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Direito Canonico II 7

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EA
D
O Matrimônio II
7
1. OBJETIVOS
•	 Compreender	o	consentimento	matrimonial.
•	 Analisar	a	forma	da	celebração	do	matrimônio.
•	 Interpretar	os	matrimônios	mistos.
2. CONTEÚDOS
•	 O	consentimento	matrimonial	(cânn.	1095-1107).
•	 A	forma	da	celebração	do	matrimônio	(cânn.	1108-1123).
•	 Os	matrimônios	mistos	(cânn.	1124-1129).
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
252
1)	 Na	unidade	anterior	você	foi	convidado	a	conhecer	a	te-
oria	geral	do	matrimônio	canônico,	pois	ela,	sem	dúvida,	
nos	 oferece	 um	 conjunto	 de	 elementos	 fundamentais	
para	a	compreensão	dos	cânones	que	dele	se	ocupam.	
Você,	 também,	 pôde	 estudar	 as	 normas	 que	 regem	 o	
que	antecede	a	celebração	do	matrimônio	e	aquelas	vol-
tadas	para	os	impedimentos	dirimentes,	tanto	em	geral,	
quanto	em	especial.
2)	 Agora,	nesta	última	unidade,	convidamos	você	a	prestar	
muita	atenção	nas	normas	que	constituem	"o	coração"	
do	 direito	matrimonial	 canônico,	 pois	 elas	 se	 ocupam	
do	 consentimento	 matrimonial.	 Isso	 porque	 não	 há	 a	
menor	possibilidade	de	existir	um	verdadeiro	matrimô-
nio	 sem	a	presença	de	um	verdadeiro	 consentimento.	
Sendo	 assim,	 nesta	 unidade	 você	 terá	 a	 oportunidade	
de	 aprofundar	 a	 compreensão	do	que	 se	 entende	por	
consentimento,	 do	 que	 é	 necessário	 para	 que	 possa	
produzir	 um	matrimônio	 válido	 e	 daquilo	 que	 o	 torna	
ineficaz.	Outro	tema	de	importância	não	secundária	diz	
respeito	à	forma	da	celebração	do	matrimônio,	pois	não	
basta	existir	um	consentimento,	uma	vez	que	é	preciso	
que	seja	manifestado	de	modo	legítimo.	Portanto,	você	
irá	compreender	o	que	se	entende	por	"modo	legítimo"	
e	quais	as	consequências	da	falta	de	forma.
3)	 Por	 fim,	 a	unidade	 se	encerrará	 com	uma	breve	abor-
dagem	a	respeito	dos	matrimônios	mistos	o	que,	aliás,	
não	é	algo	raro	entre	nós,	tendo	presente	a	pluralidade	
religiosa	na	qual	vivemos	no	mundo	atual.	
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE 
Esta	última	unidade	é	uma	continuação	da	anterior	e	nela	
nos	ocuparemos	dos	temas	relativos	ao	primeiro	pólo	que	não	pu-
deram	ser	desenvolvidos	 até	agora,	mas,	que,	 sem	dúvida,	pos-
suem	uma	importância	determinante	para	a	compreensão	do	di-
reito	matrimonial	da	Igreja.
253© Nome da unidade
No	final	você	estará	em	condição	de	iluminar	e	discernir	uma	
série	de	situações	pastorais	diretamente	ligadas	aos	temas	que	se-
rão	aqui	tratados.
Bom	estudo!
5. O CONSENTIMENTO MATRIMONIAL (CÂNN. 1095-
1107)
O	Capítulo	IV	do Livro	IV	do	CIC	trata	do	consentimento	ma-
trimonial	que	constitui	o ponto central do tratado jurídico do ma-
trimônio,	pois	o	consentimento,	como	dito,	é	a	sua	causa	eficiente.	
Outros	requisitos	e	exigências,	embora	importantes	e	necessários,	
são	 apenas	pressupostos prévios ou formalidades concomitan-
tes	para	que	o	consentimento	desenvolva	a	sua	força	constitutiva.	
Justamente	 a	 necessidade	 e	 a	 função	 jurídica	 essencial	 do	 con-
sentimento	matrimonial	justificam	a	presença	de	um	cânon	bási-
co	(1057)	entre	os	cânones	preliminares	(cânn.	1055-1062)	como	
elemento	imprescindível	em	uma	teoria	geral	do	matrimônio.	Isto	
acaba	por	trazer	uma	espécie	de	prejuízo	na	sistemática	deste	ca-
pítulo	que	em	tese	deveria	ser	iniciado	com	a	afirmação	positiva	
da	necessidade	do	consentimento,	do	seu	valor	jurídico	e	do	ob-
jeto	do	mesmo.	Mas,	apesar	desta	mudança	na	sistemática	que,	
como	dissemos,	possui	uma	razão	de	ser,	não	resta	dúvida	de	que	
este	capítulo	foi	o	que	mais	sofreu	a	influência	do	Concílio	Vatica-
no	II	e	nele	incidiu	com	muita	força	o	progresso	das	ciências	an-
tropológicas,	cujos	contributos	foram	aproveitados	e	reelaborados	
pela	jurisprudência,	sobretudo,	da	Rota	Romana.	
Poderia	 parecer	 que	 o	 conteúdo	 deste	 capítulo,	 que	 não	
contém	um	cânon	fundamental	(seria	o	cân.	1057	que	se	encontra	
na	parte	dedicada	à	teoria	geral),	tenha	um	caráter	negativo,	pois	
fala	de	incapacidade,	ignorância	e	da	falta	ou	de	vícios	de	consenti-
mento.	Todavia,	na	realidade,	em	todos	estes	cânones	se	pretende	
expor	e	declarar	uma	vertente	positiva:	clarifica-se	o	que	supõe	a	
capacidade	de	consentir	(cân.	1095)	e,	em	maior	ou	menor	rela-
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
254
ção	com	ela,	a	ciência	mínima	necessária	(cân.	1096)	e	a	influência	
do	erro	(cânn.	1097-1100).	Em	seguida,	procura-se	esclarecer	os	
vícios:	o	que	se	opõe	à	sinceridade	que	se	presume,	no	caso	da	
simulação	(cân.	1101);	o	que	se	opõe	à	liberdade	exigida,	no	caso	
da	violência	ou	medo	(cân	1103).	Depois,	aborda-se	a	questão	da	
condição	(cân.	1102)	e	outras	disposições	de	ordem	formal	rela-
tivas	à	manifestação	do	consentimento	por	si	ou	por	procurador	
(cânn.	 1104-1106)	 que	 foram	mantidas	 neste	 capítulo.	 Por	 fim,	
conclui-se	o	 capítulo	 com	a	presunção	de	perseverança	do	 con-
sentimento	(cân.	1107).	As	novidades	são	notáveis	e	as	veremos	
de	maneira	global.
A incapacidade para consentir (cân. 1095)
O	cânon	é	uma	notável	conquista,	promovida	em	última	ins-
tância	pelo	Concílio	Vaticano	II,	que	ressaltou	os	aspectos	perso-
nalistas	do	matrimônio,	e	fruto	de	uma	trabalhosa	elaboração	da	
jurisprudência	rotal.	Os	pressupostos	deste	cânon	são	uma	expli-
citação	de	aspectos	que	não	deixam	de	ter	graves	problemas	de	
interpretação,	em	parte	dependentes	das	vacilações	das	ciências	
psicológicas	e	das	distintas	correntes	existentes	nas	mesmas.	O	di-
reito,	deixando	de	lado	os	problemas	científicos	de	sistematização	
dos	 fenômenos	psíquicos,	 tratou	de	formular	com	o	seu	próprio	
método	a	incapacidade	de	consentimento	de	uma	maneira	com-
preensível,	procurando	abarcar	 todos	os	supostos	que	merecem	
especial	consideração.	Segundo	o	cânon	devem-se	distinguir	três	
pressupostos	fundamentais	de	incapacidade	para	o	consentimen-
to	que,	simplificando,	se	referem	ao	processo	psicológico	do	ato	
humano,	são	eles:	conhecer,	decidir	e	realizar.	
Devido	à	unidade	do	ato	e	do	sujeito	operante	podemos	sus-
tentar	que	todas	as	fases	do	processo	estão	inter-relacionadas,	de	
modo	que,	na	prática,	nos	encontramos	diante	de	um	só	problema	
cuja	real	amplidão	cabe	às	ciências	psicológicas	esclarecer.	
O	cân.	1095,	estabelecendo	uma	tríplice	incapacidade	para	
contrair	o	matrimônio,	toma	em	consideração	tanto	o	sujeito	que	
255© Nome da unidade
consente	(números	1	e	2)	quanto	o	objeto	do	consentimento	(nº3).	
No	primeiro	caso,	o	sujeito	é	considerado	enquanto	produz	um	ato	
psicológico	inadequado.	No	segundo	caso,	o	sujeito	é	considerado	
em	relação	ao	objeto	do	consentimento	do	qual	não	pode	dispor.	
Vejamos	cada	um	dos	números	separadamente!
Falta de suficiente uso de razão (cân. 1905, 1º)
Neste	primeiro	número	do	cânon	foi	estabelecido	que	é	in-
capaz	de	contrair	matrimônio	aquele	que	não	possui	um	suficiente	
uso	de	razão.	O	fundamento	desta	afirmação	está	na	ideia	de	que	
um	sujeito	privado	do	uso	de	razão	de	um	modo	permanente	ou	
transitório	e	contemporâneo	ao	matrimônio	não	é	capaz	de	reali-
zar	aquele	ato	humano	que	é	o	consentimento	matrimonial.	Con-
sequentemente,	aquele	que	no	momento	de	consentir	não	possui	
um	suficiente	uso	da	razão	permanentemente	ou	transitoriamente	
é	incapaz	de	contrair	matrimônio,	independentemente	das	causas	
desta	carência.	Não	é	necessário	que	exista	uma	doença	ou	qual-
quer	tipo	de	anomalia	psíquica	no	sujeito.	Basta	que	no	momento	
do	consentimento	o	sujeito	não	tenha	tido	um	suficiente	uso	de	
razão,	mesmo	se	a	causa	desta	insuficiência	seja	externa,	circuns-
tancial	e	momentânea,	como	poderia	seria	o	caso	da	ingestão	de	
alguma	droga	ou	álcool.
Um	segundo	aspecto	importante	é	que	para	caracterizar	tal	
incapacidade	não	é	necessário	que	falte	por	completo	ao	sujeito	o	
uso	de	razão,	mas,	apenas,	se	exige	que	tal	falta	seja	suficiente.	O	
legislador,	porém,	não	precisa	em	que	consiste	esta	suficiência	e	
não	existe	um	critério	definido	a	este	respeito.
É certo que o uso de razãoque se adquire aos sete anos não pode 
ser válido em relação ao matrimônio e que a idade da puberdade, 
embora seja um critério objetivo, não garante por si só tal sufici-
ência.
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
256
Cremos	que	deva	ser	adotado	um	critério	de	proporcionali-
dade	para	não	se	pecar	por	falta	ou	por	excesso,	ou	seja,	a	sufici-
ência	do	uso	de	razão	deve	ser	proporcionada	ao	ato	específico	de	
consentir	em	algo	importante	e	que	exige	muito	empenho,	como	
é	o	caso	do	matrimônio.	De	 fato,	o	matrimônio	refere-se	a	uma	
pessoa	determinada;	empenha	o	íntimo	da	vida	dos	esposos	em	
sua	totalidade;	compromete	duas	pessoas	a	viver	as	relações	in-
terpessoais;	não	é	por	uns	dias,	mas	deve	durar	 toda	uma	vida.	
Assim,	se	de	um	lado	não	se	exige	que	a	carência	do	uso	de	razão	
seja	absoluta,	por	outro	lado	não	é	suficiente	qualquer	privação,	
mas	aquela	que	seja	proporcionada	à	importância	que	assume	o	
consentimento	matrimonial.	
A ninguém escapa, por exemplo, a diferença entre o grau de uso 
de razão necessário para comprar uma roupa e para consentir em 
se casar. Em todo caso, o sujeito no momento em que irá contrair 
matrimônio deverá ser capaz de se propor a uma finalidade e de 
ordenar e dirigir suas atividades para poder realizá-la. 
Um	terceiro	aspecto	a	destacar	é	que	as	causas	da	falta	de	
suficiente	uso	de	razão	são	muito	variadas,	sendo	indiferente	se	a	
carência	é	habitual	ou	atual,	total	ou	parcial.	O	fundamental	é	que	
exista	esta	falta	no	momento	em	que	é	dado	o	consentimento	ma-
trimonial	e	que	seja	suficiente	para	afetar	o	consentimento.	
