvino usou a seguinte terminologia: 
A. O Primeiro Uso da Lei: Usus Theologicus 
É a função da lei que revela e torna ainda maior o pecado humano. Segue o ensino de Paulo em Romanos 
3.20 e 5.20: 
...visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno 
conhecimento do pecado. 
Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça.(13) 
Calvino aponta para esse papel da lei diante da realidade do homem caído. Sendo o pecado abundante, 
vivemos no tempo em que a lei exerce o "ministério da morte" (2 Co 3.7) e, por conseguinte, "opera a ira" 
(Rm 4.15). 
Cabe aqui uma nota sobre a terminologia dos reformadores (especialmente Calvino) a respeito da lei. A 
palavra lei é usada em pelo menos dois sentidos distintos, que devem ser entendidos a partir do contexto. Em 
alguns casos o termo lei é usado como um sinônimo de Antigo Testamento, da mesma forma como 
Evangelho é usado como um sinônimo de Novo Testamento. Em outros contextos o termo lei é usado como 
uma categoria especial referente ao seu uso como categoria de comando, um mandamento direto 
expressando a vontade absoluta de Deus sobre alguma coisa, sem promessa. É dessa forma que Calvino 
interpreta a lei em 2 Co 3.7, Rm 4.15 e 8.15. Nesse sentido, o binômio que se confirma é o binômio Lei x 
Evangelho. O mandamento que não traz salvação versus a graça salvadora de Deus. Porém, não podemos 
esquecer que é o próprio Antigo Testamento que nos apresenta a promessa da salvação de Deus, a sua graça 
operante sobre os crentes da antiga dispensação. 
Em Romanos, Paulo aponta para a perfeição da lei, que, se obedecida, seria suficiente para a salvação. 
Porém, nossa natureza carnal confronta-se com a perfeição da lei, e essa, dada para a vida, torna-se em 
ocasião de morte. Uma vez que todos são comprovadamente transgressores da lei, ela cumpre a função de 
revelar a nossa iniqüidade. 
Explicando isso, Calvino comenta: 
Ainda que o pacto da graça se ache contido na lei, não obstante Paulo o remove de lá; porque ao contrastar o 
evangelho com a lei, ele leva em consideração somente o que fora peculiar à lei em si mesma, ou seja, 
ordenança e proibição, refreando assim os transgressores com a ameaça de morte. Ele atribui à lei suas 
próprias qualificações, mediante as quais ela difere do evangelho. Contudo, pode-se preferir a seguinte 
afirmação: "Ele só apresenta a lei no sentido em que Deus, nela, se pactua conosco em relação às obras. (14) 
B. O Segundo Uso da Lei: Usus Civilis 
É a função da lei que restringe o pecado humano, ameaçando com punição as faltas contra ela mesma. (15) É 
certo que essa função da lei não opera nenhuma mudança interior no coração humano, fazendo-o justo ou 
reto ao obedecê-la. A lei opera assim como um freio, refreando "as mãos de uma ação extrema." (16) 
Portanto, pela lei somente o homem não se torna submisso, mas é coagido pela força da lei que se faz 
presente na sociedade comum. É exatamente isto que permite aos seres humanos uma convivência social. 
Vivemos em sociedade para nos proteger uns dos outros. Com o tempo, o homem pode aprender a viver com 
tranqüilidade por causa da lei de Deus que nos restringe do mal. O homem é capaz, por causa da lei de Deus, 
de copiá-la para o seu próprio bem. É até mesmo capaz de criar leis que refletem princípios da justiça de 
Deus. Calvino menciona o texto de 1 Timóteo 1.9-10 para mostrar essa função da lei: 
...tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes 
e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, impuros, sodomitas, raptores de homens, 
mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina... 
 77 
Assim, a lei exerce o papel de coerção para esses transgressores e evita que esse tipo de mal se alastre ainda 
mais amplamente no seio da sociedade humana. Essa ação inibidora da lei cumpre ainda um outro papel 
importante no caso dos eleitos não regenerados. Ela serve como um aio, um condutor a Cristo, como diz 
Paulo em Gálatas 3.24: "...de maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que 
fôssemos justificados por fé." Dessa forma ela serviu à sociedade judia e serve à sociedade humana como um 
todo. Da mesma forma essa lei serve ao eleito ainda não regenerado. Ele, antes da manifestação da sua 
salvação, é ajudado pela lei a não cometer atrocidades, não como uma garantia de que não fará algo terrível, 
mas como uma ajuda, pelo temor da punição. 
C. O Terceiro Uso da Lei 
Esse uso da lei só é válido para os cristãos - ensina-os, a cada dia, qual a vontade de Deus. (17) Segundo o 
texto de Jeremias 31.33, a lei de Deus seria escrita na mente e no coração dos crentes: 
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, 
lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu 
povo. 
Se a lei de Deus está impressa na mente e escrita no coração dos crentes, qual a função da lei escrita por 
Moisés? Ela é realmente necessária? Não basta um coração convertido, amoroso e cheio de compaixão para 
conhecer a vontade de Deus? A "lei do amor" e a consciência do cristão orientado pelo Espírito Santo não 
bastam? Não seria suficiente apenas termos a paz de Cristo como árbitro de nossos corações? (Cl 3.15). 
Creio que não é bem assim. A lei, assim como no Éden, tem ainda um papel orientador para os cristãos. 
Embora eles sejam guiados pelo Espírito de Deus, vivendo e dependendo tão somente da sua maravilhosa 
graça, a "lei é o melhor instrumento mediante o qual melhor aprendam cada dia, e com certeza maior, qual 
seja a vontade de Deus, a que aspiram, e se lhes firme na compreensão." (18) A paz de Cristo como o árbitro 
dos corações só é clara quando conhecemos com clareza a vontade de Deus expressa na sua lei. Deus 
expressa sua vontade na sua lei e essa se torna um prazer para o crente, não uma obrigação. Calvino 
exemplifica com a figura do servo que de todo o coração se empenha em servir o seu senhor, mas que, para 
ainda melhor servi-lo, precisa conhecer e entender mais plenamente aquele a quem serve. Assim, o crente, 
procurando melhor servir ao seu Senhor empenha-se em conhecer a sua vontade revelada de maneira clara e 
objetiva na lei. 
A lei também serve como exortação para o crente. Ainda que convertidos ao Senhor, resta em nós a fraqueza 
da carne,que pode ser, no linguajar de Calvino, chicoteada pela lei, não permitindo que estejamos à mercê da 
inércia da mesma. 
Vejamos alguns exemplos do relacionamento entre o crente do Antigo Testamento e o terceiro uso a lei. 
Primeiramente, podemos observar o prazer do salmista ao falar da lei no Salmo 19.7-14: 
A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. 
Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os 
olhos. 
O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos 
igualmente justos. 
São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o 
destilar dos favos. 
Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa. 
Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. 
Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de 
grande transgressão. 
 78 
As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha 
minha e redentor meu. 
Que princípio de morte opera nessa lei, segundo o salmista? Nenhum. Para o regenerado, o crente no Senhor, 
a lei é prazer, é desejável, inculca temor, restaura a alma e lhe dá sabedoria. Isso de alguma forma parece 
contradizer os ensinos do Novo Testamento. O terceiro uso da lei é claro para o salmista. A lei em si não faz 
nenhuma dessa coisas, mas para o coração regenerado ela traz prazer e alegria. Na lei o salmista reconhece a 
sua rocha, o seu redentor, Jesus Cristo: "rocha minha e redentor meu." 
Observe também o Salmo 119.1-20: 
Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho, que andam na lei do SENHOR. 
Bem-aventurados os que guardam as suas prescrições e o buscam de todo o coração; não praticam iniqüidade 
e andam nos seus caminhos. 
Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca. 
Tomara sejam firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos. 
Então, não terei de que me envergonhar, quando considerar em todos os teus mandamentos. 
Render-te-ei graças com integridade de coração, quando tiver aprendido os teus retos juízos. 
Cumprirei os teus decretos; não me desampares jamais. 
De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra. 
De todo o coração te busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos. 
Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti. 
Bendito és tu, SENHOR; ensina-me os teus preceitos. 
Com os lábios tenho narrado todos os juízos da tua boca. 
