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CAPITULO DE LIVRO OFICIAL 19 05 (2)

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UNIVERSIDADE CEUMA
PRO-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA
A violência contra mulher: Um estudo a partir dos grupos reflexivos de gênero.
Autores: Karem dos Santos Gomes - CPD:73785
Luma Baia Monteiro - CPD:59927
A violência é algo complexo e que implica vários elementos e posições teóricas. Segundo Paviani (2016) as formas de violência são tão numerosas, que é difícil catalogá-las de modo aceitável. Conforme o autor os vários tipos de violência podem ser considerados como homicídios diários manifestos em comportamentos que são difíceis de prever e evitar. Neste seguimento Barus (2011) ressalva como um aspecto da violência seu caráter multívoco, por ser este um conceito absorvido e representado com diferentes palavras e significados. 
Por outro lado, a violência conjugal é uma das formas mais frequentes de violência interpessoal em todo o mundo e afeta de formas diferentes homens e mulheres, sendo as mulheres a categoria mais vulnerável a sofrer de forma severa com essa violência comparativamente aos homens (ALMEIDA; SOEIRO, 2010). Bock, Teixeira e Furtado (2018) pontuam que a violência na relação com o outro abrange a humilhação, a omissão, conivência ou cumplicidade frente as situações em que ela ocorre. 
Ainda conforme os autores citados anteriormente, a violência é o uso desejado da agressividade humana com fins destrutivos. Compreendemos então que a violência é um fenômeno complexo e múltiplo que pode acontecer com base em determinantes sociais, históricas, culturais e subjetivas, entretanto não deve ser limitado a nenhum destes. 
De acordo com Chaves (2015), muitas das violências contra as mulheres ainda são ratificadas pela lei diretamente ou por omissão, ou porque são socialmente aceitas, portanto o trabalho para a mudança da realidade exige um casamento entre transformações na legislação e a inserção da temática igualdade de gênero em todos os níveis de ensino. A violência contra a mulher, especificamente, a que ocorre no âmbito doméstico e familiar é alvo de investigações e análises de diferentes campos do conhecimento científico. (SANTEIRO; SCHUMACHER; SOUZA, 2017)
No que se refere as violências de gênero, sobretudo as políticas públicas desenvolvidas para o enfrentamento delas, um importante avanço foi a criação da Lei Maria da Penha, que tem como finalidade criar meios para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. (BRASIL, 2006)
 Maria da Penha Maia Fernandes foi uma farmacêutica bioquímica cearense, que no ano de 1983 sofreu tentativa de feminicídio por parte do então marido, Marco Antônio Heredia Viveros. O agressor de Maria da Penha, atirou na vítima enquanto ela dormia, o tiro deflagrado não a matou, mas a deixou paraplégica. (AUN, 2019)
A partir deste acontecimento trágico, Maria da Penha iniciou sua luta por justiça, tendo que enfrentar irregularidades processuais de um sistema legislativo que não estava preparado para punir agressores e assegurar o bem-estar físico e psíquico de mulheres. Através de intervenções internacionais, a Lei Maria da Penha é homologada anos após o crime cometido contra a farmacêutica, já que outras mulheres passavam pelo mesmo problema, neste contexto, a lei tornou-se uma Política de Direitos Humanos, porém muito ainda há que ser feito. (AUN, 2019)
 Embasado na Lei n°11.340/06, a violência praticada contra mulheres está conceituada como; violência física, psicológica, violência sexual, violência moral e violência patrimonial. Dentro da violência física estão as ações praticadas com a intenção de afetar a integridade ou a saúde corporal através de chutes, empurrões e outros meios em que o agressor usa da força física como instrumento lesivo. Complementando, Dourado e Noronha (2015) enfatizam que a violência física causa danos que vão além de escoriações no corpo, pois, medos, frustrações, decepções, humilhação e vergonha estão associados e mesmo que não haja vestígios visíveis ou testemunhas de sua ocorrência ela atinge a psique de suas vítimas.
A violência psicológica tem caráter subjetivo e silencioso por não deixar vestígios visíveis. Segundo Moraes (2017), esse tipo de violência machuca internamente as vítimas e causam sentimentos de medo e opressão. O autor ressalta que diante desta violência a vítima fica desestabilizada emocionalmente o que é uma porta de entrada para problemas de saúde mental aparecerem. 
