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DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL NA PRÁTICA DE ENSINO, REFLEXÃO SOBRE SER PROFESSOR DAS CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS.

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DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: NA PRÁTICA DE ENSINO, 
REFLEXÃO SOBRE SER PROFESSOR DAS CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS. 
 
 
Daniela Guimarães (UFRJ) 
 
 
RESUMO: 
Neste texto, o estágio que acontece no interior da Prática de Ensino é tomado como 
campo de pesquisa sobre a formação de professores para a Educação infantil e, de modo 
especial, sobre a discussão das peculiaridades da docência na Educação infantil. Ao 
longo de 1 ano de trabalho, no curso da disciplina Prática de Ensino na Educação 
Infantil em uma Universidade federal brasileira, reunimos registros sobre o processo 
formativo nas atas das aulas, planejamento de regências e relatórios finais, produzidos 
pelos estudantes; também, reunimos registros em nosso caderno de campo, tendo em 
vista que ocupamos os dois lugares, de professora e pesquisadora de nossa prática. A 
documentação mostra narrativas das alunas sobre as situações observadas e 
experienciadas no estágio. Neste material, destacou-se a discussão sobre concepções de 
infância e o olhar para a criança no contexto educativo; a tensão entre o criticismo em 
relação às práticas do professor regente e a busca de entender os sentidos destas 
práticas; a reflexão sobre a diretividade do fazer pedagógico e as possibilidades de uma 
pedagogia indireta; além de outros aspetos metodológicos da prática na Educação 
Infantil que permitem focalizar qual a intencionalidade pedagógica neste contexto 
educativo. Essas questões se mostram muito importantes tendo em vista enfrentar os 
desafios sociais que constituem a Educação Infantil historicamente; a saber, desviar da 
perspectiva instrucional e assistencialista. Assim, é especialmente relevante o 
movimento de discutir as especificidades da docência na Educação infantil e as 
peculiaridades da formação inicial. 
Palavras chave: docência; formação inicial; educação infantil. 
 
 
A educação implica uma responsabilidade para com linguagem (...) 
implica também uma responsabilidade com os novos; isto é, com 
esses seres humanos que, na linguagem de todos, têm que tomar a 
palavra, sua própria palavra (LARROSA J., 2001, p.293). 
 
As ideias de Larrosa expressam um importante desafio para a educação das 
crianças e para a formação dos professores. Trata-se de compreender a educação-
formação como prática social de mergulho na corrente da linguagem, apropriação de 
marcas culturais constituídas historicamente e reinvenção de ações e práticas. Ou seja, 
no campo das ações subjetivas, a partir das referências sociais, ações-palavras do outro, 
o desafio é viver o processo de constituição das próprias referências; no campo das 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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práticas institucionais, trata-se de analisar os modelos pedagógicos construídos 
historicamente, tomando-os de forma crítica, tendo em vista reinventá-los. 
Na formação inicial de professores, que acontece especialmente na Prática de 
Ensino, espaço/tempo onde, de forma geral, realizam-se os estágios dos cursos de 
Pedagogia, esta é uma provocação. Neste contexto, os estudantes, futuros pedagogos-
professores, são convidados a entrar em contato com práticas de outros professores, 
práticas instituídas, ao mesmo tempo em que experimentam o questionamento de suas 
próprias visões de criança e da Pedagogia da Educação Infantil. Formar-se professor 
relaciona-se com refletir sobre práticas vigentes e experimentar a autoria (o que 
acontece em momentos de co-participação e regência nos estágios). 
A partir das contribuições de Pimenta e Lima (2011), consideramos o estágio 
(dentro da Prática de Ensino) como possibilidade de aproximação reflexiva, intencional 
e envolvida do estudante em relação à realidade na qual atuará. A Prática de Ensino é 
espaço de fundamentação teórica, produção de conhecimento, diálogo e consideração de 
possibilidades de intervenção na realidade. De acordo com Schon (1992), considera-se a 
formação baseada numa epistemologia da prática, valorização da prática profissional 
como momento de construção de conhecimento sobre a docência, sobre metodologias 
de trabalho. Neste caminho, coloca-se em jogo concepções de infância, papel do 
professor no cotidiano e formas de organização da prática pedagógica. 