Mais me regozijo com o caminho dos teus testemunhos do que com todas as riquezas. 
Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito. 
Terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra. 
Sê generoso para com o teu servo, para que eu viva e observe a tua palavra. 
Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei. 
Sou peregrino na terra; não escondas de mim os teus mandamentos. 
Consumida está a minha alma por desejar, incessantemente, os teus juízos. 
De onde vem esse desejo do salmista pelos juízos de Deus? Da lei que opera sobre o homem natural? 
Certamente que não. Mas para o homem regenerado a lei de Deus se torna objeto de desejo da alma. A lei é 
maravilhosa para aquele que tem os olhos abertos pelo Senhor. Amar a lei de Deus é ensino claro das 
Escrituras para os regenerados. Viver na lei de Deus é bênção para o cristão, para o salvo. Ela é o nosso 
orientador para melhor conhecermos a vontade do nosso Senhor e assim melhor servi-lo. Observe que o viver 
segundo a lei de Deus é considerado uma bem-aventurança, é como ter fome e sede de justiça. 
 79 
Pergunto: O que seria do cristão sem a lei para orientá-lo? Como conheceria ele a vontade de Deus? (essa, 
aliás, é uma das perguntas mais freqüentes entre os crentes no seu dia-a-dia). Ele seria um perdido, 
buscando respostas em seu próprio coração, na igreja, no consenso eclesiástico, na autoridade de alguém que 
considerasse superior. Mas o crente tem a lei de Deus, expressando objetivamente qual é o desejo do Criador 
para a criatura, qual o desejo do Pai para seus filhos. 
Mas essa visão da lei não nos traz de volta ao legalismo? Estamos então novamente debaixo da lei? 
Certamente que não. Para bem entendermos a posição bíblica expressa por Calvino sobre a lei no pacto da 
graça, precisamos entender também como ele relaciona Cristo e a Lei. 
V. Cristo e a Lei 
Precisamos entender que Cristo satisfez e cumpriu a lei de forma plena e completa. Ele não veio revogar a lei. 
Façamos uma breve análise de Mateus 5.17-19: 
Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em 
verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se 
cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos 
homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será 
considerado grande no reino dos céus. 
Alguns pontos interessantes são demonstrados por Jesus nessa passagem: 
(a) Ele veio cumprir a lei e não revogá-la. 
(b) A lei seria cumprida totalmente, em todas as suas exigências e em todas as suas modalidades (moral, 
cerimonial e civil) enquanto houvesse sentido em fazê-lo. 
(c) Aquele que viola a lei pode chegar ao Reino dos Céus! ("aquele que violar...será considerado mínimo no 
reino dos céus.") O sermão do monte é um sermão para crentes e o texto pode ser entendido dessa forma. 
(d) Aquele que cumpre a lei será considerado grande no Reino dos Céus. 
 
Como entender essas conclusões de Jesus com respeito a si mesmo e à Lei? 
(a) Ele veio cumprir a lei e de fato a cumpriu em todas as suas dimensões: cerimonial, civil e moral. Não 
houve qualquer aspecto da lei para o qual Cristo não pudesse atentar e cumprir. Cristo cumpriu a lei de 
forma perfeita, sendo obediente até a própria morte. Ele tomou sobre si a maldição da lei. Ele se torna o 
fundamento da justificação para o eleito. 
(b) Ele não só cumpriu a lei perfeitamente, mas também interpretou a lei de forma perfeita, permitindo aos 
que comprou na cruz, entendê-la de forma mais completa, mais abrangente. 
(c) Os que nele crêem agora também podem cumprir os aspectos necessários da lei para uma vida santa. No 
entanto, esses que por ele são salvos não são mais dependentes da lei para a sua salvação. Por isso há uma 
diferença clara entre os que chegam ao Reino dos Céus: alguns serão considerados maiores do que outros. 
(d) Cristo, ao cumprir a lei, ab-roga a maldição da lei, mas não a sua magisterialidade. (19) A lei continua 
com o seu papel de ensinar ao ser humano a vontade de Deus. A ab-rogação da maldição da lei é aquilo a que 
Paulo se refere em textos como Rm 6.14 e Gl 2.16 - estamos debaixo da graça! A lei continua no seu papel de 
nos ensinar, pela obra do Espírito Santo. Não somos mais condenados pela lei nem servos da mesma. A lei, 
por expressar a vontade de Deus, se nos torna um prazer. 
Johnson resume o material sobre Cristo e a lei no pensamento de Calvino da seguinte forma: 
 80 
O ponto principal, claro, é que Cristo cumpriu a lei em todos os aspectos, seja no vivê-la, no submeter-se à 
maldição da lei para satisfazer a sua exigência de punição dos transgressores, ou restabelecendo sobre outras 
bases a possibilidade de cumprir aquilo que a lei requer. Cristo, em outras palavras, satisfez tudo o que a lei 
exigiu ou pode vir a exigir da humanidade. A justificação que estava associada à lei agora pertence 
completamente a Cristo. (20) 
Portanto, nossa obediência à lei não acontece e não pode acontecer sem Cristo. Tentar viver debaixo da lei, 
sem Cristo, é submeter-se à escravidão. Porém, obedecer à lei com Cristo é prazer e vida. Também, nesse 
sentido, Cristo é o fim dalei! 
Conclusão 
Como fica o aparente paradoxo inicial entre a Lei e Graça? Como corrigir essa visão distorcida? Mais uma vez 
creio que a visão correta da Confissão de Fé pode nos ajudar a entendê-lo: 
Este pacto da graça é freqüentemente apresentado nas Escrituras pelo nome de Testamento, em referência à 
morte de Cristo, o testador, e à perdurável herança, com tudo o que lhe pertence, legada neste pacto. 
Este pacto no tempo da lei não foi administrado como no tempo do Evangelho. Sob a lei foi administrado por 
promessas, profecias, sacrifícios, pela circuncisão, pelo cordeiro pascoal e outros tipos e ordenanças dadas ao 
povo j udeu, prefigurando, tudo, Cristo que havia de vir; por aquele tempo essas coisas, pela operação do 
Espírito Santo, foram suficientes e eficazes para instruir e edificar os eleitos na fé do Messias prometido, por 
quem tinham plena remissão dos pecados e a vida eterna: essa dispensação chama-se o Velho Testamento. 
Sob o Evangelho, quando foi manifestado Cristo, a substância, as ordenanças pelas quais este pacto é 
dispensado são a pregação da palavra e a administração dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor; por 
estas ordenanças, posto que poucas em número e administradas com maior simplicidade e menor glória 
externa, o pacto é manifestado com maior plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas as nações, aos 
judeus bem como aos gentios. É chamado o Novo Testamento. Não há, pois, dois pactos de graça diferentes 
em substância mas um e o mesmo sob várias dispensações (CFW 7.4-6). 
Portanto, ao relacionarmos lei e graça devemos nos lembrar dos diversos aspectos e nuanças que estão 
envolvidos nesses termos. 
Primeiramente, encontramos tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, a graça de Deus. Ele não reserva 
a sua graça somente para o período do Novo Testamento como muitos pensam. Tanto no Antigo quanto no 
Novo Testamento podemos ver Deus agindo graciosamente, salvando aqueles que crêem na promessa do 
Redentor. Assim Abel, Enoque, Noé, Abraão e todos os santos do Antigo Testamento foram remidos. 
Nenhum deles foi salvo por obediência à Lei, ainda que o Senhor requeresse deles, assim como requer de nós, 
que sejamos obedientes. 
Em segundo lugar, a lei opera para vida ou morte no pacto das obras e somente para a morte no pacto da 
graça. No pacto das obras, por mérito, o homem poderia continuar vivo e merecer a "árvore da vida." 
Portanto, pela obediência o homem viveria. No pacto da graça a lei opera para condenação do homem caído. 
Porque o homem já está condenado, ele não pode mais cumprir a lei e ela lhe serve para a morte. 
Por último, o crente se beneficia da lei estando debaixo da obra redentora de Cristo. O mérito de Cristo, 
sendo obediente à lei até as últimas conseqüências, compra-nos o benefício da salvação e a graça de 
conhecermos a vontade de Deus pela sua lei. O único modo de o ser humano ser salvo é submeter-se 
totalmente àquele que, por mérito, compra-lhe a salvação. Ainda aqui o homem é beneficiado pela Lei. Cristo 
a cumpre e declara justificado aquele por quem ele morre. 