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
A jurisprudência nos oferece uma indicação das categorias de pessoas que po-
dem sofrer desta carência, mas o elenco não é fechado ou taxativo, apenas 
indicativo:
a) Os adultos que não chegaram ao uso de razão ou, então, a perderam grave-
mente. No primeiro caso temos a oligofrenia. No segundo caso, a demência. 
b) Os adultos que possuem uma grave perturbação da razão como é o caso 
das psicoses.
c) Os adultos que, mesmo possuindo habitualmente o uso de razão, transitoria-
mente a perderam devido a uma perturbação da mente causada por agentes 
que podem perturbar ou eliminar o uso de razão, como é o caso de drogas, 
embriaguez, hipnotismo, grave perturbação de ânimo, etc.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
257© Nome da unidade
Grave falta de discrição de juízo a respeito dos direitos e 
obrigações essenciais do matrimônio (cân. 1095, 2º)
A	discrição	de	juízo	pode	ser	descrita	como	uma	faculdade	
estimativa	ou	deliberativa	que	é	expressa	mediante	um	ato	de	ra-
zão.	Tal	ato	consiste	em	um	juízo	prático	que	opera	mediante	duas	
funções	principais:	a	inquisitio ou	investigatio	e,	particularmente,	
a	aestimatio,	que	consiste	em	julgar	ou	avaliar	os	prós	e	os	contras	
das	diversas	possibilidades	que	se	apresentam	diante	do	sujeito.	
No	caso	do	matrimônio,	a	possibilidade	a	 ser	 investigada	e	esti-
mada	diz	respeito	a	um	determinado	matrimônio	(concreto),	com	
uma	determinada	pessoa	(concreta)	e	com	a	qual	será	comparti-
lhada	a	totalidade	da	vida	conjugal	e	que	deve	durar	para	sempre.	
Assim,	o	cân.	1095,	2º	quando	menciona	a	discrição	de	juízo,	nos	
faz	ver	que	para	emitir	um	consentimento	matrimonial	válido,	não	
é	suficiente	um	conhecimento	teórico	e	abstrato	do	matrimônio	
com	as	suas	propriedades	e	seus	direitos	e	deveres,	mas	é	neces-
sário,	 também,	 que	 haja	 uma	 capacidade	 crítica	 ou	 estimativa,	
além,	é	claro,	da	volição.	
A	capacidade	crítica	ou	estimativa	à	qual	nos	referimos	deve	
se	dar	em	dois	níveis:
1)	 prático-especulativo;
2)	 prático-prático.	
No	 primeiro	 nível,	 a	 pessoa	 avalia	 o	 que	 o	matrimônio	 é,	
comparando-o	 com	 outras	 realidades	 e	 possibilidades.	 Procura	
considerar	as	vantagens	e	os	 inconvenientes	de	se	casar.	Reflete	
sobre	os	prós	e	os	contras	do	casamento	e,	por	fim,	propõe	à	sua	
vontade	a	aceitação	ou	rejeição	do	próprio	matrimônio	considera-
do,	ainda,	enquanto	realidade	geral	e	em	abstrato.	
No	segundo	nível,	é	fundamental	que	a	pessoa	aplique	esta	
capacidade	crítica	na	avaliação	do	matrimônio	concreto	que	aqui	
e	agora	se	apresenta	a	ela	como	possibilidade	real,	tendo	presente	
os	prós	e	os	contras	de	assumi-lo	com	uma	determinada	pessoa.	
Deve,	portanto,	avaliar	os	ônus	e	as	dificuldades	que	se	apresen-
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
258
tam	e	os	direitos	e	os	deveres	que	terá,	sendo	necessário	ponderá-
-los	e	avaliá-los	com	a	consciência	de	que	deverão	ser	cumpridos	
em	um	futuro	que	implica	toda	uma	vida.	É	esta	capacidade	crítica	
ou	estimativa	que	torna	o	consentimento	dado	a	um	determinado	
matrimônio	um	ato	pessoal	e	responsável.	
Mas	 isto	 não	 é	 tudo,	 pois,	 além	 do	 que	 dissemos,	 é	 fun-
damental	que	a	pessoa	não	apenas	tenha	a	capacidade	de	fazer	
uma	escolha	 criticamente	 fundada,	mas	o	 faça	 livremente.	Con-
tudo,	podem	existir	condições	psicológicas	e/ou	ambientais	que,	
mesmo	não	interferindo	diretamente	na	capacidade	estimativa	ou	
crítica	da	pessoa,	acabam	por	comprometer	a	escolha	feita.	Tais	
condições	psicológicas	ou	outras	circunstâncias	às	vezes	terminam	
por	 impor	o	matrimônio	à	pessoa,	mesmo	quando	uma	escolha	
feita	de	um	modo	crítico	a	teria	levado	a	não	se	casar.	Em	outras	
palavras,	pode	ocorrer	de	a	pessoa	saber	o	que	o	matrimônio	é,	
tendo	consciência	de	todos	os	elementos	necessários	para	 fazer	
uma	escolha	criticamente	fundada	e,	a	partir	daí,	avaliando	todos	
os	elementos	 (prós	e	contras),	concluir	que	realmente	não	deve	
se	casar.	Mas,	apesar	disso,	surpreendentemente,	acaba	optando	
por	se	casar,	pois	existe	uma	circunstância	(psicológica	ou	ambien-
tal)	que	a	leva	a	tomar	tal	decisão.	Neste	caso,	o	matrimônio	não	
foi	escolhido	pela	pessoa,	mas	pela	circunstância,	faltando,	assim,	
uma	suficiente	liberdade.	Esta	falta	de	liberdade	quando	tem	uma	
causa	externa	é	tratada	pelo	cân.	1103	(violência	ou	medo	grave),	
quando,	ao	contrário,	possui	uma	causa	interna,	se	insere	no	cân.	
1095,	2º	como	parte	do	conceito	de	falta	de	discrição	de	juízo.	
Podemos	sintetizar	o	que	dissemos	até	aqui	afirmando	que	
o	conceito	de	suficiente	discrição	de	juízo	aplicado	ao	matrimônio	
comporta	os	seguintes	elementos:
1)	 uma	suficiente	consciência	intelectiva;
2)	 uma	suficiente	avaliação	crítica,	seja	do	matrimônio	em	
si,	seja	dos	motivos	para	contraí-lo	(que	devem	ser	ade-
quados),	seja	da	incidência	do	mesmo	sobre	a	pessoa	do	
contraente;
259© Nome da unidade
3)	 uma	suficiente	liberdade	interna,	seja	no	avaliar	os	moti-
vos,	isto	é,	no	deliberar,	seja	no	dominar	os	condiciona-
mentos	internos	e	externos.
Uma	vez	especificado,	de	um	modo	sintético,	em	que	con-
siste	a	discrição	de	juízo	tal	como	apresentada	no	cân.	1095,	2º,	
convém	fazer	uma	breve	referência	a	outros	dois	aspectos	impor-
tantes	contidos	no	mencionado	cânon:	a	falta	de	discrição	de	juízo	
deve	ser grave	e	proporcional	ao	objeto do consentimento matri-
monial.
Em	relação	à	gravidade da	falta	de	discrição	de	juízo,	o	 le-
gislador	não	quis	precisar	em	que	coisa	consiste	e	nem	mesmo	fez	
qualquer	referência	às	causas	da	grave	falta	de	discrição	de	juízo,	
diferentemente	do	que	ocorreu	no	número	três	do	mesmo	cânon.	
Isto	significa	duas	coisas:	de	um	lado,	não	é	qualquer	deficiência	
que	comporta	semelhante	incapacidade,	mas,	de	outro	lado,	não	
é	necessário	uma	total	ausência	de	discrição	de	juízo	para	que	haja	
a	nulidade	do	matrimônio.	Estes	dois	critérios	assim	tão	amplos	
deixam	 à	 doutrina	 e	 à	 jurisprudência,	 com	 a	 ajuda	 das	 ciências	
antropológicas,	a	tarefa	de	especificar	e	precisar	em	cada	caso	o	
conteúdo	da	expressão	"grave",	pois	não	há	como	ser	diferente.
Outro	problema	relativo	ao	cânon	em	questão	diz	respeito	
ao	objeto do consentimento matrimonial com	especial	atenção	
ao	 conteúdo	dos	direitos	e	deveres	matrimoniais.	 Também	aqui	
o	 legislador	 não	 precisou	 tal	 conteúdo,	mas,	 tendo	 presente	 os	
cânones	 1055-1057,podemos	 afirmar	 que	 a	 essência	 do	matri-
mônio,	da	qual	derivam	os	direitos	e	deveres	essenciais	aos	quais	
a	discrição	de	 juízo	deve	se	referir,	é	constituída	pelos	seguintes	
elementos:	o consortium totius vitae (cân.	 1055	 §1	 e	 1057	 §2),	
que	engloba	todas	as	faculdades	(intelectivas,	volitivas	e	afetivas),	
empenhando	os	cônjuges	a	uma	comunicação	mútua	nos	diversos	
níveis	da	personalidade;	perpétuo	e	exclusivo	(cân.	1055	§1;	cân.	
1056);	ordenado	ao	bem	dos	cônjuges	–	bonum coniugum	-	(cân.	
1055	§1),	que	requer	dos	mesmos	uma	capacidade	de	poder	reali-
zá-lo;	geração	e	educação	da	prole	(cân.1055	§1).	
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
260
Incapacidade de assumir as obrigações essenciais do matrimônio 
por causas de natureza psíquica (cân. 1095, 3º)
Segundo	este	número	aqueles	que	por	causas	de	natureza	
psíquica	não	podem	assumir	as	obrigações	essenciais	do	matrimô-
nio	são	incapazes	de	contrair	matrimônio.	Aqui	o	legislador	consi-
dera	a	hipótese	de	o	consentimento	matrimonial	ser	nulo	porque	
o	contraente	não	está	em	condições	de	entregar	e	aceitar	o	objeto	
do	próprio	consentimento.	Neste	caso,	não	se	verifica	a	exclusão	
do	objeto	(cân.	1101),	mas,	sim,	um	vício	de	objeto,	uma	vez	que	
aquele	que	quer	contrair	matrimônio	é	incapaz	de	dar	o	que	tor-
na	nupcial	o	consentimento.	A	razão	da	norma	deriva	do	seguinte	
princípio	de	direito	natural:	ninguém	pode	se	obrigar	a	algo	que	
psiquicamente	é	 incapaz	de	assumir,	pois	o	consentimento	dado	
estaria	 objetivamente	 vazio	 de	 conteúdo.	 Em	 outras	 palavras,	
quem	é	 incapaz	de	efetuar	uma	determinada	prestação	é	 igual-
mente	incapaz	de	contraí-la	sob	a	forma	de	obrigação	jurídica,	ou	
então,	o	desejo	de	 fazer	um	negócio	será	 ineficaz	caso	o	objeto	
deste	negócio	não	esteja	disponível.
Um	primeiro	ponto	a	 ser	 levado	em	conta	no	estudo	des-
te	cânon	é	que	o	texto	 fala	de	 incapacidade	para	assumir	que	é	
definida	pela	doutrina	 e	 jurisprudência	 como	um	estado	de	 im-
possibilidade	moral	 que	 incide	 no	 sujeito	 em	 relação	 à	 comple-
xidade	da	vida	matrimonial,	ou	seja,	o	matrimônio	 in facto esse.	
Aqui	o	matrimônio	é	considerado	não	apenas	em	sua	natureza	de	
pacto,	mas,	especialmente,	como	estado	de	vida.	A	incapacidade	
de	assumir	não	deve	em	hipótese	alguma	ser	confundida,	de	um	
lado,	com	uma	simples	dificuldade	para	cumprir,	pois	ela	está	pre-
sente	 em	 toda	 existência	 humana	e	 em	qualquer	 realidade	que	
exige	empenho.	De	outro	lado,	também	não	é	possível	identificar	
a	incapacidade	de	assumir	com	uma	impossibilidade	absoluta	de	
cumprir	as	obrigações	essenciais	do	matrimônio.	
Portanto,	a	incapacidade	para	assumir	não	é	sinônimo	nem	
de	 dificuldade	 para	 assumir	 e	 nem	 de	 impossibilidade	 absoluta	
para	cumprir.	Poder	assumir	significa	estar	em	condições	de	reali-
261© Nome da unidade
zar	minimamente	o	conteúdo	do	matrimônio	no	momento	em	que	
o	consentimento	é	dado.	O	não	cumprimento	de	fato	das	obriga-
ções	matrimoniais	não	significa	necessariamente	que	exista	uma	
incapacidade	para	assumi-las.	Pode	ter	como	causa	um	problema	
surgido	depois	do	casamento	ou,	então,	um	não	desenvolvimento	
das	 capacidades	pessoais	das	partes	por	negligência	ou	 falta	de	
empenho.		A	falência	do	casamento	não	é	em	si	mesma	uma	pro-
va	de	tal	incapacidade,	mas,	sem	dúvida,	é	o	ponto	de	partida	da	
investigação	sobre	a	capacidade	da	pessoa,	na	medida	em	que	os	
fatos	relativos	ao	matrimônio	falido	podem	indicar	a	existência	ou	
não	de	uma	incapacidade.
