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O Impacto da Revolução Industrial e as Mudanças na Moda Européia

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O Impacto da Revolução Industrial no Vestuário e as Mudanças na Moda 
Europeia 
 
João Francisco da Luz Souza1 
 
Resumo: Este artigo aborda as consequências da revolução industrial na indústria têxtil 
europeia, em especial nos novos instrumentos de fiação, tecelagem e costura surgidos do século 
XVIII até metade do século XIX e na indústria do algodão. Subsequentemente, o impacto das 
novas tecnologias no vestuário europeu entre a população geral, produção em massa, e na moda 
entre a aristocracia. O trabalho busca realizar um panorama da sequência de invenções que 
possibilitaram o sucesso da indústria do vestuário na Europa e como a fez carro chefe do 
processo industrial até depois da virada do século. Por fim, uma análise breve de como esse 
desenvolvimento no maquinário foi traduzido para a os objetos de consumo em si, e como o 
próprio advento industrial colaborou para uma mudança de pensamento da sociedade, e como 
tal mudança se fez nas roupas que usavam. O objetivo final desta pesquisa é compreender a 
importância da revolução industrial não só para as técnicas de produção de tecidos e roupas, 
mas também no aspecto social e para o que no futuro viria a ser a indústria da moda. 
Palavras-chave: Revolução industrial; Moda; Tecnologias têxteis 
Abstract: This article presents the impacts of the industrial revolution on the European textile 
industry, highlighting the spinning, weaving and sewing machines from the 18th century to 
mid-19th century and the cotton industry. Also, the consequences of these new inventions on 
the vestiaries and fashion among the common citizen and the aristocracy. This study seeks to 
make an overview of the timeline of inventions that made possible the success of the clothing 
industry in Europe, and how it made it the flagship of the industrial process even after the turn 
of the century. Finally, a brief analysis of how the technological progress was translated to the 
consumer goods itself, how the revolution contributed to a social change of values and thinking, 
and how these changes were reflected on the clothes they wore. The major objective of this 
article is to comprehend the importance of the industrial revolution not only in the production 
techniques of cloths and clothes, but also on the social aspects and 
 
1 Granduando em História pela Universidade Federal de Santa Catarina 
Keywords: Industrial Revolution; Fashion; Textile technologies 
 
A indústria têxtil foi o carro chefe para a “explosão”, nas palavras de Hobsbawm, da 
revolução industrial. O produto em destaque era o algodão, artigo ligado à expansão marítima 
europeia e consequente comércio ultramarino. Deve-se destacar também o pioneirismo inglês 
sempre que se fala em revolução industrial - não é diferente na indústria algodoeira. A matéria 
prima era importada de diversas regiões do mundo, com destaque especial para as colônias nas 
Índias Ocidentais e nas americanas que viriam a se tornar os Estados Unidos da América. 
O algodão levado até a Grã-Bretanha era então trabalhado e os tecidos, geralmente 
misturas de algodão e linho, revendidos para o mercado externo, sendo as colônias o principal 
mercado consumidor. Dessa forma, os ingleses conseguiram construir um mercado externo 
muito lucrativo, que por volta do início do século XIX ajudaria a configurar uma vitória do 
mercado exportador sobre o doméstico. O aumento do número de exportações não era só 
constante, mas amplo, fator que recompensou os primeiros investidores da indústria algodoeira 
e estimulou empreendedores futuros a adotar novas técnicas de produção. No ocidente e no 
oriente surgiam a todo momento mais mercados consumidores para os manufaturados ingleses, 
fazendo com que a indústria algodoeira tivesse, de fato, imensas possibilidades de expansão. 
Foi, porém, a revolução tecnológica que fez com que a indústria pudesse acompanhar 
a demanda crescente. As novas invenções eram relativamente simples de serem alcançadas com 
a tecnologia da época; baratas e eficientes, estavam ligadas a novas maneiras de colher, fiar e 
tecer. 
Um dos inventos mais famosos foi a Spinning Jenny2, a primeira máquina de fiar a 
incorporar o complexo fabril. A máquina, inventada por James Hargreaves em 1764, era uma 
evolução lógica da já existente roda de fiar – esta, mais eficiente que a roca, só permitia a fiação 
de um fio por vez. Ao ligar vários fusos ao movimento de uma única roda, a invenção de 
Hargreaves permitia que um indivíduo sozinho trabalhasse vários fios ao mesmo tempo. Em 
primeiro momento, a máquina podia comportar cerca de oito fios, mas no ápice de seu 
desenvolvimento tecnológico chegou a até cento e trinta fios. 
 