Portanto, o nosso gráfico do início deveria ser modificado para refletir a verdade bíblica sobre a Lei e a Graça 
de Deus: 
 
Disp. do Antigo Testamento ------------------ Disp. do Novo Testamento 
 81 
Obras 
Graça - obras como fruto da fé 
Lei Evangelho - obediência à lei como conseqüência 
Lei -justifica na obediência 
Lei - condena o não eleito 
Usus Theologicus 
 
"Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado 
por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele" (João 14.21). 
Notas 
1 Sobre esse assunto, verificar o artigo W. R. Godfrey, "Law and Gospel," em New Dictionary of Theology, 
eds. Sinclair Ferguson e David F. Wright (Leicester: InterVarsity, 1988), 379. 
2 Ibid, 380. 
3 Greg Bahnsen et al., Five Views on Law and Gospel (Grand Rapids: Zondervan, 1996). Os cinco autores são 
Greg Bahnsen, Walter Kaiser Jr., Douglas Moo, Wayne Strickland e Willem VanGemeren. 
4 John Hesselink, "Christ, the Law and the Christian: An Unexplored Aspect of the Third Use of the Law in 
Calvin´s Theology," em B. A. Gerrish, Refomatio Perennis (Pittsburgh: Pickwick Press, 1981), 12. 
5 Calvino usa com certa freqüência a expressão pacto da graça [por exemplo, Comentário à Sagrada 
Escritura: Romanos (São Paulo: Parácletos, 1997), 277; As Institutas, vol. 2, trad. Waldyr Carvalho Luz (São 
Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985), 3.17.15; 4.13.6. (A numeração refere-se ao livro, capítulo e 
parágrafo respectivamente. A citação da página, quando necessária, vem após o parágrafo, separada por 
vírgula). 
6 Adotada como padrão de fé pela Igreja Presbiteriana do Brasil e por várias outras igrejas reformadas no 
mundo. 
7 Ver meu artigo "Uma Breve Introdução ao Estudo do Pacto," Fides Reformata 3.1 (1998), 110-122, 
especialmente 111-112. 
8 Mais detalhes sobre a lei em "Uma Breve Introdução ao Estudo do Pacto (II)," Fides Reformata 4.1 (1999), 
89-102. 
9 F. Solano Portela, "Pena de Morte - Uma Avaliação Teológica e Confessional", publicação eletrônica - 
http://www.ipcb.org.br/publicacoes/pena_de_morte.htm. 
10 Ibid. 
11 Uma discussão muito esclarecedora do assunto se encontra em Merwyn S. Johnson, "Calvin's Handling of 
the Third Use of the Law and Its Problems," Calviniana: Ideas and Influences of Jean Calvin, 10 (1988), 33-
50. 
12 As Institutas, 2.7.1, 109. 
13 Ibid., 2.7.7. 
14 Calvino, Romanos, 277. Parte do comentário de Romanos 8.15. 
15 As Institutas, 2.7.10. 
 82 
16 Ibid., 2.7.10, 119. 
17 Ibid., 2.7.12. 
18 Ibid., 2.7.12, 121 
19 As Institutas, 2.7.14, 123. 
20 Johnson, "Calvin's Handling," 44. 
* Mauro Meister, mestre em Teologia Exegética pelo Convenant Theological Seminary, USA, Doutor em 
Línguas Semíticas, pela Stellembosch University, South África, pastor, é casado com Denise. O casal tem dois 
filhos. 
Este estudo acima é um "aperitivo" de sue Livro Lei e Graça de 112 páginas. Veja mais acessando 
http://www.cep.org.br 
 
O Tríplice uso da Lei 
Sl 19.7-11; Sl 119.9-16; Rm 7.7-25; Rm 8.3,4; 1 Co 7.19; Gl 3.24 
Todo cristão enfrenta a pergunta: "Como as lei do Antigo Testamento se aplicam à minha vida?" As leis do 
Antigo Testamento são irrelevantes para o cristão, ou existe algum aspecto em que ainda estamos presos a 
porções delas? Como a heresia do antinominianismo* tem sido cada vez mais penetrante em nossa cultura, a 
necessidade de se responderem essas questões torna-se cada vez mais urgente. 
A Reforma se fundamentou na graça e não na lei. Mesmo assim, a Lei de Deus não foi repudiada pelos 
reformadores.João Calvino, por exemplo, escreveu o que ficou conhecido como "O tríplece uso da lei", para 
mostrar a importância da lei na vida cristã. 
O primeiro propósito da lei é ser ela um espelho. Por um lado, a lei de Deus reflete a perfeita justiça de 
Deus. A lei nos diz muito sobre quem é Deus. Talvez o mais importante seja que a lei revela a 
pecaminosidade humana. Agostinho escrever: “A lei ordena que, depois de tentarmos fazer o que foi 
ordenado e sentirmos nossa fraqueza debaixo da lei, apelamos a implorar a ajuda da graça". A lei revela 
nossa fraqueza para que busquemos a força que se encontra em Cristo. Neste aspecto a lei funciona como um 
severo inspetor escolar que nos conduz a Cristo. 
O segundo propósito da lei é restringir o mal. A lei, em si e por si mesma não pode mudar o coração 
humano. Ela pode, entretanto, proteger o justo do injusto. Calvino diz que este propósito, "por meio das suas 
temíveis ameaças e o conseqüente medo da punição, a lei restringe aqueles que, se não forem forçados, não 
levam em conta a retidão e a justiça". A lei permite que haja um mínimo de justiça na terra, até que o juízo 
final se concretize. 
O terceiro propósito da lei é revelar o que agrada a Deus. Como filhos de Deus nascidos de novo, a lei nos 
ilumina quanto ao que agrada a nosso Pai, a quem buscamos servir. O cristão tem prazer nalei da mesma 
forma que Deus mesmo se deleita nela. Jesus disse: "Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (Jo 
14.15). Esta é função mais importante da lei: servir como um instrumento para que o povo de Deus lhe dê 
honra e glória. 
Ao estudar ou meditar na lei de Deus, estamos freqüentando a escola da justiça. Aprendemos o que agrada a 
Deus e o que o ofende. A lei moral que Deus revela nas Escrituras nos é sempre obrigatória. Nossa redenção 
é da maldição da lei de Deus e não da obrigação de obedecê-la. Somos justificados não devido à nossa 
obediência à lei, mas para que possamos nos tornar obedientes à lei de Deus. Amar a Cristo é guardar seus 
mandamentos. Amar a Deus é obedecer sua lei. 
*O Antinominianismo é a heresia que diz que o crente não tem qualquer obrigação de obedecer a Lei de 
Deus. Leia mais... 
 83 
Sumário 
 
1. Atualmente a igreja tem sido invadida pelo antinomianismo, o qual enfraquece, rejeita ou distorce a lei de 
Deus. 
2 A lei de Deus reflete sua santidade e nossa injustiça. Serve para nos revelar a necessidade que temos de um 
salvador. 
3 A lei de Deus restringe o pecado. 
4. A lei de Deus revela o que o agrada e o ofende. 
5. O cristão deve amar a lei do Senhor e obedecer suas leis morais. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 3º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro 
em http://www.cep.org.br 
Mérito e Graça 
Jo 15.1-8; Rm 4.1-8; Rm 5.1-5; 2 Co 5.17-19; Ef 2.8,9; Tt 3.4-7 
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, 
para que ninguém se glorie;" (Ef 2.8,9) 
A questão do mérito e da graça é o cerne do debate histórico entre a teologia católica romana e o 
protestantismo. Uma das principais declarações da Reforma foi sola gratia - a salvação é somente pela graça 
de Deus. Os crentes não levam nenhum mérito propriamente diante do tribunal de Deus, mas confiam 
unicamente em sua misericórdia e graça. 
Mérito é definido como aquilo que é devido ou merecido. A justiça exige que o mérito seja dado onde ele é 
merecido. Mérito é algo devido a uma pessoa por seu desempenho. Se não é recebido, uma injustiça é 
cometida. 