O campo de estudos acerca da formação de professores na Educação Infantil 
aponta que um dos desafios da formação, especialmente ao nível da Universidade, 
tradicionalmente verbalista e disciplinar, é desviar do tecnicismo (centramento do 
trabalho nas técnicas para ensinar) para atingir uma perspectiva crítica e reflexiva, o 
que envolve uma aproximação das realidades concretas. (KISHIMOTO 2002). 
De modo geral, o processo de formação “coloca o aluno em contato com livros 
(...), mas pouco se vai à realidade, às escolas, para observar e aprender no contexto 
como se processa a relação ensino-aprendizagem” (KISHIMOTO 2002, p.109). 
Esta perspectiva contribui para que possamos considerar os espaços de formação 
também como espaços de discussão sobre as peculiaridades das práticas e sobre a 
identidade docente. Ou seja, nas palavras dos professores em formação, a partir da 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 2
02565
expressão de suas questões, de seus dilemas, de suas perplexidades, emoções e ideias, é 
possível discutir tensões na construção do de ser professor. 
Neste texto, o objetivo é trazer alguns elementos para a discussão da identidade 
da docência (do docente) na Educação Infantil, analisando registros dos estudantes e da 
professora orientadora da Prática de Ensino na Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
Ao longo de 1 ano de trabalho, reunimos uma documentação sobre o processo 
formativo nas atas das aulas, planejamento das regências e relatórios finais, produzidos 
pelos estudantes; também, reunimos registros no caderno de campo da orientadora-
professora da Prática de Ensino. Neste material, buscamos destacar modos de trabalho 
com as crianças e os debates acerca da docência na Educação Infantil. 
Vale destacar que na referida Universidade, a Prática de Ensino na Educação 
Infantil acontece no 7º período, em 180 horas de trabalho que se dividem em 120 horas 
de experiência de estágio, nas escolas e creches parceiras; e 60 horas/aula na 
Universidade, distribuídas em 15 encontros. Nestes encontros, as experiências vividas 
nos campos de estágio são apresentadas e problematizadas; mas, também, acontece 
estudo e reflexão sobre textos teóricos que fundamentam as experiências e discussões. 
Pimenta e Lima (2011) chamam a atenção para a importância de tomar o estágio 
como pesquisa e a pesquisa no estágio. Neste trabalho, caminhamos em sintonia com a 
proposta de tomar o estágio como pesquisa, espaço de reflexão com futuros professores 
em formação inicial sobre práticas vigentes nas instituições parceiras da Universidade. 
Dividiremos o texto em duas partes. Primeiramente, mostramos a relevância da 
discussão da identidade da docência no campo da Educação Infantil, a partir das 
produções de pesquisa e das referências legais do próprio campo. Em seguida, 
apresentamos e analisamos os registros das experiências de formação na Prática de 
Ensino, mostrando como modos de ser professor constituem-se na exposição dos 
alunos-estudantes de Pedagogia sobre as experiências no estágio e como são 
reinventados nos planejamentos de regências e nas reflexões dos relatórios finais. 
É importante salientar que, neste trabalho, tanto a concepção de formação 
(inicial) como a concepção de prática pedagógica com as crianças fundamenta-se numa 
visão de linguagem como prática social, discursiva, produzindo subjetividade, caminho 
de construção de sentidos dos sujeitos sobre eles mesmos e sobre o mundo. Na 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de ProfessoresEdUECE- Livro 2
02566
Universidade, colocando-se como sujeitos do discurso, os estudantes enunciam 
compreensões das práticas, organizando-as e reelaborando-as em suas palavras. Esta 
concepção de linguagem apóia-se principalmente na Filosofia da Linguagem de Bakhtin 
(1992). 
Na busca da identidade/alteridade do docente da Educação Infantil: a distância 
entre discursos, legislação e realidades. 
