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GESTÃO DE VENDAS E NEGOCIAÇÃO Cristiane Kessler de Oliveira Técnicas de persuasão Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir persuasão. Descrever as principais técnicas de persuasão. Aplicar técnicas de persuasão no processo de gestão e negociação. Introdução No mundo atual, dificilmente um profissional é capaz de conduzir seus negócios sem precisar de mais ninguém. Pelo contrário, as pessoas mais bem-sucedidas possuem uma rede de contatos e sabem quando utilizá- -la em benefício próprio e dos seus negócios. No entanto, não basta colecionar contatos; é preciso ser capaz de conseguir dos outros o que se precisa quando for necessário. Para isso, é fundamental que o profissional possua um bom poder de persuasão. Neste capítulo, você vai compreender o que é persuasão e as princi- pais técnicas utilizadas por gente de negócios. Você também vai entender como essas técnicas podem ser aplicadas na gestão e nos negócios de modo a obter os melhores resultados. 1 O que é persuasão Persuasão é uma característica fundamental para um gestor ou para um pro- fi ssional de sucesso no mundo dos negócios. Trata-se de uma competência muito relacionada ao poder de convencimento que um indivíduo possui, ou a capacidade de levar uma ou mais pessoas a tomar alguma atitude que inicial- mente não tomariam, ou mesmo a mudar de ideia ou de atitude em função do que lhes é apresentado ou dito. Uma pessoa persuasiva faz com que os outros mudem sua forma de pensar ou agir sem sequer perceberem, muitas vezes acreditando que chegaram sozinhos àquela conclusão. Uma acepção do conceito de persuasão é: [...] uma estratégia de comunicação que consiste em utilizar recursos lógico- -racionais ou simbólicos para induzir alguém a aceitar uma ideia, uma atitude, ou realizar uma ação. É o emprego de argumentos, legítimos ou não, com o propósito de conseguir que outro(s) indivíduo(s) adote(m) certa(s) linha(s) de conduta, teoria(s) ou crença(s) (HOUAISS, 2018). Trata-se da capacidade de um indivíduo de conduzir outros a agirem da forma que ele considera mais correta, mais acertada. Isso muitas vezes é necessário no mundo dos negócios. Faz-se necessário utilizar a persuasão, por exemplo, para gerenciar um conflito, ou para obter uma condição melhor junto a um fornecedor, ou mesmo para convencer um cliente de que o produto em questão efetivamente faz o que promete. A persuasão é, portanto, um elemento importante em uma negociação. Parsons (1963, p. 89) refere-se à persuasão como sendo o exercício da influência sobre outros, em que: [...] efetiva-se pelo uso de mecanismos generalizados de interação social, através dos quais atitudes e opiniões são mudadas. Modificar opiniões é basicamente criar no outro emoções ainda não existentes, procurando evocar ou estimular as atitudes adequadas a um objetivo específico, atitudes essas que são usualmente aprendidas no convívio social. Esse exercício de influência é praticado estrategicamente por alguém com amplo conhecimento acerca do comportamento humano e, sobretudo, acerca do modo de agir daquele ou daqueles que pretende persuadir. Para Pascal (1942, p. 185), “[...] persuadir consiste tanto em agradar quanto em convencer; de tal forma, os homens se governam mais pelo capricho do que pela razão”. Assim, pessoas que dizem aquilo que o público quer ouvir tendem a obter mais sucesso na persuasão. A persuasão, portanto, propicia a mudança de comportamento ou de opi- nião em prol do indivíduo que a exerce. No entanto, para que tenha eficácia, é preciso que a outra parte chegue sozinha a conclusão de que aquela ideia ou opinião é sim a mais acertada ou a melhor, pois, de outra forma, pode ser confundida com coerção, o que é bastante negativo para os negócios. Sendo assim, entende-se que o processo de persuasão ocorre quase sempre no inconsciente do persuadido. Ele não percebe que está sendo convencido de alguma coisa ou que está sendo levado por um caminho. Na maioria das vezes, são