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EA D De Nabucodonosor a Alexandre 6 1. OBJETIVOS • Reconhecer as potências no mundo antigo sob as quais os judeus se viram subordinados. • Reconhecer as estratégias usadas pelos conquistadores em relação aos conquistados. • Identificar elementos de transição cultural e religiosa. • Identificar elementos que conferiram identidade aos ju- deus na sucessão de processos e de projetos dominató- rios. 2. CONTEÚDOS • Histórias da história do cativeiro dos judeus na Babilônia. • A hegemonia persa e o retorno dos judeus a Jerusalém. • Judá ou Judeia na era helenística. • A dinastia dos asmoneus. © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel174 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Os conceitos a serem abordados podem ser assimilados mais facilmente a partir de debates, questionamentos e cooperação. Desse modo, discuta os temas com seus colegas. 2) Se você se interessar pelas maravilhas do mundo anti- go, consulte a obra As sete maravilhas do mundo anti- go, de autoria de Peter. A. Clayton e Martin J. Price, da Ediouro, datada de 2003. Além de ser uma obra muito interessante sobre o assunto, ela revela os detalhes das célebres construções monumentais da Antiguidade. E quais foram essas maravilhas? Além dos Jardins Suspen- sos da Babilônia, há, ainda, a grande Pirâmide de Gizé, a estátua de Zeus em Olímpia, o templo de Ártemis em Éfeso, o Mausoléu de Halicarnasso, o Colosso de Rodes e o Farol de Alexandria. Leitura altamente recomendá- vel, especialmente para aqueles que se interessam em conhecer o que significaram e significam essas constru- ções, das quais, hoje, resta, apenas, a Pirâmide de Gizé. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Após um "sobrevoo" sobre a formação e dissolução das mo- narquias em Israel e Judá, colocamos nossos pés na Unidade 6, que continua o tema da unidade anterior e trata, principalmente, da história política de Israel. A partir deste momento, chegamos a etapas muito especiais nessa história, pois trataremos de quando os israelitas, por meio de uma sucessão de impérios esplêndidos, viveram experiências diversificadas, principalmente no campo cultural. As perguntas que nos conduzirão ao longo desta unidade são: 175© De Nabucodonosor a Alexandre 1) Quais as consequências da destruição do reino próprio para o povo israelita ou judeu? 2) A quem as políticas internas e externas beneficiavam? 3) Quais interesses se escondiam por detrás das benevo- lências dos conquistadores? 4) Quais eram os interesses judaicos expressos em suas ações político-religiosas? Para o estudo desta disciplina, apresentaremos uma visão geral dos judeus sob o domínio dos babilônios, que culminou com o exílio da elite. Estudaremos, também, sobre o poder do magnífico Impé- rio Persa, que usou estratégias inéditas e diferentes das potências anteriores para manter os israelitas conformados. Para finalizar, verificaremos qual foi sua situação por ocasião da dominação dos soberanos helênicos e, às vésperas da era romana, como se porta- ram num sistema de governo próprio. Para iniciar o estudo desta unidade, confira, no tópico a se- guir, um pouco da história de Nabucodonosor. 5. NABUCO QUEM? Nabucodonosor era o filho mais velho e sucessor de Nabo- polassar, que iniciou o domínio caldeu sobre a Babilônia em 626 a.C. Durante seu reinado (605-562 a.C.), o Império Babilônico co- nheceu seu período de glória e teve sua majestade descrita alguns séculos mais tarde pelo famoso historiador grego Heródoto. Nabucodonosor esteve ao lado de seu pai no comando das tropas contra os assírios (607-606 a.C.) e, após assumir o trono, em 605 a.C., rumou para a Síria, a fim de continuar a guerra contra o Egito, a qual Nabopolassar houvera iniciado. Líder nato e brilhante, Nabucodonosor derrotou os egípcios, aniquilou os fenícios, tomou a Palestina e obteve o controle total do Oriente Médio. Ao lado de suas vitórias militares, outro de seus © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel176 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO grandes feitos foi reconstruir a Babilônia com fortificações, embe- lezando os templos, construindo fossos, abrindo canais e fazendo construções deslumbrantes, como os famosos Jardins Suspensos, reconhecidos por nós como uma das sete maravilhas do mundo antigo. Os Jardins Suspensos da Babilônia foram uma das sete ma- ravilhas do mundo antigo. Talvez, uma das maravilhas relatadas sobre que menos se sabe. Muito se especula sobre suas possíveis formas e dimensões, mas nenhuma descrição detalhada ou ves- tígio arqueológico já foram encontrados, além de um poço fora do comum, que parece ter sido usado para bombear água. Seis montes de terra artificiais, com terraços arborizados apoiados em colunas de 25 a 100 metros de altura, construídos pelo rei Nabu- codonosor para agradar e consolar sua esposa preferida Amitis, que nascera na Média, um reino vizinho, e vivia com saudades dos campos e florestas de sua terra (SAID, 2012). Figura 1 Representação dos Jardins Suspensos da Babilônia. 6. ORIGEM DA HISTÓRIA DO CATIVEIRO DOS JUDEUS NA BABILÔNIA Na época das campanhas de Nabucodonosor e da tomada do poder assírio, os reinos vassalos da Assíria continuaram vassa- los da Babilônia. E, entre eles, Judá, um pequeno Estado, vindo de uma conturbada e desastrosa cisão, que já havia passado pelo se- gundo estágio da dominação assíria e que agora era ,praticamen- te, composto por sua capital, Jerusalém, e seus arredores. 