A teologia católica romana fala três tipos distintos de mérito. Fala de mérito condigno, o qual é tão meritório 
que impõe uma obrigação de recompensa. Fala também de mérito congruente, o qual, embora não seja tão 
elevado como o mérito condigno, contudo é "apropriado ou congruente" para Deus recompensá-lo. O mérito 
congruente é alcançado pela prática das boas obras, em conjunção com o sacramento de penitência. O 
terceiro tipo de mérito é o super-rogatório, que é o mérito acima e além do chamado para dever. É o mérito 
excessivo conquistado pelos santos. Este mérito é depositado no tesouro do qual a Igreja pode tirar para 
aplicar na conta daqueles que não têm mérito suficiente para progredir do purgatório para o céu. 
A teologia protestante nega e "protesta" contra todas essas três formas de méritos, declarando que o único 
mérito que temos à nossa disposição é o mérito de Cristo, o qual chega até nós pela graça, por meio da fé. A 
graça é o favor não merecido de Deus. É uma ação ou disposição de Deus em nosso favor. Graça não é uma 
substância que pode habitar nossas almas. Crescemos na graça, não por uma medida quantitativa de alguma 
substância dentro de nós, mas pela assistência misericordiosa do Espírito Santo que nos habita, o qual age 
graciosamente em nosso favor e sobre nós. Os meios de graça que Deus dá para nos assistir na vida cristã 
incluem as Escrituras, as ordenanças, a oração, a comunhão e o nutrição da igreja. 
Sumário 
1. Nossa salvação é sola gratia - somente pela graça. 
2. Não temos nenhum mérito pelo qual Deus seja obrigado a nos salvar. 
 84 
3. A teologia católica romana faz distinção entre mérito condigno, congruente e super-rogatório. Todos o três 
são rejeitados pelos protestantes. 
4. Graça é o favor ou a misericórdia de Deus em nosso favor, que não merecemos. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro 
em http://www.cep.org.br 
A Fé e as Obras 
Rm 3.9 - 4.8; Fp 2.12,13; Tg 2.18-24; 2 Pe 1.5-11; 1 Jo 2.3-6; 1 Jo 4.7-11 
Muitas pessoas supõem que ao tentar viver uma vida boa, já fizeram tudo o que é necessário para obterem o 
céu. Põe sua confiança nas boas obras que fazem com o fim de satisfazer as demandas da justiça de Deus. 
Esta é uma esperança fútil. A Lei de Deus requer perfeição. Visto que não somos perfeitos, não temos a 
bondade necessária para entrarmos no céu. Desta maneira, nunca podemos sentir-nos realizados vivendo 
uma vida boa. Só podemos concretizá-lo confiando ma justiça de Cristo. Seu mérito é perfeito e é colocado à 
nossa disposição por meio da fé. 
Crer que somos justificados por nossas boas obras à parte da fé e abraçar a heresia do legalismo. Crer que 
somos justificado por um tipo de fé que não produz obras é abraçar a heresia do antinominianismo. 
A relação de fé e boas obras não acrescentam nenhum mérito à nossa fé diante de Deus e apesar da única 
condição de nossa justificação ser nossa fé em Jesus Cristo, se as boas obras não seguem nossa profissão de 
fé, isto é uma clara indicação de que não possuímos a fé que justifica. A fórmula da Reforma ´´e: "Somos 
justificados só pela fé, mas não por uma fé que está só". A verdadeira justificação sempre resulta no processo 
da santificação. Se há justificação, a santificação inevitavelmente se seguirá. Se a santificação não resulta, é 
certo que a justificação não se fez realmente presente. Isso não significa que a justificação dependa ou se 
apóia na santificação. A justificação depende da verdadeira fé, a qual por sua vez inevitavelmente conduz às 
obras de obediência. 
Quando Tiago declara que a fé sem obras é morta, está dizendo que tal "fé" não pode justificar ninguém, 
porque não é viva. A fé viva produz boas obras, mas essas boas obras são a base da justificação. Somente o 
mérito conquistado por Jesus Cristo pode justificar o pecador. 
É um grande erro e de fato uma forma moderna da heresia do antinominianismo sugerir que uma pessoa 
pode justificada aceitando Jesus como Salvado, mas não como Senhor. A verdadeira fé aceita Cristo como 
Salvador e Senhor. Confiar só em Cristo para a salvação é reconhecer a total dependência dele e arrepender-
se dos pecados. Arrepender-nos dos pecados significa submeter-nos à autoridade de Cristo. Negar seu 
senhorio é buscar justificação com uma fé impenitente, a qual na verdade não é fé. 
Embora nossa boas obras não no proporcionem salvação, elas são a base sobre a qual Deus promete 
distribuir recompensas no céu. Nossa entrada no Reino de Deus é pela fé somente. Nossa recompensa no 
Reino será de acordo com nossa boas obras, as quais são, conforme disse Agostinho, um caso de graciosa 
coroação de Deus de seus próprios dons. 
Sumário 
1. Ninguém pode ser justificado por boas obras.Somente por meio da fé em Cristo podemos ser justificados. 
2. Fé e boas obras devem ser distinguidas, mas nunca separadas. A verdadeira fé sempre produz obras de 
obediência. 
3. A justificação é só pela fé, mas não por uma fé que está só. 
4. A fé morta não pode justificar. 
 85 
5. Fé em Cristo significa confiar nele como Salvador e submeter-se a ele como Senhor. 
6. Seremos recompensados no céu de acordo com nossa boas obras, embora esta recompensa seja uma obra 
de graça. 
Obras = Justificação - Falso 
Fé + Obra = Falso 
Fé = Justificação - Obras - Falso 
Fé = Justificação + Obras - Verdadeiro 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este Livro 
em http://www.cep.org.br 
A LIBERDADE 
Liberdade 
A SALVAÇÃO TRAZ LIBERDADE 
“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. 
Permanecerei, pois, firmes e não vos submetais 
de novo a jugo de escravidão”. Gálatas 5.1 
O Novo Testamentovê a salvação em Cristo como libertação e a vida cristã como vida de liberdade _ Cristo 
nos libertou para a liberdade (Gl 5.1; Jo 8.32,36). A ação libertadora de Cristo não é uma questão de 
desenvolvimento sócio-político-econômico, como algumas vezes se insinua atualmente, mas diz respeito aos 
três pontos seguintes: 
Primeiro, os cristãos foram libertados da lei como sistema de salvação. Sendo justificados pela fé em Cristo, 
eles não mais estão sob a lei de Deus, mas debaixo da graça (Rm 3.19; 6.14,15; Gl 3.23-25). Isto significa que 
sua posição perante Deus (a “paz” e o “acesso” de Rm 5.1,2) repousa totalmente no fato de terem sido aceitos 
e adotados em Cristo. Isto não depende e jamais dependerá do que eles fazem; e nunca estará sujeito a risco 
pelo que eles deixarem de fazer. Eles vivem, e enquanto estiverem neste mundo viverão, não por serem 
perfeitos, mas por serem perdoados. 
 
Toda religião natural, portanto, é negada, porque o instinto natural do homem pecador, expresso em todas as 
formas de religião que o mundo já imaginou, é supor que se alcança e mantém uma relação justa com a 
realidade suprema (seja ela concebida como um Deus pessoal ou em outros termos) por disciplinas de 
observância à lei, ritual correto e ascetismo. É assim que as crenças que há no mundo preceituam a 
instituição de sua própria justiça _ a mesma coisa que Paulo viu os judeus não-crentes tentando fazer (Rm 
10.3). A experiência de Paulo ensinou-lhe que esta é uma iniciativa frustrante. Nenhum desempenho humano 
é suficientemente bom, pis sempre há desejos errados no coração, além da falta de impulsos exteriores do 
indivíduo (Rm 7.7-11; cf Fp 3.6), e é primeiro para o coração que Deus olha. 
 
Tudo o que a lei pode fazer é caracterizar, expor e condenar o pecado que permeia nossa estrutura moral, e 
assim nos tornar cônscios de sua realidade, profundidade e culpa (Rm 3.19; 1 Co 15.56; Gl 3.10). Portanto, a 
futilidade de tratar a lei como um pacto de obras, e procurar a justiça por meio dela, torna-se evidente (Gl 
3.10-12; 4.21-31), como a penúria de não saber o que mais fazer. Este é o julgo da lei de que Cristo nos liberta. 
