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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO ART.28, DA LEI 11.343/2006: DESCRIMINALIZAÇÃO OU DESPENALIZAÇÃO DA CONDUTA DO USUÁRIO DE DROGAS KÁTIA CRISTINA ROSA FERNANDES Biguaçu/SC, 14 de junho de 2010. UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO ARTIGO 28, DA LEI 11.343/2006: DESCRIMINALIZAÇÃO OU DESPENALIZAÇÃO DA CONDUTA DO USUÁRIO DE DROGAS KÁTIA CRISTINA ROSA FERNANDES Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Ricardo Brandt Naschenweng Biguaçu/SC, 14 de Junho de 2010. ii AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente este Trabalho a Deus, sendo meu grande Professor da Vida, à Minha Família que incentivou nos momentos mais difíceis da minha vida, em especial ao Professor Ricardo Brandt Naschenweng pela atenção e dedicação proporcionada a orientação do meu Trabalho. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao “meu amore” Loufer Fernandes, minhas filhas adoráveis Hélen e Viveane, minha mãe Ivana Rosa e a minha sogra mãe Lourdes, por ter me proporcionado muito amor, apoiando-me em todos os meus caminhos percorridos durante o Curso de Graduação de Direito. TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Biguaçu , 14 de junho de 2010. Kátia Cristina Rosa Fernandes Graduanda PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduada Kátia Cristina Rosa Fernandes, sob o título Artigo 28, da Lei nº. 11.343/2006: Descriminalização ou Despenalização da conduta do usuário de Drogas, foi submetida em 14 de junho de 2010 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Ricardo Brandt Naschenweng (Presidente da banca), Luiz César Silva Ferreira (membro), Eunice A. de Souza Trajano (membro), e aprovada com a nota. Biguaçu, 14 de junho de 2010. Professor Ricardo Brandt Naschenweng Orientador e Presidente da Banca Professor Msc. Helena N. P. Pitsica Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica ROL DE ABREVIATURAS OU DE SIGLAS CP Código Penal TJ Tribunal de Justiça § Parágrafo Nº. Número ART. Artigo OMS Organização Mundial da Saúde SISNAD Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas OAB Ordem dos Advogados do Brasil DEC Decreto INTERPOL Polícia Internacional ROL DE CATEGORIAS Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. Crime Toda violação imputável dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva, da Lei penal. É sinônimo de delito. Para que haja configuração de crime, consideram- se dois fatores: o material, a ação praticada pelo autor, e o moral, que é a vontade livre e inteligente de agente. Considera-se o crime no momento em que é cometido, mesmo que o seu resultado não ocorra imediatamente.1 Pena Sanção de caráter civil, fiscal ou administrativo, pecuniária ou não, proveniente de infrações previstas nas respectivas leis, e, quando às civis, também nos contratos.2 Droga Consideram-se drogas todas as substâncias ou produtos com potencial de causar dependência, com a condição de que estejam relacionadas em dispositivos legal competente.3 Despenalização Despenalização consiste em diminuir a pena de um delito sem, entretanto, retirar do fato o caráter de ilícito penal.4 Descriminalização 1 BENASSE, Paulo Roberto. Dicionário jurídico de bolso: terminologia jurídica. Termos e expressões latinas e uso forense. Campinas: Bookseller, 2000, p. 123. 2 HILDEBRAND, A .R. Dicionário de Termos Técnicos Jurídicos e Brocardos Latinos. Editora Mizuno, 2004, p. 247. 3 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 3.ed. rev., atual. e aum. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 2. 4 Eod old, p. 2. Descriminalização significa retirar do âmbito do direito penal, seja formalmente ou de fato, condutas não graves e que deixaram de ser delitivas. A descriminalização formal seria o reconhecimento legal e social de uma conduta anteriormente criminalizada, eliminando-se nesse caso toda a ilicitude do fato. A descriminalização de fato ocorre quando sem que tenha perdido a competência para atuar, o sistema penal deixa de funcionar, eliminando-se apenas a aplicação efetiva da pena, permanecendo ileso o caráter ilícito penal.5 Reincidência Ocorre a reincidência quando o agente, após ter sido condenado definitivamente por outro crime, comete novo delito, desde que não tenha transcorrido o prazo de cinco anos entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a prática da nova infração. É uma agravante que visa punir com mais severidade aquele que, uma vez condenado, volta a delinquir, demonstrando que a sanção aplicada não foi suficiente para intimidá-lo ou recuperá- lo. Existem três espécies de reincidência: a real, que é computada apenas quando o agente já cumpriu integralmente a pena pelo crime anterior; a ficta, adotada pela legislação brasileira, que existe apenas com a ocorrência da condenação anterior; e a específica, quando o delito anterior e posterior integram os crimes citados no art. 83, V, do CP, quais sejam, crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afim, e terrorismo. Dentre os vários efeitos da reincidência, destacamos os seguintes: agravamento da pena; aumento do prazo para concessão do livramento condicional; impedimento da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e da concessão do sursis, quando de tratar de crimes dolosos; interrupção do prazo da prescrição6. Prescrição 5 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial. 3.ed. rev., atual. e aum. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 2. 6 MIRABETE, Julio Fabbrini - Código Penal Interpretado - 4ª ed. - Editora Jurídico Atlas - pg. 443/444 A prescrição vem a ser o modo pelo qual um direito se extingue pela inércia, durante certo lapso de tempo, de seu titular, que fica sem ação própria para assegurar7. Norma Penal em Branco Norma cujo preceito é completamente por outra. Embora a sanção que ela impõe seja precisa, esta somente será aplicada quando transgredida a norma completadora. A pena é cominada à transgressão de uma norma ter vigência no futuro, ou seja, a norma penal em branco é aquela que faz previsão da sanção (preceito secundário), mas necessita de complemento quanto à descrição da conduta, o que fica a cargo de outra norma. Em contrapartida, a norma penal incompleta traz a descrição fática (preceito primário), remetendo a outro texto legal a determinação da sanção 8. 7 Vade Mecum. Acadêmico de Direito / Anne Joyce Anhler organização. – 4.Ed. – São Paulo: Rideel, 2007. – ( Coleção de Leis Rideel), p.549. 8 Eod old.p.496 SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO ................................................................................ 1 CAPÍTULO 1 ................................................................................... 5 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA ............................................ 5 1.1....Período da vingança ............................................................................6 1.1.1 Período da vingança Privada .............................................................. 7 1.1.1.1 Período da vingança Divina ............................................................. 8 1.1.1.2 Período da vingança Pública ........................................................... 9 1.2 Período Humanitário ............................................................................. 10 1.3 Período Científico ................................................................................. 12 1.4 A Pena na antiguidade dos principais países até os dias atuais ...... 12 1.4.1 A Penalidade no Egito antigo ............................................................ 13 1.4.2 A Penalidade na Assíria antiga ......................................................... 13 1.4.3 A Penalidade na China antiga ........................................................... 14 1.4.4 A Penalidade na Fenícia..... ............................................................... 14 1.4.5 A Penalidade em Israel na antiguidade ............................................ 14 1.4.6 A Penalidade na Pérsia antiga .......................................................... 14 1.4.7 A Penalidade em Israel na antiguidade ............................................ 14 1.4.8 A Penalidade na Índia antiga.. ........................................................... 15 1.4.9 A Penalidade na Grécia antiga .......................................................... 15 1.4.10 A Penalidade na Roma antiga ......................................................... 17 1.5 A evolução das Penalidades no Brasil ................................................ 18 1.5.1 Período Colonial ................................................................................. 19 1.5.1.2 Ordenações Afonsinas ................................................................... 20 1.5.1.3 Ordenações Filipinas ...................................................................... 22 1.5.1.4 Ordenações Manuelinas ................................................................ 22 1.6 Período Imperial .................................................................................... 22 1.7 Período Republicano .................................................................... ........22 1.8 Código Penal de 1940 ............................... ............................................26 CAPÍTULO 2 ................................................................................. 