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EA D Cartas aos Colossenses e aos Efésios – o Bilhete a Filêmon 5 1. OBJETIVOS • Compreender e conhecer as Cartas aos Colossenses e aos Efésios, bem como o bilhete a Filêmon. • Reconhecer e analisar os argumentos fundamentais des- sas Cartas. • Compreender e analisar os diversos argumentos utiliza- dos nessas obras. • Interpretar e valorizar os textos mais importantes dessas obras. • Analisar os argumentos paulinos presentes nessas cartas. 2. CONTEÚDOS • Introdução à Carta aos Colossenses. • Introdução à Carta aos Efésios. • Introdução ao Bilhete a Filêmon. © Cartas Paulinas164 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Afirmamos algumas vezes que a questão da autenticida- de das Cartas paulinas não é unanimidade da parte dos estudiosos. Assim, não levamos muito em conta esse elemento, conscientes de que ele não interfere substan- cialmente na abordagem da doutrina e da mensagem de Paulo expressas em suas Cartas. De fato, a questão da autenticidade das Cartas está relacionada a diversas questões, mas, de modo especial, à cronologia. Para uma abordagem da questão, sugerimos que você con- sulte: MURPHY-O'CONNOR, J. Paulo. Biografia crítica. Tradução de Bárbara Theoto Lambert. São Paulo: Loyola, 2000. p. 17-46. 2) "Os gnósticos eram seguidores de uma variedade de movimentos religiosos que ressaltavam a salvação por meio da gnosis, ou 'conhecimento', isto é, das origens da pessoa" (HAWTHORNE; MARTIN; REID, 2008, p. 603). Isso podia deixar a Cristo, pregado pela Igreja, apaixo- nadamente apresentado por Paulo e vivenciado nas contradições do mundo por tantos discípulos, ofuscado ou desfigurado. Paulo escreve a Carta (na hipótese de protopaulinismo), ou alguém a escreve, atribuindo-lhe autoria paulina (no caso deuteropaulinismo), intentan- do deixar clara a soberania de Cristo Jesus sobre tudo e todos. 3) Para maiores informações a respeito da gnose e do Gnos- ticismo, recomendamos a consulta da seguinte obra: HAWTHORNE, G. F.; MARTIN, R. P.; REID, D. G. Dicioná- rio de Paulo e suas cartas. Tradução de Bárbara Theoto Lambert. São Paulo: Paulus, Vida Nova, Loyola, 2008. p. 603-607. Recomendamos, ainda: ABBAGNANO, N. Di- cionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 485-486. 165© Nome da unidade 4) Em todo o estudo do "corpus paulinum", é importante que você leia previamente o texto bíblico em análise. As- sim, recomendamos que a presente unidade seja acom- panhada do texto das Cartas em questão. 5) Tendo em vista a questão dos elementos míticos, suge- rimos a consulta da seguinte obra: CERFAUX, L. O cristão na teologia de São Paulo. São Paulo: Paulinas, 1978. p. 445-483. 6) A respeito das questões ligadas às forças naturais e ou- tras perspectivas próprias dos colossenses, você pode consultar: BRUCE, F. F. Paulo, o apóstolo da graça. Sua vida, cartas e teologia. Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo: Shedd Publicações, 2003. p. 397-412. 7) Para conhecer mais sobre a antiga cidade de Éfeso, su- gerimos que você consulte o interessante site disponível em: <http://www.bibleplaces.com/ephesus.htm>. Aces- so em: 07 abr. 2012. 8) Para uma maior compreensão dos temas relativos à au- tenticidade da Carta aos Efésios e outros aspectos de sua própria redação, sugerimos que você consulte: CARREZ, M. et al. As cartas de Paulo, Tiago, Pedro e Judas. São Paulo: Paulinas, 1987. p. 226-228. 9) Relativamente à questão da escravidão e a todo o con- junto da carta/bilhete a Filêmon, sugerimos a consulta de: CARREZ, M. et al. As cartas de Paulo, Tiago, Pedro e Judas. São Paulo: Paulinas, 1987. p. 235-239. 10) Confira, também, a pequena, mas interessante reflexão de: CROSSAN, J. D.; REED, J. Em busca de Paulo. Como o Apóstolo de Jesus Cristo opôs o Reino de Deus ao Impé- rio Romano. São Paulo: Paulinas, s.d. p. 106-110. 11) Finalmente, para um comentário oportuno quanto ao bilhete a Filêmon e às questões ligadas à escravidão, confira: BRUCE, F. F. Paulo, o apóstolo da graça. Sua vida, cartas e teologia. Tradução de Hans Udo Fuchs. São Pau- lo: Shedd Publicações, 2003. p. 383-396. © Cartas Paulinas166 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Na unidade anterior, você conheceu a Carta aos Romanos, considerada um dos primeiros tratados teológicos do Cristianismo. Você obteve informações importantes sobre a Igreja de Roma e sobre o contexto em que tal Carta foi escrita. Agora, o desafio é aprofundar o pensamento de Paulo na Carta aos Colossenses, na Carta aos Efésios e no Bilhete a Filêmon. É uma oportunidade para conhecer as antigas igrejas de Colossos e de Éfeso e o contexto sociocultural em que surgiu o Cristianismo. Bom estudo! 