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Não violência_Paz perpétua de Kant e DIDH in Curso de Filosofia do Direito_Eduardo Bittar e Guilherme Assis de Almeida

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44.1 O que é a não violência
“– Pode atirar, ele gritava, me mate pelas costas.
Dei o primeiro tiro, Suel voou no chão, deve ter morrido na hora. A 
namorada berrava e tentava arrastar o negro para o carro. Dei outro tiro 
sem mirar e acertei na cabeça de Suel. Foi assim, as coisas aconteceram 
desse jeito. Ele foi a primeira pessoa que matei. Até isso acontecer, eu 
era apenas um garoto que vendia carros usados e torcia para o São Paulo 
Futebol Clube.1
(...) Nascimento revelou que assassinou o garoto com dois golpes, 
além de pisar o pescoço dele. Depois enterrou a criança num canavial. 
Nascimento disse que estava bêbado.”2
Qual o elemento comum destas duas ações? A ocorrência do dano, da des-
truição. Um outro elemento comum às ações: são voluntárias, existe a intenção 
de destruir. Estes dois elementos, ocorrência de dano e intencionalidade da 
ação, são os elementos característicos da violência.
Bobbio dá mais amplitude a essa definição quando, em vez de utilizar o 
substantivo dano, fala em modificação prejudicial no estado físico do indivíduo:
“A violência pode ser direta ou indireta. É direta quando atinge de ma-
neira imediata o corpo de quem a sofre. É indireta quando opera através 
1 Melo, O Matador, 1999, p. 16.
2 O Estado de S. Paulo 20 de maio de 2000. p. C7. Homicídio Violento.
44
DIREITO E NÃO VIOLÊNCIA: 
MINIMUM DOS POVOS
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 705
de uma alteração do ambiente físico no qual a vítima se encontra (por 
exemplo, o fechamento de todas as saídas de um determinado espaço) 
ou através da destruição, da danificação ou da subtração dos recursos 
materiais. Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: uma modificação 
prejudicial do estado físico do indivíduo ou grupo que é o alvo da ação 
violenta.”3
Violência é um conceito que possibilita um número infindável de aborda-
gens: antropológica, psicológica, cultural, política, etnológica etc. E cada novo 
contexto permite uma definição diferente. Dispõe o preâmbulo da Convenção 
de Belém do Pará.4
“Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a 
mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, 
dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na 
esfera pública como na esfera privada.”
Nesta definição, novamente os dois elementos anteriormente indicados: 
ocorrência de dano e ação intencional.5
De forma básica, violência será definida como: 
“ação intencional (de um indivíduo ou grupo) que provoca uma modi-
ficação prejudicial no estado psicofísico da vítima (pessoa ou grupo de 
pessoas)”.
Feita essa definição, é necessário dar um segundo passo e definir não violência.
Tal como em diversas outras dicotomias, luz/trevas, masculino/feminino, 
yin/yang, não violência, por ser o termo fraco da dicotomia, é definida pela 
ausência de violência.
Desta feita, não violência fica definida como: “ação intencional que não 
provoca uma modificação prejudicial na pessoa ou grupo de pessoas destina-
tários da ação”.
Para o Direito, essa compreensão é vital, pois toda ação violenta é violadora 
de um direito (direito à vida, direito à integridade física, direito à integridade 
psíquica, direito à liberdade sexual); consequentemente, proteger um direito, 
3 Bobbio, Pasquino, Matteuci, Dicionário de política, 7. ed., p. 1291-1292.
4 Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, de 6-6-1994.
5 Ação ou conduta baseada no gênero é sempre intencional, já que essas ações só se realizam 
porque está colocada uma oposição entre masculino e feminino (músculos e lágrimas), onde o 
feminino é o lado mais frágil.
706 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
impedir sua violação requer um ordenamento jurídico voltado para formas de 
ação que impeçam, preventivamente, a ocorrência dessas ações e que, repara-
doramente, minimizem seus efeitos.
Violência e não violência são qualificadoras do agir humano.
Existem duas, não mais, formas de agir. Uma violenta e a outra não violenta. 
Não há caminhos intermediários. Podem variar os graus na escala da violência. 
No entanto, ela ou está presente, ou não está.
Na literatura, existem passagens emblemáticas de ações não violentas. Jo-
seph Brodsky, em conferência pronunciada sobre o tema, comenta a passagem 
bíblica do Sermão da Montanha, na qual Jesus “dá a outra face”:
“O filho do homem tinha o hábito de falar em tríades, e o jovem pode 
ter-se lembrado que aquele importante versículo não acaba em: mas se 
alguém te ferir na tua face direita, oferece-lhe também a outra mas continua, 
sem ponto e nem vírgula: e ao que quer demandar-te em juízo, e tirar-te a 
tua túnica, larga-lhe também a capa. E se qualquer te obrigar a ir carregado mil 
passos, vai com ele ainda mais outros 2 mil.
Citados na íntegra, estes versículos têm na verdade muito pouco a ver 
com a resistência não violenta ou passiva, com os princípios de não 
responder na mesma moeda e de retribuir ao mal com o bem. O sig-
nificado dessas linhas é tudo menos passivo, porque sugere que o mal 
pode ficar acabando absurdo pelo excesso; sugere que devemos tornar 
o mal absurdo, fazendo com que suas exigências se tornem minúsculas 
diante do volume de nossa obediência a elas, depreciando o sofrimento 
que nos causam.”6
A não violência não é uma resistência passiva, mas uma outra forma de agir.
A ação não violenta parte de um conhecimento da ação violenta e cria uma 
alternativa a ela, superando-a. Sabedora de sua existência e ciente de seus ma-
lefícios, exercita uma forma de ação negadora da violência. A não violência é 
também uma resposta eficaz contra a violência, tendo em vista a preservação 
da integridade psicofísica do ser humano.
A seguir, analisaremos uma das mais marcantes influências teóricas da não 
violência, qual seja: À paz perpétua, de Immanuel Kant.
Esse texto influenciou, de forma decisiva, a criação da ONU, no final da 
Segunda Guerra Mundial, em 1945.
6 Brodsky, J. Menos que Um, 1994, p. 150.
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 707
44.2 Kant: à paz perpétua – uma ordem internacional não 
violenta
“Não é de esperar que reis filosofem ou filósofos tornem-se reis, mas 
também não é de se desejar, porque a posse do poder inevitavelmente 
corrompe o livre julgamento da razão. Porém, que reis ou povos reais 
(que governam a si mesmos segundo leis de igualdade) não minguem 
ou emudeçam a classe dos filósofos, mas deixem falar publicamente, é 
a ambos indispensável para iluminar sua ocupação, porque essa classe 
é incapaz, segundo sua natureza, de ajuntamentos e alianças de clubes, 
insuspeitos de uma propaganda por meio de boato.”7
Essa frase de Kant é o artigo secreto de sua obra filosófica escrita em forma 
de um instrumento jurídico (um tratado) e dá-nos ideia do propósito para o 
qual foi escrita. Não foi um trabalho encomendado por algum rei ou príncipe, 
mas a obra de um filósofo que manifesta suas ideias por meio de um documento 
jurídico, de caráter ficcional, com objetivo filosófico.8 Kant tem plena consciên-
cia de que faz uma obra de sabedoria para esclarecer um assunto pertinente 
àqueles que detém o poder e não estão habituados ao exercício da filosofia e 
ao cultivo da sabedoria.