A LDB de 1996 estabelece a Educação Infantil como 1ª etapa da Educação 
Básica, convocando a realidade brasileira na organização de fazeres e formulação de 
políticas que busquem garantir o direito das crianças à qualidade no cotidiano das 
instituições que trabalham com as crianças de 0 a 6 anos. 
A partir da História da Educação Infantil no país, podemos afirmar que o modelo 
assistencialista/higienista de atendimento e o modelo escolar transmissivo/instrucional 
tensionam-se no movimento de busca da especificidade educacional de creches e pré-
escolas (KHULMANN, 1998). Ao mesmo tempo, diversos estudos apontam que a 
educação é prática sócio-cultural, afastando-se da perspectiva assistencialista e 
preparatória (KRAMER, 2009a). 
Hoje, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil/2009 
estabelecem que a criança é o centro do planejamento curricular na Educação Infantil e 
o eixo do trabalho coloca-se a partir de experiências com a linguagem, as interações e as 
brincadeiras. 
Por outro lado, nas práticas, são recorrentes as ações disciplinadoras e uma forte 
presença da “cultura escolar” (rituais e normas instituídos) de comportamento que 
obscurecem as expressões e produções de sentidos das crianças (KRAMER, 2009b). 
Em recente estudo numa creche pública da Cidade do Rio de Janeiro, buscamos 
conhecer e compreender as relações entre crianças e adultos, evidenciando a potência 
dos bebês nestes contatos. Registramos e analisamos os sentidos que as crianças 
constituem com seus corpos, gestos e palavras; destacaram-se a imitação, oferta de 
objetos, apontar, trocar olhares, dentre outros atos comunicativos. Também, observamos 
que estas iniciativas de contato das crianças ficam obscurecidas por práticas 
automatizadas e individualizantes. Constatamos que no contexto da creche, de modo 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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geral, “o poder sobre a vida sobrepõe-se à potência de vida das crianças” 
(GUIMARÃES, 2011, p.121). 
Ou seja, na pesquisa que focaliza a criança e as práticas, observamos que ao 
mesmo tempo em que há uma legislação avançada no campo da Educação Infantil, 
observa-se fragilidade em termos de recursos técnicos e humanos no cotidiano das 
instituições. Ou seja, o dia a dia é caracterizado por rotinas rígidas, “trabalhinhos” 
descontextualizados e centrados no treinamento de habilidades, além do cuidado como 
conjunto de ações instrumentais sobre as crianças. 
Por outro lado, pesquisas que focalizam a identidade docente no campo da 
Educação Infantil ajudam a compreender o cenário de tensão das práticas, discutindo a 
precariedade e fragilidade que marcam historicamente a profissão. Nunes (2000) 
identifica três tipos de atuação com as quais estas profissionais se identificam: faxineira, 
mãe e professora. Numa investigação realizada ainda nos anos 90, quando o 
atendimento às crianças de 0 a 3 anos acontecia tendo como mantenedores os órgãos de 
assistência, a autora analisa a relação com o doméstico e a desqualificação social que 
marca o trabalho na creche. Cerisara (2002) destaca que a identidade profissional da 
educadora de creche constitui-se no feminino, trazendo marcas dos processos de 
socialização das mulheres. Em nossa sociedade, o feminino tem como eixo o doméstico 
e a maternagem, características menos valorizadas culturalmente, o que acaba por 
desdobrar-se numa menor valorização de quem trabalha com as crianças pequenas. 
O lugar da subordinação e desqualificação marcam o trabalho docente, 
somando-se a não especificidade do papel do professor. Em estudos atuais, 
especialmente na realidade do Rio de Janeiro, Barros, Scraminingnon, Chamarelli & 
Castros (2013) acrescentam outras questões à discussão da identidade do profissional 
que trabalha com as crianças na Educação Infantil, especialmente com as crianças de 0 a 
3 anos. Apontam a inadequação da formação inicial, tendo em vista o que estabelece a 
LDB 1996. Sublinham a multiplicidade de nomes sobre os quais são reconhecidos estes 
profissionais que atuam com as crianças pequenas (professores, recreadores, 
estimuladores, agentes auxiliares, etc), o que marca a contradição entre cargos e 
funções; ou seja, profissionais com mesmas funções possuem cargos e formações 
diversos. As autoras afirmam que a formação da identidade profissional está associada à 
formação de uma identidade institucional. A frágil caracterização das creches, em 
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especial, como instituições educacionais, fragiliza também a dimensão profissional dos 
professores e outros profissionais que exercem função docente nestas instituições. 