177© De Nabucodonosor a Alexandre Como vimos na Unidade 4, enquanto Jeoaquim foi rei de Judá, Nabucodonosor não se preocupou em invadi-lo. Entretanto, as coisas não seguiram do mesmo modo quando Jeoaquim mor- reu. Assim, seu filho Jeconias mal teve tempo de começar a reinar, pois, dentro de alguns meses, o soberano babilônico procedeu ao primeiro cerco sobre Jerusalém, que culminou com a deportação do rei e de sua corte no ano 597 a.C. Contudo, esse ainda não foi o fim de Judá. Ao invés de sim- plesmente anexá-lo, Nabucodonosor decidiu deixar que o peque- no estado continuasse a existir como vassalo e como governante próprio. Desse modo, ele mesmo instituiu Zedequias como rei. Nessa época, o profeta Jeremias pregava a inteligência, ou seja, ele ad- vertia ao povo de Judá que permanecesse sob a Babilônia, que, segundo ele, estava sendo usada como instrumento de Iahweh (cf. Jr 27-29). Jeremias foi taxado como traidor, e não demorou para que Zedequias cedesse às vozes que lhe diziam que ele deveria romper com sua condição de vassalo babilônico. Diante da rebelião de seu dependente, em represália, o rei babilônico sitiou Jerusalém pela segunda vez, a fim de, primeiro, abrir brechas em sua defesa; depois, reduzi-la a ruínas; e, por fim, levar a elite de seus habitantes ao desterro. Dessa forma, teve início o tempo do cativeiro dos judeus na Babilônia de Nabucodonosor. A invasão e a destruição de Jerusa- lém são detalhadas já pelo final do segundo Livro de Reis. De certo, a tomada de cidades e de estados na Antiguidade vai além do que entendemos como trágico. Especialmente no caso dos israelitas, a tragédia ganha proporções também religiosas, afi- nal, a terra perdida era a mesma terra da promessa originadora do êxodo. Era a herança especial de Israel dada por Iahweh e conquis- tada com muitas lutas. © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel178 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Nesse momento, Judá, o último representante da totalidade de Israel, por causa da dissolução do reino do norte no tempo da Assíria, também havia sido eliminado como unidade política. Nos tempos do episódio, a Babilônia era bastante próspera: possuía seus Jardins Suspensos, tinha suas ruas asfaltadas, possuía gran- diosos palácios e templos suntuosos; tudo o que uma grande ci- vilizaçãopodia produzir lá se encontrava nessa época. De acordo com Heródoto, a cidade tinha cerca de 380km2, muralhas duplas, 100 portas de bronze (sendo 25 de cada lado) e o Rio Eufrates, que passava pelo meio da cidade. O povo levado cativo teve permis- são para viver em colônias, o que impediu sua dispersão total. A preocupação evidente nos escritos dos profetas contemporâneos em relação ao exílio diz respeito à permanência da identidade re- ligiosa, étnica e cultural, mesmo longe da Terra Prometida (LOPES, 2007). A destruição do templo representou, ainda, um impacto par- ticular. Segundo a tradição, o templo era a habitação de Iahweh, e, de acordo com a lei judaica, somente ali os sacrifícios de ani- mais podiam ser aceitos; não havia e não podia haver outro lugar. Contudo, os guerreiros inimigos entraram, invadiram o lugar mais sagrado, no qual somente o sumo sacerdote podia entrar, saquea- ram seus tesouros e incendiaram o que sobrou. Seguiu-se, então, uma sequência de três deportações rela- cionadas aos membros da classe dominante e da nobreza, restan- do na terra apenas classes inferiores, constituídas de agricultores. Para evitar futuros movimentos de independência, Nabu- codonosor executou sacerdotes, oficiais, funcionários da corte e membros da nobreza. O livro Lamentações de Jeremias oferece- -nos uma visão do que aconteceu naquela época: a fome veio aos moradores da cidade, as mulheres foram violentadas, era necessá- rio pagar para ter água e lenha, havia trabalho forçado e mesmo a colheita era feita sob constante risco de vida, já que a terra havia se tornado exposta aos beduínos. 179© De Nabucodonosor a Alexandre Nesse contexto, formaram-se três grupos da população de Judá: • O primeiro é aquele dos deportados, que mantinha suas expectativas em Jeconias, que estava preso com eles. • O segundo é composto por aqueles que fugiram para re- giões como Amon e Egito, sobre cujos projetos políticos não existem registros. • O terceiro refere-se àqueles que apoiavam o projeto de Godolias, sob a proteção da Babilônia. Esse Godolias, um funcionário sem parentesco com a casa de Davi, foi cons- tituído sobre Judá por Nabucodonosor, logo após a queda de Zedequias. Do segundo grupo saiu certo Ismael, que, mais tarde, assassinaria Godolias (Jr 41,1-3). O que impediu a dispersão total do grupo levado cativo foi a obtenção de permissão para viver em colônias, enquanto seguia sonhando com um retorno a Jerusalém. Sua saudade é registrada de forma bela no triste canto recolhido no Salmo 137: À beira dos rios da Babilônia, ali ficávamos sentados, Desfeitos em prantos, pensando em Sião. Nos salgueiros da vizinhança Havíamos pendurado as nossas cítaras. Ali os conquistadores nos pediam canções E os nossos raptores, melodias alegres: "Cantai para nós algum canto de Sião". Como cantar um canto do Senhor em terra estrangeira? Se eu te esquecer, Jerusalém, que a minha direita esqueça...! Que a minha língua se me cole ao céu da boca Se eu não pensar mais em ti, Se eu não preferir Jerusalém a qualquer outra alegria (vv. 1-6). De fato, muitos recomeçaram a vida na Babilônia e jamais regressaram à Palestina, de modo que a cidade do exílio acabou por se tornar um importante centro do judaísmo. É muito provável © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel180 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO que vários livros do Antigo Testamento, entre os quais o Deutero- nômio, tenham chegado à sua redação final na Babilônia. Deute- ronômio, por exemplo, narra a libertação de Jeconias da prisão. Como não havia mais templo e não se podiam oferecer sa- crifícios em terra impura, dois elementos rituais que não estavam ligados a locais cúlticos foram especialmente destacados: a circun- cisão e a observação do sábado. Esses costumes, aos quais, mais tarde, a oração com os olhos voltados para Jerusalém foi acrescen- tada (1Rs 8,48; Dn 6,10), passaram a constituir sinais da aliança e de filiação a Iahweh (Ez 20,12 e 20; Gn 17,11). Dessa