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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA- UDESC CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO OESTE - CEO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS E ENGENHARIA QUÍMICA - DEAQ EDUARDA HECK SUMNY TERMODINÂMICA DE SOLUÇÕES PINHALZINHO-SC 2020/1 1. Resumo O coeficiente de atividade dá a indicação de quanto um líquido é mais ativo quando comparando com um estado de referência, dessa forma, é necessário que para fazer o cálculo do mesmo vai depender da escolha adequada e específica do estado de referência. É um coeficiente adimensional que indica como a fugacidade no líquido se compara a um estado de referência de solução ideal previamente escolhido. O estado de referência para a fase vapor é o estado de gás ideal, nos líquidos o estado de solução ideal é onde as interações intermoleculares são iguais, onde a pressão do estado é igual à pressão do sistema. O conceito da atividade é melhor utilizado quando se estuda o equilíbrio de reações químicas. O estado de referência é escolhido como sendo o estado de uma solução ideal em que a fugacidade é linearmente proporcional à fração molar. O objetivo do presente artigo é fazer uma revisão bibliográfica sobre coeficientes de atividade e sua importância na indústria química e de alimentos, bem como fazer a dedução de algumas fórmulas que originaram as equações de coeficientes de atividade e seus devidos usos. 2. Introdução 2.1 Equilíbrio de fases Alcança-se o equilíbrio quando nenhuma força motriz está atuando sobre um sistema, isso implica igualdade em todos os potenciais que possam causar alguma variação nas propriedades macroscópicas do sistema com o tempo. No estado de equilíbrio, não há fluxos de matéria nem energia, não há mudanças de fases e nenhum outro potencial está desequilibrado. De acordo com a termodinâmica, todos os sistemas tendem para o estado de equilíbrio (SMITH et al., 2005). Um sistema fechado que contém uma mistura com nc componentes e np fases está em estado de equilíbrio interno com respeito a processos de transferência de calor, deslocamento volumétrico e transferência de massa, para que exista equilíbrio mecânico e térmico, a pressão e a temperatura dentro do sistema deve ser uniforme através de todas as fases. Se i é um potencial intensivo mássico, espera-se que também tenha um valor uniforme através de todas as fases que compõem o sistema heterogêneo. (PRAUSNITZ et al., 1998). O número de propriedades intensivas para encontrar os restantes, e que define o estado de equilíbrio de um sistema é dado pela regra das fases de Gibbs, que, na ausência de reação química, pode ser expressa como: Propriedades intensivas independentes = componentes - fases + 2 Para um sistema de dois componentes e duas fases, o número de variáveis necessárias é 2. Nesse sistema, as variáveis de interesse geralmente são x1, x1, P e T. Duas dessas variáveis, quaisquer duas, devem ser especificadas antes que as outras possam ser encontradas. Como a soma das frações molares deve ser igual à unidade, x2 e x2 não são variáveis independentes. 