Campos, Wiggers & Fullgraf (2006), a partir do levantamento de resultados de 
pesquisas empíricas acerca da qualidade da educação nas instituições de educação 
infantil (entre 1996 e 2003), destacam que os principais aspectos relacionados à 
qualidade são as propostas pedagógicas e práticas educativas; condições de 
funcionamento; relação com as famílias e formação de professores. A formação aparece 
como fragilidade e demanda, tendo em vista a inespecificidade da profissão, a tendência 
a assimilar-se às tarefas domésticas ou à escola de ensino fundamental. 
A partir destas constatações, é urgente pesquisar e compreender os sentidos que 
os professores em formação constituem sobre as práticas pedagógicas, tendo em vista 
também refletir sobre elas e alterá-las. Hoje, tendo em vista a exigência da formação 
docente para o trabalho pedagógico com as crianças de 0 a 6 anos, como as marcas do 
doméstico, da maternagem ou do modelos transmissivos/instrucionais são rompidos ou 
re-significados? 
O processo de construção da identidade dos professores das crianças pequenas 
acontece no fazer cotidiano, no diálogo com as marcações históricas do trabalho 
institucional e nas possibilidades de instaurarem-se novos caminhos que vão sendo 
elaborados na produção discursiva e nas ações dos sujeitos em formação. 
Hoje, de acordo com o que prevê a LDB 1996, a maior parte dos professores das 
crianças de 0 a 6 anos é formada nas Universidades. Como desenvolver processos de 
formação que equacionem a linguagem como eixo e centro do processo de formação das 
crianças e a linguagem como eixo do processo de formação também dos professores? 
Hoje, interessa-nos investigar a potência das ações dos professores em formação 
nas relações com as crianças pequenas. Como produzem discurso sobre o que fazem? 
Como se organizam nas e para as suas ações pedagógicas? Como podem transformá-las 
a partir de uma reflexão e análise sobre seus sentidos? 
Na Prática de Ensino, perspectivas da docência na Educação Infantil: a 
centralização, a diretividade, a escuta e o diálogo. 
Neste momento, traremos reflexões preliminares sobre desafios da docência e 
das práticas na relação com as crianças de 0 a 5 anos e 11 meses. Estas reflexões 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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constituem-se a partir da documentação dos processos de formação realizada no curso 
de Pedagogia, de modo particular na disciplina Prática de Ensino na Educação Infantil 
da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
Nestes processos, destaca-se a importância do trabalho sobre as concepções de 
criança das alunas-futuras professoras. Percebemos que há um deslocamento de uma 
visão desqualificada do ser criança como tempo do não-saber, para a construção de umavisão da criança como produtora, construtora de sentidos, parceira dos adultos e das 
outras crianças no cotidiano do trabalho pedagógico. No início do período letivo, de 
maneira geral, aparece na fala das estudantes uma relação de desconfiança, impaciência, 
desqualificação das crianças que vai sendo rompida pela surpresa com as suas 
possibilidades. 
Nos primeiros dias de aula na Prática de Ensino, as anotações de campo revelam 
que quando enunciam a expectativa em relação ao estágio, as alunas expõem a 
dificuldade de conversar com as crianças pequenas, a perplexidade diante da diferença 
“parece que falam outra língua”. Afirmam que ficam assustadas porque não têm 
paciência com as crianças. É comum uma sensação de desconforto diante do confronto 
com a diferença, que a relação com a criança suscita. 