Um	segundo	ponto	a	ser	esclarecido	é	que	o	legislador	co-
locou	em	relevo,	diferentemente	do	número	anterior,	os	motivos	
que	podem	estar	à	base	de	tal	incapacidade.	O	cânon	faz	referên-
cia	a	causas	de	natureza	psíquica.	
É	jurisprudência	constante	que	a	causa	de	natureza	psíquica	
não	é	necessariamente	uma	patologia,	embora	todos	aceitem	que	
deve	se	tratar	de	uma	séria	forma	de	anomalia	referida	ao	univer-
so	psíquico	da	pessoa	em	relação.	Evidentemente	o	legislador	não	
definiu	o	que	se	entende	por	causas	de	natureza	psíquica.	Mas	não	
existe	dúvida	que	devem	estar	em	íntima	conexão	com	o	objeto	do	
consentimento	matrimonial.	 Consequentemente,	 é	possível	 afir-
mar	que	por	causa	de	natureza	psíquica	podemos	entender	aque-
les	aspectos	da	dinâmica	espiritual	da	pessoa	que	a	tornam	inca-
paz	para	emitir	o	consentimento	matrimonial	pela	específica	razão	
de	não	poder	assumir	as	obrigações	essenciais	do	matrimônio.	
Obviamente,	não	é	possível	fazer	um	elenco	completo,	exaus-
tivo	e	definitivo	das	anomalias	que	tornam	uma	pessoa	incapaz	de	
assumir	 as	 obrigações	 do	matrimônio.	 Em	 linhas	 gerais	 podemos	
afirmar	que	as	anomalias	no	campo	da	sexualidade	e	da	persona-
lidade	estão	em	 íntima	 conexão	 com	as	obrigações	 essenciais	 do	
matrimônio.	As	primeiras,	porque	podem	impedir	que	a	pessoa	en-
contre	no	cônjuge	os	pressupostos	para	um	mínimo	grau	que	seja	
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262
de	integração	psico-sexual,	mediante	o	exercício	da	sexualidade	ge-
nital,	de	forma	respeitosa	em	relação	à	pessoa	e	à	moral	cristã.	
Entre esses desvios podemos mencionar, a título de exemplo, as 
formas conhecidas de super excitação sexual (satiríase e ninfoma-
nia), algumas sérias situações de sadismo ou sadomasoquismo, 
alguns graus de homossexualidade, situações consolidadas de 
transexualismo e outras graves disfunções sexuais.
Já as segundas podem comprometer gravemente a possibilidade 
da integração psico-afetiva, mesmo no que concerne à mútua aju-
da, moral e material, que é lícito esperar de um cônjuge. 
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Podemos citar como exemplo as personalidades afetadas por gravíssimas for-
mas de narcisismo, personalidades antissociais ou particularmente inclinadas à 
prática da violência, personalidades particularmente fracas que se deixam en-
volver em grau elevado pela ingestão de substâncias tóxicas, como o álcool ou 
drogas, ou por hábitos dispendiosos e perigosos para a vida familiar, tais como 
os jogos de azar que podem pôr em risco os próprios meios de subsistência da 
família e levá-la a um perigoso contato com ambientes de malfeitores ou com 
pessoas de má índole.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Ignorância (cân. 1096)
Não	pode	existir	consentimento	matrimonial	válido	sem	um	
conhecimento	mínimo	daquilo	que	o	matrimônio	é.	Em	outras	pa-
lavras,	ninguém	pode	consentir	se	ignora	o	objeto	do	seu	consen-
timento,	isto	é,	em	que	deve	consentir.	Trata-se	de	um	princípio	de	
direito	natural	concretizado	pelo	legislador	neste	cânon.	Contudo,	
não	é	qualquer	 ignorância	que	torna	o	consentimento	matrimo-
nial	 nulo,	mas	 apenas	 a	 ignorância	 tal	 como	descrita	pelo	 legis-
lador.	Na	verdade,	a	fixação	da	ciência	mínima	do	que	constitui	a	
substância	do	matrimônio	é	o	objetivo	deste	cânon.	Esta	mínima	
ciência	possui	um	conteúdo	perfeitamente	determinado	e	se	exige	
que	os	esposos	ao	menos	não	o	ignorem.	
Os	elementos	que	não	podem	ser	ignorados	de	forma	algu-
ma	são	os	seguintes:
263© Nome da unidade
a)	 O	matrimônio	é	um	consórcio	permanente	–	Com	isto	se	
quer	afirmar	que	o	matrimônio	não	é	uma	relação	fugaz	
ou	 transitória,	mas	 uma	 realidade	 estável	 e,	 portanto,	
permanente.	O	acento,	portanto,	não	está	tanto	no	ter-
mo	consórcio	quanto	no	vocábulo	permanente.	
b)	 De	natureza	heterossexual	–	A	característica	heterosse-
xual	é	exigida	pela	mesma	natureza	do	matrimônio,	pois,	
como	é	sabido,	este	é	ordenado	ao	bem	dos	cônjuges	e	
à	procriação	(cân.	1055)	e	não	pode	ser	confundido	ou	
equiparado	com	qualquer	outra	forma	de	união	civil.	
c)	 Ordenado	à	procriação	e	cooperação	sexual	–	Mesmo	que	
a	prole	não	seja	o	que	constitui	a	relação	matrimonial,	é,	
sem	dúvida,	um	elemento	que	dá	forma	à	mesma	e,	en-
quanto	elemento	especificador	da	união	conjugal	frente	a	
outros	tipos	de	união,	é,	sem	dúvida,	um	elemento	consti-
tutivo.	Não	é	necessário	que	os	cônjuges	conheçam	todo	
o	processo	gerativo,	mas,	sim,	que	saibam	quena	mútua	
entrega	entra	em	 jogo	a	dimensão	 sexual.	Devem	ter	a	
percepção	da	diversidade	sexual	e	de	que	esta	está	dire-
tamente	implicada	na	procriação,	pois	a	mesma	normal-
mente	se	dá	mediante	um	ato	sexual.	
O	parágrafo	segundo	do	cânon	retoma	o	conceito	de	puber-
dade	que	não	deve	ser	confundido	com	o	da	idade	requerida	para	
o	matrimônio.	O	CIC	atual	não	estabelece	a	idade	da	puberdade	
e	à	norma	do	cân.	21	é	possível	admitir	a	mesma	idade	do	código	
anterior,	ou	seja,	12	anos	para	as	mulheres	e	14	para	os	homens.	
Afirma-se	no	cânon	que	a	ignorância	não	se	presume	após	a	pu-
berdade	e,	consequentemente,	a	existência	da	mesma	deverá	ser	
provada,	tanto	para	impedir	a	realização	de	um	matrimônio	de	um	
púbere	quando	para	declará-lo	nulo.
O erro (cânn. 1097-1099) 
O	cân.	1097	trata	do	erro	seja	de	pessoa	(§1),	seja	de	qua-
lidade	da	pessoa	direta	e	principalmente	visada	(§2).	O	cân.	1098	
ocupa-se	do	erro	doloso	a	respeito	de	uma	qualidade	que	possa	
perturbar	gravemente	a	vida	conjugal.	Por	fim,	o	cân.	1099	refere-
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264
-se	ao	erro	em	relação	a	algumas	qualidades	não	da	pessoa,	mas	
do	próprio	matrimônio:	as	duas	propriedades	essenciais	e	a	digni-
dade	sacramental	do	mesmo.	Veremos,	portanto,	as	diversas	hipó-
teses	de	erro	contidas	nos	cânones	anteriormente	citados.	
Antes,	 porém,	 de	 passarmos	 para	 o	 estudo	 do	 erro	 como	
causa	de	nulidade	do	consentimento	matrimonial	é	fundamental	
ter	presente	qual	é	a	natureza	do	erro	em	si	mesmo	e	do	influxo	
que	pode	ter	em	qualquer	negócio	jurídico.	O	erro	é,	em	primeiro	
lugar,	um	ato	do	intelecto	que	consiste	em	um	juízo falso da inte-
ligência a respeito de um objeto que tem como causa uma falsa 
apreensão do mesmo.	A	vontade	humana,	pois	o	consentimento	
é	um	ato	de	vontade,	não	se	movimenta	se	o	intelecto	não	apre-
senta	a	ela	algum	objeto	que	a	atraia.	Contudo,	o	intelecto,	exata-
mente	por	causa	de	um	juízo	falso	(erro)	pode	apresentar	à	von-
tade	um	objeto	falso,	distorcido,	um	objeto	que	não	corresponde	
à	verdade.	Consequentemente,	a	vontade	poderá	ser	induzida	er-
roneamente	a	emitir	um	consentimento	a	respeito	de	um	objeto	
que	não	existe	e,	por	conseguinte,	o	consentimento	também	não	
existirá.	
Erro de pessoa (cân. 1097 §1) 
O	cânon	basicamente	repete	aqui	a	normativa	já	contida	no	
CIC	anterior.	O	erro	de	pessoa	(cân.	1083	§1)	era	interpretado	em	
um	sentido	estrito.	Afirmava-se	que	a	pessoa	sobre	a	qual	versa-
va	 o	 erro	 era	 o	 indivíduo	 entendido	única	 e	 exclusivamente	 em	
sua	realidade	física.	Desde	modo,	se	A	desejasse	se	casar	com	B	e	
na	realidade	se	casasse	com	C,	acreditando	que,	de	fato,	C	é	B	o	
matrimônio	seria	nulo,	pois,	na	verdade,	C	não	é	B.	Faltaria	o	con-
sentimento	mútuo	 como	 causa	 eficiente	 do	matrimônio	 (B	 está	
ausente	e	é	para	ele	que	se	dirige	o	consentimento	e	é	dele	que	se	
espera	o	consentimento)	e,	logo,	não	haveria	matrimônio	válido.	
Em	outras	palavras,	faltando	a	pessoa	com	a	qual	se	entrava	em	
acordo	sobre	o	objeto	essencial	do	consentimento	na	verdade	não	
há	o	acordo	algum	e	muito	menos	o	matrimônio.	
265© Nome da unidade
Após	a	promulgação	do	CIC	atual,	observou-se	em	parte	da	
jurisprudência	 uma	 tendência	 em	 utilizar	 um	 conceito	 "amplia-
do"	de	pessoa,	ancorada	nos	documentos	do	Concílio	Vaticano	II	
e	em	algumas	sentenças	rotais	do	período	intercodicial.	Todavia,	
algumas	 intervenções	do	Papa	 João	Paulo	 II,	 como,	 também,	de	
alguns	estudiosos,	acabaram	por	desautorizar	tal	abordagem	que,	
em	nossa	modesta	opinião,	 tinha	boa	consistência.	De	qualquer	
forma,	deixemo-la	de	lado,	pois	tomaria	muito	do	nosso	tempo	e,	
portanto,	fiquemos	com	a	orientação	tradicional.	
Erro de qualidade da pessoa direta e principalmente visada (cân. 
1097 §2)
O	cânon	1097	§2,	afrontando	o	tema	do	erro	sobre	a	quali-
dade	pessoal,	confirma,	em	primeiro	lugar,	a	regra	geral	segundo	
a	qual,	ordinariamente,	o	erro	sobre	a	qualidade	de	uma	pessoa,	
mesmo	 que	 seja	 a	 causa	 do	 contrato,	 não	 torna	 o	 matrimônio	
nulo.	O	que	isso	significa?
Na	prática,	se	A	quer	se	casar	com	B	porque	enxerga	em	B	
certas	 qualidades	 que	 na	 verdade	 não	 existem,	 nem	 por	 isso	 o	
matrimônio	seria	nulo.	Todavia,	o	legislador	estabeleceu	exceções	
para	esta	regra	geral.	
A	primeira	está	contida	neste	cânon	e	é	a	seguinte:	conside-
ra-se	relevante	para	viciar	o	consentimento	o	erro	a	respeito	de	
uma	qualidade	pessoal,	seja	ela	qual	for,	desde	que	visada de um 
modo direto e principal por	aquele	que	erra.	Portanto,	o	cânon	
estabelece	 a	 prevalência	 da	 avaliação	de	quem	erra	 em	 relação	
ao	conteúdo	objetivo	da	qualidade	desejada	de	um	modo	direto	
e	principal	que,	portanto,	poderia	ser	até	acidental	em	si	mesma,	
mas	de	grande	 relevância	para	 a	pessoa.	A	única	 condição	para	
tornar	o	matrimônio	nulo	seria	que	tal	qualidade	deve	necessaria-
mente	ser	direta e principalmente visada.	Mas	como	interpretar	a	
expressão	direta	e	principalmente	visada?	