utilizadas técnicas ou princípios de persuasão, popularmente chamados de gatilhos mentais, que fazem com que o indivíduo aja de determinada forma sem sequer perceber os motivos. Técnicas de persuasão2 É importante deixar clara a necessidade de agir com ética quando se fala em persuasão. Por se tratar de um elemento com grande influência sobre o comportamento das pessoas e grupos de pessoas, é importante que haja um certo comprometimento com o que se afirma ou com o que se leva a outra parte a acreditar. O poder de persuasão é capaz de mover multidões, já tendo sido utilizado inclusive para iniciar guerras e revoluções, uma vez que estas são situações que, na maioria das vezes, requerem apoio popular. Um exemplo de utilização do poder de persuasão para fins bélicos foi a Guerra do Iraque. No ano de 2003, o governo norte-americano obteve o apoio popular de que precisava para invadir o Iraque após a população ser levada a acreditar, por notícias e depoimentos, que o governo iraquiano estava construindo e alimentando um arsenal de armas nucleares. Considerando essa uma grande ameaça à paz mundial, George W. Bush ordenou a invasão do país em questão. No entanto, dois anos mais tarde, em 2005, um relatório divulgado pela CIA, a agência americana de inteligência, reportou que desde 1991 o Iraque não possuía qualquer programa ativo para a construção de armas de destruição em massa, dentre as quais estariam incluídas as supostas armas nucleares. Princípios da persuasão Para que um indivíduo se sinta inclinado a mudar sua forma de pensar ou agir em relação a algo sem se sentir pressionado a isso, são necessários alguns elementos e estímulos, os chamados princípios da persuasão (CIALDINI, 2012). Princípio da amizade ou da afeição Segundo este princípio, os indivíduos são mais propensos a serem infl uen- ciados por aquelas pessoas por quem nutrem um sentimento positivo, uma afeição especial. Amigos, conhecidos, pessoas famosas admiradas pelo seu talento ou pela sua conduta tendem a ter mais facilidade em obter dos outros o que precisam. 3Técnicas de persuasão Princípio da autoridade Cialdini (2012, p. 148) afi rma que “[...] quando há uma fi gura de autoridade, maior é a probabilidade das pessoas agirem de forma obediente, mesmo se essa autoridade for ilegítima”. Isso ocorre porque o ser humano tende instin- tivamente a fazer algo quando lhe for pedido por alguém com reconhecida autoridade. Essa autoridade pode estar relacionada, por exemplo, a poder, conhecimento, fama ou marca. Princípio da validação social As pessoas tendem a seguir caminhos abertos por semelhantes. Quanto mais “popular” for percebido um comportamento ou ideia — ou seja, quanto mais pessoas estiverem pensando assim ou agindo dessa forma —, maior será a tendência de que outros também o façam. A escolha pelo caminho da maioria é feita muitas vezes sem um questio- namento sequer. As pessoas tendem a imaginar que, se tantos outros estão agindo assim, isso deve ser bom ou deve ser certo. Princípio da coerência e compromisso As pessoas tendem a ser coerentes com comportamentos anteriores e com compromissos assumidos previamente. Isso signifi ca, por exemplo, que um indivíduo que dá uma resposta positiva ou concede um favor a outro, tende a fazê-lo novamente se solicitado. Princípio da raridade Quanto menor for a disponibilidade de alguma, mais ela tende a ser disputada pelas pessoas. A sensação de estar correndo risco de perder algo de valor gera rapidamente uma resposta no cérebro, fazendo com que o indivíduo reaja levando em conta mais a emoção que a razão, o que é positivo para a persuasão, por se tratar de algo que ocorre muitas vezes no inconsciente. Princípio da reciprocidade Cialdini (2012, p. 168) afi rma que “[...] a reciprocidade é tão generalizada que, após um estudo amplo, Alvin Gouldner (1960), em parceria com outros sociólogos, relatou que todas as sociedades seguem essaregra”. As pessoas Técnicas de persuasão4 gostam de retribuir favores e gentilezas e, dessa forma, tendem a concordar mais facilmente com alguém ou alguma posição quando algo lhes é ofertado em primeiro lugar. O ser humano tende a se sentir “em dívida” com outrem se algo lhe for concedido inicialmente. Assim, no mínimo será possível obter sua atenção, o que muitas vezes, por si só, já é definitivo. Exemplos acerca de cada um desses princípios serão aprofundados a seguir, ao examinarmos as formas de utilização da persuasão na gestão e nos negócios. 