Num relato sobre experiências do estágio no início do semestre (2014), uma 
aluna diz: “não vi nada que pudesse elogiar... nenhum direcionamento; não vejo um 
cronômetro para cada coisa acontecer, as coisas vão acontecendo” (B.). De modo 
geral, o olhar das alunas/estagiárias buscam o professor e a diretividade. Outra aluna: 
“vi só a parte do cuidado mesmo. Elas só brincavam, trocar fraldas, iam pro pátio, 
voltavam e só brincavam mesmo. Eu não vi nada de atividade. É difícil pensar no 
educar, nas atividades” (A.). Então, na aula (na Universidade), propusemos que 
redirecionasse o olhar, expondo o que as crianças faziam (era significativo, prazeroso, 
interessante para elas/crianças?). A mesma aluna responde: “ah, vi muito a imaginação; 
perguntei o nome de uma menina e ela disse „Branca de Neve‟. Ela é bem branquinha, 
devem ter chamado ela assim. Aí veio outra e disse: „Não, ela é a Cinderela!’” (A.). 
(Diário de campo das aulas/2014) 
No movimento de observar as práticas, a tendência é ver o professor e se ele não 
tem uma postura diretiva “típica”, não é reconhecido um trabalho, um modo de relação 
com as crianças. De acordo com Rinaldi (2012), a Pedagogia na Educação Infantil 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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constitui-se como uma pedagogia das relações. Neste sentido, é importante atentar para 
o que há entre os adultos e as crianças, os adultos entre si e as crianças entre si. Essa é 
uma provocação no estágio, olhar e perceber o que há entre. Evitar o julgamento do 
professor, sair do criticismo e perceber diferentes formas de intervenção – diretas e 
indiretas – no contato com as crianças. Ao invés de buscar a diretividade, trata-se de 
compreender a intencionalidade pedagógica no contexto educacional. 
Uma situação interessante anotada também no diário das aulas/2014: a aluna 
conta que, de repente, observa as crianças arrastando as cadeiras da sala para a 
janela. Imediatamente, tem o impulso de retirá-las, com a certeza de que vão cair e 
machucar, mas contém-se porque percebe a professora ajudando as crianças na tarefa 
de empurrar cadeiras. Ao observar a conversa entre a professora e as crianças, nota 
que estão falando sobre um peixe que apareceu no pátio naquela manhã; tentam 
observar se é possível vê-lo também da janela (“será que caiu do bico de um pássaro? 
Como apareceu no jardim da escola?”). 
É comum que as crianças sejam identificadas como “agitadas”. Parece que este 
termo traz um sentido negativo para o movimento ativo, curioso e explorador das 
crianças. A formação é um momento de construir um olhar sobre as crianças como 
potentes e capazes; e, também, para os professores e suas diversas formas (muitas vezes 
sutis) de atuar. 
Em outra situação, uma aluna e estagiária surpreende-se com a instituição que 
reconhece na criança o direito de escolha, de saber sobre si mesma. Ela relata que a 
professora enuncia as ações que vai desenvolver no contato com as crianças; diz “posso 
limpar seu nariz?”; “posso colocar o nome no seu desenho?”; “vamos agora para o 
banheiro tomar banho?”. 
Neste contexto, a formação convoca o olhar para a potência das crianças e para 
as diversas faces da ação dos professores. Convoca a que os estagiários observem 
diferentes contornos e ações dos adultos e, sobretudo, convida a que observem as 
crianças e suas ações. Como fruto desta provocação, percebemos nos relatos e relatórios 
finais, singelas descrições de processos de apropriação cultural por parte das crianças. 