Em	linhas	gerais	se	afirma	que	"diretamente"	significa	que-
rer	uma	determinada	qualidade	no	outro	não	apenas	como	objeto	
© Direito Canônico II
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266
mediato	ou	genérico,	ou	seja,	incluída	na	vontade	geral	de	casar,	
mas	como	algo	imediato	do	próprio	querer,	e,	portanto,	de	uma	
vontade	específica.	"Principalmente"	significa	que	dentre	todas	e	
possíveis	qualidades	que	um	sujeito	pode	querer	em	geral,	uma	é	
querida	de	modo	prevalente.
Um exemplo seria o seguinte: Maria quer se casar com um homem 
rico, ou, então, quer se casar com alguém que não goste de jogar 
(seja quem for) e, portanto, ao procurar um parceiro centralizará 
as suas atenções para a presença da qualidade desejada (um ho-
mem rico) ou para a ausência da qualidade rejeitada (não goste de 
jogar). Contudo, acaba se casando na prática com alguém, imagi-
nando que tal pessoa possui ou não, conforme o caso, aquela qua-
lidade que visava direta e principalmente. Mas, após o casamento, 
descore que se enganou e, que, portanto, errou. 
Por	fim,	convém	recordar	a	razão	da	nulidade	do	matrimô-
nio.	No	caso	de	erro	de	qualidade	falta	ao	ato	de	vontade,	que	é	
o	 consentimento,	 o	 objeto	 ao	 qual	 ele	 tende	 direta	 e	 principal-
mente,	isto	é,	a	qualidade	desejada	ou	recusada.	Sem	ela	não	há	o	
consentimento	e	o	matrimônio	é	nulo.	
Erro doloso (cân. 1098)
O	cân.	1098	afirma	que	quem	contrai	matrimônio,	enganado	
por	dolo	perpetrado	para	obter	o	consentimento	matrimonial,	a	
respeito	 de	 alguma	qualidade	da	outra	 parte,	 e	 essa	 qualidade,	
por	sua	natureza,	possa	perturbar	gravemente	o	consórcio	da	vida	
conjugal,	contrai	invalidamente.	
O	primeiro	ponto	a	considerar	aqui	é	que	um	dos	contraen-
tes	deve	achar-se	no	momento	do	consentimento	em	um	estado 
de erro,	ou	seja,	de	falso	juízo	acerca	de	uma	determinada	reali-
dade,	e	que	este	erro	 tenha sido determinante para a emissão 
do próprio consentimento.	Isso	porque	a	nulidade	do	matrimônio	
não	estaria	no	erro	em	si,	mas	no	fato	de	o	mesmo	determinar	a	
vontade	da	pessoa	que	não	se	casaria	caso	tivesse	conhecimento	
da	realidade	do	outro.	
267© Nome da unidade
O	 segundo ponto	 é	 que	 a	 realidade	 a	 respeito	 da	 qual	 se	
erra	deve	ser	uma	qualidade da outra parte	e,	portanto,	uma	ca-
racterística estável da pessoa	 e	a	ela	 inerente	e	não	uma	mera	
circunstância.	Por	exemplo,	uma	doença	crônica	é	uma	qualidade,	
mas	estar	desempregado	em	um	determinado	momento	é	uma	
circunstância.	 Além	disso,	 tal	 qualidade	deve	 concernir	 especifi-
camente	à	pessoa	do	outro	e	não	de	terceiros.	Por	exemplo,	uma	
qualidade	da	futura	sogra	que	possa	perturbar	a	vida	conjugal	e	
que	é	omitida	ou	negada	para	se	obter	o	consentimento	não	inva-
lidaria	o	matrimônio.	
O	terceiro	elemento	a	considerar	é	que	não	deve	se	tratar	de	
uma	qualidade	qualquer,	mas	a	qualidade	acerca	da	qual	se	incide	
em	erro	deve	ser,	por	sua	própria	natureza,	apta	a	perturbar	gra-
vemente	o	consórcio	da	vida	conjugal.	
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––O problema aqui é que não é possível estabelecer uma medida precisa que pos-
sa indicar com exatidão quando e como uma qualidade pode por sua própria 
natureza perturbar gravemente a vida conjugal, pois uma qualidade que para 
um sujeito não é suficiente para provocar tal perturbação, para outro pode o 
ser. Apesar disso, de um modo genérico, podemos sustentar que, considerando 
aquilo que o matrimônio é, suas finalidades e propriedades essenciais, é possível 
formular a hipótese segundo a qual as qualidades que poderiam perturbar grave-
mente o matrimônio seriam aquelas que levariam a pessoa a agir em prejuízo da 
sua unidade/fidelidade (por exemplo, propensão invencível para a infidelidade); 
da sua indissolubilidade; de sua predisposição à geração e educação da prole 
(por exemplo, a esterilidade, a prodigalidade que coloca em risco o sustento 
da prole, a propensão a jogos de azar que também coloca em risco o susten-
to da prole, a propensão a hábitos gravemente viciosos que tornem a pessoa 
inadequada para exercer um papel educativo etc.); do bem dos cônjuges (por 
exemplo, doenças contagiosas, dependência de álcool, drogas que destroem a 
relação de confiança ou repercutem na ordem sexual). Poderíamos acrescentar, 
ainda, outras qualidades, como, por exemplo, a gravidez de outra pessoa, prece-
dentes penais graves etc. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Convém	observar,	ainda,	que	não	se	exige	a	perturbação	de	
fato	da	vida	conjugal,	mas	é	suficiente	que	tal	qualidade	que	cons-
titui	 o	 objeto	 do	 engano	 possa	 ser	 considerada	 potencialmente	
capaz	de	causá-la.	Observe	que	o	 legislador	não	precisou	o	que	
se	entende	por	perturbação	grave	e,	portanto,	caberá	à	jurispru-
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
268
dência	determinar	no	caso	concreto	tal	gravidade.	Contudo,	uma	
coisa	é	certa:	na	avaliação	de	tal	gravidade	é	fundamental	consi-
derar	não	apenas	a	gravidade	objetiva,	mas,	também,	a	gravidade	
subjetiva.	De	fato,	a	 importância	que	a	parte	enganada	atribui	à	
qualidade-objeto	do	engano	é	que	irá	movê-la	a	consentir	ou	não.	
Um	quarto	e	último	elemento	importante	é	que	a	indução	ao	
erro	deve	ter	sido	efetuada	dolosamente,	isto	é,	deliberadamen-
te	e	com	o	conhecimento	do	significado	da	própria	ação.	Deve-se	
esclarecer	que	a	ação	dolosa	poderia,	em	princípio,	ser	praticada	
por	um	terceiro.	Além	disso,	a	ação	dolosa	deve	ser	efetuada	com	
o	objetivo	de	obter	a	prestação	do	consentimento	matrimonial	da	
outra	parte.	Portanto,	trata-se	de	um	dolo	específico,	ou	seja,	fi-
nalizado	a	obter	o	consentimento	matrimonial	e	não	por	outras	
razões.	
Erro de direito (cân. 1099)
O	cân.	1097	ocupa-se	do	erro	de	fato,	ou	seja,	a	respeito	da	
pessoa	do	contraente	ou	de	uma	qualidade	da	mesma.	Já	o	cân.	
1099,	por	sua	vez,	ocupa-se	do	erro	de	direito,	na	medida	em	que	
não	diz	respeito	à	pessoa	do	contraente,	mas,	sim,	ao	instituto	ma-
trimonial	enquanto	tal.	O	legislador	afirma	que	o	erro	a	respeito	
da	unidade,	da	indissolubilidade	ou	da	dignidade	sacramental	do	
matrimônio,	contando	que	não	determine	a	vontade,	não	vicia	o	
consentimento.	
O	primeiro	ponto	a	considerar	é	a	necessidade	da	existência	
de	um	erro,	entendido	como	um	juízo	falso	da	inteligência	a	res-
peito	de	um	determinado	objeto,	no	caso,	a	unidade,	indissolubili-
dade	e	sacramentalidade	do	matrimônio.
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Quanto ao significado desses termos basta que tenhamos presente o que já foi 
explicado na teoria geral do matrimônio ao início deste curso. Um aspecto que 
aqui nos chama a atenção é que o legislador não considerou a hipótese do erro 
a respeito da substância do matrimônio em sua totalidade, cujos elementos se 
encontram presentes nos cânones 1055-1057. A preocupação voltou-se para a 
unidade, indissolubilidade e sacramentalidade do mesmo. Contudo, a nulidade 
269© Nome da unidade
do matrimônio não pode ser descartada em caso de erro sobre aquilo que o 
matrimônio é em sua essência, pois, conforme o cân. 126, o ato praticado por 
ignorância ou erro, que verse sobre o que constitui a substância de um ato jurí-
dico é nulo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O	segundo elemento	a	 considerar	é	que	 se	o	erro	perma-
necer	no	âmbito	do	intelecto,	sem,	portanto,	determinar	a	vonta-
de,	não	vicia	o	consentimento	matrimonial	e	o	matrimônio	con-
sequentemente	 será	 válido.	 Se,	 ao	 contrário,	 o	 erro	 determinar	
a	vontade,	o	consentimento	é	viciado	e,	portanto,	o	matrimônio	
será	inválido.	Deste	modo,	podemos	afirmar	que	o	erro	por	si	só	
não	é	capaz	de	viciar	o	consentimento	matrimonial	a	não	ser	que	
determine	a	 vontade,	pois	 a	 causa	da	nulidade	é	a	 vontade	en-
quanto	determinada	pelo	erro	e	não	o	erro	em	si.	Mas	o	que	se	
entende	por	erro	que	determina	a	vontade?
Determinar	a	vontade	significa	que	o	erro	passa	do	âmbito	
da	razão	para	o	âmbito	da	vontade	e	a	empurra	para	uma	precisa	
direção.	Trata-se	 sempre	de	um	erro	que	 fixa	o	conteúdo	 real	e	
verdadeiro	do	consentimento	do	contraente	o	qual,	exatamente	
pelo	influxo	radical	operado	pelo	erro,	quer	um	matrimônio	priva-
do	voluntariamente	da	unidade,	indissolubilidade	e	sacramentali-
dade.	Não	se	trata	de	um	erro	simples,	mas	de	um	erro	que	deter-
mina	o	conteúdo	do	ato	interno	de	vontade,	provocando	nela	uma	
ausência	objetiva	da	unidade,	 indissolubilidade	ou	sacramentali-
dade	que	são	qualidades	necessárias	para	um	verdadeiro	e	válido	
matrimônio.	
O conhecimento da nulidade e o consentimento (cân. 1100)
Este	cânon	repete	uma	regra	anterior	de	prudência	na	dispu-
ta	a	respeito	de	se	era	possível	ou	não	ter	um	verdadeiro	consenti-
mento	matrimonial	na	presença	de	uma	certeza	ou	opinião	de	que	
o	matrimônio	a	ser	contraído	seria	inválido	desde	o	início.
Teoricamente	o	problema	não	é	simples:	é	difícil	pensar	que	
seja	possível	querer	um	matrimônio	que,	na	verdade,	não	pode	
existir	e	que	o	consentimento	prestado,	em	tal	caso,	não	seja	uma	
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270
leviandade	ou	um	mero	desejo.	Contudo,	se	formos	avaliar	bem,	
se	pode	querer	o	que	 juridicamente	é	 impossível.	Apesar	de	no	
âmbito	do	entendimento	se	saiba	que	o	consentimento	a	ser	pres-
tado	será	juridicamente	ineficaz,	isto	não	impede	necessariamen-
te	a	vontade	de	querer	aquele	matrimônio,	considerando	apenas	
o	ato	de	querê-lo	enquanto	dela	depende.	A	coexistência	destes	
dois	extremos	é	hipotizável	quando	a	nulidade	não	depende	da	
vontade	das	partes,	pois	a	contradição	da	própria	vontade	seria	
impensável.	Portanto,	o	fato,	pois,	de	saber	ou	achar	que	o	matri-
mônio	é	nulo	não	exclui	necessariamente	o	consentimento,	como,	
também,	o	simples	fato	de	contrair	o	matrimônio	não	é	por	si	só	
garantia	de	consentimento,	embora	o	mesmo	se	presuma.	
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Este cânon é importante para os casos de matrimônios nulos por falta de forma 
ou pela presença de impedimentos dirimentes, tendo em vista a sanação radical 
(cânn. 1161-1165), já que ela supõe a perseverança do consentimento, perseve-
rança esta que, a norma do cân. 1107, se presume e é absolutamente exigida 
pelo direito natural para que possa ser feita a sanatio in radice. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A simulação ou exclusão (cân. 1101)
Vimos	que	o	consentimento	das	partes	cria	o	matrimônio	e	
é	definido	pelo	cân.	1057	§2	como	um	ato	de	vontade	mediante	o	
qual	os	contraentes	efetuam	a	doação	de	si	mesmos	com	o	fim	de	
constituir	entre	ambos	a	relação	conjugal.	Convém	recordar	breve-
mente	os	elementos	principais	desta	noção,	pois	serão	fundamen-
tais	na	consideração	da	simulação.	