A violência sexual conjugal é praticada por parceiro íntimo, esta forma de violência ocorre na relação sexual não consentida, na prostituição forçada ou qualquer relação no intuito de obter satisfação sexual em detrimento da vontade da vítima. Os atos agressivos que se materializam com interesse ou retenção integral ou parcial de bens da vítima é o que denominamos violência patrimonial. A Violência Moral corresponde aos crimes de calúnia, difamação ou injúria.
Reconhecer a situação da violência contra a mulher como uma questão de saúde pública foi um grande passo rumo ao enfrentamento da violência. Neste sentido Campos e Carvalho (2011), enfatizam a integralidade no tratamento da violência doméstica prevista na Lei Maria da Penha como aliança entre as medidas assistenciais, preventivas, jurídicas e as de contenção da violência como serviços de assistência em rede que em conjunto tratará efetivamente a questão de forma multidimensional.
A cultura machista e suas implicações sociais:
Diante da nossa cultura que reforça variados tipos de violência, muitas iniciativas no sentido de rever expectativas sobre os papéis de homens e mulheres têm sido criadas. Para Chaves (2015), a necessidade de instrumentos jurídicos que minimizem a situação de violência em que vivem as mulheres em nossa sociedade deve-se diretamente à existência de uma sociedade historicamente machista. 
Conforme Balbinotti (2018), a força do machismo está por trás do discurso de dominação, em que os homens controlam os espaços públicos e as mulheres o espaço doméstico. Ao homem ficam atribuídas as características de força e à mulher fragilidade e submissão. Nesta perspectiva, descreve que a cultura machista se perpetua, pois, meninas desde a infância são ensinadas a estar na posição de submissão ao homem. Aprendem que não podem ser competitivas como os garotos são, sendo ensinadas a enxergar em outras meninas uma rival, aprendendo a competir pela atenção de homem. (ADICHIE, 2017)
Borges e Lucchesi (2015), apontam a violência como a expressão mais evidente da dominação masculina. Para os autores, a violência representa o ponto culminante da afirmação da virilidade, como forma de expressão da superioridade do homem no discurso da construção social dos sexos. 
A formação do grupo
A história de vida do ser humano baseia-se em pertencer a inúmeros grupos. Segundo Guimarães e Carneiro (2014), é por meio dos grupos que herdamos características e estabelecemos relações sociais mais amplas. Conforme os autores, essas relações ocorrem, inicialmente, no grupo familiar e servem como base fundamental na formação psíquica do indivíduo. Trata-se de um processo em permanente construção. 
Alguns grupos dos quais participamos são formados por nossas escolhas de modo voluntário, outros são devido a uma organização da sociedade em que vivemos como, por exemplo, os grupos formados nas escolas com objetivos de formação e aprendizagem.
De acordo com Guedes (2015), cada indivíduo deve preencher requisitos prévios para fazer parte de um grupo e suas características individuais os farão se identificar e diferenciar se um dos outros. Ainda conforme os autores supracitados vivemos comumente em grupos pequenos ou grandes. 
Seguindo a linha de raciocínio exposta anteriormente compreendemos o grupo como um conjunto de pessoas num processo de relação mútua e organizada com o objetivo de atingir um determinado objetivo, que pode ser imediato ou de longo prazo. E é através desse processo de desenvolvimento do grupo que seus integrantes evoluem pessoalmente e coletivamente. 
Assim, com base na importância dos grupos e de sua funcionalidade, a sociedade civil,
através de organizações não governamentais (ONGs), tem feito grande esforço no sentido de apontar caminhos para prevenir e punir os casos de violência contra a mulher, criando grupos de orientação, acolhimento. (LEITE, 2016)
Deste modo, as novas formas de intervenção sobre a violência contra a mulher têm o intuito de diversificar as formas de trabalhar pequenos conflitos, agressões mútuas e violência por meio de práticas educativas e de responsabilização dos atos de violência. No entanto, para Zorzella e Celmer (2016), programas e projetos voltados para grupos reflexivos com homens autores de violência doméstica também enfrentaram resistências, principalmente de alguns grupos feministas mais radicais que acreditam que esse tipo de intervenção diminuiria a responsabilidade dos homens ao encontrar explicações psicológicas e/ou culturais para os atos de violência, levando-os a uma condição de vítimas. 