Vejamos as palavras de algumas estagiárias: 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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 “o lanche foi suco de limão e fatias de melancia; eu estava sentada na mesa com as 
crianças; Vitoria (3 anos) me pediu um pedaço de melancia; quando eu entreguei, ela 
contou que viu o desenho da Monica e a Magali, que adora melancias (...) ela falou que 
queria mais; ao comer outro pedaço, ficou parada e falou “ olha, parece uma 
cadeira”; de verdade, parecia; continuou a morder e dizia “ agora a cadeira ficou 
mais baixa...” (relatório de I./2013.2) 
“certa vez, enquanto tocava um ritmo de ciranda, comecei a brincar de roda com 
algumas crianças; depois de interromper a atividade com eles, percebi que uma das 
meninas repetia o ato de girar, com os braços esticados, como que dando as mãos; logo 
em seguida, buscou outra criança para rodar com ela; não encontrou resposta positiva 
e pegou uma das bonecas do chão; ficou um bom tempo brincando de roda com a 
boneca” (relatório de C./2013.2) 
Consideramos que o exercício de ver/escutar as crianças deve ser provocado de 
maneira intencional na formação de professores na Educação Infantil. Observar como as 
crianças agem, registrar como iniciam contatos, imitam ou reinventam cenas do 
cotidiano é fundamental para a aprendizagem de ser professor das crianças pequenas, 
tendo em vista que a docência na Educação Infantil é marcada pela sutileza, como 
afirma Tristão (2006), ou por uma pedagogia indireta, como afirmam alguns autores 
italianos. 
As alunas da Prática de Ensino também começam a se incomodar quando os 
projetos ou atividades não parecem contemplar a participação das crianças. Vejamos: 
“no momento inicial do estágio, a escola estava trabalhando com o projeto meios de 
transporte; depois de algumas semanas, uma das professoras disse para mim “ olha, 
vamos começar o projeto sobre cores! Já planejamos as atividades....” Um novo 
projeto estava sendo iniciado, mas não vi manifestação de interesse das crianças sobre 
o tema (...) parece que o tema foi decidido após uma reunião realizada com os adultos 
da instituição” (relatório de M./2013.2). 
Em uma das aulas na Universidade, houve a proposta dos alunos-estagiários 
construírem em grupos encenações de situações típicas do estágio (momentos de roda 
de conversa, lanche, leitura de histórias). O objetivo era trazer à tona práticas com a 
linguagem, o lugar ativo e interativo das crianças. O primeiro grupo encena uma 
situação de roda com as crianças. A professora chega com um saco surpresa, dizendo 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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que tem uma história sobre animais e pede que as crianças adivinhem quais são os que 
estão dentro do saco. Elas começam a falar nomes de bichos e a professor incita, 
perguntando “o que come?”; “onde mora?”; “é grande ou pequeno?” De repente, 
diante de uma cobra (de plástico), uma aluna (que personifica uma criança) diz “minha 
mãe disse que a minha tia é uma cobra”; a aluna professora da cena dramatizada não 
sabe o que dizer. Em outro grupo, também em uma situação de roda, a professora 
começa a enunciar/comandar “crianças, perninhas de chinês”; “vamos sentar na roda, 
em cima do círculo”; “fechem os olhinhos para a oração”; “vamos cantar a 
musiquinha...”; “meninos para um lado e meninas para o outro”; “vocês conhecem os 
meios de transporte? Quais?”. 
Chama a atenção nas cenas dramatizadas que o tom o discurso do adulto é a 
ordenação, a informação ou a explicação.Na primeira cena, as perguntas dirigidas às 
crianças sobre os animais são sempre objetivas, pouco convidativas à narração (“o que 
comem?” “qual a cor?”). Apesar de anunciar que vai provocar uma história, o possível 
encadeamento narrativo não é suscitado pela professora. Quando uma criança enuncia 
algo seu, que pode gerar uma conversa, ou o cotejo com outros pontos de vista, ou 
trocas de impressão, o diálogo é rompido. Na segunda cena, é gritante o disciplinamento 
das crianças; elas cumprem ordens todo o tempo e o tema da conversa é definido pela 
professora. Estas cenas parecem caricaturais, mas convidam a pensar no papel do 
professor como disparador de diálogo, promotor da palavra e da criação de sentidos 
pelas crianças. Como garantir esse papel com formatos tão enrijecidos de relação? 