“A sofia é o mais perfeito dos saberes. Quem o detém deve saber não só 
o que deriva dos princípios, mas também conhecer os princípios. Assim, 
a sofia pode ser chamada ao mesmo tempo de intelecto e ciência, e, en-
cabeçando todas as ciências, será a ciência das coisas mais excelentes.”9
Na obra À paz perpétua, Kant não cria uma tecnologia capaz de solucionar os 
conflitos internacionais, mas elabora uma obra de reflexão filosófica sobre as 
relações internacionais de sua época, propondo uma superação desse status quo.
À paz perpétua é, na realidade, a meta a ser atingida por meio do respeito e 
do exercício dos princípios e normas estabelecidos nesse fictício tratado de paz. 
O adjetivo perpétua diferencia o tratado em questão, dos tratados de paz habi-
tualmente firmados, quenão passam de meros armistícios cuidando de regular 
a melhor forma jurídica para a cessação das hostilidades entre os inimigos.
“O estado de paz entre os homens que vivem lado a lado não é um 
estado de natureza (status naturalis), que antes é um estado de guerra, 
7 Kant, À paz perpétua, 1989, p. 57.
8 O subtítulo da obra não deixa dúvidas quanto a isso: À paz perpétua: um projeto filosófico de 
Immanuel Kant.
9 Aristóteles. Verbete A Sabedoria. In: Abbagnamo, N. Dicionário de filosofia, 1999, p. 864.
708 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
isto é, posto que nem sempre uma eclosão de hostilidades, contudo (é) 
uma ameaça permanente destas. Ele tem de ser, portanto, instituído, 
pois a cessação das hostilidades não é ainda segurança para ele e, sem 
que ela seja obtida de um vizinho a outro (o que, porém, pode ocorrer 
somente num estado legal), pode aquele tratar como um inimigo este 
a quem exortara para tal (cessação).10
Nessa passagem, Kant esclarece dois pontos essenciais do estado de paz 
almejado por ele:
1. o estado de paz não corresponde ao estado natural, este é um estado 
de guerra;
2. o estado de paz é algo a ser instituído por meio do Direito. Ou seja, 
a meta é a paz e o meio a atingi-la é o Direito.
Conforme a classificação proposta por Martin Wight, Kant pertence à ten-
dência revolucionária.
“The Revolutionists can be defined more precisely as those who believe 
so passionately in the moral unity of the society of states or, international 
society, that they identify themselves with it, and therefore they both 
claim to speak in the name of this unity, and experience on overriding 
obligation to give effect to it, as the first aim of their international policies. 
For them, the whole of international society transcends its parts; they 
are cosmopolitan rather than ‘internationalist’, and their international 
theory and policy has ‘a missionary character’”.11
Todavia, Kant não é um revolucionário para o qual todos os meios são válidos 
para atingir-se o fim, fato este que ocorre quando a diversidade do mundo é 
negada e erige-se uma única crença como a verdadeira, fenômeno característico 
dos regimes totalitários. Kant aponta o direito como mecanismo propiciador 
da mudança; podemos classificá-lo como um revolucionário jurídico.
10 Kant, Op. cit. p. 32-33.
11 Wight, M. International theory the three traditions. WIGHT, Gabriele, PORTER, Brian. Leicester/ 
Londres: Leicester University Press, 1991, p. 8: “Os revolucionários podem ser definidos mais 
precisamente como aqueles que acreditam tão apaixonadamente na unidade moral da sociedade 
de Estados, ou Sociedade Internacional, que eles identificam-se com esta proposta, e portanto 
eles reivindicam o direito de falar em nome desta unidade, e experienciam a suprema obrigação 
de concretizar este escopo, como o primeiro objetivo de suas políticas internacionais. Para eles, a 
sociedade internacional como um todo transcende suas diversas partes; eles são cosmopolitas mais 
do que “internacionalistas” e a teoria e política internacional dela possui um caráter necessário”.
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 709
Na concepção kantiana, a transformação do estado de guerra das relações 
internacionais em um estado de paz dar-se-á por meio do Direito. De acordo 
com a classificação de Bobbio, essa proposta kantiana deve ser enquadrada 
como pacifismo jurídico.12
A seguir, apresentaremos um breve comentário dos artigos preliminares da 
paz perpétua e, logo após, uma análise dos artigos definitivos.
1. “Não se deve considerar como válido nenhum tratado de paz que se 
tenha celebrado com a reserva secreta sobre alguma causa de guerra 
no futuro”.
Nesse artigo, Kant, essencialmente, faz a diferença entre um mero armis-
tício e um verdadeiro tratado de paz. O armistício vem a ser um documento 
jurídico que tem por finalidade pôr fim a determinada guerra. “Le passage est 
obligé du champ de bataille au traité.”13 O armistício, por visar tão somente 
ao final das hostilidades bélicas, sem fazer uma análise prospectiva, não leva 
em consideração a existência de tensões latentes que podem levar a futuras 
guerras. A lição da história mostra-nos: Angola, ex-Iugoslávia, Serra Leoa...
2. “Nenhum Estado independente (grande ou pequeno) poderá ser 
adquirido por outro mediante herança, permuta, compra ou doação.”
Os Estados nacionais, não importando seu tamanho, não devem ser vis-
tos como uma propriedade a ser adquirida, já que isso poderia ser motivo de 
grande descontentamento no futuro, gerando tensões que poderiam culminar 
num conflito bélico.
3. “Os exércitos permanentes devem desaparecer totalmente com o 
tempo.”
Este artigo é autoevidente, fala por si próprio. O desaparecimento dos exér-
citos permanentes dificultaria sobremaneira a prática da guerra.
Atentemos para o fato de que Kant escreveu esse artigo antes do surgimento 
do alistamento militar obrigatório, o que iria ocorrer no século XIX 14 e antes 
também do clássico de Clausewitz, Da guerra, que cunhou a famosa frase: “A 
guerra é a continuação da política por outros meios.”
12 Para um estudo completo da classificação “bobbiana”, ver: L ’ idea della pace e il pacifismo, 
em Il problema della guerra e le vie della pace. Bolonha: Il Mulino, 1984. p. 119-146.
13 Legohérel, Histoire du droit international public. Que sais je? Paris: Presses Universitaires de 
France, 1996. p. 39. A passagem é obrigatória do campo de batalha ao tratado.