forma, são nessas terras que surgem duas expectati- vas para a restauração de Israel: • A primeira delas se dá com o profeta Ezequiel, cujo pro- grama gira em torno da reconstrução e reorganização do serviço do templo (Ez 40-48). • A segunda pode ser verificada com um profeta anônimo que costumamos chamar de Segundo ou Deutero-Isaías (Is 40-55), cujo objetivo era animar o povo abatido. Israel, o servo castigado, já havia pago suas culpas (Is 40,1-2), e seu sofrimento possuía funções salvíficas, pois, por meio dele, as nações acreditavam em Iahweh (Is 52,13 e 53,12). A tragédia da destruição de Jerusalém e a consequente de- portação da elite conduziram a uma nova reflexão nos círculos que se mantinham fiéis a Iahweh. As perguntas emergidas da crise questionavam a duração do reino de Davi e o templo como local da habitação de Iahweh e de seu nome. As respostas a elas estão reunidas nas Lamentações de Jere- mias e na obra historiográfica deuteronomista (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis). Segundo esses corpos literários, a desgraça de Israel foi um juízo de Iahweh sobre seus pecados (Lm 2,6ss; 4,17; Sl 89,39-46). Por isso, também, toda a esperança deveria ser depositada nele, o único capaz de restaurar a glória de antes. 181© De Nabucodonosor a Alexandre Nesse sentido, o chamado ao arrependimento e as confis- sões eram os elementos centrais da liturgia das Festas de Lamen- tação celebradas no santuário arrasado, uma imagem bastante forte e triste. 7. VÃO-SE OS BABILÔNIOS, VÊM OS PERSAS A sucessão ao trono babilônico após a morte Nabucodono- sor em 562 a.C. deu início ao declínio do império, que agora se via à mercê de golpes de estado. Esse enfraquecimento era propício para o surgimento de uma nova potência: a Pérsia. Em meados do século 6º, os persas estavam submetidos aos medos, assim como outros povos iranianos, dos quais cobravam impostos. Essa situação se estendeu até o ano 550 a.C., quando um príncipe persa chamado Ciro liderou uma revolta contra o rei medo Ciaxerxes e saiu vitorioso. Ciro, o Grande (560-530 a.C.), tor- nou-se rei dos medos e persas após haver conquistado Ecbátana e destronado Astíages (555 a.C.). Conquistou, também, a Babilônia (539 a.C.). O império ia desde o Helesponto até as fronteiras da Índia. Desse modo, Ciro tornou-se o senhor do império medo, que incluía o Irã, a Armênia, a Ásia Menor e parte da Mesopotâmia Setentrional. Em 546 a.C., derrotou o rei da Lídia, fazendo que seu reino se estendesse para a Ásia Menor Ocidental. Alguns anos mais tarde, em 539 a.C., derrotou Nabonido e anexou o reino babilônico ao qual pertencia a Palestina-Síria. Em 525 a.C., o sucessor de Ciro, seu filho Cambises, expandiria o do- mínio persa até o Egito e teria para si o mérito de ser o governante do primeiro império a se deitar por todo o Oriente Próximo (toda a Mesopotâmia, Irã, Egito, Ásia Menor e Palestina-Síria). O império persa atingiu seu auge em termos de território com Dario I, quando foram conquistados o Vale do Rio Indo, no leste, e a Trácia, no oeste. Em seu esquema administrativo, Dario © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel182 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO I dividiu o império em províncias, para as quais nomeou gover- nadores de confiança, os denominados sátrapas. Também cons- truiu grandes estradas (a famosa Estrada Real ligava seu imenso império), o que facilitou o deslocamento de tropas e o movimento comercial. Foi durante o reinado de Ciro, o Grande, que o cativeiro babi- lônico dos judeus chegou ao fim, pois o soberano permitiu a volta deles a Jerusalém, bem como a reconstrução do templo no ano 538 a.C., com as despesas às expensas da reserva do Estado persa. Por isso, Ciro é visto pelo Segundo Isaías como um libertador aben- çoado por Deus, e sua ação, como um novo êxodo. Sentimentos religiosos das nações conquistadas eram tolera- dos pelo soberano, queviu nessa estratégia a forma para conseguir a lealdade dos vassalos. Após a tomada da Babilônia, ele decretou a devolução aos seus respectivos templos das estátuas cúlticas to- madas dos povos conquistados por Nabonido. Esse decreto signi- ficava a retomada dos utensílios sagrados e, possivelmente, frag- mentos/rolos de sua tradição religiosa. O decreto reativo à volta dos judeus a Jerusalém com a permissão de reconstrução do seu templo está preservado no texto bíblico em 2Cr 36,22-23 e em Ed 1,1-5. No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para cumprir a palavra de Iahweh, pronunciada por Jeremias, Iahweh suscitou o espírito de Ciro, rei da Pérsia, que o mandou proclamar a viva voz e por escrito, em todo o seu reino, o seguinte: Assim fala Ciro, rei da Pérsia: Iahweh, o Deus, o céu, entregou-me todos os reinos da terra; ele me encarregou de construir para ele um Templo em Jerusalém, na terra de Judá. Todo aquele que, den- tre vós, pertence a todo o seu povo, que seu Deus esteja com ele e que se dirija para lá! (2Cr 36,22-23). A condução dos utensílios do templo foi colocada sob a res- ponsabilidade de certo Sesbazar, que pode se tratar do mesmo Se- nasser listado na genealogia de 1 Crônicas 3,17ss como filho do rei Jeconias. Se for assim, os persas não lhe estavam devolvendo o rei- 183© De Nabucodonosor a Alexandre no de seu pai, mas apenas lhe conferindo uma missão: reconduzir os utensílios do templo e reconstruí-lo. A história bíblica não nos relata o fim de Sesbazar, mas nos deixa saber que ele só conseguiu completar a primeira parte da missão. [...] Além disso, o rei Ciro retirou do santuário de Babilônia, os uten- sílios de ouro e de prata do Templo de Deus, que Nabucodonosor retirara do santuário de Jerusalém e transportara para o templo de Babilônia; e mandou entregá-los a Sesabassar, que ele nomeou governador; e disse-lhe: - Toma esses utensílios, vai depositá-los no santuário em Jerusalém e que o Templo seja reconstruído em seu lugar primitivo (Esd 