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Ciência Politica 
 
Origem da sociedade 
 
• O homem: animal político. O ser 
humano é um ser social. Desde o 
nascimento, vive normalmente em 
sociedade: família, escola, clube, igreja, 
cidade, Estado (“país”), sociedade 
global. Embora a vida em sociedade 
traga restrições à liberdade, o ser 
humano isolado é uma exceção. O que 
leva o homem a viver em sociedade? 
 
Por que vivemos em sociedade? 
Determinar o motivo pelo qual o ser 
humano vive em sociedade é importante 
para se determinar a posição do indivíduo 
na sociedade: o ser humano foi feito para 
sociedade ou a sociedade foi feita para o 
ser humano? O que é mais importante, a 
coletividade ou o indivíduo? 
 
• Teorias sobre a origem da sociedade: 
 
a) sociedade natural – o ser humano é 
dotado de um instinto de sociabilidade que 
o leva naturalmente a viver em sociedade – 
o homem é um animal político (ênfase no 
todo, no coletivo: organicismo): Aristóteles, 
Cícero, S. Tomás de Aquino. 
 
“A sociedade que se formou da reunião de 
várias aldeias constitui a Cidade, que tem a 
faculdade de se bastar a si mesma, sendo 
organizada não apenas para conservar a 
existência, mas também para buscar o 
bem-estar. Esta sociedade, portanto, 
também está nos desígnios da natureza 
(...) É, portanto, evidente que toda Cidade 
está na natureza e que o homem é 
naturalmente feito para a sociedade 
política” (Aristóteles – 384 a.C. - 322 a.C.) 
 
b) sociedade como ato racional – as teorias 
contratualistas negam o impulso 
associativo natural; a sociedade é uma 
criação humana, fruto de uma decisão 
racional (ênfase no indivíduo - 
mecanicismo); partindo do estado de 
natureza, o homem, baseado na razão e 
por vontade própria, firma um contrato 
social, estabelecendo um governo e regras 
para a vida em sociedade. 
 
 
2. Origem do Estado 
 
 
A origem da palavra ESTADO vem do latim 
Status. “Status Rei Publicae” (Situação da 
coisa pública). 
O primeiro emprego da palavra Estado, 
como nós o fazemos modernamente, foi 
feito por Maquiavel em sua obra “O 
Príncipe”, em Florença, no ano de 1513. 
Maquiavel é tido como o fundador da 
Ciência Política, pois separou pela primeira 
vez a moral da política. 
Existem três teorias quanto à época do 
aparecimento do Estado. 
 
 
1ª Teoria 
 
 
• Segundo esta teoria o Estado surgiu na 
mesma época em que surgiu a 
sociedade. Eduard Meyer, principal 
teórico dessa corrente, equiparou 
estrutura de poder a Estado. Para ele, o 
Estado surgiu na mesma época em que 
surgiu a sociedade, pois toda a 
sociedade possui estrutura de poder. 
• Essa teoria para muitos estudiosos não 
é correta, pois o Estado foi confundido 
com estrutura de poder. 
 
 
2ª Teoria 
 
 
• As sociedades existiram em 
determinado momento sem a presença 
do Estado e algumas delas evoluíram e 
criaram Estados. 
• Essa é a corrente mais aceita, tendo um 
grande número de adeptos. A época do 
aparecimento do Estado depende de 
cada caso, que deve ser estudado 
separadamente. 
- Em geral, quando surgem as primeiras 
civilizações surgem os primeiros Estados. 
 
 
 
 
3ª Teoria 
 
 
• O Estado é um fenômeno recente, 
moderno; não é um conceito geral válido 
para todos os tempos, mas um conceito 
histórico concreto, que surge quando 
nasce a ideia e a prática da soberania, o 
que só ocorreu a partir do século XVII 
• Carl Smith acreditava que até o séc. XVII 
o que existia era poder, e que a partir daí, 
os Estados começaram a surgir, porque 
surge a prática da soberania. Portanto, o 
Estado é um fenômeno recente. 
 
 
 
 
 
 
Causas do Surgimento do Estado 
 
 
 
 
1. Formação Originária: é aquela que deu 
origem ao primeiro Estado que uma 
determinada sociedade conheceu. 
 
 
As causas de formação originária podem ser 
contratualista (quando o Estado surge de 
um contrato social) e não contratualista 
(quando o Estado surge por outros motivos, 
que não o contrato social). 
 
 
Formação Originária Não-Contratualista 
 
 
Existem 3 casos dentro da formação 
originária não-contratualista: 
 
 
1º caso- Origem familial, patriarcal ou 
matriarcal 
Essas teorias sustentam o núcleo social 
fundamental na família. Segundo elas, cada 
família primitiva se ampliou e deu origem a 
um Estado. (Principal teórico: Robert Filmer 
(1589-1653) 
A moderna antropologia tende a desmentir 
tal teoria, haja vista o fato de que as 
comunidades de origem familial, matriarcal 
ou patriarcal raramente criavam forma 
estatal, tendendo a permanecer em tribos, 
hordas ou bandos, havendo algumas 
exceções importantes. O Estado hebreu 
(antigo) tinha formação de causa familial ou 
patriarcal: Abraão era o patriarca do Estado 
(primitivo) de Israel. 
 