14 Para um completo estudo da guerra, ver: Keegan, J. Uma história da guerra, 1999.
710 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
4. “Não se deve emitir dívida pública em relação com os assuntos de 
política exterior.”
Neste artigo, Kant tenta impedir a criação de dívidas entre dois Estados. 
O não pagamento da dívida poderia implicar uma guerra de invasão ao Estado 
devedor como forma de ressarcimento da dívida.
5. “Nenhum Estado deve imiscuir-se pela força na Constituição e no 
Governo de outro.”
Este artigo liga-se ao segundo artigo definitivo, que fala da criação de uma 
Federação de Estados livres. A ideia é a preservação da autonomia de cada 
membro. A intervenção pela força é, enfaticamente, não recomendada.
6. “Nenhum Estado em guerra com outro deve permitir que tais hos-
tilidades tornem impossível a confiança mútua na paz futura, como o 
emprego de assassinos, envenenadores, quebramento de capitulação, 
indução a traição.”
A ideia deste artigo é resumir as hostilidades ao campo de batalha. A ma-
nutenção da confiança mútua, que se dá pelo comportamento minimamente 
ético dos Estados em conflito e pelo respeito da função jurídica da guerra de 
resolução de conflitos, é condição essencial para o estabelecimento futuro da paz.
Com este artigo, ao propor a continuidade de algumas atitudes de civilidade, 
mesmo no transcurso de uma guerra, Kant antecipa, de certa maneira, o Direito 
Internacional Humanitário, definido da seguinte maneira:
“O Direito Internacional Humanitário tem a função organizadora de 
outra qualquer normativa internacional, ou seja, organiza as relações 
entre os Estados, (ou dentro de um Estado, entre as partes em conflito) 
na situação de conflito armado.”15
Como atitude preliminar para obtenção da paz, Kant elenca seis obrigações 
de não fazer, prestações negativas, normas proibitivas. Antes de esclarecer 
as ações positivas, Kant tem o cuidado de interditar as ações que poderiam 
colocar em risco uma situação de paz, ou dificultar o término de uma guerra. 
Aduz Bobbio:
“Ces six articles, Qui contiennent des interdits adressés aux souve-
rains, et Qui s’appliquent à des comportement voués soit à faciliter 
15 Swinarski, As convenções de Genebra como sistema de proteção internacional da pessoa 
humana. In: Direito Internacional Humanitário. Col. Relações Internacionais. 6 Ipri. p. 55.
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 711
l’éclatement de nouvelles guerres soit à entraver l’établissement de la 
paix, s’inspirent tous de l’idée que les souverains doiventse comporter 
moralement, c’est-à-dire conformément à la maxime selon laquelle la 
personne humaine ne doit jamais être considérée comme moyen.”16
Os seis artigos que acabamos de examinar dizem respeito às atitudes in-
terditadas aos Estados; já os artigos definitivos, relacionam-se à forma que o 
Direito deve assumir em direção à paz perpétua. É o que veremos a seguir.
Na obra À paz perpétua, Kant apresenta uma tecnologia para instituição de 
um estado de paz no âmbito das relações internacionais. A tecnologia proposta 
por Kant usa o direito, entendido enquanto disciplina da convivência humana,17 
como instrumento.
Durante a apresentação dos seis artigos preliminares para a Paz Perpétua, 
Kant oferece uma explanação das três dimensões do fenômeno do Direito, 
necessárias para a instituição da paz perpétua:
“Toda constituição jurídica é, porém, no que concerne às pessoas que 
estão sob ela:
1. a constituição segundo o direito civil [de Estado] dos homens em um 
povo (ius civitatis);
2. segundo o direito das gentes dos Estados em relação uns com os outros 
(ius gentium),
3. segundo o direito cosmopolita, enquanto homens e Estados que estão 
em relação exterior de influência mútua têm de ser considerados como 
cidadãos de um Estado dos homens universal (ius cosmopoliticum). Esta 
divisão não é arbitrária, mas necessária em relação a ideia de paz per-
pétua. Pois se somente um destes, na relação da influência física sobre 
o outro, estivesse, contudo, no estado de natureza, então estaria ligado 
a ele o estado de guerra, tornar-se liberto, do qual é justamente a in-
tenção aqui.”18
16 Bobbio, Op. cit. p. 155. “Estes seis artigos que contêm os interditos dirigidos aos soberanos 
e que se aplicam aos comportamentos consagrados seja a facilitar o início de novas guerras, 
seja a dificultar o estabelecimento da paz, se inspiram todos na ideia que os soberanos devem 
se comportar moralmente, quer dizer conforme a máxima segundo a qual a pessoa humana não 
deve jamais ser considerada como meio.”
17 Belas, sábias e precisas palavras de Goffredo Telles Júnior.
18 Kant. Op. cit. p. 33.
712 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
Na segunda parte de sua obra, na qual são apresentados os três artigos 
definitivos para a Paz Perpétua, Kant detalha a forma que cada uma dessas 
dimensões do direito deve revestir para a instituição da paz.19 Sinteticamente, 
Kant diz que:
1. o Direito interno de um Estado deve ser da forma republicana, pois 
isto dificultaria uma declaração da guerra, já que numa República a 
vontade pública prevalece sobre a vontade do soberano e, neste caso, 
a declaração da guerra estaria condicionada à aprovação da vontade 
pública, o que seria um fator complicador para declaração da guerra;
2. o Direito Internacional deve ser baseado numa federação de Estados 
livres. Esta federação não corresponde ao formato federativo de um 
Estado nacional, a ideia é um pacto federativo entre os diversos Esta-
dos Nacionais que mantêm sua soberania, mas que estão vinculados 
por um objetivo comum, qual seja, a manutenção da paz.
3. o Direito Cosmopolita deve limitar-se ao Direito à Hospitalidade 
Universal. O que compreende, de um lado, o direito de todo estran-
geiro, que se encontra num Estado do qual não é nacional, não ser 
tratado hostilmente. E, de outro lado, o dever de todo Estado não 
usurpar da hospitalidade que lhe é oferecida pela população de um 
determinado Estado ou território e transformar o seu direito de visita 
num violento ato de conquista.”
Essas três dimensões jurídicas devem ser vistas de forma interdependente e 
inseparável, uma interpenetrando a outra. O art. 2o (o pacto federativo entre os 
Estados Livres) é base jurídica constitutiva de um novo status quo nas relações 
internacionais; o art. 1o e o art. 3o são seus alicerces.
Esclarece Bobbio:
“En d’autres termes, ceci signifie que la formation de l’alliance des 
peuples, pour réaliser son propre but, doit respecter deux limites juri-
diques: celle découlant du droit public interne Qui prescrit la constitu-
tion républicaine et celle découlant du droit cosmopolitique Qui dénie 
le droit de conquête. C’est seulement en tenant compte de l’ensemble 
de trois articles définitifs, dont le second est constitutif, le premier et 
le troisième complémentaires, que l’on prend conscience de l’extraordi-
naire force suggestive que la théorie kantienne de la paix perpétuelle a 
19 Repare que os três artigos definitivos correspondem à forma que as três dimensões do Di-
reito devem apresentar.