29 2 CONCEITO DE DELITO, DE PENA E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS .................................................................... 29 2. 1 Caracterização e conceituação de delito ........................................... 29 2.1.1 Finalidade da Pena ............................................................................. 31 2.1.2 Teorias sobre ação: teoria causal-naturalista, teoria social e teoria finalista ........................................................................................................ 31 2.1.2.1 Teoria causal – naturalista ............................................................. 32 2.1.2.2 Teoria social da ação ...................................................................... 34 2.1.2.3 Teoria finalista da ação .................................................................. 34 2.1.3 Estrutura do crime: tipicidade, ilicitude, culpabilidade,tipicidade 38 2.1.3.1 Tipicidade ........................................................................................ 38 2.1.3.2 Tipo objetivo .................................................................................... 39 2.1.3.3 Tipo subjetivo .................................................................................. 40 2.1.3.4 Ilicitude............................................................................................. 42 2.1.3.5 Culpabilidade ................................................................................... 42 2.1.4 Breve análise do conceito de Pena .................................................. 44 2.1.4.1 Tipos de pena admitidos pelo Código Penal Brasileiro............... 45 2.1.4.2 Pena Privativa de Liberdade .......................................................... 45 2.1.4.3 Pena Restritiva de Direito. .............................................................. 46 2.1.5 Breve Histórico de legislação antidrogas ........................................ 51 2.1.5.1 Preocupação mundial com a elaboração de uma lei antidrogas 52 2.1.5.2 Legislação sobre drogas no Brasil ............................................... 52 2.1.6 Introdução à nova lei de drogas:nº. 11.343 criada em 23/08/2006 . 59 CAPÍTULO 3 ................................................................................. 61 3 ARTIGO 28, DA LEI Nº. 11.343/2006: DESCRIMINALIZAÇÃO OU DESPENALIZAÇÃO. .............................................................. 61 3.1 Conceito do delito previsto no artigo 28 da Lei nº. 11.343/2006 ....... 63 3.1.1 Porte e o Princípio da Insignificância .............................................. 63 3.1.2 Reincidência ....................................................................................... 65 3.1.3 Prescrição ........................................................................................... 68 3.1.4 Comparação entre o artigo 28 da Lei nº. 11.343/2006 e art. 16 da Lei nº. 6.368/1976: principais modificações .................................................... 70 3.1.5 O uso de drogas como infração de menor potencial ofensivo (Lei nº. 9.099/95) ................................................................................................. 73 3.1.6 A despenalização ou descriminalização no artigo 28 da lei nº. 11.343/2006 .................................................................................................. 77 3.1.7 Ponto Vista Jurídico .......................................................................... 84 3.1.8 Ponto Vista Médico ............................................................................ 85 3.1.9 Prevenção Familiar ............................................................................ 85 3.1.10 Prevenção do Estado ....................................................................... 87 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 89 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS........................................93 RESUMO O presente trabalho teve como objetivo o estudo sobre a Lei de drogas nº. 11.343/2006, com enfoque na conduta do usuário de drogas, que está disciplinada no art. 28 da mencionada Lei. Buscou-se, inicialmente, oferecer um breve histórico acerca da pena e da legislação anterior e atual, cujo objetivo era de reprimir o uso de substância que cause dependência física e psíquica, e, também, prevenir os malefícios causados pela droga. Realizou- se, também, uma análise do crime e da pena, de modo geral, abrangendo suas principais características, do agente que possui droga para consumo próprio, discutindo-se se houve o referido crime também a descriminalização ou despenalização. Por fim, abordou-se a discussão a respeito da vedação de concessão da liberdade provisória, com ou sem fiança, ao usuário de droga, bem como os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais a respeito. Palavras chave: Descriminalização. Despenalização. Posse droga consumo. 1 ABSTRACT The present work was to study the Law of drugs, namely Law no. 11343/2006, focusing on the conduct of the User of drugs, which is regulated in art. 28 of the said Act sought initially provide a brief history about the sentence and the previous and current legislation that aims to curb the use of substances that cause physical and psychic dependence, and also prevent the harm caused by drugs. It also performed an analysis of crime and punishmentin general, covering the main features of the agent to possess drugs for personal use, discussing if there was, as to that offense, decriminalization or legalization, and eventually approached discussion about the fence to grant bail, with or without bail, and the doctrinal and jurisprudential understandings. Keywords: Decriminalization. Exclusion of Penalty. Possession of illegal drugs for personal consumption. 2 INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objetivo o art. 28, da Lei 11.343/2006: Descriminalização ou Despenalização da conduta do usuário de drogas. O objetivo deste trabalho é a análise dos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, no que tange à descriminalização ou despenalização da conduta de possuir droga para consumo próprio. Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipóteses: O que se entende por despenalização? Qual o significado do instituto penal descriminalização? O art. 28 da Lei nº. 11.343/2006 despenalizou ou descriminalizou a conduta de possuir droga para consumo próprio? O dependente de droga pode ser apenado com pena de prisão? O usuário de drogas será beneficiado com o procedimento da Lei nº. 9.099/95? Para tanto, utilizou-se o Método dedutivo, demonstrando mediante a lógica pura, as conclusões a partir das premissas, garantindo a veracidade das conclusões, bem como a leitura de obras dos autores renomados no âmbito do Direito Processual Penal. A monografia dividir-se em três capítulos. No primeiro capítulo, será abordado um breve histórico com a evolução da penalização, verificando-se que a pena originou-se nos primórdios da civilização e foi dividida em três períodos: Período da Vingança, Humanitário e Cientifico. 3 Abordando também alguns paises do oriente como exemplos, em seguida, entramos na evolução das penas criminais na legislação Brasileira. No segundo capítulo serão abordados alguns conceitos e finalidade da pena, que é divida em três teorias Teoria Causal – Naturalista, Teoria Social e Teoria Finalista; Após analise das teorias da ação. Será abordado, o crime e sua estrutura: Tipicidade; que se divide em tipo objetivo, tipo subjetivo, após a Ilicitude e por fim a Culpabilidade entrando na aplicação da pena, com um breve conceito da pena, os tipos de pena admitidos pelo Código Penal Brasileiro que se divide em: Pena Privativa de Liberdade, Pena Restritiva de Direito, e por fim um histórico da legislação antidrogas a preocupação mundial com a elaboração de uma Lei antidrogas, breve histórico da legislação sobre a drogas no Brasil, na seqüência introdução à nova Lei de Drogas de nº. 11343/2006 criada em 23 de agosto de 2006. No Capítulo 3, o objetivo será a análise da conduta constante no art. 28 da Lei nº. 11.343/2006, com um breve comparativo entre a Lei nº. 6.368/1976, e a Lei 10.409/2002 no que tange a conduta propriamente, bem como do rito processual, princípio da insignificância, reincidência, prescrição, o uso de drogas como infração de menor potencial ofensivo ( Lei nº. 9.099/95), os ponto de vista jurídico e ponto vista médico, a prevenção familiar,e prevenção do Estado. Por fim, realizar-se-á a análise dos posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais sobre a questão em que, a nova lei de drogas teria operado a descriminalização ou despenalização das condutas. Justifica-se a pesquisa pelo seu valor teórico e jurídico, tendo como objetivo o estudo sobre o comparativo das penalizações modificadas sobre a nova Lei nº. 11.343/2006. O trabalho ainda é ilustrado com um manual de orientação “Política Pública Sobre Drogas” e Relatório de ações da demanda de drogas “Inovação e Participação”, e “Portaria 344/98 atualizada pela Resolução RDC 19/08”, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, com assuntos pertinentes ao assunto, que serve para enriquecer a monografia. 4 O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos sobre as despenalizações e descriminalizações. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica. 5 CAPÍTULO 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA A pena é uma instituição muito antiga, cujo surgimento se registra nos primórdios da civilização, já que cada povo e todo período Histórico sempre teve seu questionamento penal, inicialmente, como uma manifestação de simples reação natural do homem primitivo para conservação das espécies, sua moral e sua integridade; após, como meio de retribuição e de intimidação, através de formas cruéis e sofisticadas de punições até os dias atuais, quando se pretende afirmar como de função social de ressocializacão do individuo na sociedade4. “Etimologicamente, o termo pena procede do latim (poena), porém com derivação do grego (poine) significando dor, castigo, punição, expiação, penitência, sofrimento, fadiga, submissão, trabalho, vingança e recompensa”5. Observam-se semelhanças entre a palavra pena em diversos idiomas, no qual, apresenta idêntica significação: “A palavra pena, de igual grafia em português, espanhol e italiano, tem como equivalente nos idiomas: Francês – peine; inglês – pain ; alemão – pein; saxão – pin; dinamarquês – pine; daélico – poen; sânscrito – pana; grego – poine; latim – poena e no esperanto – peno”6. 4 OLIVEIRA,Odete Maria. Prisão: Paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis:Ed.da UFSC, 2.ed.revista e ampliada,1996,p.21. 5 Eod.loc p.21. 6 Eod.loc p.21. http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&ei=9W7USp3OOpLU8Qbn1qWGDQ&sa=X&oi=spell&resnum=0&ct=result&cd=1&ved=0CAUQBSgA&q=ressocializar&spell=1 6 A penalização desde sua origem, foi o resultado de uma arte de punir, de conseqüências terríveis, apesar de inúmeros esforços e tentativas para humanizá-la. Até o séc. XVIII e inicio do séc. XIX, foram utilizados crudelísmos, imaginaginosos e sofistificados tipos de punição, representando a pena, inicialmente de cunho privado, posteriormente divino e, finalmente público, que castigava o corpo de modo direto e exasperador, antes de suprimir-lhe a vida. Banida a pena de morte, surgiu um novo tipo de pena: a privação de liberdade. Vige até os dias atuais. Desta forma o corpo deixou de ser o instrumento de direito de punição, pois os efeitos do encarceramento atingem com mais intimidade à vontade, o intelecto e as emoções. Observa-se, portanto, que até os presentes dias pena não deixou sua principal característica punitiva e repressora. O desejado sentido de ressocialização da pena, na verdade, configura apenas um fantástico discurso retórico para manter o sistema, o que, na verdade traz um desperdício de tempo para o preso e um gasto inútil para o Estado, que retira da sociedade um individuo por apresentar um comportamento desviante e o transforma num irrecuperável, resultando na sua reincidência. Na evolução da pena a sua função repressiva que mostra as suas distintas etapas, registradas através das mais variadas culturas e das diversas civilizações7. Ver-se-á a evolução da pena através das diversas culturas e civilizações no decorrer deste capítulo, enfatizando os três períodos: Período da Vingança, Período Humanitário e Período Científico. Entretanto, esses períodos não se sucedem uns dos outro com precisão matemática. Um período convive com o outro por largo tempo, até constituir-se, para, em seguida, passar a conviver com o que lhe segue8. 1.1Período da vingança Tendo início nos tempos primitivos, nas origens da humanidade, o Período da vingança se dá até o século XVIII. “O Período da vingançase divide em três fases: Vingança Privada, Vingança Divina e Vingança Pública” 9. 1.1.1Período da vingança Privada 7 Noronha, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 26º ed. Atual. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 654. 8 Eod.loc p.655. 9 OLIVEIRA,Odete Maria. Prisão: Paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis: Ed.da UFSC, 2.ed.revista e ampliada,1996,p.22. 7 Este período se divide em seis fases: Vingança individual, Coletiva, da Paz social, do sangue, limitada e da composição. Quando um crime era cometido, ocorria a reação da vítima, dos parentes e dos grupos sociais, que agiam sem proporção à ofensa, atingindo não só o ofensor como também todo o seu grupo. Denomina-se esse período de “Vingança Individual” 10. Com o surgimento dos clãs e do grupo, iniciou-se nesse período o espírito de solidariedade, em que a vingança era exercida de forma coletiva e solidária, com o intuito de proteger a coletividade, “a pena se colocava ao lado do vingador” 11. Respectivo período chama-se “Vingança Coletiva”. A organização da sociedade em estrutura familiar evoluiu e a penalidade imposta ao transgressor da tribo, era a privação da paz social, ele era banido, e invariavelmente levado à morte, pois não levara consigo qualquer arma ou alimento. Tal período chama-se “Vingança da Paz Social” 12. Caso a violação fosse praticada por um elemento estranho à tribo, a reação era a “Vingança de Sangue”, considerada como obrigação religiosa e sagrada, verdadeira guerra movida pelo grupo ofendido àquele que pertencia o ofensor, culminando, não raro, com a eliminação completa de um dos grupos13. Essa fase ocorreu no período neolítico, denominando-se “Vingança Limitada”, vindo a amenizar a voracidade entre o delito cometido e a pena imposta, ou seja, o transgressor recebia o mesmo tratamento que causou, denominando-se Lei de Talião – “a pena punia o mal com o mal por ele causado” 14. 10 OLIVEIRA, Odete Maria. Prisão: Paradoxo, Florianópolis: Ed.da UFSC, 2. Ed.revista e ampliada,1996, P.22. 11 Eod.loc p.22. 12 Eod.loc p.22. 13 Eod.loc, p.23. 14 OLIVEIRA, Odete Maria. Prisão: Paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis: Ed.da UFSC, 2. Ed. revista e ampliada,1996, p. 24. 8 A fase da “Composição” surgiu como forma moderna de pena, mas ainda considerada como gênero de pena, pois ainda prevalecia o sentimento de vingança conforme estabelecia o Talião. A composição nada mais era que a reparação material, não havendo físico e pessoal, esta forma de punir representava uma reparação ao dano cometido15. 1.1.1.1Período da vingança Divina Neste período, deixou-se de aplicar na penalização a vontade do ofensor. “A punição, existe para aplacar a ira divina e regenerar ou purificar a alma do delinqüente, para que, assim a paz na Terra fosse mantida” 16. Destaca Oliveira que “a religião era o próprio direito, posto que imbuído de espírito místico” 17. [...] acreditava o homem primitivo que a inflação totêmica18 ou a desobediência ao tabu atraiam a ira da entidade sobrenatural ofendida sobre todo o grupo, caso este não punisse o infrator, para desagravar a entidade. Era preciso, portanto, que todos participassem do ato de castigar o infrator, a fim de que se eximissem da vingança sobrenatural. 19 Os livros que na época ditavam o Direto Penal eram “Código de Hammurabi” 20, “Código da Índia” 21 e “Código de Manu” 22. O código de Manu (séc. XI a.C.) tinha o fundamento de que a pena purificava. As penas aplicadas nesses ditames eram severas, até mesmo monstruosas, onde determinava arrancar um olho caso o criminoso tivesse praticado tal ato, o corte dos dedos dos ladrões, podendo chegar à 15 Eod.loc, 1996.p. 25. 16 FERREIRA, Gilberto 2000. observa-se em Roma, ao término da monarquia 2000. p. 8. 17 Eod.loc p.25. 18 “Totens eram objetos de grande respeito e de obrigações por parte daqueles que com eles se relacionavam graves castigos.” PIMENTEL, Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade,1983, p.118. 19 Eod.loc, 1983. p.119. 20 “Código de Hamurabi, o rei da Babilônia, séc. XXIII a.c., por ele, se alguém tira um olho a outrem, perderá também um olho[...] era também Hamurabi.” NORONHA,E.Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 26º ed.Atual. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 21. 21 OLIVEIRA,Odete Maria. Prisão: paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis:Ed.da UFSC, 2.ed.revista e ampliada, 1996. p.21. 22 “Código de Manu (séc. XI a.C.) tinha o fundamento que a pena purificava o infrator [...] FERREIRA, Gilberto 2000. observa-se em Roma, ao término da monarquia, 2000. p. 317. 9 evolução para os pés, dependendo da reincidência, o corte da língua para quem insultasse uma pessoa do bem. Essas penas severas, cruéis e desumanas tinham por objetivo a intimidação. 23 1.1.1.2 Período da vingança Pública Neste período visualizava-se a evolução da civilização delimitando definitivamente os campos do Direito e da Religião. Uma transmissão da aplicação da pena privada para a pública, em que a pena aparece com um caráter político.24 A pena pública era caracterizada por uma dupla natureza originária; ora se apresentava como exercício de vingança coletiva, ora como sacrifício expiatório. Enquanto essa modalidade penal acarretava sempre a morte do condenado, já na pena privada se admitia a perda da liberdade como sanção propriamente dita. 25 Com a evolução da sociedade, e por perceber que as penalidades aplicadas eram cruéis e sem qualquer critério de justiça, percebendo também que estavam enfraquecidas, o Estado chamou para si a responsabilidade de punir. No sentido de dar maior estabilidade, incumbiu-se o soberano pela aplicação das penas, que ainda permaneciam severas e cruéis. 26 Após a queda da Monarquia. 27, aproximadamente 500 anos a.C., com a Lex Valeria, foi dado fim ao poder discricionário penal exercido pelos monarcas, senadores, magistrados e Pater-famílias.28 As punições nesse momento se davam em praças públicas, e eram verdadeiras reproduções teatrais de horror e testemunhas da punição, e tudo se dava em clima de festa para alguns e de repúdio para os outros. 29 23 DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, DOTTI, 1998. P. 32. 