2 As principais técnicas de persuasão Uma pessoa persuasiva, não por acaso, é muito frequentemente alguém bastante popular, que convive bem em sociedade e está sempre rodeada de gente. Trata- -se de alguém que, na maioria das vezes, conhece o seu poder de persuasão e o utiliza com frequência para obter o que deseja. Pessoas assim “utilizam todo encontro social como uma oportunidade para pedir aos outros que satisfaçam seus desejos. Seu índice de sucesso é impressionante” (CIALDINI, 2012, p. 26). A eficácia dos resultados obtidos por pessoas com alto poder de persuasão reside na forma como elas estruturam seu discurso e seus pedidos, empregando palavras cuidadosamente escolhidas para recrutar algum princípio psicológico intenso, de modo a obter uma reação quase automática do cérebro do outro (CIALDINI, 2012). No entanto, por se tratar de um processo, é perfeitamente possível que um indivíduo venha a desenvolver essa capacidade de persuasão utilizando algumas técnicas. Comece de maneira amistosa Para que uma pessoa ou grupo de pessoas possam agir de acordo com o que você tem em mente, é preciso que já de início elas concordem com a introdu- ção de sua proposta. Dessa forma, uma das técnicas mais utilizadas começar falando o que os outros querem ouvir. Os minutos iniciais de uma conversa são fundamentais para que o cérebro daquelas pessoas que formam a audiência analise se o que estão vendo ou ouvindo vale sua atenção. Assim, as primeiras frases e as histórias contadas no início determinarão definitivamente, em termos de persuasão, os resultados obtidos ao final do discurso. 5Técnicas de persuasão Conheça profundamente o público-alvo Para conduzir um discurso utilizando a linguagem adequada e os melhores argumentos, é fundamental conhecer o perfi l do público a quem ele se destina. Assim, é possível escolher entre uma linguagem mais simples ou mais elaborada, por exemplo, ou utilizar exemplos e argumentos mais emocionais ou racionais. De nada adianta, por exemplo, o indivíduo dirigir-se a um grupo de trabalhadores braçais de uma fábrica usando um terno caro e um discurso rebuscado. Isso servirá somente para afastar o interlocutor do seu público, e tudo o que ele disser parecerá distante da realidade, o que dificilmente terá impacto para fins persuasivos. O mesmo vale se o discurso for destinado a um grupo de advogados. Neste caso, a roupa cara, a postura altiva e as palavras “difíceis” terão impacto positivo. Isso porque este perfil de público se aproxima mais de pessoas que agem dessa forma e que tendem a encarar as palavras ditas como sendo corretas, acertadas. Tenha empatia Colocar-se no lugar do interlocutor é outra técnica defi nitiva para a efi cácia da persuasão. Ao vislumbrar a situação pela perspectiva do outro, é possível perceber o impacto potencial que um determinado discurso, argumento ou exemplo terá ao ser utilizado. A empatia também é uma excelente forma de estreitar vínculo entre as partes. Ao perceber no outro a tentativa de vislumbrar a situação sob outra perspectiva, os indivíduos tendem a receber suas palavras de bom grado, o que aumenta as chances de ser persuadido por ele. Desenvolva autoconhecimento Conhecer a si mesmo, saber onde estão suas principais fraquezas e forças, é uma forma de se manter preparado e inabalável ao lidar com outras pessoas. Pessoas que se conhecem a fundo se sentem mais confi antes em situações delicadas, e isso afeta de modo defi nitivo a persuasão. Conheça o assunto a fundo Para ser uma pessoa persuasiva, é muito importante ter credibilidade