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 713
exercée en tous temps et exerce encore à notre époque. Une théorie où 
la complexité de l’articulation interne s’allie à la simplicité essentielle 
de la construction entière.”20
Kant, divergindo dos realistas (Hobbes e Maquiavel) e dos racionalistas 
(Grotius), propõe um modelo de ordem internacional onde a guerra perde sua 
utilidade como forma jurídica (necessária ou contingente) de resolução dos 
conflitos e a paz surge como principal objetivo, a ser conquistado por meio do 
direito.
Essa paz kantiana não deve ser vista como uma mera ausência de guerra, 
mas com um sentido positivo de uma forma diferente de convivência interna-
cional, forma na qual a violência está eliminada como atitude legítima e a não 
violência impera.
“Il faut concevoir la paix elle-même comme un processus se déroulant 
sans intervention de la force, mais Qui ne vise pas seulement à empêcher 
l’emploi de la force, mais à réaliser les conditions réeles d’une coexistence 
sans tension entre les groupes et entre les peuples.”21
Kant tem plena noção de que a instituição, por meio do Direito, de um 
estado de paz não violento entre as nações é uma tarefa de suma importância 
e, ao mesmo tempo, dificílima de ser atingida. O próprio Kant, na 5a e na 6a 
proposições de Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmo-
polita, afirma:
“5a O maior problema para espécie humana, a cuja solução a natureza 
a obriga, é alcançar uma sociedade civil que administre universalmente 
o direito.
20 Bobbio. La paix perpétuelle et la conception kantienne de la Fédération Internationale. In: 
L’état et la démocratie internationale de l’histoire des idées à la science politique, 1999, p. 152. Grato a 
Celso Lafer pela preciosa dica. “Em outros termos, isto significa que a formação da aliança dos 
povos, para realizar seu próprio objetivo, deve respeitar dois limites jurídicos: um haurido do 
direito público interno que prescreve a constituição republicana e o outro haurido do direito 
cosmopolítico que proíbe o direito de conquista. É somente tendo em conta o conjunto dos três 
artigos definitivos, dentre os quais o segundo é constitutivo, e o primeiro e o terceiro comple-
mentares, que tomamos consciência da extraordinária força sugestiva que a teoria Kantiana da 
PAZ PERPÉTUA exerceu em todos os tempos e exerce ainda em nossa época. Uma retórica na 
qual a complexidade da articulação interna alia-se a simplicidade essencial da construção inteira.”
21 Habermas, J. La paix perpétuelle: bicentenáire d’une idée kantienne. Paris: Les Editions du 
Cerf, 1996. p. 71. “É necessário conceber a paz como um processo desenvolvendo-se sem a 
intervenção da força, mas que não visa somente impedir o emprego da força, mas a realizar as 
condições reais de uma coexistência sem tensão entre os grupos e entre os povos.”
714 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
6a Este problema é, ao mesmo tempo, o mais difícil e o que será resolvido 
por último pela espécie humana.”22
À paz perpétua deve ser tomada como uma obra de filosofia do direito cujo 
propósito é oferecer um arsenal teórico que estruture a comunidade internacional 
de modo que a ação violenta não seja utilizada como forma de relacionamento 
entre as nações; a consequência lógica deste estado de coisas é o advento da paz.
Esclarece Celso Lafer:
“No estudo das relações internacionais, é válido distinguir, para efeitos 
de análise, três campos:(i)o campo estratégico-militar (...); (ii) o campo 
das relações econômicas (....); (iii) finalmente, cabe mencionar o campo 
dos valores, que alude às afinidades e discrepâncias quanto a forma de 
conceber a vida em sociedade.”23
A presente análise é do campo dos valores. Valor aqui entendido enquanto 
possibilidade de escolha.24 A escolha feita pela Comunidade Internacional no 
pós-guerra, mais do que a preservação da dignidade humana, é pela preservação 
da própria vida; a forma cosmopolítica do direito será o instrumento concreti-
zador desse valor. Esse estudo dedica-se, essencialmente, à análise desse novo 
direito, que visa proteger a vida. No século XX, este direito tem um nome: 
Direito Internacional dos Direitos Humanos.
Esclarece René Cassin, um dos pais da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, de 1948, num texto histórico produzido logo após a aprovação da 
Declaração:
“Nous devons donc agir. D’une manière plus précise, nous devons re-
chercher ici comment, en s’appuyant à la fois sur des principes et sur 
la technique, le droit international et, plus haut encore, le droit de la 
Société universelle des hommes, la communauté juridique du genre hu-
main peuvent fournir protection et garantie aux libertés fondamentales 
des individus que la composent.”25
22 Kant, I. Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita. São Paulo: Brasiliense. 
1986. p. 14-15.
23 Lafer, C. Comércio, Desarmamento e direitos humanos: reflexões sobre uma Experiência Diplo-
mática. São Paulo: Paz e Terra e Funag – Fundação Alexandre de Gusmão, 1999. p. 184.
24 “A melhor definição de VALOR é a que o considera como possibilidade de escolha, isto é, 
como uma disciplina inteligente das escolhas, que pode conduzir a eliminar algumas delas ou a 
declará-las irracionais ou nocivas”... Abbagnano, N. Op. cit. p. 993.
25 Cassin, R. La declaration universelle et la mise en oeuvre des droits de l’homme 79. Recueil 
des Cours de L’Academie de Droit International, p. 243, 1951. “Nós devemos então agir. De uma ma-
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 715
Analisar esse direito, reconhecer sua fonte e mostrá-lo como minimum dos 
povos é o objetivo deste texto.
44.3 Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) 
como minimum dos povos
O primeiro documento do DIDH é a Carta de São Francisco, de 1945, docu-
mento que fundou a Organização das Nações Unidas (ONU).
Logo no preâmbulo dessa Carta, coloca-se, de forma indubitável, o horror 
que as duas guerras mundiais causaram, bem como a necessidade de uma 
reafirmação dos direitos humanos:
“Nós, os Povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações 
vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa 
vida, trouxe sofrimentos indizíveis a humanidade, e a reafirmar a fé 
nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser 
humano, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim 
como das nações grandes e pequenas...”
A Carta de São Francisco (ou Carta da ONU), juntamente com a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos de 1948 e os Pactos Internacionais de Direitos 
Civis e Políticos e de Direitos Econômicos Sociais e Culturais, de 1966, formam 
a Carta de Direitos Humanos da ONU
A Carta de São Francisco concretiza a criação da norma proibitiva da guerra.
A guerra, durante muito tempo, foi considerada como forma jurídica e lícita 
para impor o Direito. A Carta da ONU coloca a guerra como instrumento não 
jurídico, fora, portanto, do rol dos instrumentos legais para decisão de conflitos.