24 Eod.loc p.25. 25. Eod.loc p. 33 26 Eod.loc p. 33. 27 FERREIRA, Gilberto. observa-se em Roma, ao término da monarquia, 2000, p.317. 28 OLIVEIRA,Odete Maria. Prisão: paradoxo/ Florianópolis: Ed.da UFSC, 2.ed. revista, 1996, p.38. 29 Eod.loc p.33. 10 Com o passar dos tempos esses rituais de crueldade em praça pública foram perdendo o intuito de demonstrar o castigo aplicado, assim deixou de objetivar a vingança. Segundo comenta Oliveira: Na época, foi-se disseminando o consenso de que o cruel prazer de punir, com as formas refinadas de suplicar, não causavam mais o horror esperado, não servindo, portanto, de função exemplar de castigar, logo, a pena não poderia mais objetivar uma vingança pública, pois, em cada homem, por pior que seja, há alguma humanidade, que deve ser respeitada. Finalmente, as autoridades compreenderam a inutilidade do cerimonial meticuloso do espetáculo ostentado na execução da pena e que o condenado deveria deixar de ser alvo da prática daqueles castigos.30 As autoridades reconheceram a ineficácia do método de aplicação da pena e da necessidade de reformar o Direito Penal, iniciando um novo ciclo na história, conhecido por período Humanitário. 31 1.2 Período Humanitário Este período é nomeado adequadamente de Humanitário, pois na segunda metade do séc.XVIII, o povo, já cansado de tantos espetáculos atrozes ao longo dos anos, tornando intoleráveis os suplícios começou a rejeitar o quelhes era imposto pelo Estado, que uma vez sentenciado o homem, este deixava de ser humano, e passava a ser alvo de espetáculo a quem quisesse assistir. Naturalmente o povo procedia dessa forma por serem manipulados pelos interesses do rei. 32 Então, começaram a reivindicar o Direito de contestar o que lhes era imputado. Comenta Foucault: O povo reivindica seu Direito de constatar o suplício e quem é supliciado. Tem direito também de tomar parte. O condenado, depois de ter andado muito tempo, exposto, humilhado, várias vezes lembrado do horror de seu crime, é oferecido aos insultos, às vezes aos ataques dos espectadores. 33 30Eod.loc p.33. 31 Eod.loc p. 38. 32 OLIVEIRA,Odete Maria. Prisão: paradoxo/ Florianópolis: Ed.da UFSC, 2.ed. revista, 1996,2000. p. 38. 33 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Tradução de Raquel Ramalhete. 15ª ed. : vozes, 1997. p. 277. 11 O Período humanitário ficou conhecido como século das luzes, liderado pelos pensadores europeus que contestavam os ideais absolutistas, formados por juristas, magistrados, parlamentares, filósofos, legisladores e técnicos em direito, nos quais se destacaram: Servan, Voltaire, Marat, Duport, Target, Rousseau e Cessare Bonesana. 34, mais conhecido como Marques de Beccaria. No entendimento de Noronha “Tal estado de coisas suscitava na consciência comum a necessidade de modificações e reforma no direito repressivo”. 35 Por esse motivo, surge então, um movimento de protesto, que segundo Oliveira “pregava a moderação das punições e sua proporcionalidade com o crime”, despertando a consciência pública contra as punições cruéis. 36 Os reformadores pretendiam atacar a corrupção que na época dominava a justiça em que se apresentava com lacunas irregular e contraditória. O Rei, com todo seu absolutismo manipulavam toda e qualquer decisão principalmente sobre os magistrados, podendo a qualquer momento, ”[...] suspender o curso da justiça, exila-los e substituí-los”. 37 Essa reforma pretendia, segundo Oliveira: Pleitear não só uma nova teoria da justiça da pena, mas que a mesma fosse melhor distribuída, não ficasse à mercê do soberano ou que favorecesse os privilégios, que fosse exercida de forma justa e universal, não por instâncias incapazes, confusas e antagônicas.38 Foucault em sua obra “Vigiar e Punir” bem se posiciona no assunto sobre reforma: Um poder de julgar sobre o qual não pesasse o exercício imediato da soberania do príncipe; que fosse diferente da pretensão de legislar; que não tivesse ligação com as relações de propriedades; e que , 34Eod.loc, p.39. 35 NORONHA, E . Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 26º ed.Atual. São Paulo: Saraiva, 1999. p.24. 36Eod.loc, p.39. 37 OLIVEIRA,Odete Maria Prisão: paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis:Ed.da UFSC, 2.ed.revista e ampliada,1996, p. 41. 38Eod.loc p..41. 12 tendo apenas as funções de julgar, exercia plenamente este poder. Em uma palavra fazer com que o poder de julgar não dependesse mais de privilégios múltiplos, descontínuos e contraditórios da soberania [...].39 Esse movimento originou a evolução de idéias iluministas, que tiveram seu apogeu com a publicação da obra escrita por Beccaria, “Dei Delitti e Delle Pane”.40 Não só é interesse comum que não sejam cometidos delitos, mas também que ele seja tanto mais raros quanto maior o mal que causam a sociedade. Portanto, devem ser mais fortes os obstáculos que afastam os homens dos delitos na medida em que estes são contrários ao bem comum e na medida dos impulsos que os levam a delinqüir. Deve haver, pois, uma proporção entre os delitos e as penas.41 Através das idéias iluministas começou a proporção entre os delitos e as penas, então as moderações nas penas ganharam espaço e foram evoluindo. 1.3 Período Científico Inicia-se neste período, no século XIX, a preocupação com o homem delinqüente e a explicação causal do delito, considerando os fatores individuais e sociais. Neste período a pena é vista como um remédio, não mais um castigo, que deve ser ministrada conforme a periculosidade do delinqüente, sendo a sanção um meio de defesa social.42 O período científico teve início com Cesare Lombroso, notável médico italiano que revoluciona o campo penal na época. Ferri e Garófalo também merecem destaque, além do determinismo e da Escola 39 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Tradução de Raquel Ramalhete. 15ª ed. Petrópolis. 1999. p.69. 40 NORONHA,E . Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 26º ed.Atual. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 654. 41 BECCARIA, BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Livraria Martins Editora LTDA:, 1996. p. 117. 42 FERREIRA, Gilberto. observa-se em Roma, ao término da monarquia, 2000. p.317. 13 positivista que tiveram sua devida influência neste período, que de certa forma contribuiu com o direito Penal.43 Para compreender a evolução da pena dos povos antigos no direito Penal, devemos nos reportar inicialmente ao passado nos paises do oriente, em relação ao Egito, Assíria, China, Fenícia, Babilônia, Pérsia, Israel, índia, Grécia, Roma. 1.4 A Pena na antiguidade dos principais países até os dias atuais Para compreender a evolução das penalidades, devemos nos reportar inicialmente ao passado, nos países do oriente em relação ao Egito, Assíria, China, Fenícia, Babilônia, Pérsia, Israel, Índia, Grécia, Roma e por fim, com o conceito de Pena e crime e suas principais características. 1.4.1 A Penalidade no Egito antigo As penalidades eram dominadas por total sentimento de vingança, mas tratava-se de forma divina, como descreve Oliveira: O direito imperava como uma revelação dos deuses, em que Manes promulgou um corpo de leis que teria sido citado pelo deus Thot. A morte dos animais sagrados constituía crime dos mais graves e os atentados contra os faraós eram delitos de lesa-divindade, aos quais se aplicavam atrozes penas. Os cinco Livros, chamados Sagrados, continham. As leis penais, vigorando, também, o talião material e o simbólico: à espiã, cortava-se a língua, a adultera, o nariz, ao estuprador, os órgãos genitais, os falsos escribas tinham as mãos cortadas. Além do enforcamento e da decapitação, adotavam a fogueira, o suplício das cinzas e a colocação na cruz. Na pena do fogo, o carrasco aplicava várias incisões com varas pontudas nas mãos dos supliciados que, a seguir, eram deitados sobre o fogo de espinhos e queimados vivos. [...]. Todos estes sofrimentos acessórios eram exigidos ou pela natureza do crime ou pela opinião pública44. 43 TELLES, Ney Moura. Direito Penal. São Paulo: ed. Direito, 1996. 1.v. p.405. 44 OLIVEIRA, Odete Maria Prisão: Paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis:Ed.da UFSC, 2.ed.revista e ampliada,1996. p. 26. 14 O poder dos reis e imperadores era imbuído de caráter teocrático divino e as leis penais encontradas e misturadas nos cincos livros sagrados45. 1.4.2 A Penalidade na Assíria antiga A penalidade era feita com requinte de crueldades contra os apenados: [...] .Eram jogados aos animais ferozes ou em fornalhas ardentes; queimados a fogo lento num tacho de bronze ou arrancavam-se-lhes os olhos.Como a decapitação e os estrangulados eram tidos como medidas insuficientes, os criminosos eram lapidados, crucificados, queimados as costas [...],jogados aos rochedos, flechados, pendurados, mutilados e deportados 46. Eram penas refinadas e cruéis para os criminosos da época. 1.4.3 A Penalidade na China antiga Este já consagrava o Talião como forma de punição. O antigo direito chinês estava impregnado de caráter sagrado.Tendia à vingança, [...]. Utilizavam a mutilização, a marca, a morteem público por decapitação, enforcamento,esquartejamento e enterramento em vida47. 1.4.4 A Penalidade na Fenícia Era relacionado com os “grandes comerciários, como restou conhecidos os fenícios. Preocupavam-se praticamente com a repressão dos crimes com o comércio” 48. 1.4.5 A Penalidade em Israel na antiguidade 45 Eod.loc p. 25. 46 Eod.loc. p. 26. 47 Eod.loc p.27. 