e parecer seguro acerca do que afi rma. Para isso, a melhor forma é ser um grande conhe- cedor do assunto em questão, seja ele uma ideia, um produto ou uma pessoa. Técnicas de persuasão6 Se, por exemplo, seu discurso for em favor de determinado produto e, por um breve momento que seja, você venha a ficar em dúvida acerca de uma simples especificação, isso pode por a perder toda a ação de persuasão. Por se tratar de algo muitas vezes inconsciente, o processo persuasivo é bastante impactado por percepções desse tipo. Conte histórias O storytelling, ou contação de histórias, é uma técnica bastante utilizada para fi ns de persuasão, motivação e engajamento. São formas de contar histórias, narrativas recheadas de metáforas e imagens que criam signifi cados para os públicos de interesse de uma determinada organização, seja qual for o objetivo dessa comunicação (BOJE, 1995). De acordo com Putnam, Phillips e Chapman (2004, p. 81), a metáfora utilizada nas histórias delineia “a maneira como vemos o mundo e como lhe atribuímos sentido — orientando nossa percepção, conceituação e entendi- mento de uma coisa à luz de outra”. Portanto, quando bem elaborada e bem contada, uma história atrai a atenção dos expectadores e pode influenciar bastante seus modos de pensar e de agir. No entanto, para que isso ocorra, a história precisa ser planejada de acordo com o objetivo que se quer atingir. É preciso que ela desperte já de cara a atenção da audiência. Em seguida, ela precisa prender a atenção criando suspense, emoção e aproximando as pessoas dos personagens. Ao final, é preciso haver um desfecho relacionado à meta persuasiva e que seja intenso a ponto de mudar pensamentos e opiniões e provocar ações. Storytelling é uma ferramenta bastante utilizada no mundo corporativo. Para saber mais sobre o assunto, leia a dissertação de mestrado intitulada “O storytelling na comunicação estratégica: o uso de histórias como técnica de engajamento entre organizações e seus públicos”, de Renard Vasconcelos (2019). O capítulo 6.1 traz utilizações do storytelling para as organizações e fala sobre como construir poder de engajamento e persuasão. Você pode encontrar a referência completa do material ao final deste capítulo, na seção Leituras Recomendadas. 7Técnicas de persuasão Faça com que o outro se sinta importante Todo indivíduo gosta de se sentir importante em determinada situação. Carnegie (1991, p. 86), afi rma que “o nome de um homem é para ele o som mais doce e mais importante que existe em qualquer idioma”. Assim, ao sentir que o orador está atendo às suas reações, ou que o considerou na elaboração do discurso, o ouvinte tende a prestar mais atenção e a se manter favorável ao que é dito. Utilize frases positivas Em vez de reforçar características negativas de algo ou alguém, obtêm-se me- lhores resultados com palavras e adjetivos positivos. Neurocientistas afi rmam inclusive que o cérebro humano tende a rejeitar ideias e frases que contenham palavras negativas e a palavra não propriamente dita. Se alguém, em um auditório, solicitar que as pessoas presentes não pensem em um elefante verde segurando uma banana na tromba, muito provavelmente um grande número de pessoas terá exatamente essa imagem em mente naquele momento. Use a comunicação em favor da persuasão A comunicação é sim uma ferramenta crucial para a persuasão. Mais do que o que é dito, a forma como se diz reforça bastante a mensagem. A entonação, as pausas e a cadência do discurso são elementos capazes de conduzir a outra parte por um caminho determinado pelo profi ssional que faz uso da palavra. A esse respeito, Souza (2001, p. 31) afi rma que: A intensidade e o tom de voz que emprega, o ritmo que dá ao seu discurso e a gesticulação com que o acompanha configuram aquilo que se pode chamar de atuação do orador, que,nesse aspecto, é como um ator de teatro. Será necessário cuidar da expressão, já que não é suficiente que saibamos o que devemos dizer, é forçoso também saber como devemos dizer, pois isso