Definindo	o	consentimento	como	uma	ação	da	vontade,	o	
CIC	estabelece	primeiramente	que	o	ordenamento	jurídico	canô-
nico	requer,	para	contrair	matrimônio,	o	cumprimento	de	um	ato	
humano,	isto	é,	de	um	ato	baseado	num	suficiente	uso	das	facul-
dades	naturais	da	inteligência	e	da	vontade.	Por	esta	razão,	para	
casar	 é	 absolutamentenecessário	por	 parte	do	 intelecto	o	 sufi-
ciente	uso	de	razão	(cân.	1095,	1º);	o	conhecimento	mínimo	da-
quilo	que	o	matrimônio	é	(cân.	1096);	como,	também,	a	suficiente	
271© Nome da unidade
capacidade	de	 avaliar	 concretamente	 as	 obrigações	 decorrentes	
do	próprio	matrimônio	 (cân.	1095,	2º).	Da	parte	da	vontade,	 se	
requer	a	suficiente	liberdade,	tanto	interna	(cân.	1095,	2º),	quanto	
externa	(cân.	1103).
A	vontade	dirige-se	para	um	determinado	objeto	e	sendo	o	con-
sentimento	um	ato	de	vontade	é	fundamental	que	se	estabeleça	
qual	é	o	objeto	desta	vontade.	O	CIC	afirma	que	o	objeto	direto	do	
consentimento	matrimonial	é	o	dom	de	si,	enquanto	realidade	ma-
terial,	pois	o	que	se	entrega	e	recebe	são	as	pessoas	mesmas	dos	
cônjuges.	Contudo,	tal	doação	possui	um	objetivo	que	seria	o	ob-
jeto	formal	do	consentimento:	a	constituição	do	matrimônio.	Esta	
especificação	 é	 de	 fundamental	 importância,	 pois	 se	 torna	 claro	
que	a	intenção	matrimonial	deve	estar	voltada	para	a	constituição	
do	matrimônio	e	que	os	elementos	que	o	ordenamento	canônico	
considera	como	essenciais	não	podem	de	forma	alguma	ficar	fora	
de	 tal	 intenção.	Em	outras	palavras,	ao	 realizarem	o	matrimônio	
os	 contraentes	 devem	 assumir	 (ao	menos	 implicitamente),	 e	 de	
maneira	 alguma	podem	 rejeitar	 os	 fundamentos	 do	 conceito	 de	
matrimônio	tal	como	estão	definidos	pelo	próprio	ordenamento:	a	
constituição	de	um	consórcio	de	vida,	perpétuo	e	exclusivo,	desti-
nado	ao	bem	dos	cônjuges	e	à	geração	e	educação	da	prole	e	que,	
para	os	batizados,	possui	a	dignidade	de	sacramento.			
Tendo	presente	o	que	dissemos,	podemos	nos	ater	ao	parágrafo	
primeiro	do	cân.	1101,	que	codifica	uma	regra	geral,	elevada	à	con-
dição	de	princípio	jurídico	para	a	interpretação	dos	fatos	e	de	ga-
rantia	da	certeza	nas	relações	jurídicas.	Afirma-se	que	aquilo	que	
uma	pessoa	diz	corresponde	em	verdade	àquilo	que	ela	realmente	
quer.	No	caso	do	matrimônio,	afirma-se	que	quando	uma	pessoa	
diz	querer	o	matrimônio	canônico,	deve-se	pressupor	que	ela,	de	
fato,	realmente	deseja	casar	e	fazer	seus	todos	os	elementos	e	as	
propriedades	essenciais	que	caracterizam	o	matrimônio.	Trata-se	
de	uma	presunção	da	adequação	da	vontade	declarada	à	vonta-
de	real.	Em	outras	palavras,	se	presume	que	o	consentimento	ex-
presso	 corresponde	 em	 seu	 conteúdo	 ao	 consentimento	 exigido	
pelo	ordenamento	jurídico.	Deste	modo,	o	ordenamento	canônico	
presume	que	o	comportamento	normal	de	uma	pessoa	esteja	em	
conformidade	com	a	verdade,	e	a	falsidade,	portanto,	deve	ser	de-
monstrada.	Consequentemente,	aquele	que	afirmar	a	existência	de	
uma	discrepância	do	consentimento	interno	e	a	sua	expressão	terá	
que	apresentar	provas	que	a	demonstrem.	
O	parágrafo	 segundo	admite	que	a	presunção	da	conformi-
dade	entre	consentimento	 interno	e	externo,	por	mais	 justificada	
que	seja,	não	garante,	por	si	só,	que	as	coisas	sempre	ocorram	em	
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272
conformidade	com	ela,	especialmente	quando	se	trata	de	decisões	
da	vontade	humana.	Admite-se,	aqui,	a	possibilidade	de	uma	dis-
crepância	entre	a	realidade	e	a	presunção.	Assim,	encontramo-nos	
diante	de	uma	presunção	simples,	pois	admite	a	prova	em	contrário.
Segundo	 texto,	é	possível	provar	que,	não	obstante	as	de-
clarações	feitas	durante	o	matrimônio,	naquele	mesmo	momento	
e	mediante	um	ato	positivo	de	vontade,	ao	menos	um	dos	con-
traentes	 pode	 rejeitar	 o	 próprio	matrimonio	 em	 sua	 totalidade,	
um	de	seus	elementos	essenciais	(o	bem	dos	cônjuges	e	a	prole),	
ou,	ainda,	uma	de	suas	propriedades	essenciais	(unidade	e	indis-
solubilidade),	 como,	 também,	 o	 seu	 caráter	 sacramental	 (entre	
batizados).	Quando,	portanto,	existir	uma	vontade	positivamente	
contrária	a	um	destes	aspectos	essenciais	do	instituto	matrimonial	
o	próprio	pacto	matrimonial	seria	nulo,	pois	seria	finalizado	a	algo	
essencialmente	distinto	daquilo	que	o	matrimônio	é.
Esta	possível	razão	de	nulidade	apenas	descrita	é	generica-
mente	chamada	pela	doutrina	e	 jurisprudência	de	simulação ou 
exclusão.	A	diferença	entre	uma	simulação	total	e	uma	exclusão	
parcial	está	na	atitude	da	pessoa	que,	no	primeiro	caso,	rechaça	o	
matrimônio	enquanto	tal	e,	no	segundo	caso,	aceita	o	matrimônio,	
embora	o	matrimônio	que	ela	aceite	não	seja	o	verdadeiro	matri-
mônio,	pois	exclui	algum	elemento	essencial	do	mesmo.
O termo simulação ou exclusão é usado não para indicar a "má 
fé" da parte de quem torna nulo o seu próprio matrimônio, pois a 
pessoa pode agir em boa fé, mas, sim, para indicar a objetiva e 
substancial discrepância entre o que vem externamente declarado 
(a aceitação do matrimônio canônico) e a vontade real da pessoa 
(rejeitá-lo em sua totalidade ou em algum de seus aspectos es-
senciais).
De	um	ponto	de	vista	sistemático	a	simulação	ou	exclusão	
é	classificada	como	um	vício	de	consentimento	para	se	indicar	o	
caráter	não	conjugal	daquele	ato	de	vontade	realizado.	Deve	tra-
tar-se,	como	diz	o	texto,	de	um	ato positivo de vontade,	ou	seja,	
273© Nome da unidade
o	ato	simulatório	deve	constituir	uma	verdadeira	decisão,	por	as-
sim	dizer,	um	"contra-consentimento",	 isto	é,	um	ato	voluntário	
de	uma	força	igual	à	do	consentimento.	Em	outras	palavras,	o	ato	
positivo	de	vontade	não	pode	ser	considerado	como	uma	simples	
falta	 de	 vontade,	 ou	mesmo	apenas	uma	 vontade	negativa.	 Por	
exemplo,	"não	quero	me	casar",	"não	quero	ter	filhos".	O	ato	po-
sitivo	de	vontade	deve	significar	uma	 intenção	positiva,	ou	seja,	
"quero	não	me	casar",	"quero	não	ter	filhos",	etc.
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A exigência de um ato positivo de vontade é importante, pois quem não é capaz 
de fazer um ato positivo de vontade, não é capaz de simular total ou parcialmente 
o matrimônio. Porém, não é possível pretender com um ato positivo de vontade 
algo que previamente não se conhece. Por isso, não é possível que um contra-
ente simule com um ato positivo de vontade o matrimônio, total ou parcialmente, 
sem que saiba que irá fazer uma simulação e que há feito tal simulação. Não é 
preciso, contudo, que saiba que o matrimônio será nulo por causa disso. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Enfim,	observando	atentamente	o	texto	do	cânon	se	perce-
be	que	existem	alguns	tipos	de	simulação,	pois	a	norma	indica	di-
versos	objetos	possíveis	de	um	ato	de	vontade	simulatório.	Assim,	
temos:	a	simulação	ou	exclusão	do	próprio	matrimônio;	a	exclusão	
de	um	elemento	essencial	do	matrimônio	e	a	exclusão	de	alguma	
propriedade	essencial	do	matrimônio.	
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para um aprofundamento dos diversos tipos de simulação previstos pelo CIC 
atual, sugerimos que você leia os seguintes textos: BIANCHI, P. Quando o 
matrimônio é nulo? Guia para sacerdotes, líderes de movimentos familiares 
e fiéis interessados. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 89-199; CAPPARELLI, 
J. C. Manual sobre o matrimônio no direito canônico. São Paulo: Paulinas, 
2004, p. 111-123; LLANO CIFUENTES, R. Novo direito matrimonial canôni-
co. Rio de Janeiro: Marques Saraiva, 1988, p. 370-390; HORTAL, J. O que 
Deus uniu. São Paulo: Loyola, 1986, p. 114-119. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O matrimônio condicionado (cân. 1102) 
Celebra	o	matrimônio	sob	condição	o	contraente	que	subor-
dina	a	eficácia	jurídica	do	consentimento	que	presta	(a	sua	decisão	
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274
de	se	vincular	a	alguém	com	o	matrimônio)	à	existência	ou	à	não	
existência	de	um	fato	futuro	e	incerto,	de	um	fato	passado	ou	de	
um	fato	presente.	
O	aspecto	mais	típico	do	fenômeno	da	condição,	do	ponto	
de	vista	da	eficácia,	é	o	nexo	instituído	(pela	pessoa	que	a	impõe)	
entre	o	objeto	dessa	condição	(a	circunstância	específica	que	se	
deseja	ou	não)	e	o	consentimento	matrimonial.	A	pessoa	faz	de-
pender	a	origem	do	 laço	matrimonial	 (que	é	o	efeito	próprio	do	
consentimento,	mesmo	já	prestado),	ou	o	fato	de	permanecervin-
culada	a	esse	laço,	de	uma	circunstância	que	é	objeto	da	condição.	
O	cânon	1102	toma	em	consideração	os	três	tipos	de	con-
dição:	 de	 futuro,	 de	 passado	 e	 de	 presente.	 Vejamos	 cada	 uma	
delas...
A	condição de futuro	é	constituída	por	um	fato	futuro	e	in-
certo.	Este	tipo	de	condição	tem	um	efeito	suspensivo	em	relação	
aos	efeitos	do	consentimento,	pois	a	pessoa	embora	preste	o	seu	
"sim",	acaba	por	manter	em	suspenso	sua	obrigação	efetiva	em	
relação	ao	vínculo	matrimonial	até	que	tenha	sido	cumprido	o	fato	
colocado	como	condição	para	o	próprio	matrimônio.	Por	exemplo,	
Maria	diz	para	 João	que	 somente	 se	 sentirá	unida	de	 fato	a	ele	
quando	ele	arrumar	um	emprego	fixo	e	estável.	Neste	caso,	o	con-
sentimento	dado	ficará	suspenso	até	a	realização	de	tal	condição	
e,	portanto,	inacabado.	O	CIC	atual	acertadamente	estabelece	que	
o	matrimônio	celebrado	sob	condição	de	futuro	é	nulo,	pois,	na	
verdade,	não	há	um	verdadeiro	consentimento.