48 OLIVEIRA,Odete Maria. Prisão: paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis:Ed.da UFSC, 2.ed.revista e ampliada,1996, p.28. 15 Este instituto acolhia o Talião e a composição com penas cruéis e tiranas. Aproximadamente 2.250 anos a.C.,surge na Babilônia o mais importante monumento penal, o Código do Rei Hamurabi.[...], poucas normas religiosas. A vingança era desconhecida;[...] 49. 1.4.6 A Penalidade na Pérsia antiga A pena era sanguinária com formas requintadas de crueldades exemplos lapidação, esquartejamento, decapitação, cegueira, aleijamento, crucificação, marca de fogo, empalação, veneno, apedrejamento, enterro do corpo até o pescoço, esmagamento da cabeça entre duas cabeças, assamento em brasas, enforcamento de cabeças para baixo. [...] uma pena tipicamente persa foi a do “escafisco”, ou seja, suplicio dos botes, criada por Mitriades. Como relata Jesuam de Paula Xavier, citando Pluturco: tomavam-se dois botes ajustáveis, deitavam-se de costa num deles o malfeitor, cobria-se com o outro. A cabeça, as mãos e os pés ficavam de fora, e o resto do corpo fechado.Faziam-no comer a força e picavam-lhes os olhos, passando-lhe na face uma mistura de leite e mel, deixando-o com o rosto exposto ao sol, que ficava coberto de moscas e formigas.[...], devorando o corpo [...]50. A Legislação persa encontrava-se inserida no livro Avesta, e sua obra sagrada formava 21 livros conhecidos por Nasks. 1.4.7A Penalidade em Israel na antiguidade A pena em Israel se caracterizou pelo cunho da divinidade. As normas penais incorporavam-se na Legislação de Moíses. [..], nos livros da Bíblia: Êxodo, Levítico e Deuteronômio. A pena objetivava aplicar a ira da divindade, a expiação e a exemplaridade.[...] Na lei mosaica imperava o talião material e simbólico, a composição só era proibida para os casos de morte, as flagelação eram aplicadas a um dos delitos, fixadas, no máximo em 40 golpes.[...]51. 49, Eod. loc p.29. 50 OLIVEIRA,Odete Maria. Prisão: Paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis:Ed.da UFSC, 2.ed.revista e ampliada,1996, p. 29. 51 Eod. loc p. 28. 16 A pena não estava isenta de crueldade. Praticava-se a lapidação, o fogo, a decapitação e o estrangulamento. A mutilação só figura uma vez no Pentateuco. 1.4.8 A Penalidade na Índia antiga Na penalidade dos hindus, aplicava-se o Direito Punitivo no qual, regulava-se pelo Rei, com regras morais, das quais a mais antiga era Código de Manu, com 2.685 versículos. [...] Supunha-se que Manu, filho de um deus ancestral, havia recebido das mãos do próprio Brahma. Tal Código, de caráter religioso, desconhecia o talião e a composição, pretendia a purificação do criminosos mediante penas cruéis e exemplares: cortavam o dedo ao ladrão, o pé e mão ao reincidente, a língua a quem insultasse um regenerador, queimavam o adúltero em cama ardente, entregavam a adúltera aos cachorros52. A pena de morte era a decapitação, para os que eram considerados criminosos mais graves. As demais penas eram aplicadas com conseqüências terríveis para os condenados. 1.4.9 A Penalidade na Grécia antiga Na Grécia, primeiramente vigorou a penalidade da vingança privada, atingindo além dos culpados, seus familiares, com conseqüências terríveis. [...] metade do século IX ao fim do século VIII a.C., em Esparta, era aplicada a legislação de Licurgo. As leis espartanas eram revestidas de espírito heróicos, puniam principalmente os soldados covardes, o jovem afeminado e o celibatário. Da primeira metade do séc. VII a.C., através da legislação de Dracon, que evitou a utilização da lei de Talião, pois, nem sempre possibilitava a reparação completa do crime, constituiu pena única, a pena de morte para todos os delitos, fosse grave ou leve53. No século VI a.C. com a legislação de Sólon a penalidade passou a ser usada da forma humanitária, faziam uso da multa, chibata, anulação dos direitos da cidadania, confisco, ferro em brasa e exílio. Somente 52 Eod. loc, p. 30. 53 Oliveira, Odete Maria Prisão: Paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis: Ed.da UFSC, 2.ed.revista e ampliada,1996. p.31. 17 a traição era seguida de morte. Na Grécia há a presença marcante da manifestação dos filósofos como Platão e Aristóteles54. [...] Platão foi contra a pena vingança, fosse privada ou divina, para dotá-la de um propósito utilitário, de reforma ou de cura, semelhante aos medicamentos. A pena tinha sentido corretivo, pois o vício e o crime eram considerados como enfermidades da alma.[...] Aristóteles entendia que o mal e o crime eram produtos do querer livre e racional do homem; e a pena deveria surgir como retribuição do mal pelo mal.Em sua obra, “As Leis”, discute o modo de tratamento dos criminosos incorrigíveis, através da reeducação e emenda do culpado.(grifo nosso) 55 Desta forma, não devia vingar a injustiça, para evitar a ocorrência de novos crimes, tanto para aquele que praticou como para aqueles que assistirão o castigo. 1.4.10 A Penalidade na Roma antiga No Direito Romano, assim como nos povos da época seguiram a influência da vingança privada e divina. Entre os romanos, os crimes capitais eram os mais numerosos que os dos gregos. A morte não era envolvida por nenhuma agravante ou tortura acessória. Somente com inicio do Império, o poder governamental tendeu a tornar-se absoluto e consequentemente as penalidades ficaram mais severas, especialmente nos crimes capitais56. [...] os crimes capitais se multiplicaram, punindo-se com a morte o adultério. O incesto e os crimes de lesa-majestade. Foram instituídos panas mais severas.[...]. A fogueira era reservada para os crimes de políticos,[...]. A castração atingia certos atentados contra os costumes, os falsos escribas tinham a mão cortadas,[...]. Aos patrícios era dada a morte por decapitação, [...]. Eram usadas a mutilação, a flagelação, a precipitação do alto da rocha Tarpéia e a execução”ad bestiam” às feras. Ainda hoje, há em Roma os lugares conhecidos por arenas, onde o imperador Nero mandava soltar as feras para devorar os cristãos.57 Durante o período que se impôs a modalidade de vingança divina quase sempre juntavam-se o talião e a composição, esta por 54 Eod. loc, p.29. 55 Eod. loc, p.32. 56 OLIVEIRA,Odete Maria Prisão: Paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis:Ed.da UFSC, 2.ed.revista e ampliada,1996, p.27. 57 Eod. loc, p.31. 18 sinal, diferente da vingança era uma faculdade de compensação e reparação. Contudo, a medida que o tempo passou, o crime se reduzia mais. Em análise esclarece Durkheim “é na evolução do crime que é preciso procurar a causa que determinou a evolução da penalidade. Os atos reputados criminosos podem ser divididos em duas categorias fundamentais”58: Uns são dirigidos, contra as coisas coletivas, ou seja, contra autoridade pública e seus representantes, os costumes, as tradições e a religião; Outros ofendem os indivíduos, como a morte, roubo, violência e fraudes de toda espécie As duas formas são distintas: a primeira refere-se criminalidade religiosa, nos quais, eram os mais gravosos que os atentados contra as tradições ou chefes de Estado. A segunda pode ser chamada de criminalidade humana59. Assim, à medida que o tempo avançou, o crime foi atingindo mais o ser humano e seu patrimônio, perdendo-se aospoucos as penalidades que eram cobradas pela religião60. 1.5 A evolução das penalidades no Brasil Quando os pioneiros portugueses aportaram em território brasileiro encontraram aqui os indígenas, que eram desprovidos de qualquer Lei escrita ou interesse jurídico, o que vigorava entre eles era o direito costumeiro, encontrando-se ainda a vingança privada, coletiva e o talião. “Entretanto pelo seu primarismo, as práticas punitivas das tribos selvagens que habitavam o nosso pais em nenhum momento influíram em nossa legislação”61. É importante destacar a influência portuguesa, bem como leciona Fragoso: Destacamos, no rápido exame Histórico da legislação Penal a parte relativa às leis portuguesas, pois esta passaram aplicar-se no Brasil, 58 Eod. loc, p.31. 59 Eod. loc,p. 32. 60 OLIVEIRA,Odete Maria Prisão: Paradoxo/Odete de Oliveira, Florianópolis:Ed.da UFSC, 2.ed.revista e ampliada,1996, p.32. 61 MIRABETE, Julio Fabrini. Execução Penal Anotada. São Paulo: Saraiva,1997,1. v.p.40. 19 a partir do descobrimento, dada a nossa condição de colônia, esse incluem assim, na história do Direito Penal Brasileiro.62 O direito penal brasileiro quanto a evolução das penas no Brasil foi dividida em dois períodos, primeiro regeu-se sobre a legislação portuguesa, e, num segundo período a legislação foi legitimamente brasileira, podendo ser dividida em três fases: o período colonial, o Código Criminal do Império, período republicano e o Código Penal de 194063. 