5. CARTA AOS COLOSSENSES O contexto da Carta A Carta aos Colossenses é considerada, como Filipenses e Efésios, uma carta de cativeiro. Paulo encontra-se preso ou em Ce- sareia, entre os anos de 58 e 60, ou em Éfeso, entre 54 e 57, ou, finalmente, em Roma, entre os anos de 61 e 63, no primeiro cati- veiro, se considerarmos que houve um segundo cativeiro, poste- rior ao relato de Atos dos Apóstolos 28,30–31. É complicado datar essa carta, tanto mais que, sobre ela, pesam dúvidas a respeito da autenticidade paulina. Ela é incluída na lista das Cartas deutero- paulinas e, assim, é frequentemente apresentada. Mas não con- vém observá-la apenas sob esse critério. A igreja de Colossas, ou Colossos (as duas formas são possí- veis), não era de origem paulina, mas, sim, fora fundada por Epa- fras, zeloso e empenhado colaborador do Apóstolo. É uma comu- nidade marcada por intensas buscas de sinais, sentimentos, ideias e crenças marcadas por elementos cósmicos, naturais (os quatro elementos), zodiacais, místicos. É difícil reconhecer, em um caldo tão espesso de crenças e noções vagas e afetivas, um traço preciso 167© Nome da unidade de uma ou outra corrente de pensamento. O que mais é possível de se enxergar é um latente Gnosticismo, com forte acentuação de elementos filosóficos gregos. Não nos parece difícil reconhecer a índole protopaulina des- sa Carta. Por exemplo, os períodos longos da Carta e seu desen- volvimento são difíceis de coadunarem-se com a realidade de um texto escrito por um secretário. Na redação desse tipo, a tendên- cia é dividir o pensamento em períodos mais compreensíveis, não obstante algumas dificuldades relativas à linguagem e aos argu- mentos. Paulo não precisava se repetir constantemente na argu- mentação! Pelo contrário, se ele escrevia em função das situações concretas das igrejas com as quais se comunicava, é de se esperar que os argumentos mudassem. As questões vocabulares são, tam- bém, anexas a essa circunstância e ao conhecimento do secretário que se empenhava na escrita. A despeito das alegadas dificuldades, respeitando, contudo, as posições muito difundidas do deuteropaulinismo, tudo indica que a Carta aos Colossenses deva ser datada do primeiro cativeiro romano, entre os anos de 61 e 63. Se é uma Carta deuteropaulina, ela poderia ter sido escrita pelo ano 80, em Éfeso. Estrutura e comentários à Carta aos Colossenses Façamos uma breve análise da Carta aos Colossenses e de sua estrutura observando o Quadro 1. Quadro 1 Carta aos Colossenses. CARTA AOS COLOSSENSES – ESTRUTURA 1,1–14 1,14—2,5 1,15–20 1,21–23 1,24—2,5 Prólogo Primeira parte: doutrina Hino cristológico Os colossenses em Cristo Paulo e os gentios © Cartas Paulinas168 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO CARTA AOS COLOSSENSES – ESTRUTURA 2,6—3,4 2,6–8 2,9–15 2,16–23 3,1–4 Segunda parte: consequências doutrinárias "Não" às doutrinas vãs, "sim" a Cristo Cristo é o principal Costumes e atitudes falsas Em Cristo, a vida nova 3,5—4,6 3,5–17 3,18—4,1 4,2–6 4,7–18 Terceira parte:ética Comportamento cristão Moral doméstica Comportamento apostólico Conclusão Prólogo (1,1–14) Paulo escreve a Carta junto a Timóteo, que ele chama, aqui, de irmão. Afirma que conhece a fama da fé da Igreja de Colossas e ora por ela. Afirma, também, que o Evangelho, tendo chegado até lá, está em todo o mundo produzindo frutos. O apóstolo de Colossas foi Epafras, chamado de querido companheiro de serviço de Paulo (1,8). Paulo declara, também, que o conhecimento de Deus, de sua sabedoria, conduz à herança dos santos. Eles podem entrar na luz, em contrapartida a viver nas trevas. Certamente, aqui, iniciam-se os argumentos que devem, depois, ser desenvolvidos. Os colos- senses estão muito relacionados a elementos mistéricos e míticos, não olhando de frente a Cristo. Por isso vem a perícope seguinte. Primeira parte: doutrina (1,14—2,5) A primeira parte tem acento na doutrina, especialmente na compreensão do mistério de Cristo Jesus. É mais fácil olhar e se- guir os sentimentos sensíveis da natureza e da mitologia do que compreender o mistério de Cristo Salvador. 169© Nome da unidade Hino cristológico (1,15–20) O hino cristológico é uma pérola teológica inserida por Pau- lo. Ele identifica Cristo como cabeça da Igreja e vai muito além do hino a Cristo em Filipenses. Em Colossenses 1,15, Jesus é declara- do imagem do Deus invisível e primeiro das criaturas. A ele é atri- buída uma identidade divina, a preexistência sobre tudo e todos. Isso é essencial para a compreensão do pensamento da Car- ta aos Colossenses. As ideias sobre diversos elementos mistéricos desviavam da graça nascida do encontro com Cristo Jesus e da vida em comunhão com sua vontade. Paulo insere em sua Carta esse hino para dar o tom, apresentar o princípio fundamental da sua argumentação. É oportuno que você retome o hino cristológico de Filipenses 2,5– 11 e faça uma comparação com o hino de Colossenses 1,15–20. Semelhanças, diferenças e perspectivas podem ser evidenciadas. Os colossenses em Cristo (1,21–23) Os colossenses estão em Cristo pela sua morte. Eles são