Conforme Beiras e Cantera (2014), o trabalho de intervenção com homens autores de violência contra mulheres é mais comum em países como Estados Unidos, Portugal e outros. No Brasil, apesar de já se ter passado alguns anos da promulgação da Lei Maria da Penha, ainda se recomenda a criação de políticas específicas para a violência contra a mulher e a necessidade de mais pesquisas, avaliações, debates e discussões sobre intervenções com homens autores de violência. 
Segundo Prates e Alvarenga (2014), uma das formas de trabalhar com homens autores de violência é por meio de grupos reflexivos. Trata-se de um modelo de intervenção grupal para modificar padrões naturalizados de gênero e ideologia patriarcal, possibilitando socialização, baseados na equidade de gênero e na formação de novas masculinidades.
Os programas de intervenção com homens autores de violência surgem no Brasil a partir de grupos reflexivos, que segundo Acosta e Bronz (2014), demonstraram bons resultados sobre os relacionamentos entre homens e mulheres e posteriormente a redução dos conflitos e da violência entre os casais. De acordo com os autores supracitados esses grupos são formados por homens ou por mulheres, que já tenham ou não se envolvido em situações de violência, com o desígnio de refletir sobre a construção de suas identidades como homens ou mulheres, como uma possibilidade de repensar em conjunto e interagir com os demais, por meio de atividades diversificadas, a informação, sensibilização, conscientização, multiplicação, educação e responsabilização.
Os atendimentos surgiram dos profissionais envolvidos com as mulheres em situação de violência e da constatação de que uma grande parte permanecia com os parceiros que as maltratavam. Desta forma, passou a ser desenvolvido a partir da compreensão que a violência se tratava de algo aprendido e não de uma doença, os profissionais buscaram desenvolver grupos de trabalho com esses homens e ações preventivas com jovens, na intenção de diminuir o índice de violência nas relações (SOARES; GONÇALVES, 2017).
Nesse viés, Acosta e Bronz (2014) ressaltam que homens e mulheres começaram a se beneficiar dos grupos que estavam surgindo e os resultados satisfatórios advindos da prática com os homens que começaram a se difundir cada vez mais, sendo reproduzida em campos e contextos diferentes. 
A reeducação dos homens autores de violência contra mulher através dos grupos reflexivos de gênero.
 A violência doméstica contra meninas e mulheres é uma problemática social que remonta padrões socioculturais medievais, um período histórico em que, através de existência de uma profunda moral religiosa, delinearam-se os papéis femininos e masculinos. Refletindo acerca deste contexto social, é possível notar que atualmente a ideia de propriedade sobre corpos femininos é um fator contribuinte para relacionamentos abusivos, em que mulheres sofrem agressões físicas e psicológicas. (CASIQUE CASIQUE e FUREGATO, 2006) 
Através do exposto, se faz necessário pensar em mecanismos que transformem essa realidade, e motivem as pessoas a pensarem fora do ciclo das concepções preestabelecidas (CASIQUE CASIQUE e FUREGATO, 2006). Portanto, o grupo reflexivo surge enquanto uma proposta que educar através do debate a importância de homens retirarem mulheres do lugar de objeto, colocando-as no lugar de igualdade. Através do diálogo, tenta-se salientar o quão equivocado é fazer o uso da violência, sobretudo contra mulheres. 
Através de conceitos estruturados pela Psicologia, enquanto ciência e profissão, ao refletir-se acerca de relacionamentos abusivos, sobretudo ao que toca o assunto do ciúme patológico, que é um aspecto que fomenta agressões contra mulheres (LACERDA; COSTA, 2013). É possível enxergar nos grupos reflexivos um viés psicoeducador. Tendo em mente que a psicoeducação é uma ferramenta da psicologia associada à pedagogia, com a finalidade de desenvolver conhecimentos em pacientes sobre determinada patologia física ou psíquica (LEMES; ONDERE NETO, 2017). 