A colocação da guerra na ilegalidade é um claro sinal de que está sendo 
inaugurada uma nova fase na história do Direito, que tem como ideia-guia a paz 
e o reconhecimento da dignidade inerente a todo ser humano e como princípio 
organizacional e diretivo, a não violência. A concretização, no âmbito do Direito 
Positivo, dessa nova fase, ocorre com a elaboração do Direito Internacional dos 
Direitos Humanos.
neira mais precisa, nós devemos pesquisar aqui como, nos baseando nos princípios e na técnica 
do Direito Internacional, e mais amplo ainda, no direito da sociedade Universal dos homens, a 
comunidade jurídica do gênero humano pode fornecer proteção e garantia às liberdades funda-
mentais dos indivíduos que a compõe.”
716 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
Com o intuito de deixar clara a mudança que significou, em termos teóricos, 
o banimento do Direito da Guerra como prática legal, farei um breve relato das 
relações entre guerra e Direito.
44.4 Gênese da norma proibitiva de guerra
De forma sintética, podemos definir a Guerra Justa como aquela guerra que 
se combate para impor o direito. Durante séculos, a doutrina da Guerra Justa 
foi aceita pelo Direito Internacional.26
A guerra, na célebre obra de Grócio, Da guerra e da paz, era vista como um 
instrumento legítimo e necessário nas relações internacionais.
Como esclarece Hermes Marcelo Huck:
“A legitimidade da guerra deriva do serviço que ela deve prestar à so-
ciedade internacional e não apenas ao beligerante injustiçado que a ela 
recorre. Um povo, ao declarar uma guerra justa contra o inimigo agres-
sor, transforma a violência que legalmente emprega em instrumento de 
utilidade para a sociedade internacional. Nesse sentido, a guerra deixa 
de ser tão só um elemento de busca do direito do beligerante; torna-se 
também uma arma de composição da ordem jurídica internacional.”27
A doutrina da guerra justa só passa a ser contestada, no campo da dogmática 
do Direito Internacional Público, após o surgimento da Sociedade das Nações.
A Sociedade das Nações (SDN) surge, em 1919, como primeira tentativa de 
se criar um Organismo Internacional que fosse capaz de solucionar os litígios, 
entre os diversos Estados, sem que fosse necessário recorrer ao uso da força.
Assim, no Pacto da Sociedade das Nações, está estabelecido:
“Art. 11
1. Fica expressamente declarado que toda guerra ou ameaça de guerra, 
atinja diretamente, ou não, algum dos membros da sociedade, interessa 
a toda sociedade, e esta deve adotar as medidas apropriadas para salva-
guardar eficazmente a paz das nações.
26 Para um estudo detalhado da Guerra Justa, ver Guimarães, H. C. Da guerra justa: um estudo 
jurídico-filosófico da teoria do bellum justum nas concepções decisionista e intelectualista e na 
síntese grociana. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo 
(FDUSP), São Paulo: Universidade de São Paulo, mimeo. s.d.
27 Huck, Da guerra justa à guerra econômica: uma revisão sobre o uso da força em direito inter-
nacional, 1997, p. 58.
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 717
2. Fica, igualmente, declarado que todo membro da sociedade tem o 
direito de chamar a atenção da Assembleia ou do Conselho, a título 
amistoso, para toda circunstância suscetível de atingir as relações in-
ternacionais e que ameace perturbar a paz ou a boa harmonia entre as 
nações, da qual a paz depende.”
Segundo Celso Lafer, o artigo 11 do Pacto da Sociedade das Nações instaura o 
primeiro tema global na agenda internacional. A guerra, ou sua ameaça, passa 
a interessar à sociedade internacional em sua totalidade e não mais apenas às 
partes beligerantes.
No artigo transcrito, nota-se uma atitude cuidadosa com o intuito de pre-
venir a ocorrência de uma guerra. No artigo seguinte (12), a guerra é colocada 
como último recurso na solução das controvérsias entre as nações:
“Art. 12
1. Todos os membros da sociedade concordam em que, se entre eles 
surgir uma controvérsia suscetível de produzir uma ruptura, submete-
rão o caso, seja ao processo da arbitragem ou a uma solução judiciária, 
seja ao exame do Conselho. Concordam, também, em que não deverão, 
em caso algum, recorrer à guerra, antes da expiração do prazo de três 
meses após a decisão arbitral ou judiciária, ou o relatório do Conselho.
2. Em todas as hipóteses previstas neste artigo, a decisão deverá ser 
proferida dentro em prazo razoável, e o relatório deverá ser apresentado 
dentroem seis meses a datar do dia em que a controvérsia lhe tenha 
sido submetida.”
Assim, a guerra, que era tida como prática regular da resolução de conflitos 
para o Direito Internacional, começa a ser posta no terreno da anormalidade 
pelo Direito. Já que o normal é a solução pacífica das controvérsias, a guerra 
é o último recurso.
Em 1928, no Pacto Briand-Kellog,28 as partes contratantes renunciam à guerra 
como instrumento de política nacional em suas relações mútuas.
“As altas partes contratantes declaram solenemente condenar o recurso 
à guerra como meio de solucionar conflitos internacionais, e renunciam 
a ela como instrumento de política nacional nas suas relações mútuas. 
As altas partes contratantes reconhecem que a solução das disputas ou 
28 Ficou conhecido dessa forma, pois foi firmado entre o Ministro do Exterior da França e dos 
Estados Unidos: Aristide Briand e Frank Kellog.
718 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
conflitos de qualquer natureza ou origem que possam surgir entre elas 
deverá ser buscada somente por meios pacíficos.”
E, finalmente, em 1945, na Carta de São Francisco há a proibição formal e 
extensiva do uso da força como forma de resolução dos conflitos:
“Art. 2o (…)
Parágrafo 4o Os membros da Organização, em suas relações interna-
cionais, abster-se-ão de recorrer à ameaça ou ao uso da força contra a 
integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, 
ou de qualquer outra forma incompatível com o propósito das Nações 
Unidas.”29
44.5 Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 
como Documento Matriz do Direito Internacional dos 
Direitos Humanos
“Si la première guerre mondiale a été idéologiquement livrée pour l’in-
dépendance des nationalités ainsi que pour l’établissement de la sécurité 
collective et l’organisation de la paix internationale, la seconde guerre 
mondiale a revêtu essentiellement le caractère d’une croisade pour les 
droits de l’homme.”30
A Carta da ONU, de 1945, já faz menção aos direitos humanos e, logo em 
seguida, este tema será objeto de um documento jurídico autônomo: a Decla-
ração Universal de Direitos Humanos, de 1948.