contribui em muito para que o discurso pareça possuir uma determinada qualidade. Entusiasmo é contagioso Assim como as palavras e a entonação, o entusiasmo com que o orador se coloca diante da sua audiência vai determinar o quanto ele é capaz de infl uenciá-la. Pessoas entusiasmadas tendem a contagiar aqueles com quem se comunicam, e o contrário também ocorre. Em caso de um discurso com pouco ou nenhum entusiasmo, as pes- soas tendem a não se interessar pelo que é dito, exercendo pouco impacto sobre elas. Técnicas de persuasão8 Postura e gestual A linguagem corporal comunica tanto quanto as palavras proferidas. Os olhares, os movimentos e a postura do orador passam mensagens subliminares às pessoas que o assistem, reforçando ou contradizendo o que é dito. Assim, um indivíduo que pretende persuadir alguém a fazer alguma coisa precisa utilizar técnicas de linguagem corporal para transmitir uma mensa- gem de segurança e credibilidade. Os gestos também precisam acompanhar o discurso. Em um momento mais inflamado da oratória, por exemplo, o gestual precisa ser mais intenso, fazendo com que a audiência possa perceber aquele sentimento. 3 A persuasão na gestão e nos negócios A persuasão é um elemento importante nos negócios e na gestão de equipes. Isso porque, na maioria das vezes, é por meio dela que o profi ssional vai conseguir estabelecer acordos e parcerias que podem ser fundamentais para o sucesso do seu negócio. Da mesma forma, é o poder de persuasão do gestor que muitas vezes motiva a equipe a buscar resultados mais ousados e signifi - cativos, sendo determinante não só para os resultados obtidos, mas também para a satisfação e motivação dos profi ssionais. No entanto, para que o gestor ou o profissional desenvolva capacidade de persuasão e obtenha bons resultados com ela, ele precisa saber como colocar em prática algumas técnicas, especialmente aquelas que envolvem os seis princípios da persuasão. Cialdini (2012, p. 42) afirma que grande parte do processo de persuasão pode ser compreendido como: [...] uma tendência humana pela reação automática na forma de atalho. A maio- ria dos indivíduos em nossa cultura desenvolveu um conjunto de características desencadeadoras para o consentimento, ou seja, um conjunto de informações específicas que normalmente apontam quando acatar um pedido pode ser correto e benéfico. Cada uma dessas características pode ser usada como uma arma (de influência) para estimular as pessoas a concordarem com pedidos. Assim, conhecendo mais a fundo as tais características desencadeadoras de consentimento, e sabendo como utilizá-la em favor dos seus objetivos, é possível obter sucesso dentro da sua organização. Vejamos a seguir como colocar em prática cada um dos princípios da persuasão. 9Técnicas de persuasão O princípio da amizade/afeição na prática Sabe-se que as pessoas tendem a consentir algo quando possuem alguma forma de identifi cação com o outro. Admiração, carinho, respeito e amizade se incluem neste princípio. Uma forma de colocar esse princípio em prática nos negócios é mediante o próprio network. Alimentar relacionamentos com parceiros e fornecedores é uma maneira de, quando for necessário, obter boa vontade da parte deles. Isso pode ser feito com contatos sistemáticos que não sejam voltados ao negócio em si, mas que mantenham vivo o relacionamento. Digamos, por exemplo, que um vendedor fez negócios com o comprador de uma determinada em- presa e soube que ele se interessa por gastronomia. Nesta semana, por acaso, o vendedor recebeu uma material sobre um encontro com um chef famoso que ocorrerá na cidade nos próximos dias. Ele poderia enviar esse material ao tal comprador, afirmando saber que ele se interessa pelo assunto e que talvez possa gostar do evento. É uma forma de fomentar o relacionamento e aumentar o vínculo, pois o indivíduo percebe que há um esforço por parte do outro e sente-se importante por isso. As empresas agem de forma semelhante para estreitar o vínculo com seus clientes. Criam