2 O nome Spinning Jenny surgiu de um coloquialismo da língua inglesa. Spinning, fiar, e Jenny, termo para 
engine, motor, na Inglaterra durante o século XVIII 
Não era somente o preço razoavelmente baixo que garantiu a proliferação das 
máquinas de fiar na Europa, mas a possibilidade de serem usadas em ambientes domiciliares. 
Aliado a isso, a melhor maneira de expandir a indústria era impulsionar o sistema doméstico, 
ou seja, possibilitar que indivíduos, como artesãos ou em alguns casos camponeses, pudessem 
trabalhar com o algodão. Em casa era mais comum o uso de instrumentos próprios, mas havia 
também a possibilidade de aluguel de máquinas pertencentes a mercadores. 
Em 1769 foi introduzido por Richard Arkwright o tear movido a água, um avanço 
técnico comparável à máquina de fiar e que, como o nome sugere, se utilizava da força de água 
corrente para funcionar. A máquina de Arkwright era mais cara, mas produzia um fio mais 
resistente em relação àquele produzido pelas máquinas tradicionais, e necessitava de uma 
quantidade menor e menos capacitada de mão de obra para ser operada. Devido à sua força 
motriz, era impossível de ser empregada no âmbito doméstico. 
Houve constante avanço nas tecnologias têxteis no período pequeno entre a invenção 
de uma máquina e outra, e não foi diferente com a introdução da spinning mule inventada por 
Samuel Cromptom em 1779. Essa conseguia produzir fios tão fortes quando a do tear movido 
à água e era capaz de trabalhar vários tipos de materiais, em especial as musselinas, tecidos 
muito presentes em vestidos na Europa. Cromptom não foi capaz de pagar pela patente de sua 
invenção e vendeu seus direitos sem ter tido a oportunidade de usufruir dos imensos lucros que 
sua invenção geraria nas décadas futuras. O sucesso da spinning mule foi tamanho que em 1811, 
contabilizando somente os fusos têxteis de 650 fábricas ao redor de Manchester, mais de quatro 
milhões eram trabalhados por máquinas desse tipo – em comparação com os 300.000 em teares 
movidos à água e os 150.000 em máquinas de fiar do tipo da spinning jenny3. Por volta de 1830 
ocorreu uma modernização da máquina por parte de Richard Roberts, que permitia que 
funcionasse sem assistência manual. Era o surgimento da máquina de fiar automática. 
A tecnologia ia além da manufatura e estava presente também nos primeiros estágios 
da colheita do algodão. Em 1793, com a invenção do descaroçador de algodão, processá-lo se 
tornou muito mais rápido do que qualquer trabalhador manual seria capaz de fazer. A invenção 
implicou em quantidades ainda maiores de algodão sendo plantadas, e barateamento do custo 
de produção, ao preço da substituição da mão de obra humana por maquinário, comum ao 
 
3 Barbara Hahn, 2016 
período. O descaroçador gerou um boom na produção de algodão do sul dos Estados Unidos, 
garantindo à Europa - em especial aos ingleses - uma fonte vasta e barata de matéria prima. 
Quando se fala de indústria na Inglaterra até as primeiras três décadas do século XIX, 
a algodoeira era a única que estava presente em fábricas. Os engenhos se proliferaram por toda 
a Grã-Bretanha e uma análise de um documento inglês de 1847 produzido por Richard Burn4 
nos permite ter noção dos números. 
Tabela 1:Número de Fábricas de Algodão na Grã-Bretanha, 1787 e 1835 
(Continua) 
 
 
 
Berkshire 
Cheshire 
Cumberland 
Derbyshire 
Durham 
Lancashire 
Leicestershire 
Middlesex 
Nottinghamshire 
Staffordshire 
Westmorland 
Yorkshire 
Rest of England 
 
1787 
1835 Total 
At work Empty 
 Males Females 
Employed 
 
2 
8 
- 
22 
- 
41 
- 
- 
17 
- 
5 
11 
6 
 
- 
109 
13 
93 
1 
683 
6 
7 
20 
13 
- 
126 
- 
- 
7 
- 
3 
- 
32 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
15,516 
626 
4,705 
9 
60,151 
325 
217 
481 
749 
- 
5,487 
- 
- 
15,996 
1,032 
6,880 
24 
62,264 
267 
133 
1,242 
1,299 
- 
5,724 
- 
- 
31,512 
1,658 
11,585 
33 
122,415 
592 
350 
1,723 
2,048 
- 
11,211 
- 
 