5,14-15). Ao mesmo tempo, em Jerusalém, haviam assentadas algu- mas situações que minaram o interesse pela construção do santu- ário, dentre as quais podemos citar as magras condições de vida na cidade e no resto da terra cultivada, provocadas pela seca e, consequentemente, pela má colheita. A situação toda levou ao consenso: "[...] não veio ainda o tempo em que a casa de Iahweh deve ser edificada" (Ag 1,2). A construção iniciada por Sesbazar foi retomada somente no tempo de Dario I, sob a supervisão de um descendente de Davi chamado Zorobabel (Ed 3,2; 1Cr 3,19). Ainda que os profetas Ageu e Zacarias tenham ligado esperanças messiânicas a ele (Ag 2,23), o comissionamento seguiu sendo muito específico, sem representar restituição do antigo reino, e sempre sob a supervisão do governo de Samaria, do qual Jerusalém se tornara província. No ano 515 a.C., o novo templo foi concluído e inaugurado. Ao contrário dos assírios e babilônios, que buscavam desintegrar o elemento cúltico dos povos dominados, receando que ele pudesse ser força geradora de revolta, os persas não interferiram na reli- gião. Dario não fez intervenções no culto e no sacerdócio judaico, e sua orientação explícita era de que o templo de Jerusalém fosse dedicado, exclusivamente, à celebração de Iahweh. O único acrés- cimo feito por ele era a prática de uma oração diária em favor do rei. © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel184 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO É importante observar que o templo foi devolvido a Israel. Porém, o nome "Israel" sofreu redução de sentido; ele não servia mais para designar a coligação das extintas tribos, bem como para nomear um estado. Diante da nova realidade, o termo "Israel" pas- sou a ser usado para designar a comunidade cúltica que se reunia no novo santuário de Jerusalém e que se manteve unida por meio do culto a Iahweh (METZGER, 1978). Já na época do rei Ataxerxes (445 a.C.), mais dois grupos de desterrados chegaram a Jerusalém. • O primeiro deles estava comandado por Esdras (458 a.C.), que se dedicou à restauração do culto. • O segundo estava com Neemias (455 a.C.), a quem o rei enviou a Jerusalém com uma missão sobremaneira am- pla: reconstruir-lhe os muros, povoá-la e consolidar a re- gião. Desse modo, Neemias, mais tarde, instituiu uma série de normativas que incluíam o compromisso de entrega pontual dos dízimos ao santuário, observação do sábado e o não casamento com estrangeiros. Nesse sentido, com administração independente, Judá fica- va separado da Samaria, que perdia parte de seu território, incluin- do o templo. A autonomia de Judá encontrou oposição entre outras pro- víncias. Como consequência do seu estabelecimento como provín- cia, durante o século 4º, o inevitável aconteceu: a edificação de um centro religioso em Samaria, o templo de Garizim, o "monte da bênção" (Dt 11,29). Os habitantes de Samaria souberam se apro- veitar dessa referência fora de propósito no Deuteronômio (que preconiza um único lugar de culto), alegando que estavam cum- prindo a vontade de Moisés ao firmar o culto no lugar em que ele teria querido. 185© De Nabucodonosor a Alexandre Os habitantes da Samaria eram os descendentes da popula- ção mista israelita e pagã que ocupou aquele território depois do exílio dos Samaritanos para Nínive (711 a.C.). Eles somente admi- tiam como livros canônicos o Pentateuco (tal como os Saduceus) e tinham um templo no monte Garizim (2Rs 17,24-28; Esd 4,1-4). Por esse motivo, os Judeus (habitantes da Judeia, ao sul) rejeita- vam-nos, como se fossem pagãos (Lc 10,25-37; Jo 4,19-22). Do ponto de vista das elites de Samaria, era imprescindível ter "seu" templo. Era uma necessidade política. Porém, o efeito na fé do povo foi de criar um cisma religioso. Tratava-se de duas interpretações contraditórias de um mesmo texto relevado, o Pen- tateuco. Fazer peregrinações a Garizim era rechaçar a legitimidade do templo de Jerusalém e vice-versa, já que Moisés dissera clara- mente (em Lv 17,1-7 e Dt 12,1-14) que pode haver somente um lugar de culto, o lugar escolhido por Javé. De um problema político das elites, surgiu um problema de fé para as bases populares, pro- blema ainda não resolvido nos tempos de Jesus (cf. Jo 4) (PIXLEY, 1990). Na outra ponta, os sacerdotes de Jerusalém procuravam manter a identidade de maneira bastante drástica por meio de ob- servância rigorosa da lei, das tradições religiosas e da pureza de raça. Por esse motivo, pronunciavam-se ferozmente contra à união de judeus com estrangeiros, chegando ao ponto de colocar fim a essas uniões quando tinham a chance (cf. Ed 9-10). Provavelmente, o tempo de exílio não transcorreu sem pro- vocar alterações na política judaica secular e religiosa. Dentre elas, podemos mencionar: a) o abandono da ideia monárquica e o retorno ao princí- pio da teocracia, o único capaz de conjugar judeus na Palestina com aqueles que estavam dispersos; b) a rejeição definitiva do politeísmo; c) a adoção do aramaico como língua popular; d) o estabelecimento de sinagogas em diversos centros de população judaica. © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel186 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 8. SAI A PÉRSIA, ESTABELECE-SE O PERÍODO HELE- NÍSTICO Vamos observar, agora, a decadência do magnífico império dos persas com a expansão do território na tomada do estreito de Bósforo e Darnelos, no Mar Negro. Essa situação prejudicou o intenso comércio grego na região, e o clima de conflito entre algumas cidades gregas e o império per- sa desembocou em uma longa guerra. Em 490 a.C., Dario tentou invadir a Grécia, mas foi derrotado pelos gregos. Após sua morte, seu filho Xerxes deu sequência à luta contra a Grécia, mas foi ven- cido entre 480 e 479 a.C. Após sucessivas derrotas, os persas não tiveram escolha se- não reconhecer a hegemonia grega no Mar Egeu e na Ásia Menor. Com o enfraquecimento do