res- gatados em Cristo desde as obras más e pensamentos inadequa- dos. Isso os tornava inimigos da verdade. Agora, eles estão alicer- çados e firmes na fé. Tudo no céu e na terra, toda criatura deve a ele, Jesus Cristo, sua existência e sentido. Paulo declara ser minis- tro, isto é, servidor, dessa verdade e do sentido de tudo. Paulo e os gentios (1,24—2,5) Paulo inicia uma ação de graças e declaração de sua própria identidade. Ele se associa aos sofrimentos de Cristo na medida em que o dá a conhecer aos povos gentios. Ele se reconhece Apóstolo dos gentios: A estes quis Deus dar a conhecer a riqueza e glória deste mistério entre os gentios: Cristo em vós, esperança da glória! A ele é que anunciamos, admoestando todos os homens e instruindo-os em © Cartas Paulinas170 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO toda a sabedoria, para tornar todo homem perfeito em Cristo. Eis a finalidade do meu trabalho, a razão por que luto auxiliado por sua força que atua poderosamente em mim (1,27–29). Por isso, Paulo, embora não tenha fundado diretamente a igreja de Colossas, preocupa-se e empenha-se por ela, bem como pela igreja de Laodiceia, que também não o conhece. Certamen- te, Paulo insiste nessa situação de interesse pelas igrejas que o desconhecem pessoalmente em função dos constantes ataques e calúnias de judaizantes e outros seus inimigos. Segunda parte: consequências doutrinárias (2,6—3,4) "Não" às doutrinas vãs, "sim" a Cristo (2,6–8). Os colossen- ses devem andar em Cristo Jesus, não nos caminhos errados das doutrinas da "filosofia". Por "filosofia", não se devem entender os sistemas filosófi- cos gregos e os instrumentos de pensamento que eles propõem, mas, sim, as especulações mais próprias do Esoterismo, que en- contram, no conhecimento dos elementos físicos, a razão da exis- tência. É um conjunto de ideias mais relacionadas a um início de Gnosticismo. Cristo é o principal (2,9–15) Em seguida, Paulo irrompe uma série de frases de grande efeito, relativas a Cristo e sua identidade, sua missão e sua pessoa. Ele é o Ressuscitado que dá vida, que conduz à verdade e ao per- dão dos pecados. Tudo está a ele submetido, os "principados" e as "autoridades". Essas são categorias de seres espirituais, cheios de poder e ciência ("éons"), que marcam a vida e a conduta das pessoas. Costumes e atitudes falsas (2,16–23) Paulo liberta os colossenses dos limites e padrões alimenta- res ligados a correntes de pensamentos e comportamentos. Conti- nua anunciando a superação de costumes relacionados às práticas 171© Nome da unidade religiosas míticas e supersticiosas. Ele concentra tudo em Cristo. Nele, os colossenses morreram para tornar tudo vivo nele. Todas as preocupações e relações com a superstição e misticismo deixam de ter sentido em Cristo. Tudo deixará de existir pela ação de Cris- to na história e na vida. Em Cristo, a vida nova (3,1–4) Paulo continua com o ímpeto que lhe é próprio quando fala de Cristo. Anuncia aos colossenses o Cristo e as "coisas do alto", seguramente os valores do Evangelho. Apresenta, aqui, uma es- pécie de dicotomia: as coisas do alto e as coisas da terra como contrapostas. São os valores do mundo, da terra, e os valores do Evangelho, como dissemos. A vida dos colossenses deve estar em Cristo, em Deus. A ele se chega buscando os valores do Evangelho. Terceira parte: ética (3,5—4,6) Comportamento cristão (3,5–17). O Apóstolo indica compor- tamentos para todos os colossenses, como ira, exaltação, malda- de, conversas indecentes. Essas coisas são apresentadas por ele como inadequadas ao fiel. Paulo insiste, também, na situação da pessoa tocada pela graça de Cristo: ele está renovado, transformado. Independente- mente se for judeu ou grego, circunciso ou incircunciso, escravo ou livre: o que importa é que Cristo está em todos. É a plenitude de Cristo, conforme podemos ver na passagem a seguir: […]. Vós vos despistes do homem velho com os seus vícios, e vos revestistes do novo, que se vai restaurando constantemente à ima- gem daquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento. Aí não haverá mais grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo, que será tudo em todos (3,9–11). Moral doméstica (3,18—4,1) A moral doméstica é a indicação de comportamentos casei- ros. Paulo indica-os às mulheres, aos maridos, aos filhos e aos pais. São elementos práticos e absolutos, fundamentais. © Cartas Paulinas172 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Em seguida, dirige-se aos servos, parte integrante da socie- dade da época. Ele fundamenta tudo em Cristo Jesus. Os senhores devem, também, ser justos com seus servos, pois há, na realidade, apenas um Senhor, que é Cristo. Comportamento apostólico (4,2–6) Para seguir como discípulos de Cristo, Paulo indica os princi- pais comportamentos, que são a oração, a vigilância, a sabedoria, a sensibilidade e a coerência. Conclusão (4,7–18) As notícias do Apóstolo são muitas. Ele envia Tíquico como portador da Carta. Onésimo, motivo da Carta a Filêmon, também é citado. Outros são citados: Aristarco, que parece estar com Paulo na prisão, o que lhe vale a identidade de "companheiro da prisão"; e Marcos, primo de Barnabé, que, depois, será lembrado na 2 Ti- móteo. Além disso, é citado um tal Jesus, o justo; e Epafras, identi- ficado como de Colossas. Paulo cita, ainda, Lucas e Demas. Depois, Paulo manda saudações aos da igreja de Laodiceia e aos que se reúnem na casa de Ninfas. Todas as saudações ex- pressam uma proximidade muito grande do Apóstolo e um círculo grande de conhecimento. Talvez esse seja o testemunho de que essa Carta não é deuteropaulina, mas protopaulina. No final, há a menção de sua assinatura, feita de próprio pu- nho (4,18) e o convite à lembrança da prisão ou "das prisões" de Paulo. 6. CARTA AOS EFÉSIOSA cidade de Éfeso A cidade de Éfeso acolheu Paulo por bem três anos, quan- do de sua passagem pela Ásia. Recebeu do Apóstolo, certamente, uma atenção especial. Era uma cidade muito grande, com intenso 173© Nome da unidade afluxo de pessoas de todos os cantos do Império. Com isso, havia muitas ideias e religiões em choque. O Cristianismo anunciado por Paulo e por seus colaborado- res era uma das muitas vozes que se apresentavam como porta- doras da verdade. De fato, a proposta cristã era muito diferente das demais e é essa sua apresentação única que poderia atrair os efesinos. Não há muitas notícias da cidade fora das Cartas paulinas. O que há é a questão da origem da própria Carta e o sentido teoló- gico que ela expõe. Características da Carta aos Efésios A primeira observação quanto à Carta aos Efésios é justa- mente sua identidade. O primeiro versículo, na apresentação do endereço, apresenta-se diversamente entre os manuscritos anti- gos. Lemos, em muitas bíblias, a tradução: "Paulo, apóstolo de Je- sus Cristo, pela vontade de Deus, aos cristãos de Éfeso e aos que creem em Jesus Cristo" (1,1). Mas a localização "de Éfeso" não consta em muitos manuscritos antigo, inclusive nos mais atesta- dos. Assim, o título deveria ser: "Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos e que creem em Jesus Cristo". Tirando-se a menção a Éfeso, tudo o mais continua sem mudanças. O que seria, então, essa Carta? Muitos opinam ser ela uma carta circular, o que a tornaria uma obra não dirigida a uma igreja em particular, mas a todas as igrejas da Ásia menor, visitadas ou não pelo Apóstolo. Outros indicam que deveria ser, originalmente, uma carta aos laodicenses. Um terremoto destruidor de Laodiceia teria forçado seus habitantes a ir até Éfeso. Deram, assim, uma nova identidade à Carta do Apóstolo. São hipóteses não de todo impossíveis, mas difíceis de constatar, especialmente a segunda. O fato é que a Carta não apresenta pormenores da igreja de Éfeso, como era de costume nas Cartas de Paulo: ele citava situa- ções das igrejas para onde dirigia suas Cartas; nessa carta, porém, © Cartas Paulinas174 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO eles não existem. As frases, as afirmações e as ideias de Paulo re- velam que não estão familiarizados com a vida e a situação dos efesinos. Faltam, também, saudações a pessoas e a grupos da co- munidade. Entretanto, em Efésios 1,15, lê-se isto: "por isso tam- bém eu, tendo ouvido falar da vossa fé no Senhor Jesus, e do amor para com todos os cristãos […]", o que sugere que o autor está se dirigindo a um grupo específico de pessoas, as quais manifestam uma notável expressão de fé. Ainda em Efésios 6,21s, lê-se: E para que também vós estejais a par da minha situação e do que faço aqui, Tíquico, o irmão muito amado e fiel ministro no Senhor, vos informará de tudo. Eu vo-lo envio precisamente para isto: para que sejais informados do que se passa conosco e para que ele con- forte os vossos corações. Aqui, é mencionado o nome de Tíquico, colaborador de Pau- lo, enviado por ele. Na carta, menciona-se que ele "[…] vos infor- mará de tudo". Quem ele informará? O contexto supõe um grupo, uma igreja! Mas onde estão os nomes, conhecidos e participantes dessa igreja, que pode ser de Éfeso, de Laodiceia ou de outro local? Assim, a questão dos destinatários da Carta aos Efésios con- tinua em aberto. A questão do seu conteúdo é outro tema interes- sante. Essa carta tem índole acentuadamente eclesiológica. Além disso, apresenta extensos textos em que o comportamento cristão é apresentado de modo a fazer compreender uma relação de vir- tudes e condutas necessárias para o viver cristão. Os temas de Colossenses repetem-se com muita frequência em Efésios, quase que fazendo supor que aquela Carta serviu de base para esta. As palavras e o sentido do pensamento do autor de Efésios é, também, muito próximo do autor de Colossenses. Estrutura e comentário à Carta aos Efésios Veremos, agora, a estrutura da Carta aos Efésios; para isso, inicialmente, observe o Quadro 2. 