4 R. Burn, 1847, p.26 
Total England 
Isle of Man 
Wales 
Scotland 
 
Total Great Britain 
Ireland 
 
Total 
 
119 
1 
4 
19 
 
1,071 
- 
5 
159 
42 
- 
- 
- 
88,266 
- 
452 
10,529 
94,861 
- 
699 
22,051 
183,127 
- 
1,151 
32,580 
143 
- 
 
1,235 
28 
42 
- 
9,9247 
1,639 
117,611 
2,672 
216,858 
4,311 
143 1,263 42 100,886 120,283 221,169 
Extraído de BURN (1847) 
Podemos ver que, considerando toda a Grã-Bretanha, em pouco menos de cinquenta 
anos o número de engenhos cresceu quase dez vezes em relação a seu valor original de 1787. 
Os portos de Manchester e Liverpool, os maiores da Inglaterra, fizeram com que Lancashire se 
tornasse a região que mais recebeu novas fábricas, devido às facilidades de importação e 
exportação de produtos nos portos. Nenhuma região da Grã-Bretanha escapou da tentativa de 
industrialização por meio da construção de fábricas: até mesmo a Ilha de Man, no mar da Irlanda 
e com menos de 600km² territoriais possuiu um engenho em 1787. Algumas regiões não 
conseguiram manter suas fábricas, no entanto: fosse pela concorrência ou pela falta de mão de 
obra ou investimento, casos como Westmorland e Berkshire representam falhas no projeto 
fabril. Nottinghamshire cresceu pouco nesse período, assim como o País de Gales. É 
interessante também a análise demográfica dos trabalhadores: em 1836 a Inglaterra possuía em 
torno de quatorze milhões de habitantes5, então é seguro dizer que cerca de 1,5% da população 
inglesa no ano anterior estava empregada nas fábricas de algodão. Observa-se também que na 
maioria dos casos os postos de trabalho eram ocupados por mulheres. Considere também que, 
do total de indivíduos de qualquer sexo, uma parcela ainda era formada por crianças de não 
mais de doze anos. 
O primeiro momento deste artigo buscou dar atenção somente à indústria algodoeira e 
às invenções relacionadas a ela que permitiram a confecção dos tecidos de algodão de maneira 
mais rápida e barata. Em seguida, apresentar-se-á outros aspectos da indústria têxtil: o avanço 
 
5 Wrigley and Schofield, 1981, p. 209 
tecnológico como influenciador na aparência da indumentária. Na década de 1780 na Inglaterra 
são desenvolvidas as primeiras impressoras de rolo para tecidos, vindo a substituir as antigas 
impressoras de bloco. Estas eram compostas por blocos gravados que precisavam ser 
manuseados e aplicados repetidamente. A primeira consistia de um cilindro de metal capaz de 
imprimir em tecido de maneira contínua, aumento a produção em larga escala. Isso significou 
não somente um barateamento nos custos, mas também um diferencial no design, pois a 
impressora de rolo conseguia imprimir formas muito mais complexas num tecido. 
A indústria têxtil como um todo foi beneficiada pela invenção e aprimoramento do 
motor a vapor. A patente de James Watt de 1781 permitiu que as fábricas que empregavam 
máquinas de fiar que necessitavam de água pudessem ser construídas mais longe de rios, pois 
tornava-se possível bombear água para distâncias maiores e alturas mais elevadas. 
A invenção da máquina de costura fez com que o aumento de produção fosse além do 
fiar e tecer e alcançasse a confecção de roupas. O projeto de máquina de costura já existia desde 
a metade do século XVIII e foi aprimorado por diferentes inventores na Inglaterra, França e 
Estados Unidos, mas a que obteve maior sucesso foi de Elias Howe, patenteada em 1846. Essa 
invenção traz consigo uma revolução no mercado de roupas de tamanho padronizado. Naquele 
momento isso só era comum nos uniformes militares dos exércitos nacionais; se um indivíduo 
não pertencente às forças armadas não quisesse costurar sua própria roupa ou encomendar uma 
que lhe servisse, deveria recorrer ao mercado de roupas usadas. O grande desafio da costura 
não era o custo, mas sim o tempo investido na confecção da peça, com uma camisa masculina 
podendo levar quatorze horas e meia; ou dez horas para um chemise. A máquina de costura 
permitiu que o tempo de produção fosse reduzido drasticamente, ao ponto das mesmas duas 
peças citadas passarem a ser costuradas em menos de uma hora6. Antes de seu uso industrial, a 
máquina se tornou muito relevante na indústria doméstica, sendo operada por donas de casa em 
suas casas. Ao mesmo tempo, a redução do tempo de confecção conferiu certa liberdade para a 
mulher, agora com mais tempo para outros afazeres. Cabe dizer que, ao menos nesse momento, 
os custos das máquinas não cabiam no orçamento da maior parte das famílias. Nos Estados 
Unidos, por exemplo, chegavam a custar 125 dólares em uma época que o salário anual médio 
era de cerca de 500 dólares7. 
 