2.2 Sistemas heterogêneos e o equilíbrio Um sistema heterogêneo fechado é composto de duas ou mais fases, considerando cada fase como um sistema homogêneo aberto dentro do sistema total fechado. Consideremos as condições nas quais um sistema deste tipo estará em equilíbrio em relação aos três processos de transferência de calor, deslocamento da fronteira e transferência de massa (SMITH et al., 2005) 2.3 A equação de Gibbs-Duhem Especificar completamente o estado intensivo de cada fase de um sistema em estado de equilíbrio interno com m+2 variáveis: a pressão, a temperatura e o potencial químico de cada um dos m componentes na fase. No entanto, nem todas essas variáveis são independentes; entretanto, a equação de Gibbs- Duhem nos diz como essas variáveis estão relacionadas. A equação fundamental em termos de U é: 𝜕𝑈 = 𝑇𝜕𝑆 − 𝑃𝜕𝑉 + ∂n Pode-se integrar esta equação de um estado de massa zero (U=S=V=n1=....= nm=0) até um estado de massa finita (U,S,V,n1 ,....nm) a temperatura, pressão e composição constante. A integração resulta na seguinte fórmula: 𝑈 = 𝑇𝑆 − 𝑃𝑉 + n Quando adiciona-se uma pequena quantidade de fase com a mesma temperatura, pressão e composição, obtemos um aumento finito da fase, o que leva a um aumento finito dos coeficientes da equação acima. Isto se expressa derivando novamente a equação para obter uma expressão geral: 𝜕𝑈 = 𝑇𝜕𝑆 + 𝑆𝜕𝑇 − 𝑃𝜕𝑉 − 𝑉𝜕𝑃 + ∂n + n ∂ Substitui-se os termos e cancela os demais em relação a seguinte equação: 𝜕𝑈 = 𝑇𝜕𝑆 − 𝑃𝜕𝑉 + ∂n Obtém-se, finalmente a equação de Gibbs-Duhem: 𝑆𝜕𝑇 − 𝑉𝜕𝑃 + n ∂ = 0 Esta equação é fundamental para a termodinâmica de soluções líquidas. Esta equação introduz uma restrição na variação simultânea de T, P e i para uma fase simples e portanto diz-se que uma fase tem m+1 graus de liberdade. (PERRY et al., 1997) 2.4 Potencial químico O potencial químico não é uma quantidade mensurável, e não tem equivalência no mundo físico real. Portanto, é esperado expressá-lo em termos de alguma função auxiliar que possa ser facilmente identificada com a realidade física. Esta função auxiliar foi desenvolvida por Lewis, e é conhecida como fugacidade. Para um gás ideal: − 0 = RT ln 𝑃 𝑃0 A temperatura constante, a variação da quantidade termodinâmica abstrata i é uma simples função logarítmica de uma quantidade fisicamente real e facilmente mensurável, a pressão. Para generalizar, a Lei de Lewis é empregada, chamando o potencial químico de fugacidade: − 0 = RT ln 𝑓 𝑓0 (SMITH et al., 2005) 2.5 Fugacidade A fugacidade é igual à pressão, e para um componente i numa mistura de gases ideais, é igual à pressão parcial yiP, onde yi é a fração molar do componente i na mistura gasosa. Já que todos os sistemas, puros ou misturas, aproximam-se do comportamento de gás ideal a pressões muito baixas, a definição de fugacidade é completada pelo limite: 𝑓 𝑦𝑃 → 1 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑃 → 0 Lewis designou a razão f/fo como atividade, denotada pelo símbolo 'a'. A atividade de uma substância nos dá uma indicação de quão "ativa" ela é em relação ao seu estado de referência, já que dá uma medida da diferença entre o seu potencial químico no estado de interesse e no seu estado de referência. A fugacidade é, então, uma "pressão corrigida", onde essas correções são devidas às não idealidades dos sistemas reais. O gás ideal não é apenas um caso limite para conveniência termodinâmica, mas corresponde a um modelo físico muito bem desenvolvido e baseado na teoria cinética da matéria. (SMITH et al., 2005) 2.6 Fugacidade em Misturas Líquidas Para o cálculo da fugacidade define-se que é uma solução ideal, e depois são calculados os desvios em termos das chamadas funções de excesso. Estas funções proporcionam expressões para o cálculo de fugacidades via os chamados coeficientes de atividade. Deste modo, a fugacidade de um componente i numa solução líquida segue a forma: fiL = ixif0 No qual, i é o coeficiente de atividade e fi0 é a fugacidade de i em