império, várias das satrapias (provín-cias em que estava dividido o antigo império persa) revoltaram-se contra o domínio persa, e, no plano interno, a luta pelo poder foi se tornando cada vez mais violenta. Dessa forma, durante o século 4º a.C., o império foi se esfa- celando como resultado de abundantes revoltas. Contudo, o golpe final foi dado por Alexandre da Macedônia, que anexou o império dos persas após vencer as tropas de Dario III numa série de bata- lhas entre 334 e 331 a.C. Esse é o começo do chamado período helenístico para vários territórios, inclusive Judá. Mas o que é helenismo? Helenismo é o termo usado quando nos referimos à cultura e a um modo de vida que se seguiram às conquistas de Alexandre. Para alguns, M. Hengel e J. G. Droysem, por exemplo, o helenis- mo define-se como o sincretismo (mistura) entre culturas gregas e orientais. De fato, a definição do conceito é mais complexa do que a sua abstração. Por ora, importa-nos apenas ter em mente que o helenismo tinha essencialmente a ver com questões de cunho cultural e o que decorre delas (para as discussões em torno desse conceito, veja COLLINS; STERLING, 2001). 187© De Nabucodonosor a Alexandre Alexandre Magno Alexandre III Magno ou Alexandre, o Grande, rei da Macedô- nia (336-323 a.C.), foi um dos mais importantes militares do mun- do antigo. Nascido em Pela, antiga capital da Macedônia, era filho do rei Felipe II. Seu tutor foi ninguém menos que o grande filósofo Aristóte- les, que lhe ensinou literatura, retórica e instigou seu interesse pe- las ciências, filosofia e medicina. Nos anos de 336 a.C., Felipe II foi assassinado e Alexandre ascendeu ao trono da Macedônia, dando início a uma trajetória marcante na história do mundo antigo. Seu sucesso extraordinário originava-se da sua habilidade como estrategista e da superioridade tática de suas forças, prin- cipalmente a cavalaria. Ele sabia como ninguém o que fazer para inspirar seus homens a seguirem-no nas campanhas mais ousadas e improváveis, como foi o caso daquela na Índia. Como político e dirigente, traçou planos grandiosos, como o projeto de unificar Oriente e Ocidente em um grande império mundial. Se, de fato, esse plano existiu, é certo que jamais se con- cretizou. Entretanto, suas conquistas foram notáveis: Pérsia, Egito, Palestina-Síria, Mesopotâmia. Enfim, todo o Oriente acabou sob seu domínio. Para consolidar suas conquistas, Alexandre edificou várias cidades ao longo de seus territórios, muitas das quais se chama- ram Alexandria em sua homenagem. Tais cidades eram bem loca- lizadas, ladrilhadas e contavam com abastecimento de água. Eram independentes, mas sujeitas aos editos do rei. Os gregos mais velhos de seu exército, bem como os guerrei- ros mais jovens, mercadores, comerciantes e eruditos alojaram-se nessas cidades, levando consigo a cultura e a língua gregas. Assim, Alexandre estendeu largamente a influência da cultura grega, pre- parando o caminho para os reinos do período helenístico e para a posterior expansão de Roma. © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel188 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Figura 2 Extensão do império de Alexandre Magno. 9. DEPOIS DE ALEXANDRE Na realidade, o domínio de Alexandre foi muito breve, pois ele morreu na Babilônia, em 323 a.C., antes dos 40 anos de idade. Após sua morte, o reino que conquistou foi dividido entre três de seus generais, da seguinte maneira: • A Ásia Menor com Antígono. • A Mesopotâmia e a Síria Setentrional com Seleuco. • O Egito com Ptolomeu. De acordo com essa divisão, entre 301 e 203 a.C., a Palesti- na, que fazia parte da província da Síria e Fenícia, ficou submetida aos reis helenísticos instalados no Egito, isto é, aos ptolomeus: por ordem, Ptolomeu I Soter, Ptolomeu II Filadelfo, Ptolomeu III Ever- getes e Ptolomeu IV Filopátor. Durante o tempo em que os ptolomeus reinaram sobre a Palestina, ela esteve em paz, embora não a tenham isentado da exploração econômica. Os judeus de então puderam praticar livre- mente o culto a Iahweh, mas não tiveram história própria. Pelo 189© De Nabucodonosor a Alexandre menos não existem relatos que nos informem sobre uma. Contudo, temos um fato importante nesse período: a tra- dução das escrituras hebraicas para o grego, que gradualmente tornava-se a língua corrente. Diz a lenda que, sob o patrocínio de Ptolomeu II, setenta sábios foram reunidos na cidade de Alexan- dria para operarem esse trabalho, que ficou conhecido como a Tradução dos Setenta ou Septuaginta (LXX). Inicialmente, a província da Síria e Fenícia foi objeto de de- sejo tanto dos ptolomeus quanto dos seleucidas, que levaram a pior nas disputas. Eles, entretanto, jamais ficaram tranquilos com a perda da Síria e Fenícia para os ptolomeus, de modo que, em vá- rias ocasiões, tentaram resgatar essa província. Quem conseguiu reavê-la foi Antíoco III, quando derrotou os homens de Ptolomeu V Epífanes. E a situação permaneceu assim até o levante de Ma- tatias e seus filhos em 167 a.C., que conhecemos como a Guerra dos Macabeus. Durante os conflitos entre o soberano seleucida e o ptolo- meu, a comunidade cultual de Jerusalém colocou-se do lado dos seleucidas. Por essa razão, ao vencer a disputa, Antíoco III conce- deu a Jerusalém privilégios de várias naturezas, num decreto que é citado no livro III das Antiguidades Judaicas de Flávio Josefo. Entre as regalias conseguidas por Jerusalém, estavam abonos estatais, isenção de certos impostos e o direito de viver segundo as suas próprias leis (METZGER, 1978). 