 
Segundo, os cristãos foram libertados da escravidão do pecado (Jo 8.34-36; Rm 6.14-23). Eles foram 
regenerados de forma sobrenatural e tornados vivos para Deus mediante a união com Cristo em sua morte e 
vida ressurreta (Rm 6.3-11), e isto significa que agora o desejo mais profundo de seu coração é servir a Deus 
pela prática da justiça (Rm 6.18,22). O domínio do pecado envolveu não somente atos constantes de 
desobediência, mas também uma falta constante de zelo na observância da lei, suscitando às vezes 
ressentimento e ódio para com a lei. Agora, porém, sendo mudados no coração, motivados pela gratidão para 
 86 
a aceitação por meio da livre graça, e animados pelo Espírito Santo, eles servem “em novidade de espírito e 
não na caducidade da letra” (Rm 7.6). Isto significa que seus esforços para obedecer são agora alegres e 
integrados de uma forma que não era verdadeira antes. O pecado não os governa mais. Neste sentido, 
também, foram libertados da escravidão. 
 
Terceiro, os cristãos foram libertados da superstição que trata a matéria e o prazer físico como 
intrinsicamente maus. Contra esta idéia, Paulo insiste que os cristãos são livres para desfrutar como dádivas 
de Deus todas as coisas criadas e os prazeres que elas proporcionam (1 Tm 4.1-5), contanto somente que não 
transgridam a lei moral em seus prazeres ou estorvem seu próprio bem-estar ou de outrem (1 Co 6.12,13; 8.7-
13). Os Reformadores reiteraram esta ênfase contra várias formas de legalismo medieval. 
Autor: J. I. Packer 
Fonte: Teologia Concisa, Ed. Cultura Crista. Compre este livro em http://www.cep.org.br 
A RESSURREIÇÃO FINAL E A GLORIFICAÇÃO 
A Ressurreição Final 
Rm 8.11; 1 Co 2.9; 1 Co 15.1-58; Fp 3.20,21; 1 Ts 4.13-18 
Uma pergunta cuja resposta todo crente gostaria de saber é como será nossa aparência no céu. Seremos 
capazes de reconhecer nossos entes queridos? Nossos corpos ressurretos terão as características de ancião ou 
de jovem? 
Muitas dessas questões permanecem um mistério para nós. A Bíblia só fornece pequenas pistas dessas 
respostas. Sabemos que qualquer que seja nosso estado depois da ressurreição, excederá muitíssimo às 
nossa mais elevadas expectativas atuais. A Bíblia diz: "... As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, 
E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam." (1 Co 2.9). Paulo 
nos diz que nos presente "Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; 
agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido." (1 Co 13.12). 
A Bíblia ensina claramente uma ressurreição final dos corpos dos santos. A ressurreição de Jesus é declarada 
ser as primícias daqueles que também participarão desta ressurreição. 
Há uma continuidade entre o corpo terreno que morre e o corpo ressurreto que nos será dado. Nossos corpos 
atuais são corruptíveis e de fato sofrerão decomposição, ou em alguns casos serão despedaçados ou 
fragmentados na morte. Entretanto, assim como Jesus retornou da sepultura com o mesmo corpo, embora 
transformado, assim nossos corpos ressuscitarão, ainda que transformados. Um corpo pode mudar seu 
estado sem com isso mudar sua identidade. 
Todo corpo ressurreto será completo tanto em quantidade quanto em qualidade. Nada estará faltando, 
embora muito terá sido acrescentado. Seremos reconhecíveis em nossos corpos ressurretos. Não sabemos 
como isso será feito pelo poder de Deus - só sabemos que será feito. 
Nossos novos corpos serão especialmente adaptados à vida eterna no Reino de Deus. Nossos corpos atuais 
não são assim adaptados. Qualquer mudança que seja necessária será feita pelo poder de Deus. Sabemos que 
nossos corpos ressurretos ainda serão humanos e finitos. Não seremos deificados. Nossos novos corpos serão 
incorruptíveis - sem degeneração, enfermidade, dor ou morte. Haverá um acréscimo de poder aos nossos 
corpos atuais, quando ressuscitarem em honra, poder e glória. Nossos corpos serão como o corpo glorificado 
de Jesus. 
O novo corpo do santo será um corpo espiritual e celestial. Será adaptado para uma ordem de vida mais 
elevada, talvez brilhante e radiante em seu semblante, não muito diferente de Cristo em sua transfiguração. 
Sumário 
1. Nosso estado futuro na ressurreição do corpo está envolto em mistério. 
2.Haverá uma continuidade entre nosso corpo atual e nosso corpo ressurreto. 
 87 
3. Seremos capazes de reconhecer uns aos outros no céu. 
4. Nosso novo corpo será apropriado e adaptado para a vida celestial. 
Autor: R. C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro 
em http://www.cep.org.br 
A Glorificação 
Jo 17.13-23; Rm 3.29-30; 1 Co 15.50-54; 2 Co 3.18 
Lembro-me de um momento crucial antes de um jogo do campeonato de basquetebol do colégio quando eu e 
os outros jogadores do time nos reunimos para ouvir as últimas instruções do técnico. Tentando nos inspirar 
para a vitória, o técnico disse: "Garotos, este é o momento pelo qual temos trabalhado. Agora vão lá e 
cubram-se de glória". Nós obedecemos. Vencemos o cobiçado campeonato e nos expusemos alegremente à 
glória. Esse tipo de glória, porém, é muito passageiro. Uma nova busca por ele começa com o início da cada 
temporada ou de cada campeonato. 
Há uma glória maior, permanente e muito mais satisfatória que aguarda ps santos no final de sua 
peregrinação espiritual. É o que a Bíblia chama de "glorificação" - é a apoteose do processo da redenção, 
segundo a "corrente áureas" de Paulo. 
"Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a 
fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e 
aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou." Rm 8.29,30 
A doutrina da glorificaçãorefere-se àquele tempo quando, na segunda vinda de Cristo, os verdadeiros 
crentes, tanto os vivos quantos os mortos, terão a redenção plena e final de seus corpos e atingirão seu estado 
final. A salvação dos eleitos estará completa. Conforme Paulo escreveu aos Coríntios "é necessário que este 
corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade" (1 Co 
15.53). Finalmente, a morte, o último inimigo, será tragada pela vitória. O processo de santificação alcançará 
seu objetivo. 
A glorificação, pois, é a grande esperança do crente para o futuro. Deus corrigirá todas as coisas e as manterá 
assim por toda a eternidade. A glorificação, porém, é um conforto também no presente. Neste mundo 
corrupto, onde experimentamos o pecado dentro e fora de nós, há conforto e saber que Deus já está agindo, 
desde agora, para purificar seus santos, preparando-os para a glória futura. O crente, em certo sentido, já 
está glorificado, selado para a eternidade, sendo para sempre um filho de Deus. 
Sumário 
1. A glorificação é o ponto final da Salvação. 
2. A glorificação completará nossa santificação 
3. A promessa da futura glorificação nos traz conforto e inspiração no presente. 
Autor: R.C. Sproul 
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre em 
http://www.cep.org.br 
 
 
 
 
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De tudo que aqui aprendemos podemos fazer a seguinte confissão: 
Capítulos 8 e 20: DA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
CAPÍTULO 8: DE CRISTO, O MEDIADOR 
1. Aprouve a Deus, em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser 
o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de sua Igreja, o Herdeiro 
de todas as coisas e o Juiz do mundo; e deu-lhe, desde toda a eternidade, um povo para ser sua semente, e 
para, no tempo devido, ser por ele remido, chamado, justificado, santificado e glorificado. 
2. O Filho de Deus, a segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância do 
Pai e igual a ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana com todas as 
suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo sem pecado, sendo concebido pelo poder do 
Espírito Santo no ventre da Virgem Maria, e da substância dela. As duas naturezas inteiras, perfeitas e 
distintas - a Divindade e a Humanidade - foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, 
verdadeiro homem, porém um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem. 