A	condição de passado	e	de presente	distingue-se	da	con-
dição	de	futuro	no	sentido	que	esta	última	deixa	em	suspenso	o	
consentimento	até	que	o	fato	condicionante	se	cumpra	no	futu-
ro,	sendo,	portanto,	um	fato	incerto.	Isso	não	ocorre	na	condição	
de	passado	e	de	presente,	pois,	neste	caso,	o	 fato	 já	é	certo	no	
momento	 em	 que	 o	 consentimento	 é	 prestado,	 embora	 escape	
ao	conhecimento	da	pessoa	que	estabelece	uma	condição	a	esse	
respeito.	Por	exemplo:	se	Paula	falasse	a	João:	"Só	me	caso	com	
275© Nome da unidade
você	se	não	tiver	antecedentes	criminais"	ou,	então,	"Só	me	caso	
com	você	se	não	tiver	uma	doença	contagiosa"	estaria	sujeitando	
o	próprio	consentimento	matrimonial	a	uma	condição	de	passado	
ou	de	presente,	 respectivamente.	Ora,	 ter	ou	não	antecedentes	
criminais	ou	ter	ou	não	ter	saúde	constituem	fatos	certos	e	obje-
tivos	a	partir	do	momento	em	que	a	condição	referente	a	 isso	é	
colocada.	Então,	a	eficácia	que	se	pretende	dar	ao	próprio	consen-
timento	e,	portanto,	à	validade	do	vínculo	matrimonial,	deriva	de	
fatos	certos	e	objetivos	no	momento	em	que	o	consentimento	é	
prestado,	o	que	não	ocorre	com	a	condição	de	futuro	que,	por	isso,	
deixa	o	consentimento	em	suspenso.	
Diante	do	exposto	fica	claro	que	existindo	uma	condição	de	
passado	ou	de	presente	o	matrimônio	que	tenha	correlação	com	
tais	condições	será	válido	ou	não	à	medida	que	exista	ou	não	o	fato	
que	é	objeto	da	condição	no	momento	em	que	o	consentimento	
é	prestado.	Para	 se	obter	o	conhecimento	da	 invalidade	do	ma-
trimônio	será	fundamental	que	fique	demonstrado	com	absoluta	
certeza	a	situação	de	fato	da	qual	dependerá	a	eventual	nulidade	
originária.
Convém	observar	que	a	condição	de	passado	e	de	presente	
para	invalidar	um	matrimônio	deve	ser	colocada	mediante	um	ato	
positivo	de	vontade	que	no	momento	da	prestação	do	consenti-
mento	deve	estar	presente	como	atual	ou	virtual	(colocado	ante-
riormente	e	não	retratado	pela	pessoa,	persistindo,	portanto,	no	
presente).
Tendo	 esclarecido	 o	 significado	 da	 condição	 podemos	 nos	
perguntar	qual	seria	a	ratio da	norma,	pois	muitos	ordenamentos	
civis	não	atribuem	valor	às	condições	eventualmente	estabeleci-
das	para	o	consentimento	matrimonial.	
Na	legislação	latina	a	única	causa	eficiente	do	matrimônio	é	
o	consentimento	e,	portanto,	não	é	possível	negligenciar	uma	con-
dição	 eventualmente	 estabelecida	 ao	 próprio	 consentimento.	 Em	
outras	palavras,	o	legislador,	que	considera	que	o	matrimônio	se	ori-
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
276
gina	do	consentimento	das	partes,	tem,	coerentemente,	interesse	
em	confirmar	o	que	as	partes	realmente	quiseram.	Se	uma	das	par-
tes	no	pacto	conjugal	pretendeu	privar	substancialmente	de	eficácia	
o	próprio	consentimento	exterior,	condicionando-o	à	existência	ou	
não	de	um	determinado	fato,	o	ordenamento	só	pode	tomar	conhe-
cimento	disso	e	não	pode	presumir	que	 isso	não	seja	válido	nem	
que	essa	substancial	falta	de	intenção	matrimonial	seja	suprida,	pois	
o	consentimento	não	pode	ser	suprido	por	ninguém.	
No	parágrafo	terceiro	do	cânon	temos	uma	norma	de	índole	
pastoral	e	de	prudência	que	não toca	na	validade	do	matrimônio	
e	que	consiste	em	exigir	uma	licença	escrita	do	Ordinário	do	lugar	
para	a	celebração	de	matrimônios	sob	condição	de	passado	ou	de	
presente.	Trata-se	de	uma	exigência	de	pouco	resultado	prático.	
Se	uma	pessoa	quer	colocar	uma	condição	para	prestar	o	consen-
timento	matrimonial,	condição	esta	que	muitas	vezes	não	é	nobre,	
dificilmente	manifestará	isso	à	Igreja	para	obter	uma	licença	escri-
ta,	correndo	o	risco	de	ter	o	seu	pedido	negado.		
A violência ou o medo (cân. 1103) 
O	cân.	219	afirma	que	todos	os	fiéis	têm	o	direito	de	ser	imu-
nes	de	qualquer	coação	na	escolha	do	estado	de	vida.	Aplicando	
este	princípio	geral	o	cân.	125	§2	afirma	que	o	ato	jurídico	realiza-
do	por	medo	grave,	incutido	injustamente	ou	é	inválido,	se	assim	
o	diz	o	direito,	ou	é	válido,	se	o	direito	não	diz	que	é	inválido,	mas	
pode	ser	rescindido	por	sentença	judicial.	
O	cân.	1103,	em	consonância	com	os	cânones	anteriormente	
citados,	afirma	que	é	inválido	o	matrimônio	contraído	por	violên-
cia	ou	medo	grave	proveniente	de	causa	externa,	ainda	que	incuti-
do	não	propositalmente,	para	se	livrar	do	qual	alguém	seja	forçado	
a	escolher	o	matrimônio.	
A	violência	física	é	aquela	ação	efetivamente	tomada	por	al-
guém	que	materialmente	constrange	o	outro	a	fazer	algo	que	não	
deseja,	não	tendo	a	pessoa	constrangida	nenhuma	possibilidade	
277© Nome da unidade
de	se	opor	à	ação	violenta,	o	que	representaria,	sem	dúvida,	um	
defeito	completo	de	consentimento,	provocando	um	matrimônio	
nulo.	Hoje	em	dia	este	tipo	de	violência	no	caso	do	matrimônio	é	
um	pouco	mais	raro,	embora	existente.	Já	o	medo	é	uma	realidade	
bem	mais	frequente.
O	 medo	 é	 uma	 perturbação	 psíquica,	 ou,	 mais	 concreta-
mente,	é	uma	perturbação	da	mente	causada	pelo	conhecimento	
de	um	mal	presente	ou	pela	previsão	de	um	mal	futuro.	Assim,	o	
medo	é	sempre	algo	subjetivo	ou	interno	a	quem	o	padece.	Contu-
do,	a	fonte	do	medo	pode	ser	interna	ou	externa	a	quem	o	padece.	
E	é	exatamente	em	relação	à	sua	procedência	que	o	medo	é	classi-
ficado	como	"ab intrinseco"	e	"ab extrinseco".	
Por	medo	ab intrinseco	entende-se	aquele	proveniente	de	
uma	causa	interna	ao	paciente	(como	um	remorso	de	consciência,	
sentimento	de	culpa,	uma	obsessão,	uma	autossugestão	etc.)	ou	
mesmo	de	uma	causa	"externa"	ao	paciente	que	não	provém	de	
uma	ação	livre	ou	voluntária	(como	um	terremoto,	uma	tempesta-
de).	Já	por	medo	ab extrínseco,	entende-se	aquele	proveniente	de	
uma	causa	externa	ao	paciente,	livre	ou	voluntária.	
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Em base à distinção entre medo ab intrínseco e medo ab extrinseco podemos 
afirmar que normalmente a fonte do medo ab intrinseco é interna, ou seja, se 
encontra no próprio paciente, mesmo que dela se sirva outra pessoa para forçá-
-lo a um matrimônio que não deseja. Seria o caso, por exemplo, do diretor espi-
ritual que, valendo-se da religiosidade e do escrúpulo de seu dirigido, insistisse 
nas consequências perniciosas de ordem espiritual que o mesmo teria caso se 
negasse a casar. Neste caso, o mal temido pelo paciente possui uma nature-
za intrínseca a ele, em razão de ser religioso e escrupuloso e, portanto, não é 
causado pelo diretor espiritual que apenas se vale do que já existe para forçá-lo 
a escolher o que não gostaria. Já o medo ab extrínseco, normalmente possui 
uma fonte externa, ou seja, se encontra fora do paciente e, portanto, é causado 
por uma ou mais pessoas mediante um comportamento positivo, ainda que não 
direta e intencionalmente voltado para extorquir o consentimento matrimonial. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O	legislador,	ao	considerar	o	medo	ab extrínseco	como	cau-
sa	de	nulidade	do	matrimônio,	não	 faz	qualquer	distinção	entre	
medo	direto	(inferido	com	a	intenção	de	arrancar	o	consentimento	
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278
matrimonial	da	pessoa)	e	medo	indireto	(inferido	para	conseguir	
da	pessoa	algo	distinto	da	decisão	de	casar,	mas	que,	de	 fato,	a	
levou	a	tomar	esta	decisão).	
Outro	ponto	importante	é	que	o	medo	deve	ser	grave.	Aqui	
nos	perguntamos:	o	que	deve	ser	grave?	O	medo	sofrido	pela	pes-
soa?	A	coação	que	nela	produziu	o	medo?	A	coação	e	o	medo	si-
multaneamente?
Na	consideração	desta	gravidade	se	fazem	presentes	aspec-
tos	objetivos	e	subjetivos.	A	justificativa	desta	gravidade	origina-
riamente	deve	ser	buscada	na	coação	que,	por	sua	vez,	irá	gerar	
o	medo,	embora	tal	coação	produza	efeitos	diferentes	dependen-
do	de	quem	padece	o	medo.	Atualmente,	a	jurisprudência	serve-
-se,	para	efeito	de	avaliar	a	gravidade	do	medo,	de	uma	medida	
subjetiva:	é	considerado	grave	o	medo	que,	num	caso	concreto,	
tenha	 efetivamente	 constituído	 a	 razão	 pela	 qual	 determinada	
pessoa	celebrou	um	matrimônio	não	desejado.	Desse	modo,	são	
levadas	em	consideração	as	circunstâncias	ambientais	(a	cultura,	
por	 exemplo)	 e	 pessoais	 dos	 protagonistas	 dos	 acontecimentos,	
como,	por	exemplo,	o	caráter	de	quem	coage	e	o	de	quem	sofre	a	
coação,	seu	mútuo	relacionamento,	como,	também,	a	natureza	da	
ameaça	feita.	Portanto,	será	grave	a	coação	quando	esta	constituir	
a	efetiva	causa	do	consentimento.
Convém	ter	presente	que	entre	o	medo	e	a	eleição	do	matri-
mônio	deve	haver	uma	relação	de	causa	e	efeito	no	sentido	de	que	
o	medo	tem	que	ser	a	causa	determinante	da	eleição	do	matrimô-
nio	que	sem	esta	causa	não	teria	sido	se	realizado.	Para	isso,	não	
se	requer	que	o	sujeito	que	padece	o	medo	julgue	que	a	eleição	do	
matrimônio	seja,	de	fato,	o	único	modo	para	evitar	o	mal	que	teme;	
basta	que	a	pessoa	julgue	que,	em	suas	concretas	circunstâncias,	a	
eleição	do	matrimônio	é	o	único	meio	moralmente	possível	e	efi-
caz	para	evitar	esse	mal.	Em	outras	palavras,	não	é	necessário	que	
a	única	saída	seja	o	matrimônio,	mas	basta	que	a	pessoa	 julgue	
que	a	eleição	do	matrimônio	é	para	ela	um	meio	moralmente	pos-
279© Nome da unidade
sível	e	eficaz	para	evitar	o	mal	que	teme,	mesmo	estimando	que	
existam	outros	meios	para	evitar	o	mal	temido,	mas	que,	porém,	
ou	não	são	humanos	(como	seria	o	caso	de	 levar	a	seus	pais	ao	
tribunal)	ou	são	moralmente	ilícitos	(como,	por	exemplo,	fazer	um	
aborto	e	se	livrar	da	gravidez	para	não	ter	que	se	casar).	
6. A FORMA DA CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO 
(CÂNN. 1108-1123)
A	eficácia	jurídica	de	um	consentimento	nupcial	intrinseca-
mente	íntegro	depende	não	apenas	da	habilidade	jurídica	dos	con-
traentes	(ausência	de	impedimentos	e	capacidade	de	consentir),	
mas,	também,	de	uma	correta	aplicação	das	regras	inerentes	à	sua	
manifestação	externa	e	que	é	chamada	de	forma canônica.	
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
A origem histórica da exigência de uma forma celebrativa para a validade do 
matrimônio se encontra no Concílio de Trento (Decreto Tametsi de 11 de novem-
bro 1563) que com isso procurava garantir a publicidade jurídica do casamento, 
evitando, desta forma, os matrimônios clandestinos. Antes do Concílio de Trento 
não havia tal exigência para a validade do matrimônio, embora a Igreja sempre 
tenha proibido a celebração privada do matrimônio. Este decreto não foi promul-
gado para a Igreja universal, mas, apenas, para alguns territórios ((Espanha, 
França) e trouxe algumas dificuldades práticas que não é o caso de mencionar. 