algum estado arbitrário conhecido usado como referência. A qualquer composição, o coeficiente de atividade depende da escolha do estado de referência, que é arbitrário. Por tanto, é conveniente escolher o estado de referência de forma tal que o coeficiente de atividade esteja sempre perto da unidade, e quando, para uma condição dada, i é exatamente 1, dizemos que a solução é ideal. No entanto, esta definição de idealidade (i = 1) não está completa até especificar claramente o estado escolhido como referência. Dois estados de referência são frequentemente usados, sendo que um conduz à solução ideal no sentido dalei de Raoult e outro conduz à solução ideal no sentido da lei de Henry. (PERRY et al., 1997) 2.7 Solução ideal Uma solução ideal é aquela onde, a temperatura e pressão constantes, a fugacidade de todos os componentes é proporcional a alguma medida da concentração (usualmente a fração molar). Quer dizer, fiL = ixi No qual, i é uma constante de proporcionalidade que depende da temperatura e da pressão, mas não da composição. (SMITH et al., 2005) 2.8 Funções em excesso Funções de excesso são as propriedades termodinâmicas das soluções que excedem aquelas da solução ideal às mesmas condições de pressão, temperatura e composição. É zero todas as propriedades de excesso para uma solução ideal. Por exemplo, GE, a energia livre de Gibbs de excesso, é definida como: GE ≡ G (solução real a T, P, x) – G (solução ideal a T, P, x) As relações entre as funções de excesso são as mesmas que entre as funções totais: HE = UE + PVE GE = HE – TSE AE = UE - TSE Relações completamente equivalentes podem escrever-se também para as propriedades em base molar, representadas por letras minúsculas. Funções de excesso podem ser positivas ou negativas, representando desvios positivos ou negativos do comportamento da solução ideal. Funções de excesso parciais molares também são definidas numa maneira análoga à usada nas propriedades termodinâmicas parciais molares. Se M é uma propriedade extensiva, então, mi, que é a M parcial molar de i, é definida como: 𝑚𝑖 = ( 𝜕𝑀 𝜕𝑛 )P,T,n E, do teorema de reciprocidade de Euler, sabemos que: 𝑀 = mn Derivando a equação anterior tem-se: ME = miEni Para a termodinâmica do equilíbrio de fases, a função de excesso parcial molar mais útil é a energia livre de Gibbs de excesso, que está ligada diretamente ao coeficiente de atividade. A entalpia e entropia parciais molares estão relacionadas às derivadas do coeficiente de atividade com a temperatura e a pressão, respectivamente. (FURTADO et al., 2012) 2.9 Coeficientes de atividade através de funções de excesso em misturas binárias A uma dada temperatura fixa, a energia livre de Gibbs molar em excesso gE de uma mistura depende da composição da mistura, e, em menor grau, da pressão. A pressões baixas ou moderadas, longe das condições críticas, o efeito da pressão é o suficientemente pequeno como para ser desprezado, e não será considerado na nossa análise. Consideremos uma mistura binária na qual as propriedades de excesso sejam tomadas em relação a uma solução ideal cujo estado de referência é o líquido puro à temperatura e pressão da mistura. Nesse caso, qualquer expressão para gE deve obedecer as condições limite: gE 0 quando x1 = 0 e gE 0 quando x2 0 (SMITH et al., 2005) 2.9.1 Equações de Margules A expressão mais simples que satisfaz as condições dadas é: gE = Ax1x2 Onde A é uma constante empírica com unidades de energia, característica do par de componentes 1 e 2, e que depende da temperatura mas não da