10. REVOLTA DOS MACABEUS Antíoco III deu início a uma série de campanhas anexatórias nos territórios dominados pelas famílias dos outros generais de Alexandre. Estava empolgado com as novas conquistas, pensando que poderia anexar Roma também, mas "deu com a cara na por- ta". Além de derrotado, acabou afundado em dívidas de guerra e morreu pouco tempo depois. © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel190 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Em 175 a.C., Antíoco IV assumiu o poder, bem como as mui- tas dívidas do pai, e passou a dirigir Jerusalém de olho nos impos- tos arrecadados pelo templo da cidade. Conforme demonstrou, brevemente, a Unidade 2, foi durante seu reinado que se estabe- leceu um tempo de tensões com a comunidade cultual de Jerusa- lém, ao que tudo indica, provocadas pelo antagonismo entre os grupos fiéis à lei e os de disposições helênicas que deram as costas para as tradições. Os relatos do conflito estão recolhidos em 1 e 2 Macabeus. Vale ressaltar que, desde 169 a.C., quando o rei invadiu, pro- fanou e saqueou o templo de Jerusalém, vários costumes judai- cos foram comprometidos: a observação do sábado, a oferenda de sacrifícios no templo, as festas tradicionais e mesmo os rituais de circuncisão haviam sido suspensos por tempo indeterminado. Assim, os judeus que se mantinham fiéis às tradições apesar das ordens reais estavam na zona de perigo. Dentre aqueles que propunham alguma resistência, estava o sacerdote Matatias, que recebeu uma séria advertência de Antío- co IV: ele e seus seguidores seriam punidos se não se conformas- sem às normativas reais. Dessa forma, para mostrar que estava de acordo com as exigências, o sacerdote deveria oferecer um sacrifí- cio a Zeus, deus supremo dos gregos. Visto que Matatias não aceitou as exigências, passou a sofrer perseguições da parte do rei. Como não podia mais ficar em sua cidade, Modin, mudou-se com a família e mais alguns partidários para o deserto da Judeia, de onde organizou um pequeno exército para combater os gregos e judeus apóstatas. No entanto, Matatias morreu apenas alguns meses depois, sendo substituído na chefia da revolta por seu filho Judas Macabeu, que, a partir dos anos 166 a.C., deu início a uma série de conflitos contra o poderio militar de Antíoco e acabou vencendo seu oponente. Embora o número de homens de Judas fosse muito menor que o do adversário (primeiroGeorgias, em Emaús, e depois Lísias, 191© De Nabucodonosor a Alexandre em Bete-Sur, ambos os governadores de províncias encarregados por Antíoco), a surpreendente vitória dos insurgentes deveu-se à perspicácia das táticas de Judas e, é claro, aos esforços de seus partidários, para os quais essas batalhas eram decisivas. Após as duas vitórias, Judas assumiu o controle da situação na Judeia, podendo iniciar e concluir a purificação e reconsagração do santuário profanado por Antíoco IV (1Mc 4,36ss). Encorajadas por essa grande vitória, as forças judaicas seguiram em campa- nhas, destruindo cidades helenísticas e trazendo terror sobre os judeus que tinham deixado de reverenciar Iahweh. Mais tarde, os judeus foram derrotados em Bet-Zacarias, mas o rei ofereceu-lhes um acordo de paz e propôs a retirada das normativas que originaram a revolta, que foi aceito posteriormen- te (1Mc 6,60). No entanto, os objetivos iniciais da insurreição fo- ram atingidos, e a solução pôs fim à primeira parte da guerra, de cunho religioso. © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel192 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Figura 3 Representação da revolta dos macabeus. O rei instituiu Alcimo, um membro da família sacerdotal aa- rônica, como sumo sacerdote. Os piedosos (assideus) não tiveram nenhum problema em aceitar a atividade sacerdotal de Alcimo (1Mc 7,12-14). Contudo, Judas e seus irmãos não estavam satis- feitos. Além do objetivo religioso, corria em paralelo um objetivo político: libertar os judeus do domínio seleucida e promulgar a in- dependência, que veio em 142, mas Judas já estava morto desde 160. Após a morte de Judas, Jonatas e depois Simão, seus irmãos, assumiram o poder e iniciaram a dinastia dos asmoneus, uma fa- mília de sacerdotes levitas (não aaronitas) que se conservaram du- rante decênios na liderança política e religiosa dos judeus. 193© De Nabucodonosor a Alexandre O governo asmoneu promoveu o desenvolvimento do co- mércio e da manufatura, o que prejudicou muito a agricultura. Em consequência, a classe dos pequenos proprietários foi reduzida à penúria e alguns ricos comerciantes compraram suas terras. Sur- giram, assim, uma classe de grandes latifundiários e outra de pes- soas miseráveis. Tanto Jonatas quanto Simão assumiram para si, além das funções de governantes, o posto de sumo sacerdotes. No entanto, essa última autoatribuição dos asmoneus se manteve como motivo de querelas internas, afinal, eles não eram da linhagem sacerdotal de Sadoc, condição necessária para assumir o sumo sacerdócio. Como política e religião sempre estiveram bem unidas desde a época das tribos, a situação, toda provocada pelos poderes que os asmoneus se atribuíram, gerou interpretações diversas, conten- das e a formação de partidos: os fariseus, saduceus e essênios, que tão bem conhecemos das narrativas neotestamentárias. Mais à frente, nos anos de 66 a.C., Pompeu foi hábil para as- segurar a soberania romana sobre a Ásia Menor. Com a deposição do seleucida Antíoco XIII, uma nova época inicia-se para Israel e os asmoneus, representados pelos irmãos Aristóbulo e Hircano, bus- cam conquistar a simpatia dos romanos, inclusive levando presen- tes caros pessoalmente a Pompeu. Enquanto isso, alguns círculos de fariseus enviaram uma mensagem a Pompeu, na qual pediam que ele colocasse fim ao poderio dos asmoneus. Em vista da demora de Pompeu em dar alguma posição aos irmãos asmoneus, Aristóbulo retirou-se cheio de indignação e re- solveu estabelecer seu poderio por esforço próprio. O governante romano não deixou esse insulto barato e saiu com o exército em perseguição ao asmoneus pela Judeia. Quando Pompeu chegou diante de Jerusalém, Aristóbulo submeteu-se aos romanos, mas seus partidários, não. © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel194 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Foram necessários três meses para que Pompeu conseguisse tomar a área do templo, que era fortificada, e, quando conseguiu, o romano saboreou a vingança adentrando com seus homens o espaço mais santo do templo. Portanto, com a prisão de Aristóbulo e de seus filhos, a sobe- rania asmoneia encontrou um fim nada célere e carente de qual- quer glória no ano 63 a.C. A partir de então, a Palestina nada mais foi do que uma entre muitas outras províncias romanas. Para com- pletar a humilhação, em 37 a.C., os romanos coroaram um estran- geiro para reinar sobre os judeus, Herodes, originário da Idumeia, que, tempos antes, havia sido conquistada pelos macabeus. Leitura complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––– A História da Terra Santa Da promessa até o cativeiro 2126 a.C. - Deus chama Abrão para a terra de Canaã (Gn 12.1-3). 