175© Nome da unidade Quadro 2 Carta aos Efésios. ESTRUTURA DA CARTA AOS EFÉSIOS 1,1–2 1,3—3,21 1,3–14 1,15–23 2,1–10 2,11–22 3,1–14 3,15–21 Saudação Primeira parte: Cristo na Igreja Hino a Cristo Glorificação do Senhor Ação de Cristo na história Reconciliação dos gentios Os gentios e Paulo Oração 4,1—6,20 4,1–8 4,9–16 4,17—5,20 5,21—6,9 6,10–20 6,21–24 Segunda parte: Exortações e comportamento Unidade em Cristo Identidade dos cristãos Vida em Cristo Comportamento em família Combate espiritual Saudações finais Saudação (1,1–2) A saudação é de Paulo, que se identifica como Apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus. Os destinatários, ou o endere- ço, não existem, conforme nossa opção de seguir a tendência dos manuscritos que não apresentam essas informações. Primeira parte: Cristo na Igreja (1,3—3,21) Na primeira parte, Paulo insiste, de modo muito poético, na ação da graça em seus ouvintes e nele próprio. Cristo realiza tudo em todos e marca todos com a sua graça. Se a recebemos, é por pura gratuidade de Deus. © Cartas Paulinas176 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Hino a Cristo (1,3–14) O hino a Cristo é semelhante àquele de Colossenses, mas é mais bem elaborado em vista do conteúdo parenético (exortativo moral) que se seguirá. Ele é dirigido a gentios que, não conhecendo as promessas a seu respeito, acabam por entrar na sua intimidade. Todos são "filhos adotivos" (versículo 5), abençoados (versí- culo 3), escolhidos (versículo 4), redimidos (versículo 7), conhece- dores da vontade de Deus (versículo 9), predestinados (versículo 11), feitos herança (versículo 11) etc. O hino faz a constante ligação do dom que é Cristo e sua ação nas pessoas, em "nós", independentemente da identidade e da expectativa anterior de quem está ouvindo ou lendo a Carta. Glorificação do Senhor (1,15–23) Em seguida, Paulo apresenta Cristo como objetivo do conhe- cimento dos leitores. Ele mesmo deve iluminar a inteligência de quem está vivenciando tudo o que a Carta reflete. Paulo faz votos de que seus leitores saibam e conheçam a ação de Deus, realizada de modo intenso e pleno. […] que ilumine os olhos do vosso coração, para que compreendais a que esperança fostes chamados, quão rica e gloriosa é a herança que ele reserva aos santos, e qual a suprema grandeza de seu po- der para conosco, que abraçamos a fé. É o mesmo poder extraordi- nário que ele manifestou na pessoa de Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o sentar à sua direita no céu, acima de todo prin- cipado, potestade, virtude, dominação e de todo nome que possa haver neste mundo como no futuro (1,18–20). Os leitores devem ficar alegres, pois receberam a graça da presença de Cristo Jesus de modo gratuito. Tudo o que pode tocar as pessoas e interferir em sua vida é tomado por Cristo, inclusive os elementos míticos e mistérios, como já afirmado em Colossen- ses. E isso tudo está na cabeça da Igreja, dando-lhe identidade e segurança. 177© Nome da unidade Ação de Cristo na história (2,1–10) Aqui, Paulo trata da conversão operada por Cristo nos ouvin- tes da Carta. A situação anterior deles é de morte, por conta dos pecados. Sem Cristo, antes de seu conhecimento, todos andavam nas trevas, mas sua presença tornou tudo salvo, resgatado. Tudo pela graça, de modo espontâneo, sem condições prévias. Deus manifestou assim sua bondade absoluta em Cristo. Essa escolha é uma predestinação: todos podem e serão to- mados pela graça de Cristo, independentemente de sua origem ou condição. Mas é necessário aceitar tudo isso. Reconciliação dos gentios (2,11–22) Paulo cita os "circuncisos", no sentido de judeus, e os "in- circuncisos", no sentido de gentios. Os incircuncisos não tinham a herança de Israel, mas, agora, tudo mudou. Todos, pelo sangue de Cristo, se tornaram próximos de Deus. Em 2,14–18,temos mais um hino, no qual Cristo é destacado como criador do "homem novo". Ele faz judeus e gentios possíveis de encontrar o Espírito (versículo 19). Os ouvintes da Carta já não são estrangeiros em relação a Cristo. Estão íntimos da herança de Deus, sendo sua família. É em Cristo que essa nova situação, que se assemelha a um edifício, se eleva. Os gentios e Paulo (3,1–13) Paulo fala de si e de seu ministério. Ele conhece o mistério revelado em Cristo e apresenta-o a todos os gentios, que podem, assim, participar dele. Da leitura do texto, nota-se a altíssima esti- ma que Paulo expressa pela sua identidade de Apóstolo, apresen- tador ou anunciador do Evangelho. A Igreja, comunidade dos que creem em Cristo, tem, agora, a possibilidade de dar a conhecer a vontade de Deus. © Cartas Paulinas178 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO No final dessa passagem, Paulo alega "tribulações" a seu res- peito. Seus ouvintes não se devem abater por isso. Estará falando ele do cativeiro, das perseguições ou das dificuldades comuns de seu ministério? Talvez seja do cativeiro; possivelmente (segundo nossa opinião), do cativeiro romano. Oração (3,14–21) Paulo ora pela realidade que vivencia. Pelo dom que é vivê-la e pela situação que seus ouvintes, agora, podem conhecer na ade- são ao mistério de Cristo. Na sua ação de graças, ele usa palavras e expressões curiosas, que criam uma ideia de construção, confor- me podemos ler na passagem a seguir: [...]