composição. Fazendo as devidas substituições da equação acima com a fórmula a seguir: giE = RTln i Fica assim: RTln i = giE = 𝜕𝑛𝑔𝑒 𝜕𝑛 Originando: Ln 1 = 𝐴 𝑅𝑇 x22 Ln 2 = 𝐴 𝑅𝑇 x12 As equações acima são chamadas de equações de Margules de dois sufixos, e fornecem uma boa representação para muitas misturas líquidas simples, quer dizer, para misturas de moléculas similares em tamanho, forma e natureza química. As duas equações são simétricas: quando ln1 e ln2 são plotados em função de x1 (ou x2), as duas curvas são imagens especulares uma da outra. A diluição infinita, os coeficientes de atividade dos dois componentes são iguais: 1∞≡log𝑥1→0 1 = exp 𝐴 𝑅𝑇 2∞≡log𝑥2→0 2 = exp 𝐴 𝑅𝑇 A constante A pode ser positiva ou negativa, e embora em geral seja função da temperatura, frequentemente é constante para um pequeno intervalo da mesma, em sistemas simples. Consideremos agora uma solução binária cujos componentes não são muito diferentes em tamanho. Neste caso, temos: ln 1 = A’ x22 + B’ x23 + C’ x24 ln 2 = (A’ + 3 2 𝐵′ + 2𝐶′)x12 - (𝐵′ + 8 3 𝐶′)x13 + C’x14 Para efeitos de simplificação, e também porque os dados experimentais são geralmente limitados, é comum truncar a expansão depois dos termos cúbicos, quer dizer, fazendo C' = 0. Neste caso a equação é chamada de equação de Margules de três sufixos, e tem parâmetros. Apenas naqueles casos onde os dados são suficientemente precisos e extensos, a expansão é truncada depois dos termos quárticos, e então temos a equação de Margules de quatro sufixos, com três parâmetros. Por outro lado, se a solução é simples, frequentemente é suficiente reter apenas os termos quadráticos, e ficar com a equação de Margules de dois sufixos e apenas um parâmetro. Embora a suposição q1 = q2 sugere que as equações de Margules devem ser usadas apenas para misturas cujos componentes tenham volumes molares similares, elas são usadas frequentemente para todo tipo de misturas, sem levar em conta o tamanho relativo das moléculas. (AZNAR, 1996) 2.9.2 Equações de Van Laar Consideremos o caso de uma solução binária cujos componentes não são muito diferentes em natureza química, mas que tem diferentes tamanhos de molécula, como benzeno e isooctano, por exemplo. Admitamos como suposição que os coeficientes de interação a112, a122,... e superiores podem ser desprezados, isto é, a expansão de Wohl é truncada depois do primeiro termo. Neste caso, tem-se: 𝑔𝐸 𝑅𝑇 = 2𝑎12𝑥1𝑥2𝑞1𝑞2 𝑥1𝑞1 + 𝑥2𝑞2 que é a equação de Van Laar. As expressões para o coeficiente de atividade podem ser encontradas nas seguintes equações: giE = RTln i e RTln i = giE = 𝜕𝑛𝑔𝑒 𝜕𝑛 Origina-se as seguintes equações: ln 1 = 𝐴′ (1 + 𝐵′ 𝐴′ 𝑥1 𝑥2) 2 ln 2 = 𝐵′ (1 + 𝐵′ 𝐴′ 𝑥2 𝑥1 )2 As suposições embutidas na derivação das equações de Van Laar sugerem que elas devem ser aplicadas para soluções de líquidos relativamente simples, preferivelmente não polares. No entanto, tem sido constatado empiricamente que estas equações são frequentemente capazes de representar os coeficientes de atividade de misturas bastante mais complexas. Em tais misturas, A' e B' deixam de ter um significado físico preciso, e se tornam apenas parâmetros empíricos. No caso especial onde as constantes de Van Laar A' e B' são iguais, as equações de Van Laar são idênticas às equações de Margules de dois sufixos. (AZNAR, 1996) 2.9.3 Equação de Wilson Wilson apresentou em 1964 um modelo relacionando gE com as frações molares baseado parcialmente em considerações moleculares, usando o conceito de composição local. Basicamente, o conceito de composição local estabelece que a composição do sistema nas vizinhanças de uma molécula dada não é igual à composição 'bulk', por causa das forças intermoleculares. 