3. O Senhor Jesus, em sua natureza humana unida à divina, foi santificado e sem medida ungido com o 
Espírito Santo, tendo em si todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Aprouve ao Pai que nele habitasse 
toda a plenitude, a fim de que, sendo santo, inocente, incontaminado e cheio de graça e verdade, estivesse 
perfeitamente preparado para exercer o ofício de Mediador e Fiador. Este ofício ele não tomou para si, mas 
para ele foi chamado pelo Pai, que lhe pôs nas mãos todo o poder e todo o juízo, e lhe ordenou que os 
exercesse. 
4. Este ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente. Para que pudesse exercê-lo, ele se fez sujeito 
à lei, a qual cumpriu perfeitamente, padeceu imediatamente em sua alma os mais cruéis tormentos, e em seu 
corpo, os mais penosos sofrimentos; foi sepultado e ficou sob o poder da morte, mas não viu a corrupção; ao 
terceiro dia ressuscitou dois mortos, com esse corpo subiu ao céu, onde está sentado à destra do Pai, fazendo 
intercessão; de lá voltará no fim do mundo para julgar os homens e os anjos. 
5. O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo, sacrifício que, pelo Eterno 
Espírito, ofereceu a Deus uma só vez, satisfez plenamente à justiça de seu Pai, e, para todos aqueles que o Pai 
lhe deu, adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança perdurável no Reino dos Céus. 
6. Ainda que a obra da redenção não fora realmente realizada por Cristo senão depois de sua encarnação, 
contudo a virtude, a eficácia e os benefícios dela, em todas as épocas sucessivas desde o princípio do mundo 
foram comunicados aos eleitos por meio das promessas, tipos e sacrifícios, pelos quais ele devia esmagar a 
cabeça da serpente, como o cordeiro morto desde o princípio do mundo, sendo ele o mesmo ontem, hoje e 
para sempre. 
7. Cristo, na obra de mediação, age de conformidade com as suas duas naturezas, fazendo cada uma o que lhe 
é próprio; contudo, em razão da unidade de uma pessoa, o que é próprio de uma natureza é, às vezes, nas 
Escrituras, atribuído à pessoa denominada pela outra natureza. 
8. Cristo, com toda certeza e de forma eficaz, aplica e comunica a salvação a todos aqueles para quem a 
adquiriu. Isto ele consegue, fazendo intercessão por eles e revelando-lhes na Palavra e pela Palavra os 
mistérios da salvação, persuadindo-os, eficazmente, pelo seu Espírito, subjugando todos os seus inimigos por 
meio de sua onipotência e sabedoria, da maneira e pelos meios mais condizentes com a sua admirável e 
inescrutável dispensação. 
CAPÍTULO 9: DO LIVRE-ARBÍTRIO 
1. Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o 
mal, nem a isso é determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza. 
2. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e 
agradável a Deus; mas era passível de mudança, de sorte que pudesse cair dessa liberdade e poder. 
3. O homem, ao cair no estado de pecado, perdeu inteiramente todo o poder de vontade quanto a qualquer 
bem espiritual que acompanhe a salvação; de sorte que um homem natural, inteiramente contrário a esse 
bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso. 
4. Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta de sua natural 
escravidão ao pecado e, somente por sua graça, o habilita a querer e a fazer com toda a liberdade o que é 
espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da corrupção ainda existente nele, o pecador não 
faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau. 
5. É no estado de glória que a vontade do homem se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só. 
CAPÍTULO 10: DA VOCAÇÃO EFICAZ 
1. Todos aqueles a quem Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido chamar eficazmente pela sua 
Palavra e pelo seu Espírito, no tempo por ele determinado e aceito, tirando-os daquele estado de pecado e 
 89 
morte em que estão por natureza para a graça e salvação, em Jesus Cristo. Isto ele o faz, iluminando os seus 
entendimentos, espiritual e salvificamente, a fim de compreenderem as coisas de Deus, tirando-lhes os seus 
corações de pedra e dando-lhes corações de carne, renovando as suas vontades e determinando-as, pela sua 
onipotência, para aquilo que é bom, e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm 
mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça. 
2. Esta vocação eficaz provém unicamente da livre e especial graça de Deus, e não de qualquer coisa prevista 
no homem; nesta vocação, o homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito 
Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a graça nela oferecida e comunicada. 
3. As crianças eleitas que morrem na infância são regeneradas e salvas por Cristo por meio do Espírito que 
opera quando, onde e como lhe apraz. Do mesmo modo são salvas todas as outras pessoas eleitas incapazes 
de serem exteriormente chamadas pelo ministério da palavra. 
4. Os não eleitos, ainda que chamados pelo ministério da Palavra e tenham algumas das operações comuns 
do Espírito, contudo jamais chegam a Cristo e, portanto, não podem ser salvos; muito menos poderão ser 
salvos por qualquer outro meio os que não professam a religião cristã, por mais diligentes que sejam em 
padronizar suas vidas deacordo com a luz da natureza e com a lei da religião que professam; asseverar e 
manter que o podem é muito pernicioso e detestável. 
CAPÍTULO 11: DA JUSTIFICAÇÃO 
1. Os que Deus chama eficazmente, também livremente justifica. Esta justificação não consiste em Deus 
infundir neles a justiça, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitá-los como justos. Deus não 
os justifica em razão de qualquer coisa neles operada ou por eles feita mas somente em consideração à obra 
de Cristo; não lhes imputando como justiça à própria fé, o ato de crer, ou qualquer outro ato de obediência 
evangélica, mas imputando-lhes a obediência e a satisfação de Cristo, quando eles o recebem e se firmam 
nele pela fé, fé esta que possuem não como oriunda de si mesmos, mas como dom de Deus. 
2. A fé, assim recebendo e assim repousando em Cristo e em sua justiça, é o único instrumento da 
justificação; contudo, não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre acompanhada de todas as demais 
graças salvíficas; não é uma fé morta, mas a fé que age através do amor. 
3. Cristo, por meio de sua obediência e morte, pagou plenamente a dívida de todos que são assim justificados, 
e, em favor deles, fez à justiça de seu Pai uma satisfação própria, real e plena. Contudo, como Cristo foi pelo 
Pai dado em favor deles, e como a obediência e a satisfação dele foram aceitas em lugar deles, ambas 
livremente e não por nada que neles existe, a justificação deles provém unicamente da livre graça, a fim de 
que tanto a perfeita justiça como a graça abundante de Deus possam ser glorificadas na justificação dos 
pecadores. 
4. Deus, desde toda a eternidade, decretou justificar todos os eleitos; e Cristo, no cumprimento do tempo, 
morreu pelos pecados deles e ressuscitou para a justificação deles; contudo, eles não são justificados até que 
o Espírito Santo, no tempo próprio e de fato, comunica-lhes Cristo. 
5. Deus continua a perdoar os pecados dos que são justificados. Embora eles nunca possam cair do estado de 
justificação, poderão, contudo, por seus pecados, incorrer no paternal desagrado de Deus e ficar privados da 
luz de sua graça, até que se humilhem, confessem os seus pecados, peçam perdão e renovem a sua fé e o seu 
arrependimento. 
6. A justificação dos crentes sob o Antigo Testamento era, em todos estes aspectos, uma e a mesma 
justificação dos crentes sob o Novo Testamento. 
CAPÍTULO 12: DA ADOÇÃO 
1. A todos os que são justificados, Deus se digna fazer participantes da graça da adoração em e por seu único 
Filho Jesus Cristo. Por essa graça, eles são recebidos no número e gozam a liberdade e privilégios dos filhos 
de Deus, têm sobre si o nome dele, recebem o Espírito de adoração, têm acesso, com ousadia, ao trono da 
graça, e são habilitados e clamam: “Aba, Pai”; são tratados com piedade, protegidos, providos e corrigidos 
por ele, como por um Pai; nunca, porém, abandonados, mas selados para o dia da redenção, e recebem as 
promessas como herdeiros da eterna salvação. 
CAPÍTULO 13: DA SANTIFICAÇÃO 
1. Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo sido criado neles um novo coração e um novo 
Espírito, são, além disso, santificados, real e pessoalmente, pela virtude da morte e ressurreição de Cristo, 
por sua Palavra e por seu Espírito, que neles habita; o domínio de todo o corpo do pecado é destruído, as suas 
várias concupiscências são mais e mais enfraquecidas e mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e 
fortalecidos em todas as graças salvadoras, para a prática da verdadeira santidade sem a qual ninguém verá o 
Senhor. 