 
2º caso - Origem da força, violência ou 
conquista. 
Essas teorias sustentavam que a 
superioridade de força de um grupo social 
permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco, 
nascendo dessa junção entre dominantes e 
dominados o Estado. Um dos principais 
teóricos é o francês Bertrand de Jouvenel. 
Exemplo: Pérsia, Estado formado por 
grandes conquistadores como Ciro, Xerxes, 
Artaxerxes e Dário. 
Outros Estados conquistadores: Babilônia, 
Suméria e Assíria, Cidades-Estado gregas, 
Roma (Império Romano), Macedônia, etc. 
Um povo é dominado por outro através da 
conquista e da violência. Num primeiro 
momento o povo conquistador explora ao 
máximo o conquistado para recuperar as 
perdas decorrentes da conquista. Porém, 
não é possível dominar sempre pela força e 
a violência; é preciso conseguir a adesão do 
povo conquistado, que lentamente é 
incorporado ao novo conquistador, através 
da miscigenação racial, cultural, pela 
imposição da língua do conquistador. Para 
exercer seu domínio são criados os quartéis, 
os tribunais, as leis para o controle, os 
palácios, o governo local e, futuramente, os 
órgãos assistenciais. A finalidade do Estado 
será, então, garantir a ordem e a paz social 
e, no futuro, o bem comum. 
 
 
3º caso - Origens econômicas e 
patrimoniais 
 
 
O Estado teria sido formado para que se 
aproveitassem os benefícios da divisão do 
trabalho, da produtividade e da atividade 
econômica em geral, caracterizando-se 
assim a origem do Estado por motivos 
econômicos. 
O principal teórico é o filósofo grego Platão 
(professor de Aristóteles), sua principal 
obra: A República. Segundo ele, quanto 
mais organizado o Estado, mais eficiente a 
economia. 
 
 
Patrimonial: Visão de Marx e Engels 
 
 
Engels sustenta a teoria de que a origem do 
Estado se dá quando surge uma instituição 
que assegure as novas riquezas resultantes 
da acumulação que a propriedade privada 
propiciou, uma instituição que perpetuasse 
a nascente divisão da sociedade em classes 
e assegurasse o direito da classe 
possuidora explorar a possuída. 
 
 
Formação Originária Contratualista 
 
 
Os contratualistas, por caminhos 
diferentes, negam que o homem seja por 
natureza um animal social e político, 
afirmando que para que seja possível a 
vida em sociedade é preciso celebrar um 
amplo pacto social, um acordo de 
vontades, que ficou denominado “Contrato 
Social”. 
É importante salientar que todos os teóricos 
contratualistas viveram no período de 
ascensão da burguesia e, nesta classe, a 
ideia e a prática dos contratos é muito 
frequente, o que teria influenciado todo o 
pensamento político dessa época. 
Para esses teóricos o Estado surge por um 
amplo acordo de vontades, um amplo pacto 
social, que retire o homem do estado de 
natureza (homem primitivo) e o conduza a 
vida civil, à maneira pela qual cada um 
pensa o contrato social é diferente: 
 
 
a) Thomas Hobbes (1588-1679): a 
natureza humana não muda, é sempre a 
mesma (“conhece-te a ti mesmo”). O 
homem é mau, invejoso, ambicioso, cruel e 
não sente prazer na companhia do outro. O 
estado de natureza é uma “guerrade todos 
contra todos”, o “homem é o lobo do 
homem”. Sem lei nem autoridade, todos 
têm direito a tudo. A vida é “solitária, pobre 
e repulsiva, animalesca e breve”. Para fugir 
desse estado, reúnem-se em sociedade e 
firmam o contrato social, estabelecendo 
uma autoridade soberana com poder 
ilimitado e incontestável para impor a 
ordem (Estado – Leviatã). O pacto é de 
submissão e não pode ser quebrado. A 
obra de Hobbes serviu como justificação do 
absolutismo. Obra: O Leviatã. 
 