𝑔𝑒 𝑅𝑇 = −𝑥1 ln(𝑥1 + 12𝑥2) − 𝑥2 ln (𝑥2 + 21x1) Calculando os coeficientes de atividade a partir de: RTln i = giE = 𝜕𝑛𝑔𝑒 𝜕𝑛 Tem-se: ln 1 = -ln(x1 + 12x2) + x2[ 12 𝑥1+ 12𝑥2 − 21 21𝑥1+𝑥2 ] ln 2 = -ln(x2 + 21x1) + x1[ 12 𝑥1+ 12𝑥2 − 21 21𝑥1+𝑥2 ] Essa equação tem dois parâmetros ajustáveis, 12 e 21, que estão relacionados aos volumes molares dos líquidos puros e às diferenças de energia características: 12 ≡ 𝑣1 𝑣2 exp (− 12− 11 𝑅𝑇 ) 21 ≡ 𝑣2 𝑣1 exp (− 12− 22 𝑅𝑇 ) No qual os 's são energias de interação entre as moléculas designadas nos subscritos. Num sentido estrito, as diferenças entre as energias devem ser consideradas como dependentes da temperatura, mas em muitos casos esta dependência pode ser desprezada sem introduzir erros muito significativos. Se essas diferenças são consideradas independentes da temperatura,pelo menos ao longo de pequenos intervalos, a equação de Wilson proporciona não apenas uma expressão para os coeficientes de atividade em função da composição, mas também uma estimativa da variação dos coeficientes de atividade com a temperatura. Isto é uma grande vantagem em cálculos isobáricos, onde a temperatura varia com a composição. A equação de Wilson fornece uma boa representação da energia livre de Gibbs em excesso para uma variedade de misturas, e é particularmente útil para soluções de compostos polares ou com tendência à associação em solventes não polares, onde equações como Van Laar ou Margules não são suficientes. A equação de Wilson apresenta também como vantagem o fato de ser facilmente estendida para soluções multicomponentes, mas apresenta também duas desvantagens: a primeira, menos importante, é que as duas primeiras equações não são aplicáveis aos sistemas onde os logaritmos dos coeficientes de atividade, quando plotados em função de x, exibem um máximo ou um mínimo. No entanto, esses sistemas não são comuns. A segunda, um pouco mais séria, é que o modelo de Wilson não é capaz de predizer miscibilidade limitada, ou seja, não é útil para cálculos de equilíbrio líquido-líquido. (AZNAR, 1996) 2.9.4 Equação NRTL Renon e Prausnitz desenvolveram a equação NRTL (non-random, two-liquid) baseados também no conceito de composição local, mas, a diferença do modelo de Wilson, o modelo NRTL é aplicável a sistemas de miscibilidade parcial. O modelo é: 𝑔𝐸 𝑅𝑇 = 𝑥1𝑥2[ 𝜏21𝐺21 𝑥1 + 𝑐2𝐺21 + 𝜏12𝐺12 𝑥2 + 𝑥1𝐺12 ] Onde: 𝜏12 = 𝑔12−𝑔22 𝑅𝑇 𝜏21 = 𝑔21−𝑔11 𝑅𝑇 𝐺12 = exp (−∝ 12𝜏12) 𝐺21 = exp (−∝ 12𝜏21) O significado dos gij é similar aos ij da equação de Wilson, ou seja, são parâmetros de energia característicos das interações i-j. O parâmetro 12 está relacionado com a não randomicidade (ou não- aleatoriedade) da mistura, quer dizer, que os componentes na mistura não se distribuem aleatoriamente (ou seja, uniformemente), mas que seguem um padrão ditado pela composição local. Quando 12 é zero, a mistura é completamente aleatória, e a equação se reduz à equação de Margules de dois sufixos. Os coeficientes se definem como: ln 1 = 𝑥2 2[𝜏21( 𝐺21 𝑥1+𝑥2𝐺21 )2 + 𝜏12𝐺12 (𝑥2+𝑥1𝐺12)2 ] ln 2 = 𝑥1 2[𝜏21( 𝐺12 𝑥2+𝑥1𝐺12 )2 + 𝜏21𝐺21 (𝑥1+𝑥2𝐺21)2 ] Para sistemas ideais ou moderadamente ideais, NRTL não oferece muita vantagem sobre Van Laar ou Margules-três sufixos, mas, para sistemas fortemente não ideais, esta equação pode fornecer uma boa representação dos dados experimentais, embora sejam necessários dados de boa qualidade para estimar os três parâmetros. NRTL também pode ser facilmente estendido para misturas multicomponentes. (AZNAR, 1996) 2.10 Funções de excesso para misturas multicomponentes O uso mais importante das funções de excesso está na sua extensão a misturas multicomponentes. Os métodos analisados até agora para misturas binárias podem ser facilmente estendidos para o caso multicomponente, sem precisar suposições adicionais e sem introduzir constantes que não possam ser obtidas a partir dos dados binários. 