1913 a.C. - Deus estabelece uma aliança incondicional com Abraão e revela-lhe os limites da terra prometida a ele e aos seus descendentes para sempre (Gn 15). 1800 a.C. - Deus confirma a aliança abraâmica com Isaque (Gn 26.1-5). 1760 a.C. - Deus confirma a aliança com Jacó (Gn 28.13-15). 1728 a.C. - José é vendido como escravo no Egito (Gn 37.36). 1706 a.C. - Jacó (agora chamado Israel, Gn 32.28) e seus filhos mudam-se para o Egito (Gn 46.1-26). 1446 a.C. - O êxodo do Egito (Êx 14). 1406 a.C. - Início da conquista israelita de Canaã. 1375 a.C. - Começa o período dos juízes. 1050-930 a.C. - O reino unido (Saul, Davi e Salomão). Em 1000 a.C., Davi con- quista Jerusalém e a torna a capital de Israel. 930-732 a.C. - O reino dividido (Norte = Israel; Sul = Judá). Jerusalém é a capital de Judá. 722 a.C. - A Assíria conquista o Reino do Norte (Israel). 605-586 a.C. - A Babilônia conquista o Reino do Sul (Judá) e destrói o Templo de Salomão. Início do cativeiro babilônico. Do retorno até Herodes, o Grande 539 a.C. - Queda da Babilônia diante da Média-Pérsia (Dn 5). 538 a.C. - Ciro, o rei persa, permite o retorno dos judeus à sua terra (Esdras 1). 537 a.C. - Judeus retornam a Jerusalém sob Zorobabel. 516 a.C. - A reconstrução do Segundo Templo é concluída. 195© De Nabucodonosor a Alexandre 458 a.C. - Nova leva de judeus retorna a Israel sob Esdras. 445 a.C. - Artaxerxes I envia Neemias a Jerusalém para reconstruir os muros (Ne 2). 430 a.C. - Malaquias, a última voz profética; depois dele, 400 anos de "silêncio". 333 a.C. - Alexandre, o Grande, conquista a Pérsia, iniciando o período helenís- tico (grego). 323 a.C. - Morre Alexandre, o Grande. Seu reino é dividido entre seus quatro generais (Ptolomeu, Seleuco, Cassandro e Lisímaco). 167 a.C. - Antíoco IV (Epifânio) profana o Templo. 165 a.C. - Judas Macabeu lidera a revolta contra Antíoco, purifica o Templo e restabelece a independência sob a dinastia hasmoneana. 63 a.C. - O general romano Pompeu entra em Jerusalém, pondo fim à indepen- dência judaica; Júlio César é assassinado. 37 a.C. - Os romanos apontam Herodes, o Grande, como "rei dos judeus" e outorgam-lhe autoridade sobre a Judéia, Samaria e Galiléa. De Herodes até Maomé 20 a.C. - Herodes inicia a reconstrução do Templo. 6-5 a.C. - Jesus nasce em Belém. 4 a.C. - Morre Herodes; César Augusto divide o território: Arquelau recebe a Judéia, Herodes Antipas, a Galiléia e Filipe, a Ituréia e Traconites (Nordeste da Galiléia – Lc 3.1). 26-36 d.C. - Pôncio Pilatos governa a Judéia. 30 d.C. - Jesus, o Messias, é crucificado, ressuscita dentre os mortos e ascende ao céu. Começa a era da Igreja no Dia de Pentecostes (Shavuot). 66-73 d.C. - Primeira insurreição judaica. Os romanos destroem Jerusalém e o Templo (70 d.C.), e atacam Massada, onde 960 judeus preferem cometer suicídio a se renderem (73 d.C.). 132-135 d.C. - Segunda insurreição judaica. O imperador Adriano reconstrói Je- rusalém como uma cidade pagã e a denomina Aelia Capitolina. Rabbi Akiva lide- ra a rebelião e proclama como messias o líder militar Simon Bar Kochba. O povo judeu, que não tinha acesso apenas a Jerusalém, é disperso por toda a terra. Roma renomeia Judá, Samaria e Galiléia de Siria Palaestina, conhecida mais tarde como Palestina. 200 d.C. -Muitos judeus dispersos retornam. 312-313 d.C. - O imperador Constantino abraça o cristianismo. 330 d.C. - Constantino muda-se para Bizâncio, e dá-lhe o nome de Constantino- pla (hoje Istambul, Turquia), mantendo o controle sobre a Palestina. 570 d.C. - Muhammad ibn Abd Allah [Maomé] nasce em Meca (Arábia Saudita). De Maomé aos turcos otomanos 610 - Maomé declara que o anjo Gabriel mostrou-lhe uma tabuinha determinando que ele se tornaria um mensageiro de Deus [Alá]. Daí até sua morte ele passou a ter "visões". Assim começou a religião muçulmana, o islamismo, que significa "submissão a Alá". 622 - Maomé foge de Meca para Yathrib (que passou a ser chamada de Medina = Cidade do Profeta). Sua retirada é conhecida como Hégira ("hijrah", em árabe © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel196 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO = emigração). O calendário muçulmano começa nessa data – 1 d.H. (primeiro ano depois da Hégira). 630 - Os árabes omíadas tornam-se os primeiros muçulmanos presentes em Jerusalém. 632 - Morre Maomé. 639-661 - Governo árabe muçulmano. Apenas neste período de 22 anos a Terra Santa foi governada pelos árabes – mesmo então, como parte de um grande império. 661-1099 - Muçulmanos governam a Palestina. No entanto, não se trata de árabes, e sim dos abássidas, vindos de Bagdá, dos fatímidas, procedentes do Cairo, e dos seljúcidas, da Turquia. 1099-1187 - As cruzadas católicas, sob o papa Urbano II, conquistam Jerusalém e massacram judeus e muçulmanos. 1187 - Saladino, um muçulmano curdo de Damasco, recaptura Jerusalém e gran- de parte da Palestina. 1244-1303 - Os mongóis da Ásia destituem a dinastia de Saladino. Os mame- lucos muçulmanos e os mongóis lutam pelo poder. A presença dos cruzados termina em 1291 d.C. 1513-1517 - Os muçulmanos turco-otomanos conquistam a Palestina. Dos turcos otomanos até os britânicos 1517 - Os muçulmanos turco-otomanos governam a Palestina como parte de seu império. 