6 Yaffa Draznin, 2001, p. 67 
7 Museum of American Heritage, 2010 
A aplicação de cores ainda representava certa dificuldade devido à necessidade da 
matéria prima. Até então corantes eram de origem natural e as plantas necessárias para sua 
confecção eram cultivadas, em primeiro momento, em várias regiões da Europa; após 1600, no 
entanto, as plantações se expandiram para a América do Norte, Índias Orientais e outros 
lugares8 onde era possível cultivar plantas que possibilitassem cores tropicais. Foi só em 1856 
que o panorama mudou com a descoberta dos corantes sintéticos por parte de William Perkin, 
na Inglaterra, mudando para sempre a forma de tingir tecidos. 
Como em quase todos os âmbitos da revolução industrial, a passagem das práticas de 
fiação, tecelagem e costura do sistema doméstico para o sistema industrial alterou 
profundamente as relações de trabalho. O preço a ser pago pela redução de custos foi a restrição 
da liberdade dos trabalhadores, salários menores e as várias outras mazelas que abateram a 
sociedade industrial europeia. 
Ao tratar do vestuário, é necessário esclarecer alguns pontos. Apesar dos novos 
métodos de produção e técnicas, a moda era disposta de maneiras diferentes dependendo da 
classe social. A classe social determinava a diversificação do guarda-roupa, mas as regras 
formais eram as mesmas independentemente da posição social. O trabalhador comum, vide de 
regra, possuía apenas dois trajes: um de trabalho e um para os domingos. Deve ser levada em 
consideração também a inexistência de uma indústria da moda como conhecemos hoje: até a 
máquina de costura, as roupas ainda eram majoritariamente feitas à mão, fosse em produção 
domiciliar ou sob encomenda. 
Durante o século XVIII a moda europeia foi uniforme, e nesse tema quem dava o tom 
eram os franceses; novos estilos só começaram a surgir na Inglaterra por volta de 1760. 
Ironicamente, ao mesmo tempo em que as cidades cresciam devido ao processo industrial, na 
moda masculina pelo menos o processo era reverso, prezando por trajes mais simples e que 
lembravam roupas de campo. Nessa época também surge um chapéu de copa alta, mais 
adequado para atividades de caça e que pode ser considerado um design mais primitivo da 
cartola, acessório característico quando se pensa em revolução industrial. Nas tendências 
femininas, porém, ainda se enxerga certo exagero. Em 1770 houve o costume de penteados 
imensos,alcançando quase um metro de altura, sustentados por grampos e alfinetes, cobertos 
de pó de arroz e pomadas fixadoras. O curioso eram os objetos colocados para enfeitar o 
 