2.10.1 Equação de Wilson Para uma solução de m componentes, a equação de Wilson é: − 𝑔𝐸 𝑅𝑇 = − xi ln [xjij] Onde, ij = 𝑣𝑗 𝑣𝑖 exp (− ij− ii 𝑅𝑇 ) ji = 𝑣𝑖 𝑣𝑗 exp (− ij− jj 𝑅𝑇 ) O coeficiente de atividade para qualquer componente k é dado por: ln 𝑘 = − ln[𝑥𝑗𝑘𝑗] + 1 − 𝑥𝑖ik xjij (AZNAR, 1996) 2.10.2 Equação NRTL Para uma solução de m componentes, a equação NRTL é: 𝑔𝐸 𝑅𝑇 = xi τji Gji xj Gki xk 𝜏𝑗𝑖 = 𝑔𝑗𝑖 − 𝑔𝑖𝑖 𝑅𝑇 𝐺𝑗𝑖 = exp (−∝ 𝑗𝑖𝜏𝑗𝑖) onde (αji = αij) O coeficiente de atividade para o componente i é dado por: ln 𝑖 = τji Gji xj Gki xk + 𝑥𝑗 𝐺𝑖𝑗 Gkj xk (𝜏𝑖𝑗 − xr τrj Grj Gkj xk (AZNAR, 1996) 3. Aplicação O dimensionamento ou modelagem de equipamentos utilizados em processos de separação em fase fluida requer uma descrição matemática precisa da atividade química de misturas líquidas multicomponentes. Soluções modelos usam dados binários para representar as misturas multicomponentes quando do projeto de unidades de destilação, absorção, extração, “stripping” ou mesmo de cristalização. Embora existam muitos dados na literatura referentes a sistemas binários, a maioria dos projetos de processos multicomponentes exige o cálculo do coeficiente de atividade na diluição infinita para a obtenção de dados binários válidos, necessários para a determinação dos parâmetros nos modelos matemáticos. No artigo de FONSECA et al. (2007) a técnica de SPME, uma técnica em que os processos de extração e pré-concentração de analitos ocorrem em uma escala dimensional que não é das mais usuais, não utiliza solvente e tem alto poder de concentração, foi usada para investigar o coeficiente de atividade na diluição infinita de solutos, o que permitiu a obtenção de dados necessários para o estudo de soluções termodinâmicas de misturas binárias. Os autores fizeram a parte experimental tolueno, etil benzeno e xileno (TEX) e como solvente, o metanol, e injetaram os compostos separadamente para obter o tempo de retenção e foi usado um cromatógrafo para obtenção desse tempo. Para a análise em SPME foi preparada uma amostra gasosa e injetou-se em um dispositivo de SPME, contendo uma fibra de sílica fundida (Supelco) com 100 μm de espessura, revestida com PDMS (polidimetilsiloxano). A fibra foi exposta e o revestimento adsorveu o soluto até o equilíbrio ser alcançado. A área obtida foi interpolada na curva padrão e a concentração dos solutos determinada. A partir desta concentração, calculou-se o coeficiente de partição e o coeficiente de atividade na diluição infinita para cada componente. Os resultados foram obtidos da seguinte maneira: calculou-se a equação da reta a partir da curva padrão, o coeficiente de partição do soluto entre o revestimento e a fase gasosa foi calculado utilizando uma equação que leva em consideração: o coeficiente de partição do soluto, as concentrações no revestimento da fibra e na fase gasosa, massa extraída e massa introduzida no recipiente e os volumes do revestimento da fibra e do recipiente. O coeficiente de atividade foi calculado como soluto dissolvido em uma fase estacionária de uma solução infinitamente diluída expresso pela