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O envelhecimento brasileiro Introdução A Lei Federal de número 10.741, de 01 de outubro de 2003 é um estatuto no qual são estabelecidos os direitos dos idosos. O mesmo é uma iniciativa de um projeto de lei de 1997 de autoria do deputado federal Paulo Paim, o resultado em si é considerado como uma grande conquista não só pela comunidade idosa, mas também por toda uma sociedade. A intenção do estatuto visa principalmente a garantia dos direitos assegurados a pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Tratando assim de questões que envolvem familiares, saúde, discriminação e violência contra o idoso. Portanto o estatuto busca o seguir e garantir os princípios e direitos fundamentais a vida humana. Os crimes praticados contra uma pessoa idosa também se encaixam nessa lei. Encontra-se em seu texto original, mais precisamente no art. 35, a previsão de sanções àqueles que pratiquem condutas que obstruam os preceitos contidos no estatuto, como por exemplo qualquer tipo de agressão, seja física ou psíquica. Essa lei ganha cada vez mais relevância no ordenamento jurídico, afinal de contas a população brasileira cresce cada vez mais, a população de idosos no Brasil é muito maior do que no ano em que a lei foi sancionada. 17 anos depois de sua criação, um dos maiores desafios encontrados pelo governo federal é a asseguração financeira e social dessas pessoas. A essência do estatuto está sobretudo nas normas gerais criadas com a finalidade de criar um tipo de proteção integral aos idosos. O texto afirma que estes gozam de todos os direitos que se é inerente a uma pessoa e que o envelhecimento é um direito personalíssimo e que sua proteção é um direito social. Vale ressaltar também que embora as leis aprovadas no estatuto tenham sido consideradas por muitos um grande avanço no sentido de políticas sociais de inclusão dos idosos, não foram estabelecidos principalmente as prioridades para a sua implementação tampouco as fontes para o seu financiamento. Nesse sentido esse artigo estará expondo principalmente os principais pontos do estatuto do idoso, além dos desafios que o mesmo tem nos dias de hoje. Desenvolvimento Sancionado em outubro de 2003 e entrando em vigor em 01 de janeiro de 2004, o estatuto do idoso foi inicialmente um projeto de lei criado no ano de 1993, levou sete anos de tramitação no Congresso Nacional antes de se tornar o que conhecemos hoje, e tem como objetivo principal regular os direitos das pessoas idosas em múltiplas esferas e dimensões. Fruto da organização e mobilização dos aposentados, pensionistas, e idosos associados a Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas, o COBAP, e ao Movimento de Serviço Aposentados e Pensionistas, MOSAP, de representantes da Associação Nacional de Gerontologia, ANG, e diversas sessões estaduais, de representantes da Sociedade de Gerontologia e Geriatria, o Estatuto do Idoso apresenta em 118 artigos os direitos fundamentais e das necessidades de proteção ao idoso, objetivando reforçar as diretrizes contidas na Politica Nacional do Idoso. A adequação de sua origem se tem devido às orientações do Plano de Ação de Madri de 2002. Uma lei voltada especificamente para os idosos é constante com a construção de um entorno propício e favorável a pessoas de todas as idades. Sobretudo a essência do estatuto está nas normas gerais que dispõem sobre a “proteção integral” aos idosos. O artigo dois, visa que estes gozam de todos os direitos inerentes à pessoa humana, já o oito respalda que o envelhecimento é um direito personalíssimo e sua proteção um direito social. O quarto artigo determina que todos estão obrigados a prevenir a ameaça ou violação dos direitos do idoso; aqueles que não cumprirem com esse dever serão responsabilizados, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas. Se trata de uma responsabilidade não apenas só criminal, mas também civil. No caso da violação desses ditames, caberá ao Ministério Público agir para a garantia do mesmo. O direito de prioridade do idoso, com vislumbre do caput do artigo três, traz consigo uma serie de direitos que devem ser assegurados prioritariamente a pessoas com mais de 60 anos: 1. o atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; 2. a preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas; 3. a destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso; 4. a viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; 5. a priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; 6. a capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; 7. o estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; 8. a garantia de acesso à rede de serviços de saúde, como o SUS, por exemplo e de assistência social locais; 9. a prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. É necessário lembrar que os idosos acima de 80 anos possuem prioridades acima dos que estão entre 60 e 79 anos. Também o estatuto trata de algumas prioridades: que o local do atendimento seja acessível, com barras, rampas, pisos antiderrapantes e cadeiras de rodas disponíveis, proporcionando segurança e conforto à pessoa idosa. A pessoa idosa tem prioridade na tramitação judicial em toda e qualquer esfera. Já o idoso de 80 anos ou mais passa a ter preferência em relação aos idosos entre 60 e 79 anos de idade. Deve-se garantir um tratamento interdisciplinar, composto por: geriatras, nutricionistas, fisioterapeutas, etc., com o objetivo de atuar de forma preventiva e para recuperação da saúde, incluindo a atenção especial para patologias crônicas, como hipertensão e diabetes, que necessitam da utilização medicamentosa que deve ser fornecida contínua e gratuitamente. Ter atividades profissionais garantidas, respeitando suas condições físicas, intelectuais e psíquicas para seu desempenho, sendo proibida a discriminação da idade para a seleção de função e cargo. Para os homens, o direito de requerer a aposentadoria a partir dos 65 anos e, à mulher, a partir dos 60 anos. Dessa forma, a base de cálculo usada para definir o valor da aposentadoria é a média equivalente ao valor pago à previdência social durante o período trabalhado para fins dos benefícios com base na legislação vigente. Nos transportes coletivos, públicos, urbanos e semiurbanos, fica assegurada aos idosos a gratuidade no traslado, devendo estar sempre reservada e com as devidas identificações em 10% dos assentos no coletivo. Já nos transportes coletivos interestaduais, é assegurado aos idosos, após comprovação de renda inferior a dois salários mínimos, duas vagas gratuitas. Excedendo as vagas reservadas, os idosos terão desconto de no mínimo 50% no valor da tarifa. Para um tema tão importante e complexo, fizemos uma matéria para você entender como fazer uma denúncia e tudo que ela pode envolver. Como está no estatuto, qualquer tipo de violência que o idoso venha a sofrer, o Ministério Público Federal deve imediatamente tomar as medidas cabíveis para encontrar e punir o culpado, a violência pode ser física ou psíquica. A violência doméstica, quando é manifestada de forma física, geralmente é utilizada para sujeitar os idosos a realizarem algo que não desejam. Causam, por diversos motivos, ferimentos e lesões que podem levar à morte, devido à fragilidade física que, comumente, faz parte de suas estruturas corpóreas.As ações de restrição da liberdade de locomoção, convívio social ou simplesmente a negação aos seus hábitos de lazer e diversão são considerados como um ataque à saúde mental da pessoa idosa e, consequentemente, como uma forma de violência psicológica. Muitas vezes, as pessoas agem dessa forma contra os idosos devido às “dificuldades” (falta de tempo, dinheiro, paciência) em acompanhá-los nestes eventos. É uma das ações mais praticadas pelos membros da família, devido aos problemas de locomoção ou de incapacidades psíquicas de controlarem os seus rendimentos e patrimônio. Os idosos passam a ter as suas economias e benefícios previdenciários apropriados por outros, constituindo uma exploração ilegal e indevida. A violência sexual praticada contra os idosos pode ser de caráter hetero (sexo oposto) ou homo (mesmo sexo), e inclui a relação sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças sem o consentimento do idoso. É a omissão ou a negação em fornecer a assistência básica de que os idosos necessitam em sua vida, por parte dos seus responsáveis (família ou instituição). Esse ato é mais comumente praticado ao idoso que se encontra em situação de dependência de outros, possui limitações ou incapacidades físicas, psíquicas ou emocionais. Os agressores também tratam os idosos de forma hostil por não entenderem ou não terem paciência em ouvir o que os idosos querem dizer. Muitas vezes os idosos contam histórias repetidas ou “inventam” algo, o que é produzido por sua mente confusa. Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa. Crimes previstos no Estatuto do Idoso na Jurisprudência do STJ Acerca do art. 99 da Lei 10.741/2003, o Superior Tribunal de Justiça assim decidiu: PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ART. 99 DA LEI N. 10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO). REGIME SEMIABERTO. SUBSTITUIÇÃO. REGIME MAIS GRAVOSO FIXADO COM BASE NA GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO. POSSIBILIDADE. 1. Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito (enunciado n. 440 da Súmula do STJ) e, no mesmo sentido, os enunciados n. 718 e 719 da Súmula do STF. 2. O Tribunal a quo […] utilizou de fundamentação idônea, não podendo ser considerada genérica ou ilegal, visto que baseada nas circunstâncias fáticas da prática delitiva, consistente no fato do delito ter sido praticado contra a própria genitora, de idade avançada, que veio a falecer no curso do processo, demonstrando a especificidade da situação e a gravidade concreta do delito, que desborda das comumente verificadas para o crime do art. 99 do Estatuto do Idoso […]. 3. Agravo regimental não provido. (STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp 1747466/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 02/10/2018, publicado em 11/10/2018) O art. 99 do Estatuto do Idoso, por sua vez, trata não do abandono, mas de uma exposição do idoso a perigo à sua integridade e saúde, física ou psíquica. Ou seja, do abuso físico e do abuso psicológico contra o idoso. O art. 102 do Estatuto do Idoso, então, trata da apropriação ou desvio de bens do idoso. Portanto, do abuso financeiro. Assim, incorre no delito, aquele que se apropria, desvia ou dá aplicação diversa da de sua finalidade: • bens; • proventos; • pensão; ou • outro rendimento do idoso. O autor do fato estará, desse modo, sujeito a pena de reclusão de 1 a 4 anos, além da pena de multa. De igual modo, estará sujeito a sanções o indivíduo que retiver o cartão magnético de conta bancária do idoso relativa a benefícios, provento ou pensão. Mas também aquele que retiver qualquer outro documento como o intuito de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida. Segundo o art. 104 do Estatuto do Idoso, portanto, será aplicada, nesse caso, pena de detenção de 6 meses a 2 anos, além da pena de multa. Conclusão Desde o século passado muitos avanços foram aconteceram na formulação de políticas para a população idosa. Felizmente a legislação brasileira incorporou grande parte das sugestões das assembleias internacionais criando assim o Estatuto do Idoso que reúne a grande maioria dos instrumentos legais preexistentes. Por mais que o envelhecimento seja considerado uma conquista, ele traz consigo grandes desafios para as políticas públicas, a sociedade e a família. Um dos mais importantes seria assegurar que o processo de desenvolvimento econômico e social pudesse assegurar e garantir um patamar econômico mínimo tanto para a manutenção da dignidade humana quanto para a equidade entre os grupos etários na partilha dos recursos, direitos e responsabilidades sociais. Como as pessoas estão ficando cada vez mais velhas, a expectativa de vida por sua vez cresce, manobras como aumentar a idade de aposentadoria, e para uso de transporte gratuito por exemplo, são maneiras de evitar um caos financeiro. Outra coisa que se deve levar em consideração no estatuto é que o estabelecimento de fontes financeiras para cada medida de proposta, medidas que ajude a família a cuidar do idoso dependente tanto no domicílio quanto no hospital. Finalmente, acredita-se que a implementação efetiva do Estatuto do Idoso deverá ser pensada em um contexto mais amplo onde se leve em conta a necessidade de mecanismos de proteção social para os vários grupos etários. É possível pensar em uma sociedade justa para os velhos numa sociedade marcada por injustiças sociais. Gabriel Nunes Lima Enfermagem na Terceira Idade Grau Técnico- Téc. Enfermagem- Enf19 Orientação Didimam Oliveira Referências 1. SENADO FEDERAL SECRETARIA ESPECIAL DE EDITORAÇÃO E PUBLICAÇÕES SUBSECRETARIA DE EDIÇÕES TÉCNICAS Estatuto do Idoso e normas correlatas, 2003. 2. Estatuto do idoso: 7 coisas que você precisa saber, por Daniela Santilli. 3. Estatuto do Idoso: Entenda quais são os principais artigos e direitos envolvidos. 4. ESTATUTO DO IDOSO: AVANÇOS COM CONTRADIÇÕES, Ana Amélia Camarano.
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