maneiras de serem admiradas e muitas vezes até idolatradas por seus consumidores, de modo que fica muito difícil para eles dizerem não para a marca em questão. Um bom exemplo é a Apple, que ao longo dos anos foi fortalecendo sua imagem junto ao seu público de tal forma que hoje possui uma legião de admiradores e fãs. O princípio da reciprocidade na prática Segundo este princípio, as pessoas se sentem em dívida com alguém quando algo lhes é dado. Isso garante no mínimo a atenção e a boa vontade do indivíduo que recebe a proposta para ouvir o discurso. Para colocar isso em prática, vejamos um exemplo vindo da Índia. A so- ciedade indiana se divide em castas, as quais, ao longo das gerações, tendem a atuar sempre no mesmo ramo para sobreviver. A casta dos comerciantes, por exemplo, utiliza há muitas gerações uma técnica para realizar negócios que coloca em prática este princípio: ao entrar em um estabelecimento comercial, o cliente é sempre recebido com um chai, uma bebida típica indiana, sempre servida bem quente. Com esse gesto, além de obter a boa vontade do cliente em ouvir seus argumentos, o negociador ainda ganha outro trunfo: o tempo. Isso Técnicas de persuasão10 porque, como a bebida está fervendo, o cliente precisa de tempo para consumi- -la e, enquanto isso, fica ouvindo os argumentos e conhecendo os produtos. Outra forma bastante conhecida de utilizar este princípio são as degustações. Quando as pessoas são surpreendidas em meio a suas compras no supermercado por uma moça simpática oferecendo um biscoito, elas normalmente reagem de forma positiva e, via de regra, pelo menos conferem o preço e a embalagem do produto em questão, para em seguida cogitar comprá-lo. Na maioria das vezes, essas pessoas sequer olhariam para esse produto. Sendo assim, esse é um ganho importante, especialmente porque o consumidor, além de ficar grato pelo gesto, ainda conhece o produto. O princípio da raridade na prática Segundo este princípio, as pessoas têm mais interesse naquilo que está menos disponível. Isso porque o risco de perder aquela oportunidade acende um alerta no cérebro e, mesmo que inicialmente a pessoa não tivesse tanto interesse naquilo, a partir daquele momento passa a prestar atenção (CIALDINI, 2012). Um exemplo de empresa que durante algum tempo fez muito sucesso utilizando este princípio são os sites de compras coletivas. Quando criados, esses sites publicavam todos os dias alguma oferta, com duração limitada, a um valor bem menor do que o normal. No canto direito da tela, um cronômetro em contagem regressiva informava por quanto tempo aquele produto ainda estaria disponível por aquele preço. Em função disso, um número muito grande de pessoas comprava tal pro- duto, e muitas vezes sequer o utilizava. O simples fato de se deparar com uma oferta muito boa por tempo limitado exercia pressão sobre o processo de decisão de compra dos consumidores, de forma que, por impulso, as compras eram realizadas. Em uma negociação, portanto, esse princípio pode ser utilizado para es- tabelecer um prazo limite para uma determinada proposta. Se a outra parte não responder até o final do dia, amanhã o valor será outro, por exemplo. O argumento de “últimas unidades” também é bastante utilizado pelo marketing e pelas vendas. O princípio da validação social na prática Este princípio atua tendo em vista que as pessoas tendem a imitar comporta- mentos dos seus semelhantes. Um bom exemplo é o caso de dois restaurantes, um ao lado do outro. Um deles tem pouco movimento, muitas mesas vazias e 11Técnicas de persuasão garçons observando os clientes nos cantos do salão. No outro, todas as mesas estão ocupadas, há fi la de espera na porta e garçons se movimentando rapidamente de um lado para ooutro. Neste caso, as pessoas tendem a decidir normalmente pelo restaurante mais cheio. Isso porque, embora tenham que esperar, tendem a considerar que, se muita gente espera para ir naquele restaurante, ele deve ser bom; vice-versa, se o outro está vazio, é porque deve ser