1.5.1Período Colonial Com descobrimento do Brasil, em 1500, após passou-se a vigorar a legislação portuguesa que era baseada nas Ordenações Filipinas, publicadas em 1446, sob o reinado de D. Afonso V, consideradas como o primeiro código europeu completo. Porém, foram logo substituídas pelas Ordenações Manuelinas, por determinação de D. Manuel I, em 1521, vigorando até o advento da Compilação de Duarte Nunes de Leão, em 1569, realizada por determinação de D. Sebastião64. Neste mesmo sentido leciona Mirabete, citando Pinho: No período colonial, estiveram em vigor no Brasil as Ordenações Afonsinas (até 1512) e Manuelinas (até 1569), substituídas estas últimas pelo Código de D.Sebastião (até 1603). Passou-se, então, para as Ordenações Filipinas, que refletiam o direito penal dos tempos medievais. O crime era confundido com o pecado e com a ofensa moral, punindo-se severamente os hereges, apóstatas, feiticeiros e benzedores. Eram crimes a blasfêmia, a benção de cães, a relação sexual de cristão com infiel etc. As penas, severas e cruéis (açoites, degredo, mutilação, queimadura etc.), visavam infundir o temor pelo castigo. Além da larga cominação de pena de morte, executada pela força, pela tortura, pelo fogo etc. eram comuns as penas infamantes, o confisco e as galés65. A legislação no período colonial, a exemplo daquela contida nas Ordenações anteriores (Afonsinas e Manuelinas), era uma legítima 62 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – parte geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993. p.55. 63 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 11 ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2007,v.1, p. 45. 64 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 11 ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2007,v.1. p.45. 65 PINHO, 1973 apud, MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP. 24.ed. rev. e atual. até 31/12/2006. São Paulo: Atlas, 2007, v. 1, p. 24. 20 representante do direito penal medieval, obscura, sem visão da pessoa humana, caracterizada como um “Direito penal do Terror”, pela extrema crueldade de que era revestida, guiava-se para vasta criminalização das mais variadas condutas e pela imposição de penas extremamente severas66. Dotti faz uma observação histórica no tempo em que vigorava, como ele próprio deduz, a face negra do Direito Penal Brasileiro: E foi sob a inspiração e o comando daquele direito penal do terror que se processaram e condenaram os mártires do inesquecível episódio da Inconfidência Mineira, tendo à frente Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. As penas corporais e infamantes (morte, esquartejamento, açoites, degredo e declaração de infâmia) eram aplicados sob o fundamento e o pretexto de uma ideologia da salvação dos costumes sociais, políticos e religiosos ditados pelos poderosos, [...]67. Neste período vigoravam três ordenações: Afonsina, Manuelina e Filipina. 1.5.1.2 Ordenações Afonsinas Após a independência e com entrada em vigor da Constituição Imperial de 1824, a qual alimentava novos horizontes para a nação, introduzindo idéias de inspiração pelo humanismo e liberalismo, fez-se absolutamente necessária a edição de uma nova legislação penal compatível com o ideário da carta constitucional e que pudesse pôr fim ao longo reinado do direito penal do terror que era representado pela mais do que obsoletas Ordenações Filipinas68. De índole liberal, o Código Criminal (o único diploma básico que vigorou no Brasil por iniciativa do Poder Legislativo e elaborado pelo Parlamento) fixava um esboço de individualização da pena, previa atenuantes, agravantes e estabelecia um julgamento especial para os menores de 14 anos. A pena de morte, a ser executada pela força, só foi aceita após 66 MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme Tavares de. Direito penal: introdução e aplicação da lei penal, tomo I. 2 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2007, p. 28 67 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 182-183. 68 MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme Tavares de. Direito Penal: introdução e aplicação da lei penal, tomo I. 2 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2007, p. 28. 21 fervorosos debates no Congresso e visava coibir a prática de crimes pelos escravos69. Bitencourt elucida precisamente sobre a criação do Código Criminal do Império, senão vejamos: Em 1830, o imperador D. Pedro I sancionou o Código Criminal, primeiro código autônomo da América Latina. Destaca Aníbal Bruno que o novo texto fundou-se nas idéias de Bentham, Beccaria, e Mello Freire, no Código Penal francês de 1810, no Código da Baviera de 1813, no Código Napolitano de 1819 e no Projeto de Livingston de 1825. Todavia, não se filiou estritamente a qualquer deles, “tendo sabido mostrar-se original em mais de um ponto”. Com efeito, o Código Criminal do Império surgiu como um dos mais bem elaborados, influenciando grandemente o Código Penal espanhol de 1848 e o Código Penal português de 1852, por sua clareza, precisão, concisão e apuro técnico70. O Código Criminal do Império Brasileiro de 1830 serviu de base para a redação do Código Espanhol de 1848 e ao posteriores de 1850 e 1870, além de subsidiar reformas do sistemas penais latino-americanos. Foi um obra muito elogiada por juristas europeus como Haus e Mittermayer e mereceu traduções contemporâneas ao tempo de sua edição71. Os estudiosos destacavam que o Código Criminal do Império foi inspirada pela melhor doutrina e pela mais atualizada legislação da época, tornando-se um enorme avanço na modernidade. Segundo Fragoso comenta a matéria que o Código Imperial “Foi o primeiro Código Penal autônomo da América Latina. Sofreu as influências das idéias que então dominavam na Europa, ou seja, dos princípios liberais do iluminismo e do utilitarismo [...] as influências legislativas mais importantes foram as do Código Penal francês de 1810 e do Código napolitano de 1819, mas sem ser nosso código realmente uma obra independente, pode- 69 PINHO, 1973 apud, MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP. 24ed. rev. e atual. até 31 de dezembro de 2006. São Paulo:Atlas, 2007, v. 1, p. 24. 70 BITENCOURT, 2007. p. 46. 71 DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p.190. 22 se dizer que há nele originalidade em algumas disposições, a par de inegável superioridade técnica” 72. Nesta época a aplicação da pena baseava-se na vingança publica, utilizando-se de excesso de crueldade73. 1.5.1.3 Ordenações Filipinas As ordenações Filipinas foram nosso primeiro estatuto, editado por Filipe II e perpetuou-se por mais de três séculos, (foi o código de mais longa vigência no Brasil, regeu-se desde 1603 a 1830, isto é, mais de 200 anos), e pouco divergiu-se das ordenações anteriores no que tange a punição74. 1.5.1.4 Ordenações Manuelinas Essas ordenações foram editadas por Dom Manoel, para consolidar o Direito português, que permaneceu em vigor até 1569, quando revogados pelo código de Dom Sebastião até 1603, nos quais, as penalidades eram aplicadas através de suplício. Havia penas cruéis, cuja aplicabilidade variava conforme a classe social do réu, inclusive com aplicação da pena de morte e a fogueira, devido a influência do Tribunal da Santa inquisição75. 1.6 Período Imperial Com a proclamação da independência pelo Príncipe Dom Pedro, em 1822, tornando-se o Imperador do Brasil, estavam em vigor naquela época as ordenações Filipinas. Em 1830, sobre a influência da escola Clássica, foi aprovado o Código criminal do Império, que preocupou-se com os princípios 72 FRAGOSO, 2004 apud, MARINHO, 2007. p. 30. 73 TELES, Ney Moura. Direito Penal. São Paulo: ed. De Direito, 1996. 1.v.p.60. 74 NORONHA, E . Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 26º ed.Atual. São Paulo: Saraiva, p.56,1999. 75 SILVA. José Geraldo da. Teoria do Crime. Campinas/SP: Bookseller, 1999. p. 334. 23 da responsabilidade moral e do livre arbítrio, entendendo que não há criminoso sem má fé, sem conhecimento do mal e sem intenção de aplicá-la76. 1.7 Período Republicano Com a proclamação da república, foi editado em onze de outubro de 1890 o novo estatuto básico nomeado então de Código Penal, que na época foi alvo de duras críticas, em decorrência da pressa em que foi elaborado. O novo Código trouxe inovações no campo da sanção Penal, como abolição da pena de morte e dos açoites, instalou-se o regime penitenciário de caráter correcional77. No entanto, “consagrou o principio da legalidade, disciplinou os crimes culposos, aplicação da multa” 78. Entretanto, por ser mal sistematizado, foi modificado por inúmeras Leis, que foram reunidas na consolidação das leis penais, pelo Decreto nº. 22.213, de 14 de dezembro de 1932. Em 1940 surge o novo Código Penal através do Decreto nº. 2848, de 7 de dezembro,” que teve origem em projeto de Alcântara Machado, submetido ao trabalho de uma comissão revisora composta por Hungria, Vieira Braga, Narcélio de Queiroz e Roberto Lira”79. Comenta Noronha: [...] a promulgação do Código e sua vigência mediou o espaço de pouco mais de um ano.Ditava esse lapso não só a necessidade de conhecê-lo, como também dar tempo para que se elaborasse o novo Código de Processo, transformando em lei pelo Decreto- lei nº.3689 de 3 de outubro de 1941.Ambos os estatutos foram precedidos de Lei de Introdução.O novo Código “ é uma legislação eclética”, em que se aceitavam os postulados das escolas Clássicas e positivistas, valendo-se do melhor que havia nas legislação modernas, em especial os códigos italiano e suíço80. 76 TELES, Ney Moura. Direito Penal. São Paulo: ed. De Direito, 1996. 1.v.p.60. 77 Eod. loc. p. 41. 78 SILVA. José Geraldo da. Teoria do crime. Campinas/SP:Bookseller, 1999. p. 324. 79 SILVA. José Geraldo da. Teoria do Crime. Campinas/SP:Bookseller, 1999. p. 41. 80 NORONHA,E . Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 26º ed.Atual. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 64. 