fórmula: 𝑖 ∞ = 𝜌𝑙𝑅𝑇 𝐾𝑝𝑀𝑙 Na equação acima o comportamento do soluto na fase vapor é considerado como um gás ideal, logo, o coeficiente de atividade é baseado na fração molar. Quando uma fase estacionária é um polímero, sua massa molecular ML não é bem definida. Neste caso, é impossível calcular a fração molar. Para evitar este problema, usa-se a fração em massa: 𝑖 ∞ = 𝑖 ∞ 𝑀𝑖 𝑀𝑙 𝑊 Fez-se as substituições e colocou-se em condições reais e obteve-se: ln ( 𝑖 ∞) = ln ( 𝜌𝑙𝑅𝑇 𝐾𝑝𝑖 𝑀𝑖 ) − 𝑝𝑖 (𝐵𝑖𝑖 − 𝑣𝑖 0) 𝑅𝑇 𝑊 onde, Mi é a massa molecular do soluto, Bii é o segundo coeficiente de Virial do soluto, 𝑣𝑖 0 é volume molar do soluto. Os coeficientes de atividade achados estão na tabela 1. Tabela 1. Coeficiente de atividade na diluição infinita, T = 25°C Solutos 𝛄𝒊 ∞𝑾 Tolueno 4,57 Etil Benzeno 3,77 Xileno 6,40 Fonte: Adaptada de Fonseca et al., 2007 Estes coeficientes de atividade na diluição infinita dão preciosas informações sobre a interação entre diferentes moléculas e representam a não idealidade máxima de um componente em solução, pois correspondem ao limite de diluição em que temos uma molécula de um componente rodeada por moléculas diferentes. Dispondo de valores experimentais de γ𝑖 ∞e γ𝑗 ∞, determinam-se imediatamente as constantes de WilsonΛij e Λji, características das interações entre os componentes i e j em solução. Como estas constantes são independentes da composição, podem ser usadas no cálculo de coeficientes de atividade em quaisquer outras composições. Concluiu-se que técnica de SPME, como método alternativo para o cálculo do coeficiente de atividade na diluição infinita, representa uma economia de tempo. Além disso, a rapidez e a facilidade com que os resultados são obtidos já representam um grande avanço para aqueles que utilizam estes dados. Esta nova técnica é também mais rápida e precisa que a velha técnica de equilíbrio líquido-vapor, contribuindo, sem dúvida, para a obtenção de dados termodinâmicos e para um projeto mais racional de equipamentos de separação. 4. Conclusão Obtendo todas as informações obtidas e descritas no presente artigo, conclui-se que os coeficientes de atividade são de suma importância dentro da indústria, pois os processos termodinâmicos são reações que tem o forte afastamento da idealidade e dessa forma, tendo aplicações de modelos matemáticos, dados experimentais e definições de equações fica muito mais fácil, de se fazer um processo industrial, não tendo gasto de tempo, sendo rápido e com mais facilidade como na aplicação apresentada. Além disso, nos dias atuais há diversos programas de computador que dão sentido, razão e visão dessas equações e melhoram muito a aplicação dos mesmos dentro da indústria, facilitando ainda mais os processos de separação de misturas e assim por diante. 5. Referências AZNAR, M. Equilíbrio Líquido-Vapor de Sistemas com Eletrólitos via Contribuição de Grupo. PEQ/COPPE/UFRJ, maio, 1996. FONSECA, B. D., COELHO, G. L. V. Determinação do coeficiente de atividade na diluição infinita (γ∞) através da microextração em fase sólida (SPME). Quim. Nova, Vol. 30, No. 7, 1606-1608, 2007. FURTADO, F. A., COELHO, G. L. V., J. Chem. Thermodynamics, 49, 119, 2012. PERRY, R. H.; GREEN, D. W.; Chemical Engineers' Handbook, McGraw-Hill, New York, 1997. PRAUSNITZ, M. J., LICHTENTALER, R. N. Molecular Thermodynamics of Fluid- Phase Equilibria. Prentice Hall, 1986. SMITH, M. J., VAN NESS, C. H., ABBOTT, M. M. Introdução à termodinâmica da engenharia química. LTC. Rio de Janeiro, 2005.
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