ruim. Uma forma de colocar esse princípio em prática é lançar mão de depoimentos e avaliações positivas de clientes, ou demonstrar resultados positivos de pes- soas que tomaram determinada decisão anteriormente e não se arrependeram. Empresas que utilizam as redes sociais podem contar com avaliações positivas, curtidas e compartilhamentos como forma de reforçar resultados positivos. O princípio da coerência e compromisso na prática As pessoas tendem a ser coerentes com compromissos assumidos anterior- mente. De acordo com Cialdini (2012), este talvez seja um princípio que grande parte das empresas já utilizam, mesmo sem saber. Isso porque, segundo o autor, consumidores que optam por determinado produto e não têm uma experiência negativa considerável com ele tendem a continuar comprando da mesma empresa, ou a mesma marca, em oportunidades futuras. Assim, uma forma de explorar este princípio é fortalecer o relacionamento com o cliente, investindo no pós-venda, ouvindo sugestões e analisando comportamentos para saber como melhorar o produto e o atendimento. O princípio da autoridade na prática Segundo este princípio, as pessoas reconhecem o notório saber. Por isso, respeitam a opinião de médicos, policiais, doutores em determinado assunto, enfi m, de pessoas com reconhecido saber acerca do tema em questão. Para colocar este princípio em prática nos negócios, a forma mais eficaz é o fortalecimento da marca em si. Uma marca forte representa autoridade no mercado de atuação. Assim, os clientes tendem a optar por esta marca, mesmo sendo a mais cara, em vez de se arriscarem com outra menos conhecida, podendo se arrepender depois. Um exemplo disso é o McDonald’s e o Burguer King. Talvez estes não sejam efetivamente os melhores hambúrgueres existentes no mercado. Há quem diga que na esquina de casa há um estabelecimento que faz lanches muito melhores, e Técnicas de persuasão12 mais baratos, que estes. No entanto, por que tantas pessoas optam pelos lanches desses estabelecimentos, mesmo pagando mais, sem sequer pestanejar? Porque eles são reconhecidos no mercado em que atuam. São considerados autoridades em lanches rápidos, e isso faz diferença no processo de decisão. Estas são apenas algumas formas de colocar em prática nos negócios os princípios da persuasão apresentados. Em cada ramo de atuação ou situação específica, você pode, conhecendo cada um desses princípios, encontrar a melhor forma de aplicá-los e obter resultados positivos com eles. BOJE, D. M. Stories of the sotorytelling organization: a postmodern analysis of Disney as “Tamara-Land”. The Academy of Management Journal, v. 38, n. 4, p. 997–1035, 1995. CARNEGIE, D. Como fazer amigos e influenciar pessoas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1991. CIALDINI, R. B. As armas da persuasão. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. HOUAISS, A. Pequeno dicionário Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Moderna, 2018. PARSONS, T. On the concept of influence. The Public Opinion Quarterly, v. 27, n. 1, p. 37–62, 1963. PASCAL, B. De I'esprit geométrique. In: BRUNSCHVICG, M. L. (Org.). Blaise Pascal: pensées et opuscules. Paris: Librairie Hachette, 1942. Cap. 15, p. 184–185. PUTNAM, L. L.; P HILLIP S, N.; CHAPMAN, P. Metáforas da comunicação e da organização. In: CLEGG, S.; HARDY, C.; NORD, W. R. (Org.). Handbook de Estudos Organizacionais: ação e análise organizacionais. São Paulo: Atlas, 2004. v. 3. p. 75–125. SOUZA, A. A persuasão. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2001. Leitura recomendada VASCONCELOS, R. C. F. O storytelling na comunicação estratégica: o uso de histórias como técnica de engajamento entre organizações e seus públicos. 2019. 254 f. Dissertação (Mestrado) — Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2019. Disponível em: https://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/19105. Acesso em: 24 mar. 2020. 13Técnicas de persuasão Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Técnicas de persuasão14