24 Leciona Fragoso sobre a matéria: [...] O Código Penal de 1940 fundamento as bases de um direito punitivo democrático e liberal. O seu único vestígio autoritário aparece na disciplina dos crimes contra a organização do trabalho que, inspirada no direito italiano, estabelece sistema de excepcional rigor na repressão dos lícitos [...] O código penal incorpora o inicio da reserva legal (inaplicável às medidas de segurança); a pluralidade das penas privativas de liberdade (reclusão e detenção); a exigência do inicio da execução para a configuração da tentativa (art.12); o sistema progressivo para o cumprimento das penas privativas liberdade, a suspensão condicional da pena, e o livramento condicional.Na parte especial, divida em onze títulos, a matéria se inicia do CP anterior), terminando pelo crimes contra a administração pública. Não há, no CP comum, pena de morte nem de prisão perpétua. O máximo da pena privativa de liberdade é de 30 anos81. Devido às acentuadas criticas, foi promulgado um Decreto – lei nº. 1004, de 21 de outubro de 1969, para substituição desse Código, que passaria a viger em 1º de janeiro de 1970, sendo modificado substancialmente pela Lei nº. 6016 de 31 de dezembro de 1973, mas que nunca entrou em vigor sendo revogado em 11 de outubro de 1978, pela lei 6.578. Com o insucesso da tentativa da reforma do código penal, o chefe do executivo, através da Portaria 1.043 de 27 de novembro de 1980, instituiu uma comissão para a elaboração do anteprojeto de lei de reforma da parte geral do código penal de 1940, que foi presidida por Francisco de Assis Toledo82. Comenta Telles sobre a matéria: Em 1984 a parte geral do Código Penal, que trata dos princípios basilares do Direito Penal, é integralmente reformado, através do projeto de Lei, encaminhado ao Congresso em 1983, transformando- se em Lei nº. 7.209 de 11 de junho, com inovação e modernos conceitos no cumprimento de penas “progressão de regime mais severo – fechado – a mais brando – aberto – e também a regressão a possibilidade de novas modalidades de penas, chamadas alternativas, de prestação de serviço a comunidade e restrição de direito,” sendo na mesma data promulgada a Lei 7.210 que institui a Execução Penal, renovou amplamente e principalmente, positivamente a execução da pena, Lei esta em vigor no ordenamento jurídico83. 81 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – parte geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994. p. 64/ 65. 82 MIRABETE , Julio FABRINI. EXECUÇÃO PENAL ANOTADA. São Paulo: Saraiva,1997,1. V p. 41. 83 TELES, Ney Moura. Direito Penal. São Paulo: ed. De Direito, 1996. 1.v.p. 65. 25 A doutrina é unânime em afirmar que o Código Penal de 1890 continha várias e graves imperfeições, atribuídas a pressa pela qual foi elaborado e concluído84. Enquanto os movimentos de reforma não vingavam, várias leis penais extravagantes entraram em vigor, desfigurando por completo o sistema do Código Penal de 1890 e causando extrema confusão quanto à interpretação do direito penal vigente e, até mesmo, dificuldade em se estabelecer, qual seria veridicamente, diante da profusão de leis penais, a que deveria ser aplicada, ou seja, que estava em efetivo vigor85. Bitencourt comenta o Código de 1890: Como tudo que se faz apressadamente, este, espera-se, tenha sido o pior Código Penal de nossa história; ignorou completamente “os notáveis avanços doutrinários que então se faziam sentir, em conseqüência do movimento positivista, bem como o exemplo de códigos estrangeiros mais recentes, especialmente o Código Zanardelli. O Código Penal de 1890 apresentava graves defeitos de técnica, aparecendo atrasado em relação à ciência de seu tempo.” As críticas não se fizeram esperar e vieram acompanhadas de novos estudos objetivando sua substituição. Os equívocos e deficiências do Código Republicano acabaram transformando-o em verdadeiracolcha de retalhos, tamanha a quantidade de leis extravagantes que, finalmente, se concentraram na conhecida Consolidação das Leis Penais de Vicente Piragibe, promulgada em 193286. O longo período de vigência de um péssimo código (1890- 1932) não faltaram projetos pretendendo substituí-lo. João Vieira de Araújo apresentou o primeiro em 1893, sem êxito. Em 1913, foi Galdino Siqueira, um dos grandes penalistas brasileiros, que elaborou o seu projeto, que nem chegou a ser apreciado pelo Parlamento. Em 1928, Virgílio de Sá Pereira publicou o seu projeto completo de código penal, que também não obteve êxito. Posteriormente, durante o Estado Novo, em 1937, Alcântara Machado apresentou um projeto de Código Criminal Brasileiro, que, apreciado por uma Comissão Revisora, acabou sendo sancionado, por decreto de 1940, como 84 PINHO, 1973 apud, MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, artigos. 1º a 120 do CP. 24 ed. rev. e atual. até 31 de dezembro de 2006. São Paulo: Atlas, 2007, v. 1, p. 24. 85 MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme Tavares de. Direito penal: introdução e aplicação da lei penal, tomo I. 2 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2007, p. 47. 86 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 11 ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2007,v.1, p. 46. 26 Código Penal, vigorando desde 1942 até hoje, embora parcialmente reformado em várias partes87. Depois desse desenvolvimento, no que tange o tempo a até os dias atuais referente a reforma, pouca coisa mudou, sendo que a pena continua com sua finalidade de buscar a ordem social penalizando através do castigo. 1.8 Código Penal de 1940 A história penal brasileira chegou ao atual Código Penal Brasileiro, o Decreto-lei nº. 2.848 de 07 de dezembro de 1940, a respeito da entrada em vigor deste Código Penal. Destaca Mirabete: Em 1º-1-1942, porém, entrou em vigor o Código Penal (Decreto-lei n.º 2.848, de 7-12-1940), que ainda é nossa legislação penal fundamental. Teve o código origem em projeto de Alcântara Machado, submetido ao trabalho de um comissão revisora composta de Nelson Hungria, Vieira Braga, Narcélio de Queiroz e Roberto Lira. É uma legislação eclética, em que se aceitam os postulados das escolas Clássica e Positiva, aproveitando-se, regra geral, o que de melhor havia nas legislações modernas de orientação liberal, em especial nos códigos italiano e suíço. Seus princípios básicos, conforme assinala Heitor Costa Junior, são: a adoção do dualismo culpabilidade-pena e periculosidade-medida de segurança; a consideração a respeito da personalidade do criminoso; aceitação excepcional da responsabilidade objetiva88. As principais influências estrangeiras do Código de 1940 foram oriundas do Código Italiano de 1930 e do Código Suíço de 193789. O Código entre várias modificações técnicas, instituiu o sistema dualista, vinculando a pena à culpabilidade, e a medida de segurança à periculosidade, embora tivesse adotado o critério conhecido como “duplo 87 Eod. loc,p. 47. 88 PINHO, 1973 apud, MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP. 24 ed. rev. e atual. até 31 de dezembro de 2006. São Paulo: Atlas, 2007, v. 1, p. 24. 89 MARINHO, Alexandre Araripe; FREITAS, André Guilherme Tavares. Direito penal: introdução e aplicação da lei penal, tomo I. 2 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2007, p. 33. 27 binário”, que permitia aplicação de medida de segurança posteriormente ao cumprimento da pena, para o condenado que fosse considerado perigoso90. Dotti comenta a respeito do atual Código Penal e manifesta-se na seguinte posição: As modificações pontualizadas do CP traduzem o empenho do Estado em reprimir mais adequadamente certas formas de criminalidade. Tais alterações compreendem tanto a Parte Geral como a Parte Especial do CP e a legislação especial. O Governo e o Poder Legislativo têm proporcionado um grande volume de leis penais atendendo a setores da opinião pública e a pressão dos meios de comunicação, diante do impacto causado por determinados crimes contra a vida, o patrimônio, o meio ambiente, a economia popular e outros bens e interesses. A inflação legislativa em matéria penal tem sido combatida em várias oportunidades e em diversos escritos dogmáticos ou críticos, sob o pressuposto de que a lei não é o recurso suficiente para conter as grandes expressões da criminalidade violenta ou astuciosa91. Com o insucesso da tentativa da reforma do Código Penal, o chefe do Executivo, através da Portaria 1.043 de 27 de novembro de 1980, instituiu uma comissão para a elaboração do anteprojeto de lei de reforma da parte Geral do Código Penal de 1940, que foi presidida por Francisco de Assis Toledo92. Em 1984 a parte geral do Código Penal, que trata dos princípio basilares do Direito Penal, é integralmente reformado, através do Projeto de Lei, encaminhado ao Congresso em 1983, transformando-se em Lei nº. 7.209 de 11 de junho, com inovação e modernos conceitos no cumprimento de pena “ com progressão de regime mais severo – fechado – a mais brando – aberto - e também a regressão a possibilidade de novas modalidades de penas, chamadas alternativas, de prestação de serviço a comunidade e restrição de direito”93, sendo mesma data promulgada a Lei 7.210 que institui a Execução da pena, lei esta em vigor no ordenamento jurídico. 90 Eod. loc, p. 34. 91 DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.217. 92 MIRABETE , Julio FABRINI. EXECUÇÃO PENAL ANOTADA. São Paulo: Saraiva,1997,1. V p. 41. 93 TELES, Ney Moura. Direito Penal. São Paulo: ed. De Direito, 1996. 1.v.p. 65. 28 Desta forma, sumariamente verificou-se no primeiro capítulo desta Monografia, a análise de um breve Histórico das penalidades aplicadas nos principais países da antiguidade, com seguimento histórico no Brasil até as últimas reformas referente as penalidades. Na sequência o segundo Capítulo tratará sobre o assunto referente ao conceito de crime e pena, com seguimento a aplicação da penalidade na lei antidrogas. 