Posteriormente, em 1907, o Decreto Ne temere, reordenou toda a matéria rela-
tiva à forma canônica e, finalmente, o CIC de 1917 deu a ela uma redação final 
que permaneceu em vigor até o CIC de 1983. Hoje tal publicidade poderia ser 
garantida mediante outras formas previstas pelo ordenamento civil. Contudo, a 
Igreja optou por manter em sua legislação a obrigação da forma canônica para a 
validade do casamento, seja para assegurar a evidência do significado religioso 
das núpcias, pois vivemos em um contexto social e cultural no qual se verificam 
tendências de legitimação de uniões informais e de uniões similares às matrimo-
niais, reconhecendo-se a estas os mesmos efeitos que se reconhecem às uniões 
formais e matrimoniais, seja para oferecer aos nubentes um acompanhamento 
pastoral, exercitando um discernimento sobre a autenticidade e liberdade da de-
cisão nupcial. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
É	necessário	operar,	logo	de	início,	uma	distinção	entre	a	di-
mensão	propriamente	jurídica	da	forma	que	podemos	chamar	de	
forma canônica	e	a	sua	dimensão	celebrativa	que	podemos	cha-
mar	de	forma litúrgica.		Esta	última	se	refere	aos	ritos	e	cerimônias	
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280
estabelecidos	nos	livros	litúrgicos	que	regulam	a	celebração	litúr-
gica	do	sacramento.	
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Coerentemente com o princípio exposto no cân. 2, o CIC não se ocupa direta-
mente da forma litúrgica, dando apenas algumas indicações muito sumárias e de 
caráter geral relativas ao lugar da celebração e ao rito a ser observado. Quanto 
ao lugar da celebração, por exemplo, a orientação é que se realize em um edifí-
cio sacro, com uma gradual possibilidade de exceções, em alguns casos sujeitas 
a uma autorização (para os matrimônios sacramentais) e em outros casos permi-
tidas pela própria lei (para os matrimônios não sacramentais). Quanto ao ritual a 
ser utilizado, o CIC nos remete para os livros litúrgicos aprovados.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Já	 a	 forma	 canônica	 compreende	 aqueles	 elementos	 jurí-
dicos	que	estabelecem	diretamente	as	circunstâncias	ou	exigên-
cias	externas	em	que	se	deve	dar	a	expressão	do	consentimento.	
As	duas	dimensões	não se contrapõem,	muito	pelo	contrário,	se	
compenetram,	pois	a	forma	litúrgica	é	o	contexto	interno	no	qual	
a	 forma	 canônica	 se	 coloca	 e	 explicita	 a	 sua	 peculiar	 função	de	
garantir	a	publicidade	da	manifestação	do	consentimento.	De	fato,	
o	objetivo,	tanto	da	forma	litúrgica,	quanto	da	forma	canônica,	é	
rigorosamente	o	mesmo:	a	constituição	do	vínculo	conjugal.	Por	
esta	razão,	é	importante	ter	presente	a	profunda	unidade	que	liga	
a	forma	canônica	e	a	forma	litúrgica.	
A forma canônica ordinária (cân. 1108)
No	primeiro	parágrafo	é	descrita	a	forma canônica ordinária	
em	sua	natureza	 jurídica,	 ao	passo	que	no	 segundo	parágrafo	o	
legislador	esclarece	o	significado	técnico	da	figura	do	assistente.	
Na	descrição	da	forma	canônica	(§1),	encontramos	os	seus	
três	elementos essenciais:
1)	 os	contraentes;
2)	 o	assistente;
3)	 as	testemunhas.	
O	primeiro	elemento	são	os	contraentes,	ou	seja,	aqueles	
que	devem	consentir	e,	portanto,	celebram	realmente	o	próprio	
281© Nome da unidade
matrimônio,	pois	são	os	verdadeiros	ministros	do	sacramento	do	
matrimônio.	Os	contraentes	devem	ter	a	capacidade	de	consentir,	
estar	 livres	de	qualquer	 impedimento	e	estar	presentes	pessoal-
mente	ou	através	de	um	procurador.	
O	segundo	elemento	é	o	assistente legítimo,	figura	central	
da	forma	canônica,	que	é	quem	possui	a	faculdade	para	assistir	ao	
matrimônio	em	nome	da	Igreja.	Segundo	a	doutrina	mais	comum	
se	considera	o	"assistente"	como	uma	testemunha	qualificada	ou	
pública,	 representante	oficial	 da	 Igreja,	 que	 atua	em	 seu	nome,	
não	exercendo	aqui	um	ato	de	potestade	sagrada,	nem	adminis-
trando	um	sacramento,	pois,	na	verdade,	os	ministros	do	matrimô-
nio	são	os	próprios	contraentes.	Os	cânones	seguintes	especificam	
distintos	aspectos	deste	segundo	elemento.
O terceiro	elemento	da	forma	canônica	são	as	testemunhas.	
Esta	exigência	não	é	necessária	nem	pela	natureza	do	ato	e	nem	
pela	sua	publicidade,	mas	o	é	pela	vontade	da	Igreja	que	assume	
um	modo	usual	de	garantir	esta	última.	Nada	indica,	contudo,	que	
se	trate	de	uma	participação	ministerial,	mas	sim	de	testemunhas	
comuns.	O	cânon	não	exige	nas	testemunhas	qualidades	especiais	
(idade,	sexo,	religião,	situação	moral	etc.),	nem	que	atuem	ou	as-
sistam	à	celebração	com	esta	 intenção.	Será	necessário,apenas,	
que	sejam	capazes	de	testemunhar,	ou	seja,	que	tenham	uso	de	
razão	e	que	possam	se	dar	conta	e	constatar	o	que	devem	teste-
munhar.	Não	 é	 nem	mesmo	necessário	 que	 as	 testemunhas	 te-
nham	sido	chamadas	e	encarregadas	de	assumir	tal	função,	basta,	
apenas,	 que	 estejam	presentes	 por	 qualquer	motivo	 e	 que	per-
cebam	o	que	está	acontecendo	para	poder,	 então,	 testemunhar	
sobre	o	ocorrido.	
As	exceções	da	forma,	mencionadas	neste	parágrafo,	não	se	
referem	à	forma	em	si,	mas	sim	a	particularidades,	a	uma	possível	
dispensa	ou	mudança	de	algum	de	seus	elementos.
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282
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Em relação a aquisição, por suplência, da faculdade para assistir ao matrimônio 
em caso de erro comum ou dúvida positiva e provável sobre sua existência, 
aplica-se ao caso o cân. 144; em relação à possibilidade de delegação também 
a leigos, aplica-se o cân. 1112; em relação à forma extraordinária com apenas 
duas testemunhas, aplica-se o cân. 1116; em relação aos matrimônios mistos, 
aplica-se o cân. 1127 §§ 1 e 2. Convém chamar a atenção para o fato de a lei 
prever a possibilidade que uma eventual falta de faculdade (ordinária ou delega-
da) seja supressa pelo próprio ordenamento em situações particulares, como é o 
caso do erro comum e da dúvida positiva e provável a respeito da faculdade de 
assistir. A ratio de tais disposições é a de garantir a conservação e a eficácia de 
um ato jurídico tão importante como o é o matrimônio, nos casos em que o defei-
to de caráter formal não fosse imputável às partes. Tal suplência da faculdade de 
assistência pode ser atuada tanto no caso de um matrimônio singular, quanto no 
caso de muitos matrimônios, celebrados por pessoas hábeis e com um íntegro 
consentimento, mas marcados por uma irregularidade de caráter formal. O erro 
comum concerne aos fiéis que são induzidos por elementos concretos a emitir 
um juízo falso a respeito da competência do ministro sacro assistente (a titulari-
dade do ofício, a delegação recebida, a extensão territorial da competência). A 
dúvida positiva e provável afeta o assistente que está incerto em relação à sua 
competência. Tal dúvida para que possa se beneficiar da suplência deve se ba-
sear em razões positivas (não entra a ignorância ou a negligência) e prováveis, 
ou seja, orienta a pessoa na direção de achar que possui a faculdade.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O	parágrafo	segundo	do	cânon	esclarece	que	"assistir"	sig-
nifica	uma	presença	não	só	 legítima,	mas	ativa.	Não	basta	escu-
tar	 a	manifestação	 do	 consentimento	 dos	 contraentes	 feita	 por	
iniciativa	deles.	Para	a	validade	é	preciso	que	o	assistente	solicite	
e	 receba	o	 consentimento	em	nome	da	 Igreja.	Uma	atuação	do	
assistente	compelida	pela	 força	ou	por	medo	grave	 invalidaria	o	
matrimônio.	A	presença	do	assistente	é	por	esta	razão	de	natureza	
distinta	da	presença	das	testemunhas,	embora	a	presença	de	to-
dos	deva	ser	física	e	simultânea.	Geralmente	não	se	pode	dispen-
sar	desta	forma.	
Na verdade a dispensa somente é só dada em casos excepcionais: 
em perigo de morte, por todo sacerdote ou diácono (cân. 1079); 
nos matrimônios mistos, pelo Ordinário local (cân. 1127 §2); na 
sanatio in radice, o mesmo Ordinário local (cân. 1163 §1 e 1165).
283© Nome da unidade
A faculdade de assistir "ex officio" (cân. 1109-1110) 
O	cân.	1109	trata	da	 faculdade ordinária	para	assistir	vali-
damente	 ao	 matrimônio	 que	 deriva	 daqueles	 ofícios	 eclesiásti-
cos	com	base	territorial.	Por	ofício	possui	tal	faculdade,	além	do	
Papa,	o	Ordinário	local	(cf.	cân.	134	§1)	e	o	pároco	do	lugar,	como,	
também,	o	quase	pároco	(cân.	516	§1),	o	administrador	paroquial	
(cân.	540	§1),	os	presbíteros	aos	quais	é	confiada	uma	paróquia	in 
solidum	(cân.	517	§1	e	543	§1)	e	o	vigário	paroquial	seja	da	paró-
quia	vacante	(cân.	541	§1)	seja	na	ausência	do	pároco	(cân.	549).	
Como	veremos,	por	delegação	destes,	a	pode	ter	ordinariamente	
um	sacerdote	ou	diácono	(cân.	1111§1).	Em	determinadas	condi-
ções	a	pode	ter	um	leigo.	Convém	ter	presente,	ainda,	que	todos	
os	sujeitos	que	possuem	por	lei	a	faculdade	de	assistir	ao	matrimô-
nio	o	fazem	mediante	a	presença	das	seguintes	condições:
a)	 que	sejam	efetivamente	titulares	do	ofício	e	tenham	to-
mado	posse;	
b)	 que	não	tenham	incorrido	em	uma	censura	canônica;
c)	 que	atuem	dentro	dos	limites	territoriais	de	sua	jurisdi-
ção;
d)	 que,	ao	menos,	um	dos	nubentes	seja	católico	e	de	rito	
latino.
O	cân.	1110	trata	do	caso	do	Ordinário	ou	pároco	pessoal,	
afirmando	que,	também,	possuem	competência	para	assistir	"ex 
officio" ao	matrimônio	desde	que,	 ao	menos,	 um	dos	nubentes	
seja	"súdito",	pois	se	a	razão	da	competência	é	pessoal	e	não	ter-
ritorial,	não	existiria	qualquer	competência	se,	ao	menos,	um	dos	
contraentes	não	fosse	súdito	(basta	um,	pois	o	matrimônio	é	indi-
visível!)	do	Ordinário	ou	pároco	pessoal.	
A faculdade de delegar (cân. 1111) 
O	presente	cânon	disciplina	a	delegação	da	faculdade	para	
assistir	ao	matrimônio.
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284
O	parágrafo	primeiro	quem	pode	delegar	e	quem	pode	rece-
ber	tal	delegação.
Pode	delegar	aquele	que	possui	a	faculdade	ordinária	para	
assistir	ao	matrimônio,	enquanto	exerce	validamente	o	seu	ofício	
e	dentro	dos	limites	de	seu	território.	Pode	receber	a	delegação	o	
sacerdote	e	o	diácono,	como,	também,	o	leigo,	observadas,	neste	
último	caso,	as	condições	fixadas	pelo	cân.	1112.
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O sacerdote e o diácono não apenas são hábeis, mas não há qualquer prefe-
rência para a concessão da delegação, pois ambos são figuras "normais" para 
receber tal faculdade. Assim, podem receber a delegação mesmo quando o Or-
dinário local e o pároco estejam presentes e poderiam assistir normalmente o 
matrimônio. Já em relação ao leigo a situação é bem diferente, pois se trata de 
um caso excepcional do qual se ocupara o cân. 1112.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O	parágrafo	segundo	estabelece	os	requisitos	para	a	valida-
de	da	delegação	em	suas	distintas	modalidades.	