A Declaração de 1948 foi a forma jurídica encontrada pela comunidade in-
ternacional de eleger os direitos essenciais para a preservação da dignidade do 
ser humano. Trata-se de um libelo contra o totalitarismo. Seus 30 artigos têm 
como objetivo principal evitar que o homem e a mulher sejam tratados como 
objetos descartáveis.
29 Observo que o tema da legitimidade do uso da força não será abordado neste trabalho, já 
que este não é um tema atinente ao Direito Internacional dos Direitos Humanos (campo teórico 
desta tese), mas um ramo autônomo do Direito Internacional Público.
30 Cassin, La declaration universelle et la mise en oeuvre des droits de l’homme, Recueil de 
Cours de L’Academie Internationalle de Haie, v. 79, p. 41, 1947. Nessa época, Renée Cassin era o 
vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da ONU, organismo responsável pela redação 
da Declaração. “Se a Primeira Guerra Mundial foi ideologicamente lutada pela independência 
das nacionalidades e também pelo estabelecimento da segurança coletiva e pela organização da 
paz internacional, a Segunda Guerra Mundial revestiu essencialmente o caráter de uma cruzada 
pelos direitos humanos.”
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 719
Assim a definiu Eleanor Roosevelt, durante os trabalhos preparatórios de 
elaboração da Declaração:
“Ce n’est pas un traité, ce n‘est pas un accord international. Il n’a pas et 
ne vise pas à avoir force de loi. C’est une déclaration de principes sur les 
droits et libertés fondamentales de l’homme destinée à être approuvée 
par vote formel des membres de l’Assemblée générale.”31
De acordo com Celso Lafer, a Declaração de 1948 pode ser considerada um 
evento matriz que dá origem a uma nova política de Direito, política esta vol-
tada para a proteção do ser humano. O DIDH transformará em Direito Positivo 
esse escopo inicial.
Tanto é, que uma das características principais do DIDH é ser um direito 
protetivo: “Trata-se essencialmente de um direito de proteção, marcado por 
uma lógica própria, e voltado à salvaguarda dos direitos dos seres humanos e 
não dos Estados.”32
Ora, esse Direito, nunca é demais lembrar, surge como reação à violência 
inimaginável advinda dos eventos históricos constitutivos da Segunda Guerra 
Mundial.
Para uma melhor compreensão da Declaração de 1948, será feita uma análise 
de seus principais artigos, na qual se mostrará como o corpus juris do DIDH 
tem como base a Declaração.
René Cassin compara a Declaração de 1948 ao pórtico de um templo:
“La Déclaration Universelle a été comparée par nous au vaste portique 
d’un temple, dont le parvis est formé par le Préambule affirmant l’unité de 
la famille humaine et dont le soubassement, les assises, sont constitués 
par les principes généraux de liberté, d’égalité, de non-discrimination 
et de fraternité proclamés dans les articles 1 et 2.”33
31 Cassin, Op. cit. p. 289. “Isso não é um tratado, isso não é um acordo internacional. Ele não 
tem e não visa a ter força de lei. Isso é uma declaração de princípios sobre os direitos e liberda-
des fundamentais do homem destinados a serem aprovados pelo voto formal dos membros da 
Assembléia Geral.”
32 Cançado A. Tratado de direito internacional dos direitos humanos. Porto Alegre: Sérgio Antonio 
Fabris Editor. 1997. v. 1, p. 20.
33 Cassin, R. Op. cit. p. 277-278. “A Declaração Universal foi comparada por nós ao vasto pór-
tico de um templo, no qual o terreno é formado pelo preâmbulo afirmando a unidade da família 
humana e as bases e os sustentáculos são constituídos pelos princípios gerais de liberdade, 
igualdade, não discriminação e fraternidade proclamado nos artigos 1 e 2.”
720 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
Posteriormente, numa entrevista concedida a Austregésilo de Athayde, 
complementa sua descrição:
“A Declaração Universal pode ser considerada um pórtico de quatro co-
lunas, a primeira das quais sustenta o direito à vida, à liberdade física 
e à segurança jurídica da pessoa; a segunda forma a base dos laços do 
indivíduo com os grupos (família, nações), com os lugares (domicílio, 
circulação) e com os bens (propriedade); a terceira se refere às faculdades 
espirituais, às liberdades públicas e aos direitos políticos; e a quarta, 
finalmente, simétrica com a primeira, é a dos direitos econômicos, sociais 
e culturais, notadamente os que concernem ao trabalho, à segurança 
social, à educação, à vida cultural, à proteção dos criadores de obras 
artísticas, literárias e científicas.”34
Para análise da Declaração de 1948, serão utilizados os arts. I e II, considera-
dos como fundamentais por Cassin, e o artigo III, que protege o direito à vida.
“Art. I
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São 
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras 
com espírito de fraternidade.”
Liberté, egalité, fraternité, as palavras símbolo da Revolução Francesa que 
deram origem à Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), 
estão presentes também na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.
O que há de comum entre a Declaração de 1789 e a Declaração de 1948? A 
vontade manifesta de instaurar outra ordem, radicalmente diferente daquela 
até então vigente.
É com a Revolução Francesa, de 1789, que surge o moderno significado da 
palavra revolução,35 que passa a significar a instauração do novo.
A Revolução Francesa derruba o Estado Absoluto e instaura o Estado de 
Direito ou Constitucional; para fazer essa transformação, muda a significação 
de uma palavra: soberania. “O Estado Absoluto coloca-se como a encarnação 
mais perfeita da soberania entendida como poder que não reconhece ninguém 
superior.”36
34 Sandroni, C., Sandroni, L. C. A. de A. O século de um liberal. Rio de Janeiro: Agir, 1998. p. 469.
35 Em seu sentido original, até então vigente, significavavoltar para trás. Sentido este que ainda 
é encontrado na Revolução Americana de 1776, na qual buscava-se a restauração das antigas 
prerrogativas dos súditos norte-americanos da Coroa Britânica.
36 Bobbio, N. Direito e estado no pensamento de Emmanuel Kant, 1995. p. 11.
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 721
Depois de 1789, a soberania, até então exercida por uma única pessoa, o rei 
(o soberano), passa a ser exercida pelo povo: a Soberania Popular.
Com o surgimento do conceito de soberania popular, desaparece a figura 
do súdito (aquele que só tem deveres) e surge a figura do cidadão (aquele que 
tem o direito a ter direitos).
O Estado Constitucional, ao limitar o poder soberano,37 garante os direitos 
naturais do indivíduo. As duas transformações são simultâneas e são a própria 
razão de ser do novo Estado Constitucional ou Estado de Direito.38 Estabelece 
a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789):
“Art. 16. A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos di-
reitos fundamentais nem estabelecida a separação dos poderes39 não 
tem Constituição.”
A Declaração de 1948, ao reafirmar o direito à liberdade, à igualdade e à 
fraternidade de todas as pessoas, busca, acima de tudo, evitar a repetição dos 
horrores causados pelo regime totalitário de Hitler.