2. Esta santificação é no homem todo, porém imperfeita nesta vida; ainda subsiste em todas as partes dele 
restos da corrupção, e daí nasceu uma guerra contínua e irreconciliável: a carne lutando contra o Espírito, e o 
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Espírito contra a carne. 
3. Nesta guerra, embora prevaleçam por algum tempo as corrupções que restam, contudo, pelo contínuo 
socorro da eficácia do santificador Espírito de Cristo, à parte regenerada conquista a vitória, e assim os 
santos crescem em graça, aperfeiçoando a sua santidade no temor de Deus. 
CAPÍTULO 14: DA FÉ SALVADORA 
1. A graça da fé, por meio da qual os eleitos são habilitados a crer para a salvação das suas almas, é a obra que 
o Espírito de Cristo faz nos corações deles, e é sempre operada pelo ministério da Palavra, por esse 
ministério, bem como pela administração dos sacramentos e pela oração, ela é aumentada e fortalecida. 
2. Por esta fé o cristão, segundo a autoridade do mesmo Deus que fala em sua Palavra, crê ser verdade tudo 
quanto nela é revelado, e age de conformidade com aquilo que cada passagem contém em particular, 
prestando obediência aos mandamentos, temendo as ameaças e abraçando as promessas de Deus para esta 
vida e para a futura; porém, os principais atos de fé salvadora são: aceitar e receber Cristo e descansar só nele 
para a justificação, santificação e vida eterna, isto em virtude do pacto da graça. 
3. Esta fé é de diferentes graus: é fraca ou forte, pode ser muitas vezes e de muitos modos assaltada e 
enfraquecida, mas sempre alcança a vitória, desenvolvendo-se em muitos até à plena segurança em Cristo, 
que é tanto o Autor como Consumador da fé. 
CAPÍTULO 15: DO ARREPENDIMENTO PARA A VIDA 
1. O arrependimento para a vida é uma graça evangélica, doutrina esta que deve ser pregada por todo 
ministro do Evangelho, tanto quanto a fé de Cristo. 
2. Movido pelo reconhecimento e sentimento, não só do perigo, mas da impureza e odiosidade de seus 
pecados, como contrários à santa natureza e justa lei de Deus, e se conscientizando da misericórdia divina 
manifesta em Cristo aos que são penitentes, o pecador, pelo arrependimento, de tal maneira sente e aborrece 
os seus pecados que, deixando-os, se volta para Deus, tencionando e procurando andar com ele em todos os 
caminhos de seus mandamentos. 
3. Ainda que não devamos confiar no arrependimento como sendo de algum modo uma satisfação pelo 
pecado, ou em qualquer sentido a causa do perdão dele, o que é ato da livre graça de Deus em Cristo, contudo 
ele é de tal modo necessário aos pecadores, que sem ele ninguém poderá esperar o perdão. 
4. Assim como não há pecado tão pequeno que não mereça a condenação, também não há pecado tão grande 
que possa trazer a condenação sobre os que se arrependem verdadeiramente. 
5. Os homens não devem se contentar com um arrependimento geral, mas é dever de todos procurar 
arrepender-se particularmente de cada um dos seus pecados. 
6. Assim como cada homem é obrigado a fazer a Deus confissão particular de seus pecados pedindo-lhe o 
perdão deles, e abandonando-os, achará misericórdia; também aquele que escandaliza o seu irmão ou a 
Igreja de Cristo deve estar pronto, por meio de uma confissão particular ou pública de seu pecado e do pesar 
que por ele sente, a declarar o seu arrependimento aos que estão ofendidos; isto feito, estes devem 
reconciliar-se com o penitente e recebê-lo em amor. 
CAPÍTULO 16: DAS BOAS OBRAS 
1. As boas obras são somente aquelas que Deus ordena em sua santa Palavra, não as que, sem a autoridade 
dela, são aconselhadas pelos homens movidos por um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de boa 
intenção. 
2. Estas boas obras feitas em obediência aos mandamentos de Deus são o fruto e as evidências de uma fé viva 
e verdadeira; por elas os crentes manifestam a sua gratidão, robustecem a sua confiança, edificam os seus 
irmãos, adornam a profissão do Evangelho, fecham a boca aos adversários e glorificam a Deus, de quem são 
feitura, criados em Jesus Cristo para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto em santidade, tenham no 
final a vida eterna. 
3. A capacidade de fazer boas obras de modo algum provém dos crentes, mas inteiramente do Espírito Santo 
para operar neles tanto o querer como o realizar segundo o seu beneplácito; contudo, não devem, por isso, 
tornar-se negligentes, como se não fossem obrigados a cumprir qualquer dever senão quando movidos 
especialmentepelo Espírito; pelo contrário, devem esforçar-se por dinamizar a graça de Deus que neles está. 
4. Os que alcançam, pela sua obediência, a maior perfeição possível nesta vida estão longe de exceder as suas 
obrigações e fazer mais do que Deus requer, e são deficientes em muitos dos deveres obrigados a fazer. 
5. Não podemos, pelas nossas melhores obras, merecer das mãos de Deus perdão de pecado ou vida eterna, 
em razão da grande desproporção que há entre elas e a glória por vir, e da infinita distância que existe entre 
nós e Deus, a quem não podemos ser úteis por meio delas, nem saldar a dívida dos nossos pecados 
anteriores; e porque, como boas, procedem de seu Espírito; e, como nossas, são impuras e misturadas com 
tanta fraqueza e imperfeição, que não podemos suportar a severidade do juízo de Deus; assim, depois que 
tivermos feito tudo quanto podemos, temos cumprido tão somente o nosso dever, e somos servos inúteis. 
 91 
6. Não obstante, as pessoas dos crentes sendo aceitas por meio de Cristo, suas obras são também aceitas por 
ele, não como se fossem, nesta vida, inteiramente perfeitas e irreprováveis à vista de Deus, mas porque Deus, 
considerando-as em seu Filho, é servido aceitar e recompensar aquilo que é sincero, embora seja 
acompanhado de muitas fraquezas e imperfeições. 
7. As obras feitas pelos não regenerados, embora sejam, quanto à matéria, coisas que Deus ordena, e úteis 
tanto a eles mesmos quanto aos outros, contudo, porque procedem de corações não purificados pela fé, não 
são feitas devidamente segundo a Palavra; nem para um fim justo a glória é de Deus; são, portanto, 
pecaminosas e não podem agradar a Deus, nem preparar o homem para receber a graça de Deus; não 
obstante, o negligenciá-las é ainda mais pecaminoso e ofensivo a Deus. 
CAPÍTULO 17: DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS 
1. Os que Deus aceitou em seu Amado, eficazmente chamados e santificados pelo seu Espírito, não podem 
cair do estado de graça, nem total nem finalmente; mas com toda a certeza hão de perseverar nesse estado 
até ao fim, e estarão eternamente salvos. 
2. Esta perseverança dos santos depende, não do próprio livre-arbítrio deles, mas da imutabilidade do 
decreto da eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do mérito e intercessão de 
Jesus Cristo, da permanência do Espírito e da semente de Deus neles, da natureza do pacto da graça e de 
tudo o que gera também a sua exatidão e infalibilidade. 
3. Eles, porém, pelas tentações de Satanás e do mundo, pelo predomínio da corrupção restante deles e pela 
negligência dos meios de sua preservação, podem cair em graves pecados e, por algum tempo, continuar 
neles; incorrem, assim, no desagrado de Deus, entristecem o seu Santo Espírito e, em alguma medida, vêm a 
ser privados de suas graças e confortos; têm seus corações endurecidos e suas consciências feridas; 
prejudicam e escandalizam os outros e atraem sobre si juízos temporais. 
CAPÍTULO 18: DA CERTEZA DA GRAÇA E DA SALVAÇÃO 
1. Ainda que os hipócritas e os demais não regenerados possam iludir-se em vão com falsas esperanças e com 
a carnal presunção de se acharem no favor de Deus e em estado de salvação, esperança essa que perecerá, 
contudo os que verdadeiramente crêem no Senhor Jesus e o amam com sinceridade, procurando andar 
diante dele em toda a boa consciência, podem nesta vida certificar-se de se acharem em estado de graça, e 
podem regozijar-se na esperança da glória de Deus, esperança que jamais os envergonhará. 