. Que Cristo habite pela fé em vossos corações, arraigados e consolidados na caridade, a fim de que possais, com todos os cris- tãos, compreender qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, isto é, conhecer a caridade de Cristo, que desafia todo o conhecimento, e sejais cheios de toda a plenitude de Deus (3,17–19). Segunda parte: exortações e comportamento (4,1—6,20) Unidade em Cristo (4,1–8). Paulo exorta à unidade em Cristo Jesus. Diz-se prisioneiro, certamente indicando seu cativeiro. Isso causa uma importância maior às suas afirmações e indicações. Ele insiste na necessidade de unidade, falando que existe uma única cabeça e um só Espírito, isto é, um Cristo e um Espírito, que inspira e elege a todos para que todos estejam na vida. Por isso, há, também, um só batismo, uma só esperança, um só Senhor e Deus. A unidade dos fiéis é segurança de sua adesão ao mistério de Cristo. Por isso a insistência nesse ponto. Identidade dos cristãos (4,9–16) Todos estão em Cristo, embora cada um tenha uma identida- de, uma maneira de ser e de viver. Paulo elenca os carismas breve- mente: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Cada um está a serviço da comunidade em nome do Senhor. 179© Nome da unidade Todos podem crescer em Cristo e experimentar a realidade de uma vida marcada pela graça e pela ação de Cristo-Cabeça, do qual seus ouvintes, que formam a igreja, são os membros. Vida em Cristo (4,17—5,20) Descoberto tudo isso, o que é importante é a vida nova em Cristo Jesus. Os gentios devem conhecer essa situação e vivenciá- -la, pois é ele quem dá vida. Todo o longo período é uma insistente apresentação da imitação de Cristo, da adesão a seu mistério e da vida que daí emana. Comportamento em família (5,21—6,9) Bem articulada a longa passagem anterior, surge, agora, essa passagem, também longa e bem articulada, que exorta à vida nova de modo concreto, na família e nas relações humanas. Maridos, esposas, filhos e pais têm uma palavra de exortação e de alerta a respeito de sua conduta. Tudo deve estar em Cristo Jesus. São incluídos, também, os servos e os senhores. Combate espiritual (6,10–20) Por combate espiritual, entende-se a capacidade de viver em meio às crises e às contradições da vida a partir da intimida- de com Cristo. Mais uma vez, surge, como em Efésios, a ideia de poderes míticos, como autoridades, potestades etc. Paulo deixa isso de lado em função da ação de Cristo Jesus sobre tudo e sobre todos. É necessário revestir-se de Cristo. Para tanto, deve-se orar e suplicar a coerência da vida e a adesão constante ao Senhor. Paulo pede que seus ouvintes orem por ele também, pois ele deseja, ainda, anunciar o Evangelho. Saudações finais (6,21–24) As saudações finais não têm o colorido de outras Cartas. Sua simplicidade dá a entender o caráter mais amplo dessa Carta. Não há menção de recordações. É mencionado Tíquico, portador da Carta. © Cartas Paulinas180 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 7. CARTA (BILHETE) A FILÊMON Questões introdutórias Carta ou bilhete? Chamar esse interessante escrito paulino de "Carta" a Filêmon talvez não seja o melhor modo de identificá- -lo. É um texto bem reduzido, com apenas 25 versículos, mas ex- pressa muitos elementos. Quanto ao status do escrito, se o con- siderarmos "bilhete", ficam de fora algumas ideias fundamentais. Primeiramente, Paulo não se dirige apenas a Filêmon, mas tam- bém à igreja que se reunia em sua casa: Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo, e seu irmão Timóteo, a Filêmon, nosso muito amado colaborador, a Ápia, nossa irmã, a Arquipo, nosso companheiro de armas, e à igreja que se reúne em tua casa. A vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo! (1–3). Para ser apenas um bilhete, ideia de um texto sem maiores pretensões, não seriam nomeados esses outros elementos. Se considerarmos o texto uma carta, ele parece ser muito reduzido para tanto. Há um conteúdo específico, embora diluído no conjunto. A questão da escravidão é o pano de fundo. O Cris- tianismo, que, no dizer de Paulo, rompe as barreiras, como vai se portar perante a escravidão? "Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3,28). Escravidão e liberdade Se, para o cristão, não há mais diferenças, como encarar a re- alidade concreta que se apresenta aqui: um escravo fugitivo, Oné- simo, busca refúgio junto ao Apóstolo que marcou sua conversão. E o mesmo Apóstolo