8 John H. Edmonds, 2003, p.66 
penteado9, e consistiam às vezes de navios, se o intuito fosse a ideia de progresso, ou mesmo 
moinhos enfeitados com flores para um visual mais bucólico. 
Um dos fenômenos mais interessantes da época foi o aparecimento dos fashion plates 
nas publicações da The Lady’s Magazine, um periódico inglês, também em 1770. Esses fashion 
plates preocupavam-se em, por meio de gravuras, retratar qual era a última moda nos círculos 
aristocráticos. O sucesso dessa prática só foi possível graças aos avanços tecnológicos nos 
métodos de comunicação e transporte, que permitiam que o indivíduo tivesse acesso aos novos 
acessórios e técnicas. Até aquele momento, obter informações sobre o que estava na moda 
geralmente exigia uma viagem pelo continente europeu. 
Até o fim do século XVIII observou-se uma simplificação do vestuário, mesmo porque 
durante a Revolução Francesa e o Reinado do Terror as tendências passadas não tinham mais 
espaço e todos os indivíduos eram cautelosos para não aparentar serem membros da aristocracia 
- essa última década marcou a liderança inglesa no âmbito da moda nos anos seguintes. No 
início do século XIX cresceu na moda feminina uma tendência, ainda inspirada no 
neoclassicismo, de trajes semitransparentes de musselina. Além disso, os primeiros anos do 
século foram aqueles em que as mulheres usavam menos roupas. Vestidos com enchimentos 
deram lugar a outros com saias longas e corte reto, com a linha da cintura mais elevada; tornou-
se mais comum deixar partes do corpo à mostra, como os braços ou os tornozelos. A amplitude 
de materiais associada à necessidade, visto que os vestidos não tinham bolsos, promoveu o 
aparecimento de bolsas de mão, feitas inicialmente de renda e posteriormente de outros 
materiais. 
A revolução industrial pautava o crescimento urbano e, aliado a ele, as dificuldades da 
vida na cidade em expansão. Nesse contexto, surgem críticas ao desenvolvimento industrial, ao 
racionalismo e à objetividade das relações. A arte e a filosofia são inundadas pelo pensamento 
romântico, que traz consigo um sentimento saudosista, de lirismo e individualidade. Na moda 
masculina pouco mudou, pois seguiam ainda o modelo inglês baseado nas roupas de campo da 
aristocracia que passava muito mais tempo em suas casas nas áreas rurais do que na cidade. 
Nos vestidos a linha da cintura começa a abaixar novamente, o que deixava as mulheres com 
um corpo que lembrava uma ampulheta, e assim permaneceria por vários anos. Elas voltaram 
a usar mais peças de roupa, com saias volumosas e mangas largas. O penteado volta a atingir 
 
9 James Laver, 1989, p. 141 
alturas maiores, dessa vez coberto por grandes chapéus. Talvez a peça que mais foi influenciada 
pelas novas tecnologias da revolução tenha sido o espartilho. Era feito de tecido - em especial 
coultil, criado tendo a peça em vista - e barbatana de baleia. Os materiais eram bastante 
resistentes e maleáveis, ideais para serem comprimidos e manter a cintura fina. A invenção da 
máquina de costura possibilitou a produção de espartilhos de tamanho padronizado a diferentes 
preços, ao ponto que foi usado amplamente por todas as mulheres da época. 
No âmbito da moda, é complexo atribuir a mudança no guarda roupa a somente um 
evento; neste artigo buscou-se apresentar as novas técnicas e possiblidades na indústria têxtil. 
Deu-se especial atenção aos ingleses, pioneiros na industrialização, e aos franceses, que durante 
mais tempo ditaram a moda na Europa. Na Europa Ocidental a moda seguia, de maneira geral, 
os estilos da Inglaterra ou da França, ou reinterpretações dos mesmos. Evidenciou-se, portanto, 
uma visão geral dos principais efeitos da Revolução Industrial na confecção de tecidos e roupas 
até meados do século XIX, mas é certo que outras influências poderão ser encontradas se formos 
mais longe na história, adentrando a era vitoriana. 
 
Bibliografia: 
BURN, Richard, Statistics of the Cotton Trade, 1847 em A. Aspinall, E. Anthony Smith, eds., 
English Historical Documents, VIII, 1783-1832, New York: Oxford University Press, 2007 
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2001. Westport, Connecticut: Greenwood Press. 
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reconstruction. Harvard University Press, 1981 
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HAHN, Barbara. Spinning through the History of Technology: A Methodological Note, 
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HOBSBAWN, Eric J. A era das revoluções: 1789 – 1848. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 
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HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 13. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. 
KÖHLER, Carl. História do vestuário. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. 
LAVER, James. A roupa e a moda: uma história concisa. São Paulo: Companhia das Letras, 
1989. 
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do Egito antigo ao final do século XIX, com ilustrações dos mestres Auguste Racinet e 
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<http://www.moah.org/virtual/sewing.html> Acesso em 23/04/2019 
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<http://www.metmuseum.org/toah/hd/txtn/hd_txtn.htm> Acesso em 23/04/2019

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