 
“Porque as leis de natureza (como a 
justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, 
ou, em resumo, fazer aos outros o que 
queremos que nos façam) por si mesmas, 
na ausência do temor de algum poder 
capaz de levá-las a ser respeitadas, são 
contrárias a nossas paixões naturais, as 
quais nos fazem tender para a parcialidade, 
o orgulho, a vingança e coisas 
semelhantes. E os pactos sem a espada 
não passam de palavras (...) À multidão 
assim unida numa só pessoa se chama 
Estado, em latim civitas. É esta a geração 
daquele grande Leviatã, ou melhor (para 
falar em termos mais reverentes), daquele 
Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do 
Deus Imortal, nossa paz e defesa. Pois 
graças a esta autoridade que lhe é dada 
por cada indivíduo no Estado, é-lhe 
conferido o uso de tamanho poder e força 
que o terror assim inspirado o torna capaz 
de conformar as vontades de todos eles, no 
sentido da paz em seu próprio país, e da 
ajuda mútua contra os inimigos 
estrangeiros” (Hobbes) 
 
 
b) John Locke(1632-1704): inspirador da 
“Revolução Gloriosa”, que estabeleceu a 
monarquia moderada na Inglaterra (1688-
89). Para Locke, o estado de natureza é 
pacífico, com os homens gozando dos 
direitos naturais à vida, à liberdade e aos 
bens. O contrato social serve para a 
proteção desses direitos e o consentimento 
é a base da autoridade. O Estado, formado 
com base no contrato, tem poder limitado e 
baixo grau de intervenção na vida social 
(individualismo liberal). Caso o governo não 
cumpra o dever de proteger os direitos 
naturais, o povo possui direito à rebelião. 
Influiu na independência dos EUA. Obra 
básica: Segundo tratado sobre o governo. 
 
“O poder político é o que cada homem 
possuía no estado de natureza e cedeu às 
mãos da sociedade e dessa maneira aos 
governantes, que a sociedade instalou 
sobre si mesma, com o encargo expresso 
ou tácito de que seja empregado para o 
bem e para a preservação de sua 
propriedade (...) Esse poder tem origem 
somente no pacto, acordo e assentimento 
mútuo dos que compõem a comunidade 
(...) Digo que empregar a força sobre o 
povo, sem autoridade e contrariamente ao 
encargo contratado, a quem assim 
procede, constitui estado de guerra com o 
povo, que tem o direito de restabelecer o 
poder legislativo ao exercício de seus 
poderes”(Locke) 
 
 
c) Barão de Montesquieu (1689-1755). 
Filósofo francês que elaborou a teoria da 
separação de poderes como forma de 
garantir a liberdade. Para ele, o estado de 
natureza era pacífico. Os seres humanos 
se aproximam pelo medo e pela atração 
mútua. O estado de guerra começa depois 
do surgimento da sociedade, surgindo a 
necessidade do estabelecimento, por 
acordo, das leis e do Estado, que devem 
ser organizados de forma apropriada para 
cada sociedade, pois as leis são as 
“relações necessárias que derivam da 
natureza das coisas”. Influência no 
constitucionalismo. Obra: O espírito das 
leis. 
 
“O homem, no estado natural (...) pensaria 
na conservação do seu ser (...) Semelhante 
não sentiria a princípio senão a sua 
fraqueza; sua timidez seria extrema (...) 
Nesse estado, cada qual sente-se inferior; 
mal percebe a igualdade. Nem procurariam 
pois atacar-se, e a paz seria a primeira lei 
natural (...) Mas as demonstrações de um 
temor recíproco fá-los-iam logo aproximar-
se. Seriam levados talvez pelo prazer que 
sente um animal à aproximação de outro da 
sua espécie (...) Os homens, tão logo se 
acham em sociedade, perdem o sentimento 
de fraqueza; a igualdade, que existia entre 
eles, cessa; e o estado de guerra começa (...) 
Esses dois tipos de estado de guerra [de 
nação contra nação e indivíduo contra 
indivíduo] fazem estabelecer as leis entre os 
homens (...) O governo mais conforme à 
natureza, deve admitir-se, é aquele cuja 
disposição particular melhor corresponde à 
disposição do povo para o qual é 
estabelecido” (Montesquieu) 
 
 
d) Jean Jacques Rousseau (1712-1778) - 
Segundo Rousseau , no estado de 
natureza o homem era por natureza bom, 
livre e igual a seus semelhantes. A 
humanidade é nômade, os homens vivem 
dispersos pelos campos. Num dado 
momento, um homem cerca um pedaço de 
terra e diz: “isso é meu”. Deixa de ser 
nômade passando a ser sedentário. Então 
Rousseau diz: “Começou a tragédia 
humana!” porque a sociedade corrompe o 
homem. Essa corrupção levaria a 
sociedade ao caos e à desordem. Para 
terminar com o caos existente fez-se o 
Contrato Social. Obra: Do Contrato Social 
 
"O verdadeiro fundador da sociedade civil 
foi o primeiro que, tendo cercado um 
terreno, lembrou-se de dizer 'isto é meu' e 
encontrou pessoas suficientemente simples 
para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, 
assassínios, misérias e horrores não 
pouparia ao gênero humano aquele que, 
arrancando as estacas ou enchendo o 
fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: 
'Defendei-vos de ouvir esse impostor; 
estareis perdidos se esquecerdes que os 
frutos são de todos e que a terra não 
pertence a ninguém.'( Rousseau)

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