marcou, também, a conversão de seu senhor, Filêmon. O Cristianismo e o próprio Paulo não trataram diretamente do tema da servidão. Mas ele estava lá presente, pois grande parte 181© Nome da unidade da população das cidades romanas era formada por escravos. A igreja, como se pode imaginar, era composta, em sua grande maio- ria, por escravos e, quem sabe, por alguns libertos. Os escravos não o eram em função da raça, mas, sim, por motivos econômicos: dívidas e outros problemas. Outro motivo eram as guerras: os prisioneiros de guerra eram reduzidos à es- cravidão. A liberdade poderia ocorrer. O escravo poderia adquirir sua própria liberdade mediante algum dinheiro que ele, de algum modo, podia acumular. Não era fácil, mas era possível. Nessa cir- cunstância, um ex-escravo podia ascender até à cidadania romana. Porcio Festo, governador romano que substituiu Félix em Cesareia e que mandou Paulo para Roma, era um liberto! Para o Cristianismo, o importante era a criação de novas relações humanas. A liberdade e a escravidão não têm lugar, em função da eleição em Jesus Cristo. O Cristianismo não podia, cons- cientemente, lutar contra a escravidão de modo aberto, pois seria tornar a sociedade romana um caos. Toda ela se baseava no tra- balho servil. Assim, o que o Cristianismo fez foi estabelecer essas novas relações humanas, inspiradas em Jesus Cristo. Isso é muito evidente na Carta a Filêmon. Filêmon deve ser um convertido por Paulo, certamente quando de sua permanência em Éfeso, que habitava em Colossos. Quanto a Onésimo, há informação de que teria sido bispo de Éfe- so, o que dá a esse pequeno bilhete um significado sem par. Paulo fala, em vários momentos, que está preso. A Carta ou Bilhete a Filêmon faz parte daquele grupo amplo de cartas do ca- tiveiro, prescindindo da questão do protopaulinismo e do deute- ropaulinismo. Em outras palavras, sem levar em conta essaclassi- ficação moderna, consideram-se cartas do cativeiro as Cartas aos Efésios, aos Colossenses, aos Filipenses e a Filêmon. © Cartas Paulinas182 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Estrutura e comentário à Filêmon Veremos, no Quadro 3, a estrutura da Carta ou Bilhete a Fi- lêmon. Quadro 3 Carta ou Bilhete a Filêmon. ESTRUTURA DA CARTA/BILHETE 1–3 4–7 8–20 8–11 12–16 17–20 21–22 23–25 Endereço e destinatários Ação de graças Pedidos Situação de Onésimo Filho espiritual de Paulo Paulo e Filêmon: devedores Paulo confia na situação Saudações Endereço e destinatários (1–3) Paulo está com Timóteo, seu fiel colaborador. Dirige-se a Fi- lêmon, que chama de "nosso amado colaborador", sugerindo, com isso, que Filêmon foi companheiro de Paulo em algum momento de suas missões. A Filêmon, Paulo acrescenta "nossa irmã Ápia", "nosso companheiro de armas Arquipo" e, finalmente, "a igreja que se reúne na tua casa"; esse "tua" se refere à casa de Filêmon. Assim, a Carta não é um texto pessoal, dirigido apenas a uma pes- soa. O assunto é, a princípio, com uma pessoa, mas, dirigindo-se a mais pessoas, Paulo amplia suas possibilidades. Provavelmente, Árquipo é o mesmo que foi citado em Colos- senses 4,17: "Finalmente, dizei a Árquipo: vê bem o ministério que recebeste em nome do Senhor, e desempenha-o plenamente". Sa- bemos, então, que, por um tempo, Árquipo esteve em Colossos. Dessa forma, Filêmon também pode residir ali. 183© Nome da unidade Ação de graças (4–7) Paulo dirige-se a Filêmon, reconhecendo nele um notável colaborador. Ele agradece a Deus pelo amor de Filêmon e pela fé que ele manifesta. Ao que tudo indica, Filêmon foi anteriormente colaborador de Paulo ou alguém que permitiu que a igreja pudes- se crescer. Pedidos (8–20) Depois desses períodos introdutórios, Paulo inicia seus pe- didos. Situação de Onésimo (8–11) Paulo declara-se um velho; podemos considerar que isso indi- que uma idade entre os 50 e 60 anos. Ele está prisioneiro de Jesus Cristo, isto é, conduzido pelo Espírito para a missão da Evangelização. É lembrada a situação de Onésimo, um "filho que gerei na prisão" (versículo 10). Onésimo foi, seguramente, batizado em al- gum momento de prisão de Paulo. Ele está próximo de Paulo, e este o manda de volta a Filêmon. Filho espiritual de Paulo (12–16) O filho espiritual de Paulo, Onésimo, mandado de volta a Fi- lêmon, é como se fosse o próprio coração do Apóstolo. Paulo suge- re que desejava mantê-lo consigo, mas não o fez sem antes obter a permissão de Filêmon. Ele espera, justamente, essa decisão de seu amigo. Onésimo foi "retirado" de seu senhor, Filêmon, certamente com a permissão de Deus, para o auxílio de Paulo. Agora, seu se- nhor poderá reavê-lo, não como escravo, mas, sim, como irmão. Paulo compara Onésimo a si mesmo em relação a Filêmon. É uma situação interessante: Paulo reconhece os direitos de senhor da parte de Filêmon, mas indica que o modelo de relacionamento cristão é mais necessário e oportuno. Ao mesmo