A rede de enfrentamento da violência contra a mulher tem caráter multidimensional do problema portanto, perpassa áreas como: saúde, educação, segurança pública, cultura, entre outros. Para que essa rede funcione, Scott (2018) traz que iniciativas como o trabalho em escolas, criação de conselhos de direitos da mulher, movimento de mulheres, espaços de reflexão e intervenção multidisciplinar, auxiliam na prevenção e diminuição da violência.
A utilização da educação popular em grupos reflexivos, conforme Beiras e Bronz (2016), é um modelo que pode ser utilizado para fomentar o uso da linguagem, a relação entre os facilitadores e os participantes além da reflexão crítica e colaborativa. Neste segmento, Andrade (2014) corrobora com a utilização de um modelo que contemple o interesse dos participantes, como é o caso do modelo reflexivo-educativo. Ainda conforme o autor, as temáticas neste modelo de intervenção devem ser distribuídas em encontros e debatidas com os membros pois, deste modo serão discutidas as temáticas de interesse de todos e dependendo da demanda dos homens, elas servirão para estimular e fortalecer o grupo. 
As ações de grupos reflexivos em território nacional
 Segundo a Lei Maria da Penha as mulheres têm direito a solicitar medidas protetivas de urgência, que devem ser analisadas em até 48h sua necessidade, elas são provisórias por se destinar a atender uma situação emergencial, tendo, portanto, caráter obrigatório o seu comparecimento. Entretanto, ao pensar nos índices de casos de violência doméstica no Brasil, é valido ressaltar que a Lei Maria da Penha instituída no ano de 2006, não culmina na erradicação da violência doméstica. Inclusive dados do Altas da violência produzido pelo IPEA (BRASIL, 2019), aponta o aumento de casos de violência contra mulher, sobretudo, casos que resultam na morte das vítimas. Portanto, a existência de grupos reflexivos no Brasil representa uma tentativa direta de dialogar com os agressores, buscando através da reeducação construir estruturas sociais igualitária entre gêneros.
Quando são analisados os casos de violência doméstica na cidade de São Luís, os dados coletados por uma pesquisa do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão apontam que o maior número de vítimas da violência doméstica são mulheres entre 18 e 43 anos, sendo que as mulheres na faixa etária entre 26 e 34 anos, são as que mais recorrem ao uso de medidas protetivas (MARANHÃO, 2019). 
Ainda com base no autor supracitado, avalia-se que, ainda existem vítimas que tomam a iniciativa de buscar proteção estatal, ou tentam tomar providências legais que resultem no fim das agressões, pois, na maioria dos casos as mulheres continuam sendo agredidas. Compreendemos, portanto, que, mesmo quando são instaladas ações que auxiliam no combate à violência contra mulher e criadas dinâmicas que facilitem o acesso das vítimas a estas ações, existe uma resistência em buscar ajuda (MARANHÃO, 2019). É importante refletir acerca desta resistência e pensar na importância do grupo de apoio para a transformação desta dinâmica. 
Ao analisar a resistência das
vítimas em buscar medidas estatais que contribuam para o fim da violência, é preciso refletir acerca dos possíveis fatores que constituem este cenário. Um possível fator são as construções socioculturais que polarizam os gêneros, resultando em comportamentos e discursos que maximizam a desigualdade de gênero (ARAÚJO, 2005). Por exemplo, é comum ouvir jargões como: “Homem é assim mesmo”; “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”; “Ela provocou!”. Estas falas exprimem a importância de desconstruir pensamentos que normalizam agressões, justificando as atitudes do agressor e culpabilizando a vítima. (MISTURA, 2015)
Portanto, quando se considera a importância de dialogar em função das transformações de concepções que solidificam uma cultura que normaliza a agressão de mulheres, o grupo reflexivo enquanto ferramenta de educação pode contribuir para a desconstrução de ideias que estão instaladas na sociedade. O grupo reflexivo se apresenta enquanto um mecanismo que contribui para a problematização da violência, ressaltando seus aspectos prejudiciais e fomentando a iniciativa de repensar os comportamentos violentos de agressores (MISTURA, 2015). 