Outra importante questão que se coloca é a seguinte: se o currículo, a partir das 
DCNEIs/2009, não é focado nos conteúdos e, portanto, o papel do professor não é trazer 
os conteúdos ou temas, o que/como trabalhar? Por um lado, destaca-se a aprendizagem 
de ver as crianças e ler seus interesses, o que produzem, suas trilhas e apropriações do 
mundo. Por outro lado, como provocá-las e ampliar o que “já sabem”? 
Algumas questões sobre os modos de trabalho (metodologias) aparecem. Por 
exemplo, são tematizadas as diferentes formas de organizar o que se tem chamado de 
“trabalho diversificado”. Esta parece ser uma estratégia interessante no movimento de 
descentralização do trabalho pedagógico, pois nem todas as crianças estão fazendo a 
mesma atividade ao mesmo tempo. No entanto, as estagiárias percebem contradições e 
outros modos de centralização por parte dos professores. Noutro prisma, o rodízio de 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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salas também é um ponto discutido. Parece surgir como forma de democratizar a relação 
com o espaço nas instituições, para promover experiências diversificadas no cotidiano. 
No entanto, a forma como esta estratégia é vivida produz o risco da fragmentação do 
trabalho, especialmente, se as mudanças de espaço acontecem somente em função das 
necessidades dos adultos. 
Vejamos os relatos das alunas-estagiárias: 
“a professora distribui materiais nas mesas para as crianças trabalharem; ela bota 
uma coisa em cada mesa – massinha, jogos, livros – e ela fica numa mesa outra mesa 
onde as crianças estão fazendo uns desenhos do Projeto, desenhos sobre falas delas 
anteriores. A professora diz o que a criança deve desenhar. Depois cobra o desenho. As 
crianças desenham o que a professora quer; ela diz “ “agora não é sua vez de ir pra 
essa mesa”; parece uma coisa de reprodução”. (diário de campo 2014) 
 
“as crianças não ficam numa sala só, eles rodam a escola; começam o dia na sala de 
jogos, depois vão para o pátio... e vão mudando, tem a biblioteca; a professora falou 
vocês podem pegar livro; cada um pegou um livrinho, eles sentaram na janela e 
ficaram lendo... lendo não... folheando; mas, de repente, tiveram que sair porque outra 
turma estava na porta” (diário de campo 2014) 
 
O desafio é pensar qual o papel do professor no sentido de fomentar experiências 
de produção de sentidos com as crianças, em formas de organização do trabalho onde o 
tempo institucional não atropele o tempo das crianças, dos processos das crianças. É 
importante perceber a partir de quais perspectivas o professor escolhe estes caminhos de 
trabalho; provavelmente, tentando romper com práticas centralizadoras; mas, por que 
acaba voltando a elas? Estes modelos parecem ser muito enraizados. 
Parece que é difícil sair do lugar da previsão, da valorização mais do produto do 
que do processo, da padronização. Este é um desafio para o planejamento na Educação 
Infantil; ou seja, equacionar abertura e fechamentos; focalizar processos e não somente 
produtos e resultados. 
No planejamento das regências, as estagiárias são convocadas a organizar um 
“plano de aula” ou uma sequência de atividades onde o foco não é o produto, mas o 
desencadeamento de um caminho de criação por parte das crianças. São convidadas a 
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levar um objeto cultural para apreciação das crianças (livro literário; livro informativo; 
fotografia; reprodução de obra de arte; música; imagens; etc). Em seguida devem 
provocar a produção das crianças (modelagem, desenho, texto coletivo, pintura, etc). Ao 
final, promovem um momento de socialização, exposição de cada um, do grupo. A 
intenção é aliar a escuta, a atenção aos sentidos das crianças à produção cultural delas. 
Enfim, o desafio é fazer do processo de formação inicial de professores uma 
oportunidade para tematizar a docência na Educação Infantil, o que é fortalecido quando 
é possível também incluir os professores regentes nos debates. De toda a forma, trata-se 
de viver processos de formação-pesquisa ou pesquisa-formação, onde ao mesmo tempo 
em que se produz reflexão sobre práticas, alterações nas práticas, documenta-se as 
experiências, buscando a qualificação da docência e da formação de professores. 
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