A	delegação	pode	 ser geral	 (para	 a	universalidade	dos	 ca-
sos:	todos	os	matrimônios;	para	determinadas	pessoas,	para	um	
determinado	tempo,	para	determinadas	circunstâncias)	ou	espe-
cial (para	casos	singulares).	Em	qualquer	um	dos	casos	deve	ser	
dada	expressamente e a pessoas determinadas	 (nominalmente,	
de	preferência,	ou,	então,	mediante	a	referência	ao	cargo	ou	qua-
lidade).	Se	a	delegação	for	geral,	deve	ser	dada	por	escrito	e	pode	
ser	subdelegada	para	casos	singulares	(cânn.	132§1	e	137	§3).	Já	
a	delegação	especial	não	exige	uma	forma	escrita,	mas	deve	ser	
dada	para	um	matrimônio	determinado	e	somente	pode	ser	sub-
delegada	se	o	delegante	o	permitir	(cân.	137	§3).	
A faculdade delegada cessa pelas mesmas causas e nas mesmas 
circunstâncias que a potestade delegada à norma do cân. 142. A 
delegação da faculdade é um fato jurídico objetivo e não requer o 
conhecimento do delegado ou a sua aceitação. 
285© Nome da unidade
A delegação a leigos (cân. 1112) 
O	cânon	introduziu	no	direito	comum	uma	notável	novida-
de:	se	permite	ao	Bispo	diocesano,	embora	em	um	âmbito	condi-
cionado	e	restrito,	delegar	a	faculdade	de	assistir	ao	matrimônio	a	
leigos	(homens	e	mulheres).	Tal	faculdade	não	está	prevista	pelo	
direito	oriental,	pois	na	tradição	oriental	a	presença	do	sacerdote	
é	fundamental.	Trata-se,	normalmente,	de	delegação	geral.
Em	primeiro	lugar	é	importante	ter	presente	que	a	delega-
ção	concedida	ao	leigo	é	um	caso	excepcional.	As	normas	para	a	
delegação	dos	leigos	são	as	seguintes:
a)	 Não	é	o	Ordinário	do	lugar	ou	o	pároco	que	concede	tal	
faculdade	ao	leigo,	mas,	apenas,	o	Bispo	diocesano.				
b)	 A	delegação	da	 faculdade	ao	 leigo	pode	ser	concedida	
somente	na	falta	de	sacerdotes	ou	diáconos	que	possam	
ser	delegados.	
c)	 O	Bispo	 diocesano,	 antes	 de	 conceder	 adelegação	 ao	
leigo,	deve	obter	o	voto	favorável	da	Conferência	Episco-
pal	e	a	licença	da	Santa	Sé.	
Por	fim,	convém	recordar	que	o	leigo,	mesmo	se	recebeu	a	
delegação	para	assistir	ao	matrimônio,	não	pode	dispensar	dos	im-
pedimentos	e	nem	da	forma	canônica	à	norma	dos	cânn.	1079	§2	
e	1080	§1.
Questões a respeito do estado livre dos contraentes (cânn. 1113-
1114) 
Os	 cânn.	 1113	 e	 1114	 contêm	duas normas	 de	 prudência	
em	relação	ao	estado	livre	dos	contraentes.	O	primeiro	considera	
a	autoridade	que	concede	a	delegação	e	o	segundo	 considera	a	
pessoa	do	assistente.
A	delegação	especial	para	assistir	ao	matrimônio	nem	sem-
pre	a	concede	o	pároco	que	realizou	a	preparação	para	o	matri-
mônio.	Será	assim	quando	o	matrimônio	for	celebrado	na	própria	
paróquia	e	o	pároco	o	delegue.	Não	o	será	quando	o	matrimônio	
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
286
for	celebrado	em	uma	paróquia	distinta	daquele	em	que	a	habilita-
ção	matrimonial	foi	realizada.	Neste	caso,	caberá	ao	pároco	desta	
última	 conceder	 a	 delegação.	 Contudo,	 este	 pároco	não	poderá	
delegar	licitamente	a	faculdade	de	assistir	ao	matrimônio	sem	an-
tes	ter	recebido	a	correspondente	documentação	da	paróquia	de	
origem	em	que	conste	que	nada	se	opõe	à	celebração.	Tal	certifi-
cação	não	é	a	delegação	para	assistir,	mas,	sim,	o	testemunho	de	
que	nada	se	opõe	à	celebração	do	matrimônio	em	sua	paróquia.	
O	cân.	1113	estabelece,	portanto,	que	quem	concede	a	dele-
gação	especial	deve	estar	atento	para	que	sejam	cumpridos	todos	
os	requisitos	impostos	pelo	direito	para	atestar	o	estado	livre	dos	
contraentes,	embora	não	considere	ilícita	ou	inválida	a	delegação	
sem	tal	comprovação.	
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Trata-se, aqui, de uma norma de prudência que não afeta a concessão da dele-
gação. Note-se, que a norma se limita à delegação especial e a razão é obvia: 
a delegação especial, pela própria natureza, diz respeito a um delegante de-
terminado e a um matrimônio determinado para a validade da delegação (cân. 
1111§2). Como se trata, portanto, de um matrimônio determinado e se conhece 
com precisão quem são os contraentes, se exige que, antes da concessão da de-
legação, se observe o que o direito estabelece para comprovar o estado livre dos 
contraentes. Isto, não seria possível no caso da delegação geral, porque no mo-
mento de concedê-la os contraentes não são conhecidos. O modo concreto de 
comprovar o estado livre dos contraentes está fixado pelos cânn. 1066 e 1067.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Se	para	delegar	a	faculdade	de	assistir	é	necessário	consta-
tar	o	estado	 livre	dos	contraentes,	 tanto	mais	o	deverá	ser	para	
assistir.	Por	isso,	o	cân.	1114	estabelece	que	o	assistente	atua	ilici-
tamente	se	não	constar	o	estado	livre	dos	contraentes.	
Informaçao ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Embora o cânon não o diga, trata-se, aqui, daquele que recebeu a delegação es-
pecial, pois embora na última parte do texto se faça referência à delegação geral, 
se trata, ali, de outra questão: da licença do pároco que veremos em seguida. A 
delegação especial é a garantia para o delegado do estado livre dos contraentes, 
pois se presume que quem delegou observou o cân. 1113. Somente no caso de 
graves indícios contrários é que o delegado deverá iniciar junto ao pároco que o 
delegou uma ação de comprovação do estado livre dos nubentes. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
287© Nome da unidade
A licença do Ordinário do lugar ou do pároco (cân. 1115) 
A	paróquia	onde	 se	deve	 celebrar	o	matrimônio	e	onde	o	
pároco	é	competente	para	a	celebração	e	assistência	é	aquela	em	
que	os	contraentes,	ou,	ao	menos,	um	dos	contraentes	possua	do-
micílio	ou	quase	domicílio,	ou	residência	há	um	mês,	ou,	tratando-
-se	de	vagantes,	na	paróquia	onde	na	ocasião	se	encontram.	Desta	
forma,	o	pároco	competente	poderá	ser	um	ou	vários.	A	respon-
sabilidade	concreta	cairá	sobre	aquele	que	for	escolhido	pelos	nu-
bentes,	 pois	 o	 CIC	 atual	 não	 estabelece	 qualquer	 preferência	 e,	
portanto,	 o	 pároco	 escolhido	 não	 poderá	 se	 recusar	 a	 ser	 o	 es-
colhido.	Contudo,	o	matrimônio	também	pode	ser	celebrado	em	
qualquer	outro	lugar,	pois	o	CIC	ao	determinar	a	competência	para	
a	celebração	e	assistência	do	matrimônio	não	pretende	impor	aos	
nubentes	que	se	esposem	em	uma	destas	paróquias	e,	muito	me-
nos,	pretende	proibir	a	escolha	de	outra.	
A	indicação	de	uma	paróquia	tem	por	finalidade	garantir	a	
preparação	ao	sacramento,	o	direito	de	atenção	aos	contraentes,	
facilitar	a	vivência	comunitária	da	fé,	assegurar	o	correto	registro	
do	matrimônio	e	o	conhecimento	da	situação	por	parte	da	paró-
quia.	Para	a	liceidade	da	mudança	se	exige	uma	licença	do	Ordi-
nário	ou	do	(s)	pároco	(s)	competente,	licença	esta	que	não	exige	
causa	alguma.	
A forma para casos extraordinários (cân. 1116) 
Para	certas	situações	em	que	não	é	possível	aceder	a	quem	
possui	a	faculdade	para	assistir	ao	matrimônio	este	cânon	estabe-
lece,	de	um	modo	geral,	a	possibilidade	de	celebrar	o	matrimônio	
válida	e	licitamente	diante,	apenas,	de	duas	testemunhas.	Desse	
modo,	o	 legislador	canônico	procura	evitar	a	privação	do	direito	
natural	ao	matrimônio	por	causa	de	uma	disposição	de	ordem	for-
mal	do	direito	eclesiástico.
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
288
As	palavras	do	cân.	1116	são	claras:
Além	da	forma	canônica	ordinária	prevista	pelo	cân.	1108,	existe,	
também,	a	possibilidade	de	celebrar	válida	e	licitamente	o	matri-
mônio	apenas	diante	de	duas	testemunhas	e,	portanto,	sem	a	pre-
sença	do	representante	oficial	da	Igreja.	
Contudo,	o	texto	estabelece	que	os	contraentes	devam	ter	a	
intenção	de	contrair	um	verdadeiro	matrimônio.	Com	a	expressão	
"verdadeiro	matrimônio"	o	legislador	quer	precisar	que	para	a	va-
lidade	e	liceidade	da	forma	"extraordinária",	independentemente	
da	 cerimônia	 seguida	 (religiosa,	 civil,	 consuetudinária),	 é	 funda-
mental	que	haja	um	verdadeiro	consentimento	conjugal	tal	como	
exigido	para	a	forma	ordinária.	O	objetivo	desta	premissa	é	o	de	
recordar	que	ao	estabelecer	ou	presumir	a	validade	ou	invalidade	
do	matrimônio,	não	basta	considerar	se	exista	ou	não	as	circuns-
tâncias	externas	objetivas	para	o	uso	da	forma	extraordinária,	mas,	
também,	se	existe	ou	não	uma	circunstância	interna	subjetiva,	ou	
seja,	 se	as	partes	querem	ou	não	contrair	um	verdadeiro	matri-
mônio.	Faltando	esta	circunstância	interna	subjetiva	o	matrimônio	
seria	nulo,	não	por	defeito	de	forma,	mas,	sim,	de	consentimento.	
Uma	vez	 afirmada	 a	presença	de	um	verdadeiro	 consenti-
mento	conjugal,	a	situação	exigida	pelo	cânon	para	o	uso	da	forma	
"extraordinária"	é	a	seguinte:
1)	 Não	 é	 possível,	 sem	 grave	 incômodo,	 ter	 o	 assistente	
competente	 (ex officio ou	delegado)	ou	não	é	possível	
ir	até	ele.	
2)	 A	falta	do	assistente	competente	de	per	si	não	é	suficien-
te	 para	 se	 celebrar	 válida	 e	 licitamente	 o	matrimônio	
apenas	perante	as	testemunhas.	É	preciso,	ainda,	que	se	
verifiquem	duas	circunstâncias:
a)	 perigo	de	morte;
b)	 fora	 do	 perigo	 de	 morte,	 contanto	 que	 se	 preve-
ja	que	esse	estado	de	coisas,	ou	seja,	a	falta	de	se	
ter	o	assistente	competente	ou	de	não	poder	ir	até	
ele	sem	grave	 incômodo,	durará	por	um	mês.	Não	
se	exige	que	tal	situação	permaneça	de	fato	por	um	
mês,	basta	que	prudentemente	se	preveja	isso.	Não	
289© Nome da unidade
se	exige,	também,	que	tal	situação	seja	comum,	bas-
ta	que	seja	pessoal.	Esta	situação	de	impossibilidade	
poderia	se	dar,	por	exemplo,	em	caso	de	guerra,	de	
revolução	civil,	de	perseguição,	de	grande	distância	
do	lugar	onde	se	encontra	o	assistente	etc.	
3)	 Se	 em	 algum	 dos	 dois	 casos	 considerados	 pelo	 cânon	
não	é	possível	 ter	ou	andar	ao	assistente	competente,	
para	a	 válida	e	 lícita	 celebração	do	matrimônio	é	 sufi-
ciente	a	troca	do	consentimento	entre	as	partes	diante	
de	testemunhas	(ao	menos	duas).
O	parágrafo	segundo	estabelece

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