René Cassin afirma:
“A Declaração de 1948 retirou da Declaração dos Direitos do Homem e do Cida-
dão, de 1789, o que continha de universal, a saber, os grandes princípios 
de liberdade, igualdade e fraternidade. Foi mais longe ao proscrever 
todas as discriminações entre os membros da família humana, no que 
concerne ao gozo das liberdades fundamentais, quer seja por motivo 
de sexo, raça, língua ou religião, opiniões, origem nacional ou social, 
fortuna, nascimento e situação, ou por motivo do estatuto político, ju-
rídico ou internacional do país ou território de que sejam habitantes. E 
proclama o direito de todo indivíduo a uma nacionalidade e o de todo 
perseguido a um asilo.”40
Com a intenção de evitar a perpetuação do antigo, forçosamente, cria-se o 
novo. Como a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que 
37 A Soberania do Estado Absoluto pode ser definida como o poder de decidir em última ins-
tância. Quem tem esse poder é o Soberano, o Rei. Já a Soberania Popular define-se como o poder 
de decidir em última instância, de acordo com a lei. A decisão final já não é absoluta, encontra 
limites. Qual seja, a Lei.
38 A expressão Estado de Direito surge, pela primeira vez, em 1813.
39 Forma de Montesquieu para garantir a limitação do poder Soberano a ser exercido pelo 
Poder Executivo.
40 Sandroni, Constância, Op. cit. p. 471.
722 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
criou o moderno conceito de cidadão, a Declaração Universal de Direitos Humanos, 
de 1948, ao declarar que todas as pessoas nascem livres e iguais, mantém este 
antigo conceito e cria outro, novo. Esse novo conceito é a inerência da dignida-
de ao ser humano. Isso significa que a liberdade e a igualdade em dignidade e 
direitos surgem com o nascimento do ser humano e o acompanham, de modo 
inseparável e incondicional, no decorrer de sua existência. Não dependendo, 
em absoluto, de qualquer outro título ou condição.
“Art. II
1. Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades 
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja 
de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra nature-
za, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra 
condição.
2. Não será tampouco feita nenhuma distinção fundada na condição 
política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença 
uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem 
governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.”
A Alemanha Nazista, antes de ser um Estado Totalitário, é um Estado Ra-
cista, que coloca a raça como forma de diferenciação entre os seres humanos.
“In a speech he gave in November 1927 Hitler said that he saw ‘the 
value of a man determined in the first place by his inner racial virtues’ 
and that the Aryan race was at ‘the top of the list’. Aryans, he wrote in 
Mein Kampf, were the ‘highest race’ and ‘the master people’ (p. 384). 
He therefore declared war ‘on the marxist idea that men are equal ... 
and was willing to draw the ultimate consequence of recognizing the 
importance of blood’.”41
Com essa ideia em mente, Hitler diferencia as pessoas entre aquelas que 
valem mais e as que valem menos; de acordo com essa tese, a raça ariana era a 
depositária do progresso da civilização e qualquer cruzamento entre as diferentes 
raças só produziria degenerados, física e mentalmente. Assim, era necessário 
41 Morsink, The universal declaration of human rights: origins, drafting and intent, Pennsylvania: 
University of Pennsylvania Press, 1999, p. 39: “Num discurso que Hitler pronunciou em novem-
bro de 1927 ele disse que via ‘o valor de um homem determinado em primeiro lugar pelas suas 
virtudes sociais internas’ e que a raça ariana estava no ‘topo da luta’. Os arianos, ele escreveu em 
‘Mein Kampf’, eram a ‘raça mais elevada’ e o ‘povo mestre’. Ele portanto declarou guerra ‘a ideia 
marxista de que os homens são iguais… e estava disposto a salientar, até a última consequência, 
o reconhecimento da importância do sangue’.”
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 723
dominar e subjugar as ditas “raças inferiores” (principalmente a judia), pois 
a raça ariana deveria permanecer pura. Essa ideia, aos poucos, radicaliza-se e 
da expulsão dos judeus, passa para a concentração deles, até atingir a solução 
final, segundo a qual só o completo extermínio da raça judia seria capaz de 
garantir a pureza da raça ariana.42
De um Estado Racista, a Alemanha Nazista transforma-se em um Estado 
Genocida. O primeiro passo para garantir o direito a vida é, portanto, esta-
belecer a igualdade entre os seres humanos, impedindo qualquer espécie de 
discriminação. É isto que faz a Declaração de 1948 e os instrumentos legais 
da declaração do DIDH.
O artigo II está ligado ao artigo VII43 a proibição da discriminação diz res-
peito aos seres humanos entre si, a eles e a elas perante o Estado e a homens 
e mulheres perante a lei.
A partir de 1948, foram criados outros tratados internacionais que disciplinam 
a proibição de toda e qualquer espécie de discriminação. O Pacto Internacional 
dos Direitos Civis e Políticos, de 1966, estabelece em seu art. 2o:
“Art. 2o
1. Os Estados-partes no presente Pacto comprometem-se a garantir a 
todos os indivíduos que se encontrem em seu território e que estejam 
sujeitos à sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, 
sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, reli-
gião, opinião política ou de qualquer outra natureza, origem nacional 
ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação.”
O mesmo Pacto, nos arts. 26 e 27:
“Art. 26. Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem 
discriminação alguma, a igual proteção da lei. A este respeito, a lei deverá 
proibir qualquer forma de discriminação e garantir a todas as pessoas 
proteção igual e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de 
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, 
origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer 
outra situação.
42 Para um detalhado relato dessa questão, consultar: Arendt, H. Eichmann em Jerusalém: um 
relato sobre a banalidade do mal, 1999.
43 Art. VII. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção 
da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente 
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
724 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
Art. 27. Nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas ou linguís-
ticas, as pessoas pertencentes a essas minoriasnão poderão ser privadas 
do direito de ter, conjuntamente com outros membros de seu grupo, 
sua própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião e 
usar sua própria língua.”
A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial (1965) define, no art. 1o, a expressão discriminação racial. Da genérica de-
finição da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, chega-se à precisa 
e tipificada definição da Convenção de 1968:
“Art. 1o Para os fins da presente Convenção, a expressão discriminação racial 
significará toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada 
em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por 
objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou 
exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos 
humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, 
social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública.”
No art. 2o, a Convenção de 1968 exorta os Estados a tomarem medidas para 
eliminar a discriminação; são as chamadas ações afirmativas:
“Art. 2o Os Estados-partes condenam a discriminação racial e compro-
metem-se a adotar, por todos os meios apropriados e sem dilações, uma 
política destinada a eliminar a discriminação racial em todas as suas 
formas e a encorajar a promoção de entendimento entre todas as raças...”
A grande diferença entre a Convenção, indicada anteriormente e a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos de 1948, além do fato de especificar o sujeito de 
direito violado, é a definição do conceito de discriminação, o que permite sua 
incorporação pela Dogmática Jurídica, possibilitando sua aplicação no caso 
concreto.