2. Esta certeza não é uma simples persuasão conjectural e provável, fundada numa esperança falha, mas uma 
segurança infalível da fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação, na evidência interna 
daquelas graças nas quais essas promessas são feitas, no testemunho do Espírito de adoção que testifica com 
o nosso espírito que somos filhos de Deus, sendo esse Espírito o penhor de nossa herança, e por meio de 
quem somos selados para o dia da redenção. 
3. Esta segurança infalível não pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de 
possuí-la não tenha de esperar muito e de lutar com muitas dificuldades; contudo, sendo pelo Espírito 
capacitado a conhecer as coisas que lhe são livremente dadas por Deus, ele pode obtê-la sem revelação 
extraordinária, no devido uso dos meios comuns. É, pois, dever de cada um ser diligente e tornar certas sua 
vocação e eleição, a fim de que, por esse modo, seja o seu coração, no Espírito Santo, dilatado em paz e em 
deleite, em amor e em gratidão para com Deus, no vigor e na alegria, nos deveres da obediência que são os 
frutos próprios desta segurança. Longe esteja isto de predispor os homens à negligência. 
4. Os verdadeiros crentes podem ter, de diversas maneiras, a segurança de sua salvação abalada, diminuída e 
tornada intermitente, negligenciando a conservação dela, caindo em algum pecado especial que fira a 
consciência e entristeça o Espírito Santo, cedendo a fortes e repentinas tentações, retirando Deus a luz de seu 
rosto e permitindo que andem em trevas e não tenham luz mesmo os que o temem; contudo, eles nunca 
ficam inteiramente privados daquela semente de Deus e da vida da fé, daquele amor a Cristo e aos irmãos, 
daquela sinceridade de coração e consciência do dever; daí, a certeza da salvação poderá, no tempo próprio, 
ser restaurada pela operação do Espírito, e por meio dessas bênçãos são sustentados para não caírem em 
total desespero. 
CAPÍTULO 19: DA LEI DE DEUS 
1. Deus outorgou a Adão uma lei, como um pacto de obras. Por este pacto Deus o obrigou, bem como a toda a 
sua posteridade, a uma obediência pessoal, plena, exata e perpétua; prometeu-lhe a vida sob a condição de 
ele cumprir a lei, e o ameaçou com a morte caso a violasse, e dotou-o com poder e capacidade para guardá-la. 
2. Essa lei, depois da queda do homem, continua sendo uma perfeita regra de justiça. Como tal, foi por Deus 
entregue no monte Sinai em dez mandamentos e escrita em duas tábuas de pedra; os primeiros quatro 
mandamentos contêm os nossos deveres para com Deus; e os outros seis, os nossos deveres para com o 
homem. 
3. Além dessa lei, geralmente chamada lei moral, quis Deus dar ao seu povo Israel, considerado uma igreja 
 92 
sob sua tutela, leis cerimoniais que contêm diversas ordenanças típicas. Essas leis, que em parte se referem 
ao culto e prefiguram Cristo, suas graças, seus atos, seus sofrimentos e seus benefícios, e em parte 
representam várias instruções de deveres morais, estão todas abolidas sob o Novo Testamento. 
4. A esse mesmo povo, considerado um corpo político, Deus concedeu diversas leis judiciais que deixaram de 
vigorar quando o país daquele povo também deixou de existir, e que agora não obrigam a ninguém além do 
que exige a sua eqüidade geral. 
5. A lei moral obriga a todos a prestar-lhe obediência para sempre, tanto as pessoas justificadas quanto as 
demais, e isto não somente por causa da matéria nela contida, mas também pelo respeito à autoridade de 
Deus, o Criador, que a deu. Cristo, no Evangelho, de modo algum desfaz esta obrigação, antes a reveste de 
maior vigor. 
6. Embora os verdadeiros crentes não estejam sob a lei como um pacto de obras, para serem por ela 
justificados ou condenados, contudo ela serve de grande proveito, tanto a eles, como aos demais. Como regra 
de vida, ela lhes informa da vontade de Deus e do dever que eles têm; os dirige e os obriga a andar conforme 
essa vontade; descobre-lhes também as pecaminosas poluções de sua natureza, de seus corações e de suas 
vidas, de maneira que, examinando-se por meio dela, alcançam mais profunda convicção de pecado, maior 
humilhação por causa dele e maior aversão a ele, ao mesmo tempo lhes dá mais clara visão da necessidade 
que têm de Cristo e da perfeita obediência a ele devida. Ela é também de utilidade aos regenerados a fim de 
conter a sua corrupção, pois proíbe o pecado; as suas ameaças servem para mostrar o que merecem os seu 
pecados; e quais as aflições que por causa deledevem esperar nesta vida, ainda que estejam livres da 
maldição ameaçada na lei. Do mesmo modo, as suas promessas mostram que Deus aprova a obediência 
deles, e que bênçãos podem esperar dessa obediência, ainda que essas bênçãos não lhes sejam devidas pela 
lei considerada pacto de obras, assim como fazer um homem o bem ou evitar ele o mal, só porque a lei 
estimula aquilo e proíbe isto, não prova estar ele sob a lei e não sob a graça. 
7. Os supracitados usos da lei não são contrários à graça do Evangelho, mas suavemente se harmonizam com 
ela, pois o Espírito de Cristo submete e capacita a vontade do homem a fazer livre e alegremente aquilo que a 
vontade de Deus, revelada na lei, exige que se faça. 
CAPÍTULO 20: DA LIBERDADE CRISTÃ E DA LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA 
1. A liberdade que Cristo, sob o Evangelho, comprou para os crentes consiste em serem eles libertos da culpa 
do pecado, da ira condenatória de Deus, da maldição da lei moral; em serem libertos deste presente mundo 
ímpio, do cativeiro de Satanás, do domínio do pecado, da nocividade das aflições, do aguilhão da morte, da 
vitória da sepultura e da condenação eterna; como também em terem eles livre acesso a Deus, em lhe 
prestarem obediência, não movidos de um medo servil, mas de amor filial e de espírito voluntário. Todos 
esses privilégios eram comuns também aos crentes sob a lei; mas, sob o Novo Testamento, a liberdade dos 
cristãos está mais ampliada, achando-se eles livres do jugo da lei cerimonial a que estava sujeita a igreja 
judaica, e tendo mais outras ousadias no acesso ao trono da graça e mais plenas comunicações do gracioso 
Espírito de Deus, do que normalmente alcançavam os crentes sob a lei. 
2. Só Deus é Senhor da consciência, e a deixou livre das doutrinas e mandamentos humanos que, em 
qualquer coisa, sejam contrários à sua Palavra, ou que, em matéria de fé ou de culto, estejam fora dela. 
Assim, crer em tais doutrinas ou obedecer a tais mandamentos, por motivo de consciência, é trair a 
verdadeira liberdade de consciência; e requerer para eles fé implícita e obediência cega e absoluta, é destruir 
a liberdade de consciência e a própria razão. 
3. Aqueles que, sob o pretexto de liberdade cristã, cometem qualquer pecado ou toleram qualquer 
concupiscência, destroem, por isso mesmo, o fim da liberdade cristã; pelo contrário, sendo livres das mãos de 
nossos inimigos, sem medo sirvamos ao Senhor em santidade e justiça, diante dele, todos os dias de nossa 
vida. 
4. Visto que os poderes que Deus ordenou, e a liberdade que Cristo comprou não foram por Deus designados 
para destruir, mas para que mutuamente nos apoiemos e preservemos uns aos outros, resistem à ordenança 
de Deus os que, sob pretexto de liberdade cristã, se opõem a qualquer poder legítimo, civil ou religioso, ou ao 
exercício dele. Se publicarem opiniões ou mantiverem práticas contrárias à luz da natureza ou aos 
reconhecidos princípios do cristianismo concernentes à fé, ao culto ou ao procedimento; se publicarem 
opiniões, ou mantiverem práticas contrárias ao poder da piedade, ou que, por sua própria natureza ou pelo 
modo de publicá-las e mantê-las, são destrutivas da paz externa da Igreja e da ordem que Cristo estabeleceu 
nela, podem legalmente ser processados e visitados com as censuras da Igreja. 
 
 
 
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