1840 - Governo turco completamente restaurado. Líderes ingleses começam a discutir a possibilidade de restabelecer o povo judeu em sua própria terra. 1822 - Judeus fazem aliyah (imigração) da Romênia para a Palestina. 1890-1891 - Uma grande massa de judeus proveniente da Rússia desembarca em Israel. 1894-1895 - Na França, o capitão Alfred Dreyfus é condenado por espionagem, em meio a um feroz anti-semitismo. 1896 - Theodor Herzl escreve Der Judenstaat ("O Estado Judeu"). 1897 - O Primeiro Congresso Sionista, convocado por Herzl, é realizado em Ba- siléia (Suíça). Mais de 200 participantes, de 17 países, criaram a Organização Sionista Mundial, que buscava "estabelecer uma pátria para o povo judeu em Eretz-Israel (a terra de Israel), assegurada pela lei". O Congresso Sionista se reuniu todos os anos, de 1897 a 1901, e desde então se reúne a cada dois anos, até os dias de hoje. 1901 - O Congresso Sionista criou o Fundo Nacional Judaico (FNJ), destinado a levantar recursos para a aquisição de terras em Eretz Israel. O FNJ é o maior proprietário de terras em Israel (12,5% do território), tendo adquirido mais da metade dessa extensão antes do estabelecimento da nação. 1904 - Segunda onda de imigração de judeus, provenientes principalmente da Rússia e da Polônia. 1906 - A primeira escola judaica de ensino médio é fundada em Haifa e uma escola de artes é fundada em Jerusalém. 1908-1914 - Segunda aliyah de judeus vindos do Iêmen. 1909 - Tel Aviv, a primeira cidade totalmente judaica, é fundada na Palestina. 197© De Nabucodonosor a Alexandre 1910 - Fundação do kibbutz Degania. 1914-1918 - Primeira Guerra Mundial. 1917 - O general britânico Edmund Allenby conquista a Palestina, a leste e a oeste do Jordão, pondo fim ao domínio otomano. Em novembro, os britânicos publicam a Declaração Balfour, apoiando o estabelecimento de "uma pátria para os judeus". 1920 - A Liga das Nações dá aos britânicos um mandato sobre a Palestina, com ordens de implementação da Declaração Balfour. (Israel My Glory - http://www. beth-shalom.com.br) Publicado anteriormente na revista Notícias de Israel, em maio de 2003. Dispo- nível em: <http://www.beth-shalom.com.br/artigos/terrasanta.html>. Acesso em: 16 fev. 2012. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 11. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Identifique e elenque as potências do mundo antigo sob as quais os judeus padeceram subordinação. 2) Quais foram as estratégias empregadas pelos povos que tomaram Israel e o fizeram subordinado? 3) Quais elementos podem ser apontados como marcadores que conferiram identidade aos judeus na sucessão de processos e de projetos dominató- rios? 12. CONSIDERAÇÕES A história política de Israel é tão conturbada e entrelaçada por artimanhas de todos os gêneros e níveis quanto às histórias de outros povos na iminência de subjugação ou daqueles que já ha- viam sido subjugados à mesma época. Era necessário se mover en- tre as novidades do vaivém dos soberanos e as próprias tradições, para não ter, além do território, também a memória anexada. Enquanto o reino do norte (Israel) foi dissolvido em meio às medidas assírias, Judá encontrou formas de "durar", porém, a falta de jeito e estratégias pouco inteligentes de alguns dos seus líderes colocaram a perder todo o esforço anterior. © Introdução Geral à Bíblia e História de Israel198 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO À medida que os artifícios correm de um lado para o outro e poderes externos e internos se alternam no governo da vida coti- diana, as pessoas contadas entre as classes mais baixas da popu- lação sofriam todos os tipos de reveses, sendo as últimas a serem consideradas no pensamento político até então. Fazia-se política para certas classes, mas não para todas. No entanto, nessa conjuntura toda, chama-nos atenção as condições da identidade cultural e religiosa estabelecidas (as cri- ses) e a luta para que ela não fosse engolida pelas ondas babilô- nica, persa e, depois, helenística, que estendiam seu alcance para cada vez mais longe. E surgem, desses tempos conturbados ao ex- tremo, aqueles elementos que nos permitem reconhecer o caráter ritual e cultural judaicos até o tempo presente. Embora a dinâmica religiosa tenha cedido lugar aos anseios de poder em dado momento dessa história, o fato é que ela foi a mola propulsora de ação no sentido da preservação das tradições e da retomada da pátria. Nesse sentido, estrategicamente falando, não podemos dizer que os assírios dos tempos longínquos esta- vam errados em diluir as tradições religiosas de seus conquistados, podemos? Lembre-se de que estaremos à disposição para ajudá-lo em suas dificuldades e para aprender com seus progressos. Acesse a Sala de Aula Virtual e participe! 13. E-REFERÊNCIAS Lista de figuras Figura 1 Representação dos Jardins Suspensos da Babilônia. Disponível em: <http://www. rocklin.ca/socials.htm>. Acesso: 4 set. 2007. Figura 2 Extensão do império de Alexandre Magno. Disponível em: <http://faq. macedonia.org/history/alexander.the.great.html>. Acesso em: 15 set. 2007. Figura 3 Representação da revolta dos macabeus. Disponível <http://roma-antiga. blogspot.com/2006_08_01_archive.html> Acesso em: 16 fev. 2012. 199© De Nabucodonosor a Alexandre Sites pesquisados BETH-SHALOM. Maquete do Segundo Templo. Disponível em: <http://www.beth-shalom. com.br/artigos/terrasanta.shtml>. Acesso em: 17 set. 2007. CAPUCHINHOS. Novo testamento. Disponível em: <http://www.capuchinhos.org/biblia/ index.php/Novo_Testamento>. Acesso em: 9 fev. 2012. DIGITAL ATTIC. Representação de Alexandre e seu cavalo de guerra, Bucéfalo. Disponível em: <http://www.pvv.ntnu.no/~madsb/home/war/alex/>. Acesso em: 9 fev. 2012. FARIA, E. L. Pérsia. 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