tempo, confia na oferta de Filêmon: que Onésimo possa servir a Paulo. © Cartas Paulinas184 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Paulo e Filêmon: devedores (17–20) Filêmon deve receber a Onésimo gentilmente. Quaisquer prejuízos que ele pode ter causado correrão por conta de Paulo. O Apóstolo indica que ele e Filêmon se tornam, assim, devedores mútuos. Mas, acima de tudo, está a bondade esperada de Filêmon e o coração de Paulo. Paulo confia na situação (21–22) Paulo fala da obediência usando um interessante artifício: a obediência é exigida de um escravo, e Onésimo é escravo. Mas Filêmon também deve obedecer, certamente, ao Evangelho, que é maior que a relação entre escravo e senhor. O Apóstolo ainda anuncia que necessitará de um abrigo quando estiver com Filêmon. Saudações (23–25) Por último, seguem os cumprimentos. São citados Epafras, "companheiro de prisão em Cristo Jesus", Marcos, Aristarco, De- mas e Lucas, colaboradores do Apóstolo. Ele conclui com a dedica- ção da graça de Jesus Cristo ao espírito de Filêmon. 8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Como posicionar a Carta aos Colossenses dentro do corpus paulinum? 2) Quais são os argumentos principais da Carta aos Colossenses? 3) Como Cristo é apresentado na Carta aos Colossenses? 4) Quais são as consequências éticas ou práticas que a Carta aos Colossenses apresenta em sua argumentação? 5) Quais são as características principais da Carta aos Efésios e quais aspectos estão ainda em aberto na compreensão dessa Carta e de sua origem? 185© Nome da unidade 6) Qual é o destaque que é dado a Cristo nessa Carta e a quê ele é relacionado? 7) Paulo cita circunstâncias particulares a seu respeito. Como considerar essa citação e quais as possíveis soluções? 8) Em Efésios, bem como em outras Cartas, Paulo aborda a questão da iden- tidade cristã: o ser cristão, com base em Jesus Cristo diante do mundo, em especial ao mundo pagão. Quais elementos, relativos a esses argumentos, são próprios da Carta aos Efésios? 9) Como identificar a Carta a Filêmon? 10) Quais os argumentos fundamentais da Carta a Filêmon e como posicioná-la perante todo o corpus paulinum? 9. CONSIDERAÇÕES As Cartas analisadas aqui contêm muito material interessan- te, que deixa à mostra uma riqueza: as circunstâncias e situações das igrejas das origens, especialmente as que têm algum tipo de influência paulina. Em Colossenses e Efésios, vemos argumentos insistentes na identidade de Jesus Cristo e na necessidade de bus- cá-lo sem as mediações gnósticas. Já em Filêmon, o Apóstolo fala a um amigo com a confiança que somente uma amizade intensa e baseada em Cristo Jesus pode oferecer. As Cartas de Paulo, embora episódicas e não sistemáticas, são um retrato substancioso de aspectos importantes da Igreja pri- mitiva. Paulo soube intervir na história das igrejas particulares, no sentido de torná-las inseridas no mistério de Deus, que se revela em Jesus Cristo. Sem esse esforço, é provável que o Cristianismo se tornasse mais uma proposta original e até surpreendente, mas sem uma adequada continuidade e influência na vida e na história da sociedade da época e na posteridade. 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 485-486. BALLARINI, T. et al. Introdução à Bíblia. Epístolas do cativeiro. Pastorais. Hebreus. Católicas. Apocalipse. Petrópolis: Vozes, 1969. p. 59-164. Vol. V/2. © Cartas Paulinas186 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO BARBAGLIO, G. As cartas de Paulo (II). Tradução de José Maria de Almeida. São Paulo: Loyola, 1991. p. 415-430. BRUCE, F. F. Paulo, o apóstolo da graça. Sua vida, cartas e teologia. Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo: Shedd publicações, 2003. p. 383-396; 397-412. CARREZ, M. et al. As cartas de Paulo, Tiago, Pedro e Judas. São Paulo: Paulinas, 1987. p. 209-244; 235-239. CERFAUX, L. O cristão na teologia de São Paulo. São Paulo: Paulinas, 1978. p. 445-483. CROSSAN, J. D.; REED, J. Em busca de Paulo. Como o Apóstolo de Jesus Cristo opôs o Reino de Deus ao Império Romano. São Paulo: Paulinas, 2007. p. 106-110. FABRIS, R. As cartas de Paulo (III). Tradução de José Maria de Almeida. São Paulo: Loyola, 1992. p. 35-128; 129-208. HAWTHORNE, G. F.; MARTIN, R. P.; REID, D. G. Dicionário de Paulo e suas cartas. Tradução de Bárbara Theoto Lambert. São Paulo: Paulus, Vida Nova, Loyola, 2008. p. 247-255; 421- 439; 543-548; 603. HEYER, C. J. den. Paulo: um homem de dois mundos. Tradução de Luiz Alexandre Solano Rossi. São Paulo: Paulus, 2009. p. 137-140. (Coleção Bíblia e Sociologia). MURPHY-O'CONNOR, J. Paulo. Biografia crítica. Tradução de Bárbara Theoto Lambert. São Paulo: Loyola, 2000. p. 17-46; 169-194. VAN DEN BORN, A. (Org.). Dicionário enciclopédico da Bíblia. 3. ed. Tradução de Frederico Stein.Petrópolis: Vozes, 1971. colunas 280-282; 423-425; 576-577.
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