“Sua função social, neste sentido, está na limitação das possibilidades 
de variação na relação de aplicação, quando seus dois pólos se tornaram 
contingentes. Observa-se, assim, que a Dogmática não é um simples eixo 
de mediação entre normas e fatos nem se resume no desenvolvimento 
de técnicas de subsunção do fato à norma, como chegaram a dizer os 
representantes da Jurisprudência dos Conceitos e da Escola da Exegese. 
Sua função repousa, outrossim, no controle de consistência de decisões 
tendo em vista outras decisões; em outras palavras, no controle de 
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 725
consistência da decidibilidade, sendo, então, a partir dela que se torna 
viável definir as condições do juridicamente possível.”44
Dentro da normativa do Direito Internacional dos Direitos Humanos e do 
Direito Internacional Público, existem outras Convenções contra a discrimi-
nação: Convenção Internacional para a Eliminação e Punição do Crime de Apartheid 
(1973), Convenção Internacional contra o Apartheid nos Esportes (1985), Convenção 
número 100 da OIT, concernente a igual remuneração de homens e mulheres 
para trabalhos do mesmo valor (1951), Convenção número 111 da OIT, contra 
a Discriminação no Trabalho e Emprego (1958), Convenção da Unesco contra a 
Discriminação na Educação (1960).
Estabelece o art. III da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Art. III. 
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”
A Alemanha Nazista dava muito pouco valor ao direito à vida. É o próprio 
Hitler quem afirma em Mein Kampf: “if the power to fight for one’s own health 
is no longer present, the right to live in this world of struggle ends” (p. 257).
Um relatório preparado pela Comissão de Direitos Humanos da ONU afirma:
“The policy which was in existence in Germany by the summer of 1940, 
under which all aged, insane, and incurable people, useless eaters, were 
transferred to special institutions where they were killed.” Most of the 
275.000 people who were killed in this way in nursing homes, asylums, 
and hospitals had been German citizens.”45
No ano de 1937, 32 pessoas receberam a pena de morte na Alemanha. Esse 
número cresceu para 5.191 em 1944.
Observe-se o encaminhamento dos artigos da Declaração. No art. I, fica 
estabelecido que a liberdade e a igualdade entre os seres humanos é adquirida 
no nascimento. O art. II proíbe toda e qualquer espécie de discriminação. E, 
finalmente, o artigo III estabelece o primeiro Direito: o Direito à vida. O Direito 
à vida foi estabelecido para os cidadãos do mundo, já que o Estado Nazista, 
além de ser assassino, era genocida. Reprimir o genocídio foi uma das primeiras 
tarefas do DIDH.
44 Ferraz Jr., Função social da dogmática jurídica, 1998, p. 100.
45 Morsink, Op. cit. p. 40. “A política que estava em vigência, na Alemanha, no verão de 1940, 
de acordo com a qual as pessoas insanas e incuráveis de qualquer idade, ‘famintos inúteis’ foram 
transferidos para instituições especiais onde foram mortos. A maior parte das 275.000 pessoas que 
foram mortas desta forma nas casas de repouso, manicômios e hospitais eram cidadãos alemães.”
726 CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO • Bittar / Almeida
Antes da aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, quase 
simultaneamente, no dia 9 de dezembro de 1948, foi aprovada a Convenção para 
a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio.46
O extermínio de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial 
não foi o primeiro massacre da história humana,47 nem tampouco o primeiro 
genocídio. Esse termo, de forma coloquial, será usado pelo próprio Hitler em 
22 de agosto de 1939, véspera da invasão da Polônia. O primeiro genocídio do 
século XX é de um milhão e meio de armênios pelos turcos, em 1915. Todavia, 
o genocídio de Hitler é parte de uma política de governo; aos olhos do Estado 
Nazista, trata-se de uma atividade legal. Para que a comunidade internacional 
pudesse punir o crime de genocídio, era preciso tipificá-lo. É o que faz a Con-
venção de 1948:
“Art. II. Na presente Convenção, entende-se por genocídio qualquer dos 
seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em 
parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como:
a) assassinato de membros do grupo;
b) dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submissão intencional de membros do grupo a condições de existência 
que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial;
d) medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) transferência forçada de menores do grupo para outro grupo.”
No art. 6o do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966), lê-se:
“Art. 6o
1. O direito à vida é inerente à pessoa humana.
Este direito deverá ser protegido pela lei.
Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.”
O art. 9o especifica o direito à liberdade e à segurança pessoal:
“Art. 9o
46 Alerte-se que, pelo fato de não contar com mecanismo próprio de implementação, a Convenção 
contra o Genocídio nunca chegou a ser aplicada.
47 De acordo com o arqueólogo Jean Courtin, o primeiro massacre data de 2.090 a.C.; cerca de 
uma centena de corpos no hipogeu de Raix. Ver Richard, G. Op. cit. p. 22.
Direito e Não Violência: Minimum dos Povos 727
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoal. Ninguém 
poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser 
privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em 
conformidade com os procedimentos nela estabelecidos.”
44.6 Histórico da proteção internacional dos direitos 
humanos
A Proteção Internacional dos Direitos Humanos apresenta dois mecanismos 
de proteção: o global e os regionais. O global é o sistema da Organização das 
Nações Unidas (ONU); os sistemas regionais são: O Sistema Africano (Carta 
Africana dos Direitos Humanos e dos Direitos dos Povos – 1981), O Sistema Árabe 
(Carta Árabe dos Direitos Humanos – 1994, até o momento só ratificada pelo 
Iraque), O Sistema Europeu (Convenção Europeia para Proteção dos Direitos Hu-
manos e Liberdades Fundamentais – 1950) e o Sistema Interamericano (Convenção 
Americana de Direitos Humanos – 1969).
A seguir, apresenta-se uma síntese histórica do Sistema Global.
44.7 Sistema global de proteçãodos direitos humanos
A Carta de São Francisco, de 1945, foi o documento jurídico que fundou a 
ONU. Esta foi criada com a perspectiva de instaurar uma nova ordem mundial, 
diferente daquela que ocasionou a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. 
Conforme já analisado no item 2.2.1, é na Carta da ONU que aparece, pela 
primeira vez na história do Direito, a proibição da guerra como forma legítima 
de resolução de conflitos.
Daí se conclui que um dos principais objetivos da ONU é a criação de uma 
nova ordem internacional, fundada nas relações pacíficas entre as nações.
Lê-se na Carta de São Francisco:
“Art. 1o Os propósitos das Nações Unidas são:
(...)
Desenvolver relações entre as nações, baseadas no respeito ao princípio 
da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, e tomar outras 
medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal.”
Ora, neste novo estado de coisas, o respeito aos direitos humanos ganha 
uma importância significativa no ordenamento jurídico internacional:

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