29 CAPÍTULO 2 CONCEITO DE DELITO, DE CONTAVENÇÕES , CRIME E DE PENA E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS 2. 1 Caracterização e Conceituação de delito Muito se discutiu sobre a importância do conceito do delito de Becarria, que oferece a seguinte definição: A verdadeira medida dos delitos é o dano causado à sociedade. Cada delito, embora privativo ofende a sociedade, mas nem todo delito procura a destruição imediata. Os atentados contra a segurança e a liberdade do cidadão constituem, pois, um dos maiores delitos, e nessa classe se incluem não apenas os assassinos e os furtos praticados por plebeus, mas também os dos grandes e dos magistrados, cuja influência age a maior distância e com maior vigor, destruindo nos súditos as idéias de justiça e de dever, substituindo-as pela do direito do mais forte, igualmente perigoso para quem o exerce e para quem sofre”94. De acordo com Prado, o delito pode ser dividido sob o critério formal, também chamado de nominal, material ou substancial e analítico ou, ainda, dogmático: Formal – o delito é definido sob o ponto de vista do direito positivo, isto é, o que a lei penal vigente incrimina; Material ou substancial “são socialmente danosas às condutas que afetam de forma intolerável à estabilidade e o desenvolvimento da vida em comunidade, só sendo admissível o emprego da lei penal quando haja a necessidade essencial de proteção da coletividade ou de bens vitais do individuo”; Analítico ou dogmático decompõe-se o delito em suas partes constitutivas estruturadas axiologicamente em uma relação lógica. Assim concebido, o delito vem a ser toda açãoou omissão típica, ilícita ou antijurídica e culpável95. Para Capez a definição de crime exige a presença de alguns elementos: “Conduta penalmente relevante é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dolosa ou culposa, voltada a uma finalidade, 94 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Livraria Martins, LTDA:, 1991. p. 57-59. 95 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol.1, 3. ed.rev., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revistas dos Tribunais, 2002, p 206-207. 30 típica ou não, mas que produz ou tenta produzir um resultado previsto na lei penal como crime ”96. Para o autor, delito vem a ser toda ação positiva ou negativa exercida pelo ser humano na forma acima destacada. Prado classifica as infrações penais da seguinte forma: As infrações penais costumam classificar, segundo sua gravidade, em principalmente, dois sistemas: o Tripartido e o bipartido. Pelo primeiro, as infrações penais são crimes, delitos e contravenções e pelo segundo, crimes ou delitos e contravenções. O Direito Penal brasileiro, como também o alemão, o italiano e o português, entre outros, agasalha a divisão geral bipartida das infrações penais em crime ou delito e contravenção. A diferença entre eles é meramente quantitativa (gravidade da conduta/ pena). Os crimes ou delitos são punidos com penas privativas de liberdade, restritivas de direitos e de multa, e a contravenção é sancionada com prisão simples e multa(grifo nosso) 97. No que tange as contravenções penais as infrações consideradas de menor potencial ofensivo em que muitas pessoas acabam cometendo no dia a dia, no qual, chegam a ser toleradas pela sociedade e por autoridades, mas que não podem deixar de receber a devida punição. É evidente que por serem delitos de menor gravidade recebem penas proporcionais. As contravenções penais estão previstas no Decreto- lei nº. 3.688/41, o qual está dividido em capítulos que tratam, respectivamente: das contravenções referentes à pessoa; das contravenções referentes ao patrimônio; à incolumidade pública; à paz pública; à fé pública; à organização do trabalho; a policia de costumes e à administração pública. Algumas contravenções foram revogadas por leis especiais, como, por exemplo, a do porte de arma, que é tratado pela lei n. 10.826/03. Todas as contravenções são punidas com prisão simples, multa ou ambas cumulativamente. A competência para julgar tais infrações é do Juizado Especial Criminal, já que são consideradas de menor potencial ofensivo.98 O conceito jurídico de crime é ponto culminante, segundo o doutrinador Hungria: A conceituação jurídica do crime é ponto culminante e, ao mesmo tempo, um dos mais controversos e desconcertantes da moderna doutrina penal, este já era o pensamento do mestre Nelson HUNGRIA, afirmando ainda que "o crime é, antes de tudo, um fato, 96 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 10. ed.rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 116. 97 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol.1, 3. ed.rev., atual. ampl. São Paulo: Editora Revistas dos Tribunais, 2002, p 206-207. 98 DAMÁSIO,de Jesus 2002.Lei das Contravenções Penais anotada, 10.ª ed., Saraiva, 2004. 31 entendendo-se por tal não só a expressão da vontade mediante ação (voluntário movimento corpóreo) ou omissão (voluntária abstenção de movimento corpóreo), como também o resultado (effectus sceleris), isto é, a consequente lesão ou periclitação de um bem ou interesse jurídico penalmente tutelado."99 O crime é uma infração maior, que fere mais a esfera da sociedade, embora haja crimes que prevejam pena de 2 anos (como lesão corporal leve) sendo tipificados como crimes, variando entre a prisão simples, a detenção e reclusão, de acordo com o caráter ofensivo do crime.a diferença não é tão sutil quando observada na legislação, o que se enquadra como contravenção não é crime, pois crimes são exclusivamente aqueles previstos no código penal e outras legislações que usam essa terminologia, tendo sempre em mente o ditame da Constituição Federal: "não há crime sem lei anterior que o defina"100. Sobre a concepção bipartida Capez afirma: A culpabilidade não integra o conceito de crime. Com o finalismo de Welzel, descobriu-se que o dolo e culpa integravam o fato típico e não a culpabilidade. A partir daí, com a saída desses elementos, a culpabilidade perdeu a única coisa que interessava ao crime, ficando apenas com elementos puramente valorativos. Com isso, passou a ser mero juízo de valoração externo ao crime, uma simples reprovação que o Estado faz sobre o autor de uma infração penal101. Ante a adoção pelo direito penal brasileiro da classificação bipartida, importa analisar no próximo item; as teorias que estudam a ação. 2.1.1Finalidade da Pena A finalidade da pena também serve como prevenção, que pode ser geral ou especial; a geral está voltada para a sociedade com o escopo de intimidar os propensos a delinquir, e a especial está direcionada à 99 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. v.1, Tomo II, 5. ed., Rio de Janeiro : Forense, 1978. 100 BRASIL.Constituição da República Federativa do Brasil.de 05/10/1988, artigo 5°, inciso XXXIX.atualizada até Emenda Constitucional nº. 56, de 19/12/2006.31ªed. 101 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p.112-113. 32 condição própria do criminoso (fator endógeno) e ao meio em que vive (fator exógeno), não se admitindo mais a aplicação da pena simplesmente como retribuição, mas sim como finalidade utilitária e reeducativa do individuo, firmando, assim, a importância da individualização da pena, conforme art. 5°, inciso XLVI da Constituição Federal de 1988102. Sobre a finalidade da pena, Costa leciona: Afora a função repressiva, a pena deverá cumprir finalidade preventiva, desencorajando ou intimidando aqueles que pretendam iniciar-se na pratica delituosa, bem como ressocializar o delinqüente103. Uma prevenção ao controle social, em relação a doutrina: Cabe ao Estado o sistema punitivo, tendo como escopo a preservação controle social, aplicando o que é de direito no momento que se transgrida a norma posta, nominado como conduta delituosa, sendo que, para cada conduta, existe uma sanção jurídica correspondente 104. Desta forma, verifica-se que, para cada conduta há uma sanção jurídica. 2.1.2 Teorias da ação: teoria causal-naturalista, teoria social e teoria finalista. A doutrina classifica os fundamentos da pena em três teorias: causal-naturalista, social e finalista. 2.1.2.1 TEORIA CAUSAL – NATURALISTA Jesus esclarece que a teoria naturalista ao estudar o comportamento humano, não objetiva analisar se a conduta praticada pelo ser 102 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – parte geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994. p.470. 103 COSTA, Júnior Paulo José da. Curso de Direito Penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. 1.v.p. 245. 104 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – parte geral. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994. p.471. 33 humano foi licita. Esta teoria visa aplicar as leis da natureza no campo do Direito Penal105. Bitencourt em análise da ação afirma: Ação é o movimento corporal voluntário que causa modificação no mundo exterior. A manifestação de vontade, o resultado e a relação de causalidade são os três elementos do conceito de ação. Abstrai- se, no entanto, desse conceito o conteúdo da vontade, que é deslocado para a culpabilidade (dolo ou culpa)106. Jesus argumenta que a teoria naturalista da ação, não se mostrou eficaz, pois não soube explicar o delito omissivo, preocupando-se unicamente com as leis da natureza,
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