Ao realizar a análise do discurso de integrantes de um grupo reflexivo que realiza as suas reuniões do estado de São Paulo, T. F. Mistura (2015), identifica vários sentimentos externados pelos entrevistados como por exemplo, vergonha, revolta, despeito, alguns se colocam no lugar de vítima, em suma, através da análise proposta, é possível perceber que existe um estranhamento inicial dentre os integrantes do grupo. 
Quando se reflete acerca das construções socioculturais machistas, torna-se evidente que este estranhamento inicial possui alguma ligação com o fato de homens terem seus comportamentos socialmente justificados (MISTURA, 2015). Ainda na visão do autor, no decorrer das análises, os integrantes falam e ouvem, seus problemas evidenciando que é possível notar nos integrantes um processo retroreflexivo.
 Ao acompanhar reuniões de um grupo reflexivo de gênero, na cidade de São Luís, estado do Maranhão, Araújo (2009), em suas conclusões ressalta que ao observar o curso das reuniões, compreendeu que o grupo tornou-se um lugar de debate, onde os facilitadores do grupo incentivavam a reflexão dos membros a partir de aspectos trazidos pelos próprios integrantes, em falas anteriores. Nesta dinâmica, as discussões voltaram-se a responsabilização dos agressores pelas agressões, o que serve para a abertura de um caminho longo até a construção de relações mais igualitárias, em que uma mulher não seja culpabilizada pelas agressões que sofre (ARAÚJO, 2009).
Em observância as asserções de Araújo (2009), nota-se que inicialmente os membros do grupo reflexivo de gênero, apresentam uma inquietação inicial, um desconforto por fazer parte do grupo, tal como os membros do grupo de São Paulo, porém, da mesma forma, com o desenrolar das reuniões, a compreensão das dinâmicas e, sobretudo, através do diálogo, os membros apresentaram mudanças em suas falas. Este aspecto é fundamental para compreender a necessidade de dialogar com pessoas, sobretudo, os homens a importância da desconstrução dos papéis construídos socioculturalmente para homens e mulheres. 
As instituições pesquisadas que desenvolvem trabalhos com homens autores de violência são em sua maioria de caráter governamental com iniciativas financiadas por projetos do governo ou financiamentos internacionais. Nesta perspectiva, a Vara Especial de São Luís Maranhão fundou em outubro de 2008 um grupo reflexivo com homens autores de violência, que respondiam judicialmente por agressão às suas companheiras ou ex companheiras (ARAUJO, 2015).
As ações desses grupo eram coordenadas em três momentos: no primeiro caberia a realização de entrevistas individuais com os homens, com o objetivo de coletar informações sobre o participante e suas relações, iniciar o estabelecimento de vínculo e realizar encaminhamentos que fossem necessários; no segundo momento ocorreriam 10 encontros semanais, para a discussão/reflexão sobre temáticas previamente estabelecidas e/ou sugeridas pelos participantes; no terceiro momento haveria o acompanhamento dos homens por um período de três meses através de encontros coletivos mensais.
(ARAUJO, 2009). 
 Nesta perspectiva, a juíza Madgéli Frantz Machado, titular do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) relata que as histórias contadas refletem como se fossem espelhos. Isso serve para que o homem possa se enxergar no outro e reconhecer o seu erro, pois muitas vezes não consegue se enxergar na posição de agressor, de violador de direitos. Isso gera um processo de reflexão. (BEIRAS, 2014)
As instituições que apresentam esses projetos são na maioria governamentais, ligados à justiça, segurança pública ou políticas públicas. Algumas apresentam objetivos mais amplos, atuando em diferentes temas, outras estão concentradas no tema da mulher, de sua saúde e principalmente da violência. (SOARES; GONÇALVES, 2017)
Os direitos humanos, cidadania e democracia são os temas principais relatados por estas instituições como centrais em sua atuação. Os grupos podem ser realizados de forma continuada ou com um número pré-determinado de sessões. Neste segmento, no caso de grupos obrigatórios, ou seja, penalidade imposta, as sessões são em número determinado. E a medida em que diversas questões vão sendo trabalhadas: masculinidades, gênero, comunicação não violenta onde acontece o processo de reeducação e verdadeira transformação. (ARAUJO, 2009)
REFERÊNCIAS
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